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Geovana Sanches, TXXIV DOENÇA RENAL CRÔNICA (DRC) FUNÇÕES DO RIM • Balanço hídrico e salino • Excreção de compostos nitrogenados • Regulação do equilíbrio ácido-base o Excreção de ácidos não voláteis o Reabsorção de bicarbonato • Metabolismo mineral ósseo • Atividade eritropoiética • Controle da pressão arterial o A partir do controle da volemia Ao pensarmos em doença renal crônica, devemos levar em consideração que, quanto mais glomérulos comprometidos, menor a taxa de filtração glomerular e maior a chance de alterações da função renal. EPIDEMIOLOGIA A cada década, o número de pacientes com insuficiência renal crônica terminal e necessidade de diálise vem aumentando no mundo, de forma que ela pode ser tratada como uma pandemia. O aumento no número de pacientes que necessitam de diálise não foi acompanhado pelo número de locais para que o procedimento seja realizado. Relevância • 2,2 milhões de brasileiros com DRC • 100.000 pacientes mantidos em diálise • 25.000 pacientes transplantados renais • Reduzida qualidade de vida • Gastos de 1,4 bilhões de reais a cada ano O aumento na incidência de doença renal crônica vem aumentando muito devido a diversos fatores, sendo um deles o envelhimento da população. A própria idade é um fator de risco independente, sendo que a partir dos 45 anos, a cada década, perdemos de 0,5 a 0,7 mL/min/ano de TFG devido a degeneração de néfrons. Associadamente, quanto mais anos de vida, maior o tempo de exposição aos demais fatores de risco para DRC, como HAS e DM, que lesam órgãos-alvo como o rim. Assim, quanto mais décadas de vida, maior a porcentagem de esclerose glomerular. Segundo a teoria dos néfrons remanescentes, quando há esclerose glomerular, os néfrons sobreviventes ficam sobrecarregados para tentar compensar a perda, de forma que eles se tornam disfuncionais mais rapidamente que os anteriores. Nem todos os pacientes com doença renal crônica evoluem para terapia renal substitutiva (diálise ou transplante). Todavia, dentro da DRC se encontra a insuficiência renal crônica, doença progressiva e irreversível na qual há troca de néfrons por fibrose, com consequente redução na taxa de filtração glomerular e nas funções dos rins. Cerca de 45% dos pacientes com DRC não chegam ao estágio V da doença, pois há óbito anterior. A principal causa de mortalidade nesse grupo são as doenças cardiovasculares, especialmente IAM, sendo a diminuição desse risco um dos focos do tratamento em paciente com IRC. A chance de um paciente com DRC desenvolver alguma doença cardiovascular é de 20 a 30 vezes maior do que se comparado à população geral. Geovana Sanches, TXXIV Risco de morte e doença renal em estágio terminal Para pacientes em diálise, há cerca de 1/5 de óbito ao ano, principalmente decorrente de doenças cardiovasculares. HISTÓRIA NATURAL DA DOENÇA Para os pacientes hígidos, é essencial a eliminação de fatores de risco para a doença, focando na promoção à saúde. Nos pacientes vulneráveis, foca-se na atenuação dos fatores de risco. São eles: DM, HAS, idade superior a 60 anos, história familiar de DRC, alteração da imagem renal (rim único ou atrofia renal), uso de drogas nefrotóxicas e injúria renal aguda anterior. É importante lembrar que DM e HAS acometem entre 25 e 30% da população adulta e são a principal causa de DRC no mundo. Além de serem doenças prevalentes, são silenciosas e habitualmente mal controladas. Há associação de ambas em cerca de 40% dos pacientes. A partir da vulnerabilidade, o paciente pode evoluir com dano renal, como por exemplo lesão glomerular na presença de albuminúria. Nessa etapa, ainda não há perda de função renal, mas deve-se diagnosticar e tratar a alteração, além de evitar as comorbidades, no intuito de retardar a progressão da DRC. Seguindo-se o dano renal, o paciente pode evoluir com redução da filtração glomerular, decorrente da perda de néfrons. Na disfunção renal avançada, já há troca de néfrons por fibrose e risco aumentado de complicações e comorbidade, como prevalência de uremia, hiper- potassemia, anemia, doença do metabolismo mineral ósseo, entre outras. Quando o paciente chega a uma TFG < 30mL/min, faz-se necessário o preparo para a terapia renal substitutiva, como a realização da fístula arteriovenosa para hemodiálise (FAV). Isso é importante pois, a fístula demora um tempo para poder ser utilizada e, quando o paciente apresentar TFG entre 15 a 20mL/min, ele provavelmente já entrará em TRS; é importante individualizar cada paciente para decidir o momento de entrada na TRS. Outra preocupação para o paciente a partir do dano renal é a prevenção de eventos cardiovasculares, os quais são os principais determinantes de morte nesses pacientes. Além disso, deve-se fazer busca ativa de doença naqueles que são vulneráveis, tendo em vista que o diagnóstico precoce pode retardar a evolução para insuficiência renal crônica. Declínio da função renal Os indivíduos normais apresentam cerca de 2.000.000 de néfrons. Conforme há perda deles e troca por fibrose, a função renal declina. Segundo a teoria dos néfrons remanescentes, os que sobram ficam sobrecarregados para tentar repor a função perdida. FISIOPATOGENIA Os eventos inflamatórios são essenciais no desenvolvimento de nefropatias progressivas de origem imunológica. Nesse mecanismo, estão envolvidas moléculas de adesão, citocinas, quimiocinas, derivados da COX e angiotensina II, criando um ciclo de inflamação. Geovana Sanches, TXXIV Mecanismos não imunológicos de lesão renal • Hipertensão glomerular • Hipertrofia glomerular o Estiramento mecânico • Disfunção primária de podócitos • Quebra de barreira glomerular • Alterações bioquímicas o Produtos de glicação não enzimática se ligam ao receptor AGE, levando a um processo inflamatório que também influencia na glomeruloesclerose. CAUSAS DE IRCT NO BRASIL • Hipertensão arterial sistêmica: 24% • Diabetes Mellitus: 18% o Causas não imunológicas (HAS + DM)= mais de 40% dos casos • Glomerulonefrite: 11% • Outras causas: 16% o Uso de drogas nefrotóxicas § AINEs, quimioterápicos o Pielonefrite de repetição • Causa desconhecida: 27% o Corresponde aos pacientes que chegam com doença muito avançada, não sendo mais possível verificar qual sua etiologia. Diagnóstico de base dos pacientes em diálise Prevalência de hipertensão arterial Estudos populacionais demonstram que há uma parcela considerável da população que apresenta hipertensão arterial sistêmica (PA > 140/90 mmHg), considerando como média entre 25 e 30% dos indivíduos adultos. A porcentagem de indivíduos que apresentam controle nos níveis da pressão arterial é muito variável entre os países, mas a grande maioria da população geral não tem a doença controlada. Um dos motivos para tal é que menos de 30% dos acometidos apresentam sintomatologia e, por ser uma doença silenciosa, ocorre déficit de diagnóstico e não adesão ao tratamento. Todavia, quanto pior e mais tardio for esse tratamento, há maiores lesões em órgãos-alvo, aumentando o risco para DRC, AVC e IAM por exemplo. Diabetes Mellitus O diabetes mellitus também é uma doença de alta prevalência e muitas vezes com diagnóstico tardio, especialmente no DM2. Geovana Sanches, TXXIV Com o tempo de exposição aumentado à doença, normalmente após 10 anos da mesma, e a depender da efetividade no controle dos índices glicêmicos, o paciente pode evoluir com complicações crônicas: • Microvascular: doença dos pequenos vasos dos rins, olhos e nervos. • Macrovascular: doença dos grandes