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DOCÊNCIA EM SAÚDE EDUCAÇÃO CONTINUADA EM ENFERMAGEM 1 Copyright © Portal Educação 2012 – Portal Educação Todos os direitos reservados R: Sete de setembro, 1686 – Centro – CEP: 79002-130 Telematrículas e Teleatendimento: 0800 707 4520 Internacional: +55 (67) 3303-4520 atendimento@portaleducacao.com.br – Campo Grande-MS Endereço Internet: http://www.portaleducacao.com.br Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - Brasil Triagem Organização LTDA ME Bibliotecário responsável: Rodrigo Pereira CRB 1/2167 Portal Educação P842e Educação continuada em enfermagem / Portal Educação. - Campo Grande: Portal Educação, 2012. 166p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-8241-152-9 1. Educação em saúde. 2. Enfermagem – Educação continuada. 3. Enfermagem – Estudo e ensino. I. Portal Educação. II. Título. CDD 362.1 2 SUMÁRIO 1 BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL .................................................................. 4 2 CONCEITO E CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE EDUCAÇÃO ......................................... 15 3 INSERÇÃO DO TRABALHO NA VIDA DO HOMEM E A EDUCAÇÃO DE ADULTOS ........... 22 4 TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO ............................................................................................. 30 5 LIDERANÇA EM ENFERMAGEM – BUSCA POR UM SERVIÇO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA EFICIENTE ................................................................................................................ 40 6 IMPORTÂNCIA DO TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO DAS PESSOAS NAS ORGANIZAÇÕES ............................................................................................................................... 54 7 IMPORTÂNCIA DO TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO DO PESSOAL DA ENFERMAGEM NAS ORGANIZAÇÕES ............................................................................................ 60 8 EDUCAÇÃO EM SERVIÇO ..................................................................................................... 68 9 EDUCAÇÃO EM SAÚDE ......................................................................................................... 73 10 EDUCAÇÃO PERMANENTE ................................................................................................... 76 11 EDUCAÇÃO CONTINUADA ..................................................................................................... 78 12 O ENFERMEIRO NO PROCESSO DE EDUCAÇÃO ................................................................ 92 13 FORMAÇÃO DO PROCESSO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA ............................................. 98 14 ESTRUTURA ADMINISTRATIVA DA EDUCAÇÃO CONTINUADA ....................................... 102 15 RECURSOS PARA A REALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO CONTINUADA.................................. 106 16 TIPOS DE PROGRAMAS DE EDUCAÇÃO CONTINUADA .................................................... 115 17 PLANEJAMENTO DO SERVIÇO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA ........................................ 132 3 ANEXOS ............................................................................................................................................ 140 REFERÊNCIAS ................................................................................................................................. 153 4 1 BREVE HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO NO BRASIL Compreendendo a educação como uma manifestação social capaz de tornar uma sociedade mais justa e com igualdade é importante que todos ao estudarem sobre o tema obtenham conhecimento de sua inserção e evolução desde o descobrimento do Brasil até os dias atuais, visto que muitas vertentes utilizadas advêm de escolhas passadas. Para Silva (2008) a educação é entendida hoje como a principal via de acesso a uma sociedade mais justa e igualitária, passando a ser o foco de discussão entre os diferentes grupos sociais; analisar as perspectivas da educação na atualidade é também iniciar uma busca por suas raízes. Antes da chegada dos portugueses ao Brasil, a educação era praticada pelo povo indígena. Esta educação baseava-se na maneira de criação dos índios e não envolvia sistemas formais. Com a descoberta do Brasil e a chegada dos portugueses a educação começou a adquirir traços do modelo de educação europeu. Em 1500 quando os portugueses chegaram ao Brasil a sociedade indígena era organizada em tribos, que viviam da caça, da pesca e da agricultura, sendo que um dos principais cultivos na agricultura era a mandioca. A plantação era realizada por meio da derrubada da mata e queimada para preparar o local para o plantio, sistema esse denominado de técnica de coivaria. Os índios se assustaram ao entrar em contato com os portugueses principalmente pelo fato de serem de culturas muito diferentes. Os relatos da Carta de Pedro Vaz de Caminha descrevem algumas questões como: os índios domesticavam animais de pequeno porte, e até então não conheciam as galinhas; utilizavam materiais da natureza para construir objetos; relacionavam-se entre tribos em ocasiões especiais como casamento, enterro, guerras e alianças com inimigos em comum. O Brasil fazia parte das chamadas terras do “Novo Mundo”, e como foi descoberto pelos portugueses, estes detinham o poder. Era importante para eles a produtividade nessas 5 terras uma vez que a partir disso, Portugal se tornaria um país mais rico. Desta forma, um dos principais objetivos dos colonizadores era doutrinar os habitantes da colônia para que vivessem conforme os preceitos da cultura europeia. Na conquista por território existem muitos relatos na história do Brasil de violência contra os índios, morte e disseminação de doenças. Com a expedição de Tomé de Souza em 1549 os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil o que marca uma inserção de métodos pedagógicos na educação do povo indígena. Segundo Bello (2001) a chegada dos jesuítas ao Brasil foi marcada pela inserção de moral, costumes e religiosidade europeia como também pela introdução de métodos pedagógicos. Os jesuítas eram padres da igreja católica que formavam a denominada Companhia de Jesus. A Companhia de Jesus foi uma ordem religiosa fundada em 1534 por Inácio de Loyola e reconhecida pelo Papa Paulo III em 1540, que se constituía em um movimento da Contra Reforma Católica. Alguns dos jesuítas que estiveram presentes no Brasil no século XVI foram os Padres Manoel da Nóbrega, Padre José de Anchieta e Padre Antônio Vieira. Após a chegada ao Brasil os jesuítas construíram a primeira escola que se fundamentava em estudo elementar, principalmente por entenderem que seria impossível catequizar os indígenas sem que os mesmos tivessem noções de alfabetização, como ler e escrever. O primeiro plano de estudos elaborado pelos jesuítas foi diversificado e começava com o português, após vinha o ensino da doutrina cristã e as escolas de ler e escrever. Mais adiante, havia a aprendizagem de canto orfeônico e música instrumental sendo ambos opcionais, por fim o ensino profissional e agrícola e a gramática latina. (SILVA, 2008). As escolas formadas durante o período Jesuítico seguiam as bases preconizadas por um documento escrito por Inácio de Loyola denominado “Ratio Studiorum”. Este documento fundamentava descritivamente e regulamentava a educação dos colégios jesuíticos; ordenava as atividades, funções e métodos de avaliação das escolas. A Companhia de Jesus possuía uma sólida formação cultural, sendo os jesuítas disciplinadose devotos, atribuíam grande importância a educação, monopolizando as instituições de ensino de diversas regiões com o objetivo principal de difundir a ideologia católica 6 romana, tornando-se braço forte da igreja no movimento de expansão marítima das nações modernas. (TEIXEIRA & CORDEIRO, 2008). Ao chegarem ao Brasil os jesuítas perceberam a necessidade de mudança frente às práticas adotadas até então em outras regiões, pois além da dificuldade de linguagem entre os colonizadores e os indígenas havia a necessidade de inovação para que o objetivo de converter os pagãos fosse realmente alcançado. Sempre centrados no objetivo principal de fazer os pagãos se tornarem cristãos da religião católica, os jesuítas necessitavam aprender a língua nativa dos indígenas, para que pudessem então iniciar o processo de catequização. Isto foi feito principalmente com o contato junto às crianças indígenas. Outra questão que se tornava de certa forma um problema para os jesuítas, era o fato da grande mobilidade das tribos, assim quando os jesuítas queriam voltar a um local por onde já haviam passado muitas vezes aquela tribo já não estava mais ali, ocasionando uma falta de continuidade do trabalho. Para resolver isso em 1556 o chefe da expedição jesuíta no Brasil Manuel da Nóbrega concebeu a política do aldeamento que concentrou povos indígenas em determinados locais. Além disso, os jesuítas começaram a introduzir alguns ritos de sacramentos da igreja na vida dos indígenas, bem como a formação de uma língua geral para se conseguir estabelecer comunicação; a língua geral era uma mescla entre o tupi e o português. Nos espaços delimitados após o aldeamento, os jesuítas seguiam seu objetivo de catequizar os índios, bem como introduziam o ensino profissional e o ensino elementar, constituído de classes para ler, escrever, soletrar, rezar em latim e contar. (TEIXEIRA & CORDEIRO, 2008). Os aldeamentos administrados pelos inacianos concentravam a