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Currículo: Tipos e Concepções Unidade 2 Marly Savioli Tatiane Kuckel Currículos e Projetos Pedagógicos Diretor Executivo DAVID LIRA STEPHEN BARROS Gerente Editorial CRISTIANE SILVEIRA CESAR DE OLIVEIRA Projeto Gráfico TIAGO DA ROCHA Autor MARLY SAVIOLI TATIANE KUCKEL AS AUTORAS Marly Savioli Olá! Meu nome é Marly Savioli. Sou mestranda em Educação e pós-graduada em Ética, Valores e Cidadania na Escola. Além disso, sou formada em Pedagogia, com especialização em Administração e Supervisão Escolar. Tenho 35 anos de experiência técnico-profissional na área educacional, durante os quais trabalhei para escolas particulares, Prefeituras Municipais e Assessorias Educacionais em geral. Como educadora, exerci nas escolas diversos papéis, como professora, orientadora educacional, coordenadora pedagógica, vice-diretora e diretora. Por acreditar nas pessoas e na capacidade de mudar o mundo por meio da educação, trabalho atualmente para a Fundação Lemann como formadora de educadores e gestores educacionais, orientando- os e subsidiando seus trabalhos com caminhos mais eficazes. Por isso, fui convidada pela Editora Telesapiens a integrar seu elenco de autores independentes. Estou muito feliz em poder ajudar você nesta fase de muito estudo e trabalho. Conte comigo! Tatiane Kuckel Olá. Meu nome é Tatiane Kuckel e sou Mestre em Educação e Novas Tecnologias. Sou formada em Desenho pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná e em Gestão da Informação pela Universidade Federal do Paraná. Tenho mais de 15 anos de experiência em processos e projetos para EAD, arte visuais, sistemas de informação, monitoramento informacional e games. Possuo trabalhos publicados nas linhas de Inteligência Artificial, EaD, Gamificação e Artes visuais. Atualmente, sou Gerente de Projetos e Inovação na Onilearning. ICONOGRÁFICOS Olá. Esses ícones irão aparecer em sua trilha de aprendizagem toda vez que: INTRODUÇÃO: para o início do desenvolvimento de uma nova compe- tência; DEFINIÇÃO: houver necessidade de se apresentar um novo conceito; NOTA: quando forem necessários obser- vações ou comple- mentações para o seu conhecimento; IMPORTANTE: as observações escritas tiveram que ser priorizadas para você; EXPLICANDO MELHOR: algo precisa ser melhor explicado ou detalhado; VOCÊ SABIA? curiosidades e indagações lúdicas sobre o tema em estudo, se forem necessárias; SAIBA MAIS: textos, referências bibliográficas e links para aprofundamen- to do seu conheci- mento; REFLITA: se houver a neces- sidade de chamar a atenção sobre algo a ser refletido ou dis- cutido sobre; ACESSE: se for preciso aces- sar um ou mais sites para fazer download, assistir vídeos, ler textos, ouvir podcast; RESUMINDO: quando for preciso se fazer um resumo acumulativo das últi- mas abordagens; ATIVIDADES: quando alguma atividade de au- toaprendizagem for aplicada; TESTANDO: quando o desen- volvimento de uma competência for concluído e questões forem explicadas; SUMÁRIO Currículo Escolar ........................................................................................10 Currículo como campo de estudo: as teorias curriculares .............................. 12 Teoria Tradicional ............................................................................................................................. 14 Teoria Crítica ....................................................................................................................................... 18 Teoria pós-crítica .............................................................................................................................22 Diferentes tipos de currículo: diálogos e conflitos .......................25 Currículo formal ................................................................................................................................27 Currículo real ......................................................................................................................................27 Currículo oculto ................................................................................................................................28 As concepções de currículo em políticas públicas (leis, diretrizes e orientações curriculares) ................................................ 30 Políticas públicas e avaliação ................................................................................................34 O currículo como produção social e as noções de currículo oculto .............................................................................................................. 36 7 CURRÍCULO: TIPOS E CONCEPÇÕES UNIDADE 02 Currículos e Projetos Pedagógicos 8 INTRODUÇÃO O currículo é um produto peculiar de cada instituição. Há órgãos que determinam as bases e fundamentações do que os alunos precisam estudar e o que as escolas precisam ensinar, mas a forma como isto se dará, a organização curricular e a caracterização deste produto, decorrem do contexto em que é produzido. O currículo deve atender à demanda específica da escola e da realidade escolar, indo ao encontro das necessidades de seu público- alvo. As Políticas Públicas têm o objetivo de garantir qualidade escolar para todos os brasileiros de forma a possibilitar as mesmas condições de vida e trabalho, e isto é concretizado na forma curricular. Siga em frente em seus estudos! Currículos e Projetos Pedagógicos 9 OBJETIVOS Olá. Seja muito bem-vindo a nossa Unidade 2! Nosso objetivo é auxiliar você no desenvolvimento das seguintes competências profissionais até o término desta etapa de estudos: 1. Explicar a fundamentação teórica do currículo; 2. Reconhecer diferentes tipos de currículos e sua influência na aprendizagem; 3. Analisar as concepções de currículo em Políticas Públicas (leis, diretrizes e orientações curriculares); 4. Reconhecer o currículo como