Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE CONCEITOS BÁSICOS DE FARMACOLOGIA CLÍNICA Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE CONCEITOS BÁSICOS DE FARMACOLOGIA CLÍNICA Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 2 FARMACOLOGIA CLÍNICA 2.1 CONCEITOS IMPORTANTES 3 FARMACOTERAPIA 3.1 FARMACOCINÉTICA CLÍNICA 3.1.1 Depuração 3.1.2 Volume de Distribuição 3.1.3 Tempo de meia-vida 3.1.4 Biodisponibilidade 3.2 FARMACODINÂMICA 4 CONSIDERAÇÕES FARMACOCINÉTICAS E FARMACODINÂMICAS NA TERAPÊUTICA REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 4.0 4 1 INTRODUÇÃO Neste material serão abordados conceitos e princípios da farmacocinética clínica, da farmacovigilância, da pesquisa clínica e da farmacoterapêutica nas principais patologias, enfatizando os principais esquemas terapêuticos, a farmacodinâmica dos fármacos, assim como suas propriedades farmacocinéticas, seus efeitos colaterais e suas contraindicações. A Farmacologia pode ser definida como o estudo dos efeitos das substâncias químicas sobre a função dos sistemas biológicos. Como ciência, a farmacologia surgiu em meados do século XIX, constituindo uma das numerosas e novas ciências biomédicas baseadas mais em princípios de experimentação do que em dogma, que surgiram nesse notável período. Antes desse surgimento, a civilização utilizou amplamente remédios à base de ervas, como redigido nas farmacopeias, florescendo a profissão de boticário, porém nada formava princípios científicos aplicados à terapêutica. A necessidade de melhorar a qualidade da intervenção terapêutica dos médicos, baseadas nas observações clínicas e em seus diagnósticos, e que se mostrava incompetente quando se tratava da terapia, assim iniciou-se a farmacologia. Entretanto, o seu estabelecimento como ciência só foi possível após a construção de bases de fisiologia, patologia e química. Em seus primórdios, antes do advento da química orgânica sintética, a farmacologia ocupava-se exclusivamente com a compreensão dos efeitos das substâncias naturais, principalmente extratos vegetais. Um avanço significativo na química de isolamento de compostos ativos presentes em plantas foi a purificação da morfina a partir do ópio (Papaver sominiferum) pelo botânico alemão Friedrich Sertürner, em 1805. Outras substâncias formaram rapidamente descobertas, embora suas estruturas ainda permanecessem desconhecidas, esses compostos mostravam que as substâncias químicas eram responsáveis pelos efeitos produzidos por extratos vegetais sobre os organismos vivos, e não forças vitais ou mágicas como se acreditavam. AN02FREV001/REV 4.0 5 Os primeiros farmacologistas dedicaram a atenção em substâncias derivadas de plantas, como quinina, atropina, efedrina, estricnina e outras. No início do século XIX, o avanço da química sintética revolucionou a indústria farmacêutica e, com ela, a ciência da farmacologia. Novos agentes sintéticos, como os barbitúricos e os anestésicos locais, começaram a aparecer, assim como a era da quimioterapia antimicrobiana, em 1909. Paralelamente a esse avanço, a fisiologia estava fazendo um rápido progresso, com a descoberta de neurotransmissores, hormônios e mediadores inflamatórios e a tentativa de se explicar a atuação desses nas funções biológicas. A bioquímica também emergiu como ciência distinta no início do século XX, e a descoberta de enzimas e elucidação das vias bioquímicas proporcionaram outra base para a compreensão dos efeitos dos fármacos. Atualmente, a medicina baseia-se em grande parte em fármacos como principal instrumento da terapia. FIGURA 01 – O DESENVOLVIMENTO DA FARMACOLOGIA FONTE: Rang & Dale, 2004. AN02FREV001/REV 4.0 6 A farmacologia não se apresenta hoje como uma ciência isolada, encontram- se diversos compartimentos que constituem subdivisões convenientes, como: Farmacocinética; Farmacologia Bioquímica; Farmacologia Molecular; Farmacologia dos Sistemas; Quimioterapia; Farmacogenômica; Farmacogenética; Farmacoepidemiologia; Farmacoeconomia. 