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DOENÇA RENAL CRÔNICA SOI IV | APG 15 - SISTEMA RENAL OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM: 1. Estudar sobre epidemiologia, etiologia, grupos de risco, fisiopatologia, mecanismos de progressão, manifestações clínicas e diagnóstico da Doença Renal Crônica (DRC); 2. Discutir sobre os riscos da automedicação. DOENÇA RENAL CRÔNICA A Doença Renal Crônica (DRC) é definida como a diminuição do ritmo de filtração glomerular (RFG) abaixo de 60 ml/min/1,73m2 e/ou a presença de anormalidades na estrutura renal, com duração acima de 3 meses. Ao contrário do que se observa na maioria dos casos de Injúria Renal Aguda (IRA), na DRC não ocorre regeneração do parênquima renal, e por isso a perda de néfrons, por definição, é irreversível. EPIDEMIOLOGIA Em países desenvolvidos, o rastreamento estima prevalência de doença renal crônica entre 10 e 13% na população adulta, com mais de 4,5 milhões de adultos com a doença no mundo. No Brasil, a primeira causa de DRC é a hipertensão arterial sistêmica, a segunda é o diabetes, seguido pela glomerulonefrite crônica. No Brasil, estimativas da prevalência dessa enfermidade são incertas, contudo, de acordo com a caderneta de saúde coletiva de 2017 mais de 100 mil pacientes recebiam terapia dialítica no país, com uma taxa de internação hospitalar de 4,6% ao mês e uma taxa de mortalidade 17% ao ano. O mesmo estudo detectou maior predominância no sexo masculino com taxa de crescimento anual de 2,2% e, de 2% para o sexo feminino, raça/cor predominante é a branca (39,6%) em relação às raças/cor amarela (1,2%), indígena (0,1%), parda (36,1%) e preta (11,4%). A incidência de novos pacientes cresce cerca de 8% ao ano. Mais de 10 milhões de pessoas têm DRC (Sociedade Brasileira de Nefrologia) no Brasil. ETIOLOGIA Pode estar associada a doenças crônicas prévias, como HAS e DM (pode lesar as arteríolas, interferindo na filtração glomerular. > 25% das pessoas com DM1 e 5 -10% dos DM2 desenvolvem IRC). GRUPOS DE RISCO ● Pessoas com DM e/ou HAS; ● Idosos; ● Portadores de obesidade (IMC > 30 Kg/m²); ● Histórico de doença do aparelho circulatório (doença coronariana, acidente vascular cerebral, doença vascular periférica, insuficiência cardíaca); ● Histórico de Doença Renal Crônica na família; ● Tabagismo; ● Uso de agentes nefrotóxicos, principalmente medicações que necessitam de ajustes em pacientes com alteração da função renal. FISIOPATOLOGIA A fisiopatologia da DRC caracteriza-se por dois amplos grupos de mecanismos lesivos: 1. mecanismos iniciais específicos da etiologia subjacente (p. ex., anormalidades do desenvolvimento ou da integridade renal, deposição de imunocomplexos e inflamação em alguns tipos de glomerulonefrite, ou exposição a toxinas em algumas doenças dos túbulos e do interstício renais); 2. hiperfiltração e hipertrofia dos néfrons viáveis remanescentes, que são uma consequência comum da redução da massa renal a longo prazo, independentemente da etiologia subjacente e que leva ao declínio adicional da função renal. As respostas à redução da quantidade de néfrons são mediadas por hormônios vasoativos, citocinas e fatores de crescimento. Por fim, essas adaptações de curto prazo (hiperfiltração e hipertrofia) para manter a TFG tornam-se 2 mal-adaptativas à medida que a pressão e o fluxo sanguíneo aumentados dentro do néfron predispõem à distorção da arquitetura dos glomérulos, função anormal dos podócitos e rompimento da barreira de filtração, levando à esclerose e à destruição dos néfrons remanescentes. O aumento da atividade intrarrenal do sistema renina-angiotensina (SRA) parece contribuir para a hiperfiltração compensatória inicial e para a subsequente hipertrofia e esclerose mal adaptativas. Esse processo explica por que a redução da massa renal secundária a uma agressão isolada pode levar ao declínio progressivo da função renal ao longo de muitos anos. FISIOPATOLOGIA (ALTERAÇÕES DA DM) 1. A DM causa alterações a nível glomerular. Na diabetes, temos a hiperfunção do co-transportador de glicose e sódio, o SGLT-2, devido à grande glicemia. Ao absorver mais sódio por esse transportador, chega menos Na+ na mácula densa, o que gera um reflexo de vasodilatação da arteríola aferente. 