produção social no processo de formação cidadã. Então? Preparado para uma viagem sem volta rumo ao conhecimento? Ao trabalho! Currículos e Projetos Pedagógicos 10 Currículo Escolar INTRODUÇÃO: Neste capítulo, estudaremos o conceito de currículo, as principais bases que fundamentam a teoria de currículo e sua prática. Sabemos que o currículo ultrapassa os limites de ser um mero documento, que geralmente é “engavetado”. E porque as pessoas usam o termo “engavetado”? É comum os profissionais elaborarem documentos de forma mecânica, até mesmo pré-moldadas, com modelos já instituídos, ou até mesmo copiados, apenas para cumprir uma normatização, uma exigência de instâncias superiores. No caso da escola, essa exigência viria da Secretaria da Educação, orientada pelo MEC (Ministério da Educação e Cultura). O currículo faz parte da vida escolar e é muito comum, que os profissionais da área da educação, apenas o reproduzam todos os anos e deixem em suas gavetas, caso alguma autoridade as solicite. Se pensarmos bem, nenhum documento deveria ter esse fim. Se ele existe, foi porque estudiosos o criaram e defenderam sua existência e sua importância. O currículo, em especial, não pode ser esse tipo de documento, pois ele deve ser nosso norteador para um Projeto Político Pedagógico e sua utilização deve ser constante, sempre com objetivo de guiar as ações pedagógicas, tanto quanto acompanhamento e supervisão da prática. Quando os profissionais da área entenderem sua importância, nunca mais será “engavetado”, e provavelmente fixarão em um quadro ao alcance da visão de todos, com constante abertura para observação. Essa percepção erronia da função do documento, provém da falta de informação, e até mesmo da influência histórica. Currículos e Projetos Pedagógicos 11 Muitos profissionais acreditam ainda que é uma mera relação de conteúdo a serem seguidos no programa de cada professor. O currículo escolar, atualmente é entendido como mais um seguimento formadorda sociedade, em que seus objetivos andam lado a lado com a estrutura sócio-política. Figura 1- Influência política no currículo escolar POLÍTICA E SOCIEDADE CURRÍCULO ESCOLAR INFLUÊNCIA Fonte - Elaborada pela autora (2020). Dada a sua influência na formação do indivíduo, o currículo começou a ser motivo de estudos, e conhecer suas teorias claramente, ajudará na percepção do que o fundamenta, e mais que isso, poderemos questionar e aperfeiçoar sua efetividade e eficiência. Na unidade um tivemos uma breve explanação sobre alguns períodos históricos e sua influência no currículo, apresentando mais claramente, o currículo Tecnicista e o Progressista. Vamos agora entender melhor a história e os contextos que levaram a evolução dessas concepções de currículos. Lopes (2006, contracapa): [...] o currículo se tece em cada escola com a carga de seus participantes, que trazem para cada ação pedagógica de sua cultura e de sua memória de outras escolas e de outros cotidianos nos quais vive. É nessa grande rede cotidiana, formada de múltiplas redes de subjetividade, que cada um de nós traçamos nossas histórias de aluno/aluna e de professor/ professora. O grande tapete que é o currículo de cada escola, também sabemos todos, nos enreda com os outros, formando tramas diferentes e mais belas ou menos belas, de acordo com Currículos e Projetos Pedagógicos 12 as relações culturais que mantemos e do tipo de memória que nós temos de escola [...]. Currículo como campo de estudo: as teorias curriculares Os estudos sobre currículos estão intrinsicamente ligados a história e Ao entendimento de como preparar o cidadão e trabalhador. Você Sabia? O currículo pode ser organizado de forma a manipular e formatar as impressões dos estudantes. Por exemplo: são manipulados para acreditar que uma determinada postura é correta e não contestável. Quando se trata do conceito de manipulação observamos que o sentimento não é de credibilidade, pois, de acordo com o Dicionário Aurélio, manipular, é palavra de origem do latim manipulare, manipule,r e significa dar formato a algo, produzir, forjar, maquinar, fazer funcionar; pôr em movimento; acionar, controlar, dominar. Figura 2- Educação como instrumento de formatação do pensamento Fonte: Freepik Currículos e Projetos Pedagógicos 13 Apesar de atualmente muitos profissionais da educação já entenderem que foram moldados em uma escola tradicional e as posturas ali apresentadas não cabem mais à realidade atual, vários de nossos comportamentos podem ser gerados por prévias manipulações. Isso significa que ficamos tão condicionados a certos comportamentos e paradigmas que mesmo inconscientemente reproduzimos aquilo que nos foi incutido. Isso não descarta a vida escolar, que mesmo, após a idade adulta e mais consciente, agimos e acreditamos em determinadas propostas, como resquícios da manipulação ocorrida em determinados períodos históricos. SAIBA MAIS: Quer entender melhor como pode funcionar a manipulação, mesmo que de forma subliminar? Recomendamos a leitura de: Maquiavel Pedagogo, o Ministério da Reforma Psicológica de Pascal Bernardin. Editora Ecclesiae e Vide Editorial. Entendendo que nossos futuros profissionais precisam desmistificar esses conceitos arraigados, questionando-os e aprender a suprimir o que não vale a pena, devemos nos aprofundar nas teorias de currículo, conhecendo-as, entendendo-as e por isso vamos agora nesse caminho. IMPORTANTE: O currículo está intimamente ligado a proposta social e política. A visão do cidadão que se quer forjar precisa estar incorporada a esse currículo. Silva (2007, p.15, 16) afirma que: “Um currículo busca precisamente modificar as pessoas que ‘seguir’ aquele currículo”. Ainda reforça: [...]: “Além de uma questão de conhecimento, o currículo é uma questão que se concentram também as teorias do currículo”. Currículos e Projetos Pedagógicos 14 As formas de entender o que é currículo, e como esse