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1 Curso de Enfermagem em Saúde do Idoso MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na Bibliografia Consultada. 39 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores MÓDULO II METODOLOGIA DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NA SAÚDE DO IDOSO A metodologia da assistência em enfermagem constitui-se numa atividade crítica, reflexiva e investigativa que é atribuída aos enfermeiros, tendo como foco do cuidar o indivíduo, a família e a comunidade em seus diversos contextos sociais e de saúde. Nesse sentido, busca-se prevenir as doenças, promover, proteger, recuperar e reabilitar a saúde de acordo com o ciclo vital nos diversos contextos de cuidado em enfermagem. Neste módulo é abordada a assistência à saúde do idoso nos serviços de saúde, bem como a sistematização da assistência em enfermagem e a avaliação da capacidade funcional. Portanto, cabe salientar que, o sucesso do cuidar reside na parceria criada entre o profissional e o sujeito que carece de atenção à saúde. 40 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 8 ATENÇÃO AO IDOSO NOS SERVIÇOS DE SAÚDE O modelo assistencial predominante no Brasil estava voltado às ações curativas, enfatizando uma medicina tradicional, de alto custo e de exclusão social, caracterizando-se pelo individualismo, pela utilização irracional de recursos tecnológicos disponíveis e pela baixa resolutividade. Tal modelo assistencial gerou um alto grau de insatisfação para todos os cidadãos em relação ao sistema de saúde, na década de 80. (SOUSA, 2000). Na década entre 70 e 80, cresce o número de serviços privados, porém, a maioria dos brasileiros não detém condições financeiras suficientes para ter acesso aos serviços privados. Por sua vez, a atenção à saúde nos serviços públicos não estava sendo suficiente para garantir o direito à saúde dos cidadãos. (MENDES, 1996). Com a promulgação da Constituição Federativa do Brasil, em 1988, formulou-se um novo conceito de saúde que é expresso no artigo 196 como “saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas. Seu acesso é universal e igualitário, as ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação”. (BRASIL, 1998, p. 7). Assim, a saúde torna-se obrigatória, tendo o atendimento público e gratuito a qualquer e todo cidadão brasileiro. Tal obrigatoriedade vem ao encontro das mudanças necessárias diante da situação de desigualdade na assistência à saúde da população. Fato ao exposto, a Reforma Sanitária foi à principal causa do desenvolvimento do processo de institucionalização da saúde como dever do Estado e de direito do cidadão brasileiro. Esse processo culminou num sistema de saúde coletivo, gratuito e de controle social, que recebeu o nome de Sistema Único de Saúde (SUS), a partir das discussões que ocorrerão na VIII Conferência Nacional de Saúde. Tal reforma ocorreu nas últimas décadas, em que a melhoria da atenção ao usuário no setor saúde deu-se por meio de situações marcantes na busca de uma assistência integral e resolutiva. (BRASIL, 2000). 41 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – SUS A partir da promulgação da Constituição Federal, emergiu no início da década de 90, as Leis nº. 8080 e nº. 8142, em que iniciou o processo de implementação do novo Sistema Único de Saúde (SUS), surgindo desta forma, o novo modelo tecno-assistencial em busca da reorganização e da reorientação dos serviços de saúde no país. (SILVA, CARBONIE e PIRES, 1996). Sousa (2000, p. 25) acrescenta que o “processo de construção de SUS, foi regulamentado pela Constituição Federal de 1988, que visa diminuir o hiato, ainda existente, entre os direitos sociais garantidos em lei e a capacidade efetiva de oferta dos serviços públicos de saúde à população brasileira”. Com a consolidação dos princípios doutrinários que regem o SUS: “a universalidade, a eqüidade, a integralidade, a descentralização, a hierarquização e a participação da comunidade.” (BRASIL, 2000, p. 316). Infelizmente, esses princípios ainda não foram alcançados em sua totalidade e plenitude, mas é impossível não discutir que os avanços obtidos nas últimas décadas em relação ao processo de efetivação do Sistema Único de Saúde (SUS), destacam-se a descentralização com a efetivação da municipalização da saúde. Por sua vez, a saúde pública tem como desafio de propor e criar programas de intervenção adaptados às reais necessidades do contexto da população de acordo com o ciclo vital e realidade social. A Lei n° 8.080/90 chamada de Lei Orgânica de Saúde, define as atribuições nas três esferas do governo: municipal, estadual e federal. Essas esferas devem desenvolver suas funções e competências específicas, com a finalidade de promoção da saúde e de ações preventivas para melhoria do nível de saúde populacional e para democratização das informações. (BRASIL, 2001). O Sistema Único de Saúde (SUS) tem o intuito de promover ações em saúde integrando à rede regionalizada e hierarquizada. As diretrizes do SUS buscam a reorganização e reorientação do novo modelo tecno-assistencial. Tais diretrizes são: a descentralização das ações, sendo estas atribuídas aos municípios para a execução; a participação da comunidade por meio do controle social; a 42 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores universalidade do acesso aos serviços de saúde em todos os níveis de assistência; a equidade na distribuição de recursos; e a integralidade das ações da assistência à saúde. (BRASIL, 1998; COSTA e CARBONE, 2004). Entretanto, surge junto do novo sistema de saúde o processo de resgate da cidadania dos cidadãos brasileiros no campo da saúde sendo marcado significativamente pelo Movimento da Reforma Sanitária e pela consolidação das diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Ao longo das últimas décadas, os conceitos de eqüidade, integralidade, universalidade, e intersetorialidade emergiram como princípios norteadores do SUS para o planejamento das ações em saúde. (HILDEBRAND, FLORES e COSTA, 2000). Assim, o novo modelo de serviço de saúde proposto pelo SUS, requer adequação das práticas nos serviços de saúde. Para tal, constitui-se o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) que teve o início em 1991, na região Nordeste e Norte do país. O objetivo desse programa era contribuir para o enfrentamento da morbimortalidade infantil e materna nessas regiões do Brasil. Além disso, esse programa estava imbuído dos princípios orientadores do SUS para a mudança do modelo tecno-assistencial, e assim, proporcionando o vínculo da família com a unidade básica de saúde. (SOUZA, 2000b). Indubitavelmente, o PACS mostrou que era possível ter cobertura pela equipe de saúde nos domicílios, assim como dados que comprovaram a diminuição da morbimortalidade materna e infantil. Posteriormente, em 1994, o Ministério da Saúde implementou o Programa de Saúde da Família (PSF) como eixo estruturador da atenção básica em saúde, que vem reorientando o modelode atenção, tendo como foco a família no seu espaço físico e social. Ainda, Nichiata e Fracolli (2001, p. 29) referem que o novo modelo tecno-assistencial possibilita a produção das informações em saúde. Os quais devem ocorrer “de forma ágil, atualizada, completa e fidedigna, vem se conformando num importante instrumento de controle social do SUS, na medida em que possibilita à população o acompanhamento e a avaliação das atividades dos serviços de saúde”. 43 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores A estratégia da saúde da família vem sendo monitorada e avaliada pelo Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB-SUS) que se constitui num sistema especial para: gerenciamento das informações de saúde obtidas nas visitas domiciliares; na produção de relatórios que auxiliam as equipes, para as unidades básicas de saúde; e aos gestores municipais. Tais relatórios permitem priorizar o atendimento, e conseqüentemente, para a avaliação da qualidade dos serviços oferecidos ao usuário no sistema de saúde. (FRACOLLI e NICLIOTA, 2001). O envio das informações no SIAB-SUS está vinculado ao recebimento de fomentos para a equipe de saúde da família. Portanto, se não ocorrer o envio das informações num período de dois a três meses, poderá implicar na suspensão dos recebimentos referentes ao Piso de Atenção Básica (PAB) fixo e variável. Essa experiência em curso, só é possível a partir da habilitação dos municípios em consonância com a Norma Operacional Básica (NOB) 01/1996, que dispõe sobre a promoção e a consolidação do exercício por parte do poder público municipal. Da função de gestor de atenção à saúde de seus cidadãos, avançando na consolidação do SUS. (BRASIL, 2001). Entretanto, para facilitar a operacionalização nos municípios foram elaboradas as Normas Operacionais Básicas (NOB’s) que são parte do conjunto de leis do SUS, as quais regulamentam o