2 FARMACOLOGIA CLÍNICA Ramo da farmacologia que estuda os fármacos e suas aplicações clínicas. Consideram os efeitos dos fármacos descobertos em laboratórios de pesquisa e desenvolvimento, sobre o aspecto clínico e suas consequências a respeito da saúde da população, proporcionando maior segurança e racionalidade às prescrições de medicamentos. 2.1 CONCEITOS IMPORTANTES Fármaco: substância definida, com propriedades ativas, produzindo efeito terapêutico. Pró-fármaco: molécula sem atividade farmacológica que se transforma em molécula farmacologicamente ativa após biotransformação. Ex.: enalapril. AN02FREV001/REV 4.0 7 Droga: qualquer substância capaz de interagir com o organismo produzindo algum efeito. Medicamento: produto farmacêutico, tecnicamente obtido ou elaborado, com finalidade profilática, curativa, paliativa ou para fins de diagnóstico (Portaria 344/98 – Anvisa). Remédio (re = novamente; medior = curar): substância animal, vegetal, mineral ou sintética; procedimento (ginástica, massagem, acupuntura e banhos); fé ou crença; influência: usados com intenção benéfica. Placebo (placeo = agradar): substância sob a forma de medicamento, mas não é medicamento. Administrado com a finalidade de causar um efeito sugestivo. - Placebo inerte: amido, açúcar e solução fisiológica. - Placebo ativo: fármaco em dose subterapêutica. - Placebo negativo (nocebo): causa reação adversa ao medicamento. O placebo é utilizado na exclusão, na sugestão durante a avaliação de fármacos e no tratamento de pacientes ansiosos, maníacos e psicóticos. O efeito placebo consiste em um conjunto de fatores não farmacológicos que influenciam o efeito terapêutico. 3 FARMACOTERAPIA 3.1 FARMACOCINÉTICA CLÍNICA Ramo da Farmacologia que estuda o movimento dos fármacos no organismo considerando os processos de absorção, distribuição, biotransformação e excreção dos fármacos. A farmacocinética clínica relaciona os efeitos farmacológicos de um AN02FREV001/REV 4.0 8 fármaco a uma concentração alcançável do fármaco no sangue ou no plasma, traçando assim, uma relação quantitativa entre a dose e o efeito, como uma estrutura para interpretar as dosagens das concentrações de fármacos nos líquidos orgânicos. A importância da farmacocinética no atendimento do paciente se baseia na melhora da eficácia terapêutica que pode ser obtida pela aplicação de seus princípios ao escolher e modificar a posologia. As variáveis fisiológicas e fisiopatológicas determinam o ajuste da dose para cada paciente em função dos parâmetros farmacocinéticos, como a depuração, o volume de distribuição, o tempo de meia-vida de eliminação e a biodisponibilidade. 3.1.1 Depuração É o conceito mais importante ao se planejar um esquema racional para a administração prolongada de fármacos. Em um regime terapêutico deseja-se manter concentrações estáveis de fármacos em uma janela terapêutica segura, ou seja, associada à uma eficácia terapêutica e a uma toxicidade mínima. Essa estabilidade será alcançada quando a taxa de eliminação do fármaco for igual à taxade administração do fármaco: velocidade da dose = CL x Css Em que CL é a depuração da circulação sistêmica e Css é a concentração estável do fármaco. Se a concentração estável do fármaco no sangue ou no plasma for conhecida, o que irá ditar a taxa na qual o fármaco deve ser administrado, será a taxa de depuração do fármaco pelo paciente. A depuração é um conceito extremamente útil na farmacocinética clínica, em razão do seu valor ser constante para um determinado fármaco, na faixa de concentração utilizada na clínica. Os princípios de depuração são semelhantes àqueles da fisiologia renal, como a depuração de creatinina que é definida como a taxa de eliminação da