entendimento é significativo na vida escolar, serão influenciadas por: • Ênfase da natureza da aprendizagem; • Do conhecimento; • Da cultura; • Da sociedade; • Da natureza humana. Teoria Tradicional A palavra “Tradicional” se relaciona a repetição de determinados hábitos, costumes, culturas em geral. É tradicional no Brasil termos em junho as “Festas Juninas”. Estas festas celebram São João, São Pedro e São Antônio e são realizadas mesmo antes da era Cristã. É isso que chamamos de tradição: repetir hábitos e costumes arraigados a nossa cultura. Na educação essa teoria refere-se aos preceitos escolares que vamos discorrer agora. O currículo tradicional se concentra no intelecto, no conhecimento, considerando o ser humano como imutável. O ensino é organizado de maneira rígida, mecanizada, descontextualizada, valorizando o conteúdo e o conhecimento centrado no professor. Currículos e Projetos Pedagógicos 15 Figura 3 - Ensino é centralizado no professor; conhecimento é via de mão única PROFESSOR ALUNOS Fonte- Elaborada pela autora (2020). Defendia-se que o ensino era um processo de condicionamento onde a aprendizagem consistia em modificar o desempenho. Todos os estudantes eram iguais e com capacidade de assimilação igual a um adulto. A avaliação tinha por objetivo quantificar o aprendizado do estudante, sem gerar nenhuma reflexão quanto ao trabalho do professor. Podemos dizer que até hoje muitos professores pensam dessa forma, não é mesmo? A teoria Tradicional se identifica como: “neutras, científicas, desinteressadas” (SILVA. 2007, p.16). Podemos afirmar que essa forma de se identificar é uma contradição, já que se efetiva de forma influenciadora. A alegação de ser neutra e desinteressada é incompatível com a história que ela apresenta. Vamos relembrar um pouco sobre a visão histórica que a concebia. Estamos falando de uma educação voltada para a elite, onde a exclusão é evidente e reforçada pelo sistema escolar. Currículos e Projetos Pedagógicos 16 Figura 4 - Estratificação Social Fonte: Freepik Constata-se que esse sistema “funciona como mecanismo de exclusão natural dos dominados, que não tendo a sua cultura reconhecida acabam conformando-se com o fracasso escolar” (MOITA, 2004, p. 5). A teoria tradicional reforça a divisão de classes, apresentando as disciplinas de forma compartimentada, e os valores exteriorizados reforçam ideias da classe dominante. Se o ensino é preparado na linguagem de uma classe dominante, os poucos estudantes de classes menos favorecidas não aprendem como os demais, reforçando mais ainda as diferenças sociais e a manutenção das classes. As verdades apresentadas na escola são inquestionáveis reforçando a ideia de imobilidade social, e preparando os estudantes para trabalhos repetitivos e inquestionáveis também. Os estudos de Bobbit (início do sec. XX) apontam para uma educação empresarial, comercial ou industrial: O que implementa o currículo tem assim duas funções importantes a desempenhar – por um lado, determinar quais os desejos do mercado de consumo, em termos de produto Currículos e Projetos Pedagógicos 17 acabado e, por outro lado, determinar a forma mais eficiente de elaborar o produto acabado – funções estas intimamente relacionadas com a noção de controle de padrões [...]. (BOBBIT, 2004, p. 21) Podemos notar que o currículo tradicional é fechado e aponta para um ensino não reflexivo. Silva (2010, p. 24) relata que: [...] na perspectiva de Bobbit, a questão do currículo se transforma numa questão de organização. O currículo é simplesmente uma mecânica. [...] Numa perspectiva que considera que as finalidades da educação estão dadas pelas exigências profissionais da vida adulta, o currículo se resume a uma questão de desenvolvimento, a uma questão técnica. Tal como na indústria, é fundamental, na educação, de acordo com Bobbit, que se estabeleçam padrões. O estabelecimentode padrões é tão importante na educação quanto numa usina de aços. [...] a educação é um processo de moldagem. (SILVA (2010, p. 24) É deduzível assim, que a educação e seu currículo tradicional é uma forma de manter a dominação das classes, é uma estratégia de manutenção do poder, e dessa forma, não será um currículo neutro e muito menos desinteressado como se auto denomina. Importante abrir um espaço de reflexão, para que ponderemos sobre a influência que sofremos até hoje desse tipo de currículo, que vivenciamos fortemente na época do militarismo no Brasil e, que até hoje, rege muitas escolas. Muito comum, professores ainda entenderem o currículo como um simples documento e que sua disciplina pode ser desenvolvida de forma descomprometida das demais e sua autoridade será sempre inquestionável, reforçando assim o sistema social onde predomina a divisão de classes e a impossibilidade de diálogo ou ascensão social. Currículos e Projetos Pedagógicos 18 REFLITA: Qual a postura de seus professores na educação básica? A maioria deles trabalhava de forma interdisciplinar e propiciando uma postura crítica do conhecimento? Ou simplesmente passavam o conhecimento científico de forma estática? Como esses professores foram influenciados em sua vida escolar por seus professores? Existem resquícios de uma escola Tradicional em sua forma de lecionar? Como tudo evoluiu, vamos agora entender como o currículo evoluiu a partir dessa concepção tradicional. Teoria Crítica Em negação a ordem pré-estabelecida pela sociedade tradicional, onde existe uma verdadeira manutenção das classes poderosas, políticas e socialmente, surge a teoria Crítica que busca uma sociedade mais justa. Influenciada por alemães marxistas, a partir dos anos 20, que desenvolveram pesquisas geradas pelo capitalismo contemporâneo, o ocidente recebe essas reflexões nos anos 40 aos 70 do século passado. Max Horkheimer, um filósofo marxista, foi um dos pais fundadores da Escola de Frankfurt, a qual incorporava toda a moderna Teoria Crítica