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Epidemiologia e Saúde Pública - Módulo 01

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AN02FREV001/REV 4.0 
 1 
PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA 
Portal Educação 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
EPIDEMIOLOGIA E SAÚDE 
PÚBLICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Aluno: 
 
EaD - Educação a Distância Portal Educação 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 2 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
CURSO DE 
EPIDEMIOLOGIA E SAÚDE 
PÚBLICA 
 
 
 
 
 
 
MÓDULO I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para 
este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou 
distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do 
conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências 
Bibliográficas. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 3 
 
 
SUMÁRIO 
 
 
MÓDULO I 
1 FAMÍLIA, SAÚDE E COMUNIDADE 
1.1 SEÇÃO 1 – SAÚDE E SOCIEDADE 
1.2 SESSÃO 2 – HISTÓRIA DA SAÚDE COLETIVA E A SAÚDE PÚBLICA NO 
BRASIL 
1.2.1 Primeiros Relatos de Doenças Agudas 
1.2.2 Novas Doenças no Mundo no Período de 1400 a 1850 
1.2.2.1 Suor inglês (1485) 
1.2.2.2 Tifo 
1.2.2.3 Raquitismo ou doença inglesa 
1.2.2.4 Escorbuto, a negra do mar 
1.2.2.5 Doença dos trabalhadores 
1.2.2.6 Sífilis 
1.2.3 Diferenciação do Termo Saúde Pública de Saúde Coletiva 
1.3 SEÇÃO 3 – SUS, OS MODELOS DE ATENÇÃO, AS PRÁTICAS 
ASSISTENCIAIS EM SAÚDE NO BRASIL 
1.3.1 Caracterização do Brasil: uma Sociedade em Transição 
1.3.2 Transição Demográfica 
1.3.3 Evolução da Composição Etária do Brasil 
1.3.4 Indicadores Sociais e a Evolução do IDH e Desigualdade Cor/Raça 
1.3.4.1 Educação 
1.3.4.2 Abastecimento de água 
1.3.4.3 Serviços de saúde 
1.3.4.4 Mortalidade 
1.3.4.5 Nascimentos (nascidos vivos) 
1.3.4.6 Mortalidade infantil 
1.4 O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 4 
1.5 OS MODELOS DE ATENÇÃO 
2 ATENÇÃO BÁSICA À SAÚDE 
2.1 OS ANTECEDENTES DA ATENÇÃO PRIMÁRIA NO BRASIL 
2.2 POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO BÁSICA 
3 ATENÇÃO SECUNDÁRIA À SAÚDE 
4 ATENÇÃO TERCIÁRIA À SAÚDE 
5 AS PRÁTICAS ASSISTENCIAIS EM SAÚDE 
5.1 PROGRAMA DA SAÚDE DA FAMÍLIA (PSF) 
5.1.1 História da Criação do PSF no Brasil 
5.1.2 Organização do PSF 
5.1.3 Crescimento da Implantação do PSF no Brasil 
5.1.4 Programa de Agentes Comunitários de Saúde 
5.1.5 Equipes de Saúde Bucal (ESB) 
 
 
MÓDULO II 
6 EPIDEMIOLOGIA EM SAÚDE COLETIVA 
6.1 SEÇÃO 1 - INTRODUÇÃO AO ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO 
6.1.1 História da Epidemiologia 
6.1.2 A Epidemiologia até o Século XIX 
6.1.3 Epidemiologia do Século XIX 
6.1.4 Epidemiologia no Século XX 
6.1.5 Principais Usos da Epidemiologia 
6.2 SEÇÃO 2 - PROCESSO SAÚDE-DOENÇA 
6.2.1 Conceito Saúde e Doença 
6.2.2 História Natural da Doença 
6.2.3 Prevenção das Doenças e Promoção da Saúde 
6.2.4 Etiologia 
6.2.5 Medidas Preventivas 
6.2.5.1 Classificação das medidas preventivas 
6.2.5.2 Promoção da saúde 
6.3 SEÇÃO 3 - MEDIDAS DE SAÚDE COLETIVA 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 5 
6.3.1 Medidas de Frequência de Doenças 
6.3.2 Frações 
6.3.3 Proporções 
6.3.4 Coeficientes ou Taxas 
6.3.4.1 Relações entre incidência e prevalência 
6.3.4.2 Uso das taxas de incidência e prevalência 
6.3.5 Indicadores de Saúde 
6.3.5.1 Critérios de avaliação de indicadores 
6.3.5.2 Principais indicadores de saúde 
6.4 SEÇÃO 4 – VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA 
6.4.1 Tipos de Dados 
6.4.2 Fonte de Dados 
6.5 SEÇÃO 5 - TIPOS DE ESTUDOS EPIDEMIOLÓGICOS 
6.5.1 Problemas Epidemiológicos 
6.5.2 Tratamento Numérico dos Resultados 
6.5.3 Causa da Epidemiologia (Causalidade) 
6.5.4 Modelo Probabilístico 
6.5.5 Delineamento da Pesquisa Epidemiológica 
6.5.6 Estudo Ecológico 
6.5.7 Estudos Seccionais 
6.5.8 Estudos Coorte (Follow up) 
6.5.9 Estudos Caso-Controle 
6.5.10 Estudo Experimental 
6.5.11 Estudo Quase-Experimental 
6.6 SEÇÃO 6 – MEDIDA DE RISCO 
 
 
MÓDULO III 
7 PLANEJAMENTO, GESTÃO E AVALIAÇÃO EM SAÚDE 
7.1 SEÇÃO 1 - PLANEJAMENTO EM SAÚDE 
7.1.1 Conceitos Gerais 
7.1.2 Tipos de Planejamento 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 6 
7.1.3 Metodologias Tradicionais de Elaboração do Planejamento Estratégico 
7.1.4 Planejamento Estratégico no Setor da Saúde 
7.1.5 Planejamento Estratégico Situacional (PES) 
7.1.6 Método de Altadir de Planificação Popular (MAPP) 
7.2 SEÇÃO 2 – GESTÃO EM SAÚDE 
7.2.1 O Processo Decisório 
7.2.3 Gestão em Saúde 
7.3 SEÇÃO 3 – AVALIAÇÃO E CONTROLE EM SAÚDE 
 
 
MÓDULO IV 
8 ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA E O USO RACIONAL DE 
MEDICAMENTOS 
8.1 SEÇÃO 1 - ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA 
8.1.1 A Logística dos Medicamentos 
8.1.2 Ciclo da Assistência Farmacêutica 
8.1.2.1 Seleção de medicamentos 
8.1.2.2 Relação de medicamentos essenciais 
8.1.2.3 Formulários terapêuticos 
8.1.2.4 As Diretrizes de Tratamento Padronizadas (DTP) 
8.1.3 Aquisição de Medicamentos 
8.1.4 Distribuição de Medicamentos 
8.1.5 Utilização de Medicamentos 
8.2 SEÇÃO 2 – USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS 
8.3 SEÇÃO 3 – AÇÕES PROGRAMÁTICAS ESTRATÉGICAS EM SAÚDE 
8.3.1 Saúde da Mulher 
8.3.2 Saúde da Criança 
8.3.3 Saúde do Adolescente e do Jovem 
8.3.4 Saúde do Idoso 
8.3.5 Saúde da Pessoa com Deficiência Física 
8.3.6 Saúde Mental 
8.3.7 Saúde no Sistema Penitenciário 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 7 
8.3.8 Saúde do Trabalhador 
8.4 SEÇÃO 4 - SISTEMA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA 
8.4.1 Regulamentação Sanitária de Medicamento no Brasil 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 8 
 
MÓDULO I 
 
 
1 FAMÍLIA, SAÚDE E COMUNIDADE 
 
 
1.1 SEÇÃO 1 – SAÚDE E SOCIEDADE 
 
 
Segundo o artigo 196 da Constituição Federal de 1988: 
 
A saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante 
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e 
de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços 
para sua promoção, proteção e recuperação. 
 