processo de descentralização da gestão dos serviços de saúde em nível federal, estadual e municipal de saúde. (BRASIL, 1998). Na NOB-91, a coordenação do SUS era exercida pelo governo federal, ficando sob responsabilidade dos estados e municípios a gerência dos serviços de saúde. A NOB-93 preconiza o processo de municipalização habilitando aos municípios como gestores do sistema de saúde, sendo criadas três condições: a gestão insipiente, a gestão parcial e a gestão semiplena. Assim, o antigo sistema de atenção à saúde, chamado de Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) é extinto. Já na NOB-96 passa ao município a responsabilidade de Gestão do Sistema Municipal, apresentando duas formas: − Gestão Plena da Atenção Básica (GPAB), os repasses são realizados aos municípios para as ações básicas de saúde, chamado de 44 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Piso de Atenção Básica (PAB). Podendo este ser considerado fixo conforme o número de habitantes e de implantação de alguns programas, como: o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) e o PSF; − Gestão Plena do Sistema Municipal (GPSM), os repasses são realizados aos municípios, sendo este o responsável pela assistência em todos os níveis de atenção a saúde, incluindo a atenção secundária e terciária. (BRASIL, 1998). Desta forma, o SUS segue a mesma doutrina em todo território nacional, formado por uma rede de serviços, regionalizados, hierarquizados e descentralizados, com gestão única em cada esfera do governo e sob controle social do usuário. (COSTA, 2004). Para tal, tem-se a contribuição da Norma Operacional da Assistência à Saúde (NOAS 01/2001; BRASIL, 1997a) que se torna como um importante impulso no processo de implantação do SUS, pois, reorganizou a estratégia da regionalização pactuada de forma tripartite e prevista na Lei Orgânica da Saúde n° 8.080/90. Oferecendo ações aos gestores, como instrumentos para promoverem a reorganização do sistema, buscando garantir a eqüidade no acesso aos serviços da saúde. (BRASIL, 2002). A partir dessas considerações é necessário que se construa como base de sustentação um adequado planejamento de implementação da estratégia ao aperfeiçoamento das práticas assistenciais já existentes na atenção primária. Assim, a NOAS complementa as atribuições da equipe do PSF que elege como ponto central o estabelecimento de vínculos e a criação de laços de compromisso e de co- responsabilidade entre os profissionais de saúde e a população adstrita a unidade de saúde da família. 45 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA – PSF O Programa de Saúde da Família (PSF) surge como estratégia de reorganização e reorientação do modelo tecno-assistencial de saúde. A implantação do PSF teve seu início em 1994, tendo como proposta ações de prevenção de doenças e de promoção da saúde. (BRASIL, 2000). Tal assistência remete ao desenvolvimento de ações à atenção básica em saúde, numa perspectiva de ação integral e preventiva aos membros de uma família ao longo de seu ciclo vital, e que estejam inseridos numa comunidade. (PEREIRA et al., 2005). Diante disso, Farinasso (2005) afirma que o PSF pretende substituir o modelo ordotoxo, hospitalocêntrico e curativista, por um modelo de respeito à integralidade e a universalidade da assistência, atendendo aos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Deste modo, o PSF é uma estratégia que alinha a estrutura física e conceitual dos serviços de saúde para reverter à forma de prestação da assistência à saúde. Contribui na reorganização da atenção básica como eixo de reorientação do modelo assistencial, respondendo a uma nova concepção de saúde não mais centrada na doença, e sim na promoção da saúde e da qualidade de vida da população. (BRASIL, 2000). Bromberger (2003) complementa que o PSF é uma estratégia de aprimoramento e consolidação do Sistema Único de Saúde (SUS) que possibilita a reorientação das ações ao nível ambulatorial e domiciliar, focalizando o indivíduo, a família e a comunidade. Ainda salienta que as ações do PSF são realizadas através da educação em saúde, destacando: a promoção da saúde, a participação da comunidade, o trabalho interdisciplinar e intersetorial entre equipe de saúde família e comunidade. Acredita-se que esta estratégia de saúde da família é a ferramenta mais potente já criada para intervenção em assistência, prevenção de doenças e promoção da saúde no Brasil. Tal programa tem como um recurso estratégico principal a superação do modelo assistencial, buscando facilitar o acesso aos serviços de saúde e fornecer um atendimento personalizado, de forma mais 46 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores acolhedora, mantendo vínculos diretos com a clientela e estabelecendo responsabilidades com relação à manutenção da saúde da comunidade. Neste sentido, o PSF ocupa um espaço de elaboração e construção de novas práticas de saúde, atuando como uma nova forma de pensar e fazer saúde. Tal estratégia é uma proposta que traz em sua base metodológica o processo de humanização do atendimento dos usuários nos serviços de saúde. Esse é um dos grandes desafios do PSF, transparecer que sua atuação não é simplificada, mas sim ampliada no território da atenção básica, integrando as práticas preventivas e educativas, mais perto da realidade da população que pertence. (SOUSA, 2000). Assim, faz renascer uma nova dinâmica para a estruturação dos serviçosde saúde, bem como sua interação com a comunidade nos diferentes níveis de atenção. Tal estruturação assume o compromisso de prestação do serviço em âmbito universal, integral, equânime, contínua e acima de tudo resolutiva à população assistida. (SOUSA, 2000). A unidade de saúde da família (USF) segue as diretrizes operacionais que regem o PSF. Trata-se de uma unidade pública de saúde que assume a responsabilidade por uma determinada população com território delimitado. Cada unidade é responsável pelo cadastramento e acompanhamento da clientela adstrita a uma área geográfica, atuando com uma ou mais equipes de profissionais, dependendo do número de famílias cadastradas. O Ministério da Saúde preconiza que a USF localize-se o mais próximo possível da residência do usuário, facilitando o acesso da equipe de saúde, a qual deverá manter contato direto e constante com a população. (BRASIL, 2001). Essa estratégia visa uma unidade de saúde da família que deve ser a porta de entrada do sistema local de saúde, mas para a transformação do modelo tradicional é necessário que os vários níveis de atenção se integrem e trabalhem pelo mesmo objetivo. A qualidade de vida de nossa comunidade, prevenindo doenças e promovendo a saúde. De acordo com Chiesa, Fracolli e Souza (2001) cada equipe de saúde da família é constituída de vários profissionais, sendo estes agregados com a finalidade da multidisciplinaridade. Essa prática é considerada como social, construtiva, 47 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores participativa e que proporciona novas experiências. Cada equipe de saúde deve ser composta de no mínimo: um médico generalista, um enfermeiro, um técnico de enfermagem e quatro agentes comunitários de saúde. Outros profissionais, como dentistas, assistentes sociais, psicólogos, entre outros, podem ser incorporados às equipes ou formar equipes de apoio. O número de ACS varia de acordo com o número de pessoas sob responsabilidade da equipe de saúde, numa proporção média de 575 pessoas para um ACS. Os agentes devem ser moradores da própria área de abrangência da USF, o qual recebe capacitação para a visita domiciliar, pois é seu principal instrumento de trabalho. É obrigatório aos agentes comunitários a visita domiciliar pelo menos uma vez por mês a cada domicílio localizado em sua área de atuação. No entanto, a competência de cada profissional de saúde é que conferirá ao planejamento e a coordenação das ações, por meio de informações trazidas pelos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) que atuam como sentinelas na comunidade. (BRASIL, 2001). Cada equipe de saúde é responsável por no máximo, 1.000 famílias, ou seja, 4.500 pessoas adstritas à unidade de saúde da família. Desta maneira, os trabalhadores que fazem parte da equipe de saúde devem rever as suas práticas assistenciais, tendo como finalidade o agir em saúde preconizada pelo programa. Ainda, os profissionais devem atender as necessidades de saúde do usuário e da família, de modo a atender de forma integral e resolutiva, possibilitando a formação de vínculo entre os profissionais e a comunidade. A unidade de saúde da família está vinculada à rede de serviços da atenção básica do setor saúde, de forma que seja garantida atenção integral aos usuários, assegurando os encaminhamentos para os serviços de referência e contra-referência aos níveis de média e alta complexidade. (COSTA, 2004). Corrobora-se com Souza (2000a) que