creatinina na urina relativa à sua concentração plasmática. Traçando um paralelo, a depuração de um fármaco é sua taxa de eliminação por AN02FREV001/REV 4.0 9 todas as vias reguladas pela concentração do fármaco (C) em algum líquido corporal: CL = taxa de eliminação / C Dessa forma, quando a depuração é constante, a taxa de eliminação do fármaco é diretamente proporcional à concentração do mesmo. A depuração indica o quanto de volume de líquido biológico (plasma ou sangue) que deverá ser completamente removido para ser eliminado. Assim, é expressa em volume por unidade de tempo. A eliminação dos fármacos ocorre como resultado dos processos renais, hepáticos ou em outros órgãos. Outra importância na definição de depuração, é a compreensão dos efeitos das variáveis patológicas e fisiológicas na eliminação dos fármacos, particularmente no que diz respeito a um determinado órgão. 3.1.2 Volume de Distribuição O volume é o segundo parâmetro útil ao considerar os processos de distribuição dos fármacos. O volume de distribuição relaciona a quantidade de fármaco no corpo com a concentração de fármaco no sangue ou plasma (C), dependendo do líquido dosado. Esse volume necessariamente não se refere a um volume identificado, mas considerado como volume hipotético de fluido no qual o fármaco deve se dissolver, a fim de atingir a mesma concentração em que se encontra no plasma. V= quantidade de fármaco no corpo/ C O volume de distribuição de um fármaco, portanto, reflete a extensão em que ele está presente nos tecidos extravasculares. Pode variar amplamente, dependendo dos graus relativos de ligação às proteínas plasmáticas e teciduais, do coeficiente de partição lipídica do fármaco. Alguns fármacos têm seu volume de distribuição alterados em função da idade, do sexo, do peso corporal do paciente, da hemodinâmica e da presença de doença. AN02FREV001/REV 4.0 10 3.1.3 Tempo de meia-vida É o tempo necessário para as concentrações plasmáticas ou a quantidade de fármaco no corpo serem reduzidas em 50%. O tempo de meia-vida pode ser rapidamente determinado e utilizado para tomar decisões sobre a posologia. Observa-se que esse parâmetro se altera em função tanto da depuração, como do volume de distribuição. Uma relação aproximada útil entre o tempo de meia-vida com relevância clínica, a depuração e o volume de distribuição em estado de equilíbrio (Vss) é dada por: t ½ = 0,693 x Vss/ CL A depuração como visto anteriormente, é a medida da capacidade corporal de eliminar um fármaco, era de se esperar que à medida que a depuração diminui, devido a um processo patológico, o tempo de meia-vida aumentasse. Entretanto, na prática clínica observa-se que esse fato só ocorre quando a patologia não altera o volume de distribuição. Por exemplo, o tempo de meia-vida do diazepam aumenta com a idade, todavia, não é a sua depuração que se altera em função da idade, mas o volume de distribuição. Embora não possa ser utilizado isoladamente como indicador para avaliar a eliminação de fármacos, o tempo de meia-vida fornece um indicação do tempo necessário para alcançar o estado de equilíbrio após o início ou a alteração de um esquema posológico (ex. quatro tempos de meias-vidas para obter aproximadamente 94% de um novo estado de equilíbrio), o tempo de remoção de um fármaco do corpo e meios de avaliar o intervalo adequado entre as doses. 