mão de obra indígena o que teve como consequência conflitos e revoltas dos colonos contra os jesuítas. (SILVA; PAPALI [s.d.]). O alvo do sistema educacional dos jesuítas eram as crianças, e como modelo metodológico, conforme Teixeira & Cordeiro (2008) os principais recursos utilizados foram: A música. O Teatro 7 A dança. Esses recursos foram utilizados como forma de repassar as informações necessárias ao povo indígena da época e principalmente fazer com os mesmos aderissem ao sistema educacional e culminassem no objetivo principal dos jesuítas que era a catequização. A escolarização se tornou um elemento fundamental para o processo de catequização do povo indígena, uma vez que era preciso instituir uma unidade linguística e cultural na colônia. (SILVA, 2008). O método educacional dos jesuítas vigorou no Brasil no período de 1549 a 1759; devido aos conflitos entre os colonos e os jesuítas em 1759 o Marques de Pombal expulsou a Companhia de Jesus, alterando consequentemente a vida social, política e educacional das aldeias. As aldeias até então administradas pelos jesuítas tornaram-se a maioria vilas. O período denominado Pombalino pensava principalmente em organizar uma educação que servisse aos interesses do estado e não apenas a fé como era o objetivo principal dos jesuítas. Segundo Silva (2008) mesmo sendo um dos projetos fundamentais da colonização a instrução dos índios, na observação histórica percebe-se que ela não se concretizou, visto que os índios ficaram limitados a aulas de catequese sendo que os que se beneficiaram da educação escolarizada foram os filhos da pequena nobreza. Com a expulsão dos jesuítas do Brasil foi necessário de alguma maneira continuar o projeto educacional na colônia, uma vez que houve o crescimento populacional e era necessário dar continuidade a formação dos habitantes para estruturar social e administrativamente o local. Diante disso, foram criadas as denominadas Aulas Régias. Em 1759 por meio de um projeto de Portugal o qual criava o Estado Secular, a educação passou a ser responsabilidade do estado, assim foram instituídas as Aulas Régias. Cada aula régia era isolada e autônoma, tendo um professor único e uma aula não se articulava com as demais. (BELLO, 2001). Segundo Silva (2008) a instituição das aulas régias demonstra a influência do iluminismo na educação da época, uma vez que se buscava um saber diferenciado baseado 8 principalmente no saber racional e científico e ainda com privilégios de participação aos integrantes da nobreza. O projeto político de Marquês de Pombal tinha como objetivo um aparelho burocrático mais eficiente e para tanto era necessário preparar e instruir a população potencializando com isso o funcionamento administrativo, assim não era preciso educar toda a população, mas sim aqueles que iriam exercer cargos de administração nas colônias, ou seja, os filhos da nobreza. (SILVA, 2008). As aulas régias eram constituídas por aulas de primeiras letras e aulas de humanidade; segundo o projeto as aulas deveriam ser ministradas por um professor público, e o Cargo de Diretor de Estudos foi criado para acompanhar e controlar os professores. Entretanto, não houve muito sucesso na implementação deste projeto e em 1772 com o objetivo de reformular e melhorar os planos de educação no Brasil foram estimulados: o subsídio literário (taxação sobre alguns produtos – imposto para educação), reforma dos chamados estudos maiores e criação de novas escolas de estudos menores nas principais cidades do Brasil. No cenário educacional a época de expulsão dos jesuítas culminou em uma desestruturação dos modelos educacionais que só veio a iniciar sua reestruturação quando a Família Real transferiu o reino para o Brasil. A preparação para a vinda da Família Real foi feita por D.João VI e ocasionou a abertura de academias militares, escolas de direito e medicina, biblioteca real, o jardim botânico e uma das iniciativas mais marcantes, a Imprensa Régia. (BELLO, 2001). A vinda da Família Real de Portugal ao Brasil se deu devido à possível invasão de Napoleão a Portugal, que tinha como principal objetivo ser Imperador de toda a Europa. A embarcação da Família Real ocorreu no ano de 1807 e a chegada ao Brasil em 1808. A Imprensa Régia ou Impressão Régia (denominada por alguns autores) foi criada em 13 de maio de 1808 constituiu-se na primeira casa impressora do Brasil, permitindo a publicação de diversas obras em concordância com a censura da época. Os resultados após a edição das primeiras impressões foram a estimulação e um aumento da leitura. Apesar do aumento do estímulo à educação com a vinda da Família Real ainda assim o Brasil estava para trás de outras colônias como, por exemplo, a espanhola que já possuía 9 ensino superior no século XVI. Contudo, a partir do século XX no Brasil surgiram as primeiras Universidades. Durante o período Imperial houve a Proclamação da Independência do Brasil, por Dom Pedro I no ano de 1822. Após em 1824 foi outorgada a primeira Constituição Brasileira, sendo que o item XXXII do artigo 179 da lei estipulava que a instrução primária era gratuita a todos os cidadãos. Mesmo assim, havia a falta de professores para atuar no setor público e a realidade era que a maioria das pessoas pagava os professores de forma particular, tornando-se dessa forma, a educação, um privilégio aos que tinham condições de pagar. Para suprir as necessidades de professores e diante da lei de 1827, foi instituído e oficializado o Método Lancanster ou ensino mútuo. Neste método de ensino cada grupo de alunos (denominado de decúria) era dirigido por um deles (denominado decurião). O decurião era vigiado pelo professor que o explicava sobre os conteúdos, o decurião por sua vez repassava as informações para o grupo de alunos. Nas escolas desta época havia certa diferençaaos estudos repassados aos meninos e as meninas. Nas escolas dos meninos o professor ensinava a ler, escrever, principais operações da aritmética, noções gerais de geometria, gramática da língua nacional, princípios morais e cristãos da religião católica, já nas escolas das meninas não era ensinado a geometria e a aritmética (apenas deixando as quatro operações) enquanto se acrescentava os ensinamentos sobre habilidades domésticas. Em 1834 ocorreu adição de ato na Constituição Brasileira, como consequência as províncias seriam responsáveis pela administração do ensino primário e secundário. O ano de 1835 marcou a abertura da primeira Escola Normal do Brasil situada em Niterói. Em 1889 foi proclamada a República no Brasil e se instalou o Sistema Presidencialista. A partir disso alguns acontecimentos influenciaram o sistema educacional no país durante a Primeira República período compreendido entre os anos de 1889 a 1929, dentre eles estão: Reforma da Instrução Pública de 1890 por Benjamim Constant Botelho de Magalhães: com a proclamação da República e consequentes mudanças políticas, sociais e 10 econômicas foi criado em 1890 o Ministério da Instrução Pública, Correios e Telégrafos (dedicado a educação) que teve como ministro Benjamim Constant. A primeira reforma decretada após a Proclamação da República no Brasil foi a denominada Reforma Benjamim Constant. O principal desejo advindo dessa reforma era efetivar a instrução popular no país, os princípios da reforma eram a liberdade, a gratuidade e laicidade do ensino. SCHELBAUER (2003). Segundo Bello (2001) um dos principais objetivos da Reforma de Benjamin Constant era modificar o ensino, de preparador de alunos para formador de alunos para os cursos superiores e também substituir a predominância literária pela científica. Código Epitácio Pessoa (1901). Reforma Rivadávia Correa (1911). As mudanças no sistema educacional caminharam juntamente com as transformações sociais e inovação de pensamentos, isso é percebido durante a história da educação brasileira, as ascensões e conquistas culturais, econômicas e sociais modificaram aos poucos os instrumentos pedagógicos existentes, nem sempre resultando em sucesso. No período que antecedeu a primeira república, por exemplo, houve a abolição da escravatura em 1888 e logo após a queda do império, migrando o Brasil de um sistema monarquista para um sistema presidencialista, copiado em partes do sistema americano. O período da Segunda República (1930-1936) teve como característica principal a entrada do Brasil na era capitalista, com ênfase na produtividade, sendo a busca pela mão de obra especializada uma constante. Em 1930 houve a criação do Ministério da Educação e Saúde Pública proporcionando uma busca pela educação profissionalizante. Por meio da nova Constituição lançada em 1934 a educação é descrita como um direito de todos devendo ser ministrada pela família e Poderes Públicos. A partir disso houve a criação de universidades organizadas segundo normas e estatutos regulamentados. O período de 1937 a 1945 também denominado de Estado Novo teve como característica a formulação da Constituição de 1937 que modificou alguns quesitos sobre o sistema educacional, contudo ainda enfatizando a especialização da mão de obra e tornando obrigatória a aprendizagem de trabalhos manuais em todas as escolas normais, primárias e secundárias. As bibliografias estudadas descrevem que esta transição entre uma constituição e 11 outra priorizou o ensino intelectual as classes mais favorecidas, enquanto que o ensino profissional estava direcionado às classes menos favorecidas da população. As Leis Orgânicas do Ensino foram estabelecidas no ano de 1942 e constituíram-se como uma reforma no ensino, a valorização do ensino profissionalizante é enfatizado por meio da criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial – SENAI. No período da Nova República que compreendeu os anos de 1946 a 1963 com a criação da nova Constituição volta a descrição de que a educação é direito de todos. Determinando a obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário e dando competência à União para legislar sobre as Leis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Neste contexto, ao mesmo tempo em que se organizava a iniciativa pública para pleitear a educação deixava-se livre a educação particular na forma de iniciativa privada. Vários foram os decretos que modificaram e inovaram o sistema educacional nesse período, no ano de 1946, por exemplo, houve por meio de Decretos-Lei 8.621 e 8.622 a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC. Em 1953 o Ministério da Educação e Saúde Pública passa a se chamar Ministério da Educação e Cultura. Mesmo com várias mudanças no setor educacional ainda nesse período e mesmo após a eleição do presidente Juscelino Kubitschek em 1955 a educação abrangia pouco a população brasileira, o Censo de 1960 (final do mandato do Presidente Juscelino Kubitschek) mostrou que existiam 39.25% de pessoas analfabetas com idade superior a 15 anos no Brasil. Em 1961 é promulgada a Lei 4.024 que regulamenta as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. O ano de 1964 foi marcado pelo Golpe Militar e consequente instalação do Regime Militar que compreendeu o período de 1964 a 1985; nesse período várias repressões são identificadas na história do Brasil, incluindo a proibição de funcionamento da União Nacional dos Estudantes (UNE), prisão de professores e estudantes e confrontos com policiais. Segundo ASSIS ([s.d.]) o período do Regime Militar foi um dos mais significativos da história da educação no Brasil, sendo caracterizado pela intervenção militar, burocratização do ensino público, teorias e métodos pedagógicos que coibiam a crítica do aluno e do professor, e cercado de repressões inclusive físicas frente a atos contra a política vigente. 12 A intenção nesse período não era formar um aluno crítico, muito pelo contrário, o que se buscava instigar nas pessoas era o individualismo, sem ideias sociais e muito menos mudanças que coibissem a política da época a atingir seus objetivos. Em 1971 foi instituída a Lei 5.692 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, sendo caracterizada pela tentativa de incrementar a formação educacional um cunho profissionalizante. (BELLO, 2001). Ao término do Regime Militar em 1985, a educação já estava inserida mais em mecanismos políticos do que pedagógicos. Era necessário discutir a educação não somente diante do caráter escolar, mas num sentido mais amplo. O período de 1986 a 2003 é denominado de Período da Abertura Política e segundo Peroni (2008) esse período foi centrado principalmente na democratização da escola, mediante a universalização do acesso e a gestão democrática centrada na formação do cidadão. Esta questão é visualizada no estudo da história do Brasil, uma vez que com o final da Ditadura Militar houve o aumento da participação popular política e socialmente, o povo começou a exigir e entender os seus direitos, a autonomia de pensamento individual e coletiva cresceu e disseminou-se, a democratização expandiu. É possível identificar uma caminhada da educação evoluindo ou retroagindo conforme as políticas sociais adotadas, a evolução da educação está, portanto, diretamente relacionada a ampliação de conceitos do próprio ser humano, na busca por mudanças em sua vida e na vida da coletividade. Cecagno e Siqueira (2006) citam a defesa de um processo de transformação na maneira de aprender e ensinar da equipe de enfermagem, sendo necessário a inserção de aspectos políticos educacionais interligados à saúde, onde as lutas pela democratização da sociedade, envolva a participação de seres humanos aptos a pensar e repensar, refletir e agir com a realidade em busca de uma modificação, constituindo-se em agente de mudança. Osistema educacional brasileiro está organizado segundo Pierro e Graciano (2003): Por dois grandes níveis: a Educação Básica e a Educação Superior; Educação Básica: é subdividida pela Educação Infantil (constituída por creches para as crianças até 3 anos e pré-escola para as crianças de 4 a 6 anos), pelo Ensino 13 Fundamental (com oito anos de duração) e pelo Ensino Médio (com no mínimo 3 anos de duração). Educação profissional é opcional e complementa a educação básica. Mesmo assim, e nos dias atuais, frente a tantos avanços da era da educação cita-se aqui: avaliação como o ENEM, Bolsa Família (programa social que incentiva a frequência escolar), capacitação de professores, funcionamento de universidades públicas estaduais e federais, regulamentação do EAD - Educação a Distância, incentivo de cursos técnicos e de qualificação profissional, enfim regulamentações, LDB, decretos, etc. O número absoluto de analfabetos adultos no Brasil segundo dados do Pnad no ano de 2008 é de 14.247 milhões. É importante ter conhecimento sobre o termo alfabetização funcional que consiste naquela capaz de proporcionar à pessoa a utilização da leitura, da escrita e do cálculo para fazer frente às demandas de seu contexto social, usando as habilidades para continuar o processo de aprendizagem e desenvolvendo-se ao longo da vida. (PIERRO; GRACIANO, 2003). Segundo Pierro; Graciano (2003 pag.7): [...] a redução no número absoluto de analfabetos é um fenômeno bastante recente que não resulta de políticas públicas educacionais abrangentes, contínuas e adequadas para a população jovem e adulta, mas sim do esforço realizado em direção à universalização do ensino fundamental para crianças e adolescentes, acompanhada por programas de correção de fluxo escolar e aceleração de estudos para estudantes com defasagem na relação entre idade e série cursada. Diante do exposto e pensando na atuação diária do enfermeiro, o objetivo prioritário do histórico abordado neste capítulo, não foi demarcar todas as questões que envolveram a história do Brasil e da educação, mas sim instigar no enfermeiro a visão ampliada da questão educacional que percorre vínculos estreitos sociais, econômicos e culturais desde o descobrimento do Brasil até os dias de hoje. Torna-se oportuno utilizar a visão de como está a educação atualmente, sem dúvida progrediu em evolução organizacional, contudo os dados sobre o analfabetismo, são uma constante preocupação e demonstram que mesmo diante das mudanças no sistema educacional e pedagógico nem sempre os resultados satisfatórios são alcançados. 14 Ao enfermeiro que trabalha constantemente com educação, quer seja, na formação profissional ou acadêmica, ou mesmo na atuação cotidiana com sua equipe de trabalho, cabe compreender porque por muitos autores a educação é tida como “caminho para uma sociedade melhor” e pensar principalmente na educação não apenas em sua formalidade escolar necessária, mas também como forma de crescimento do ser humano e busca por modificações em sua vida individual e coletiva. Complementando com Cecagno; Siqueira (2006 pág. 15): Ao longo da história, o ser humano, por si um ser complexo, dotado de razão e inteligência, desafiou sua sobrevivência, modificou seu existir e, utilizando-se de sua capacidade mental, acompanhou e acompanha a evolução tecnológica e científica. Ele aprendeu e aprende, criou e cria, desafiou e desafia, enfim, tornou-se e é o centro de todo o processo de desenvolvimento socioeconômico e cultural. 15 2 CONCEITO E CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE EDUCAÇÃO No cotidiano de atuação da enfermagem nas mais diversas especificidades, a palavra educação vem a tona cada vez mais, principalmente pensando na capacitação dos profissionais na atuação em organizações, bem como na própria formação acadêmica e técnica, como maneira de manter-se no mercado de trabalho prestando um serviço de qualidade técnica e individual com resultados expressos por um assistência de qualidade ao paciente. A sociedade atual está em constante transformação, onde a economia, a tecnologia e a informação crescem sem fronteiras esta situação acarreta uma instabilidade mundial; a demasiada ênfase ao sistema capitalista se concentra na alta competitividade do mercado de trabalho, e consequentemente exige dos trabalhadores uma constante atualização, aptidão para criar, inovar e realizar a tomada de decisão diante dos conflitos do dia a dia. (CECAGNO; SIQUEIRA 2006). Contudo, para melhor compreender sobre o tema tratado neste curso, Educação Continuada em Enfermagem, é necessário ampliar a compreensão frente ao termo educação. Expandindo de um sentido de formação de conceitos para, inclusive, transformação de pessoas. Na busca por uma melhor política de trabalho nas organizações, utiliza-se a educação como estratégia que conduz a qualificação pessoal e profissional. O processo educativo é observado como um valioso sistema que assegura a evolução do homem, conduzindo-o a um estado de aptidão, dando-lhe capacidade de aproveitar as possibilidades de fornecer valores à construção de sua vida. (NUÑEZ; LUCKESI, 1980). A palavra educação, deriva do latim, educatione e significa ato de criar. Em um processo criativo, a educação transcende o instruir, a transmissibilidade do conhecimento estabelecido de informações e de adestramento. Desta forma é o instruir, o dar início, que indica o primeiro passo para um processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano, na tentativa de superar as necessidades pessoais e profissionais que vão surgir diariamente, em especial diante dos desafios advindos da contínua necessidade de aperfeiçoamento (PIMENTEL, 1991). 