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MEDIDAS DE SEGURANÇA 
Conceito: A medida de segurança é mais um instrumento (ao lado da pena) 
utilizado pelo Estado na resposta à violação da norma penal incriminadora, 
pressupondo, no entanto, agente não imputável. 
- É espécie de sanção penal. 
- É medida com que o Estado reage contra a violação da norma proibitiva por 
agente não imputável. 
Finalidades: 
A pena tem várias finalidades (polifuncionalidade da pena): 
a) Prevenção 
b) Retribuição 
c) Ressocialização 
A medida de segurança, contudo, tem finalidade essencialmente preventiva, 
porque sendo medida restritiva da liberdade, a maioria não nega seu caráter 
penoso. 
A pena preocupa-se principalmente com o passado, com a infração penal 
praticada, com a culpabilidade do agente. 
A MS está especialmente preocupada com o futuro, com a periculosidade 
do agente, o que o agente pode vir a fazer. 
 
PENA MEDIDA DE SEGURANÇA 
Tríplice finalidade: prevenção, 
retribuição, ressocialização. 
Essencialmente preventiva (apesar 
de não se poder negar, ainda que em 
menor grau, seu caráter aflitivo). 
Volta-se para o passado Volta-se ao futuro (fato abstrato que o 
agente poderá cometer) 
Trabalha com a culpabilidade do 
agente 
Trabalha com a PERICULOSIDADE 
do agente. 
Princípios: 
São os mesmos da pena, porém com duas observações: 
1- Princípio da legalidade: 
O artigo 1 do CP diz que não há crime sem lei anterior que o defina nem pena 
sem prévia cominação legal. Não fala em medida de segurança, razão pela qual 
se questiona se abrange a MS. 
Primeira corrente: sabendo que MS tem caráter puramente assistencial e 
curativo não é necessário que se submeta ao princípio da legalidade. É adotada 
por Assis Toledo. 
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Segunda corrente: não desconsiderando o caráter penoso da MS, deve, a 
exemplo da pena, sujeitar-se ao princípio da legalidade. Essa é a corrente que 
prevalece. 
2- Princípio da proporcionalidade: 
A pena, como visto, se ajusta à gravidade do fato delituoso. Já a MS SE AJUSTA 
AO GRAU DE PERICULOSIDADE DO AGENTE. 
Pressupostos: 
1) Prática de fato previsto como crime. Apesar de se falar em crime, abrange, 
obviamente, contravenção penal. Assim, admite-se a imposição de medida de 
segurança decorrente da prática de contravenção penal, tendo em vista que, 
apesar de a Lei de Contravenções Penais não dispor sobre o tema, o artigo 12 
do Código Penal preceitua serem aplicáveis as suas regras gerais quando a 
legislação especial for omissa. 
No Brasil, as medidas de segurança são pós-delituais, aplicadas depois que o 
agente pratica o injusto penal, não existindo as medidas pré-delituais, ou seja, 
aplicadas para prevenir injusto penal. 
2) Periculosidade do agente. 
Significa personalidade de certos indivíduos, indicando ser possuidor de clara 
inclinação para o crime. Essa periculosidade pode se externar de duas formas: 
- Doença mental, tratando-se do inimputável – caso em que há sentença 
absolutória imprópria com a imposição de medida de segurança. 
- Perturbação mental, tratando-se do semi-imputável – caso em que há 
condenação com pena reduzida OU condenação com medida de segurança. 
Trata-se do sistema vicariante, pelo qual se impõe ou pena ou medida de 
segurança. 
Obs.: Foi ABOLIDO o sistema do duplo binário ou dos dois trilhos, pelo que 
é defeso ao juiz aplicar, cumulativa e sucessivamente, medida de 
segurança e pena para o semi-imputável. Vige, com a reforma de 1984, o 
sistema vicariante ou unitário, obrigando o juiz impor uma ou outra espécie 
de sanção, fundamentando sua decisão. 
Obs.: Assim, se a medida de segurança for imposta para o semi-imputável, para 
o qual há condenação e imposição de MS, gerará reincidência. 
* Existe MS preventiva? 
Antes da lei 12.403/11, não existia MS preventiva, de modo que, se 
imprescindível, o magistrado decretava a prisão preventiva. 
Com o advento da lei 12.403/11, admite-se medida de segurança como medida 
cautelar, nos termos do artigo 319, VII, do CPP, tornando-se possível a 
imposição de MS preventiva de forma a evitar a reiteração delituosa. 
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Sobre a mudança, RENATO BRASILEIRO DE LIMA assevera: 'a internação 
provisória será aplicável ao imputável ou semi-imputável nas hipóteses de Jatos 
típicos e ilícitos cometidos com violência ou grave ameaça, quando houver risco 
de reiteração, o que demonstra que essa medida deve ser aplicada com a 
finalidade de proteção da sociedade contra a possível prática de crimes 
graves'1189, concluindo, em seguida, que a medida jamais pode ser aplicada 
como medida de segurança provisória, mas sim como instrumento de natureza 
cautelar destinado à tutela da garantia da ordem pública, para evitar a prática de 
novas infrações penais com violência ou grave ameaça. 