da Sociedade e que, em grande escala, se caracterizada como neomarxista. Horkheimer, junto com Jürgen Habermas, Theodor W. Adorno, Herbert Marcuse e Erich Fromm, para citar apenas alguns, criaram a Escola de Frankfurt e seu Instituto para Pesquisa Social, uma instituição que moldou o pensamento cultural do Ocidente como um todo e da Alemanha em particular. Marx Horkheimer, em 1937, usa o termo “Teoria Crítica” em um de seus artigos, fugindo da força que a ideias marxistas se encerravam no materialismo histórico usada por ortodoxos, e que era rejeitada por muitos na sociedade. Figura 5 - Intelectuais que fundaram a Escola de Frankfurt Currículos e Projetos Pedagógicos https://pt.wikipedia.org/wiki/Max_Horkheimer https://pt.wikipedia.org/wiki/Escola_de_Frankfurt https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_cr%C3%ADtica_da_sociedade https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_cr%C3%ADtica_da_sociedade https://pt.wikipedia.org/wiki/J%C3%BCrgen_Habermas https://pt.wikipedia.org/wiki/Theodor_W._Adorno https://pt.wikipedia.org/wiki/Theodor_W._Adorno https://pt.wikipedia.org/wiki/Herbert_Marcuse https://pt.wikipedia.org/wiki/Erich_Fromm https://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_para_Pesquisa_Social 19 Friedrich Pollock Herbert Marcuse Walter Benjamin Erich Fromm Theodor W. Adorno Jürgen Habermas Max Horkheimer Fonte: Baseada em Todo Estudo (s/d, online). Explorando o marxismo filosófico, cultural, político e psicológico, Horkheimer tenta mostrar que o marxismo poderia não ser extremista e economista. Diz Horkheimer, no ensaio Filosofia e Teoria Crítica, também em 1937: Os sistemas das disciplinas contêm os conhecimentos de tal forma que, sob circunstâncias dadas, são aplicáveis ao maior número possível de ocasiões. A gênese social dos problemas, as situações reais nas quais a ciência é empregada e os fins perseguidos em sua aplicação, são por ela mesma consideradas exteriores. – A teoria crítica da sociedade, ao contrário, tem como objeto os homens como produtores de todas as suas formas históricas de vida. As situações efetivas, nas quais a ciência se baseia, não são para ela uma coisa dada, cujo único problema estaria na mera constatação e previsão segundo as leis da probabilidade. O que é dado não depende apenas da natureza, mas também do poder do homem sobre ele. Os objetos e a espécie de percepção, a formulação de questões e o sentido da resposta dão provas Currículos e Projetos Pedagógicos 20 da atividade humana e do grau de seu poder. (HORKHEIMER, 1972, p. 188) Há de se mencionar, que no Brasil, ainda existem um número grande de pesquisadores que dialogam com a Teoria Crítica, em suas investigações científicas. Diante desse histórico, o que tudo isso influenciou a escola e seu currículo? Os estudiosos passaram a defender a ideia de que os estudantes tinham mais capacidade para aprender, entender, questionar, se posicionar diante do conhecimento. Diferente do currículo tradicional, o currículo referente a Teoria Crítica propõe conhecimento para ser apropriado de forma que seja útil na vida do estudante. Não é mais uma questão de decoração. Na Teoria Tradicional a aprendizagem dependia de repetição; agora, na Teoria Crítica, a aprendizagem precisa estar contextualizada com a realidade do estudante, e transformá-lo em um pesquisador das informações, podendo aceitá-la ou mesmo questioná-la e transformá-la. Figura 6 - Relação dialética entre professor e estudantes. PROFESSOR ALUNOS Fonte - Elaborada pela autora (2020). Essa forma de ensinar despertará no estudante uma postura social mais significativa e em busca de condições melhores de vida, deixando de ser assim uma pessoa manipulável e sem esperança de mobilidade social. Currículos e Projetos Pedagógicos 21 Em verdade, a teoria crítica é fundamental na reconstrução da educação, que persegue um interesse educativo racional e de formas democráticas da vida social (CARR, 1985, 1993; CARR & KEMMIS,1988). Nesse caso, a teoria curricular crítica explora a reflexão sobre as práticas políticas e culturais, trazendo a percepção do currículo como instrumento de conflito entre identidade e poder: “será sempre polêmico aplicar ao mundo da escolaridade um conjunto de pressupostos prévios que não reflitam a natureza dessa mesma escolaridade e não ponderem a função social, política e cultural da educação” (PACHECO, 1996, p. 42). Figura 7- Explicação do professor não compreensível pelo aluno Emissão não considera a recepção das informações. Fonte- Elaborado pela autora (2020). Como podemos observar na figura, se o professor negligenciar as características do aluno, de sua origem, sua cultura, seus conhecimentos prévios, correrá o risco de que falem linguagens diferentes dentro da sala de aula e o professor pode não atingir seu objetivo pedagógico. Na Teoria Crítica, defende-se que é mais fácil aprender quando o ensino se traduz em verdades, em significativos encaminhamentos. Antes, a formação cidadã era para aceitar a estrutura imposta. Na Teoria Crítica, a formação é de um cidadão pensante, crítico e capaz de modificar sua realidade. Currículos e Projetos Pedagógicos 22 Teoria pós-crítica Diante da complexidade em que vivemos atualmente, onde as verdades são relativas e as certezas são questionáveis, as diferenças se acentuam e devem ser relevantes nas ideias de currículos escolares. As ambiguidades encontradas em sala de aula nos levam a sentir saudades de um tempo em que o currículo era construído pensando na igualdade e não na singularidade dos sujeitos. Essa realidade social contemporânea nos leva a compreender que hoje é impossível prever um cidadão único que possa transformar a sociedade. Este cenário de incertezas nos direciona a pensar em um currículo que atenda toda peculiaridade e fluidez atual, que incorpore a tecnologia que se transforma rapidamente. Qualé a verdade que deve ser ensinada? Se