Para Shuqair (1996), o Estado tem o dever de prestar benefícios aos 
cidadãos, a fim de proporcionar a melhoria das condições de vida. Para a 
Organização Mundial da Saúde (OMS), o conceito de saúde é definido como “o 
completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de 
doença”. 
A saúde é um direito complexo, que envolve o bem-estar físico e 
mental, além do direito de não ficar doente. Portanto, isso significa que 
alimentação, abrigo, proteção, segurança, ausência de doenças e tratamentos 
são direitos relacionados à saúde do brasileiro. Assim como o direito ao abrigo 
está envolvido no conceito de saúde, a proteção contra o estresse e a 
segurança no trabalho também são aspectos do direito à saúde, porque se 
saúde é o completo bem-estar mental, é necessário ter total segurança, não só 
a segurança do trabalho. 
Além disso, o direito de não ser contaminado, e assim perder a saúde, 
bem como o direito a ser tratado, tudo isso é requisito para que um indivíduo 
tenha saúde. Concluindo, não podemos reivindicar saúde como apenas 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 9 
ausência de doença, temos de ter bem claro que saúde é também bem-estar 
físico, mental e social (CIANCIARULLO, 2007). 
O Estado tem a obrigação de oferecer serviços acessíveis a toda à 
população e que resolvam o problema, ou seja, eficientes. Em relação ao 
medicamento, além de garantir o seu acesso, deve assegurar que este chegue 
às pessoas com qualidade e dentro dos padrões estipulados nos regulamentos. 
E que, por meio das fiscalizações, se faça cumprir o poder de polícia das 
vigilâncias sanitárias, com o intuito de prevenção e não punição, para evitar as 
falsificações e venda de produtos de má qualidade, que possam causar 
prejuízo à saúde. 
A saúde e a doença são objetos ao mesmo tempo sociais e biológicos. 
As pessoas são sadias, ficam doentes e morrem não apenas por causas 
biológicas, mas também por razões sociais. Em Sociologia, uma sociedade “é o 
conjunto de pessoas que compartilhampropósitos, preocupações e costumes, 
e que interagem entre si”, na qual estão politicamente organizadas, partilhando 
objetivos comuns, dando sentido como um ser de relações, capaz de fazer sua 
própria vida (WIKIPEDIA, 2008). 
Logo, segundo Rouquayarol e Almeida Filho (2003), a organização 
social depende de como está produzida e distribuída a riqueza, a totalidade de 
desenvolvimento e, sobretudo, das condições de vida da população. Logo, o 
que se pode observar entre os grupos sociais é que as pessoas privilegiadas 
com poder aquisitivo (ricas) podem estar menos sujeitas à ação dos fatores 
ambientais, que estimulam a ocorrência de certos tipos de doenças. 
Ao contrário do que acontece com os grupos de baixa renda (pobres), 
que são mais propensos a doenças graves, morrem mais jovens, apresentam 
em maior proporção crianças desnutridas e uma taxa de mortalidade infantil 
mais elevada. Por exemplo, as parasitoses intestinais estão sempre onde a 
miséria se faz presente. Portanto, o histórico socioeconômico e cultural de uma 
comunidade tem relação com a determinação social das doenças. 
Assim, quando avaliamos as questões epidemiológicas no Brasil nos 
deparamos com um quadro que compreende doenças do atraso e do 
desenvolvimento, por exemplo, das parasitoses às doenças cerebrovasculares, 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 10 
da desnutrição à obesidade, da febre amarela às cardiovasculares. Para isso, 
os serviços brasileiros de saúde devem estar organizados para prevenir, tratar 
e recuperar com a mesma eficácia estes problemas de saúde pública. Estas 
complexas questões epidemiológicas estão relacionadas ao processo de 
desenvolvimento capitalista brasileiro, desigual e atrasado, que combina a 
tecnologia de ponta com o “fora de moda” em alguns setores, a pobreza da 
maioria com a riqueza para a minoria. 
Essas contradições estão relacionadas ao processo desordenado de 
industrialização, sem o devido planejamento urbano, o saneamento básico e o 
trânsito que suportasse a inversão do fluxo populacional, no sentido campo-
cidade, na ordem de 30% a 70%. Além disso, esta desordem da 
industrialização reflete negativamente no meio ambiente, por exemplo, por 
meio do desmatamento, dos resíduos industriais e do processo de trabalho, 
que são também responsáveis pela qualidade do desenvolvimento, da vida e 
da saúde (ROSA, 1997). 
É importante destacar que os determinantes sociais têm forte inter-
relação, pois mantêm as semelhanças de propriedade, garantem a acumulação 
e produzem a desigualdade. Outros determinantes na má qualidade de vida e 
de saúde da população são os diferentes níveis de desenvolvimento regional, o 
salário das classes trabalhadoras e a concentração de terra. 
As condições precárias de trabalhar a terra, em função dos latifúndios e 
ausência de incentivos agrícolas, produzem o inchaço populacional nas 
cidades. Com isso, a produção e a oferta de empregos na indústria, comércio e 
setor de serviços são inversamente proporcionais à demanda. Para os que 
conseguem ocupação no mercado de trabalho, os salários são pequenos, o 
que impede o acesso aos bens essenciais. Esta desigualdade é mais frequente 
nas regiões norte e nordeste. 
Daí a ocorrência dos piores indicadores de saúde, já que é nestas 
regiões que a fome, a desnutrição e a mortalidade infantil são, em média, duas 
vezes superiores às verificadas no sul e sudeste. Além do que, em algumas 
cidades nordestinas a esperança de vida é até 30 anos menor em relação às 
encontradas nas regiões sul e sudeste (ROSA, 1997). A compreensão da 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 11 
relação entre saúde e sociedade é essencial para que possamos entender as 
contradições e o insucesso das políticas de saúde implantadas no Brasil até o 
momento. 
 
 
1.2 SESSÃO 2 – HISTÓRIA DA SAÚDE COLETIVA E A SAÚDE PÚBLICA NO 
BRASIL 
 
 
Repensar a saúde coletiva, aproveitando-se da história e da tradição 
da saúde pública, faz-se necessário para traçar um panorama da Saúde 
Coletiva no Brasil. 
 
 Cerca de 1000 a.C - o Mundo Greco-Romano 
 
Conforme Rosen (1994), achados do Médio Império (2100-1700 a.C.) 
oferecem ideia das condições da saúde pública no Egito antigo. Por meio dos 
estudos históricos das ruínas de Kahum foi verificado cuidados com o 
escoamento de água (por intermédio de calhas de pedra de mármore); sistema 
de abastecimento de água para beber; destino de dejetos e sistema de 
esgotamento. As pessoas mantinham-se limpas para se apresentarem puras 
aos olhos dos deuses e não por questão de higiene. 
As doenças, neste período, eram consideradas sobrenaturais. Logo, 
atribuía-se o processo saúde e doença a processos naturais. Os médicos 
gregos eram filósofos naturais. Não tinham o objetivo de lidar com problemas 
de saúde, mas desejavam entender o universo das relações entre o homem e a 
natureza. Assim, não distinguiam as diferentes doenças, só se preocupavam 
com vários grupos por meio de teorias sobre a mistura anormal dos fluidos do 
corpo (humoralismo) ou acerca dos estados das partes sólidas do corpo 
(solidismo). 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 12 
A relação solo e saúde eram reconhecidas pelos gregos pela 
necessidade de instalar suas construções em ambiente salubre. Usava-se 
então, a inspeção do fígado. Sacrificavam-se os animais que haviam pastado 
em determinada terra e observavam-se suas vísceras. Se estas 
apresentassem a cor amarelo-esverdeado, considerava-se a terra insalubre 
para o homem. 
 
 
1.2.1 Primeiros Relatos de Doenças Agudas 
 
 
Difteria: relatos de graves dores de garganta que muitas vezes 
terminavam em morte. Aplicava-se a palavra grega KYNANCHE às várias 
doenças inflamatórias agudas da garganta e laringe. As complicações eram: 
voz anasalada, dificuldade em engolir, saída de fluido pela narina durante a 
ingestão de líquidos, dificuldade de ficar de pé, presença de úlceras nas 
amígdalas e formação de uma membrana semelhante a uma teia de aranha. 
Malária: Muito familiar aos médicos gregos. Febres maláricas são 
abundantes e devido à periodicidade falavam em terçã e quartã. Nesta época, 
já se fazia a associação de pântanos e febre malárica. Logo, os rios eram 
desviados para os pântanos para prevenir a estagnação das águas e 
salubrificá-las. 
É neste período da história da saúde que se originaram os termos: 
 
- Endemia: doença habitualmente comum entre pessoas de uma 
região, cuja incidência se prende à ocorrência de determinados fatores locais, 
se traduz pelo aparecimento de menor número de casos ao longo do tempo. 
- Epidemia: se caracteriza pela incidência, em curto período de tempo, 
de grande número de casos de uma doença. 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 13 
 
 Idade Média (500 a 1500 d.C) 
 
Com a desintegração do mundo greco-romano, sob o impacto da 
invasão dos bárbaros, ocorreu o declínio da cultura urbana e a decadência da 
organização e da prática da saúde pública. 
Conforme Ferreira (1997), na Idade Média os problemas de saúde 
eram enfrentados em termos mágicos e religiosos (período chamado de “Idade 
das Trevas” – 500-1000 a.C) favorecendo um terreno de supernaturalismos. Os 
costumes e rituais pagãos eram usados para resolver os problemas de saúde 
dos indivíduos e comunidades. 
Ao mesmo tempo os cristãos afirmavam a existência de uma relação 
entre a doença e o pecado. A doença era uma punição pelo pecado. As causas 
da doença eram consideradas a possessão pelo diabo e a feitiçaria. Para 
resolver os problemas de saúde eram usadas as orações, a penitência e a 
invocação dos santos, para que, assim, o corpo fosse salvo e a alma ficasse 
mais forte fisicamente para suportar os ataques dos demônios. 
Outro problema presente nesta época foi o crescimento da população 
nas cidades. Com isso, as cidades apresentavam problemas para acomodar as 
pessoas, logo, muitas dificuldades de saúde pública começavam a surgir: ruas 
sem calçadas, as imundícies,os refugos eram acomodados nas beiras das 
estradas e, por fim, as doenças. 
Duas epidemias marcaram o começo da Idade Média: a Peste 
Justiniano, em 543, e a Morte Negra, em 1348. Outros surtos de doenças 
também arruinaram a Europa e o litoral mediterrâneo, tais como: lepra, peste 
bubônica, varíola, difteria, sarampo, influenza, tuberculose, escabiose, antraz. 
Varíola: é no início do século 10 que aparece a primeira descrição da 
doença. O termo varíola surge no relato de Marius, significando simplesmente 
“pintado ou pontilhado”. 
Lepra: Representou a grande praga das pessoas medievais. O medo 
de todas as doenças dificilmente dava-se para comparar ao terror 
desencadeado pela lepra. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 14 
A lepra assumiu proporções epidêmicas em decorrência dos grandes 
deslocamentos de populações resultantes das Cruzadas, pois ao retornar do 
Oriente, os cruzados trouxeram casos. Com o tempo a doença cedeu, em 
virtude de a morte negra ter levado a vida de muitos leprosos. Só no século XVI 
a lepra perdeu sua importância. 
Os leprosos eram isolados em hospedarias destinadas ao acolhimento 
de vítimas de doenças contagiosas. Quando estas pessoas sofriam de uma 
moléstia transmissível, que podia ameaçar diretamente a saúde dos que os 
circulam, a comunidade sentia-se no direito de, para se proteger, sujeitar este 
indivíduo a restrições. Surgiu, assim, a obrigação de notificar algumas doenças 
comunicáveis. 
Estes locais de isolamento de leprosos deram origem, mais tarde, aos 
hospitais, que em vez de receber os doentes para seu isolamento, começaram 
a tratá-los para sua recuperação. Os leprosos tornaram-se uma ameaça 
pública. Assim, as pessoas, para proteger os sadios, expulsavam-nos. E por 
ser uma doença incurável, eram considerados mortos-vivos. Para isso, era feito 
o funeral com a presença da vítima, como ritual de expulsão desta pessoa da 
sociedade. 
Os leprosos eram vestidos com uma mortalha, lia-se a missa solene 
para os mortos, jogava-se terra sobre o doente e então os padres o conduziam 
acompanhado pelos parentes, amigos e vizinhos, para os leprosários, fora do 
limite da comunidade. 
 