16 Pensando no significado educatione como ato de criar, e reportando esta questão aos níveis organizacionais, cabe o questionamento e reflexão, em qual momento dentro das organizações é oportunizada aos colaboradores a criação? Se a educação em sua derivação significa a criação, como os gestores dentro das empresas utilizam mecanismos para instigar a criação de seus colaboradores? Na prática diária da enfermagem muitas são as ocasiões em que os enfermeiros encontram-se diante de dilemas para resolver problemas que envolvem toda a equipe de enfermagem, questões operacionais, de processos que evoluem em resultados não satisfatórios. Diante disso, são impostas rotinas e ideias aos funcionários operacionais visando à busca pela adequação do processo ineficiente, sendo que na maioria das vezes, a própria falta de adesão dos profissionais ocasiona mais resultados insatisfatórios. Então, diante da prática vivenciada e da “criação” citada como educação, um dos pontos primordiais é, ouvir o profissional, instigando-o a criação, já que nessas situações poderão surgir ideias mais eficientes para o desenvolvimento do processo e principalmente a adesão maior por aqueles que criaram a rotina. Segundo Cecagno; Siqueira (2006 pág.35): Todos os processos ligados à educação e mudança exigem o desenvolvimento e a aplicação de novas ideias. Essas novas ideias podem ser visualizadas como um meio de aprendizado, que permita a aquisição de conhecimentos. A necessidade de criar, implementar, fazer a diferença na trajetória profissional pode transformar o indivíduo em um dos principais valores de uma instituição, quando essa o reconhece como o principal patrimônio. Freire, ao ser citado por Cadete e Villa (2000), expõe que a educação implica em uma busca constante do homem em ser mais. Para tanto é desta forma, que a educação é essencialmente uma atividade humana e é por meio dela que o homem adquire compreensão do mundo e de tudo que nele existe, bem como aptidão para lidar com seus problemas, superando- os a cada dificuldade. 17 A citaçãoacima menciona o sentido amplo que a educação possui na vida das pessoas, educação como forma de viver individualmente e em sociedade, antes mesmo de ser específica a uma atribuição (profissão), sendo essencial na vida dos homens condiz com a realidade pela qual o mesmo verifica seu modo de vida e o desenvolve. Transcreve a importância da educação como um modo de vida, um planejamento e uma procura por algo melhor para si e para outros. Para Mariotti (1995), a educação teve origem da palavra exducere (ex + ducere), onde ex indica o lugar do qual alguém se afasta e ducere indica conduzir. Diante disso, exducere originada do latim, significa levar para fora valores que já existem nas pessoas em forma de potencial. Então, educar quer dizer, conduzir alguém para outra forma de existência. O autor ainda lembra que a educação é um processo de idas e vindas, para tanto ensinar e aprender permanecem o tempo todo interligados; sendo a educação um elemento da cultura. Educação, segundo o Ministério da Educação (INEP) é: O processo contínuo de integração à sociedade e reconstrução de experiências, a que estão condicionados todos os indivíduos, por todo o decurso de suas vidas, mediante a própria vivência difusa de situações do cotidiano, participação compulsória ou voluntária em instituições responsáveis pela transmissão da herança social. Todas as ações e influências destinadas a desenvolver e cultivar habilidades mentais, conhecimentos, perícias, atitudes e comportamentos, de tal modo que a personalidade do indivíduo possa ser desenvolvida o mais extensamente possível e ser de valor positivo para a sociedade em que ele vive. Processo globalizado que visa à formação integral da pessoa, para o atendimento a aspirações de natureza pessoal e social. (DBE - 1986) O objeto da Educação, segundo a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996 em seu artigo 1° “abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”. Pode-se dizer que os processos educacionais são: formais, quando ocorre a intenção de promover a educação e a maneira de realizar a interação se explicitam em normas que tratam da definição de objetivos, seleção de conteúdos e critérios de avaliação; não formais, quando estão presentes a intenção e interação, mas o processo não se pauta de normas específicas definidoras da ação pedagógica; informais processos independentes de intenção e interação são situações ocasionais do convívio social, participação de eventos, sem previsão ou formalização de procedimentos. 18 Para Grácio (1995), a fragilidade do ser humano imaturo e a lentidão do processo de desenvolvimento apresentam uma exigência que são também de ordem cultural, pois quanto mais evoluída a comunidade mais se percebe que o aprendizado e a educação são processos infinitamente conclusos. Percebe-se que o processo educativo encontra-se sempre presente em todas as pessoas, principalmente quando elas se desenvolvem e se aperfeiçoam. Pode-se dizer que a educação parte de um princípio de relação das pessoas e delas com a humanidade que as rodeia. Segundo o autor citado anteriormente o processo educativo tem início na família, quando os pais ensinam aos seus filhos o que acreditam ser certo e errado, como devem agir e comportar-se diante das outras pessoas e da sociedade. Em segundo plano entra em ação a escola, na qual se tem a fase onde a criança passará por uma etapa de instruções, adquirindo conhecimentos referente às áreas do saber. Então, a escola entra num processo de continuidade da educação iniciada dentro do ambiente familiar, educando a criança, o jovem e o adulto para enfrentar a vida, com disciplina, responsabilidades e estímulos ao desenvolvimento de exercícios de cidadania. Cecagno; Siqueira (2006) descrevem o processo de educação como um contínuo de aquisição de saberes e habilidades, competências e aptidões que possibilitam ao ser humano, por meio da reflexão crítica diante da realidade, melhorar sua condição de existir, bem como das pessoas que fazem parte de sua vida. As autoras complementam descrevendo que no momento em que a organização possui o comprometimento com a educação e aprendizado de seu cliente interno, igualmente ela colabora na melhoria das condições de vida pessoal e profissional do trabalhador e consequentemente da instituição. Cliente interno citado neste estudo como os próprios colaboradores, profissionais que desenvolvem suas atividades dentro das organizações. É importante pensar em como está sendo a interação e a preocupação dos enfermeiros em relação a sua equipe de trabalho. Melhorar os resultados de produtividade e qualidade da equipe de enfermagem requer esta visão de comprometer-se com o treinamento, a educação e o aprendizado. Neto et al. (2000), diz que sempre será preciso ter em mente que o processo educacional será plenamente alcançado quando a pessoa a ser educada corresponder com as expectativas do educador resultando em uma transformação. Sendo que para os educadores o 19 compromisso diante da educação é importante, pois o sujeito mostrando-se interessado garantirá uma grande perspectiva em tornar-se um sujeito com grande qualidade e possibilidades de adquirir um vasto conhecimento durante a sua vida. Mais um ponto importante a ser discutido. Qual é a validade de um serviço de educação continuada sem a motivação dos profissionais frente à realização do mesmo? Como realizar a educação continuada em um hospital e proporcionar consequentemente a adesão dos funcionários, o envolvimento e o engajamento no processo como um todo, alcançando resultados satisfatórios para o próprio funcionário em sua vida profissional e pessoal e consequentemente para a empresa? As respostas para essas perguntas talvez estejam na maneira com que o enfermeiro se porta frente ao serviço de educação continuada, não só aquele enfermeiro que está designando sua função para este fim, como também todos os enfermeiros que fazem parte da empresa. É impossível então não remeter a importância do enfermeiro na atuação de liderança da equipe de enfermagem, agente influenciador de resultados positivos ou negativos. Por isso, adiante será abordado o tema liderança em enfermagem. Segundo Padilha (1991) a educação é uma importante forma de globalização e integração ao meio social no qual o indivíduo encontra-se inserido. Para Waldow (1993) a educação requer um ensino definido e libertador, com o propósito de ativar e libertar o raciocínio, a partir de uma base formada e adquirida na realidade da qual a pessoa está inserida. Ele também descreve que o processo educativo é utilizado no âmbito da saúde visando mudanças na forma de agir, pensar e definir algum propósito, portanto aprender significa mudar comportamentos e experiências. Visto que o homem se modifica a cada fase da vida e por viver numa era de constantes mudanças é de suma importância que seja sempre buscado, adquirido, revisto e atualizado seus conhecimentos. Nuñez e Luckesi (1980) descrevem que as escolas fornecem aos profissionais as mais diferentes formas de pensar quanto ao conhecimento, habilidade e atitudes necessárias para complementar as atividades propostas no seu dia a dia de serviço, sempre em busca de um desempenho eficiente de suas funções. Todos estes objetivos poderão ser alcançados mediante um processo educativo permanente do ensino e aprendizagem, aplicado a qualquer faixa etária em qualquer período da vida do ser humano. 