a verdade é questionada, o conhecimento automaticamente também é, assim como o Projeto Político Pedagógico. A Teoria pós-crítica defende a formação da identidade e da singularidade, não existindo verdade absoluta. As ideias, conhecimentos podem e devem ser analisadas e não estudadas como verdades. Refletindo sobre essas informações, podemos afirmar que a teoria pós-crítica, em oposição a teoria crítica, não acredita em uma sociedade de igualdades e estabilidade social. Porém defende a aceitação da sociedade composta por diferenças. Segundo Pacheco (2013, online, apud PRIESTLEY, 2011, p.221-237): Com os pressupostos da abordagem realista, o pensamento curricular segue parâmetros consensualmente definidos em torno de registos universais, perspectivando-se em formas de análise crítica de práticas curriculares centradas no conhecimento do quotidiano. Currículos e Projetos Pedagógicos 23 Moreira (2003, p.10) sintetiza características comuns acerca do ideário pós-moderno: a. O abandono das grandes narrativas; b. A descrença em uma consciência unitária, homogênea, centrada; c. A rejeição da ideia de utopia; d. A preocupação com a linguagem e com a subjetividade; e. A visão de que todo discurso está saturado de poder; f. A celebração da diferença. Considerando todos esses aspectos, podemos dizer que o currículo escolar deve se ajustar a realidade social, étnica, cultural, gênero, e todo e qualquer elemento que venha trazer posições diferenciadas de entender a vida. O currículo, nesse caso, não admite nenhum conhecimento como único, precisando ser adaptado às realidades que atende. Novamente reafirmamos a importância da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) ser discutida e customizada para o Projeto Político Pedagógico da unidade escolar, sendo este fundamento da prática pedagógica, atendendo as necessidades, de acordo com a realidade de seu público-alvo. Currículos e Projetos Pedagógicos 24 Figura 8 - Exemplo de diferentes públicos Etnia: indígena Classe social: baixa Sexo: heterossexual Ritos: pajelança Alimentação: caça, pesca e agricultura Etnia: afrodescendente Classe social: baixa Sexo: heterossexual Ritos: cristianismo Alimentação: cereais e pouca proteína Etnia: cigano Classe social: média Sexo: homossexual Ritos: candomblé Alimentação: variada Fonte: Elaborado pela autora (2020). RESUMINDO: Ao observamos a figura anterior, podemos ver diferentes pessoas com características singulares. É possível construir um currículo que contemple todas as característica de cada uma delas? Ou será preciso entender cada pessoa para construir um currículo? A ideia principal da teoria pós-crítica é justamente promover um diálogo sobre as diferenças, mostrando aos indivíduos que somos diferentes. Currículos e Projetos Pedagógicos 25 Diferentes tipos de currículo: diálogos e conflitos INTRODUÇÃO: Nesta etapa de estudo, nos aprofundaremos nos diferentes tipos de currículo (formal, real e oculto), permeado pelo diálogo e conflito que estes apresentam na jornada de sua prática. Vamos lá? Nessa trilha em que estamos caminhando chamada currículo, nos deparamos com a sociedade que é multicultural. IMPORTANTE: Relaciono o caminho com uma trilha, pois esse tipo de caminho geralmente é incerto, tortuoso, meio que inesperado. Se fosse um trilho, seria reto e inflexível. O povo brasileiro é originado a partir da miscigenação de diferentes etnias. Os índios, afrodescendentes, europeus, asiáticos trouxeram junto a sua imigração seus hábitos e costumes, gerando assim uma sociedade diversa e que só enriquece nossa sociedade. Abaixo relacionamos algumas questões que trazem influências de outras culturas: • Junto com a imigração, surgem diferentes concepções de religião, sociedade, vestimentas e alimentação etc; • Em todas as culturas temos ainda pessoas com deficiências variadas, que diferem entre a deficiência física e/ou mental; • A preferência sexual de cada indivíduo também tem sido reconhecida como um ponto a ser considerado e refletido. Para além de todas essas características ainda encontramos estudantes provenientes de lares diferentes e que trazem consigo além Currículos e Projetos Pedagógicos 26 de toda uma cultura, algumas vivências que podem ou não ajudar na escola. A violência está presente na sociedade e cotidianamente em algumas famílias, provindas de uso de drogas lícitas ou ilícitas, problemas psicológicos etc. Como vimos nos últimos parágrafos, muitas são as particularidades que são silenciadas em nome de uma homogeneização imposta pela liberdade capitalista. “Verdade, conhecimento, poder, identidade marcam as discussões curricular” (MOREIRA, CANDAU, 2008, p. 25). Um currículo que considere todas essas condições perpassa pelas mãos dos educadores, que também carregam características pessoais. “Por bem ou por mal a cultura é agora um dos elementos mais dinâmicos e mais imprevisíveis da mudança histórica no novo milênio” (HALL, 1997, p. 97). Como um educador pode ensinar sobre a diversidade sem impor sua própria visão de mundo? Como incluir as diferenças em sua prática? Como considerar toda a diversidade existente sem desconsiderar posturas e entendimentos? O diálogo se faz essencial para que haja uma postura neutra e de respeito às diferenças. Os conflitos culturais, a violência, a intolerância estará sempre presente de formas diferentes, e caberá ao educador se reinventar a cada dia para tratar esses assuntos sem impor sua própria forma de ver o mundo. Para isso, a formação de professores é de extrema relevância, onde os mesmos aspectos citados acima devem ser trabalhados e incentivados pela equipe Técnico-Pedagógica. Defendendo um currículo que trate de tantos aspectos, conhecemos atualmente três tipos de currículos. São eles: • Currículo formal; • Currículo real; • Currículo oculto. Currículos e Projetos Pedagógicos 27 Veremos na sequência, de forma mais aprofundada, seus conceitos