 Período de colonização do Brasil (1500 a 1830) 
 
Conforme Barbosa-Filho e Stockler (1991), a sociedade brasileira foi 
formada por três tipos distintos: o branco europeu, o índio americano e o 
negro africano. Na época da descoberta do Brasil, as Américas eram 
habitadas por cerca de 80 milhões de índios americanos. Em seguida, 
chegaram os primeiros portugueses, que em geral eram aventureiros e 
indivíduos expulsos de Portugal. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 15 
Após 1530, chegaram fidalgos, funcionários do governo e soldados, 
que vinham com o desejo de enriquecer fácil. Como o governo português nada 
ganhava com a escravidão indígena, apoiava os jesuítas e a igreja na defesa 
do índio contra o interesse dos colonos em escravizá-los. Logo, os negros 
africanos (na grande maioria prisioneiros de guerra) eram escravizados para 
fazer os trabalhos domésticos e na lavoura. 
Segundo Rosa (1997), neste período entre a colonização e a chegada 
da família Real no Brasil, o país não apresentava nenhum modelo de atenção à 
saúde da população. As pessoas limitavam-se aos seus conhecimentos 
empíricos para desenvolver a arte de curar a partir de seus recursos (por 
exemplo, uso de plantas medicinais). 
A cidade do Rio de Janeiro era precária e mal cheirosa, provinciana, 
suja e descuidada. A situação das residências era terrível, mas pior ainda em 
lugares em que se acumulavam muitas pessoas. Não existia nenhuma 
preocupação com insetos, ratos ou outros animais, pois ninguém imaginava 
que eles pudessem transmitir enfermidades. 
Em relação à água, a preocupação era apenas quanto ao cheiro e, às 
vezes, com a sua cor. A presença de micro-organismos era conhecida e 
encarada com indiferença, pois não se imaginava que eles pudessem ser 
nocivos. As casas possuíam apenas uma janela, sem condição de que fosse 
renovado e purificado o ar (ROSA, 1997). 
Aos poucos foi surgindo a ideia de que as doenças eram causadas 
pelo mau cheiro. No século XVIII, torna-se popular a teoria dos miasmas, para 
explicar as doenças produzidas por cheiros de coisas estragadas e 
deterioradas. Neste período, a limpeza era tratada como uma questão de 
estética, e não como uma questão de saúde, ou seja, de higiene. Os lixos e os 
excrementos eram afastados das casas apenas por causa de seu cheiro. 
Na luminosa manhã de 8 de março de 1808, mais de 10 mil nobres 
exilados se preparam para pôr novamente os pés em terra e iniciar não só um 
novo período para a história de Portugal, como uma nova era para o Brasil. 
Embora satisfeita com o desembarque, a família real não pôde deixar de notar 
que, além da cidade do Rio de Janeiro apresentar um cenário geográfico 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 16 
maravilhoso que envolve a Baía de Guanabara, que encantou a navegadores, 
viajantes e poetas, o fato é que a cidade exalava “os odores pútridos.” 
A população ficou deslumbrada com o glamour dos príncipes, nobres, 
cortesões e a Rainha Louca pisando em solo carioca, acompanhados do som 
dos clarins, o estourar dos rojões e os aplausos, porém, não foi capaz de 
ignorar a feiura de D. João VI e da princesa Carlota Joaquina, nem os gritos 
alucinados da Rainha Maria I e as cabeças raspadas das cortesãs (devido à 
epidemia de piolho ocorrida a bordo) (ROSA, 1997). 
Mas com a vinda da família real viu-se a necessidade do 
estabelecimento de um controle sanitário mínimo, para que então a realeza 
pudesse morar na cidade do Rio de Janeiro e instalar o império no país. Outro 
fato importante é a carência de profissionais médicos, o que oportunizou a 
proliferação pelo país dos boticários (farmacêuticos). Este profissional não 
apresentava formação acadêmica. Conforme Thomaz (2002), o conhecimento 
dos pajés, juntamente com o dos jesuítas (que sabiam aplicar e utilizar as 
plantas da flora brasileira e a cura de doenças) contribuiu para o início da 
manipulação destas fórmulas e o cuidado da população. 
 
A princípio os medicamentos já vinham prontos de Portugal. No entanto, 
dificuldades operacionais impediam a vinda frequente de navios. Assim, os 
jesuítas terminaram sendo os primeiros boticários da nova terra e nos seus 
colégios foram instaladas as primeiras boticas, onde o povo encontrava 
drogas vindas da metrópole, bem como remédios preparados de plantas 
medicinais, conhecimento incorporado dos pajés (THOMAZ, 2002, p. 2). 
 
Em 1839 foi criado o curso de Farmácia, anexo ao curso de Medicina, 
na Escola de Farmácia de Ouro Preto (BERMUDEZ, 1995). Assim, 
gradualmente, as boticas são substituídas pelas “Pharmácias” e com isso os 
medicamentos passam a ser formulados pelos farmacêuticos embasados em 
formulários internacionais, enciclopédias, farmacopeias populares. 
Segundo Polignano (2008), “até 1850 as atividades de saúde pública 
estavam limitadas ao seguinte: delegação das atribuições sanitárias às juntas 
municipais e controle de navios e saúde dos portos”. A falta de um modelo 
sanitário para o país deixava as cidades brasileiras à mercê das epidemias 
(como a varíola, a malária, a febre amarela e posteriormente a peste), o que 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 17 
acabou gerando sérios problemas para saúde coletiva e para o comércio 
exterior. Devido à situação sanitária existente na cidade os navios estrangeiros 
não mais queriam atracar no porto do Rio de Janeiro. 
 
 
1.2.2 Novas Doenças no Mundo no Período de 1400 a 1850 
 
 
A história das grandes descobertas geográficas dos séculos XV e XVI 
trouxe a visão de um mundo mais espaçoso, mas também novos problemas. 
1849: RUDOLF VIRCHOW – Elaborou uma teoria segundo a qual a 
doença epidêmica seria uma manifestação de desajustamento social e cultural. 
As doenças epidêmicas aparecem e desaparecem muitas vezes sem deixar 
rastro. 
 
 
1.2.2.1Suor inglês (1485) 
 
 
Esta doença tinha como principais características a febre alta, com 
calafrios, cãibras nas extremidades e dores em várias partes do corpo, uma 
sensação de profunda angústia, dificuldade de respirar e irregularidade do 
pulso. Em casos graves apareciam delírios e alucinações (FERREIRA, 1997). 
A moléstia durava algumas poucas horas até um dia e como o 
restabelecimento acontecia após suores profundos, recebeu o nome de Suor 
Inglês. 
Ela matou milhares de pessoas em Londres em uma semana nos anos 
de 1508 e de novo em 1517, 1528 (surto mais grave) e 1551. Nunca se 
esclareceu de forma suficiente a natureza da doença. 
 
 
 
 
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 18 
 
1.2.2.2 Tifo 
 
 
Descrita pela primeira vez por Fracastoro, em 1546. Sempre esteve 
intimamente ligada às guerras, fome e pobreza. A doença continua a ser 
presente em acampamentos militares, prisões, navios e hospitais, ou seja, 
quando as pessoas se juntam e não conseguem manterem-se limpas, e assim 
se expõem inclusive ao piolho transmissor, passando a ser uma ameaça. 
 
 
1.2.2.3 Raquitismo ou doença inglesa 
 
 
Em 1649, doutor Fuller descreve a doença existente em crianças: o 
Raquitismo. A cabeça aumenta muito, ao passo que as pernas e partes 
inferiores mínguam demais. No século XVII, passou a atrair a atenção da 
saúde pública. Um aumento marcante de sua incidência ocorreu durante as 
duas primeiras décadas do século XVII, graças à severa pressão econômica e 
à terrível pobreza, em especial no sul da Inglaterra. 
Esse aumento estaria relacionado ao crescimento da vida urbana, 
quando era difícil consumir “carnes brancas”, em particular leite, este fato 
associado ainda à falta de banho de sol. 
 
 
1.2.2.4 Escorbuto, a negra do mar 
 
 
As rotas marítimas para o externo Oriente e o Novo Mundo implicavam 
viagens maiores. Assim, nas longas viagens os marinheiros encontravam seu 
grande inimigo no escorbuto. Uma enfermidade devido a uma dieta deficiente 
 
 
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 19 
ou destituída de VITAMINA C. Em sua viagem, no ano de 1498, Vasco da 
Gama perdeu 55 de seus marinheiros. 
Em 1749 todos afirmavam o valor dos sucos de limão e de laranja. 
Então, em 1753 os britânicos editaram uma famosa ordem para que todos os 
marinheiros recebessem uma provisão de suco de limão. 
 
 
1.2.2.5 Doença dos trabalhadores 
 
 
Em 1700 aparece a primeira citação sobre as enfermidades dos 
trabalhadores. Em virtude de avanços econômicos e tecnológicos os mineiros e 
metalúrgicos estiveram entre os primeiros grupos ocupacionais a merecerem 
estudos. Em 1523 foi impressa a primeira publicação que trata dos riscos de 
um grupo ocupacional: sobre os venenos e maléficos vapores e gases metais, 
como prata, mercúrio, chumbo e outros, que o valioso negócio de ourives 
compele os trabalhadores a usar. 
Em 1567 surgem três livros tratando das doenças pulmonares dos 
mineradores, das moléstias dos funcionários metalúrgicos e das enfermidades 
causadas pelo mercúrio. 
 
 
1.2.2.6 Sífilis 
 
 
Entre as novas doenças dos séculos XVI e XVII sobressaiu-se a sífilis. 
Ela apareceu em Nápoles, de onde se disseminou para o resto do continente. 
 
 1495: Alemanha, França e Suíça. 
 1496: Holanda e Grécia. 
 1497: Inglaterra e Escócia. 
 1499: Hungria e Rússia. 
 
 
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 20 
Algumas medidas de controle tiveram como alvo as prostitutas. O 
bordel era uma instituição aceita e a prostituição uma profissão amplamente 
praticada. Em 1496, Besançon expulsou as prostitutas e os estrangeiros 
acometidos pela doença. Ainda em 1497, Bamberg proibiu os sifilíticos de 
entrarem em hospedarias e igrejas e de manterem quaisquer contatos com 
pessoas sadias. 
Foram criados hospitais para tratamento de sifilíticos. Em 1552, foi 
expedido um alvará que determinava que os sifilíticos deveriam procurar os 
HOSPITAIS DOS INCURABLES. 
 
