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1 MEDIDAS DE SEGURANÇA Conceito: A medida de segurança é mais um instrumento (ao lado da pena) utilizado pelo Estado na resposta à violação da norma penal incriminadora, pressupondo, no entanto, agente não imputável. - É espécie de sanção penal. - É medida com que o Estado reage contra a violação da norma proibitiva por agente não imputável. Finalidades: A pena tem várias finalidades (polifuncionalidade da pena): a) Prevenção b) Retribuição c) Ressocialização A medida de segurança, contudo, tem finalidade essencialmente preventiva, porque sendo medida restritiva da liberdade, a maioria não nega seu caráter penoso. A pena preocupa-se principalmente com o passado, com a infração penal praticada, com a culpabilidade do agente. A MS está especialmente preocupada com o futuro, com a periculosidade do agente, o que o agente pode vir a fazer. PENA MEDIDA DE SEGURANÇA Tríplice finalidade: prevenção, retribuição, ressocialização. Essencialmente preventiva (apesar de não se poder negar, ainda que em menor grau, seu caráter aflitivo). Volta-se para o passado Volta-se ao futuro (fato abstrato que o agente poderá cometer) Trabalha com a culpabilidade do agente Trabalha com a PERICULOSIDADE do agente. Princípios: São os mesmos da pena, porém com duas observações: 1- Princípio da legalidade: O artigo 1 do CP diz que não há crime sem lei anterior que o defina nem pena sem prévia cominação legal. Não fala em medida de segurança, razão pela qual se questiona se abrange a MS. Primeira corrente: sabendo que MS tem caráter puramente assistencial e curativo não é necessário que se submeta ao princípio da legalidade. É adotada por Assis Toledo. 2 Segunda corrente: não desconsiderando o caráter penoso da MS, deve, a exemplo da pena, sujeitar-se ao princípio da legalidade. Essa é a corrente que prevalece. 2- Princípio da proporcionalidade: A pena, como visto, se ajusta à gravidade do fato delituoso. Já a MS SE AJUSTA AO GRAU DE PERICULOSIDADE DO AGENTE. Pressupostos: 1) Prática de fato previsto como crime. Apesar de se falar em crime, abrange, obviamente, contravenção penal. Assim, admite-se a imposição de medida de segurança decorrente da prática de contravenção penal, tendo em vista que, apesar de a Lei de Contravenções Penais não dispor sobre o tema, o artigo 12 do Código Penal preceitua serem aplicáveis as suas regras gerais quando a legislação especial for omissa. No Brasil, as medidas de segurança são pós-delituais, aplicadas depois que o agente pratica o injusto penal, não existindo as medidas pré-delituais, ou seja, aplicadas para prevenir injusto penal. 2) Periculosidade do agente. Significa personalidade de certos indivíduos, indicando ser possuidor de clara inclinação para o crime. Essa periculosidade pode se externar de duas formas: - Doença mental, tratando-se do inimputável – caso em que há sentença absolutória imprópria com a imposição de medida de segurança. - Perturbação mental, tratando-se do semi-imputável – caso em que há condenação com pena reduzida OU condenação com medida de segurança. Trata-se do sistema vicariante, pelo qual se impõe ou pena ou medida de segurança. Obs.: Foi ABOLIDO o sistema do duplo binário ou dos dois trilhos, pelo que é defeso ao juiz aplicar, cumulativa e sucessivamente, medida de segurança e pena para o semi-imputável. Vige, com a reforma de 1984, o sistema vicariante ou unitário, obrigando o juiz impor uma ou outra espécie de sanção, fundamentando sua decisão. Obs.: Assim, se a medida de segurança for imposta para o semi-imputável, para o qual há condenação e imposição de MS, gerará reincidência. * Existe MS preventiva? Antes da lei 12.403/11, não existia MS preventiva, de modo que, se imprescindível, o magistrado decretava a prisão preventiva. Com o advento da lei 12.403/11, admite-se medida de segurança como medida cautelar, nos termos do artigo 319, VII, do CPP, tornando-se possível a imposição de MS preventiva de forma a evitar a reiteração delituosa. 