3.1.4 Biodisponibilidade Consiste na velocidade e na extensão de absorção de um fármaco a partir de uma forma de administração. A fração de biodisponibilidade é a fração da dose administrada que chega inalterada à circulação sistêmica, sendo considerada para via intravenosa igual a 100% e para outras vias de administração menor que 100%. AN02FREV001/REV 4.0 11 Quando os fármacos são administrados por uma via sujeita a perda por efeito de primeira passagem*, a velocidade da dose e a dose sofrem alteração. Dessa forma: F x velocidade da dose = CL x Css Onde a velocidade da dose deve ser corrigida pela fração de biodisponibilidade. Após a administração de uma dose de um fármaco, seus efeitos mostram um padrão característico como representado no gráfico concentração versus tempo da figura 2, em que o início de ação do fármaco é precedido por um período de atraso, seguido de amplitude do efeito que cresce até alcançar o máximo do efeito e depois declínio. Caso não seja administrado outra dose, o efeito do fármaco desaparecerá. Tal evolução temporal reflete o que foi descrito anteriormente, as propriedades farmacocinéticas de cada fármaco, sua absorção, sua distribuição e sua eliminação. AN02FREV001/REV 4.0 12 FIGURA 02 - PRINCÍPIO DO PLATÔ DE ACÚMULO DO FÁRMACO COM DOSES ORAIS REPETIDAS A área inferior sombreada representa a administração intravenosa. A área superior alcançada após alcance do platô da concentração plasmática. FONTE: KD Tripathi, 2006. A intensidade do efeito de um fármaco está relacionada com sua concentração acima de uma concentração mínima eficaz, enquanto que a duração desse efeito é um reflexo da extesão de tempo, no qual o nível do fármaco está acima desse valor. Tais considerações se aplicam tanto aos efeitos terapêuticos desejados, como os efeitos adversos dos fármacos. Dessa forma, cada fármaco possui uma faixa terapêutica de concentração eficaz sem toxicidade inaceitável, relação essa denominada janela terapêutica. O índice terapêutico constitui uma medida da margem de segurança de um fármaco. É expressa numericamente como uma relação entre a dose do fármaco capaz de causar letalidade (dose letal 50) em 50 % da população e a dose que proporciona efeito terapêutico desejado em 50% da população (dose eficaz 50). AN02FREV001/REV 4.0 13 O conhecimento deste índice para cada fármaco proporciona uma medida de segurança na utilização de fármacos, como digoxina e lítio que possuem baixo índice terapêutico. A margem de segurança é tanto maior quanto maior é o valor do índice, sendo extremamente reduzido e, portanto muito perigoso o consumo do medicamento quando o valor se aproxima a 1. 3.2 FARMACODINÂMICA A farmacodinâmica pode ser definida como o estudo dos efeitos bioquímicos e fisiológicos dos fármacos e de seus mecanismos de ação no organismo. A partir do estudo da farmacodinâmica é possível delinear as interações químicas ou físicas entre a molécula do fármaco e o alvo terapêutico e caracterizar toda a rota de suas ações. Esse estudo favorece a utilização racional do fármaco, serve de base para o desenvolvimento de novos agentes terapêuticos e proporciona melhor entendimento da regulação bioquímica e fisiológica. A maioria dos efeitos farmacológicos resulta da interação do fármaco com elementos macromoleculares do organismo. Tais interações alteram a função do elemento pertinente, iniciando assim, alterações bioquímicas e fisiológicas características da resposta ao agente terapêutico (Figura 3). O termo receptor refere-se a qualquer componente macromolecular funcional do organismo que venha interagircom o agente químico e possa ter sua função biológica modulada ou alterada. AN02FREV001/REV 4.0 14 FIGURA 03 - TIPOS DE ALVOS PARA OS FÁRMACOS FONTE: Rang e Dale, 2004. A ligação de uma droga a um receptor é determinada pelas seguintes forças: pontes de hidrogênio; ligação iônica; força de Van der Waals e ligação covalente. Há diferentes tipos de receptores (Figura 4) com os quais ligantes endógenos e drogas podem interagir, incluindo: receptores hormonais, receptores ligados à enzima tirosina-quinase, receptores acoplados à proteína G e receptores ligados a canais iônicos. Muitas substâncias têm potencial para serem fármacos, porém os fatores que determinam se uma substância vai se comportar como fármaco são afinidade e atividade intrínseca. Define-se