 As Revoluções ao movimento sanitário (1830-1900) 
 
Segundo Saga (1981), a febre amarela era endêmica, introduzida no 
Rio de Janeiro por um cargueiro norte-americano. A doença acometia a 
população principalmente no verão, quando provocou a morte de 6.500 
pessoas no ano de 1850. No inverno podiam-se observar as doenças como 
varíola (que matou 3566 pessoas no ano de 1904), cólera, peste bubônica, tifo 
e a tuberculose. 
As primeiras medidas sanitárias foram tomadas no governo de Campos 
Sales, em 1899, com a criação do Instituto Manguinhos, destinado à produção 
de vacinas contra a peste bubônica. Para a organização da instituição o 
governo do Rio de Janeiro consultou o Instituto Pasteur de Paris, que indicou o 
brasileiro Osvaldo Gonçalves Cruz – paulista de São Luís do Paratinga – para 
tomar frente aos trabalhos de saneamento da cidade (SAGA, 1981). 
Conforme Polignano (2008), Oswaldo Cruz, nomeado diretor-geral de 
Saúde Pública por Ricardo Alves, se propôs a higienizar a cidade e erradicar a 
epidemia de febre amarela do Rio de Janeiro. 
Para sanear a cidade o diretor-geral de saúde pública organizou uma 
equipe “mata-ratos”, que percorria armazéns, becos, cortiços e hospedarias 
espalhando raticidas e removendo os lixos. Nesta época foi criado o cargo 
comprador de ratos, um funcionário do governo que andava nas ruas do 
centro e interior da cidade, pagando 300 réis por roedores apanhados pela 
 
 
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 21 
população. A partir destas medidas, poucos meses depois, a peste bubônica 
estava sob controle (SAGA, 1981). 
A outra medida tomada por Oswaldo Cruz foi a Campanha para a 
erradicação da febre amarela. Foi criado um exército de 1.500 pessoas que 
passaram a exercer atividades de desinfecção no combate ao mosquito vetor 
da febre amarela. Esta brigada de “mata-mosquitos” vasculhava as casas e 
despejava petróleo nos alagados. A falta de esclarecimento e a prepotência 
dos “guardas-sanitários” causaram revoltas na população (POLIGNANO, 
2008). Mas os rápidos resultados da campanha acalmaram os ânimos. Isto 
pode ser percebido por meio da redução de mortes provocadas pela febre 
amarela, que em 1906 havia baixado para 42, contra 289 casos fatais em 1905 
e 984 em 1902. 
Conforme Polignano (2008), este modelo de intervenção ficou 
conhecido como campanhista e foi concebido dentro de uma visão militar, em 
que os fins justificam os meios, e no qual o uso da força e da autoridade eram 
considerados os instrumentos preferenciais de ação. 
Mas ainda faltava a varíola. E a onda de insatisfação se agravava com 
outra medida de Oswaldo Cruz: a Lei Federal nº 1261, de 31 de outubro de 
1904, que instituiu a vacinação antivariólica obrigatória para todo o território 
nacional. Nesta época corre o boato de que em vez de imunizar a vacina 
provocaria a doença. Surge, então, um grande movimento popular de revolta, 
que ficou conhecido na história como a revolta da vacina. 
Segundo Saga (1981), a imprensa e os positivistas opunham-se à nova 
lei, denunciando seu caráter arbitrário e a violência da privacidade praticada 
pelos “guardas-sanitários”, que vacinavam as pessoas à força. 
Rui Barbosa, em discurso no Senado diz: 
 
Assim como o direito veda ao poder humano invadir-nos a consciência, 
assim lhe veda transpor-nos a epiderme (...), expondo-nos (...), 
obstinadamente, a envenenar-nos com a introdução de um vírus, em cuja 
influência existem os mais fundados receios de que seja o condutor da 
moléstia ou da morte. 
 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 22 
Em 10 de novembro a multidão saiu às ruas para protestar contra a 
vacina obrigatória, tomando dimensões gigantescas. Apesar disso, ao passar o 
poder a seu sucessor, Afonso Pena, em 1906, Rodrigues Alves entregou a 
cidade totalmente saneada e modernizada. O modelo campanhista obteve 
importantes vitórias no controle das doenças epidêmicas, conseguindo 
inclusive erradicar a febre amarela da cidade do Rio de Janeiro, o que 
fortaleceu o modelo proposto e o tornouhegemônico, como proposta de 
intervenção na área da saúde coletiva (SAGA, 1981; POLIGNANO, 2008). 
Neste período Oswaldo Cruz procurou organizar a diretoria geral de 
saúde pública, criando uma seção demográfica, um laboratório bacteriológico, 
um serviço de engenharia sanitária e de profilaxia da febre amarela, a 
inspetoria de isolamento e desinfecção, e o instituto soroterápico federal, 
posteriormente transformado no Instituto Oswaldo Cruz. 
Na reforma promovida por Oswaldo Cruz foram incorporados como 
elementos das ações de saúde: 
 
- o registro demográfico, possibilitando conhecer a composição e os 
fatos vitais de importância da população; 
- a introdução do laboratório como auxiliar do diagnóstico etiológico; 
- a fabricação organizada de produtos profiláticos para uso em massa. 
 
 A era Bacteriológica (1875-1950) 
 
Segundo Lemos e Lima (2002), a partir das últimas décadas do século 
XIX surgiram as pesquisas sobre a etiologia (causas) das doenças infecciosas 
e Pasteur descobriu que as doenças eram causadas exclusivamente por meio 
da penetração e multiplicação de uma bactéria, nada mais do que isto. Os 
conceitos até então utilizados para explicar as causas das endemias na 
espécie humana foram deixados de lado, isto é, a relação entre ser humano e 
meio ambiente deixou de apresentar a importância que vinha assumindo. 
Abandonou-se a velha tradição da escola hipocrática quanto à 
influência do meio físico sobre o homem e sobre as doenças que o afligem. Ela 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 23 
foi relegada a um simples capítulo da história da medicina. Assim nascia a 
denominada era bacteriológica ou pastoriana. 
Com a era bacteriológica a teoria da unicausalidade teve sua grande 
época. Esta teoria baseava-se no conceito de que uma vez identificados os 
agentes vivos específicos de doenças, os chamados agentes etiológicos e os 
seus meios de transmissão, os problemas de prevenção e cura das doenças 
correspondentes estariam resolvidos, esquecendo-se dos demais 
determinantes causais relacionados ao hospedeiro e ao ambiente. 
Entre as décadas de 1930 e 1950 iniciou a crise da teoria da 
unicausalidade e começou a prevalecer o conceito de multicausalidade, que 
considerava que a doença é um processo que ocorre por múltiplas causas. 
Estas causas podem ser agentes ou determinantes de doenças de caráter 
físico, químico, biológico, ambiental, social, econômico, psicológico e cultural. A 
presença ou ausência da doença era, mediante ação efetiva sobre um 
hospedeiro suscetível, um estímulo para iniciar ou perpetuar um processo de 
doença e, com isso, afetar a frequência com que uma patologia ocorre em uma 
população. 
 
 A reviravolta da saúde (1920-1990) 
 
Com o controle das epidemias nas grandes cidades brasileiras o 
modelo campanhista deslocou a sua ação para o campo e para o combate das 
denominadas endemias rural, dada ser a agricultura a atividade hegemônica da 
economia da época. Este modelo de atuação foi amplamente utilizado pela 
Superintendência de Campanhas da Saúde Pública (SUCAM) no combate a 
diversas endemias (Chagas, Esquistossomose e outras), sendo posteriormente 
incorporada à Fundação Nacional de Saúde (POLIGNANO, 2008). 
Segundo Medici (2008), o sistema de saúde brasileiro no século XX 
seguiu a trajetória de países latino-americanos, como México, Chile, Argentina 
e Uruguai. Em 24 de janeiro de 1923 foi aprovada pelo Congresso Nacional a 
Lei Eloi Chaves, marco inicial da previdência social no Brasil. Por meio desta 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 24 
lei foram instituídas as Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAP’s), financiadas 
de forma tripartite, pelos empregados, empresa e governo. 
Ao longo dos Anos 30, com a crise e a revolução liderada por Getúlio 
Vargas, a estrutura das CAP's foi adicionada pela do Instituto de 
Aposentadoria e Pensão (IAP’s), autarquia centralizada no Governo Federal, 
supervisionada pelo Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. Estas 
estruturas, organizadas por ramos de atividade, absorveram a maioria das 
antigas CAP's. Nesta época foram criados, ainda, os institutos de marítimos 
(IAPM), comerciários (IAPC), bancários (IAPB), estiva e transporte de cargas 
(IAPTEC) e industriários (IAPI) (MEDICI, 2008). 
O golpe militar de 1964 e o governo autoritário que se instituiu criaram 
condições propícias para alterar o sistema de previdência social e assistência 
médica até então existente. O processo de unificação previsto em 1960 se 
efetiva em dois de janeiro de 1967, com a implantação do Instituto Nacional 
de Previdência social (INPS), reunindo os seis institutos de aposentadorias e 
pensões, o Serviço de Assistência Médica e Domiciliar de Urgência (SAMDU) e 
a Superintendência dos Serviços de Reabilitação da Previdência Social 
(SOUZA, 2002). 
Conforme Polignano (2008), o Instituto Nacional de Previdência Social 
(INPS), produto da fusão dos IAP’s, sofre a forte influência dos técnicos 
oriundos do maior deles, o IAPI. Estes técnicos, que passam a história 
conhecidos como “os cardeais do IAPI”, de tendências absolutamente 
privatizantes, criam as condições institucionais necessárias ao 
desenvolvimento do “complexo médico-industrial”, característica marcante 
deste período (NICZ, 1982 apud POLIGNANO, 2008). 
Na medida em que todo o trabalhador urbano, com carteira assinada, 
era automaticamente contribuinte e beneficiário do novo sistema, foi grande o 
volume de recursos financeiros capitalizados. O fato do aumento da base de 
contribuição, aliado ao fato do crescimento econômico da década de 70 (o 
chamado milagre econômico), do pequeno percentual de aposentadorias e 
pensões em relação ao total de contribuintes, fez com que o sistema 
acumulasse um grande volume de recursos financeiros. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 25 
Ao unificar o sistema previdenciário, o governo militar se viu na 
obrigação de incorporar os benefícios já instituídos fora das aposentadorias e 
pensões. Um destes era o da assistência médica, que já era oferecido pelos 
vários IAPs, sendo que alguns destes já possuíam serviços e hospitais 
próprios. No entanto, ao aumentar substancialmente o número de contribuintes 
e consequentemente de beneficiários, era impossível ao sistema médico 
previdenciário existente atender a toda essa população. 
Diante deste fato, o governo militar tinha que decidir onde alocar os 
recursos públicos para atender a necessidade de ampliação do sistema, tendo 
ao final optado por direcioná-los para a iniciativa privada. Desta forma, foram 
estabelecidos convênios e contratos com a maioria dos médicos e hospitais 
existentes no país, pagando-se pelos serviços produzidos, o que propiciou a 
estes grupos se capitalizar, provocando um efeito cascata com o aumento no 
consumo de medicamentos e de equipamentos médico-hospitalares, formando 
um complexo sistema médico-industrial. 
Este sistema foi se tornando cada vez mais complexo tanto do ponto 
de vista administrativo quanto financeiro dentro da estrutura do INPS, que 
acabou levando à criação de uma estrutura própria administrativa, o Instituto 
Nacional de Assistência Médica da Previdência Social (INAMPS) em 1978. 
A população com baixos salários, contidos pela política econômica e 
pela repressão, passou a conviver com o desemprego e as suas graves 
consequências sociais, como aumento da marginalidade, das favelas e da 
mortalidade infantil. O modelo de saúde previdenciário começa a mostrar as 
suas mazelas: 
 