vasos, coração, cérebro e pés. o Pés: decorrente da diminuição da perfusão em membros inferiores A doença renal crônica em pacientes com DM se manifesta com mais albuminúria. Isso indica um pior prognóstico por dano direto dos túbulos, com perda gradualde néfrons e substituição por fibrose. Nefropatia diabética A nefropatia diabética atinge entre 20 e 30% dos indivíduos com diabetes. A DM1 tem maior propensão em ocasionar danos microvasculares, sendo que no DM2 uma pequena porcentagem evolui para IRC. Todavia, pacientes com DM2 constituem mais da metade dos diabéticos que fazem diálise. • Estágio 1 o Hiperfiltração glomerular devido ação da angiotensina II o Aumento da pressão no interior do glomérulo o TFG > 150 a 160 mL/min § Sobrecarga • Estágio 2 o Início do dano glomerular o Albuminúria leve a moderada • Estágio 3 o Albuminúria severa § > 300 mg/g • Estágio 4 o Diminuição no número de néfrons e da TFG § Insuficiência renal • Estágio 5 o Doença renal em estágio terminal § TFG < 15mL/min FATORES DE RISCO • Diabéticos • Hipertensos • Indivíduos acima de 60 anos • Indivíduos com história familiar de DRC o Componente hereditário • Indivíduos com doença autoimune o Lúpus eritematoso sistêmico § Nefrite lúpica • Indivíduos com infecção sistêmica • Indivíduos expostos a substâncias tóxicas o Quimioterápicos o Antibióticos nefrotóxicos o AINEs § Por muito tempo e com muita frequência • Indivíduos com redução da massa renal • Alguns casos de insuficiência renal aguda o Entre 85 a 90% dos pacientes retornam ao estado normal, sendo o restante evoluindo à cronicidade CRITÉRIOS PARA DRC A doença renal crônica é definida por alteração estrutural ou funcional presentes por mais de 3 meses. Um ou mais dos marcadores de lesão renal devem estar presentes: • Albuminúria o > 30 mg/24h o Relação albumina/creatinina= 30 mg/g o Marcador de dano glomerular • Anormalidades no sedimento urinário o Decorrem de dano nos túbulos ou glomérulo • Distúrbios eletrolíticos e outros o Decorrentes de lesão tubular • Anormalidades detectadas em exame histológico • Anormalidades estruturais detectadas por exame de imagem o Atrofia renal o Agenesia renal o Doador renal o Perda da relação cortico-medular • História de transplante renal • TFG diminuída o < 60 ml/min/1,73m2 § Categorias TFG G3a – G5 MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As manifestações clínicas da doença renal crônica são tardias e silenciosas, sendo que há sintomatologia apenas em estágio muito avançado, quando a taxa de filtração glomerular já está abaixo de 30mL/min. A uremia ou síndrome urêmica incorpora todos os sinais e sintomas relacionados a perda de função renal vistos nos vários sistemas do organismo. Nos pacientes com IRA, os sintomas são mais exacerbados, tendo em vista que não houve tempo de instalação de mecanismos de Geovana Sanches, TXXIV compensação. Já nos pacientes crônicas, como a instalação é progressiva, a perda é silenciosa. Uremia é diferente de azotemia, sendo que o último se refere ao aumento das concentrações de ureia ou creatinina no sangue. Neurológica central • Sonolência, coma • Alteração na atividade cognitiva • Perda de memória • Tremores • Mielomas o Tumor maligno que se desenvolve nos plasmócitos • Convulsão • Desorientação, confusão • Apneia do sono Oftálmica • Calcificações conjuntival • Calcificações corneal Cardiovascular • Aterosclerose acelerada • Miocardiopatia • Pericardite Hematológica • Anemia • Quimiotaxia neutrofílica • Alteração na função dos linfócitos • Diátese hemorrágica • Disfunção plaquetária o Há agregação plaquetária decorrente das toxinas acumuladas no sangue Neurológica periférica • Neuropatia sensomotora • Disestesias • Soluço • Pernas inquietas o Presente em até 8% dos paciente sem estágio V • Fadiga muscular Dermatológica • Prurido • Calcificação distrófica • Alteração da pigmentação • Cabelo seco e quebradiço Endocrinológica • Hiperparatireoidismo secundário o Incluso na doença mineral óssea • Intolerância aos carboidratos • Resistência insulínica • Dislipidemias • Metabolismo tirocino periférico alerado • Atrofia testicular • Disfunção ovariana • Amenorréia, dismenorreia Pulmonar • Edema pulmonar • Pneumonite • Pleurite fibrinosa Gastrintestinal • Anorexia • Náuseas e vômitos • Estomatite • Gengivite • Parotidite • Gastrite, duodenite, úlcera péptica CLASSIFICAÇÃO A classificação atual das diretrizes Kdigo se dá com base em 3 pilares: causa, ritmo de filtração glomerular e albuminúria. Causa • Doença glomerular o Diabetes mellitus é o principal o Doença autoimune sistêmica • Doença túbulo-intersticial o Infecções sistêmicas o Doenças autoimunes o Sarcoidoses o Drogas nefrotóxicas • Doença vascular o Hipertensão arterial sistêmica é a principal o Vasculites (associadas ao ANCA principalmente) • Doença cística e congênita o Doença renal policística § História familiar muito importante § Desenvolvimento de doença renal em até 65% dos casos Taxa de filtração glomerular • G1. Taxa normal de filtração glomerular, porém com alteração na imagem renal ou no sedimento urinário compatíveis com doença renal • G2. Diminuição leve • G3a. leve a moderada • G3b. moderado a severa Geovana Sanches, TXXIV • G4. Severo • G5. Falência Albuminúria A presença de albumina na urina é um marcador de dano glomerular e não de função renal. Todavia, quanto mais intensa e mais prolongada a exposição dos túbulos à albumina, maior será o dano e, consequentemente, mais provável a perda de sua função. A albuminúria pode ser identificada no exame de urina tradicional e, a partir disso, faz-se uma urina 24h para identificar o quanto de proteína o paciente está perdendo durante um dia. Junção das classificações... DIAGNÓSTICO Taxa de filtração glomerular (TFG) A taxa de filtração glomerular é estimada através do clearance ou depuração da creatinina sérica, o qual estima o quanto os glomérulos conseguem filtrar de sangue por minuto. A creatinina é um metabólito proveniente da creatina, proteína do músculo estriado esquelético. Essa proteína é proveniente do metabolismo homogêneo durante 24h por dia e, no fígado, se transforma em creatinina (toxina). Após sua transformação, é 100% excretada através da função renal, sendo 85% através da filtração glomerular e 15% por secreção tubular. Sendo assim, o clearance de creatinina é um espelho da filtração glomerular. A creatinina sérica, por sua vez, é indicativa de insuficiência renal, pois demonstra que a filtração glomerular está reduzida. Todavia, o aumento da toxina no sangue ocorre tardiamente, quando as taxas de filtração glomerular já estão abaixo de 50 a 60 mL/min. Portanto, pequenos aumentos na creatinina sérica do paciente traduzem perdas importantes de função renal. As diretrizes orientam que a estimativa da TFG ocorra a partir da creatinina sérica, sendo esse o melhor método para o diagnóstico, classificação e acompanhamento da progressão da DRC. Para essa estimativa, utiliza-se a equação CKD-EPI (Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration), a qual leva em consideração quatro variantes: idade, creatinina sérica, sexo e raça. Caso ainda haja dúvidas após a estimativa através da creatinina, pode-se utilizar a cistatina C sérica como marcador. O KDIGO indica a confirmação diagnóstica da DRC em adultos com TFG estimada (TFGe) entre 45-59 mL/min/1,73m2 e sem outros comemorativos de lesão do parênquima renal, seja utilizando-se a dosagem da creatinina, cistatina C sérica ou eventualmente por meio de outro teste mais específico (por exemplo, marcadores exógenos da filtração). A fórmula de Cockcroft-Gault não é mais utilizada pois leva em consideração o peso, podendo superestimar a função renal em obesos. A MDRD ainda é utiliza e se assemelha a CKD-EPI. Essas contas são realizadas por uma calculadora de filtração glomerular. Albuminúria A albuminúria traduz dano glomerular, demonstrando quebra do bloqueio elétrico e mecânico que impedem a passagem de proteínas parao interior do glomérulo. Sua taxa não tem ligação com a função renal, tendo em vista que o paciente pode apresentar dano estrutural não acompanhado por dano funcional. O dano ocorre, pois, a albumina tem efeito citotóxico sobre as células tubulares. Assim, Geovana Sanches, TXXIV quanto mais tempo ela está presente, maior a toxicidade e a perda de néfrons, podendo cursar com insuficiência renal. É, portanto, um fator de mal prognóstico. Para a avaliação da albuminúria, sugere-se que sejam usadas as seguintes medidas para teste inicial, dando-se preferência à amostra da primeira urina da manhã e nesta ordem: 1. Relação albumina/creatinina na urina (RAC) 2. Relação proteína/creatinina (RPC) 3. Tira reagente de urinálise para proteína total com leitor automático; 4. Tira reagente de urinálise para proteína total com leitura manual. Uma amostra isolada da primeira urina é o primeiro exame que identifica a albuminúria. Após, faz-se a dosagem em urina de 24h, sendo esse o exame de referência para a proteinúria. A condição será confirmada se forem detectadas concentrações maiores que 30mg de albumina na urina em 24h. O termo “microalbuminúria”, antigamente utilizado para definir concentrações entre 30 e 300 mg de albumina na urina 24h, não deve ser utilizado, tendo em vista que leva a crença de uma doença mais branda. Sabe-se que a albuminúria é fator de aumento da mortalidade cardiovascular e geral, por ser um marcador de dano endotelial. Ultrassonografia A ultrassonografia é um exame muito utilizado, tendo em vista seu ótimo custo- benefício, com boa avaliação do parênquima renal. Em uma imagem normal, uma clara diferenciação entre a região cortical (porção externa) e medular (porção interna) é possível, além da identificação da relação cortico-medular. O córtex renal se apresenta mais escuro na USG, pois nessa porção está a grande maioria dos glomérulos; ele normalmente apresenta espessura superior a 2cm. A parte medular, por sua vez, apresenta-se mais clara e corresponde a área de penetração dos túbulos. Vemos, ainda, relação cortico-medular preservada. A perda crônica da função renal (troca de néfrons por fibrose) apresentam imagem ultrassonográfica alterada. Normalmente, essas alterações se manifestam quando a TFG está abaixo do G4 (< 30 mL/min), demonstrando-se: • Atrofia renal: decorrente da substituição dos néfrons por fibrose. Em pacientes dialíticos, os rins chegam a ser menores que 6cm • Diminuição da espessura cortical, a qual passa a ter menos que 2cm • Perda da relação cortico-medular o Não conseguimos diferenciar o córtex da medula, pois a imagem aparece embaçada § Hipoecogenia: caracteriza a presença de fibrose Alterações de cronicidade Rins policísticos Geovana Sanches, TXXIV CLASSIFICAÇÃO X PROGNÓSTICO DA DRC O prognóstico da doença renal crônica está relacionado tanto com a taxa de filtração glomerular, quanto com a albuminúria. Todavia, a albuminúria isolada é mais impactante para a progressão da DRC. Entre a nefropatia diabética e a nefroesclerose hipertensiva, há maior proteinúria na primeira, de forma que o seu prognóstico é pior. Exemplo 1. Senhor de 70 anos com uma TFG de 50 mL/ min/ 1,73 m² e sem albuminúria (G3a/ A1 na nova classificação); • Risco moderado para progressão da DRC 2. Paciente de 55 anos com uma TFG 70 mL/min/ 1,73 m² e albuminúria de 1,5 g/dia (G2/ A3). • Risco aumentado para progressão da DRC Association of estimated glomerular filtration rate and albuminuria with all-cause and cardiovascular mortality in general population cohorts: a collaborative meta-analalysis Neste estudo, verificou-se aumento significativo da mortalidade cardiovascular e geral em pacientes que apresentam albuminúria. Com isso, temos que a albuminúria não é apenas um marcador de dano glomerular, mas sim de dano endotelial. AVALIAÇÃO DA DRC Avaliação da progressão A TFG mais baixa e albuminúria mais elevada estão ambas associadas a taxa de progressão e são sinérgicas, apesar do componente proteico ser mais relevante. Sendo assim, os pacientes que apresentam TFG diminuída e albiminúria elevada, devem ter medidas mais frequentes desses dois componentes, tendo em vista o alto risco de evolução da doença renal crônica. Alguns fatores de risco para progressão da DRC são modificáveis, como mudança no estilo de vida (cessação do tabagismo, exercício físico, evitar obesidade) e medidas como redução da pressão arterial, redução da albuminúria e prevenção de hiporglicemia. Além disso, é importante evitar insultos agudos, tais como antibióticos nefrotóxicos, contraste iodado, AINEs, entre outros. A causa subjacente da DRC muitas vezes também é modificável por responder a um tratamento específico, sendo esse o primeiro fator a ser considerado (como, por exemplo, imunossupressão). Avaliação da cronicidade Em pessoas com TFG <60 mL/ min/ m² (G3a - G5) ou marcadores de lesão renal, história e medidas prévias devem ser revistas para determinar a duração da doença renal: • Se a duração for > 3 meses, a DRC está confirmada. Devem ser seguidas as recomendações para DRC; • Se a duração não for > 3 meses, a DRC não foi estabelecida e, portanto, não está confirmada. Os pacientes podem ter DRC ou IRA ou ambas e os testes devem ser repetidos Avaliação da causa Deve-se avaliar o contexto clínico, incluindo a história pessoal e familiar, fatores ambientais, medicamentos, exame físico, medidas laboratoriais, exames de imagem e diagnósticos histopatológicos para determinar as causas da doença renal. Com exceção das situações muito avançadas, há necessidade de se estabelecer a causa da DRC utilizando métodos clínicos convencionais, atentando-se para os diagnósticos diferenciais de HAS e DM. A partir de um determinado momento, a doença renal crônica pode ser a causa de Geovana Sanches, TXXIV hipertensão arterial sistêmica secundária devido a hipervolemia, sendo que isso deve ser diferenciado de uma glomeruloesclerose hipertensiva. MANEJO DA DRC Objetivos • Retardar a progressão da DRC o Após instalação da doença, o objetivo é tentar fazer com que a perda anual da TFG seja a menor possível, a fim de evitar que o indivíduo chegue rapidamente ao estágio G5. o Quanto mais baixa a TFG, maior a incidência das complicações. • Tratamento das complicações o Anemia o Acidose metabólica § Além de diminuir o tempo útil dos glomérulos, afeta diversos outros órgãos e tecidos o Doença do metabolismo mineral ósseo (DMMO) relacionada à DRC o Distúrbios hidroeletrolíticos § Hiperpotassemia o Injúria renal aguda § Pacientes com insuficiência renal crônica são os que mais cursam com IRA o Desnutrição • Avaliação e redução do risco cardiovascular o Pacientes com DRC tem grande potencial para ocorrência eventos cardiovasculares, cerca de 30x maior que para a população geral; o Decorrentes, por exemplo, de hipertrofia de ventrículo esquerdo, anemia, disfunção endotelial, calcificação vascular por PTH, hipervolemia associada, entre outros. § Chance de IAM é tão alta quanto nos pacientes com infarto prévio o Necessária a prevenção secundária para esses eventos, realizando