como afinidade a medida da tendência de ligação de um fármaco ao receptor. A atividade intrínseca consiste na habilidade do fármaco de, uma vez ligado ao receptor, desencadear a sua função de sinalização celular, resultando em modificação do efeito fisiológico. AN02FREV001/REV 4.0 15 FIGURA 04 – TIPOS DE RECEPTORES-ALVOS PARA AÇÃO DOS FÁRMACOS FONTE: Rang e Dale, 2004. Os fármacos que interagem com os receptores podem atuar como agonistas ou antagonistas. O agonista é o fármaco que ligado ao receptor fisiológico mimetiza os efeitos reguladores dos compostos endógenos de sinalização. O agonista total é um composto capaz de proporcionar uma resposta máxima, após a ocupação e ativação do receptor e o agonista parcial aquele composto que pode ativar o receptor, mas não gerar uma resposta máxima do sistema. Já um agonista inverso é aquele capaz de estabilizar o receptor em sua conformação inativa. AN02FREV001/REV 4.0 16 FONTE: O autor. A curva dose-resposta utilizada na farmacologia serve como método gráfico para avaliar de forma descritiva a habilidade do fármaco de produzir ou alterar efeitos fisiológicos. O eixo da abscissa do gráfico representa a dose do fármaco e o eixo das coordenadas a sua eficácia. Portanto, para uma determinada dose extrapola-se no gráfico a eficácia do fármaco. O gráfico também pode ser expresso na forma de curva sigmoide, em que o eixo da abscissa é convertido a log da dose do fármaco. Para eficácia de 50% de um determinado fármaco extrapola-se na curva a dose correspondente, essa dose é denominada como concentração eficaz de 50 % (CE50) (Figura 5). FIGURA 05 – CURVA DOSE VERSUS RESPOSTA FONTE: O autor. O antagonista é o fármaco capaz de se ligar ao receptor sem exercer efeito regulatório. Os tipos mais comuns de antagonismo entre os fármacos são: químico AN02FREV001/REV 4.0 17 (ex.: agentes quelantes e metais pesados); funcional (ex.: histamina e omeprazol); farmacocinético (varfarina e fenobarbital); reversível e irreversível. O antagonismo do tipo reversível caracteriza-se como o tipo mais comum e importante de antagonismo. Na presença do antagonista, a curva dose/resposta do agonista é desviada para a direita (Figura 6). Entretanto, não se observa alteração da inclinação da curva ou da capacidade máxima de resposta do agonista. A relação dose/efeito do agonista aumenta de modo linear com o aumento da concentração do antagonista. A ligação deste tipo de antagonista é reversível ao receptor e o bloqueio superado com o aumento da dose do agonista são algumas características destes fármacos antagonistas, como observado na figura 6 (esquerda). O antagonista irreversível é um fármaco geralmente bastante reativo quimicamente capaz de formar ligação covalente com o receptor, inativando-o. Como observado no gráfico abaixo (direita), mesmo aumentando-se a concentração do agonista, a noradrenalina, na presença de doses crescentes do antagonista irreversível, a dibenamina, a eficácia é significativamente reduzida. O contrário se observa no gráfico a esquerda em que doses maiores de noradrenalina garantem a eficácia máxima do agonista mesmo na presença do antagonista reversível, a tolazolina. FIGURA 06 – CURVA DOSE VERSUS RESPOSTA DE ANTAGONISMO. FONTE: O autor. AN02FREV001/REV 4.0 18 O antagonismo competitivo no qual uma substância compete pelo sítio de ligação com o fármaco agonista total possui relevância clínica. Fármacos como flumazenil e naloxona, antagonistas competitivos dos receptores de benzodiazepínicos e opioides, promovem reversão do quadro de intoxicação causado por superdose de fármacos benzodiazepínicos e analgésicos opioides, como será abordado ao longo do curso. Esse tipo de antagonismo, não afeta a eficácia máxima nem proporciona efeito farmacodinâmico, apenas impede a interação do agonista em seu alvo. Dessa forma, como observado na figura 7 o aumento da concentração de antagonista competitivo (B) requer uma maior concentração de agonista (A) para deslocar a molécula do antagonista do seu sítio de ligação e promover o mesmo percentual de eficácia. FIGURA 7 – ANTAGONISMO COMPETITIVO (GOODMAN E GILMAN, 2006). FONTE: Goodman e Gilman, 2006. 