os profissionais da equipe de saúde devem ter uma visão ampliada e generalista em saúde. Acrescenta-se que os profissionais devem desenvolver ações resolutivas com embasamento na clínica básica, e de serem capazes de resolver pelo menos 80,0% dos problemas de saúde 48 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores da população. Portanto, a equipe de saúde do PSF deve ser capacitada, com a finalidade de desenvolver suas atribuições e responsabilidades no programa, tais como: − Conhecer a realidade das famílias; − Identificar os problemas de saúde; − Executar os procedimentos de vigilância à saúde e epidemiológica; − Garantir a continuidade do tratamento; − Prestar assistência integral; − Promover ações intersetoriais; − Discutir com a comunidade os conceitos de cidadania e seus direitos; − Incentivar a formação e/ou participação ativa dos Conselhos Locais de Saúde e no Conselho Municipal de Saúde. (BRASIL, 2000). Deste modo, o PSF está inserido num contexto de decisão política e institucional de fortalecimento da Atenção Básica, no âmbito do SUS e vem demonstrando a potencialidade e os resultados favoráveis nos indicadores de saúde da população assistida. A velocidade de expansão do PSF comprova a adesão dos gestores estaduais, e particularmente, os municipais. No entanto, é fundamental que se criem elementos que resultem efetivamente em oportunidades para o fortalecimento e sustentabilidade da estratégia de saúde da família no âmbito da consolidação do SUS. (SOUZA, 2002). Para Melo e Figueiredo (2005, p. 130) a atenção primária no PSF “é um conjunto de ações objetivando a prevenção de agravos, atuando sobre o período que antecede os mesmos. Visa à promoção da saúde e a melhoria da qualidade de vida através do atendimento às necessidades básicas dos indivíduos.” As ações de prevenção primária que são realizadas pela equipe do PSF são monitoradas e avaliadas no Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB-SUS), sendo obrigatório o envio dessas informações. As informações contemplam dados cadastrais das equipes de saúde da família, dados das famílias adstritas ao PSF e dos atendimentos realizados pela equipe de saúde. (BRASIL, 1997a) 49 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Observa-se que o PSF dirige suas ações ao nível de atenção básica, através da integração de práticas preventivas educativas e curativas, a fim de diminuir o fluxo nos serviços de médio e de alta complexidade. Por sua vez, a atenção básica constitui no “primeiro nível de atenção à saúde adotada pelo SUS. Desenvolve-se por meio de práticas gerenciais e sanitárias democráticas e participativas, dirigidas à população de territórios delimitados. É o contato preferencial dos usuários com o sistema de saúde”. (BRASIL, 2004, p. 30). No entanto, constata-se que os PSF’s vêm sendo implantados em todas as regiões do Brasil, como afirmam Chiesa, Fracolli e Souza (2001, p. 54) “em abril de 2001 existiam 13.337 equipes de saúde da família, implantadas em 3.389 municípios brasileiros, o que representava 46 milhões de famílias cobertas”. Neste contexto, pode afirmar que os dados apresentados acima denotam o impacto da estratégia no território nacional. Atualmente, entende-se que o aumento do número das equipes de PSF é um fenômeno irreversível no país, pois, a atenção à saúde da família teve grande aceitação nacional. Essa inovação ocorre através da equipe que desenvolve suas ações de promoção da saúde e de prevenção de doenças numa área determinada geograficamente. Tal equipe atende famílias nos diferentes contextos socioeconômicos, culturais e demográficos. Portanto, o PSF evoluiu de um programa isolado para uma sistematização do cuidado à saúde no SUS, em busca de reorganização do modelo tecno-assistencial. Apesar de apresentar alguns problemas em sua execução, o PSF propõe o trabalho em saúde em forma de equipe multi ou interdisciplinar para desenvolver ações diferenciadas e resolutivas. Ainda, são capazes de atender às distintas necessidades de vários grupos populacionais, tendo em vista a redução dasdesigualdades de acesso aos serviços de saúde. Assim, o modelo tecno-assistencial atual constitui num desafio ao enfermeiro como participante na equipe de saúde. Esse profissional é responsável pela operacionalização das práticas assistenciais e gerenciais na unidade básica da família, sendo assim de extrema importância a atuação na transformação das práticas de saúde. Para Santos et al. (2000a) a enfermagem é entendida como uma 50 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores prática social, carregada de valores e contradições, mas comprometida com a emancipação humana para a vida saudável. Desta forma, a enfermagem torna-se necessária no âmbito do PSF executando seu trabalho centrado nas necessidades de saúde do usuário e da família. A visita domiciliar é preconizado entre as ações do PSF, mas que historicamente, já era praticado muito tempo antes mesmo do marco histórico- cristão. A prática desenvolvia-se por meio da caridade e da solidariedade como diretrizes essenciais para a sobrevivência naquela época. No Brasil, a assistência à saúde domiciliar foi abolida com a incorporação do modelo biomédico e hospitalocêntrico nos serviços de saúde. (CALÇADO, 2001). No entanto, com o passar do tempo, alguns fatores contribuíram sensivelmente para o surgimento e a implantação dos PSF’s, tais como: o aumento populacional, os avanços tecnológicos, a escassez de recursos na área da saúde e, conseqüentemente, o aumento na demanda dos serviços. Esse atendimento domiciliário passou a ser desenvolvido pelas equipes de saúde no PSF, sendo comumente chamado de visita domiciliar. (MARTINI, 2000). Fato ao exposto, o PSF resgata o modelo de visita domiciliar, a partir da assistência no domicílio, por meio de visitas regulares e esporádicas, conforme a gravidade da situação de saúde do idoso assistido ou outro membro familiar. Portanto, tal ação não pode ter por finalidade a redução de custos e a transferência de responsabilidades, mas a colocação na prática dos princípios e diretrizes do SUS. No contexto da equipe de saúde, destacam-se as ações dos profissionais de saúde, voltadas para a assistência integral e contínua de todos os membros da família. Vinculados às unidades de saúde da família, em cada uma das etapas do ciclo vital, sem perder de vista o seu contexto familiar e social. (SILVESTRE e COSTA NETO, 2003). A família num sentido mais amplo abrange membros de diferentes gerações, entre estes se encontra a pessoa idosa que, muitas vezes, pode estar se encaminhando ou apresentando uma situação de dependência ou incapacidade funcional. Dentre os membros da família, a pessoa idosa com comprometimento 51 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores funcional demanda por programas de orientação, informação e apoio de profissionais capacitados em saúde do idoso. O idoso depende, geralmente, do suporte familiar e informal para dar continuidade à manutenção da saúde. Desta forma, o cuidado ao idoso baseia-se na família, com o apoio das equipes de saúde da família, que constituem o vínculo com o sistema de saúde. (SILVESTRE e COSTA NETO, 2003). Para Ângelo e Bousso (2001, p. 14) “a família é considerada como um sistema ou uma unidade cujos membros podem ou não estar relacionados ou viver juntos, podem conter ou não crianças, sendo elas de um único pai ou não. Nela existe um compromisso e um vínculo”. Partindo disso, torna-se necessário à compreensão de áreas temáticas relacionadas à saúde da família e idoso, pois, apresenta diversos contextos relacionados ao biológico, psicológico e espiritual que depende do local e da cultura em que cada família vive e que vai envelhecer. Agrega-se ao primeiro nível de atenção a Política Nacional do Idoso que teve por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua autonomia, sua integração e sua participação efetiva na sociedade. A essa política acrescenta-se o Estatuto do Idoso que foi um grande ganho para essa população, pois, reforça esses objetivos. (BRASIL, 1997b; BRASIL, 2004). Tal estatuto estabelece como dever da família, da sociedade e do poder público, a preservação de todos os direitos dos idosos, para que tenham uma vida digna, produtiva e feliz. Em relação à saúde do idoso o artigo 15 assegura a “atenção integral à saúde do idoso por intermédio do SUS, garantindo acesso universal e igualitário, dando atenção especial às doenças que afetam preferencialmente os idosos”. (BRASIL, 2003). Para o alcance das ações entre as áreas intersetoriais que abrange as pessoas nessa etapa do ciclo vital, considerada Terceira Idade, exige a discussão e a integração de cada esfera do governo de acordo com as competências, agregando a participação de instituições de ensino superior e da sociedade. Por sua vez, os atores sociais que constituem esse espaço de atenção à saúde vêm compreendendo