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Lis Abreu Barcelos FMC 2026.2 Introdução As Sulfonamidas apareceram em 1932 em pesquisas na Alemanha => Prontosil. Foerster relatou a administração do prontosil para um bebê de 10 meses, com septicemia estafilocócica, alcançando uma cura radical. O Prontosil foi o primeiro bom antimicrobiano do mundo (antigamente havia o Atoxil para o tratamento da sífilis- era o arsênico- matava, a sífilis e depois de dez dias o paciente morria por trombose). Foi a primeira sulfa, sendo relatado por um jornal o seu uso no tratamento da erisipela. A molécula das sulfas é muito semelhante à do PABA (Ácido P-Aminobenzóico). O PABA é importante para sintetizar Ácido Fólico. As bactérias, para sintetizarem o DNA e as purinas, necessitam de Ácido Fólico. Nós, humanos, não sintetizamos Ácido Fólico. Então, esses antibióticos competem com o Ácido Fólico, pois a molécula é parecida, assim, diminui a síntese de DNA da bactéria. As Sulfas, como são os mais antigos, são os que têm maior resistência. Possuem ampla faixa de atividade antimicrobiana contra bactérias aeróbias: Gram-positivas e Gram-negativas. São antibióticos bacteriostáticos e, para que funcionem, os mecanismos de defesa têm que estar adequados e funcionais (tem que ter um bom sistema imunológico). Espectro de Ação Streptococcus pyogenes (maioria já é resistente), Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae, Haemophilus ducreyi, Nocardia, Actinomyces, Chlamydia trachomatis, Calymmatobacterium granulamatis granulomatis (Donovanose ), Bordetella pertussis, Yersinia pestis, Corynebacterium diphtheriae, Legionella pneumophila, Brucella spp., Pneumocytis jirovenci (originalmente P. Carinii), Klebsiella granulomatis. Para matar Pseudomonas Aeruginosas utilizamos cefalosporinas de 3 geração, o cavalo de troia. Dapsona é uma sulfa para lepra. Pseudomonas, Klebsiella e E. Coli são resistentes. Maioria já é resistente. Sulfonamidas Sulfonamidas Sulfonamida Lis Abreu Barcelos FMC 2026.2 As sulfas pegam Staphylococcus, inclusive MRSA da comunidade. Mecanismo de Ação As sulfas competem com a síntese de ácido fólico. O PABA se transforma em ácido diidrofólico pela enzima Diidropteroato- sintetase. O ácido diidrofólico se transforma em ácido tetraidrofólico pela enzima Diidrofolato-redutase e formam purinas (adenina e guanina), que formam o DNA. As Sulfas vão bloquear a diidropteroato- sintetase (competem com o PABA) e o Trimetropim bloqueia a diidrofolato-redutase. Então, não se forma o DNA, impossibilitanto a bactéria de se multiplicar. Quem vai matar a bactéria é o sistema imunológico. Obs.: o ser humano não sintetiza ácido fólico (ingerimos ácido fólico). A bactéria sintetiza. Mecanismo de Resistência • Menor afinidade da enzima que utiliza PABA, a diidropteroato sintetase, pelas sulfonamidas; • Diminuição da permeabilidade de bacteriana ou do efluxo ativo do fármaco (bomba de efluxo); • Via metabólica alternativa para síntese de um metabólito essencial; • Produção aumentada de um metabólito essencial ou de um antagonista do fármaco. Farmacocinética As sulfas são administradas por VO, se absorvem no estômago e no intestino delgado (70-100%). Sulfadiazina e sulfissoxazol passam a BHE (10%- 80%), se concentram de 50% a 80% no L. pleural, L. peritoneal, L. Sinovial e L. Ocular, passam pela placenta (grávida não pode tomar, só pode tomar no 1º e 2º trimestre, no 3º não, pois produz Kernicterus). Se metabolizam no fígado, uma parte é eliminada pela bile e pelas fezes e outra parte pela urina. Importante: as sulfas formam cristais (em