- Por ter priorizado a medicina curativa, o modelo proposto foi incapaz 
de solucionar os principais problemas de saúde coletiva, como as endemias, as 
epidemias e os indicadores de saúde (mortalidade infantil, por exemplo); 
- Aumentos constantes dos custos da medicina curativa, centrada na 
atenção médico-hospitalar de complexidade crescente; 
- Diminuição do crescimento econômico com a respectiva repercussão 
na arrecadação do sistema previdenciário,reduzindo as suas receitas; 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 26 
- Incapacidade de o sistema atender a uma população cada vez maior 
de marginalizados, que sem carteira assinada e contribuição previdenciária se 
viam excluídos do sistema; 
- Desvios de verba do sistema previdenciário para cobrir despesas de 
outros setores e para realização de obras por parte do Governo Federal; 
- O não repasse – pela União – de recursos do Tesouro Nacional para 
o sistema previdenciário, visto ser esse tripartite (empregador, empregado, e 
União). 
Devido à escassez de recursos para a sua manutenção, ao aumento 
dos custos operacionais e ao descrédito social em resolver a agenda da saúde, 
o modelo proposto entrou em crise. Na tentativa de conter custos e combater 
fraudes o governo criou, em 1981, o Conselho Consultivo de Administração 
da Saúde Previdenciária (CONASP) ligado ao INAMPS. 
O CONASP passa a absorver em postos de importância alguns 
técnicos ligados ao movimento sanitário, o que dá início à ruptura, por dentro, 
da dominância dos anéis burocráticos previdenciários. O CONASP encontrou 
oposição da Federação Brasileira de Hospitais e de medicina de grupo, que 
viam nesta tentativa a perda da sua hegemonia dentro do sistema e a perda do 
seu status. 
Para se mencionar a forma desses grupos atuarem, basta citar que 
eles opuseram e conseguiram derrotar dentro do governo, com a ajuda de 
parlamentares, um dos projetos mais interessantes de modelo sanitário, que foi 
o Prev-saúde, que depois de seguidas distorções acabou por ser arquivado. 
No entanto, isto não impediu que o CONASP implantasse e apoiasse projetos 
pilotos de novos modelos assistenciais, destacando o PIASS no nordeste. 
Devido ao agravamento da crise financeira o sistema redescobre, 15 
anos depois, a existência do setor público de saúde e a necessidade de se 
investir nesse setor, que trabalhava com um custo menor e atendendo a uma 
grande parcela da população carente de assistência. 
Em 1983 foi criado a AIS (Ações Integradas de Saúde), um projeto 
interministerial (Previdência-Saúde-Educação), visando um novo modelo 
assistencial que incorporava o setor público, procurando integrar ações 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 27 
curativo-preventivas e educativas ao mesmo tempo. Assim, a Previdência 
passa a comprar e pagar serviços prestados por estados, municípios, hospitais 
filantrópicos, públicos e universitários. 
Este período coincidiu com o movimento de transição democrática, 
com eleição direta para governadores e vitória esmagadora de oposição em 
quase todos os estados nas primeiras eleições democráticas deste período 
(1982). Em 1982, o movimento das Diretas Já e a eleição de Tancredo Neves 
marcaram o fim do regime militar, gerando diversos movimentos sociais, 
inclusive na área de saúde, que culminaram com a criação das associações 
dos secretários de saúde estaduais (CONASS) ou municipais (CONASEMS), e 
com a grande mobilização nacional por ocasião da realização da VIII 
Conferência Nacional de Saúde (Congresso Nacional, 1986), a qual lançou as 
bases da reforma sanitária e do Sistema Único Descentralizado de Saúde 
(SUDS). 
A nova Constituição Brasileira é promulgada em 1988, definindo a 
saúde, no artigo 196, como sendo: direito de todos e dever do estado, 
garantida mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do 
risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às 
ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. 
Assim, o modelo médico neoliberal articula-se, onde podemos ressaltar 
que este setor médico privado se beneficiou do modelo médico-privativista, 
durante 15 anos a partir de 64, tendo recebido neste período vultosos recursos 
do setor público e financiamentos subsidiados, cresceu, desenvolveu e 
“engordou”. A partir do momento em que o setor público entrou em crise, o 
setor liberal começou a perceber que não mais poderia manter-se e nutrir-se 
daquele e passou a formular novas alternativas para sua estruturação. 
Direcionou o seu modelo de atenção médica para parcelas da 
população, classe média e categorias de assalariados, procurando por meio da 
poupança desses setores sociais organizar uma nova base estrutural. Deste 
modo foi concebido um subsistema de atenção médica supletiva composta 
de cinco modalidades assistenciais: medicina de grupo, cooperativas médicas, 
autogestão, seguro-saúde e plano de administração. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 28 
Com pequenas diferenças entre si, estas modalidades se baseiam em 
contribuições mensais dos beneficiários, em contrapartida pela prestação de 
determinados serviços. Estes serviços e benefícios eram predeterminados, 
com prazos de carências, além de determinadas exclusões, por exemplo, a não 
cobertura do tratamento de doenças infecciosas. 
O subsistema de atenção médica supletiva cresce vertiginosamente na 
década de 80, de tal modo que no ano de 1989 chega a cobrir 31.140.000 
brasileiros, correspondentes a 22% da população total, e apresenta um volume 
de faturamento de US$ 2.423.500.000,00 (MENDES, 1992 apud POLIGNANO, 
2008). 
Este sistema baseia-se em um universalismo excludente, beneficiando 
e fornecendo atenção médica somente para aquela parcela da população que 
tem condições financeiras de arcar com o sistema, não beneficiando a 
população como um todo e sem a preocupação de investir em saúde 
preventiva e na mudança de indicadores de saúde. 
Enquanto isto, ao subsistema público compete atender a grande 
maioria da população em torno de 120.000.000 de brasileiros, com os 
minguados recursos dos governos federal, estadual e municipal. Em 1990, a 
Lei 8.080, de 19 de setembro de 1990, e a Lei 8.142, de 28 de dezembro de 
1990, conhecidas como Leis Orgânicas da Saúde, regulamentam o Sistema 
Único de Saúde (SUS). A Lei 8.080 estabeleceu a forma de repasse de 
recursos financeiros a serem transferidos para estados e municípios, e que 
deveriam ser baseados nos seguintes critérios: perfil demográfico; perfil 
epidemiológico; rede de serviços instalada; desempenho técnico e 
ressarcimento de serviços prestados. 
A edição das Normas Operacionais Básicas (NOB’s) trata das normas 
operacionais para o funcionamento e operacionalização do SUS, de 
competência do Ministério da Saúde, tendo sido editadas até hoje a NOB-SUS 
01/91, NOB-SUS 01/93, NOB-SUS 01/96. 
 
 
 
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 29 
 
- NOB 01/91: definia o repasse direto e automático de recursos do 
fundo nacional aos fundos estaduais e municipais de saúde, sendo 50% por 
critérios populacionais e os outros 50% segundo o perfil epidemiológico e 
demográfico, a capacidade instalada e a complexidade da rede de serviços de 
saúde, a contrapartida financeira, etc. Redefiniu toda a lógica de financiamento 
e, consequentemente, de organização do SUS, instituindo um sistema de 
pagamento por produção de serviços que permanece vigorando até hoje, em 
grande parte. 
 
- NOB 01/93: criou critérios e categorias diferenciadas, gestão para a 
habilitação dos municípios e, segundo o tipo de gestão implantado (incipiente, 
parcial, semiplena), haveria critérios também diferenciados de formas de 
repasse dos recursos financeiros. 
 
- NOB-SUS 01/96: representa um avanço importante no modelo de 
gestão do SUS, principalmente no que se refere à consolidação da 
municipalização. Revoga os modelos anteriores de gestão propostos nas NOB 
(gestão incipiente, parcial e semiplena) e propõe aos municípios se 
enquadrarem em dois novos modelos: Gestão Plena de Atenção Básica e 
Gestão Plena do Sistema Municipal, conforme pode ser visto no quadro 1 
abaixo: 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 30 
 
QUADRO 1 - MODELOS DE GESTÃO 
GESTÃO PLENA DE ATENÇÃO BÁSICA GESTÃO PLENA DO SISTEMA MUNICIPAL 
Elaboração de programação municipal dos 
serviços básicos, inclusive domiciliares e 
comunitários, e da proposta de referência 
ambulatorial e especializada e hospitalar.Elaboração de programação municipal dos 
serviços básicos, inclusive domiciliares e 
comunitários, e da proposta de referência 
ambulatorial e especializada e hospitalar. 
Gerência de unidades ambulatoriais próprias Gerência de unidades próprias, ambulatoriais 
e hospitalares, inclusive as de referência. 
Gerência das unidades ambulatoriais do 
estado e/ou da União. 
Gerência das unidades ambulatoriais e 
hospitalares do estado e/ou da União. 
Introduzir a prática do cadastramento nacional 
dos usuários do SUS. 
Introduzir a prática do cadastramento nacional 
dos usuários do SUS. 
Prestação dos serviços relacionados aos 
procedimentos cobertos pelo PAB para todos 
os casos de referência interna ou externa ao 
município. 
Prestação dos serviços ambulatoriais e 
hospitalares para todos os casos de referência 
interna ou externa ao município. 
 Normalização e operação de centrais de 
procedimentos ambulatoriais e hospitalares. 
Contratação, controle, auditoria e pagamento 
aos prestadores dos serviços contidos no 
PAB. 
Contratação, controle, auditoria e pagamento 
aos prestadores de serviços ambulatoriais e 
hospitalares. 
Operação do SIA/SUS, conforme normas do 
MS, e alimentação, junto às SES, dos bancos 
de dados de interesse nacional. 
Operação do SIH e do SIA/SUS, conforme 
normas do MS, e alimentação, junto às SES, 
dos bancos de dados de interesse nacional. 
Autoriza AIH e Procedimentos Ambulatoriais 
Especializados. 
Autoriza, fiscaliza e controla as AIH e 
Procedimentos Ambulatoriais Especializados e 
de alto custo. 
Execução de ações de vigilância sanitária e de 
epidemiologia. 
Execução de ações de vigilância sanitária e de 
epidemiologia. 
FONTE: NOB, 1996. 
 