os exames e entrando com fármaco preventivo, como estatinas e antiagregante plaquetário. § Ecocardiograma § Avaliar indiretamente a perfusão § Cintilografia com radio- isótopo não tóxico ao rim § Doppler de carótidas (caso apresente placas, a chance de placa coronária é acima de 80%) o Entrar com medidas preventivas: estatinas (< 80), anti-agregante plaquetário A partir de G4, preparamos o paciente para início da terapia renal substitutiva com a confecção da fístula arteriovenosa no antebraço não dominante (acesso vascular para a hemodiálise). A fístula demora de 4 a 6 semanas para estar preparada para o procedimento, sendo importante suaconfecção prévia para não ocorrerem problemas quando for necessária a realização da diálise (normalmente em G5). Outra opção é o cateter, mas esse apresenta alto risco de infecção tanto para instalação quanto durante o procedimento da diálise, tendo em vista que é uma comunicação direta do átrio direito do paciente com o meio externo. Além disso, a efetividade da diálise realizada via fístula é muito maior do que com o cateter. Complicações da DRC de acordo com a TFG Prevenção da progressão da DRC O manejo da doença renal crônica visa reduzir um grande número de elementos associados com sua progressão, atuando em diferentes fatores de risco para doenças cardiovasculares (DCV), tendo em vista que quando abordados, separadamente ou em conjunto com medidas de proteção específicas para DRC, vão ter impacto direta ou indiretamente positivo, retardando sua evolução. • Controle da hipertensão arterial sistêmica (HAS): é essencial, tendo em vista que pacientes hipertensos irão progredir muito mais rapidamente para IR; Geovana Sanches, TXXIV • Bloqueio do sistema renina-angiotensina- aldosterona (SRAA): feito através da utilização de iECA ou BRA • Controle glicêmico: meta é que HbA1c permaneça inferior a 7. • Tratamento da dislipidemia: o tratamento com estatinas é realizado para redução de dano endotelial • Otimização dietética: recomenda-se dieta hipossódica. o A restrição proteica é recomendada apenas para TFG < 30 (G4), sendo que nesses casos é adequado o consumo de 0.8 kg/dia de proteínas. o Nunca será recomendada dieta hiperproteica, tendo em vista a degradação da proteína leva a produção de ureia e liberação de aminoácidos. o Os aminoácidos apresentam receptores nos glomérulos, os quais quando ativados promovem vasodilatação (sobrecarga sobre os glomérulos) • Correção da acidose metabólica: a correção da acidose promove diminuição da ação enzimática e da atividade mitocondrial, o que retarda a progressão da doença renal crônica. PA e bloqueio do SRAA O bloqueio do sistema renina- angiotensina-aldosterona (SRRA) é realizado através da utilização de iECA (inibidores da enzima de conversão da angiotensina) ou BRA (bloqueadores de receptores da angiotensina), os quais inibem a ação da angiotensina II e, consequentemente, os seus efeitos deletérios para os pacientes com insuficiência renal como os mencionados abaixo. Sobre a hemodinâmica, ela promove vasoconstrição da arteríola eferente e aumenta a pressão nos glomérulos, contribuindo assim para a diminuição do tempo de vida útil dos mesmos. • Retenção de sódio e água o Hipovolemia • Vasoconstrição o Aumento da PA • Remodelamento cardíaco com maior chance de dilatação cardíaca o Piora no desempenho do coração • Efeito pró-apoptótico • Indução de fibrose • Aumento de mediadores inflamatórios Com isso, ao bloquear o SRAA, há redução da proteinúria, apoptose, pressão arterial, fibrose, entre outros benefícios. à Contraindicações A angiotensina II é espoliadora de potássio e quando a bloqueamos, há risco aumentado para retenção desse íon. Sendo assim, quando o paciente apresenta hiperpotassemia prévia, a contraindicação é absoluta. Além disso, a angiotensina II diminui a pressão de chegada e isso pode reduzir a TFG. Todavia, ainda assim, há ganho devido a redução do dano anatômico e estrutural. Outra situação é que quando utilizamos iECA ou BRA, o paciente terá vasodilatação da arteríola eferente do glomérulo. Sendo assim, ao fazer a introdução dessas medicações, é essencial que o paciente esteja com perfusão renal adequada. Ou seja, não devemos administrar essas drogas em pacientes hipovolêmicos, hipotensos ou desidratados. Para qualquer situação de IRA, esses dois medicamentos estão proscritos até que haja melhora no quadro agudo. à KDIGO Reforça-se a adoção do KDIGO o cuidado de não recomendar ou sugerir níveis pressóricos muito baixos, sendo essencial individualizar as metas de controle da PA, assim como selecionar os agentes utilizados de acordo com a idade (especialmente idosos), coexistência de DCV e outras comorbidades, risco de progressão para CRC, presença de retinopatia (diabéticos com DRA) e tolerância ao tratamento. Indica-se tratar adultos portadores de DRC, diabéticos e não diabéticos, com EUA < 30 mg/24h (ou seja, na ausência de albuminúria), com PAS consistentemente > 140 mmHg ou PAD > 90 mmHg com drogas anti-hipertensivas para manter os níveis de ambas abaixo disso (1B). Sugere-se que adultos portadores de DRC, diabéticos ou não, com EUA > 30 mg/24h (ou seja, com albuminúria) e PAS > 130 mmHg ou PAD > 90 mmHg sejam tratados com drogas anti- hipertensivas para manter PAS < 130 mmHg e PAD < 80 mmHg (2D). A meta de pressão arterial para pacientes com albuminúria é menor devido ao aumento do risco cardiovascular representado por esse marcador. Geovana Sanches, TXXIV Sugere-se utilizar iECA ou BRA em adultos diabéticos e com DRC, que apresentam EUA entre 30 e 300 mg/24h (2D). Essa recomendação deve ser seguida, quando possível, para todos os pacientes que apresentem albuminúria. Apenas uma das duas classes deve ser utilizada, nunca as duas juntas. Isso pois, não existem evidências quanto ao uso da associação das duas classes na prevenção da progressão da DRC (1B). à Efeito do tratamento anti-hipertensivo sobre a evolução da nefropatia diabética Injúria renal aguda Todo paciente portador de doença renal crônica é de alto risco para o desenvolvimento de IRA (evidencia A), pois além de haver menor população de néfrons, estes estão sobrecarregados. Há forte associação epidemiológica entre DRC e LRA, sendo a DRC um potente preditor de declínio agudo da função renal após uso de contrastes iodados, grandes cirurgias e algumas outras condições. A presença de diabetes, HAS e proteinúria aumenta a possibilidade de desenvolvimento de LRA em pacientes hospitalizados. Nutrição: Ingestão proteica O papel da restrição proteica na dieta objetivando retardar a progressão da DRC é bem controverso. Há estudos que mostram ou não retardo e alguns mencionam inclusive aumento da mortalidade. Sugere-se uma redução da ingestão proteica para 0.8 g/kg/dia para adultos com diabetes mellitus (2C) ou sem diabetes (2B), além de TFG < 30 ml/min/1,73m2 (G4 e G5). É importante, ainda, evitar ingestão proteica elevada, ou seja, acima de 1.3 g/kg/dia em adultos com DRC e elevado risco de progressão (2C). A lógica para redução de ingesta proteica se dá pela geração de ureia (toxina que necessita dos rins para ser excretada) como produto de degradação. Além disso, as arteríolas aferentes possuem receptores para aminoácidos e quando estes se ligam, há vasodilatação com aumento da pressão intraglomerular, sobrecarregando ainda mais os néfrons. Deve-se ter cuidado com a perda de massa magra, o que aumenta o riscode mortalidade por desnutrição. Controle glicêmico Existem controvérsias quanto à intensidade do controle