urina ácida)- arde para urinar. Portanto, o paciente que está tomando sulfas tem que tomar bastante água para evitar a formação de cristais (se tem muitos cristais, forma cálculo urinário). Classificação das sulfas • Orais, absorvíveis: Ação curta, intermédia e longa. As mais utilizadas são as de ação intermediária, visto que as de curta são resistentes e as de longa são tóxicas; • Orais, não absorvíveis: Sulfassalazina (bastante utilizada) • Tópicas (cremes e pomadas): Sulfacetamida sódica, sulfadiazina de prata* e acetato de mafenida Obs.: a Sulfadiazina de prata é a mais utilizada, porque tem sulfa e prata (também é um antibiótico) e mata bactérias gram-negativas, incluindo Pseudomonas aeruginosa. Sulfonamida Lis Abreu Barcelos FMC 2026.2 • Aqui ele diz: as que mais utilizamos são as de ação longa - sulfametoxazol (mais utilizado) Sulfadoxina com pirimetamina como antimalárico. • As de ação curta são usadas de 4 a 6 vezes por dia, mas não são mais utilizadas porque são resistentes. • Sulfas de longa duração promovem reações alérgicas. Existe uma sulfa que não se absorve, denominada sulfassalazina. Ela é utilizada no tratamento da colite ulcerativa (não pelo mecanismo antimicrobiano, mas por outro mecanismo). Indicações Clínicas • As sulfas são bem restringidas para infecções urinárias baixas. A sulfa associada a fenazopiridina (esta última modificia o pH da urina, a qual fica de cor laranja- Pyridium®) é um anestésico de vias urinárias. • Sulfadiazina + Pirimentamina* É usada para toxoplasmose (doença adquirida pelas fezes do gato). (Nota: a pirimentamina é um inibidor da diidrofolato redutase). Tem que administrar ácido folínico para minimizar a supressão da medula óssea. • Usada para Nocardiose (em pacientes HIV positivos)- Sulfadiazina, sulfixazol ou co- trimoxazol. • Profilaxia da febre reumática (já não se utiliza muito). • Pneumonia por chlamydia. • Toxoplasmose, utiliza-se Sulfadiazina com Pirimetamina, e importante pesquisar HIV no paciente Toxoplasma ativo. Sulfadoxina: tratamento e profilaxia da malária causada por cepas cloroquina-resistentes do Plasmodium falciparum e profilaxia de pneumonia por Pneumocystis Jiroveci (antigamente nos pacientes HIV positivos o grande problema era o Pneumocystis Jiroveci e eles tomavam sulfas constantemente- hoje em dia isso já não acontece e esta doença já está quase vencida). Sulfadiazina: usada para Nocardiose (pode ser associada a ampicilina, eritromicina) e Toxoplasmose. Dapsona: usada para Lepra, dermatites herpetiforme, profilaxia e tratamento de toxoplasmose e Pneumocystitis carinii (pacientes HIV positivos). • Dapsona + Sulfadoxina => tratamento: Paludismo resistente a cloroquina. Sulfassalazina: usada para colite ulcerativa, enterite regional e colite granulomatosas. A microflora metaboliz a Sulfassalazina em vai 5- aminossalicilato (metabólito tem efeito anti- inflamatório no cólon). PROBINHA - SULFASSALAZINA • Efeitos adversos da sulfassalazina (vários): Náuseas, febre, artralgia, erupções cutâneas e infertilidade reversível nos homens. • Efeitos positivos antiinflamatórios no cólon, utilizado em úlceras pépticas. Os de agentes uso tópico são usados para queimaduras (Sulfadiazina de Prata) - a prata mata Pseudomonas aeruginosa e alguns fungos. Sulfonamida Lis Abreu Barcelos FMC 2026.2 Reações Adversas O grande problema das sulfas é que elas produzem alergias. As moléculas dos diuréticos (tiazidas, furosemidas, etc.) e algumas sulfonilreias (para diabetes) são muito semelhantes às sulfas (mesma molécula)=> Alergia cruzada. • 90% dos diureticos são sulfas. • Efeitos