 
Uma das alterações importantes da NOB 96 foi a forma de repasse dos 
recursos financeiros do governo federal para os municípios, que passa a ser 
feito com base em um valor fixo per capita (Piso Assistencial Básico - PAB) e 
não mais vinculado à produção de serviços, o que possibilita aos municípios 
desenvolverem novos modelos de atenção à saúde da população. 
O PAB consiste em um montante de recursos financeiros destinado ao 
custeio de procedimentos e ações de assistência básica, de responsabilidade 
tipicamente municipal. Esse piso é definido pela multiplicação de um valor per 
capita nacional (atualmente) pela população de cada município (fornecida pelo 
IBGE) e transferido regular e automaticamente ao fundo de saúde ou conta 
especial dos municípios. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 31 
Além disso, o município poderá receber incentivos para o 
desenvolvimento de determinadas ações de saúde agregando valor ao PAB. 
As ações de saúde que fornecem incentivos são: Programa de Agentes 
Comunitários de Saúde (PACS); Programa de Saúde da Família (PSF); 
Assistência Farmacêutica Básica; Programa de Combate às Carências 
Nutricionais; Ações Básicas de Vigilância Sanitária; Ações Básicas de 
Vigilância Epidemiológica e Ambiental. 
Em outubro de 1998, Fernando Henrique Cardoso é reeleito para mais 
quatro anos de governo. Tendo em vista a crise econômica vivida pelo Brasil e 
outros países “emergentes”, o governo aumenta ainda mais os juros para 
beneficiar os especuladores internacionais e propõe para o povo um ajuste 
fiscal, prevendo a diminuição de verbas para o orçamento de 1999, inclusive na 
área de saúde. O corte previsto nesta área foi de cerca de R$ 260 milhões. 
Em novembro de 1998 o governo regulamenta a Lei 9.656/98 sobre os 
planos e seguros de saúde, que fora aprovada pelo Congresso Nacional em 
junho daquele ano. Se por um lado houve uma limitação nos abusos cometidos 
pelas empresas, por outro a regulamentação oficializa o universalismo 
excludente, na medida em que cria quatro modelos diferenciados de cobertura 
de serviços, a saber: 
 
 Plano ambulatorial: compreende a cobertura de consultas em 
número ilimitado, exames complementares e outros procedimentos, em nível 
ambulatorial, incluindo atendimentos e procedimentos caracterizados como 
urgência e emergência até as primeiras 12 horas. 
 
 Plano Hospitalar sem obstetrícia: compreende atendimento em 
unidade hospitalar com número ilimitado de diárias, inclusive UTI, transfusões, 
quimioterapia e radioterapia entre outros, necessários durante o período de 
internação. Inclui também os atendimentos caracterizados como de urgência e 
emergência que evoluírem para internação ou que sejam necessários à 
preservação da vida, órgãos ou funções. 
 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 32 
 Plano Hospitalar com obstetrícia: acresce ao Plano Hospitalar 
sem obstetrícia, a cobertura de consultas, exames e procedimentos relativos ao 
pré-natal, à assistência ao parto e ao recém-nascido durante os primeiros 30 
dias de vida. 
 
 Plano odontológico: cobertura de procedimentos odontológicos 
realizados em consultórios. 
 
 Plano referência: representa a somatória dos quatro tipos de plano 
anteriores. 
 
No início de 1999, o país atravessa uma grave crise cambial provocada 
pelos efeitos da globalização e da política econômica do governo. Este procura 
responder mais uma vez com um novo acordo de empréstimo junto ao FMI, e 
no plano interno com uma nova política recessiva, ditada pelo FMI, o que gera 
uma diminuição do PIB e um aumento ainda maior do desemprego no país. 
Em março de 1999 há o aumento da CPMF de 0,20% para 0,38% – 
aquele imposto criado para ser provisório e que deveria ser destinado 
unicamente para a saúde. Este imposto durou até 31 de dezembro de 2007. 
 
 Século XXI 
 
Conforme Poles (2008), no século XXI a batalha da humanidade contra 
os vírus e bactérias na promoção da saúde parecia, para muitos 
pesquisadores, estar próxima do fim. Com os avanços da biologia molecular e 
as pesquisas na área de engenharia genética, alguns cientistas chegaram a 
dizer que as doenças infecciosas seriam derrotadas. Mas a mesma tecnologia 
que avança nas novas descobertas científicas produz um efeito colateral tão 
nocivo quanto conhecido: a agressão ao meio ambiente. A história revela que 
os grandes surtos de doenças infecciosas ressurgem a partir de um quadro de 
desequilíbrio ecológico, que inclui o desmatamento, economia desigual, 
condições de vida inadequadas e políticas de saúde pública equivocadas. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 33 
Assim, podemos dizer que as epidemias são um problema do futuro e 
não apenas do passado. Pois quem poderia imaginar que em pleno século XXI 
teríamos a Pneumonia Asiática (SARS), que matou 800 pessoas no mundo em 
6 meses, segundo o epidemiologista Jarbas Barbosa. 
Nos últimos 25 anos surgiram no mundo em torno de 35 novas 
doenças, todas elas com transmissão favorecida por condições do mundo 
moderno, entre elas: AIDS, SARS, Ebola, etc. E novas patologias poderão 
continuar surgindo nas próximas décadas e a rapidez com que estes micro-
organismos podem se deslocar ao redor do mundo torna cada vez mais 
assustador, pois em 1990, para dar a volta ao mundo levava-se 100 dias, 
atualmente o percurso é feito em 48 horas. 
A classe médica e as autoridades sanitárias estão em alerta quanto ao 
surgimento das chamadas pandemias-epidemias de alcance mundial. E os 
agentes mais propensos a gerar um surto mundial são os vírus transmitidos 
pelo ar, como por exemplo, a Influenza (gripe) e o Coronavírus (SARS). 
 
Pandemia - é uma epidemia de grandes proporções, que se espalha a 
vários países e a mais de um continente. Pode se instalar no mundo em cerca 
de 20 dias. Se o vírus aparecer em uma cidade com aeroportos, em 48 horas 
estará em outros países, portanto, a doença precisa: 
- ser de fácil transmissão (ar); 
- ter um período de incubação que não seja muito curto (até cinco 
dias), de forma que a pessoa infectada não adoeça antes de espalhar o vírus; 
- gerar um grande percentual de pacientes assintomáticos. 
Atualmente podemos visualizar a epidemia de gripe aviária na Ásia. 
Isso devido ao vírus que provoca a doença,o H5N1, causar uma pandemia de 
gripe nos seres humanos. Este micro-organismo ainda não é capaz de passar 
de homem para homem, só se sofrer uma mutação. Até o momento, as 
pessoas doentes foram infectadas por contato com animais. Para os 
epidemiologistas, o fato mais preocupante em relação ao H5N1 é sua 
semelhança com o vírus da gripe espanhola, que entre 1918 e 1919 atingiu 
50% da população mundial e matou mais de 20 milhões de pessoas. 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 34 
A cada 20 ou 30 anos, em média, acontecem surtos provocados por 
vírus mais agressivos. Acredita-se que esse seja o período necessário para 
que um desses micro-organismos sofra uma série de pequenas mutações que 
o transformem em um agente patogênico mais letal. “A questão não é se 
teremos uma nova pandemia, mas quando ela eclodirá”, afirma o médico 
Marco Antônio de Ávila Vitória, do Departamento de HIV/AIDS da Organização 
Mundial de Saúde (OMS). 
Há vírus que vivem sem provocar doenças em certas populações de 
animais e outros que se manifestam de forma endêmica em determinadas 
regiões. Quando esse equilíbrio é quebrado, os agentes patogênicos podem se 
manifestar de forma mais agressiva, provocando as epidemias. O contato das 
pessoas com esses vírus normalmente se dá de duas formas: quando o 
homem vai até seu habitat, em uma floresta, por exemplo, ou quando o animal 
migra para próximo do homem, porque teve seu ambiente natural depredado. 
Vírus como o Ebola e o Coronavírus (Sars) existem há milhões de anos 
e viviam adaptados aos animais. Não se sabe, por exemplo, desde quando 
existe o HIV, o vírus da Aids, que só começou a se propagar entre seres 
humanos nas últimas décadas do século passado. Novos vírus e bactérias não 
surgem do nada, nós é que vamos atrás deles na natureza. 
O grande problema que a sociedade mundial irá enfrentar no século 
XXI são as consequências do desequilíbrio ambiental, que será cobrado pela 
natureza em forma de mais doenças e esse preço não será pago apenas pelos 
doentes, mas por toda a saúde pública. Conforme o relatório do Banco Mundial 
estima-se que o custo global de uma pandemia de gripe pode chegar a US$ 
800 bilhões, o equivalente a 2% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Além 
das mortes, um surto desse tipo prejudicaria seriamente o comércio 
internacional e a economia do planeta. 
As autoridades sanitárias internacionais, cientes dos riscos e possíveis 
perdas econômicas de vários países, já se preparam para conter possíveis 
pandemias que podem aparecer mais cedo ou mais tarde. Os regulamentos 
sanitários que vigoram sem mudanças desde a década de 60 – e só obrigam a 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 35 
notificar a febre amarela, o cólera, a poliomielite, a peste e a varíola – estão 
prestes a ser alterados. 
A lista de moléstias de notificação compulsória será ampliada e deverá 
incluir novas cepas do H5N1. Para casos de gripe, a melhor forma de 
prevenção e controle continua sendo a vacinação em massa. O problema é 
que, após o aparecimento de uma nova cepa de vírus, os laboratórios levam 
seis meses para produzir e testar uma vacina. 
Outro ponto importante é que o controle de qualquer doença infecciosa 
depende das condições socioeconômicas do local onde ela se manifesta e o 
tratamento da água. Mas a conscientização ambiental continua sendo uma das 
principais preocupações da humanidade em relação ao futuro e à saúde 
pública mundial. 
 