seus direitos diante da Política Nacional do Idoso e Estatuto do 52 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Idoso. (COSTA, MENDONÇA e ABIGALIL, 2002). Sabendo que o SUS tem suas ações descentralizadas, cabe aos municípios a responsabilidade da atenção ao idoso no que se refere à promoção da saúde e a prevenção de doenças na terceira idade. (BRASIL, 2004). Diante desse contexto, observam-se escassas ações de saúde direcionadas aos idosos que dificultam o envelhecimento saudável e, assim, soma-se para elevar os mitos, os medos e os preconceitos que rodeiam essa faixa etária. Entretanto, sente-se a necessidade de capacitar os enfermeiros atuantes nas equipes de saúde, incentivando-os a utilização do processo de enfermagem como ferramenta de trabalho, na realização de atendimentos na rede pública. O processo de enfermagem é um excelente instrumento que proporciona diversas habilidades necessárias para o exercício profissional de maneira segura e eficiente. Neste sentido, aponta-se a necessidade de salientar que o processo de enfermagem é uma atividade de grande importância e resolutividade na prática assistencial, realizada pelos enfermeiros. Fato este, evidenciado, em sua aplicação, onde proporciona os fundamentos para as habilidades de pensamento crítico necessárias ao exercício de uma maneira sistematizada, personalizada e resolutiva. Neste contexto, percebe-se a importância dos profissionais enfermeiros na realização desta prática assistencial, pois estes têm o potencial de analisar e compreender a realidade existente. Objetivando como resultados a criação de estratégias de mudanças do contexto em que a população está inserida e assim promovendo à saúde e, sem dúvida, a melhoria da qualidade de vida. Diante deste contexto, o planejamento em questão, visa um sistema de saúde estruturado de acordo com as diretrizes do próprio PSF, relacionadas ao SUS com propostas de ações dirigidas para assistência à saúde do idoso com continuidade e garantia deste processo. Essas atribuições exigem que os enfermeiros disponham de um “repertório” que lhe permitam assumir múltiplos papéis de educador, prestador de cuidados, consultor, uma vez, que está sujeito às constantes solicitações e transformações de sua prática, inserido nas constantes mudanças que ocorrem no seu espaço de trabalho e sociedade. (SANTOS et al., 53 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 2000b). Ressalta que os enfermeiros são essenciais nesse processo que busca a construção de um modelo de atenção à saúde capazde oferecer aos cidadãos o direito de ter saúde. Portanto, é indispensável, hoje, que as instituições da rede pública e privada discutam sobre as demandas de atenção à saúde do idoso, de capacitação dos profissionais nas diversas áreas que assistem à pessoa idosa, esclarecimentos à família e à comunidade, de modo a definir modificações no modelo de atenção e estrutura de apoio social. Acrescenta Costa, Mendonça e Abigalil (2002, p. 1081) que o maior desafio do milênio é “construir uma consciência coletiva para que tenhamos uma sociedade para todas as idades, com justiça social e garantia plena dos direitos”. Por sua vez, as políticas públicas têm contribuído para a atenção à saúde do idoso, principalmente no que se refere ao PSF, que tem como objeto do cuidado a família, através de cujos membros, o idoso está tendo a oportunidade de acesso aos serviços de saúde, bem como o suporte profissional no domicílio, por meio de visitas domiciliares. Portanto, as orientações educativas podem ocorrer na atenção básica, através de medidas de prevenção e promoção de saúde no contexto domiciliar. Acredita-se que a partir do PSF deve-se estabelecer o sistema de referência e contra-referência para que o idoso possa receber um atendimento integral com a finalidade de propor recuperação e restabelecimento do seu processo de saúde- doença. Entretanto, é indispensável que os órgãos públicos e privados da área da saúde, tais como: as Coordenadorias Regionais de Saúde, as Universidades, as Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde, promovam capacitações e discussões periódicas com as equipes de saúde da família, abordando temas referentes à visita domiciliar e saúde do idoso. O objetivo e os resultados vêm contemplar a melhoria e qualificação do atendimento prestado pelas equipes de saúde na atenção básica. Faz-se necessário avaliar durante a contratação, o perfil e competência dos profissionais que atuam na área de saúde pública. No contexto atual, evidencia-se o 54 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores não engajamento de alguns profissionais, por apresentarem um perfil profissional voltado ao serviço privativo e hospitalocêntrico. Resultando, assim, na inexistência de resolutividade nas ações, bem como a não criação de vínculos com os demais membros da equipe, desta maneira atuam individualmente, descaracterizando o preceito do trabalho em equipe multi ou interdisciplinar em relação aos demais membros integrantes dessa equipe. Silvestre e Costa Neto (2003, p. 841) salientam que a adoção do novo modelo em saúde “é um desafio para o sistema, pois implica em conseguir traduzir os avanços no campo legal em mudanças efetivas e resolutivas da prática da atenção à saúde da população”. Assim, torna-se extremamente necessário promover melhores condições de trabalho para as equipes de saúde, resultando em profissionais satisfeitos e aumentando os índices de nível de saúde satisfatórios dos municípios brasileiros. Portanto, o PSF vem ao encontro das reais necessidades do atual contexto epidemiológico e demográfico, pois incita a reorganização dos serviços de saúde, para atender a demanda crescente de pessoas idosas, sendo consideradas como membro de um núcleo familiar. 9 SISTEMATIZAÇÃO DA ASSISTÊNCIA EM ENFERMAGEM O processo de enfermagem é um método para implementar os modelos teóricos que fornecem subsídios à sistematização da assistência em enfermagem. No Brasil, surgiu após a publicação do livro “Processo de Enfermagem” de Wanda Horta, em 1979, no sentido de explicar como ocorre a sistematização da assistência de enfermagem. Por sua vez, o Conselho Federal de Enfermagem institui a Resolução 272/2002 que dispõe sobre sistematização da assistência em enfermagem considerando como uma atividade privativa do enfermeiro. Tal atividade utiliza o método e a estratégia de trabalho científico no processo saúde-doença, o que subsidia as ações de assistência de enfermagem relacionadas à prevenção de doenças, a promoção, a recuperação e a reabilitação da saúde do indivíduo, da família e da comunidade. Ainda, complementa a necessidade da implantação de 55 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores sistematização da assistência em enfermagem nos serviços de saúde como prática do processo de trabalho em consonância com as necessidades da comunidade. Este deve ser aplicado como um modelo assistencial em todas as áreas de atenção à saúde, e por entender que qualifica a assistência de enfermagem. (CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM, 2002). O processo de enfermagem é definido por Alfaro-Lefevre apud Possari (2005, p. 67) como “... um método sistemático de prestação de cuidados humanizados, que enfoca a obtenção de resultados desejados de uma maneira rentável. É humanizado por basear-se na crença de que, à medida que planejamos e proporcionamos cuidados, devemos considerar exclusivamente os interesses, os ideais e os desejos do consumidor do atendimento de saúde (a pessoa, a família e a comunidade).” Ainda, possibilita ao enfermeiro desenvolver o plano de cuidados ao idoso considerando as necessidades e as características como únicas, o que oportunizará um cuidado integral, humanizado, holístico e resolutivo. (ROACH, 2003). Acrescenta-se que para a realização e o sucesso da sistematização da assistência em enfermagem, o enfermeiro precisa ser: crítico; reflexivo; investigativo; ter raciocínio lógico, epidemiológico e clínico; ter habilidades técnicas para execução do exame físico; e desenvolver as inter-relações entre as etapas do processo de enfermagem, e em consonância com o processo saúde-doença do cliente. Salienta-se que algumas instituições de saúde estão ou já informatizaram a sistematização da assistência em enfermagem no cenário de cuidado, sendo exigidos dos enfermeiros os conhecimentos no uso dessa tecnologia, no sentindo de oferecer informações mais precisas, seguras ao cliente e em tempo real em diversos espaços de cuidado. O cartão de saúde é o recurso tecnológico a ser implantado em nossa sociedade, em que o histórico de saúde do cliente possa estar junto dele, o qual pode ser acessado em qualquer espaço de cuidado, e até mesmo após um longo período. 