glicêmico a ser instituído, com grandes estudos mostrando diferentes resultados, a favor e contra controle mais rigoroso da glicemia. Recomenda-se HbA1c próxima a 7%, para prevenir ou retardar a progressão das complicações microvasculares do diabetes, incluindo a nefropatia diabética (1A). Para análise dos resultados da hemoglobina glicada, sempre levar em consideração se o paciente é ou não portador de anemia, o que pode gerar um resultado falseado. Deve-se ter maior cuidado ao tentar tratar para atingir alvo de HbA1c < 7%, pois isso pode ocasionar hipoglicemia. Além disso, sugere-se que o alvo seja mais elevado para indivíduos cm comorbidades ou limitada expectativa de vida e risco de hipoglicemia. Ingestão de sal Reduzir a ingestão de sódio para < 2g/dia em adultos, a menos que seja contraindicado, ou seja, em pacientes com nefropatias perdedoras de sal, hipotensão postural e contraçãode volume que não tenha IC (1C). Essa recomendação é especialmente importante para pacientes hipertensos. Estilo de vida Recomendação que indivíduos com DRC sejam encorajados a realizar atividades físicas compatíveis com sua saúde cardiovascular e tolerância, objetivando-se realizar exercício ao menos 30 minutos, cinco vezes por semana. Além disso, um peso saudável (IMC entre 20 e 25) é muito importante, tendo em vista que a obesidade por si só já é um fator de risco. Outra recomendação importante é cessar o tabagismo (1D), em decorrência principalmente das alterações endoteliais e neoplasias que podem ser ocasionadas por esse hábito. Imunização Os pacientes com DRA são imunossuprimidos devido a redução da Geovana Sanches, TXXIV quimiotaxia dos neutrófilos, além de resposta imunológica lentificada. Portanto, devem ser vacinados contra: • Influenza, anualmente • Hepatite B: dose dobrada e quatro doses o Pacientes que fazem hemodiálise apresentam contato direto com sangue, sendo alta a transmissibilidade de hepatite B. • Pneumococo a cada 5 anos o Evita infecções de vias aéreas alta e baixa Anemia A anamia é uma das complicações mais comuns dos pacientes de doença renal crônica, sendo que quanto mais baixa a TFG, maior a prevalência desta e de outras complicações. Ela atinge até 50% dos pacientes nos estágios G4 e G5. Etiologia da anemia na DRC • Multifatorial • Redução da eritropoietina: hormônio que atua na medula óssea, estimulando a eritropoiese • Baixa ingestão de ferro: ocorre principalmente nos pacientes que desenvolvem síndrome urêmica, pois há redução do apetite. • Redução da absorção do ferro e da liberação do ferro para a medula óssea, decorrentes do aumento da hepcidina • Baixa agregação plaquetária, facilitando perda de ferro por sangramento. Não há diminuição no número de hemácias, apenas em sua função, o que gera micro- sangramentos (principalmente no intestino) • Redução do tempo de vida da hemácia para 60-70 dias: provável hiperesplenismo secundário o Há várias etiologias possíveis para esse fenômeno, mas a do hiperesplenismo é a mais aceita o Toxicidade do PTH à hemácia o Toxinas acumuladas pela DR poderiam ter papel comprometedor na vida da hemácia. • Hiperparatireoidismo secundário: o PTH leva a osteoclase e fibrose da medula óssea • Para pacientes em hemodiálise: deficiência de vitamina B12 e ácido fólico decorrente da perda de sangue Anemia e o coração A anemia promove um efeito deletério ao coração, pois seu principal mecanismo compensatório é a taquicardia e consequente hipertrofia do ventrículo esquerdo. Com isso, há aumento da demanda de oxigênio pelo miocárdio, porém o paciente anêmico cursa com redução da oferta desse gás. Esse mecanismo é uma das chaves para a doença cardiorrenal, podendo cursar com uma insuficiência cardíaca. A correção da anemia em pacientes com DRC e ICC combinados podem prevenir ambas as condições. Cria-se um ciclo vicioso entre a tríade anemia, insuficiência cardíaca congestiva e doença renal crônica. Investigação inicial da anemia na DRC • Hemograma completo o Apresenta as quantidades de hemácias, hemoglobina e o hematrócito, além dos índices hematimétricos. • Contagem de reticulócitos o Importante para verificar se não há anemia hemolítica associada • Ferritina o Representa do estoque de ferro, mas também é uma proteína de fase aguda Geovana Sanches, TXXIV • Saturação da transferrina o Verifica o quanto de ferro está sendo transportado • Dosagem de vitamina B12 • Dosagem de ácido fólico A principal anemia que ocorre em pacientes com DRC é a anemia de doença crônica, a qual se caracteriza por ser normocítica e normocrômica. Entretanto, esses pacientes podem apresentar anemia microcítica e hipocrômica (em decorrência da depleção de ferro) ou megaloblástica (decorrente das deficiências de vitamina B12 ou ácido fólico). As metas são que a hemoglobina permaneça entre 10 e 12 g/dL e o hematrócrito entre 33 a 36%. Não é recomendado que se ultrapasse o limite de 13 g/dL devido ao aumento da viscosidade do sangue, o que diminui a perfusão e leva a maior risco de eventos cardiovasculares. Além disso, hemoglobinas menores que 10 g/dL levam a complicação da ICC. Uso de ferro Tendo em vista que a gênese da anemia na DRC inclui ao menos três situações que envolvam o ferro, é extremamente importante realizar a investigação da falta desse componente e, caso necessário, fazer sua reposição. Em pacientes adultos portadores de DRC com anemia e sem terapia de suplementação com ferro ou eritropoietina, recomenda-se uso de hidróxido de ferro III intravenoso (se dialítico) ou suplementação oral por 1 a 3 meses (se não dialítico), nas seguintes situações: • Quando o aumento na concentração da hemoglobina é desejado sem o início da reposição de EPO; • Ferritina inferior à 500 ng/dL e/ou saturação de transferrina inferior à 30%; o Suspender a reposição quando a ferritina estiver > 800 mg/dL Para pacientes não dialíticos, não há obrigatoriedade em repor o ferro EV, podendo ser feita a suplementação oral. Todavia, devemos lembrar que esses pacientes podem ter alterações na absorção. Caso a suplementação de ferro não otimize os perfis, o próximo passo é realizar a terapia com eritropoietina. Uso da etritopoetina (EPO) O uso da eritropoietina tem como benefício evitar transfusões sanguíneas e reduzir a mortalidade cardiovascular. É importante evitar as transfusões nesses pacientes pois em conjunto aos elementos sanguíneos, são transmitidos antígenos que podem impactar em um transplante renal futuro. A via preferencial para administração é a subcutânea, em doses de 20 a 50 UI/kg/dose até 3 vezes por semana. Não deve ser utilizada em pacientes com neoplasia maligna devido ao aumento do risco de TVP e possível aumento da atividade neoplásica. Além disso, deve-se evitar iniciar EPO em pacientes com DRC não dialítica que apresentem Hb > 10 g/dL. Para pacientes com DRC não dialítica com Hb < 10 g/dL, considerar os seguintes aspectos para uso de EPO: • Não resposta à reposição de ferro • Risco em necessitar de transfusão sanguínea • Presença de sinais e sintomas relacionafos à anemia Transfusão De modo geral, a transfusão é indicada quando Hb < 7g/dL, situação na qual já há comprometimento da perfusão tecidual. Atualmente é bem mais raro. Considerações finais De modo geral, as novas diretrizes não alteram de modo significativo a conduta nefrológica na anemia da DRC. Apenas trouxeram um cuidado maior no sentido de evitar o uso excessivo de ferro e de eritropoietina. Acidose metabólica Os seres humanos produzem fisiologicamente muitos ácidos, os quais podem ser voláteis (como o CO2, que é eliminado via sistema respiratório) e não voláteis (ou fixos, como os provenientes do metabolismo proteicos, que são excretados via renal). Os rins excretam os ácidos na urina, tornando-a ácida, com pH que varia entre 5 e 5,5. Associadamente, há reabsorção de bicarbonato. Sendo assim, a partir da perda da função renal, há perda no controle do equilíbrio ácido-base. A prevalência de acidose metabólica aumenta progressivamente com a piora da função renal, sendo detectável quando TFG < 40 ml/min/1,73m2. Nos estágios G4 e G5, a prevalência é de 35 a 40%. A correção dessa acidose é de extrema importância, tendo em vista que acidose Geovana Sanches, TXXIV metabólica crônica está associada com aumento do catabolismo proteico, doença óssea urêmica, perda de massa muscular, inflamação crônica, homeostase da glicose prejudicada, função cardíaca deficiente, progressão da DRC e aumento da mortalidade. A meta consiste em manter o bicarbonato sérico entre 22 e 29 mEq/L, com pH sanguíneo entre 7,35 e 7,45. Sugere-se que em pacientes portadores de DRC e valores de bicarbonado sérico abaixo de 22mmol/L, devido ao aumento do risco de progressão da doença e também de óbito, seja feito tratamento com suplementação de bicarbonato VO, para manter os níveis normais, caso não haja contraindicação. Doença do metabolismo mineral ósseo (DMMO) relacionada à DRC Fisiologia O metabolismo ósseo envolve a homeostase entre o cálcio (Ca), fósforo (P), vitamina D e paratormônio (PTH). Os rins apresentam papel central no equilíbrio mineral e ósseo, tendo em vista que regulam o metabolismo desses elementos (reabsorção de Ca e excreção de P); participam do catabolismo do PTH; e atuam na produção de vitamina D. à Vitamina D • Estimula a absorção intestinal de cálcio • Fator inibitório da síntese e secreção de PTH à Cálcio • Fator inibitório da síntese e secreção de PTH • Junto à vitamina D, age na glândula paratireioide através de seus receptores específicos à Fósforo • Estimula a produção de PTH diretamente o Mecanismo pós-transcripcional • Estimula a produção de PTH indiretamente o Inibe a produção renal de vit D o Interação fisicoquímica com cálcio à PTH • Principal função é manter a calcemia o Reabsorção óssea o Ativação da 1-alfa-hidroxilase o Reabsorção renal de cálcio A DMMO-DRC consiste nas alterações sistêmicas do metabolismo mineral e ósseo em pacientes com DRC. Manifesta-se por uma ou mais complicações: • Alterações na homeostase do cálcio, fósforo, PTH ou metabolismo da vitamina D; • Alterações na remodelação, mineralização, volume, crescimento e resistência ósseos; • Calcificações vasculares e de outros tecidos. Fisiopatologia Os rins são os únicos capazes de excretar fósforo, de forma que quando há diminuição de TFG, há aumento desse elemento no sangue. Esse aumento cursa com duas ações: • Estímulo aos receptores da paratireoide, com aumento da secreção do PTH • Ligação ao cálcio o Diminuição do cálcio livre na circulação, o qual é um estímulo extra para secreção do PTH. O PTH, por sua vez, estimulará a osteoclase a aumentará a FGF23 (marcador de retirada do cálcio). Dessa forma, serão encontrados níveis normais de cálcio na circulação ou muito próximos da normalidade, porém as custas da diminuição desse íon nos ossos, e, portanto, risco de fraturas patológicas. o O conjunto se deposita em vários locais do organismo. Geovana Sanches, TXXIV Há depósito de cálcio no pâncreas, intestino, articulações e nas artérias, sendo o último o maior dos problemas. Esse depósito de cálcio nas artérias provoca perda da elasticidade desses vasos, com aumento da RVP e da pressão arterial. Assim, há aumento da possibilidade de a camada íntima sofrer microfissuras, levando a exposição do colágeno e consequente formação de trombos. A fim de tentar retirar o fósforo da circulação, o PTH atua nos rins aumentando a reabsorção de cálcio, perda de fósforo pela urina e estímulo a enzima 1-alfa-hidroxilase, a qual ativa a vitamina D. O calcitriol, por sua vez, atua no intestino promovendo maior absorção do cálcio proveniente da alimentação. Com isso, em situações fisiológicas, a homeostase estaria mantida. Todavia, na doença renal crônica, a resposta dos rins ao estímulo do PTH será baixa e, dessa forma, o fósforo tende a se manter sempre alto. Faz-se necessário, portanto, o uso de quelantes de fósforo a base de cálcio (acetato ou carbonato de cálcio). Essa suplementação deve ser administrada com conjunto com a alimentação de forma que, quando chega ao intestino, ela se une ao fósforo formando um complexo cálcio-fósforo que não é absorvido no enterócito. Um exemplo é o sevelamer, todavia ele causa acidose metabólica, podendo ser utilizado apenas em pacientes que fazem diálise, visto que esta será corrigida durante a sessão. Deve-se ter cuidado ao mencionar restrição dietética devido ao risco de desnutrição. Outra opção terapêutica é o uso de calcimiméticos, os quais se ligam aos receptores de cálcio nas glândulas paratireoides, cessando o estímulo para a secreção do hormônio. Com isso, são capazes de reduzir os níveis de PTH em até 40%, mas ainda é uma medição de alto custo, não rendo seu uso muito disseminado. Caso os níveis estejam baixos, pode-se realizar a suplementação de vitamina D associadamente. Diretrizes DMO para pacientes em estágio 5 Risco cardiovascular O risco de doenças cardiovasculares nos pacientes com doença renal crônica apresenta patogenia multifatorial, incluindo, por exemplo, hipertensão, dislipidemia, diabetes mellitus, tabagismo e aumento nos níveis de homocisteína. As taxas de eventos cardiovascular e morte aumentam de acordo com a diminuição da taxa de filtração glomerular. Distúrbios hidroeletrolíticos O distúrbio hidroeletrolítico mais importante no paciente com DRC é a hipercalemia, ou seja, aumento das concentrações séricas do potássio. Esses pacientes normalmente são oligo ou assintomáticos, tendo muitas vezes a primeira manifestação clínica como decorrência de uma Geovana Sanches, TXXIV arritmia cardíaca grave. Por isso, é muito importante que se faça a monitorização contínua desses pacientes. A hipercalemia altera o potencial de membrana dos cardiomiócitos, levando a alteração na despolarização, com aumento no automatismo cardíaco e diminuição da velocidade de transmissão do estímulo, além da alteração na repolarização. Manifestações neuromusculares são relativamente raras, mas podem surgir com níveis séricos de potássio muito elevados. Caracterizam- se por paralisia flácida muscular. Alterações eletrocardiográficas • Onda T apiculada, pontiaguda e simétrica • Posteriormente, onda P se torna achatada e de difícil identificação • Prolongamento do intervalo PR • Alargamento do complexo QRS • Fibrilação ventricular ou assistolia Tratamento • É de urgência em qualquer paciente com alteração no ECG e K > 6,5. o Monitorização cardíaca prudente caso potássio esteja acima desse nível, mesmo que ainda não haja alteração no ECG • Medidas para remoção de potássio o Diuréticos o Resinas de troca o Diálise • Medidas para transferência de potássio para o intracelular o Insuina: solução polarizante com glicose associada a insulina § 5g de glicose para cada unidade de insulina o Alcalinização do meio interno o Uso de beta adrenérgicos • Medidas de proteção miocárdica o Gluconato de cálcio Geovana Sanches, TXXIV GLOMERULOPATIAS A síndrome nefrítica e a síndrome nefrótica representam diferentes respostas clínicas e labotatoriais de danos glomerulares, os quais são chamados em conjunto