20 Para Cunningham (1975) a educação pode ser vista como um processo designado por dois pontos de vista; o social e o individual. A sociedade procura entender a educação como um processo de aquisição das diversas culturas, partindo do princípiodas gerações, obtendo assim informações de representações passadas e que atualmente ainda a sociedade procura seguir, de maneira, muitas vezes, rigorosa. No processo individual a educação procura ser estimulada por meio do crescimento e do desenvolvimento da pessoa. É preciso entender que estes dois aspectos da educação não se opõem, mas se completam, em ambos, a educação é vista como um processo de transformação perante a sociedade e o mundo. O conhecimento é um fator primordial do processo educativo. Para Mariotti (1995), o conhecimento pode ser adquirido por meio do estudo, pesquisa e observação das tarefas desenvolvidas pela pessoa ou por quem a rodeia. Pode-se dizer que o conhecimento é acumulável e controlado pelo indivíduo, tornando-se uma herança e um capital adquiridos pelos antepassados. A construção e evolução do conhecimento ao longo da história do homem foram influenciadas pela forma de vida dos homens, bem como seu pensar e agir. O homem é percebido no centro do processo da construção do conhecer/saber em todas as épocas. Contudo, ele foi influenciado por determinações de poder e por questões políticas. (CECAGNO; SIQUEIRA, 2006). A partir do surgimento constante de novas tecnologias, diferentes formas de educação e conhecimento aparecem, resultando nas aplicações de trabalhos mais qualificados. Quando tais técnicas ocorrem de forma contínua, o ato de saber evolui para um instrumento de transformação e de dominação das tarefas desenvolvidas e com isso, empresas evoluem continuamente e com qualidade. Com o avanço da tecnologia a educação, o conhecimento e a sabedoria formam um tripé sólido em constante aperfeiçoamento. Mariotti (1995) diz que a sabedoria não é obtida por meio do estudo, mas adquirida pelas experiências vivenciadas no dia a dia. Com isso, o conhecimento nos diz o que fazer, a sabedoria nos ensina como e quando fazer, e com esse processo a educação faz parte desta atividade a partir da forma de como ela será conduzida perante os valores preexistentes em cada pessoa. 21 Na educação o aprender é uma constante decisória. E aprender segundo Carvalho (1999 apud Cecagno; Siqueira, 2006) constitui-se em um processo contínuo e dinâmico, onde o indivíduo enfrenta a realidade de maneira criativa, movimentando-se em busca de um propósito estabelecido, gerando com isso, novas maneiras de perceber o ambiente em que vive. Sendo que o processo de aprendizado requer uma mudança de comportamento, é indispensável aprender a aprender (CARVALHO 1999;SENGE 2002 apud Cecagno;Siqueira, 2006). 22 3 INSERÇÃO DO TRABALHO NA VIDA DO HOMEM E A EDUCAÇÃO DE ADULTOS A educação continuada é uma atividade destinada principalmente aos profissionais, e consequentemente às pessoas adultas que entram no mercado de trabalho. Desta forma, torna- se oportuno compreender a maneira de condução da educação de pessoas adultas como embasamento para o trabalho do enfermeiro em educação continuada. A sociedade atual está estruturada sobre uma busca constante pela sobrevivência. Para tal, o trabalho torna-se um dos meios pelo qual o indivíduo consegue manter suas necessidades atendidas; junto a isso há a evolução dos meios de produção em praticamente todas as áreas, ampliação dos modos de pensar de dirigentes e administradores de empresas visando o aumento de produção, seja ela qual for, como meio de manutenção do negócio. O trabalho, hoje em dia, ocupa um espaço muito importante na vida de todos. Ou seja, quase todo mundo trabalha e uma grande parte da vida de cada pessoa é passada dentro das organizações. Mas, será que o trabalho sempre ocupou uma posição importante na vida dos homens? Marx (1980 p.86), em suas bases teóricas acerca do trabalho afirma: Antes de tudo o trabalho é um processo de que participam o homem e a natureza, processo em que o ser humano, com sua própria ação, impulsiona, regula e controla seu intercâmbio material com a natureza. Neste processo, participam elementos essenciais, a atividade, a matéria, o objeto de trabalho e o instrumental, sendo que estes elementos apresentam-se de forma abstrata independentemente de estrutura social. A trajetória de evolução do homem compreende o desenvolvimento do trabalho desde as comunidades pré-industriais até as sociedades pós-industriais. Por isso, é impossível falar do trabalho sem incluir a evolução do próprio ser humano que é responsável pelas modificações ocorridas no decorrer dos séculos ao se tratar do binômio homem-trabalho. 23 Nos milhões de anos que precederam à mesopotâmia, o progresso foi muito lento. Em uma primeira longa fase, o homem dedicou suas energias principalmente a colocar em funcionamento as técnicas elementares para sua sobrevivência por meio da defesa e ataques contra agruras da natureza e outros seres vivos hostis. Mais tarde, a partir do então homem de Neanderthal, o homem consegue elaborar sistemas culturais mais refinados e abstratos, com o objetivo de compensar as frustrações, dores e inseguranças por meio de ilusões como o culto aos mortos e a magia, o erotismo desvinculado da procriação e o acúmulo de bens de qualidade. No final dessa fase evolutiva, o homem aprendeu a caminhar em posição ereta, transformando os membros superiores em ágeis utensílios e produtores de utensílios; aprendeu a cultivar a terra, em vez de esperar a disponibilidade dos frutos; aprendeu a dominar o fogo; facilitou o transporte, aprendendo a desfrutar do menor atrito dos corpos redondos quando giram em torno de um eixo. O desenvolvimento psíquico do ser humano teve como consequência o impulso gerador de invenções materiais, organizações de comunidades e avanços tecnológicos que surgiram basicamente para suprir anseios do homem de antigamente. Foram fundadas as primeiras cidades e as primeiras escolas e inventada a escrita, a matemática e a astronomia; atingindo-se um nível de progresso científico que permaneceria praticamente imutável por dezenas de séculos. Com o surgimento das cidades houve uma modificação organizacional, segundo Masi (2000 p.62): Na base desta transformação houve obras de irrigação, agricultura intensiva, artes especializadas como a cerâmica e a metalúrgica e o controle de uma burocracia, uma magistratura e um sacerdócio letrados. A civilização exigia uma hierarquia social e economia estratificada. Daí em diante, a supremacia da cidade sobre o campo se afirma com prepotência. As atividades do homem nesse período restringiam-se a política, ao estudo e a ginástica, enquanto o trabalho braçal era destinado às mulheres que viviam em casa e aos 300 mil escravos que compunham o cenário daquele tempo. As invenções tecnológicas como o relógio, a bússola, o moinho d’água, os modernos arreios de cavalo, a pólvora, a vela moderna e a imprensa, substituíram a mão de obra ocasionando a libertação de boa parte dos escravos; aliados a esse progresso, o crescimento demográfico e o êxodo rural favoreceram o surgimento das indústrias. 24 No final do século XVIII surge a indústria, milhões de camponeses e artesãos se transformam em trabalhadores “subordinados”, os tempos e os locais de trabalho passam a não depender mais da natureza, mas das regras empresariais e dos ritmos da máquina. “Durante este período a preocupação residia na racionalização do trabalho a partir de métodos científicos, onde o objetivo maior era a elevação da produtividade e consequentemente maiores ganhos aos detentores do capital” (RODRIGUES, 1999 p.35). Malthus (1946 p.45) descreve que: (...) o trabalhador do século XVIII vivia em condições desumanas, as jornadas de trabalho chegavam a 18 horas diárias, o trabalhador possuía aversão ao trabalho; o trabalhador tinha assim uma vida no trabalho, onde suas necessidades básicas não eram consideradas.Após a Guerra Civil de 1968, o mercado e a expectativa para o consumo de produtos industrializados, interna ou externamente, existiam. A mão de obra não especializada era abundante e barata. Mas havia um grande problema: os processos produtivos. “A arte de fazer não era propriedade da indústria. Os artesãos, que também eram chamados de trabalhadores profissionais, tinham o conhecimento total do fazer e constituíam um grupo dominante da indústria.” (CORIAT, 1980 p. 56). Foi durante o período de crise na produtividade mundial que Frederick Winslow Taylor, encontrou o cenário ideal para aplicar suas ideias sobre produtividade de produção. A filosofia proposta era a racionalização da produção, trazendo como produtos finais a produtividade e a motivação econômica do trabalhador. A respeito da prosperidade do trabalhador, na administração científica, diz Taylor (1987 p.32): Prosperidade para o empregado significa, além de salários mais altos do que os recebidos habitualmente pelos obreiros de sua classe, o aproveitamento dos homens de modo mais eficiente, habituando-os a desempenhar os tipos de trabalhos mais elevados, para os quais tenham aptidões naturais e atribuindo-lhes, sempre que possível esses gêneros de trabalhos. A partir desses conceitos o homem começa a ser visto não somente como meio de produção, mas também como um ser integrado que possui uma vida fora do seu local de trabalho e onde sua satisfação e motivação estão relacionadas diretamente com a sua produtividade. Em síntese, a industrialização interveio em toda milenária ordem rural e artesanal da 25 sociedade; do trabalho à família, da fábrica à cidade; o que permanece até os dias atuais e com mais veracidade, pois o atual cenário de industrialização e tecnologia avançadas ocasiona uma maior preocupação do ser humano em relação ao trabalho. Milhões de pessoas se desesperam por estarem excluídas do exercício de alguma atividade