56 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Assim, o processo de enfermagem quando aplicado nos serviços de saúde tem como meta: − A promoção, a manutenção, a recuperação e a reabilitação de saúde; − A prevenção de doenças e de iatrogenias; − O aumento da sensação de bem-estar e de qualidade de vida; − A capacidade de manter seu papel pessoal, familiar e profissional; − A realização de cuidados de enfermagem eficientes e de baixo custo; − A satisfação do consumidor em relação à prestação de cuidados em saúde. (ALFARO-LEFEVRE, 2005). Alfaro-Lefevre (2005) refere que o processo é um método para a organização e prestação de assistência ao cliente, composto por cinco etapas: histórico de enfermagem (anamnese e exame físico), diagnóstico de enfermagem, planejamento (plano de cuidados), implementação e evolução (avaliação de enfermagem). Ressalta-se que o processo de enfermagem é aplicado em todas as fases do ciclo evolutivo do homem, tendo algumas especificidades para cada ciclo. Os fatores que influenciam a realização do processo de enfermagem: a individualidade, a idade, o sexo, a cultura, a escolaridade, o socioeconômico, o processo saúde-doença, e o ambiente físico. (HORTA, 1979). A figura 9 explicita a inter-relação e dinamismo entre as etapas do processo de enfermagem.FIGURA 9 – As etapas do processo de enfermagem. HISTÓRICO DE ENFERMAGEM – INVESTIGAÇÃO O histórico de enfermagem ou investigação clínica é a primeira etapa constituída de anamnese e exame físico de enfermagem. Considera-se a coleta de informações do cliente no sentido de avaliar as evidências e os fatores de risco que possam agregar-se ao problema de saúde atual do cliente. A descrição da anamnese e do exame físico estão relacionados à saúde do idoso, mas que poderá ser aplicada em outra fase do ciclo evolutivo do homem. Timby (2001, p. 36) acrescenta que o histórico de enfermagem constitui-se na “etapa inicial do processo de enfermagem é a coleta sistemática de informações, ou dados, com o objetivo de identificar problemas reais ou potenciais de saúde”. Esta etapa inicia-se com o primeiro contato do enfermeiro com o cliente, devendo ser o contato contínuo durante a hospitalização, ou no acompanhamento domiciliar, ou em consultório de enfermagem. O histórico de enfermagem tem o embasamento científico da teoria de motivação humana de Maslow, que posteriormente, foi enriquecida por João Mohana, e publicada e divulgada por Wanda Horta, em 1979. (GEORGE et al., 2000). A figura 10 apresenta a Teoria de Maslow de acordo com as necessidades, sendo considerado como um sistema dinâmico, o que faz o indivíduo estar buscando 57 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores satisfazer as suas necessidades fisiológicas, de segurança, sociais, auto-estima e auto-realização. FIGURA 10 – A teoria de motivação humana de Maslow (WIKIPÉDIA, 2007). No entanto, diversas instituições em nosso país, utilizam a teoria das necessidades humanas básicas (NHB), que foi aprimorada à luz de Maslow para estruturar a primeira etapa do processo de enfermagem. A teoria NHB descreve as necessidades que garante ao indivíduo o equilíbrio saúde-doença, sendo considerada a saúde física e mental. (GEORGE et al., 2000). As NHB são classificadas como psicobiológicas, psicossociais e psicoespirituais. Entre as necessidades psicobiológicas, destacam-se: a oxigenação; a hidratação; a nutrição; a eliminação; o sono e repouso; o exercício e as atividades físicas; a sexualidade; o abrigo; a mecânica corporal; a motilidade; o cuidado corporal; a integridade cutâneo-mucosa; a integridade física; a regulação térmica; a regulação hormonal; a regulação neurológica; a regulação hidrossalina; a regulação eletrolítica; a regulação imunológica; o crescimento celular; a regulação vascular; a locomoção; a percepção olfativa; a percepção visual; a percepção auditiva; a percepção tátil; a percepção gustativa; a percepção dolorosa; o ambiente; e a terapêutica”. (HORTA, 1979). 58 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 59 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores As necessidades psicossociais são descritas a partir do entendimento de que o homem é essencialmente gregário, e que surge de uma série de atitudes com o fim de satisfazer suas necessidades como ser social, são elas: a segurança, o amor, a liberdade, a comunicação, a criatividade, a aprendizagem – educação à saúde, a gregária, a recreação, o lazer, o espaço, a orientação no tempo e espaço, a aceitação, a auto-realização, a auto-estima, a participação, a auto-imagem e a atenção. (HORTA, 1979). Já as necessidades psicoespirituais estão relacionadas à religiosidade, a fé ou a filosofia de vida, podendo o indivíduo ser também, um incréu. A anamnese de enfermagem é entendida como um “... roteiro sistematizado para o levantamento de dados que sejam significativos para o enfermeiro, do paciente, família ou comunidade, a fim de tornar possível a identificação dos seus problemas de modo a, em os analisando adequadamente, chegar ao diagnóstico de enfermagem”. (HORTA apud POSSARI, 2005, p. 92). Para Daniel apud Possari (2005, p. 92) a anamnese “... consiste no levantamento sistemático de informações do paciente, família e comunidade e observações adquiridas através do exame físico do paciente”. E o Conselho Federal de Enfermagem complementa que é “... conhecer hábitos individuais e biopsicossociais visando à adaptação do paciente à unidade de tratamento, assim como a identificação de problemas”. (POSSARI, 2005, p. 92). Portanto, a anamnese de enfermagem é a entrevista que o enfermeiro realiza no momento da admissão do cliente na unidade hospitalar, numa visita domiciliar ou consulta de enfermagem com a pessoa idosa e/ou acompanhante. Para o sucesso de uma boa anamnese deve-se procurar um local tranqüilo, sem interrupções de terceiros e que assegure a privacidade do idoso. Salienta-se que o indivíduo em processo de envelhecimento pode apresentar perdas auditivas e visuais que podem comprometer essa etapa do processo de enfermagem. Portanto, averigúe se existe esse declínio sensorial e se o idoso traz com ele próteses que facilitarão a comunicação. (BARROS et al., 2003). 60 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Lembre-se de falar pausadamente e em bom tom; evite gritar alto; e chame o indivíduo idoso pelo nome. A entrevista deve ser realizada num local que oportunize a privacidade do cliente, seja numa sala de avaliação clínica, ou a beira do leito de uma enfermaria, desde que utilize um biombo para tentar minimizar as interrupções de outro cliente que está na mesma enfermaria ou quarto. (ANDRIS et al., 2006; BARROS et al., 2003). A anamnese de enfermagem é a coleta de informações por meio do discurso do idoso e/ou acompanhante com o enfermeiro. As perguntas surgem a partir das seguintes informações que necessitam ser questionadas, no que se refere: a identificação da pessoa, de como gostaria de ser chamada, de avaliar documentos e exames, de utilizar um roteiro sistematizado para obter informações sobre: a queixa principal; o motivo da internação, a história da doença atual; a história da doença pregressa da clínica, da cirúrgica e da psiquiátrica; a história de saúde familiar; o consumo de medicamentos, tabaco, álcool e drogas; a imunização; e o relato dos sistemas e aparelhos agregando o comportamento social, tais como: o sono e repouso, a alimentação, a hidratação, as eliminações, entre outros. (BARROS et al., 2004). Salienta-se que para avaliar os sistemas e aparelhos pode ser utilizada a Teoria das Necessidades Humanas Básicas (NHB) de Horta (1979) para melhor organização do roteiro sistematizado. Conforme, o idoso faz o relato de seu processo saúde-doença, o enfermeiro já tem condições de avaliar o estado mental. Salienta-se que mesmo o idoso acompanhado por um familiar, o foco da entrevista continua sendo o idoso. E a presença de um acompanhante somente deve ocorrer se o idoso desejar a permanência dele durante a entrevista. Por sua vez, a família contribui com informações que possam ser irrelevantes para o idoso, então se faz necessário também escutar. Ressalta-se que o indivíduo idoso sempre traz diversas queixas, mas acaba enfatizando as que mais perturbam seu cotidiano e seu estado de saúde. Lembre-se que cabe a cada pessoa relatar ou omitir sinais e sintomas. Ainda, poderá apresentar sinais atípicos para as comorbidades instaladas em seu 61 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores organismo. Dentre as queixas, as mais expressivas são: a fadiga, o cansaço, a dispnéia, os distúrbios do sono,a perda de peso, as quedas e a constipação. O exame físico utiliza-se de técnicas propedêuticas que consideramos as habilidades do enfermeiro, tais como: a inspeção, a palpação, a ausculta e a percussão. O exame físico é um momento de comprovar evidências que foram relatadas pelo discurso do cliente na entrevista. Cabe salientar que as peculiaridades dessa faixa etária requerem especial atenção sobre o ato de despir das vestes, assim como