e características. Currículo formal O currículo formal é aquele estabelecido pela escola e está orientado pelas Diretrizes Curriculares Nacional, Estadual e Municipal. Nesse currículo serão estabelecidos os conteúdos e objetivos a serem desenvolvidos pelos professores em sala de aula. Figura 9- Construção do currículo formal no espaço escolar BNCC DIRETRIZES ESTADUAIS E MUNICIPAIS PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO Fonte: Elaborada pela autora (2020). A avaliação escolar reflete exatamente o currículo que foi definido. Currículo real A partir de um Projeto Político Pedagógico, cabe aos professores o desenvolverem em suas salas de aula. Cada professor trará sua forma de ensinar, sua forma de ver o mundo e assim, o currículo formal sofre interferências da dinamicidade cotidiana, da experiência do professor, da reação dos estudantes diante de um determinado conteúdo. Dessa forma, o currículo real é aquele que efetivamente acontece na sala de aula e como o estudante o recebe. Currículos e Projetos Pedagógicos 28 Figura 10 - Currículo real BNCC + DIRETRIZES REGIONAIS + PPP DIDÁTICA PROFESSOR ALUNO SITUAÇÕES DE SALA DE AULA Fonte: Elaborada pela autora (2020). Currículo oculto A aprendizagem não ocorre apenas formalmente. Aprendemos conversando, brincando, trabalhando, participando interações interpessoais, ou mesmo sofrendo algum tipo de prejuízo ou susto. Muitas vezes, dentro de uma sala de aula o professor abre espaço para que as pessoas se expressem e inclusive ele mesmo. Nesses momentos cada um traz um pouco de si e que informalmente é trabalhado. São as culturas, as visões de mundo que se projetam nas falas, nos movimentos e interpretações. Não é à toa que dizem que nossas ações nos contam como somos. O exemplo do professor, do amigo, da família nos ensina cotidianamente. O currículo oculto geralmente é trabalhado de forma não planejada, porém,muitos professores usam desse artifício para reforçar conteúdos e reflexões intencionalmente. Currículos e Projetos Pedagógicos 29 Dessa forma o currículo oculto não está descrito, porém ocorre de forma natural ou intencional em sala de aula. “O currículo está oculto por que ele não é prescrito, não aparece no planejamento, embora se constitua como importante fator de aprendizagem” (LIBÂNIO, 2001, p.99 a 100). Figura 11- Currículo oculto ESCRITO ENSINADO OCULTO Fonte: Elaborada pela autora (2020). Em resumo, estudamos neste capítulo, nas palavras de Libâneo, Oliveira e Toschi (2003, p. 362): O Currículo Formal é instituído pelos sistemas de ensino, onde se estipula os conteúdos e objetivos a serem seguidos nas instituições escolares. O Currículo Real acontece no cotidiano da sala de aula orientado pela rotina da escola e planejamento do professor. O Currículo Oculto não se manifesta claramente, não é prescrito, não aparece no planejamento, embora constitua importante fator de aprendizagem. Currículos e Projetos Pedagógicos 30 As concepções de currículo em políticas públicas (leis, diretrizes e orientações curriculares) INTRODUÇÃO: Nesta etapa de estudos, abordaremos as concepções de currículo em políticas públicas, perpassando pelas leis nacionais, estaduais e municipais que norteiam o trabalho escolar e, sobretudo, o currículo escolar. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei 9394/96, foi um grande passo para nossas políticas educacional. Ela baliza a forma como o Brasil deve pensar sua pedagogia. Além disso, temos a chegada dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) que se identifica através de uma coleção de documentos que compõem a grade curricular de uma instituição educativa, claro sempre moldado no Projeto Político Pedagógico. Esse material foi elaborado para ser um ponto de partida para o trabalho docente, e norteia atividades realizadas em sala de aula. Como esses PCNs foram elaborados por um grupo de estudiosos, sempre vão gerar discordâncias e que dependerão de muito diálogo dentro das escolas. Mas isso não o faz menos importante. Por que necessitamos da influência de Políticas Públicas na escola? Tentaremos explicar os motivos elencando abaixo algumas situações que moldam nosso espaço geográfico e nossa história. Há de se reconhecer que no itinerário de nossas reflexões, cabe- nos considerar que existem uma imensidão de escolas em nosso território brasileiro. Somos 208.494.900 habitantes no Brasil (2018). Segundo divulgação do MEC em 2018, o país conta com 184,1 mil escolas — sendo que a maior parte (112,9 mil, o que equivale a dois terços) é de responsabilidade Municipal. Podemos dividi-las da seguinte forma: Currículos e Projetos Pedagógicos 31 • Colégios particulares - 21,7%; • Instituições de ensino com Ensino Fundamental - 116 mil escolas; • Instituições de ensino com Ensino Médio - 28,5 mil escolas. Outro aspecto referente a esse assunto diz respeito as diferenças da escola particular e pública. De forma geral, estas primeiras oferecem uma estrutura diferenciadas aos professores e alunos, além de uma diversidade de materiais e recursos, como laboratórios para estudos de diferentes áreas, lousas interativas e material em 3D. Já nas escolas públicas tanto a infraestrutura quanto a disponibilidade de recursos são mais escassas. Encontramos escolas de sapé, barro, lata, tijolos, a céu aberto. Consideremos também que muitos lugares não têm nem saneamento básico, quanto mais acesso à internet. Figura 12 - Diferentes escolas brasileiras Fonte: Freepik A formação dos professores que atendem os diferentes núcleos escolares também difere. Existem regiões que, na falta de alguém graduado, as aulas são atribuídas as pessoas que apenas aceitam o encargo de instruir. Segundo Débora Brito, repórter da agência Brasil, relatando sobre entrevista realizada com o Ministro da Educação, em maio de 2018, quatro em cada 10 professores que estão em sala de aula hoje no nosso país não têm a formação