4 CONSIDERAÇÕES FARMACOCINÉTICAS E FARMACODINÂMICAS NA TERAPÊUTICA As variações interpacientes e intrapacientes na distribuição de um fármaco deve ser considerada ao se escolher um regime farmacológico. Pode ocorrer uma AN02FREV001/REV 4.0 19 grande variação em suas propriedades farmacocinéticas entre os indivíduos que utilizam um mesmo fármaco. A distribuição e eliminação são parâmetros farmacocinéticos que refletem essa variabilidade. Os fármacos extensamente metabolizados de forma lenta, podem apresentar acentuada diferença na taxa de eliminação entre os indivíduos. Estudos mostram que muitos fármacos têm sua eliminação influenciada pelas condições fisiológicas e patológicas das funções orgânicas. Indivíduos com comprometimento da função renal ou hepática têm a eliminação do fármaco prejudicada e maior variabilidade em relação a sua distribuição. A idade avançada e as doenças renais e hepáticas podem alterar a resposta dos fármacos nos tecidos-alvo, devendo ser uma prioridade na determinação das doses terapêuticas para esse grupo de pacientes. Durante a terapia farmacológica pode-se também observar em alguns pacientes, uma redução gradual rápida do efeito de um determinado fármaco administrado de modo contínuo ou repetidamente, fenômeno conhecido como dessensibilização. A tolerância também é observada em situações em que o tratamento inclui fármacos como os analgésicos opioides, esse fenômeno é definido como uma redução mais gradual da resposta a uma substância, cujo desenvolvimento leva dias ou semanas. A origem dos fenômenos de dessensibilização e tolerância podem ser explicadas em alteração dos receptores; perda de receptores; exaustão de mediadores intracelulares e adaptação fisiológica. A idiossincrasia é uma resposta a determinada droga qualitativamente anormal e inesperada, que difere das suas ações farmacológicas normais. São causadas por variabilidade genética no metabolismo da droga, ou por mecanismos imunológicos (reações alérgicas). AN02FREV001/REV 4.0 20 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRODY, T. M. et al. Farmacologia Humana da Molécula à Clínica. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. FUCHS, F. D.; WANNMACHER, L.; FERREIRA, M. B. C. Farmacologia Clínica. Fundamentos da Terapêutica Racional. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. GOLAN, D. E. et al. Princípios de Farmacologia. A base fisiopatológica da farmacoterapia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009. GOODMAN, L. S. et al. The Pharmacological Basis of Therapeutics. New York: McGraw-Hill, 2006. Guia de Remédios. 9. ed. São Paulo: Escala, 2008/ 2009. GUIMARÃES, J. I.; cols. II Diretrizes para o diagnóstico e tratamentoda insuficiência cardíaca. Arq. Bras. Cardiol. Sp IV, v. 79, 2002. KATZUNG, B. G. Farmacologia Básica & Clínica. São Paulo: McGrawHill, 2007. PAGE, C. P. et al. Farmacologia Integrada. 1. ed. São Paulo: Manole, 1999. PALOP-LÓPEZ, R.; SÁEZ, M. P. C. Tratamiento coadyuvante en el intervencionismo coronario percutáneo del infarto agudo de miocardio. Rev. Esp. Cardiol. Supl., p. 39-48, 2006. RANG, H. P. et al. Farmacologia. 5..ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. SILVA, P. Farmacologia. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. TOZER, T. N.; ROWLAND, M. Introdução à Farmacocinética e à Farmacodinâmica. As bases quantitativas da terapia farmacológica. Porto Alegre: Artmed, 2009. AN02FREV001/REV 4.0 21 TRIPATHI, K. D. Farmacologia Médica. 5. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003.
Compartilhar