o acesso facilitado ao leito minimizando possíveis quedas por desequilíbrio. Os sistemas e aparelhos a serem avaliados pelo exame físico são: o neurológico; a pele e anexos; os olhos; o nariz; a mucosa oral; os pavilhões auditivos; a rede linfática; o pescoço; o tórax posterior e anterior; o sistema respiratório; o sistema cardiovascular; o abdome; o sistema gastrintestinal; o sistema geniturinário; as extremidades; e o sistema ósteo-articular. Portanto, essa primeira etapa busca realizar uma investigação para determinar qualquer alteração, ou seja, o problema de enfermagem (necessidade humana básica afetada ou evidência clínica) na situação de saúde do idoso e assegurar que os dados sejam confiáveis e completos. Entende-se por necessidade que “são estados de tensões, conscientes ou inconscientes, resultantes dos desequilíbrios homeodinâmicos dos fenômenos vitais”. (HORTA, 1979, p. 39). Já os problemas de enfermagem como “situações ou condições decorrentes de desequilíbrio das necessidades básicas do indivíduo, família e comunidade, e que exigem do(a) enfermeiro(a) sua assistência profissional”. (HORTA, 1979, p. 39). Cabe ressaltar que nesse processo interativo é necessário a flexibilidade, a criatividade e o bom senso como qualidade do enfermeiro para que possa ter uma melhor abordagem da pessoa e de seu fazer em enfermagem. 62 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM Nessa etapa é necessário que o histórico de enfermagem (investigação) tenha sido realizado, sendo coletadas as informações por anamnese e exame físico, para que possam ser analisados e interpretados os problemas de enfermagem (NHB ou evidências clínicas), e assim, gerando os diagnósticos de enfermagem. Define-se diagnóstico de enfermagem como um “... julgamento clínico sobre as respostas do indivíduo, da família ou da comunidade a problemas de saúde/processos vitais reais ou potenciais. O diagnóstico de enfermagem proporciona a base para a seleção de intervenções de enfermagem para atingir os resultados pelos quais a enfermeira é responsável”. (NORTH AMERICAN NURSING DIAGNOSIS ASSOCIATION, 2008, p. 296). O diagnóstico de enfermagem envolve a identificação de futuras intervenções no processo saúde-doença do indivíduo, da família e da comunidade. Trata-se de uma etapa que resulta da análise dos dados coletados e da interpretação destes no sentido de verificarem achados normais ou anormais. O diagnóstico de enfermagem é entendido como “um problema de saúde que pode ser evitado, reduzindo ou solucionando através de medidas independentes de enfermagem.” (TIMBY, 2001, p. 37). No entanto, o diagnóstico de enfermagem vem sendo estruturado desde 1953. Hoje, a North American Nursing Diagnosis Association (NANDA) promove a discussão em torno dos diagnósticos, juntamente com o Conselho Internacional de Enfermagem (CIE). No Brasil, os diagnósticos NANDA vem sendo utilizados em diversos espaços de atuação do enfermeiro, agregando ainda a Classificação Internacional para as Práticas de Enfermagem (CIPE) e Classificação das Práticas de Enfermagem em Saúde Coletiva (CIPESC). No entanto, têm-se discussões sobre os diagnósticos de enfermagem no Brasil, através dos Simpósios Nacionais de Diagnóstico de Enfermagem (SINADEN) que ocorre a cada dois anos, desde 1991. Os componentes de um diagnóstico de enfermagem são constituídos por título (com definição), os fatores relacionados ou de risco e as características definidoras (evidências). Atualmente, tem-se 187 diagnósticos de enfermagem listados por NANDA. (NORTH AMERICAN NURSING DIAGNOSIS ASSOCIATION, 2008). A figura 11, 12 e 13 descreve as fases de elaboração de um diagnóstico de enfermagem, tendo como elemento essencial para sua identificação as manifestações clínicas (sinais e sintomas ou evidências) que são entendidos como problemas de enfermagem. FIGURA 11 – Os componentes de um diagnóstico de enfermagem. O diagnóstico de enfermagem real descreve as informações relacionadas ao processo saúde-doença, sendo subsidiado pelas características definidoras que são as manifestações clínicas (sinais e sintomas ou evidências clínicas) que permite elencar inferências para designar as intervenções de enfermagem. Na figura 12 é exemplificado um diagnóstico de enfermagem real (manifestação clínica presente no processo saúde-doença do cliente). FIGURA 12 – Diagnóstico de enfermagem real. 63 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Entretanto, ainda, pode ser elaborado um diagnóstico de risco quando se considerada um provável problema de saúde, devido à vulnerabilidade do indivíduo, da família ou da comunidade. Desta forma, torna-se possível instituir as medidas de prevenção por meio de cuidados de enfermagem. A figura 13 expressa o exemplo de diagnóstico de enfermagem de risco, em que é excluída a evidência clínica por entender que o cliente não tem sinais e sintomas, mas está em processo de vir a desenvolver o sinal ou sintoma, caso não seja tomada providências de prevenção. FIGURA 13 – Diagnóstico de enfermagem de risco. Considera-se nessa fase a determinação de diagnósticos por meio de problemas de enfermagem (evidências clínicas) que são elencados pelo profissional enfermeiro, os quais necessitam de ações de enfermagem, no sentido de tratar e controlar os problemas de enfermagem para que a pessoa idosa possa manter ou restabelecer sua saúde. PLANEJAMENTO – PLANO DE CUIDADOS DE ENFERMAGEM A etapa de planejamento refere-se ao estabelecimento das prioridades e objetivos de atenção frente às duas primeiras etapas do processo de enfermagem. Cabe ao enfermeiro assegurar o registro dos cuidados realizados ao cliente idoso. Acrescenta-se que o plano deve promover a comunicação entre os cuidadores, direcionar o cuidado e a documentação, de ser utilizado para avaliar, pesquisar e para questões legais, e registrar a necessidade de cuidados para reembolso dos convênios. (ALFARO-LEFEVRE, 2005). 64 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores 65 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Horta (1979, p. 65) complementa que o plano de cuidados “é a determinação global da assistência de enfermagem que o ser humano deve receber diante do diagnóstico estabelecido”. O plano de cuidados é a resultante da análise do diagnóstico de enfermagem, examinando-se os problemas de enfermagem, as necessidades humanas básicas afetadas e o grau de dependência do indivíduo, da família e da comunidade. Timby (2001, p. 40) acrescenta que no planejamento “a enfermeira prioriza os problemas identificados, identifica resultados ou metas mensuráveis, seleciona intervenções adequadas e documenta no plano de cuidados”. Entretanto, existem diversas classificações de intervenções de enfermagem, destaca-se: a Classificação das Intervenções em Enfermagem (NIC), sendo esta elaborada pela North American Nursing Diagnosis Association (NANDA) que está em consonância com a taxonomiade diagnósticos de enfermagem. Portanto, o enfermeiro estabelece as intervenções de enfermagem que serão prescritas sob a forma de ações/cuidados de enfermagem, como estratégias de reunir as condições que venham satisfazer as necessidades do indivíduo, da família e da comunidade. Conclui-se que nesta fase, após a coleta de informações e da elaboração dos diagnósticos de enfermagem é que serão identificadas as intervenções de enfermagem que quando aplicadas buscarão resultados apropriados para a prevenção de complicações. A manutenção, a recuperação e/ou a reabilitação da saúde do cliente, da família e da comunidade. IMPLEMENTAÇÃO A etapa de implementação é de colocar o plano em ação e prática que permite: emitir e receber informações, estabelecer as prioridades diárias, investigar, executar as ações de enfermagem, e alterar as ações/cuidados de enfermagem em consonância com o processo saúde-doença do sujeito. (ALFARO-LEFREVE, 2005). Horta (1979, p. 66) acrescenta que a implementação se dá por meio de um “roteiro diário ou aprazado que coordena a ação da equipe de enfermagem nos cuidados adequados ao atendimento das necessidades básicas e específicas do ser humano”. 