 
1.2.3 Diferenciação do Termo Saúde Pública de Saúde Coletiva 
 
 
Muitas têm sido as tentativas de definir a saúde coletiva e diferenciar o 
termo de Saúde Pública. A Saúde Pública é a ciência e a arte de prevenir as 
doenças, de prolongar a vida e melhorar a saúde e a eficiência mental e física 
dos indivíduos, por meio da intervenção técnica e política do Estado na 
assistência, que irá intervir no processo saúde-doença, quebrando sua cadeia 
causal mediante o tratamento e a reabilitação do indivíduo doente, ou evitando 
seus riscos e danos por intermédio da prevenção e promoção da saúde, além 
do controle dos sadios, com base no conhecimento científico, ancorado nas 
técnicas de investigação empíricas, voltadas tanto para o individual (ações 
preventivas e de promoção à saúde com atividades de assistência médica e 
reabilitação), como para o coletivo (por intermédio de ações governamentais 
das políticas de saúde dirigidas ao coletivo) (MATUMOTO et al., 2001 apud 
PIRES FILHO, 1987; FERREIRA, 1975). 
Essas ações são denominadas no nosso cotidiano de programas que 
se ocupam de alguns grupos de risco, tais como, crianças, gestantes, mulheres 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 36 
e idosos, ou para grupos acometidos por algum dano, tais como os 
hipertensos, as pessoas com tuberculose, com hanseníase, com diabetes, 
portadores do vírus HIV ou com AIDS. 
As ações de assistência médica individual configuram um instrumento 
para intervir na cadeia causal da doença em um determinado momento ou 
circunstância, que se enquadra segundo um risco ou dano dentro do processo 
saúde-doença, ou seja, como nas atividades de pronto atendimento. 
Quanto às ações dirigidas ao coletivo, podemos citar as tradicionais 
campanhas de vacinação ou as ações de controle de doenças, como a dengue, 
o cólera, ou as ações de educação em saúde. Nesse “coletivo” o homem é um 
ser “em geral”, ou seja, uma coleção de indivíduos para o qual se dirige a ação 
frente ao risco ou dano comum a eles. 
As intervenções em saúde também sempre serão as mesmas, não 
considerando as relações da vida cotidiana entre os homens, ou seja, seus 
afetos, medos, incertezas, a sexualidade e outros, que a saúde coletiva tenta 
abordar (MATUMOTO et al., 2001). Por exemplo, todo conhecimento produzido 
a respeito da forma de transmissão da AIDS poderia, em tese, já tê-la colocado 
sob controle por meio do uso de camisinhas e do não compartilhamento de 
seringas. Porém, os medos, as incertezas e a sexualidade ainda interferem no 
controle da doença. 
Esta outra aproximação para a compreensão do coletivo significa 
apreendê-lo enquanto campo estruturado de prática social, “que como 
totalidade se tornaria ponto de partida para a compreensão e estruturação das 
práticas sanitárias”. Dizer isto significa reconhecer outra concepção de homem, 
o homem como um ser social, em constante relação com outros homens e com 
seu meio, transformando-o e sendo transformado por ele, isto é, um 
protagonista da ação de saúde que se constrói. Este homem é, ao mesmo 
tempo, sujeito, ator social, protagonista e objeto da ação, aquele que se 
submeterá às intervenções. 
Assim, nasce no Brasil o termo Saúde Coletiva – que está hoje 
presente na agenda acadêmica e política de países da América Latina, do 
Caribe e da África. Trata-se de uma forma de abordar as relações entre 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 37 
conhecimentos, práticas e direitos referentes à qualidade de vida. Em lugar das 
tradicionais dicotomias – saúde pública/assistência médica, medicina 
curativa/medicina preventiva, e mesmo indivíduo/sociedade busca-se uma 
nova compreensão, na qual a perspectiva interdisciplinar e o debate político em 
torno de temas como universalidade, equidade, democracia, cidadania e, mais 
recentemente, subjetividade, emergem como questões principais. 
Foi em torno desses temas e do desafio de formar profissionais atentos 
à corrente de novas ideias sobre os problemas de saúde – alguns antigos, 
outros produtos de mudanças recentes nos campos biomédicos, político e 
social –, que se organizou, em 1979, a Associação Brasileira de Pós-
Graduação em Saúde Coletiva (ABRASCO) (LIMA; SANTANA, 2006). 
Logo, Saúde Coletiva pode ser entendida como: 
 
Uma ciência histórico-social, percebendo que as características dos 
seres humanos (doentes ou não) são, sobretudo, um produto de 
forças sociais mais profundas, ligadas a uma totalidade econômico-
social que é preciso conhecer e compreender paraexplicarem-se 
adequadamente os fenômenos de saúde e de doença com os quais 
ela se defronta (PEREIRA, 1986 apud MATUMOTO et al., 2001). 
 
Na Saúde Coletiva, o objeto não é mais o corpo biológico, mas os 
corpos sociais. O conceito saúde-doença da saúde coletiva tem base na 
determinação social do processo saúde-doença, diferente da saúde pública, 
que se baseia na causalidade. Logo, a saúde coletiva: 
 
É um campo de práticas diversas socialmente determinadas, que se 
apoiam em diferentes disciplinas científicas interdisciplinares com o 
desafio de compreender e interpretar os determinantes da produção 
social das doenças e da organização social dos serviços de saúde, 
fundamentando-se na interdisciplinaridade como possibilitadora da 
construção de um conhecimento ampliado da saúde e na 
multiprofissionalidade como forma de enfrentar a diversidade interna 
ao saber/fazer das práticas sanitárias” (NUNES, 1994 apud 
MATUMOTO et al., 2001). 
 
A construção dessa interdisciplinaridade dentro da equipe de saúde 
vai-se dando na identificação e respeito pelo núcleo de competência e 
responsabilidade de cada profissional, aquilo que é específico em termos de 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 38 
saberes e responsabilidades e pelo campo de competência e responsabilidade 
comuns a todos os trabalhadores de saúde (CAMPOS, 2006). 
Conforme Campos et al. (2006), o campo da Saúde Coletiva é extenso 
e diversificado, reflete a própria concepção ampliada de saúde em suas 
inúmeras interfaces, embasada em três grandes formações disciplinares: as 
ciências sociais e humanas, a epidemiologia e a política e o planejamento. 
Assim, a presença da ciência social e humana (Antropologia, 
Sociologia, Economia, Política, História, Filosofia, Ética, Estética) é 
considerada como fundamental para a compreensão dos processos da vida, do 
trabalho, do adoecimento e da morte, assim como dos cuidados aos doentes e 
pacientes e das relações profissionais. 
Em relação à epidemiologia, como campo de investigação científica, 
desenvolve-se a partir do século XIX, quando o médico inglês John Snow 
estabeleceu os fundamentos da moderna epidemiologia ao estudar a cólera em 
Londres. A partir desses estudos podem-se compreender as relações agente 
infeccioso, hospedeiro e ambiente, no sentido de saber as causas das doenças 
em grupos de pessoas. 
Sobre política e planejamento são apenas algumas primeiras 
aproximações. Estas fazem parte das ferramentas para organização das ações 
de promoção de saúde. 
 
 
1.3 SEÇÃO 3 – SUS, OS MODELOS DE ATENÇÃO, AS PRÁTICAS 
ASSISTENCIAIS EM SAÚDE NO BRASIL 
 
 
1.3.1 Caracterização do Brasil: uma Sociedade em Transição 
 
 
Segundo o Ministério da Saúde, por intermédio de seu livro “Saúde 
Brasil 2006: uma análise da desigualdade em saúde demonstra alguns dados 
secundários disponíveis nos sistemas de informação do SUS, que possibilita 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 39 
informar os aspectos da sociedade brasileira no ponto de vida da saúde” 
(BRASIL, 2006), o contexto social e demográfico brasileiro assim se 
caracteriza: 
 
- População brasileira: 186.770.613 habitantes (ano 2006); 
- Municípios: 5.564; 
- Distribuição da população nos municípios: 72% com 20 mil 
habitantes e somente 7,5% com mais de 100 mil. 
- Distribuição por Regiões: 
 Municípios com até 20 mil habitantes – Nordeste, Sul; 
 Municípios com mais de 100 mil habitantes - Sudeste. 
 
 
1.3.2 Transição Demográfica 
 
 
A importante contribuição à transição demográfica do Brasil foi 
resultante da queda da mortalidade a partir da década de 40 e, na década de 
60, da acentuada queda na fecundidade: 
 
 1940-1960 – 6,2 filhos por mulheres; 
 1970 – 5,8 filhos por mulheres; 
 1970-1980 – 4,4 filhos por mulheres; 
 2000 - 2,4 filhos por mulheres. 
 
 
1.3.3 Evolução da Composição Etária do Brasil 
 
 
As mudanças rápidas na composição etária evidenciam o 
envelhecimento populacional acelerado. Segundo dados do IBGE, entre 1980-
2000: 
 
 
 AN02FREV001/REV 4.0 
 40 
 Menores de 15 anos - 38,2% para 29,6%; 
 Entre 15-64 anos – 57,7 para 64,4% na população; 
 Com mais de 65 anos – 6,1% para 8,6% na população. 
 
O grupo de 0 a 5 anos tem mostrado uma redução no seu ritmo de 
crescimento. Em 1981 a proporção era de seis idosos para cada 12 crianças. 
Em 2004 passou de seis idosos para cada cinco crianças. 
 
 
1.3.4 Indicadores Sociais e a Evolução do IDH e Desigualdade Cor/Raça 
 
 
O índice de desenvolvimento humano (IDH) tem melhorado nos últimos 
anos. Em 1990 era 0,713 e passou em 2003 para 0,792. 
As desigualdades regionais e de raça/cor ainda persistem: 
 
 População branca – IDH-M de 0,814 (municipal); 
 População negra – IDH-M de 0,703(municipal). 
 
O Brasil ocupa a 64a posição no ranking dos países. Se o IDH fosse 
medido somente na população de raça branca o país ocuparia a 44a posição no 
ranking mundial. O IDH da raça negra cresceu mais do que a da raça branca. 
As diferenças estão baseadas no acesso desigual à educação. 
 
 
1.3.4.1 Educação 
 
 
População com mais de 10 anos de idade – média de seis anos de 
estudo (2000). 
- Taxa de analfabetismo: 
 Maiores de 15 anos – 11,4% (2004); 
 
 
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 41 
 Mulheres – 11,4%; 
 Homens – 11,6%; 
 População rural – 25,8%; 
 População urbana – 8,7%. 
 
 
1.3.4.2 Abastecimento de água 
 
 
- População urbana = 91,3% (2002) com acesso à água por rede 
geral; 
- População rural = 22,7% (2002) com acesso à água por rede geral; 
- A qualidade da água distribuída é precária em muitas localidades do 
país por causa de problemas na distribuição ou deficiência no 
tratamento. 
 