adequada para lecionar. Currículos e Projetos Pedagógicos 32 Qual estudante (da escola pública ou privada) terá mais possibilidade de aprender e competir no mercado contemporâneo? O que podemos esperar do nosso sistema educacional enquanto preparatório para a formação do cidadão? Dentro dessa realidade ainda as políticas públicas brasileiras sempre foram influenciadas pelas ideias curriculares estrangeiras, e hoje, entendendo as nossas peculiaridades, os principais autores do currículo brasileiro reconhecem as influências e ressaltam a importância de sua adequação a nossa realidade. Por outro lado, sustentam que devemos ser mais críticos em relação a esse discurso e precisamos desenvolver análises mais adequadas ao contexto brasileiro (SANTOS, MOREIRA, 1996). O Banco Mundial, outro influenciador de nossa educação, também oferece subsídios para o desenvolvimento educacional, dando prevalência a lógica financeira sobre a social. Um dos aspectos enfatizados pelo Banco Mundial é o monitoramento dos resultados escolares, pretendendo a melhoria na qualidade do ensino. As “Avaliações Externas”, propostas pelo MEC, vêm atender essa preocupação. Os últimos governos também sofrem influência das ideologias neoliberais e políticas adaptadas à nossa realidade. A globalização instaurada a partir nos anos 90, também afeta a construção curricular. Diante de todos os estudos que realizamos até agora, e somados as diferentes possibilidades locais e formação de professores, podemos garantir que todas as escolas garantam as mesmas condições de aprendizado para todos os estudantes? Pensando em todos os aspectos pontuados, é importante entender que o currículo de hoje influenciará na postura do cidadão que moverá nosso país daqui a 15 anos aproximadamente. Currículos e Projetos Pedagógicos 33 Figura 13- Evolução da força de trabalho Fonte: Elaborada pela autora (2020). Observando a figura anterior, podemos lembrar que mesmo as atividades profissionais estão mudando rapidamente em função da informatização. Cabe-nos pensar em uma escola que contemple todos os fatores que evoluem. Apesar de ser muitas vezes contestada, não há dúvidas sobre a necessidade de uma política educacional que atenda às necessidades atuais, mas também preveja o que estará acontecendo no futuro. Qualificar a educação no Brasil é fundamental para um futuro mais equilibrado. Partindo do setor político a legislação educacional, cabe a ele também instrumentalizá-lo e fiscalizá-lo. Tentando evitar que determinados ensinamentos fossem esquecidos, ou mesmo subjugados em determinados espaços, o MEC definiu a Base Nacional Comum, pensando em garantir aos alunos do Ensino Básico de todo o país, as mesmas possibilidades de aprendizagem, mesmo que customizados para sua realidade. Isso garante que diante de um Exame Nacional, ou uma seleção qualquer, as pessoas possuam as mesmas condições de competitividade. Questionados sobre a importância de se contar com a percepção da sociedade e o os representantes do chamado “Chão de escola”, a BNCC abriu espaço para o diálogo em várias esferas. Currículos e Projetos Pedagógicos 34 Políticas públicas e avaliação As políticas públicas também influenciaram notadamente as avaliações, que influenciaram consequentemente os currículos. Em primeira instância precisamos refletir sobre a importância da avaliação e o que ela objetiva no sistema escolar. A avaliação vem trazer informações sobre os alunos, sua aprendizagem, suas dificuldades específicas, e a partir da análise dessas avaliações, o planejamento poderá ser norteado. Como avaliar, é um outro aspecto de extrema profundidade, mas não pretendemos esgotar esse assunto aqui, e sim questionar a influência das Políticas Públicas na avaliação e no currículo; Vamos entender melhor? A partir do momento em que são implementadas nasescolas públicas o SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), SINAES (Sistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior), os resultados acabam gerando um ranking entre as escolas, e para atingir melhores resultados, muitas unidades escolares transformam seus currículos em réplicas dessas avaliações, preparando os estudantes para realiza-las com maestria. Infelizmente, muitas vezes são trabalhados de forma inadequada e não atingem o seu maior objetivo, que é a aprendizagem. O foco do ensino em rankings forjados por avaliações externas tira o foco da aprendizagem. Se a escola não souber conduzir e dialogar com essas informações, o currículo será transformado para atender somente essas exigências, e como já sabemos, a educação trata de questões muito mais amplas. Currículos e Projetos Pedagógicos 35 Figura 14- Página do Site do Qedu. Fonte: https://bit.ly/3qiKhwP No Brasil, a plataforma QEdu reúne os principais dados públicos do Ensino Básico. É uma ferramenta que auxilia o trabalho das Secretarias e das escolas na interpretação pedagógica dos resultados gerados a partir da Prova Brasil, tendo como foco, principalmente, a melhoria do aprendizado dos estudantes e, por consequência, do aumento do índice do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Currículos e Projetos Pedagógicos https://bit.ly/3qiKhwP http://www.qedu.org.br/ http://redes.qedu.org.br/ 36 O currículo como produção social e as noções de currículo oculto Vamos considerar que a escola é uma simulação da sociedade e que nela aprendemos a dividir espaços, materiais, respeito, obedecer a regras entre outras coisas que envolvem nossa vida social. É através da escola que muitas pessoas tecem seus primeiros contatos sociais, e conviver socialmente talvez seja a lição mais importante que temos nesse espaço. Essas aprendizagens, que são apreendidas no domínio do não-dito, mas da ação, constituem-se nos conteúdos do currículo oculto ou escondido, como afirma Perrenoud (1995). Fonseca e Pinto (2017, online) descrevem que: A escola é um lugar privilegiado