66 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Enfim, a implementação estará relacionada à execução dos cuidados que foram pensados criticamente pelo enfermeiro e colocados no plano de cuidados por meio de intervenções que na prescrição de enfermagem são consideradas como ações/cuidados de enfermagem. Assim, cada cliente recebe os cuidados individualizados e de acordo com as necessidades humanas básicas afetadas para auxiliar na prevenção de complicações, na manutenção ou no restabelecimento de sua saúde. AVALIAÇÃO A última etapa do processo de enfermagem é a avaliação que consiste em ser a chave da excelência do cuidado de enfermagem ao cliente. Considera-se avaliação de um plano individualizado que perpassa as etapas anteriores do processo de enfermagem, que permite o enfermeiro assumir uma postura de manter, de alterar ou de finalizar um plano de atenção à pessoa idosa. Portanto, a avaliação de enfermagem (evolução) permite um “relato diário ou periódico das mudanças sucessivas que ocorrem no ser humano enquanto estiver sob assistência profissional”. (HORTA, 1979, p. 67). A evolução é em síntese uma avaliação global dos diagnósticos e do plano de cuidados que foi implementado. Na evolução de enfermagem apresenta-se o prognóstico do cliente que se entende como “a capacidade do ser humano em atender as suas necessidades básicas após a implementação do plano assistencial e à luz dos dados fornecidos pela evolução.” O prognóstico indicará as condições que o cliente está adquirindo com o passar do tempo e pela ação das medidas instituídas pelo profissional. (HORTA, 1979, p. 68). Portanto, a aplicação do processo de enfermagem proporciona, tanto na prática como na educação, a elaboração de habilidades de pensamento crítico e reflexivo necessários para o exercício profissional de maneira segura e eficaz. No entanto, evidencia-se que quando o enfermeiro percebe por meio de suas experiências e práticas as reais demandas de cuidados alicerçados no conhecimento técnico-científico, conseqüentemente, propõe ações sistematizadas e individualizadas priorizando as reais necessidades do indivíduo. Neste sentido, 67 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores Timby (2001, p. 35) refere que “é um conjunto de ações que levam a um determinado resultado. O processo de enfermagem é uma seqüência organizada de etapas identificadas que são utilizadas pelo enfermeiro para solucionar os problemas de saúde dos pacientes”. Resumindo, Alfaro-Lefevre (2005, p. 29) complementa referindo que o processo de enfermagem é uma ferramenta que sistematiza e dinamiza a prestação de “cuidados de enfermagem e de promoção de um cuidado humanizado, dirigidos aos resultados e de baixo custo”. Ainda possibilita aos enfermeiros expressar o pensamento crítico reflexivo contínuo sobre o processo saúde-doença, bem como a busca de conhecimentos técnico-científicos para atuar em diversos contextos de saúde. O processo de enfermagem quando utilizado como ferramenta científica pelo enfermeiro na visita domiciliar no contexto do Programa de Saúde da Família, ou na consulta de enfermagem tem como objetivo levantar e gerar informações pertinentes à saúde do cliente assistido, visando um planejamento de ações individualizadas e resolutivas. Deste modo, resultando na promoção da saúde, bem como na melhoria da qualidade de vida do indivíduo, da família e da comunidade. Por sua vez, a avaliação da pessoa idosa constitui-se numa abordagem interdisciplinar relacionada às questões biológicas, psicológicas, sociais, culturais e espirituais, que permitem prevenir, manter ou recuperar as funções do organismo em convalesça. Salienta-se que o cuidado propiciado ao idoso é contínuo, o qual deve ser avaliado por uma equipe interdisciplinar na busca da promoção de saúde, da prevenção de doenças e complicações. Lembre-se que a família é fator indispensável para o sucesso do cuidado ao idoso fragilizado. 10 CAPACIDADE FUNCIONAL O envelhecimento humano é influenciado por aspectos demográficos, sociais, culturais, políticos, econômicos e de saúde. Desta forma, a velhice pode 68 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores significar uma realidade de diferentes significados para várias pessoas que ingressam nessa faixa etária. Tal processo de envelhecimento pode ser considerado da plenitude à decadência, da gratificação ao abandono, sobretudo, as diferentes realidades sociais, cullturais e regionais que são peculiares e inerentes ao idoso e a família. Por sua vez, o envelhecimento bem-sucedido se relaciona as inúmeras adaptações realizadas pelo idoso no transcorrer de sua vida. Essas adaptações referem-se às perdas que se caracterizam por “aposentadoria, mudanças de papéis sociais, perda de entes queridos, maior distanciamento dos filhos, perdas cognitivas e das funções orgânicas, alterações na própria auto-imagem e consciência de maior proximidade com a morte”. (DUARTE, 2001, p. 186). Esse processo de adaptação é individual e cultural, pois cada sociedade tem seus conceitos e valores que podem afetar o modo de como o idoso se vê e como os outros o vêem. Goldim (2002, p. 86) complementa que “enquanto numa sociedade a idade é representada por respeito, poder e superioridade, em outras o tempo representa exclusão e inutilidade”. Tais representações vão gerar diferentes comportamentos com relação ao processo de envelhecer. Numa perspectiva sócio-histórica, expõe-se que em anos anteriores a expectativa de vida era menor e a maior parte das pessoas de idade avançada, mantinha a sua autoridade até a morte. A família nuclear do passado passa a ser uma família extensa, ocorrendo várias transformações nos papéis e status das pessoas idosas. (SALDANHA e CALDAS, 2004). A qualidade de vida é afetada quando a pessoa idosa sofre as mudanças morfológicas e funcionais que alteram a capacidade de independência, tornando-se vulnerável. O idoso frágil é aquele que pertence ao grupo etário de setenta ou mais anos, que apresenta várias limitações para realizar as atividades de vida diária. Essas limitações ocorrem por: perda de peso, diminuição da capacidade imunológica, e complicações de agravos de longa duração. (GOLDIM, 2002). Ramos (2002), ao referir que a capacidade funcional é um paradigma à saúde do idoso, em que a saúde passa a ser resultanteda interação entre saúde 69 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores física, mental, independência na vida diária, integração social, suporte familiar e independência econômica. Para Papaléo Neto (2000), a independência e dependência são conceitos que só podem existir em relação à outra coisa. A dependência é o estado no qual o indivíduo confia em outro para ajudá-lo na realização das necessidades previamente reconhecidas, transmitindo a impressão de que a dependência sempre se refere à relação social. Portanto, o idoso dependente é aquele que necessita de ajuda para sobreviver, ou seja, para manter suas necessidades humanas básicas, podendo apresentar comprometimento em várias dimensões, até mesmo, dependendo de um cuidador. Saldanha e Caldas (2004) destacam que nessa fase da vida é muito comum a instalação de incapacidade funcional seguida de dependência, ou seja, ocorre a perda de determinada função, devido às morbidades físicas e/ou mentais. Tais características resultam na necessidade de intervenção e de adaptação do idoso e sua família para manter as atividades e o estilo de vida. Desta forma, considera-se capacidade funcional como indicador de saúde do idoso e a dependência como um sinal de ausência das habilidades físicas, psicológicas e sociais. Nos idosos portadores de doenças (sejam essas agudas ou crônicas), é possível verificar declínio funcional, sendo que o grau de severidade é diferente para cada pessoa, bem como o tipo de agravo à saúde. (DUARTE e DIOGO, 2000; LUECKENOTTE, 2002). O envelhecimento com dependência é colocado por Caldas (2003) como um desafio a ser incorporado pela Saúde Pública, em que contrapõe duas situações. A primeira refere-se às condições necessárias para a manutenção dos cuidados ao idoso na comunidade, e a segunda refere-se às condições da família para que possa responsabilizar-se pela assistência ao idoso. (KARSCH e LEAL, 1998). O idoso, ao receber alta de uma instituição hospitalar, apresentando declínio funcional e grau de dependência elevado, necessita, no âmbito domiciliar, de um cuidador para auxiliá-lo nas atividades do cotidiano, bem como no atendimento de suas necessidades básicas. Tal dependência remete a família a uma nova divisão de papéis e funções para o exercício do cuidado. (KALACHE, 1998; KARSCH e 70 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores LEAL, 1998; MENDES, 1998; DUARTE e DIOGO, 2000). A dependência do idoso é um processo dinâmico, que Caldas (2003, p. 773) refere que "a dependência deve ser abordada por intermédio de programas que incluam estratégias de promoção da saúde até o estabelecimento de redes de apoio aos cuidados de longa duração na comunidade". Por sua vez, a incapacidade funcional pode acometer as pessoas em qualquer idade, mas essa característica é considerada própria para as pessoas que atingem a longevidade. Neste sentido, quando avaliado o grau de dependência do idoso refere-se à capacidade de que o idoso possui para realizar de forma independente suas atividades diárias. (PAVARINE e NÉRI, 2005). Caldas (2003) complementa definindo, que a incapacidade funcional ocorre à medida que os idosos não conseguem se adaptar às mudanças decorrentes do processo de envelhecimento, ou seja, a instalação da incapacidade para realizar suas atividades básicas e instrumentais da vida diária de forma independente. Ainda, corroborando com Caldas (2003) a dependência não é um estado permanente, mas um processo dinâmico cuja evolução pode ser modificada, prevenida e/ou reduzida. Para tanto, são necessários profissionais qualificados e comprometidos com a assistência ao idoso. As Atividades da Vida Diária (AVD’s) podem ser divididas em funções de: autocuidado e instrumentais que podem ser entendidas como necessárias para se ter uma vida independente no lar e na sociedade. As atividades de autocuidado, ou consideradas de Atividades Básicas da Vida Diária (ABVD’s) são: vestir-se, banhar- se, higiene, continência de eliminações, transferência e alimentação. O Quadro 1 apresenta a Escala de Atividades Básicas da Vida Diária. 