 
Espécies: 
Art. 96. As medidas de segurança são: 
I- Medida de segurança detentiva: internação. Aplica-se aos crimes punidos com 
reclusão ou detenção. 
II- Medida de segurança restritiva: tratamento ambulatorial. Aplica-se aos crimes 
punidos com detenção. 
Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). 
Se, todavia, o fato previsto como crime for punível com detenção, poderá o juiz 
submetê-lo a tratamento ambulatorial. Assim, na detenção o juiz pode preferir o 
tratamento ambulatorial. 
Isso é o que diz o CP, mas CUIDADO: diz o artigo 17 da resolução 113 do CNJ 
que o juiz competente para a execução da MS, sempre que possível buscará 
implementar políticas antimanicomiais, mesmo para os crimes punidos com 
reclusão. Trata-se de política no sentido de evitar a internação em manicômios. 
Resolução n° 113 do Conselho Nacional de Justiça, em seu artigo 17, dispõe: 
"O juiz competente para a execução da medida de segurança, sempre que 
possível buscará implementar políticas antimanicomiais, conforme sistemática 
da Lei n° 10.216, de 06 de abril de 2001". 
 
Aplicação da MS: 
Duração: 
Artigo 97, § 1º - A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo 
indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia 
médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 (um) a 
3 (três) anos. De acordo com esse dispositivo, a MS tem prazo mínimo que varia 
de 1 a 3 anos e será por tempo indeterminado, leia-se: não tem prazo máximo 
para a feitura de tal exame. 
Percebe-se que o legislador pátrio, partindo da premissa de que a medida de 
segurança tem propósito curativo e terapêutico, estipulou somente prazo mínimo 
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(de 1 a 3 anos), perdurando a sanção até a cessão da periculosidade do agente 
(cuidado, para a lei!). 
- Com relação ao prazo mínimo deve-se fazer algumas observações: 
1- É diretamente proporcional à gravidade da anomalia mental do sentenciado. 
2- É possível a detração, conforme o artigo 42 do CP. 
Art. 42 - Computam-se, na pena privativa de liberdade e na medida de 
segurança, o tempo de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, o de prisão 
administrativa e o de internação em qualquer dos estabelecimentos referidos no 
artigo anterior. Acrescenta-se no artigo 42 a internação provisória cautelar, 
extraída por analogia in bonam partem do artigo 319, VII, CPP. 
Art. 319, VII - internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes 
praticados com violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser 
inimputável ou semi-imputável (art. 26 do Código Penal) e houver risco de 
reiteração; 
- Quanto ao prazo indeterminado de duração, pode-se dizer ser de questionável 
constitucionalidade. 
CUIDADO: a aluno deve aplicar a nova súmula do STJ de número 527: O 
TEMPO DE DURAÇÃO DA MEDIDA DE SEGURANÇA NÃO DEVE 
ULTRAPASSAR O LIMITE MÁXIMO DA PENA ABSTRATAMENTE 
COMINADA AO DELITO PRATICADO. 
Até tal enunciado, a matéria era tratada da seguinte forma: 
Primeira corrente: a inexistência de prazo máximo na MS é constitucional, pois, 
tratando-se de medida de caráter curativo não deve haverlimite máximo. 
Segunda corrente: a inexistência de prazo máximo na MS é inconstitucional, 
configurando sanção de caráter perpétuo. Deve respeitar o prazo máximo do 
artigo 75 do CP (30 anos). Essa corrente é a que prevalece no STF (HC 107432). 
Perícia médica: 
Artigo 97, § 2º - A perícia médica realizar-se-á ao termo do prazo mínimo fixado 
e deverá ser repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar o 
juiz da execução. O juiz determinou o tempo mínimo de internação, ao final do 
qual se realiza a primeira perícia médica. Se estiver curado, será liberado. Se 
não estiver curado, continua internado e de ano em ano ou a qualquer tempo por 
determinação do juízo da execução, será realizada a perícia. Observe que as 
perícias podem ser antecipadas, mas jamais adiadas para além de um ano. 
* Admite-se que médico particular acompanhe a execução da medida? 
Conforme o artigo 43 da LEP, é possível que um médico acompanhe a execução 
da medida. Nos termos do §ú o juiz poderá acatar a posição tanto do perito do 
juízo quanto do particular, podendo até mesmo determinara realização de nova 
perícia. 
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Art. 43 - É garantida a liberdade de contratar médico de confiança pessoal do 
internado ou do submetido a tratamento ambulatorial, por seus familiares ou 
dependentes, a fim de orientar e acompanhar o tratamento. Parágrafo único. As 
divergências entre o médico oficial e o particular serão resolvidas pelo Juiz da 
execução. 