 
1.3.4.3 Serviços de saúde 
 
 
- 113.033 estabelecimentos de saúde cadastrados (2006): 
 2.547 (2.3%) – são do tipo Vigilância, centro de regulação de 
serviços de saúde ou Cooperativas; 
 110.486 (97.7%) – prestam atendimento à população (seja clínico ou 
de distribuição de medicamentos). 
- A média de estabelecimentos de saúde por habitantes é de 5.9 para 
cada 10mil habitantes: 
 66,1% - Estabelecimentos de saúde de atenção básica; 
 32,6% - Média complexidade; 
 1,3% - Alta complexidade. 
- A esfera administrativa da maior parte dos estabelecimentos de 
saúde é a privada: 
 
 
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 42 
 56% (61.614) são privados e 22% (13.856) prestam serviços para o 
SUS; 
 43% (47.758) são estabelecimentos privados não-SUS. 
 
 
1.3.4.4 Mortalidade 
 
 
- Segundo a causa: 
 
 Infecciosas e parasitárias – 5,3%; 
 Neoplasias – 16%; 
 Doenças endócrinas, nutricionais e metabólicas – 6,1%; 
 Doenças do Sistema Nervoso - 1,7%; 
 Doenças do Sistema Cardiovascular – 32,5%; 
 Doenças do sistema respiratório – 11,6%; 
 Doenças do sistema digestório – 5,5%; 
 Doenças geniturinárias – 1,9%; 
 Doenças originadas no período perinatal – 3,5%; 
 Má formação congênita – 1,2%; 
 Causas externas – 14,5%. 
 
- Segundo o sexo 
 
HOMENS 
- Doenças cardiovasculares: 28,2% em homens com menos de 60 
anos; 
- Neoplasias: 40% dos óbitos ocorrem em pessoas com 70 anos ou 
mais. A proporção de homens que morrem antes dos 50 anos é de 
15,7%; 
- Causas externas: maior proporção entre 15-39 anos é de 62,3%. 
 
 
 
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 43 
MULHERES 
- Doenças cardiovasculares: 20,4% em mulheres com menos de 60 
anos e 35% em mulheres após 80 anos; 
- Neoplasias: 40% dos óbitos ocorrem em pessoas com 70 anos ou 
mais. Enquanto 20,9% dos óbitos ocorrem antes dos 50 anos; 
- Causas externas: maior proporção entre os menores de 15 anos: 
13%. 
 
 
1.3.4.5 Nascimentos (nascidos vivos) 
 
 
- O Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc) registrou em 
2004 um total de 3.026.548 nascidos vivos; 
- Destes, 83.970 (2,8%) das mães não referiram nenhuma consulta de 
pré-natal e 1.573.183 (52%) reportaram ter recebido sete ou mais consultas; 
- Em 2000, elas representavam46% do total. Considerando os dados, 
nota-se um aumento do percentual de mães que mencionaram ter sete ou mais 
consultas; 
- A diferença do número total de nascidos vivos de 2000 para 2004 foi 
de 180.213 nascimentos, representando um decréscimo de 5,6% nesse 
período. 
 
 
 
 
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 44 
 
1.3.4.6 Mortalidade infantil 
 
 
- Entre 2000 e 2004, os óbitos de menores de um ano passaram de 
68.199 para 54.183; 
- A taxa de mortalidade infantil no Brasil passou de 26,81/1.000 
nascidos vivos em 2000 para 22,6/1.000 nascidos para 2004, o que 
representou uma redução de 15,7 no período; 
- A maior redução foi verificada na região nordestina, que passou de 
41,4 para 33,9 por mil nascidos vivos. Entre 1996 e 2004, a redução na taxa de 
mortalidade infantil foi de 32%, chegando a 40% no Ceará. 
- As principais causas da mortalidade infantil são: 
 
 Doenças infecciosas; 
 Afecções originadas no período perinatal; 
 Má formação congênita; 
 Doenças do aparelho respiratório. 
 
- Dentre as principais causas, o grupo com maior volume de óbitos no 
período analisado no Brasil é das afecções geradas no período perinatal, que 
em 2004 apresentou 30.900, ou seja, 57% relativos a menores de 1 ano; 
- Dos 54.183 óbitos de menores de 1 ano ocorridos em 2004, 41% 
(22.329) eram da raça/cor branca, 33% (18.030) pardos e 2,8% (1.499) da 
raça/cor preta. Amarelos e indígenas totalizaram 626 (1,16). Os não informados 
representam 21,6%. 
 
 
 
 
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 45 
 
1.4 O SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS) 
 
 
O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado pela Constituição Federal 
de 1988 e regulamentado pela Lei nº 8.080/90 (Lei Orgânica da Saúde) e a 
Lei nº 8.142/90. Sua finalidade é alterar a situação de desigualdade na 
assistência à saúde da população, tornando obrigatório o atendimento público 
a qualquer cidadão, sendo proibidas cobranças de dinheiro sob qualquer 
pretexto. 
Este modelo de saúde está voltado para as necessidades da 
população, procurando resgatar o compromisso do estado para com o bem-
estar social, especialmente no que refere à saúde coletiva, consolidando-o 
como um dos direitos da cidadania. Segundo Souza (2002) e Storpitis et al. 
(2008), o SUS é um dos maiores sistemas de saúde do mundo, sendo o único 
a garantir assistência integral e completamente gratuita para a totalidade da 
população, isto é, cerca de 180 milhões de pessoas, uma população superior 
à soma dos habitantes da Alemanha, França e Grã-Bretanha, sendo, 
portanto, uma das maiores estruturas públicas existentes do mundo. 
Os 38 milhões de brasileiros que possuem plano privado de saúde 
também são cobertos pelo SUS. Os atendimentos a assistência à saúde 
incluem desde pacientes portadores do HIV, sintomáticos ou não, a pacientes 
renais crônicos e com câncer. A rede ambulatorial do SUS é constituída por 
56.642 unidades, sendo realizados, em média, 350 milhões de atendimentos 
ao ano. Esta assistência estende-se da atenção básica até os atendimentos 
ambulatoriais de alta complexidade. 
Segundo Brasil (2003), os princípios doutrinários do SUS são: 
 Universalidade: o acesso às ações e serviços deve ser garantido a 
todas as pessoas, independentemente de sexo, raça, renda, ocupação ou 
outras características sociais ou pessoais; 
 Equidade: é um princípio de justiça social que garante a igualdade 
da assistência à saúde, sem preconceitos ou privilégios de qualquer espécie. A 
 
 
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 46 
rede de serviços deve estar atenta às necessidades reais da população a ser 
atendida; 
 Integralidade: significa considerar a pessoa como um todo, 
devendo as ações de saúde procurar atender a todas as suas necessidades. 
 
Dentre os princípios organizativos podemos citar: 
 Hierarquização: conjunto articulado e contínuo das ações e 
serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada 
caso em todos os níveis de complexidade do sistema; referência e 
contrarreferência; 
 Participação popular: dos processos decisórios, consolidado na 
participação dos usuários dos serviços de saúde nos chamados Conselhos 
Municipais de Saúde; 
 Descentralização político-administrativa: consolidada com a 
municipalização das ações de saúde, tornando o município gestor 
administrativo e financeiro do SUS. 
Os objetivos e as atribuições do SUS são: 
 Identificação e divulgação dos fatores condicionantes e 
determinantes da saúde; 
 Formular as políticas de saúde; 
 Fornecer assistência às pessoas por intermédio de ações de 
promoção, proteção e recuperação da saúde, com a realização 
integrada das ações assistenciais e das atividades preventivas; 
 Executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica; 
 Executar ações visando a saúde do trabalhador; 
 Participar na formulação da política e na execução de ações de 
saneamento básico; 
 Participar da formulação da política de recursos humanos para a 
saúde; 
 Realizar atividades de vigilância nutricional e de orientação 
alimentar; 
 Participar das ações direcionadas ao meio ambiente; 
 
 
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 Formular políticas referentes a medicamentos, equipamentos, 
imunobiológicos e outros insumos de interesse para a saúde e a 
participação na sua produção; 
 Controle e fiscalização de serviços, produtos e substâncias de 
interesse para a saúde; 
 Fiscalização e inspeção de alimentos, água e bebidas para consumo 
humano; 
 Participação no controle e fiscalização de produtos psicoativos, 
tóxicos e radioativos; 
 Incremento do desenvolvimento científico e tecnológico na área da 
saúde; 
 Formulação e execução da política de sangue e de seus derivados. 
 
O financiamento do SUS é uma responsabilidade comum dos três 
níveis de governo. Os recursos federais correspondem a mais de 70% do total 
e vêm sendo repassado a estados e municípios, por transferência direta do 
Fundo Nacional de Saúde aos fundos municipais e estaduais, conforme o 
decreto 1.232, de 30 de agosto de 1994. 
A consolidação do SUS é uma corresponsabilidade dos três entes 
federados (União, Estados e Municípios): 
Gestor Federal: Formular, normatizar e avaliar a implementação da 
Política Nacional de Saúde e cooperar técnica e financeiramente com estados, 
Distrito Federal e municípios para o aperfeiçoamento da atuação institucional; 
Gestor Estadual: Formular, coordenar e avaliar a execução da Política 
Estadual de Saúde e cooperar técnica e financeiramente com todos os 
municípios; 
Gestor Municipal: Formular, avaliar e executar a Política Municipal de 
Saúde. 
Os gastos públicos com ações e serviços no Brasil em 2000, por parte 
do Governo Federal, Estadual e Municipal, podem ser estimados em 34 bilhões 
de reais. As principais fontes de financiamento do MS são das contribuições 
 
 
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sociais, responsável por 75% do total. Os recursos provenientes de impostos 
(Recursos ordinários do Tesouro) participam de 14%, ou seja: 
- Contribuições sobre financiamentos (CONFINS): Lei 
Complementar n° 70/91 – 3% sobre as receitas das pessoas jurídicas (2001 – 
responderam com 38,9% dos recursos MS); 
- Contribuição Provisória sobre movimentação ou transmissão de 
valores, créditos e direitos de natureza financeira (CPMF): Emenda 
constitucional 37 – 0,38% sobre as movimentações financeiras (28% dos 
recursos MS); 
- Contribuição social sobre o Lucro Líquido (CSLL): incide sobre os 
lucros das empresas, com uma alíquota de 9% sobre o lucro ou 12% do 
faturamento no caso de lucro presumido (7% do recurso MS); 
- Seguro obrigatório de danos causados por veículos automotores 
de vias terrestres (DPVAT): Lei 6.194/74 – As companhias seguradoras 
devem passar 50% do valor do prêmio recolhido ao SUS dos vitimados em 
acidentes de trânsito. 
 
 
1.5 OS MODELOS DE ATENÇÃO 
 
 
Conforme Storpirtis et al. (2008), o SUS é estruturado em três níveis de 
atenção

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