da qual, não gostam, que às vezes até detestam, mas que as estatísticas oficiais consideram como “trabalho”. Estas pessoas têm bons motivos para se desesperar, porque a organização social atual faz depender mesmo do exercício do trabalho, ou seja, o direito de viver de um modo decente e independente, ter uma casa e filhos, ser bem aceito no convívio social. Pode-se verificar que, no conjunto das transformações que chamamos de progresso permanecem, segundo Masi (2000 p. 69): Oito percursos a que o gênero humano se mantém fiel na sua obstinada tentativa de domesticar a natureza por meio da cultura: da operação manual, ao emprego da tecnologia; da simplicidade à complexidade; da casualidade à planificação intencional de curto e, depois de longo prazo; da aproximação à precisão profissional; da mera execução à criação. Com o rápido desenvolvimento tecnológico e a constante corrida pela subsistência vivenciada nos dias de hoje por trabalhadores e organizações, cresce a necessidade de uma profunda reformulação na maneira de ver a pessoa humana, que constitui o principal agente na estratégia para garantir a sobrevivência das organizações em meio aos desafios da nossa época. Weil (2000) caracteriza o fator humano nas organizações podendo ser entendido em três partes principais: adaptação do homem ao trabalho, adaptação do trabalho ao homem e adaptação do homem ao homem. Sendo que o ideal deve ser expresso quando o indivíduo aumenta a sua satisfação e motivação e, consequentemente sua produtividade por meio de uma adaptação ao trabalho e a si próprio. Conforme Masi (2000) o desafio do século XXI é inventar e difundir uma nova organização, que tenha como objetivos principais o aumento da produtividade com elevação da qualidade de vida e do trabalho, e, consequentemente favorecendo a expressão de desejo e felicidade do ser humano. Graziano (2000) afirma que nas duas últimas décadas, tem aumentado o número de empresas que investem no bem-estar e na satisfação de seus funcionários beneficiando amplamente o delicado campo dos relacionamentos e adaptação as funções e, por consequência a produtividade. 26 A preocupação com o fator humano dentro das organizações ocasiona uma seleção restrita por parte de administradores no momento das contratações, segundo Goleman (1999 p.15) “(...) já não importa apenas o quanto somos inteligentes ou o nosso grau de especialização, mas também a maneira como lidamos com nós mesmos e com os outros.” Por meio dessa descrição, percebe-se que a inserção do trabalho na vida do homem foi entendida primeiramente como a capacidade de se produzir com esforço físico e cumprimento de horários, o que permanece até hoje, porém aprimora-se a cada dia quando o trabalhador passa a ser visto como um ser pensante e passível de adaptação. Apesar de existir uma preocupação com o fator humano, nos países subdesenvolvidos é difícil unir a teoria à prática, uma vez que a crise econômica, por vezes, restringe a escolha do homem por seu trabalho, transformando a adaptação em algo irreal, pois alguns indivíduos trabalham para sobreviver. A contratação de funcionários não está apenas voltada para a formação básica, técnica ou superior, mas sim a identificação do indivíduo como pessoa possuidora de qualidades essenciais para o desenvolvimento do serviço em determinado local. As exigências do mercado de trabalho propiciam ao indivíduo adulto a característica de competitividade e um dos caminhos encontrados para permanecer forte no mercado de trabalho é a educação. As mudanças contínuas que o ser humano é submetido na própria condição de existência no mundo atual incluem a realidade tecnológica da informática, políticas sociais, culturais, religiosas, educacionais, entre outros. Assim, a evolução do mundo globalizado exige das pessoas um aprender diferenciado e novo, que se caracteriza pela conquista por conhecimentos e uma constante transformação de comportamentos frente à realidade vivida (CECAGNO;SIQUEIRA, 2006). Para Oliveira (1999), o indivíduo adulto é a construção de uma psicologia atrelada a fatores socais e culturais com características diferenciadas da criança e do adolescente, sendo que na fase adulta o indivíduo encara esta, como um período de estabilidade e ausência de mudanças. Freire (1979) citado por Cecagno; Siqueira (2006) sobre a mudança e a educação diz ser necessária a conscientização para que a mudança de fato ocorra e como meio para se alcançar este objetivo a utilização da educação é a principal ferramenta tornando o indivíduo um agente de mudança. 27 Sobre a formação de adultos, Pierro; Graciano (2003 p. 2) descrevem ser: “[...]uma multiplicidade de processos formais e informais de aprendizagem e educação continuada ao largo da vida, tornou particularmente complexo o monitoramento das políticas educativas.” Pierro; Joia; Ribeiro (2001 p. 58) citam: A educação de jovens e adultos é um campo de práticas e reflexão que inevitavelmente transborda os limites da escolarização em sentido estrito. Primeiramente, porque abarca processos formativos diversos, onde podem ser incluídas iniciativas visando à qualificação profissional, ao desenvolvimento comunitário, à formação política e uns cem números de questões culturais pautadas em outros espaços que não o escolar. Segundo Leite e Pereira (1991), o processo de ensino e aprendizagem no indivíduo adulto se diferencia da criança e do adolescente, devido as mais variadas formas e diferenças dos mecanismos perceptivos, pela diferença em interpretar, pensar, agir com o que está sendo proposto naquele instante e a motivação e o incentivo que receberá naquele momento em favor dos objetivos a serem alcançados. Para Leite e Pereira (1991), o indivíduo adulto encontra-se numa fase da vida com um saber já adquirido sendo que esse não pode ser desprezado, pois na sua jornada de trabalho as experiências poderãofazer parte de sua personalidade e conhecimentos. Isso retrata esta fase que é rica em transformações dando continuidade ao desenvolvimento do indivíduo, com base no desenvolvimento cognitivo relacionado à aprendizagem e interação com o meio sociocultural. Para o indivíduo adulto, a educação e o aprendizado terão significados diferenciados enquanto parte de uma experiência e também uma necessidade levando a pessoa a rever a sua forma de aprendizado e o seu conhecimento para um aumento na sua produtividade expandindo os seus conhecimentos; isto tudo funciona como uma forma de incentivo positivo para um crescimento decorrente de esforços para uma carreira de conquistas e valorizações. (NETO et al, 2000). Partindo da ideia de que os profissionais inseridos nas instituições constituem grupos heterogêneos, cada qual com uma formação inicial diferenciada, pelas diferentes escolas que fornecem o ensino na área da saúde, DAVIM (1999) diz ser fundamental o desenvolvimento de 28 programas de Educação Continuada que contribuam para a melhoria da qualidade do cuidado prestado na área da saúde, mediante a prestação de serviços dos profissionais capacitados e treinados para darem suas contribuições perante a sociedade na qual estão inseridos. Complementando a ideia Cadete e Villa (2000) apontam à necessidade de um trabalho inserido para cada realidade onde as pessoas vão estar envolvidas e argumentando para com os diferentes locais sendo exigidas diferentes propostas educativas, de acordo com a demanda da população envolvida. Segundo Leite e Pereira (1991), a OMS recomenda a aplicação de alguns princípios que podem auxiliar na educação de adultos como: Fazer com que ocorra a participação dos educandos nos programas de elaboração, execução e avaliação das atividades desenvolvidas dentro de uma organização. Proporcionar a expressão das necessidades dos educandos permitindo caminhos e ritmos individuais. Favorecer as trocas de experiências entre profissionais estimulando a participação e discussão de todos os membros do grupo. Estimular a realização uma avaliação individual e coletiva proporcionando a geração de novos conhecimentos e definição de novos assuntos para os próximos encontros. Os profissionais devem estar inseridos no processo contínuo de educação, de maneira que desenvolvam uma visão crítica da realidade e que se tornem conscientes de seu papel. Silva e Saupe (2000) relatam que a Educação Continuada vem confrontar relações entre os sistemas formais e não formais de educação, dar lugar a criatividade e flexibilidade e desestabilizar a maneira como está sendo executada a forma de educar. Para Silva (2000) em se tratando da área da saúde, e principalmente a enfermagem, a formação não deve apenas gerar profissionais que possam ser absorvidos pelos postos de trabalho do setor, bem como aqueles que desenvolvam a capacidade de interação com o usuário. Deste modo se faz necessário que esses profissionais tenham acesso a novos conhecimentos técnicos e habilidades interpessoais, é com esse objetivo que a educação permanente e continuada deve ser vista, como uma forte aliada e um veículo de comunicação para o alcance da qualidade e objetivos organizacionais. 29 Para a formação de indivíduos adultos, deverão estar relacionadas a aquisição de diferentes conhecimentos, a compreensão destes; os profissionais precisam receber motivação para aprender e aplicar estes novos ensinamentos que a eles foram ofertados no ambiente de trabalho e a si próprios. As experiências enriquecedoras podem provocar no indivíduo adulto, tomadas de consciência e novas motivações para a aprendizagem frente a construção de novos conhecimentos (SILVA, 2000). 