adversos mais comuns: o Febre (A febre por fármacos não casa com taquicardia importante, as relacionadas a infecções, sim); o Erupções cutâneas, dermatite exfoliativa, fotossensibilidade, urticária; o Náusea- vômitos- diarreia, cristalúria – hematúria; o Síndrome de Stevens- Johnson (1%, não é causada somente por sulfas, penicilinas e anticonvulsivantes também causam, é uma reação alérgica intensa que pode levar a morte do paciente); o Estomatite- conjuntivite – artrite; o Hepatite, Amenia hemolítica ou aplasica – granulocitopemia,trombocitopemia ou reações leucemóides, erupções morbiliformes, escarlate, erisipeloide, penfigoide, purpúrica e petequial, bem como eritema nodoso, eritema multiforme do tipo Stevens-Johnson; o Síndrome de Behçet; o Dermatite esfoliativa. Exemplo: paciente com infecção urinária. Possuía arritmia cardíaca, então não podia usar quinolonas. Foi dada sulfa e ele fez a síndrome de Stevens Johnson. • Kernicterus: A imagem representa uma mãe e um feto. Se a mãe toma sulfa no final da gravidez, a sulfa fica com a albumina e a bilirrubina (+ indireta) aumenta. No entanto, o rim do feto não está amadurecido, então a bilirrubina se acumula nos núcleos da base (lobo caudado, pálido- coordenam movimentos finos) e causa encefalopatia. o Na fase aguda, as crianças ficam letárgicas, hipotônicas e a sucção é inadequada. o Se a hiperbilirrubinemia não for tratada, a criança fica: hipertônica e pode desenvolver febre e choro de timbre agudo (opistótono). Os lactentes que sobrevivem, geralmente desenvolvem forma severa de paralisia cerebral atetóide (movimentos estranhos quando acordados), surdez, displasia dentária, paralisia do olhar para cima. Conclui-se, portanto, que as Sulfomamidas podem descolar certas drogas de seus sítios de ligação na albumina, aumentando o efeito clínico da droga descolada (p.ex., Varfarina sódica e metotrexato). Lis Abreu Barcelos FMC 2026.2 Trimetropim Introdução Trimetropim-Sulfametoxazol ou Bactrim. Usamos essa sulfa combinada (essa sim cai em prova). Usada em infecções urinárias simples. É um dos antibióticos favoritos do professor. Mecanismo de Ação Bloqueiam sequencialmente os dois passos da síntese do ácido fólico pelas bactérias. Apresenta atividade antibacteriana na presença de pus e detritos de tecidos necróticos (é um bom antibiótico). Vantagens: Reduz a possibilidade do aparecimento da resistência bacteriana e a associação de Trimetropim e sulfametoxazol pode agir sinergicamente (bactericida- 1+1=3, se transforma de bacteriostático em bactericida). • As sulfas bloqueiam a diidropteroato- sintetase e o Trimetropim bloqueia a diidrofolato-redutase. O comprimido se chama co-trimoxazol. Trimetropim e sulfametoxazol possuem relação de 1:5. Os médicos utilizam Bactrim F (forte) (160mg de Trimetropim x 800mg de Sulfametoxazol). A relação se converte em 1 de Trimetropim e 20 de Sulfametoxazol- significa que o Trimetropim vai ser mais absorvido. O Trimetropim é bactericida, sendo de 20 a 100x mais potente que o Sulfametoxazol. Espectro de Ação Gram positivos: Staphylococcus aureus (resistência < 5%)- pegam MRSA da comunidade, S. epidermidis , S. pneumoniae, Estreptococos viridans, Streptococcus pyogenes. Gram negativos: E.coli, Klebsilla, Proteus mirabilis, P. rettgeri, P. morganii, Espécies de Enterobacter, Salmonella, Shigella, Haemophilus influenzae, P. pseudamallei, P cepacia. Não pega Pseudomonas aeruginosa. Pega parasitas intracelulares como Isospora belli (diarreia) e Cyclospora cayetanensis (causa diarreias explosivas com náuseas, vômitos e perda de peso). Resistentes: Pseudomonas aeruginosa, Bacteroides Fragilis*, Enterococcus e Treponema pallidum. Mecanismo de Resistência do Trimetropim • Diminuição do requerimento de tiamina; • Produção aumentada de diidrofolato redutase; • Diminuição da permeabilidade de bacteriana a trimetropim; • Produção de diidrofolato redutase sem afinidade ao trimetropim (codificadas por plasmídios)- Mais importante. Farmacocinética Lembrando: A relação é de 1 pra 5 (trimetropim 1 e sulfametoxazol 5). Depois da absorção a relação vai de 1 para 20. Trimetropim Sulfonamida Lis Abreu Barcelos FMC 2026.2 Passam a BHE, se concentra em líquidos corporais, em bile e próstata*. Se metaboliza pelo fígado e se elimina pelo rim (lembrando: sulfas promovem cristalúria- tem que tomar bastante água). Obs.: Antibióticos que entram na próstata: cefalosporinas de 4ª geração, fluroquinolonas, clindamicina e sulfas (muito bom para próstata). O Trimetoprim é uma base fraca. Portanto, se concentra bem no genital feminino (ácido) e no líquido prostático. Indicações • UTI (infecção urinária baixa)- antigamente eram dadas quinolonas, hoje em dia não; • Infecções do trato respiratório superior; • Pneumocystis jiroveci pneumonia; • Infecções da pele / tecidos moles devido a S. aureus (pegam MRSA da comunidade); • Infecções devidas a Nocardia, Stenotrophomonas maltophila, Cyclospora, Isospora; • Infecções do trato urinário: Cistite, Pielonefrite, Infecções recorrentes em mulheres, Profilaxia de ITU e Prostatite (tratamento deurante 4 a 6 semanas); • Pneumonia (L. micdadei, L pneumophila)*; • Exacerbações agudas de bronquite crônica (S. pneumoniae e H. influenzae); • Sinusite; • Otite média aguda (S. pneumoniae e H. influenzae)- para crianças, a otite média deve ser tratada com amoxicilina. Não dá certo Bactrim (tem xarope com vários sabores, escolhe para a criança); • Infecções gastrointestinais: shigelloses, salmoneloses e outras diarreias (lembrando: diarreia não se trata, diarreia se observa, a não ser que seja muito grave); • Meningites: a associação (SMZ/TMP) é alternativa para listéria e pode ser utilizada em infecções por Gram-negativos sensíveis, em combinação com cefalosporinas de 3ª geração; • Prevenção de infecções em pacientes neutropênicos; • Paracoccidioidomicose. Outras indicações • Endocardite bacteriana; • Nocardiose; • Crancro mole; • Brucelose (infecção por leite de cabra); • Lepra (sulfona). Efeitos Adversos Cerca de 75% dos efeitos adversos afetam a pele: Exantemas morbiliformes, escarlatiformes, urticariformes, erissipelóides, penfigóides, purpúricos e petequiais. O mais grave efeito adverso é a Síndrome de Stevens- Johnson. Quando é grave, não se chama mais síndrome de Steven- Johnson (É O GRANDE PROBLEMA), mas sim de necrólise epidérmica tóxica (Síndrome Lyell). Os mais suscetíveis a esses efeitos são os pacientes HIV positivos (25-50% da Síndrome de Stevens-Johnson com sulfas se dá em pacientes HIV positivos, visto que esses tomam sulfas constantemente). Sulfonamida Lis Abreu Barcelos FMC 2026.2 • Gastrintestinais: Náuseas , vômitos , Glossite*, estomatite e diarreias (raro); • Sistema nervoso: Cefaléia, depressão e alucinações; • Febre medicamentosa (não tem taquicardia reflexa). • Já não se vê (antigamente era comum- pacientes com HIV e Pneumocystis jirovenci tem que tomar sulfa todos os dias). Gravidez São categoria C. As sulfas podem ser tomadas no 1º e 2º trimestre, já o Trimetropim e sulfametoxazol não podem ser tomados, visto que competem com o ácido fólico e no último trimestre produzem Kernicterus.
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