3 Sobre a mudança, RENATO BRASILEIRO DE LIMA assevera: 'a internação provisória será aplicável ao imputável ou semi-imputável nas hipóteses de Jatos típicos e ilícitos cometidos com violência ou grave ameaça, quando houver risco de reiteração, o que demonstra que essa medida deve ser aplicada com a finalidade de proteção da sociedade contra a possível prática de crimes graves'1189, concluindo, em seguida, que a medida jamais pode ser aplicada como medida de segurança provisória, mas sim como instrumento de natureza cautelar destinado à tutela da garantia da ordem pública, para evitar a prática de novas infrações penais com violência ou grave ameaça. Espécies: Art. 96. As medidas de segurança são: I- Medida de segurança detentiva: internação. Aplica-se aos crimes punidos com reclusão ou detenção. II- Medida de segurança restritiva: tratamento ambulatorial. Aplica-se aos crimes punidos com detenção. Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial. Assim, na detenção o juiz pode preferir o tratamento ambulatorial. Isso é o que diz o CP, mas CUIDADO: diz o artigo 17 da resolução 113 do CNJ que o juiz competente para a execução da MS, sempre que possível buscará implementar políticas antimanicomiais, mesmo para os crimes punidos com reclusão. Trata-se de política no sentido de evitar a internação em manicômios. Resolução n° 113 do Conselho Nacional de Justiça, em seu artigo 17, dispõe: "O juiz competente para a execução da medida de segurança, sempre que possível buscará implementar políticas antimanicomiais, conforme sistemática da Lei n° 10.216, de 06 de abril de 2001". Aplicação da MS: Duração: Artigo 97, § 1º - A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 (um) a 3 (três) anos. De acordo com esse dispositivo, a MS tem prazo mínimo que varia de 1 a 3 anos e será por tempo indeterminado, leia-se: não tem prazo máximo para a feitura de tal exame. Percebe-se que o legislador pátrio, partindo da premissa de que a medida de segurança tem propósito curativo e terapêutico, estipulou somente prazo mínimo 4 (de 1 a 3 anos), perdurando a sanção até a cessão da periculosidade do agente (cuidado, para a lei!). - Com relação ao prazo mínimo deve-se fazer algumas observações: 1- É diretamente proporcional à gravidade da anomalia mental do sentenciado. 2- É possível a detração, conforme o artigo 42 do CP. Art. 42 - Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de segurança, o tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão administrativa e o de internação em qualquer dos estabelecimentos referidos no artigo anterior. Acrescenta-se no artigo 42 a internação provisória cautelar, extraída por analogia in bonam partem do artigo 319, VII, CPP. Art. 319, VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de reiteração; - Quanto ao prazo indeterminado de duração, pode-se dizer ser de questionável constitucionalidade. CUIDADO: a aluno deve aplicar a nova súmula do STJ de número 527: O TEMPO DE DURAÇÃO DA MEDIDA DE SEGURANÇA NÃO DEVE ULTRAPASSAR O LIMITE MÁXIMO DA PENA ABSTRATAMENTE COMINADA AO DELITO PRATICADO. Até tal enunciado, a matéria era tratada da seguinte forma: Primeira corrente: a inexistência de prazo máximo na MS é constitucional, pois, tratando-se de medida de caráter curativo não deve haverlimite máximo. Segunda corrente: a inexistência de prazo máximo na MS é inconstitucional, configurando sanção de caráter perpétuo. Deve respeitar o prazo máximo do artigo 75 do CP (30 anos). Essa corrente é a que prevalece no STF (HC 107432). Perícia médica: Artigo 97, § 2º - A perícia médica realizar-se-á ao termo do prazo mínimo fixado e deverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar o juiz da execução. O juiz determinou o tempo mínimo de internação, ao final do qual se realiza a primeira perícia médica. Se estiver curado, será liberado. Se não estiver curado, continua internado e de ano em ano ou a qualquer tempo por determinação do juízo da execução, será realizada a perícia. Observe que as perícias podem ser antecipadas, mas jamais adiadas para além de um ano. * Admite-se que médico particular acompanhe a execução da medida? Conforme o artigo 43 da LEP, é possível que um médico acompanhe a execução da medida. Nos termos do §ú o juiz poderá acatar a posição tanto do perito do juízo quanto do particular, podendo até mesmo determinara realização de nova perícia. 