71 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores GRAU DE DEPENDÊNCIA Escala de Atividades Básicas da Vida Diária (AVD’s) Banho: o (a) idoso (a) tem dificuldade para tomar o banho, pois recebe ajuda ou somente para uma parte do corpo? ( 0 ) não ( 1 ) sim Vestir-se: o (a) idoso (a) tem dificuldade para pegar roupas, veste-se com ajuda, exceto para amarrar os sapatos? ( 0 ) não ( 1 ) sim Higiene pessoal: o (a) idoso (a) tem dificuldade para realizar a higiene? ( 0 ) não ( 1 ) sim Transferência: o (a) idoso (a) tem dificuldade para deitar, sentar, levantar, exceto na utilização de andador e bengala? ( 0 ) não ( 1 ) sim Continência: o (a) idoso (a) tem dificuldade para controlar as eliminações? ( 0 ) não ( 1 ) sim Alimentação: o (a) idoso (a) tem dificuldade para levar o alimento até a boca? ( 0 ) não ( 1 ) sim Qual é o tipo de dependência do (a) idoso (a) para atividades básicas da vida diária? (A pontuação é o somatório de respostas sim) ( 0 ) independente (6 pts) ( 1 ) dependência parcial (4-5pts) ( 2 ) dependência importante (2- 3pts) ( 3 ) dependência total (0-1pts) Fonte: Adaptado de Katz et al. apud Freitas et al. (2002). QUADRO 1 – Escala de Atividades Básicas da Vida Diária. As Atividades Instrumentais da Vida Diária (AIVD’s) são de ser capaz de: atender ou discar o telefone; conseguir deslocar-se a outros locais sem necessidade de planejamento especial; de preparar as refeições; de arrumar o domicílio; de realizar trabalhos manuais ou pequenos reparos; tomar seus medicamentos na dose e horário correto; e de cuidar de suas finanças. O Quadro 2 expressa a Escala de Atividades Instrumentais da Vida Diária. 72 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores GRAU DE DEPENDÊNCIA Escala de Atividades Instrumentais da Vida Diária (AVD’s) O (A) idoso (a) consegue usar o telefone? ( 3 ) sem ajuda ( 2 ) com ajuda parcial ( 1 ) não consegue O (A) idoso (a) consegue ir a locais distantes, usando algum transporte, sem necessidade de planejamentos especiais? ( 3 ) sem ajuda ( 2 ) com ajuda parcial ( 1 ) não consegue O (A) idoso (a) consegue fazer compras? ( 3 ) sem ajuda ( 2 ) com ajuda parcial ( 1 ) não consegue O (A) idoso (a) consegue preparar suas próprias refeições? ( 3 ) sem ajuda ( 2 ) com ajuda parcial ( 1 ) não consegue O (A) idoso (a) consegue arrumar a casa? ( 3 ) sem ajuda ( 2 ) com ajuda parcial ( 1 ) não consegue O (A) idoso (a) consegue fazer trabalhos manuais domésticos, ou pequenos reparos? ( 3 ) sem ajuda ( 2 ) com ajuda parcial ( 1 ) não consegue O (A) idoso (a) consegue lavar e passar sua roupa? ( 3 ) sem ajuda ( 2 ) com ajuda parcial ( 1 ) não consegue O (A) idoso (a) consegue tomar seus remédios na dose certa e horário correto? ( 3 ) sem ajuda ( 2 ) com ajuda parcial ( 1 ) não consegue O (A) idoso (a) consegue cuidar de suas finanças? ( 3 ) sem ajuda ( 2 ) com ajuda parcial ( 1 ) não consegue Qual é o tipo de dependência do (a) idoso (a) para atividades instrumentais da vida diária? ( 3 ) independente ( 2 ) dependência parcial ( 1 ) dependência total Fonte: Adaptado de Lawton e Brody apud Freitas et al. (2002). QUADRO 2 – Escala de Atividades Instrumentais da Vida Diária. 73Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores O declínio da capacidade funcional geralmente conduz a pessoa idosa à limitação ou perda total na realização de atividades básicas e instrumentais da vida diária. Geralmente, as atividades instrumentais da vida diária (AIVD's) são atingidas primeiramente, sendo essas utilizadas como marcadores para detectar a capacidade funcional. A partir de incapacidades instaladas nas AIVD's, as outras atividades básicas da vida diária (AVD's) também poderão estar comprometidas. A condição de dependência severa para as AIVD's foi constatada em 50,0% dos 80 idosos em condição de alta hospitalar, em 2002, num hospital universitário, do município de Porto Alegre (PAZINATTO, 2003). Em 2003, realizou-se, em outro hospital universitário, da mesma localidade, um estudo com 164 pessoas idosas em condição de alta hospitalar, sendo constatado que 78,0% tinham dependência para as AIVD’s (PAZ, 2004). Diante dessa realidade, associada às transformações no campo econômico, social e epidemiológico faz-se necessária à implantação de políticas sociais e de saúde relativas à população idosa, a fim de suprir as necessidades, garantindo um envelhecimento com qualidade. Tal fenômeno é suprido pela criação e implementação de políticas de atenção integral à saúde do idoso que deve ter o entendimento de “que o envelhecer não é sinônimo do adoecer”. (BRASIL, 2003, p. 6). Portanto, ao perder alguma capacidade o idoso necessita de um cuidador formal ou informal, de acordo com sua cultura, religião, condição socioeconômica e doença. Segundo Saldanha e Caldas (2004), o cuidador de um idoso dependente em situação paliativa, terá um papel de canalizador das dificuldades enfrentadas por essa pessoa. (SALDANHA e CALDAS, 2004). Para aprimorar o atendimento na área da saúde do idoso, cabem as instituições de saúde propor capacitações de profissionais que atendam a população idosa, com o intuito de formular medidas educativas e resolutivas que visem diminuição das perdas físicas e cognitivas do idoso. Entretanto, na busca da qualidade dos serviços de saúde e da assistência à saúde, torna-se evidente a necessidade de avaliar as competências dos profissionais para atuarem nesse espaço social e de saúde, de forma generalista e de identificação com a área de 74 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores saúde da família e do idoso. As universidades e os órgãos públicos devem estimular a produção científica de trabalhos na área do idoso e da família, contribuindo para conhecimento da realidade. O conhecimento da realidade facilita a elaboração de metas do serviço de saúde por meio de medidas educativas, conforme a realidade de cada local. Silva et al. (2006) mencionam que os serviços de saúde e os profissionais precisam avaliar o grau de comprometimento do idoso e de sua família com o propósito de maximizar a capacidade funcional. Corrobora-se que a dependência é maior para as atividades mais complexas, para qual necessita de um cuidador. Cabe ressaltar sempre aos membros familiares e aos profissionais de preservar a auto-estima e autonomia diante do cenário social e de saúde, do qual vivencia o idoso. Desta forma, cabe ao enfermeiro realizar a avaliação do grau de dependência, mas também, desenvolver um plano de cuidados dirigido ao autocuidado. Indubitavelmente, o enfermeiro deve estimular as pessoas idosas, os familiares e a comunidade para desenvolverem iniciativas que visem uma melhor qualidade de vida diante das mudanças e perdas tão visíveis nessa etapa do ciclo vital. Por sua vez, as políticas enfatizam a necessidade da criação de ações voltadas para atenção do idoso em nível local, respeitando as diversidades regionais e individuais presentes na sociedade. Portanto, é necessária a formulação de práticas assistenciais condizentes com as reais necessidades de saúde da população local. Toda pessoa independente de sua idade deve superar os preconceitos da velhice, envelhecer com dignidade, garantir uma velhice plena e satisfatória com apoio e respeito de todos os cidadãos, pois possibilita o enfrentamento de perdas funcionais e/ou psicológicas presentes nesta etapa do ciclo vital. Assim, a assistência ao idoso dependente é de extrema importância para a promoção da saúde e qualidade de vida, bem como na adaptação das mudanças presentes nesta etapa. A pessoa idosa em condição de dependência tem necessidades de um cuidador, sendo indiscutível que o profissional de enfermagem desenvolva um plano de cuidados junto do idoso e cuidador que contemplem a recuperação e a reabilitação de sua dependência. Portanto, torna-se evidente a atuação da equipe de 75 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados aos seus respectivos autores saúde da família que seja responsável e comprometida com ações que qualifiquem a assistência à saúde e promova o envelhecimento digno e bem-sucedido das famílias, entre os membros a pessoa idosa. --------------- FIM DO MÓDULO II -------------- 8 ATENÇÃO AO IDOSO NOS SERVIÇOS DE SAÚDE