30 4 TEORIAS DA ADMINISTRAÇÃO Com o passar dos anos como foi visto no módulo anterior, o trabalho se insere na vida do homem como uma forma de sobrevivência devido à evolução social, política e econômica. Toda a evolução cultural e educacional do ser humano trouxe as modificações na maneira de viver e consequentemente aprimorou as tecnologias. Ao enfermeiro que trabalha com educação continuada cabe compreender todo o contexto que envolve os profissionais (empregados) dentro das organizações, visto que este conhecimento engrandece e contribui para o desenvolvimento de um serviço de educação continuada eficiente e com resultados. Para tal, cabe fazer referência as teorias da administração proporcionando ao aluno subsídios para entender melhor as maneiras de administração de cada empresa em que está inserido e identificar meios para implantar neste processo a educação. Abaixo serão citadas resumidamente as principais teorias da administração, bem como o enfoque dado a cada uma delas. Teoria da Administração Científica: As principais características da administração científica iniciada por Frederick Winslow Taylor no período de 1856 a 1915 estavam baseadas principalmente no aumento da produtividade. Para isso, segundo Matos; Pires (2006) os métodos e sistemas propostos eram de racionalização do trabalho e disciplina do conhecimento operário, sendo este colocado sob o comando de uma gerência, também a seleção rigorosa dos trabalhadores mais aptos para realização de uma determinada tarefa, a fragmentação e hierarquização do trabalho. 31 Segundo Kurcgant (1991) nesta teoria o trabalhador sabia cada vez menos do todo que constituía o seu trabalho restringindo e focando seu saber somente na tarefa que lhe cabia. Ainda nesta teoria se propunha o incentivo salarial e o prêmio compatível com a produção. A Teoria da Administração focava uma questão mecanicista muito evidente, quando pressupõe que o trabalhador é motivado apenas por seu salário e prêmios, instigando-o assim a aumentar a produção para que em contrapartida receba mais. Outra questão que chama a atenção é o fato do trabalhador estar inserido apenas no contexto de sua atividade e não do todo. Segundo Matos; Pires (2006 p.509) alguns dos principais efeitos negativos da organização do trabalho baseada na administração científica são: [...] a fragmentação do trabalho com separação entre concepção e execução, que associada ao controle gerencial do processo e à hierarquização rígida tem levado a desmotivação e alienação de trabalhadores, bem como a desequilíbrios nas cargas de trabalho. Segundo Kurcgant (1991 p. 05) um dos aspectos criticados na implantação da teoria científica foi: O ponto mais crítico da teoria científica é o seu aspecto mecanicista explicitado pela caracterização do homem como uma peça de engrenagem e não como ser humano. Outro aspecto também criticado foi a ênfase na especialização do operário como fator de produção. Pesquisas posteriores provaram que a especialização do operário não significa aumento de produção. [...] Ao se pensar no contexto da teoria científica e na atuação diária da enfermagem nas organizações é possível perceber algumas semelhanças ainda, uma vez que há de se atentar para as formas de atendimento ao cliente, ou seja, na prestação da assistência de enfermagem. Ainda existem locais que utilizam a divisão de tarefas na realização do cuidado em detrimento ao atendimento integral. 32 Em ambos as situações o enfermeiro tem papel norteador, ou seja, de direcionar sua equipe o mais complacentemente possível focando em quaisquer uns dos casos de prestação de cuidado (parcial ou integral) para o resultado do trabalho como um todo e não apenas na atividade desenvolvida naquele momento pelo profissional. Cabe lembrar aqui a importância dos grupos de estudos e da avaliação dos resultados no atendimento ao paciente, como no tratamento de feridas, por exemplo, onde os enfermeiros da equipe juntamente com os técnicos de enfermagem acompanhama evolução da ferida frente à prestação do cuidado, avaliam o resultado e buscam adaptações quando necessário em conjunto visando a uma maior discussão e adesão dos funcionários. É possível afirmar que, diante da atual situação das organizações, é arriscado não envolver o profissional no conhecimento coletivo, ou seja, no todo da organização, visto que o entendimento do trabalhador frente a toda questão que envolve o objeto da empresa, missão e objetivos, contribui para uma maior participação do mesmo no alcance por resultados. Teoria Clássica: Uma das principais características dessa teoria estabelecida por Henry Fayol era a divisão do trabalho em órgãos, não havia uma preocupação da divisão individual, mas sim organizacional. A partir disso que surgiu a divisão horizontal do trabalho que pressupunha o agrupamento por atividades e a divisão vertical estabelecendo uma hierarquia (KURCGANT, 1991). Fayol descrevia a empresa segundo seis funções: técnicas, comerciais, financeiras, de segurança, contábeis e administrativas. Segundo Matos; Pires (2006) a maior preocupação de Fayol era com a direção da empresa dando principalmente ênfase a todas as funções e operações que compunham o interior da mesma. Para Kurcgant (1991 p. 07) as críticas à Teoria Clássica relacionam-se principalmente: 33 [...] se deve ao seu caráter prescritivo e normativo por determinar com regras e normas o comportamento do administrador. Outra crítica é o fato de que essa teoria se preocupou, unicamente, com a estrutura formal da organização, não admitindo a existência da estrutura informal, que é constituída pelas pessoas e suas relações. Remetendo aos dias atuais nas empresas onde a enfermagem atua observa-se a estruturação de segmentos ou órgãos que atuam individual e hierarquicamente de maneira distinta. Nesta concepção da teoria clássica a divisão por departamentos e consequentemente por autoridades responsáveis deve servir para organizar o serviço da empresa em sua totalidade e não separá-lo de seus objetivos. Pensando no cotidiano dos hospitais que em sua maioria trabalham com organogramas onde há a divisão vertical e horizontal das atividades e gerências, cabe enfocar os tantos conflitos vivenciados entre um setor e outro, uma gerência e outra, ocasionando uma falta de resolutividade e consequentemente desmotivação do funcionário ao trabalho. Com isso, os resultados se refletem na empresa, por meio do não alcance de metas e objetivos propostos. Organizar é importante, tanto atividades como responsabilidades, entretanto, além disso, é primordial que todos caminhem buscando o mesmo objetivo e não em percursos individuais, já que todos os setores compõem a mesma empresa. Teoria Burocrática: Na teoria burocrática idealizada por Max Weber ao redor dos anos de 1940 a principal característica era organização das empresas em normas e regulamentos escritos e preestabelecidos para seu funcionamento. É como se cada empresa tivesse sua própria legislação para operacionalizar suas funções. Kurcgant (1991p. 08) descreve: A proposta burocrática visa à eficiência organizacional como objetivo básico, e para tanto detalha pormenorizadamente como as coisas deverão ser feitas, ou seja, prevê em detalhes o funcionamento organizacional. Desse modo, mantém um caráter racional e uma sistemática divisão de trabalho. Caracteriza-se ainda pela 34 impessoalidade nas relações humanas, considerando os indivíduos apenas em função dos cargos e funções que exercem na organização. [...] Na organização do serviço de enfermagem nas instituições hospitalares ou mesmo nos postos de saúde, há a regulamentação dos procedimentos de enfermagem por meio da descrição de normas e rotinas como forma de programar um serviço de melhor qualidade. Para tanto, é necessário sempre repensar que tais manuais de normas e rotinas devem ser adaptados a realidade de cada local e principalmente de cada equipe, seguindo a legislação dos órgãos competentes e não excluindo a inter-relação com o fator humano tanto do trabalhador como do próprio paciente que recebe o cuidado, lembrando que na saúde trabalha- se com um produto subjetivo e como tal, sujeito a modificações. Teoria das Relações Humanas: A teoria das relações humanas possui como característica principal a visão do homem como social e não apenas um ser econômico como vinha sendo suposto pelas teorias científica e clássica. Não se opõe totalmente ao modelo da teoria de Taylor, entretanto engloba fatores como a motivação humana e o trabalho grupal para se atingir o nível de produção esperada pela empresa. Essa visão foi idealizada em 1930 e adveio juntamente com o desenvolvimento de algumas ciências humanas, cita-se psicologia e sociologia. A liderança é um aspecto que começa a ser trabalhado por esta teoria e emprega aos dirigentes a maneira pela qual irá se relacionar com os empregados. Entretanto, uma das maiores dificuldades encontradas é a manutenção de uma liderança não paternalista, que consiga demonstrar os erros, sem, contudo, ferir a pessoa humana. Na época de sua iniciação essa era uma das dificuldades, visualizada até hoje, liderar, sem omitir erros. Segundo Matos; Pires (2006 p.509): 35 O Movimento das Relações Humanas combate o formalismo na administração e desloca o foco da administração para os grupos informais e suas inter-relações, oferecendo incentivos psicossociais, por entender que o ser humano não pode ser reduzido a esquemas simples e mecanicistas. [...] Teoria Comportamentalista: Esta teoria teve como base principal a inserção de uma preocupação nos processos organizacionais e não na estrutura. Enfocou a motivação humana por meio do conhecimento da teoria da Motivação de Maslow e a Teoria sobre os dois fatores de Hertzberg. Segundo Kurcgant (1991 p. 10): A Terapia Comportamentalista