no qual um conjunto de atividades é desenvolvido de forma metódica, continuada e sistemática, correspondendo à formação inicial do indivíduo, dando a ele condições de se posicionar frente ao mundo que o cerca. A este conjunto de conhecimentos que emergem da escola chamamos currículo. Valorizando essa verdade, a escola não é mais simples reprodutora de conhecimentos, e como abordamos anteriormente, deve abordar em seu currículo temas transversais como sexualidade, respeito, convivências, meio ambiente etc. O currículo oculto pode ser entendido como aquela aprendizagem informal, que não foi planeja, porém existem correntes que defendem que existem aprendizagem que podem ser planejadas para serem apropriadas de forma imperceptível pelo aluno. Notando que um estudante sofre de bullying, o professor poderá pensar em trabalhar conteúdos que façam os alunos pensarem sobre o assunto, sem mesmo tocar no caso específico desse aluno. Currículos e Projetos Pedagógicos 37 Dessa forma, existem aspectos que podem constar no currículo e que devem ser trabalhados em sala de aula através de um currículo oculto e que estes venham contemplar as necessidades específicas da escola e da sociedade. É exatamente dessa forma que o currículo produz pessoas aptas a viverem em sociedade e exercerem seus direitos. Esperamos que nenhuma escola, ou professor negligencie isso em seu trabalho. Figura 15- Expandir reflexões morais através de um conteúdo histórico. CURRÍCULO REAL •Quem eram os escravos? •Quem os escravizava? •Por quê? •Quando foram libertos? •Condições de vida de um escravo. CURRÍCULO OCULTO •O que era mais importante para os donos de escravos? •A humanidade das pessoas era considerada nesse tipo de dominação? Fonte: Autora SAIBA MAIS: Quer conhecer mais sobre isso? Leia o artigo “Currículo e Políticas Públicas: reflexões pertinentes aos processos contemporâneos de formação e prática docente no contexto da interdisciplinaridade”. Ele discorre acerca da reflexões acerca da interdisciplinaridade na prática docente e a influência que os professores recebem das políticas públicas educacionais e da trajetória curricular que os conforma. Disponível em: https://bit.ly/3ai3cCF. Currículos e Projetos Pedagógicos https://bit.ly/3ai3cCF 38 RESUMINDO: Por trás dos currículos observamos as influências sócio- políticas e suas características, seja explícito ou implícito, no currículo formal construído, no currículo real praticado e também no currículo oculto, implícito nas ações do dia a dia. Muitas questões precisam refletidas sobre isso na educação escolar e no processo de ensino-aprendizagem, a fim de que esta realmente esteja convergente com um plano de formação cidadã, integral e relevante. Como a família e o professor podem contribuir com esse objetivo? Na sua vida escolar, você recebeu essa formação? No caso de uma criança que estuda de forma domiciliar, como será o desenvolvimento da interpessoalidade dela? Continue firme em seus estudos e em suas reflexões acerca do currículo escolar. Currículos e Projetos Pedagógicos 39 REFERÊNCIAS CARR, Wilfred & KEMMIS, Stephen. Teoria Crítica de la Enseñanza. Barcelona: Ediciones Martínez Roca, 1988. FONSECA, Luís Eduardo Gauterio; PINTO, Fernanda de Campos. O CURRÍCULO OCULTO E SUA IMPORTÂNCIA NA FORMAÇÃO COGNITIVA E SOCIAL DO ALUNO. Projeção e Docência, volume 8, número 1, ano 2017. p. 59. Disponível em: http://revista.faculdadeprojecao. edu.br/index.php/Projecao3/article/viewFile/862/713. Acesso em: 15 fev. 2020. FRANCO, G., & VALE, L. (s.d.). A Importância e Influência do Setor de Compras nas Organizações. TecHoje. Disponível em: http://www.techoje. com.br/site/techoje/categoria/detalhe_artigo/1004. Acesso em: 04 jul. 2020. HALL, S. A centralidade da cultura: Notas sobre as revoluções de nosso tempo. Educação & Realidade, Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Faculdade de Educação, 1997, vol. 22, nº 2, p. 15-46. HORKHEIMER, Max. Critical theory: selected essays. New York: Continuum, 1972b. p. 188 - 243. [Traditionelle und kritische Theorie, 1937.]. LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra. As áreas de atuação da organização e da gestão escolar para melhor aprendizagem dos alunos.___ In: Educação escolar: políticas, estrutura e organização São Paulo: Cortez, 2003. p. 355-378. LIBÂNEO, Antônio Carlos, Organização e gestão da escola: teoria e prática – Goiânia: Editora Alternativa, 2001. MOREIRA, Antônio Flávio B. Currículo, diferença cultura e diálogo. Educação e Sociedade, Campinas: CEDES, v. 23, n. 79, p. 15-38, 2003. MOREIRA, Antônio Flávio B; CANDAU, Vera Maria (Orgs.). Multiculturalismo: diferenças culturais e práticas pedagógicas. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. Currículos e Projetos Pedagógicos http://revista.faculdadeprojecao.edu.br/index.php/Projecao3/article/viewFile/862/713 http://revista.faculdadeprojecao.edu.br/index.php/Projecao3/article/viewFile/862/713 40 PACHECO, José Augusto. TEORIA (PÓS) CRÍTICA: PASSADO, PRESENTE E FUTURO A PARTIR DE UMA ANÁLISE DOS ESTUDOS CURRICULARES. Revista e-Curriculum, São Paulo, v.11 n.01 abr.2013, ISSN: 1809-3876. Programa de Pós-graduação Educação: Currículo – PUC/SP. SANTOS. L. L.C.P e MOREIRA, A. F. Currículo: questões de seleção e organização do conhecimento. In: Caderno Ideias. N.26, FDE. São Paulo, 1996. Currículos e Projetos Pedagógicos Marly Savioli Tatiane Kuckel Currículos e Projetos Pedagógicos Currículo Escolar Currículo como campo de estudo: as teorias curriculares Teoria Tradicional Teoria Crítica Teoria pós-crítica Diferentes tipos de currículo: diálogos e conflitos Currículo formal Currículo real Currículo oculto As concepções de currículo em políticas públicas (leis, diretrizes e orientações curriculares)Políticas públicas e avaliação O currículo como produção social e as noções de currículo oculto
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