5 Art. 43 - É garantida a liberdade de contratar médico de confiança pessoal do internado ou do submetido a tratamento ambulatorial, por seus familiares ou dependentes, a fim de orientar e acompanhar o tratamento. Parágrafo único. As divergências entre o médico oficial e o particular serão resolvidas pelo Juiz da execução. Desinternação ou liberação condicional: A jurisprudência dos Tribunais Superiores tem admitido a desinternação progressiva, consistente na passagem da internação em hospital de custódia para o tratamento ambulatorial antes da definitiva liberação do paciente Artigo 97, §3§ 3º - A desinternação, ou a liberação, será sempre condicional devendo ser restabelecida a situação anterior se o agente, antes do decurso de 1 (um) ano, pratica fato indicativo de persistência de sua periculosidade. A desinternação ou liberação será concedida a título de ensaio, de modo que se antes do decurso de um ano o agente pratica fato indicativo de persistência de sua periculosidade será novamente submetido à MS. Observe que o fato não precisa ser típico, bastando que indique a persistência de sua periculosidade, como, a título de exemplo, a autolesão, ou um furto insignificante ou de uso. REINTERNAÇÃO DO AGENTE: Artigo 97, §4: § 4º - Em qualquer fase do tratamento ambulatorial, poderá o juiz determinar a internação do agente, se essa providência for necessária para fins curativos. Estabelece que se o agente está sob tratamento ambulatorial e há fato indicativo de que necessite de internação, deverá ser internado, tratando-se de providência necessária para fins curativos, não configurando regressão de sanção. Explica ROGÉRIO GRECO: "Pode acontecer que o agente, após a sua desinternação - tendo iniciado o tratamento ambulatorial, ou mesmo na hipótese de ter sido esse tratamento o escolhido para o início do cumprimento da medida de segurança -, demonstre que a medida não está sendo suficientemente eficaz para a sua cura, razão pela qual poderá o juiz da execução determinar, fundamentadamente, a internação do agente em Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico ou outro local com dependências médicas adequadas." SUPERVENIÊNCIA DA DOENÇA MENTAL DURANTE EXECUÇÃO DA PENA: Ocorre na superveniência de doença mental, quando o sujeito foi condenado, não tinha qualquer anomalia psíquica, surgindo esta durante o cumprimento da pena. Dois dispositivos tratam do assunto: arts. 108 e 183, ambos da LEP. Art. 108. O condenado a quem sobrevier doença mental será internado em Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (aplicável para anomalia passageira); 6 Art. 183. Quando, no curso da execução da pena privativa de liberdade, sobrevier doença mental ou perturbação da saúde mental, o Juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, da Defensoria Pública ou da autoridade administrativa, poderá determinar a substituição da pena por medida de segurança. (Redação dada pela Lei nº 12.313, de 2010). Aplicável para anomalia não passageira. Analisando o caso concreto, o juiz da execução optará entre uma simples internação para tratamento e cura de doença passageira, hipótese em que o tempo de tratamento considera-se como pena cumprida, ou a substituição da pena privativa de liberdade em medida de segurança em se tratando de anomalia não passageira, seguindo, no caso, os ditames dos arts. 96 e ss. do CP. * Qual o prazo da MS advinda dessa conversão? 4 correntes: SUMÚLA 527, STJ: O tempo de duração da medida de segurança não deve ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito praticado. Mas vou mostrar como era a matéria antes: 1- Tem duração indefinida, ou seja, vai perdurar enquanto não cessar a periculosidade. 2- Deve durar pelo restante da pena aplicada (Nucci). 3- Tem duração máxima de 30 anos. 4- Máximo da pena em abstrato. Entendendo que o prazo máximo é de 30 anos, o que se vai fazer com o doente mental que depois desse prazo continue perigoso? Ainda que decorrido o prazo de 30 anos, que é o limite máximo de acordo com o STF, constatando-se a manutenção da periculosidade, a internação deve persistir, porém com natureza civil (artigo 1.769 do CC c/c artigo 9 da Lei 10.216/01). O MP está legitimado a pleitear essa internação, figurando como parte legítima para o requerimento. Obs.: FALTA DE VAGAS: STJ: "O inimputável submetido à medida de segurança de internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico não poderá cumpri-la em estabelecimento prisional comum, ainda que sob a justificativa de ausência de vagas ou falta de recursos estatais. Isso porque não pode o paciente ser submetido a situação mais gravosa do que aquela definida judicialmente" (HC 231.124, Quinta Turma, Rei. Min. Laurita Vaz, j. 23/04/2013).
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