evidenciou os diferentes estilos com que os administradores dirigiam seu pessoal, e uniu a escolha do estilo às convicções que os administradores tinham a respeito do comportamento humano. A implantação desta teoria nas organizações proporciona uma resolução mais democrática frente aos problemas, nesta caracterização a variável pessoa é vista como fundamental para alcance dos objetivos. É uma concentração em busca de mecanismos de motivação dos trabalhadores e estudo dos comportamentos para alcance dos objetivos propostos. Abraham Maslow, psicólogo norte-americano que viveu durante o período de 1908 a 1970, tentou identificar o que sustenta o comportamento humano. Propôs que a motivação do ser humano está relacionada a uma hierarquia de necessidades humanas. Dentro das necessidades propostas por Maslow o ser humano não busca a necessidade seguinte sem a anterior estar satisfeita. Foi definido na Teoria de Motivação descrita por Maslow um conjunto de cinco necessidades, são elas: Necessidades fisiológicas, tais como a fome, sede, sexo, excreções; Necessidades de segurança que vão desde a simples necessidade de estar seguro dentro de uma casa às formas mais elaboradas de segurança, como um emprego, uma 36 religião, a ciência, dentre outras; Necessidades de amor, afeição e sentimentos como o afeto, o carinho entre outros; Necessidade de estima: o reconhecimento das nossas capacidades pessoais e o reconhecimento dos outros em face de nossa adequação frente às funções que desempenhamos. Neste último patamar da pirâmide que Maslow considera que a pessoa tem que ser coerente com aquilo que é na realidade. Pode-se afirmar que neste contexto abordado por Maslow há um Ciclo Motivacional, onde o ser humano ora satisfaz uma necessidade e parte para a outra, em uma determinada escala de importância. Diante disso, por exemplo, as pessoas que não possuem suas necessidades fisiológicas satisfeitas não procurarãosatisfazer suas necessidades de autoestima ou autorrealização, segundo o que Maslow descreve sobre motivação. A partir destes conjuntos de necessidades, surgiu a representação gráfica que forma a Pirâmide das Necessidades Humanas de Maslow descrita abaixo. FONTE: Disponível em: <www.suamente.com.br/a-piramide-de-maslow/>. Acesso em 10 jan. 2009. 37 A interpretação da Pirâmide das Necessidades Humanas, por Maslow, faz entender que o ser humano precisa que suas necessidades fisiológicas básicas sejam atendidas primeiramente, aquelas que estão na parte mais inferior da pirâmide para após buscar satisfazer as demais necessidades da pirâmide. Teoria dos Sistemas: A Teoria dos Sistemas possui como principal característica a visão de que os sistemas interagem entre si, sendo que a falha nesta interação ocasiona uma modificação. Segundo Kurcgant (1991 p.11) “foi desenvolvida em 1960 e fundamentou-se em três premissas básicas: os sistemas existem dentro de sistemas; os sistemas são abertos; e as funções de um sistema dependem de sua estrutura.” A mesma autora acrescenta (1991 p.11): A teoria dos Sistemas baseia-se no conceito do “homem funcional” que se caracteriza pelo relacionamento interpessoal com as outras pessoas como um sistema aberto. Ainda segundo esta teoria, as organizações são consideradas um sistema de papéis, e os indivíduos constituem os atores que desempenham esses papéis. As organizações constituem-se de um sistema inseridas em um meio ambiente onde existem recursos para o desenvolvimento da atividade proposta e consequentemente dos resultados almejados; os elementos fundamentais para a realização do objetivo da empresa são: a entrada, os processos e as saídas,cada um sofrendo influências do meio ambiente provocando mudanças afetando com isso o sistema como um todo. Teoria Contingencial: Nesta teoria se enfatiza o fato do ambiente externo ocasionar as modificações de estruturação e organização de uma empresa. Também enfoca a tecnologia como um alicerce 38 que influencia nos resultados da empresa. A empresa deve ser ajustada e adaptada ao ambiente e à tecnologia, assim como seus processos regulamentadores, como meio de se manter ativa e eficiente. Segundo Matos; Pires (2006 p.510): [...] este modelo, dotado de grande flexibilidade, descentralização e desburocratização, é colocado como opção para ambientes em constante mutação e condições instáveis, contrapondo-se, de certa forma, ao modelo mecanicista que prevalece em situações e ambientes relativamente estáveis. A abordagem contigencial enfatiza que não existe um único e exclusivo modelo para organização da empresa e nem mesmo para que se atinja a eficiência e eficácia, sendo que tanto a estrutura e o funcionamento das empresas estão dependentes da relação com o ambiente e a tecnologia. Diante do estudo das teorias da administração e reportando o cotidiano da enfermagem nas organizações é possível identificar preceitos de teorias diversas sendo aplicadas por administradores e consequentemente ao pessoal de enfermagem que integra o grupo de colaboradores. É importante obter conhecimento frente as teorias da administração para que na aplicação do trabalho diário de enfermagem, se utilize os meios mais adequados para o funcionamento. Nesta percepção a educação continuada deve ser vista como parte geradora de todo um sistema e focalizada igualmente na motivação profissional. Pois, como já foi citado anteriormente, apenas a especialização não confere a empresa um aumento de produtividade; então ao inserir um programa de educação continuada aos profissionais de saúde é imprescindível que os mesmos estejam interagindo de maneira motivadora, para obtenção de resultados. E resultados em saúde, diferentemente de muitas empresas, não se constitui basicamente em lucros, mas sim em um aumento de produtividade eficiente, que na 39 enfermagem significa uma prestação de cuidado com qualidade, de baixo custo, organizada e com benefícios ao cliente. 40 5 LIDERANÇA EM ENFERMAGEM - BUSCA POR UM SERVIÇO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA EFICIENTE O papel de líder do enfermeiro em sua atuação diária está incumbido mediante as responsabilidades assumidas sobre sua equipe de trabalho. As questões legais que norteiam o desenvolvimento da enfermagem, por si só, delegam ao enfermeiro o papel de gerenciamento das equipes e consequentemente o transportam às questões de liderança como mecanismo para atingir os objetivos comuns propostos. Segundo Kurcgant (1991 pag. 165) liderança é entendida: [...] como um dos processos que concretiza a administração de pessoal nas organizações, trata basicamente da condução ou coordenação de grupos. Nas organizações, os significados atribuídos à liderança, aos líderes e ao grupo refletem, mais do que qualquer outro processo da administração de pessoal, a filosofia da instituição, a política de pessoal adotada e as propostas de trabalho desenvolvidas nessas organizações. Segundo Cerqueira (2010) diante do enfoque contemporâneo sobre liderança há a inclusão de habilidades de orientação, integração e inspiração. Sendo considerado o líder eficaz aquele que provê a orientação para sua equipe sem impor caminhos rígidos e estreitos. Pode-se perceber que a figura do líder com o passar dos anos foi evoluindo em sua significação, ou seja, atualmente não é mais tida como um sujeito que está apenas no comando gerencial e hierárquico de um determinado grupo, mas sim com características expressas que desenham sua personalidade e suas ações. É necessário compreender a diferença existente entre administrar e liderar. Barreto; Pereira (2007 pag. 12) descrevem as principais diferenças entre administrar e liderar como: 41 Enquanto a administração diz respeito ao enfrentamento da complexidade, a liderança diz respeito ao enfrentamento da mudança. Os líderes estabelecem direções por meio do desenvolvimento de uma visão de futuro; depois, engajam as pessoas comunicando-lhes essa visão e inspirando-as a superar os obstáculos. Até o início do século XX, dizia-se que havia cinco funções gerenciais: planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar. Hoje, foram condensadas em quatro: planejar, organizar, liderar e controlar. Sousa; Barroso (2009) afirmam que diante dos princípios de formação da enfermeira, é quase inevitável que a mesma desenvolva habilidades de liderança como consequência das funções que lhe são estabelecidas. Há de se pensar nos objetivos comuns da enfermagem como englobando questões assistenciais e administrativas. O cuidado ao ser humano em quaisquer áreas de atuação da enfermagem é, sem dúvida, o alicerce de todos os pressupostos da profissão, segundo Sousa; Barroso (2009 p. 183) “A essência da enfermeira está no cuidado, seja com o outro ou com a gerência de quem cuida do outro, a equipe de enfermagem.” Contudo, é inevitável que diante da inserção do enfermeiro nas diferentes áreas de atuação e organizações, o mesmo tenha papel norteador frente às metas da empresa. Santos (2005) ressalta que a enfermagem acorda para diferentes formas de cuidar, sendo assistencial e gerencial. As duas maneiras de cuidar são compreendidas como mecanismos para um único fim que se constitui na promoção do cuidado ao paciente a partir da expressão de liderança. Diante disso, além de um cuidado eficiente e eficaz ao cliente, o enfermeiro gerencia a continuidade das ações de saúde. No momento em que gerencia o custo e os gastos com materiais colabora com a promoção da realização do procedimento em outros pacientes. No mundo capitalista e de busca pela sobrevivência, cabe lutar pela sobrevida da própria enfermagem que está, na maioria das vezes, submetida a serviços
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