2. Com a vasodilatação da arteríola aferente, temos o aumento do fluxo glomerular, aumentando a pressão intraglomerular, consequentemente, aumentando também a taxa de filtração glomerular (hiperfiltração glomerular: aumento de cerca de 30% da TFG no início da nefropatia diabética). Com o aumento dessa pressão dentro do glomérulo, temos uma lesão progressiva do glomérulo, devido ao seu estiramento e o dano ao seu endotélio. 3. Com a lesão direta do glomérulo e de seu endotélio, temos a ativação de plaquetas, acúmulo de fibrina, formação de microtrombos e oclusão de capilares. Além disso, também teremos a liberação de citocinas, fatores de crescimento e moléculas de adesão, devido ao dano tecidual. 4. Essa hipertensão glomerular vai causar ruptura, apoptose e necrose dos podócitos, alterando a barreira de filtração glomerular, fazendo com que passe proteína por esse filtro, o que explica a proteinúria, o achado típico laboratorial dessa doença. 5. Com o contato dessa proteína com as células proximais, libera citocinas e gera inflamação e fibrose do interstício renal. 6. A hiperglicemia pode causar uma glicação das proteínas plasmáticas e pode levar a uma inativação dessas proteínas, podendo alterar sua carga elétrica e facilitando a albuminúria e proteinúria (por exemplo, o glomérulo e a albumina tem carga negativa, o que repele a albumina, porém com a hiperglicemia, essa barreira é perdida). 7. A hiperglicemia também pode alterar o SRAA, podendo causar retenção hidrossalina exagerada e aumento da expressão de ANG2, o que induz formação de fatores de crescimento e hipertrofia da matriz extracelular renal. FISIOPATOLOGIA (ALTERAÇÕES DA HAS) São dois os principais mecanismos que explicam o aparecimento de lesão renal em pessoas com hipertensão: a presença de PA elevada, associada à rigidez das artérias, leva a um aumento da pressão nas arteríolas aferentes que, por sua vez, causa hiperperfusão e hiperfiltração glomerular. Deste modo, perde-se o processo de auto-regulação renal e desenvolve-se proteinúria. Também a glomeruloesclerose isquémica leva ao estreitamento do lúmen e à diminuição no fluxo sanguíneo glomerular, contribuindo para o declínio da função renal. A perda progressiva da capacidade renal de excretar sódio, resultando em sobrecarga salina e de volume. Entretanto, outros mecanismos podem estar envolvidos, tais como maior produção de vasoconstritores, como a angiotensina II, diminuição de vasodilatadores, como as prostaglandinas, e alterações na função endotelial com síntese prejudicada do óxido nítrico. MECANISMOS DE PROGRESSÃO/CLASSIFICAÇÃO Segundo a Kidney Disease: Improving Global Outcomes (KDIGO), a DRC é subdividida em estágios (0, 1, 2, 3a, 3b, 4 e 5), com base no ritmo de filtração glomerular e em relação a proteinúria em A1, A2 e A3, antes, a doença era estadiada apenas pela TFG, porém, o risco de piora da https://kdigo.org/ 3 função renal está intimamente ligado à quantidade de albuminúria, de modo que ela foi incorporada na classificação. Essas duas classificações diferentes unidas estagiam a doença, assim como dão seu prognóstico. Conforme mostra a tabela, pacientes na faixa verde dificilmente têm complicações graves e pacientes na vermelha geralmente estão em diálise, para evitar outras complicações. > ESTADIAMENTO DA DRC Em pacientes com DRC o estágio da doença deve ser determinado com base no nível de função renal, independente do diagnóstico. A DRC é definida por lesão renal ou TFG < que 60 mL/min/1,73mhá 3 meses ou mais: AVALIAÇÃO DE TFG E INDIC. DE FUNÇÃO RENAL > TFG É o melhor indicador da função global do rim. Varia com a idade, sexo, tamanho corporal, entre 120 a 130 ml/min/1,73m2 nos adultos jovens e saudáveis normais. > ALBUMINÚRIA Parâmetro fundamental para avaliação do grau de lesão e reparação dos néfrons. Normalmente, a urinacontém quantidades diminutas de proteína. O aumento persistente da excreção de proteínas geralmente é um sinal de lesão renal. O tipo de proteína depende do tipo de doença renal. - Excreção aumentada de globulinas de baixo peso molecular: doença tubulointersticial. - Excreção de albumina: marcador de DRC resultante de hipertensão ou diabetes melito. - Microalbuminúria: Sinal precoce de nefropatia diabética Excreção de albumina acima do normal, mas abaixo do detectado pelos testes de excreção proteica total na urina. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS O quadro clínico vai depender, em parte, da causa determinante da síndrome. Pode ser oligossintomática, apresentando algumas manifestações típicas: - Hipertensão arterial; - Sinais e sintomas de uremia; - Edema matinal; - Oligúria; - Sinais e sintomas de anemia (palidez cutâneo-mucosa, fraqueza). 4 DIAGNÓSTICO > ANAMNESE E EXAME FÍSICO Os sinais e sintomas da doença renal são frequentemente sutis ou estão ausentes, até que o paciente atinja estados mais avançados da DRC. Por isso, o diagnóstico costuma surpreender os pacientes. Os elementos específicos da história clínica que sugerem doença renal incluem relatos de hipertensão (que pode causar DRC ou, mais comumente, ser uma consequência da doença), DM, anormalidades do exame de urina e distúrbios gestacionais como pré-eclâmpsia ou abortamento precoce. É necessário obter uma história farmacológica detalhada. Os fármacos a serem considerados incluem AINEs, inibidores da cicloxigenase-2 (COX-2), antimicrobianos, quimioterápicos, anti-retrovirais, inibidores da bomba de prótons. O exame físico deve concentrar-se na pressão arterial e nas lesões dos órgãos-alvo secundárias à hipertensão. Outras manifestações de DRC ao exame físico dos pacientes são edema e polineuropatia sensitiva. > LABORATORIAL Determinações seriadas da função renal devem ser realizadas para avaliar a velocidade de deterioração renal e confirmar que a doença é, de fato, crônica, em vez de aguda ou subaguda que seriam, portanto, potencialmente reversíveis. As concentrações séricas do cálcio, do fósforo, da vitamina D e do PTH devem ser determinadas para avaliar doença óssea metabólicas A concentração de hemoglobina e os níveis de ferro, B12 e folato também devem ser dosados. 5 - Avaliação da Taxa de Filtração Glomerular (TFG): Para a avaliação da TFG, deve-se evitar o uso da depuração de creatinina medida através da coleta de urina de 24 horas, pelo potencial de erro de coleta, além dos inconvenientes da coleta temporal. Deve-se, portanto, utilizar fórmulas baseadas na creatinina sérica, para estimar a TFG. O cálculo da TFG é recomendado para todos os pacientes sob o risco de desenvolver DRC. Todos os pacientes que se encontram no grupo de risco para a DRC devem dosar a creatinina sérica e ter a sua TFG estimada. - Exame de urina: As alterações parenquimatosas devem ser pesquisadas através do exame sumário de urina (EAS) ou da pesquisa de albuminúria, que é a presença de albumina na urina. O EAS deve ser feito para todos os pacientes sob o risco de DRC. Nos pacientes diabéticos e hipertensos com EAS mostrando ausência de proteinúria, está indicada a pesquisa de albuminúria em 13 amostra isolada de urina corrigida pela creatininúria, a Relação Albuminúria Creatininúria (RAC). CATEGORIA RAC (mg/g) Normal < 30 Microalbuminúria 30 - 300 Macroalbuminúria > 300 Em relação à hematúria, deve-se considerar a hematúria de origem glomerular, definida pela presença de cilindros hemáticos ou dimorfismo eritrocitário, identificados no EAS. Análise através de biópsia renal (histologia) ou alterações eletrolíticas características de lesões tubulares renais serão feitas pelo especialista. > EXAMES DE IMAGEM O diagnóstico da doença renovascular pode ser estabelecido por diferentes técnicas, inclusive eco-Doppler, exames de medicina nuclear ou TC e RM. - USG: É o exame de imagem mais útil porque permite verificar a presença dos dois rins, determinar se são simétricos, obter uma estimativa das dimensões renais e excluir a existência de massas renais e evidências de obstrução. - Uretrocistografia Miccional: Se houver suspeita de nefropatia por refluxo (infecções urinárias recidivantes na infância, rins com dimensões assimétricas e cicatrizes nos polos renais). - Exames Radiográficos Contrastados: Não são particularmente úteis à investigação da DRC. Sempre que possível, a administração