Desinternação ou liberação condicional: A jurisprudência dos Tribunais 
Superiores tem admitido a desinternação progressiva, consistente na passagem 
da internação em hospital de custódia para o tratamento ambulatorial antes da 
definitiva liberação do paciente 
Artigo 97, §3§ 3º - A desinternação, ou a liberação, será sempre condicional 
devendo ser restabelecida a situação anterior se o agente, antes do decurso de 
1 (um) ano, pratica fato indicativo de persistência de sua periculosidade. 
A desinternação ou liberação será concedida a título de ensaio, de modo que se 
antes do decurso de um ano o agente pratica fato indicativo de persistência de 
sua periculosidade será novamente submetido à MS. Observe que o fato não 
precisa ser típico, bastando que indique a persistência de sua periculosidade, 
como, a título de exemplo, a autolesão, ou um furto insignificante ou de uso. 
REINTERNAÇÃO DO AGENTE: 
Artigo 97, §4: 
§ 4º - Em qualquer fase do tratamento ambulatorial, poderá o juiz determinar a 
internação do agente, se essa providência for necessária para fins curativos. 
Estabelece que se o agente está sob tratamento ambulatorial e há fato indicativo 
de que necessite de internação, deverá ser internado, tratando-se de providência 
necessária para fins curativos, não configurando regressão de sanção. 
Explica ROGÉRIO GRECO: "Pode acontecer que o agente, após a sua 
desinternação - tendo iniciado o tratamento ambulatorial, ou mesmo na hipótese 
de ter sido esse tratamento o escolhido para o início do cumprimento da medida 
de segurança -, demonstre que a medida não está sendo suficientemente eficaz 
para a sua cura, razão pela qual poderá o juiz da execução determinar, 
fundamentadamente, a internação do agente em Hospital de Custódia e 
Tratamento Psiquiátrico ou outro local com dependências médicas adequadas." 
SUPERVENIÊNCIA DA DOENÇA MENTAL DURANTE EXECUÇÃO DA PENA: 
Ocorre na superveniência de doença mental, quando o sujeito foi condenado, 
não tinha qualquer anomalia psíquica, surgindo esta durante o cumprimento da 
pena. 
Dois dispositivos tratam do assunto: arts. 108 e 183, ambos da LEP. 
Art. 108. O condenado a quem sobrevier doença mental será internado em 
Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico (aplicável para anomalia 
passageira); 
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Art. 183. Quando, no curso da execução da pena privativa de liberdade, 
sobrevier doença mental ou perturbação da saúde mental, o Juiz, de ofício, 
a requerimento do Ministério Público, da Defensoria Pública ou da 
autoridade administrativa, poderá determinar a substituição da pena por 
medida de segurança. (Redação dada pela Lei nº 12.313, de 2010). Aplicável 
para anomalia não passageira. 
Analisando o caso concreto, o juiz da execução optará entre uma simples 
internação para tratamento e cura de doença passageira, hipótese em que o 
tempo de tratamento considera-se como pena cumprida, ou a substituição da 
pena privativa de liberdade em medida de segurança em se tratando de anomalia 
não passageira, seguindo, no caso, os ditames dos arts. 96 e ss. do CP. 
* Qual o prazo da MS advinda dessa conversão? 4 correntes: 
SUMÚLA 527, STJ: O tempo de duração da medida de segurança não deve 
ultrapassar o limite máximo da pena abstratamente cominada ao delito 
praticado. 
Mas vou mostrar como era a matéria antes: 
1- Tem duração indefinida, ou seja, vai perdurar enquanto não cessar a 
periculosidade. 
2- Deve durar pelo restante da pena aplicada (Nucci). 
3- Tem duração máxima de 30 anos. 
4- Máximo da pena em abstrato. 
Entendendo que o prazo máximo é de 30 anos, o que se vai fazer com o doente 
mental que depois desse prazo continue perigoso? 
Ainda que decorrido o prazo de 30 anos, que é o limite máximo de acordo com 
o STF, constatando-se a manutenção da periculosidade, a internação deve 
persistir, porém com natureza civil (artigo 1.769 do CC c/c artigo 9 da Lei 
10.216/01). O MP está legitimado a pleitear essa internação, figurando como 
parte legítima para o requerimento. 
Obs.: FALTA DE VAGAS: STJ: "O inimputável submetido à medida de segurança 
de internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico não poderá 
cumpri-la em estabelecimento prisional comum, ainda que sob a justificativa de 
ausência de vagas ou falta de recursos estatais. Isso porque não pode o paciente 
ser submetido a situação mais gravosa do que aquela definida judicialmente" 
(HC 231.124, Quinta Turma, Rei. Min. Laurita Vaz, j. 23/04/2013).

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