de glomerulopatias. Elas podem coexistitr dentro de uma determinada agressão. As glomerulopatias podem ser doenças primárias, ou seja, provenientes do próprio rim, ou secundárias, quando decorrentes de doenças sistêmicas que cursam com agressão glomerular. Primárias Secundárias Hereditárias GN proliferativa difusa aguda Lúpus eritematoso sistêmico Síndrome de Alport GN rapidamente progressiva Diabetes mellitus Doença da membrana basal fina Glomerulopatia membranosa Amiloidose Doença de Fabry Lesão mínima Síndrome de Goodpasture Glomeruloesclerose segmentar focal Poliartrite nodosa GN membranoproliferativa Granulomatose de Wegener Nefropatia por IgA Púrpura de Henoch- Schonlein GN crônica Endocardite bacteriana O exemplo mais característico de glomerulonefrite proliferativa difusa aguda (GNDA) é a glomerulonefrite pós-estreptocócica, a qual atinge principalmente crianças pré-escoloras e escolares após faringoamigdalites. A glomeruloesclerose segmentar focal (GESF) é a principal causa de síndrome nefrótica e a nefropatia por IgA é a que mais vem crescendo no mundo. Dentre as secundárias, as duas mais importantes são o LES e o DM. A amiloidosenormalmente está relacionada a processos inflamatórios crônicos e a síndrome de Goodpasture consiste numa síndrome pulmão- rim, na qual há comprometimento dos vasos do glomérulo e dos capilares. Dentre as causas hereditárias, a principal é a Síndrome de Alport, a qual cursa com diminuição da acuidade auditiva. ESTRUTURA GLOMERULAR O glomérulo é a estrutura renal em que ocorre a filtração do sangue, o qual chega pela arteríola aferente e, após a filtração, deixa essa es- -trutura através da arteríola eferente. O ultrafiltrado formado vai inicialmente para a cápsula de Bowman e, em seguida, é encaminhado para o sistema tubular. A membrana basal glomerular é semipermeável, ou seja, há seletividade para passagem ou não das substâncias. Isso se dá por duas barreiras: elétrica e mecânica, sendo que para que o sistema funcione, ambas devem estar íntegras. As células podocitárias apresentam poros por onde as substâncias deixam o capilar e atingem o espaço de Bowman. Os poros têm diâmetro médio de 6 a 7 mil daltons e substâncias maiores do que isso não são capazes de passar, determinando a barreira mecânica. Além disso, a membrana basal glomerular é composta por proteoglicanos e possui carga negativa, de forma a repelir outras substâncias com carga negativa, o que determina a barreira elétrica. A albumina, principal proteína circulante não deve atravessar essa barreira tanto por bloqueio elétrico, quanto mecânico (apresenta tamanho maior que o das fendas de filtração). Por Geovana Sanches, TXXIV isso, presença de albuminúria é um grande marcador de dano glomerular. PROTEÍNAS Aceita-se como limite superior da normalidade a excreção urinária de até 150 mg de proteína ou 30 mg/g de creatinina. As proteinúrias podem ser classificadas como: • Proteinúrias glomerulares: perda predominante de albumina; • Proteinúrias tubulares: perda de proteínas de baixo peso molecular, tais como ß-2- microglobulina, proteína transportadora de retinol (RBP), lisozima e Tamm-Horsfall. Mecanismos de proteinúria • Alteração da carga elétrica da membrana capilar glomerular • Alteração do tamanho e/ou número de poros HEMÁCIAS Os valores considerados normais para hemácias na urina são de abaixo de 10.000 células por mL ou de 3 a 5 células por campo. A presença de valores acima disso determina hematúria (presença de sangue na urina), sendo necessário rompimento de vasos para que isso ocorra. Dentre as possíveis causas para isso estão: • Doenças glomerulares: quando decorrente dos glomérulos, a hematúria normalmente ocorre por glomerulonefrite. A inflamação da membrana basal glomerular leva a taxia de medidores pró-inflamatórios, os quais promovem vasodilatação. A partir do rompimento do vaso, a hemácia passa para o espaço de Bowman e altera sua forma. Com isso, há hematúria com dismorfismo eritrocitário urinário. • Cálculos no trato urinário: quando os cálculos renais deixam o rim e passam pelo ureter, rompem vasos no trajeto, levando a um processo inflamatório e hematúria. • Infecções urinárias altas ou baixas: o principal agente etiológico é a E. coli, a qual penetra no urotélio e promove lesão tecidual. Com isso, há rompimento dos vasos e conseguente hematúria. • Neoplasias: o câncer de bexinga, por exemplo, causa hematúria macroscópica, muitas vezes com coágulos. • Discrasias sanguíneas • Traumas • Contaminação: como por menstuação o Evitar realizar exame de urina I durante o período menstrual Classificação A hematúria pode ser macroscópica, principalmente quando decorrente de doença do trato urinário baixo, ou microscópica, quando não há coloração visível da urina, mas detectam-se hemácias no exame. A hematúria por glomerulonefrites normalmente é microscópica. Além disso, pode ser classificada de acordo com a presença ou não de dimorfismo etritocitário urinário. A presença do dismorfismo é bem característico das glomerulonefrites e decorre da exocitose dessas células por rompimento do vaso e alteração da forma devido ao processo inflamatório. As duas formas mais comuns são os: • Codócitos: hemácias em alvo (Mickey) • Acantócitos: hemácias com espícula Dismorfismo eritrocitário urinário São hemácias com alteração na sua morfologia, chamadas de acantócitos ou codócitos. A presença dessas hemácias na urina sugere fortemente doença glomerular. Na presença de hematúria, sempre devemos pesquisar se há ou não dismorfismo para diferenciar se a hematúria é proveniente dos rins ou do trato urinário. FISIOPATOLOGIA DAS DOENÇAS GLOMERULARES Quando há alteração da permeseletividade do capilar glomerular, há proteinúria. Assim, a albuminúria é o principal marcador de dano glomerular, pois reflete doença glomerular que promoveu perda da barreira elétrica e mecânica. Além disso, a presença de células inflamatórias promove interposição entre a luz do capilar e o espaço de Bowman, o que cursa com diminuição do Kf (constante de passagem de solutos do capilar para o espaço de Bowman) e, consequentemente da taxa de filtração glomerular. Com a diminuição da TFG, há distúrbios na secreção sódio e água (retenção hídrica e salina), com expansão da volemia. A hipervolemia, por sua vez, ocasiona hipertensão arterial e aumento da pressão hidrostática dos capilares, o que se manifesta no indivíduo como edema (pode ser localizado ou maior, causando inclusive congestão pulmonar). Por diversas causas, esse processo inflamatório pode gerar rompimento de vasos sanguíneos e, além disso, há migração facilitada de células sanguíneas em decorrência da inflamação. Geovana Sanches, TXXIV Assim, as hemácias passam para o espaço de Bowman e podem se aglutinar no túbulo, formando cilindros (cilindrúria). A partir da fisiopatologia da doença, temos que as principais manifestações clínicas são: proteinúria, diminuição de TFG, hipertensão, edema, hematúria/cilindrúria. Síndrome nefrítica A síndrome nefrítica é caracterizada por processo inflamatório. Costumam ser doenças com quadro mais abrupto, de início rápido, caracterizado pela presença de marcadores inflamatórios. O processo inflamatório promove perda abrupta da superfície de filtração, com diminuição de Kf e, consequentemente, da taxa de filtração glomerular. Assim, há redução da excreção de líquidos, pequenos solutos e eletrólitos (Na+), gerando hipervolemia. Esta se manifesta por hipertensão e aumento da pressão hidrostática dos capilares (edema). Síndrome nefrótica A síndrome nefrótica ocorre por um processo mais destrutivo, com menor componente inflamatório. Caracteriza-se pela alteração da carga elétrica dos proteoglicanos e perda dos poros, de forma que há aumento difuso da permeabilidade do capilar glomerular à passagem de proteínas. Assim, ocorre uma proteinúria maciça, com peras superiores a 3,5g de albumina em adultos ou 50mg/kg/dia em crianças. Com isso, há hipoalbuminemia e quadro de anasarca; normalmente não há hematúria, além de pouco ou nenhum aumento da pressão arterial. É frequente a associação entre as síndromes nefrítica e nefrótica. SÍNDROME NEFRÍTICA A síndrome nefrítica é um tipo de resposta ao dano glomerular, com quadro clínico caracterizado por início relativamente abrupto de edema, oligúria, hipertensão, hematúria com dismorfismo eritrocitário urinário, proteinúria leve a moderada e redução da taxa de filtração glomerular (pela diminuição do Kf, a depender do grau de inflamação) REDUÇÃO DA SUPERFÍCIE DE FILTRAÇÃO GLOMERULAR A redução da superfície de filtração glomerular leva à insuficiência renal de intensidade variável. Além disso, caso haja inflamação, há hematúria e proteinúria. Glomérulo normal Glomérulo inflamado PATOGENIA A reação inflamatória na síndrome nefrítica é de causa imunológica e produz lesão renal por vários mecanismos: • Ativação do complemento o Oscomplexos antígeno-anticorpo (Ag-Ac) levam a intensa ativação e consumo do complemento. Com isso, há ligação do complemento ao glomérulo, gerando inflamação que cursa com glomerulonefrite. • Infiltração celular • Ativação dos fatores de coagulação • Produção de radicais livres de O2 Consequências da inflamação glomerular Os mediadores inflamatórios podem ocasionar a obliteração dos capilares e a ruptura desses vasos. Na imagem a direita, verifica-se o glomérulo preenchido por células inflamatórias, as quais fazem interposição entre o espaço glomerular e o capilar, com consequente diminuição de Kf e TFG. Glomérulo normal Glomerulonefrite difusa aguda • Obliteração dos capilares à redução do Kf à redução da filtração glomerular à hipervolemia e retenção de catabólitos do metabolismo proteico à hipertensão, edema, insuficiência renal (aumento da creatinina sérica) • Ruptura dos capilares glomerulares à hematúria (acantócitos e codócitos), leucocitúria estéril (por processo inflamatório e não infeccioso), cilindros hemáticos, proteinúria de leve a moderada Geovana Sanches, TXXIV o Na síndrome nefrítica, a hematúria é mais pronunciada do que a proteinúria; o Caso o processo inflamatório recrute muitos leucócitos, podem- se formar cilindros leucocitários o Normalmente está relacionada a infecção urinária, mas não é uma característica obrigatória Presença de hemácias no espaço de Bowman Microscopia eletrônica: hemácia dismórfica emitindo prolongamento através do sítio rompido do capilar glomerular Codócitos e acantócitos Cilindro hemático ETIOLOGIA: DOENÇAS RENAIS QUE PODEM SE MANIFESTAR COM SÍNDROME NEFRÍTICA • Glomerulonefrite associada às infecções o Infecção pós-Estreptocócica (pele ou faringoamigdalite), abscessos, endocardites § Crianças pré-escolares o Entre 14 a 21 dias após a infecção inicial • Nefropatia da IgA o Ocorre por processo inflamatório com deposição de IgA no glomérulo. Relaciona-se com infecções virais em que há liberação de IgA no sangue o Acredita-se que os pacientes que a desenvolvem possuem receptores para IgA no glomérulo, além da diminuição da depuração hepática da IgA • GN membranoproliferativa • GN do lúpus eritematoso sistêmico o Nefrite lúpica pode acometer até 60% dos pacientes o Nas fases 3 e 4 há resposta nefrítica § Agressão leve até quadro mais grave com proliferação difusa e perda rápida de função renal o Classe 5 é uma exceção, com quadro nefrócito, apresentando histologia membranosa • GN das vasculites renais o Principal causa de glomerulonefrite rapidamente progressiva por agressão imunológica § Perda rápida da função renal, que se desenvolve em dias o Algumas são relacionadas ao ANCA (anticorpo anti-citoplasma de neutrófilo) Classificação AS diversas possibilidades são divididas entre as glomerulopatias hipocomplementêmicas, ou seja, nas quais há consumo do completo, e glomerulopatias normocomplementêmicas, nas quais não há consumo do complemento. Glomerulopatia normocomplementêmica Essas glomerulopatias cursam com inflamação no glomérulo por mecanismo não relacionado a ativação do sistema complemento. Geovana Sanches, TXXIV • Nefropatia de IgA • Vasculite renal o Apresenta consumo de complemento em 30 a 40% dos casos Glomerulopatia hipocomplementêmica Essas glomerulopatias cursam com níveis séricos reduzidos de complemento devido ao depósito dessas proteínas no glomérulo. Isso pode se dar pela via clássica ou via alternativa, sendo que na clássica há redução do CH50, C3 e C4, enquanto na alternativa não há envolvimento de C4. Via clássica (redução em CH50, C3 e C4) Via alternativa (redução em CH50 e C3) Lúpus eritematoso sistêmico Glomerulopatia pós infecciosa (GNDA) Endocardite infecciosa Glomerulonefrite membranoproliferativ a tipo 2 Crioglobulinemia Abscessos viscerais Nefrite de Shunt Glomerulonefrite membranoproliferativ a tipo 1 Dentro as glomerulopatias com consumo do completo por via clássica, a mais importante é a nefrite lúpica. Já dentre as da via alternativa, a principal é a glomerulopatia pós-infecciosa, em especial a pós-estreptocócica. Obs.: a crioglobulina é uma proteína produzida pelo fígado principalmente em pacientes com hepatite B e C. INVESTIGAÇÃO PROPOSTA EM CASO DE SUSPEITA DE SÍNDROME NEFRÍTICA AGUDA E POSSÍVEIS ACHADOS Diante quadro clássico de síndrome nefrítica, o primeiro exame a ser solicitado é Urina I associado a creatinina e complemento para início do diagnóstico diferencial. Urina I • Hematúria macro ou microscópica com dimorfismo eritrocitário urinário • Em caso de proteinúria, realizar Urina 24h o Proteinúria pode estar presente, mas em geral é menor do que 3g/dia • Pode haver cilindros hemáticos e leucocitúria Creatinina sérica • Pode estar ou não aumentada • Se aumentada, indica TFG reduzida Complemento • Pode haver diminuição de CH50, C3 e C4 Pesquisa de doenças de base • É especialmente importante a pesquisa de lúpus eritematoso sistêmico o Glomerulopatia rapidamente progressiva Exames complementares • Clearance de creatinina • Eletrólitos séricos: o principal é o K+ • Complemento total • ASLO, hemoculturas, sorologia para hepatite B, C, HIV, FAN, ANCA o ASLO é feito quando há suspeita de glomerulopatia pós- estreptococica, mas não dá o diagnóstico o HIV normalmente cursa com síndrome nefrótica o FAN auxilia no diagnóstico de LES o ANCA relaciona-se a vasculite • Biópsia renal: é indicada quando há perda de função renal, sendo também importante no prognóstico do paciente. TRATAMENTO DA SÍNDROME NEFRÍTICA • Dieta pobre em sal, tendo em vista que os pacientes estão em retenção hídrica e salina • Diuréticos e hipotensores quando indicados • Tratamento da infecção, caso esta seja a responsável • Tratamento da inflamação o Imunossupressores § Corticoide, ciclofosfamida, ciclosporina, azatioprina, microfenolato de mofetil, rituximabe • Medidas de nefroproteção caso a GN não seja reversível e o paciente evolua para DRC o Inibidores da ECA, estatinas, anti- fibróticos, anti-oxidantes § Jamais utilizar esses medicamentos no quadro agudo, apenas para o retardo da progressão caso a DRC já esteja instalada.
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