intravenosa ou intra-arterial de contraste deve ser evitada nos pacientes com DRC, especialmente com nefropatia diabética, tendo em vista o risco de provocar lesão renal aguda induzida pelos contrastes radiográficos. > BIÓPSIA RENAL Nos pacientes com rins pequenos bilateralmente, a biópsia renal não é recomendável porque (1) é tecnicamente difícil e tem maior tendência a provocar sangramento e outras consequências desfavoráveis; (2) costuma haver tanta fibrose que a doença primária não pode ser definida; e (3) a janela de oportunidade para promover um tratamento para a doença específica já passou. Outras contraindicações à biópsia renal são hipertensão descontrolada, infecção urinária em atividade, diátese hemorrágica (inclusive sob tratamento anticoagulante) e obesidade grave. 6 TRATAMENTO As medidas terapêuticas recomendadas aos pacientes com DRC podem ser divididas em dois grupos: tratamento conservador e terapia renal substitutiva. O tratamento conservador consiste nas medidas usadas para evitar ou retardar a deterioração da função renal restante e ajudar o organismo a compensar a disfunção existente. Entre as intervenções comprovadamente eficazes para retardar a progressão da DRC, estão a normalização da pressão arterial e controle da glicemia dos pacientes diabéticos. A vitamina D ativada pode ser usada para aumentar a absorção do cálcio e controlar o hiperparatireoidismo secundário. A rhEPO está em processo de investigação a fim de determinar se deve ser usada para corrigir a anemia grave que ocorre nos pacientes com DRC. A terapia renal substitutiva (diálise ou transplante renal) está indicada quando o paciente tem uremia avançada e distúrbios eletrolíticos graves. DRC EM GRUPOS ESPECIAIS > CRIANÇAS Etiologia: Malformações congênitas (< 5 anos): displasia renal e uropatia obstrutiva; Doenças hereditárias ou adquiridas; Síndromes metabólicas; Hiperoxalúria; Rim policístico (hereditária). Progressão: Se aplica apenas aos pacientes > 2 anos por causa da massa corporal extremamente pequena, além da TFG baixa. Manifestações clínicas: Déficit de crescimento grave (nutrição inadequada, anemia); Acidose crônica; Síndrome nefrótica; Atraso da maturação sexual; Problemas psicossociais; Calcificação vascular ectópica. > IDOSOS Etiologia: Declínio estável da função renal; Redução progressiva da TFG; Alteração da regulação homeostática em condições de sobrecarga. Progressão: A evolução da DRC pode ser mais complicada nos pacientes idosos com várias doenças crônicas. Diagnóstico: A investigação diagnóstica dos idosos com TFG entre 60 e 89 ml/min/1,73 m2 deve incluir: Dosagens do clearance de creatinina ajustadas por idade, avaliação dos riscos de DRC e aferição da pressão arterial. Manifestações clínicas: A prevalência das doenças vasculares cerebrais, cardiovasculares e musculoesqueléticas geralmente é alta; Sinais e sintomas iniciais da doença renal dos idosos podem ser pouco característicos; Insuficiência cardíaca congestiva e hipertensão podem ser as manifestações clínicas predominantes nos estágios iniciais da glomerulonefrite aguda. AUTOMEDICAÇÃO Automedicação: uso de produtos sem recomendação ou supervisão médica. Iniciativa própria do doente, buscando tratar ou aliviar sintomas ou doenças, aquisição de medicamentos sem receita, compartilhamento de medicamentos com outros membros da família ou círculo social, reutilização de sobras de medicamentos de tratamentos anteriores, utilização de antigas prescrições ou prolongamento de um tratamento indicado pelo médico. Causas: - 23,3% dor de cabeça; - 24,6% gripe, constipação e tosse- 10% infecções e inflamações; - 4,3% por problemas digestivos ou intestinais e; - 3,2% com pessoas que tem insônia, sentem ansiedade ou cansaço. Efeitos nocivos: Indução de resistência bacteriana, mascaramento de doenças, problemas renais! Os rins estão entre os órgãos mais agredidos pela automedicação e não acusam a lesão imediatamente, pois têm uma reserva funcional e só vão mostrar a gravidade quando estiverem irreversivelmente comprometidos. Usos recorrentes: AINEs e medicamentos para a impotência sexual.
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