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GRUPO SER EDUCACIONAL “CENTRO UNIVERSITÁRIO DO NORTE” DISCIPLINA: ESTÁGIO SUPERVISIONADO II - PEDAGOGIA ROSELENE FERNANDES MESQUITA PROJETO DE INTERVENÇÃO MANAUS/AM 2020 ROSELENE FERNANDES MESQUITA PROJETO DE INTERVENÇÃO Projeto apresentado ao Curso de Graduação em Pedagogia do Centro Universitário do Norte como requisito para aprovação na disciplina de Estágio Supervisionado II. . MANAUS/AM 2020 1. INTRODUÇÃO O caso-base do Projeto de Intervenção da disciplina de Estágio Supervisionado II ilustra a tentativa de melhoria dos índices de aprendizagem da Língua Portuguesa e da Matemática no munícipio “S”. Para isso, a gestão do município fictício em parceria com diversas instituições e fundações aplicou o dinheiro público na compra de materiais didáticos e paradidáticos a serem utilizados com estudantes do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Inicialmente, a decisão superior agradou aos docentes da Escola Professor Poeta da Rosa, principalmente pela qualidade e diversidade dos materiais. Contudo, ao perceberam a inexistência de conteúdos regionais e assuntos vinculados aos outros componentes curriculares, tais como ciências, artes, história e geografia, o corpo docente questionou a necessidade de repensar o uso dos cadernos, tendo em vista que a Secretaria de Educação exigiu que os materiais fossem utilizados na maior parte do tempo de aula. A decisão superior da compra de cadernos estava feita, logo estava descartada a ideia de não utilizar os materiais, posto que fora investido muito dinheiro público a fim de melhorar a qualidade de ensino e aprendizagem dos estudantes da cidade. Nesse sentido, a Equipe Gestora da Escola Professor Poeta da Rosa, assegurando o cumprimento dos princípios da gestão democrática, propôs que os docentes apresentassem um projeto de intervenção a fim de resolver essa problemática. Em primeiro plano, entende-se que o projeto de intervenção deve ser pensado, planejado e construído de modo coletivo, sendo necessário a sistematização de reuniões com os professores da escola, evidenciando dar voz a todos os docentes na busca por uma resolução do problema. Posteriormente, pretende-se que os materiais didáticos e paradidáticos sejam analisados em grupos de trabalho, identificando pontos positivos e negativos, uma vez que o material foi pensado para realidades divergentes a do munícipio “S”. Somente depois desse movimento de análise e discussões em coletivo será possível organizar um plano de ação que contemple todos os anseios da Secretaria de Educação, da escola, professores e estudantes. Sendo assim, este documento prevê a descrição do processo de elaboração do plano de ação, além de tecer inferências acerca do cenário proposto pela atividade, utilizando-se de referencial teórico da área de Educação com o intuito de compor um cenário de aprendizagem significativa na condição de professora em formação. 2. ANÁLISE E DISCUSSÃO DO PROBLEMA O caso do munícipio “S” apresenta duas frentes de problemas que precisam ser analisadas com muita responsabilidade. Em primeiro plano, percebe-se que o índice de estudantes com carências na competência leitora e letramento matemático é bem alto, a ponto da cidade ter investido na compra de materiais que poderiam ser úteis na mitigação da problemática. A preocupação acerca dos baixos índices de aprendizagem da língua pátria e do ensino de matemática é genuína, inclusive muito real no campo educacional brasileiro. A matemática, por exemplo, figura entre os cenários mais desafiadores da educação básica. Nos dados da Global Information Technology1 (Suíça), o Brasil ocupa a 133ª posição de uma avaliação que mensura os conceitos matemáticos e científicos apreendidos. De mesmo modo, o Pisa2 (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) reforça a gravidade do problema ao apresentar o país na 58ª colocação no que tange aos conhecimentos de matemática. O ensino de Língua Portuguesa não é diferente, apesar de conter inúmeros gêneros textuais que permitem um trabalho docente mais lúdico, contextualizado e dinâmico, ainda assim é alvo de dificuldades para a formação de estudantes leitores. Sobre isso, Antunes (2009, p. 201) aduz que “[...] formar leitores, desenvolver competências em leitura e escrita é uma tarefa que a escola tem que priorizar e não pode sequer protelar”. Outro ponto de reflexão reside no fato de que os docentes, principais agentes de mudança em meio educacional, não aceitaram a implementação dos cadernos de atividades, visto que estes não condizem com a realidade local. Sobre isso, é importante que toda e qualquer decisão superior seja com o objetivo de contribuir no trabalho profissional dos professores, uma vez que são estes os responsáveis por conduzir e orquestrar o processo de ensino e aprendizagem. Infelizmente, a prática de inserir materiais didáticos e paradidáticos 1 http://veja.abril.com.br/educacao/brasil-e-um-dos-piores-em-educacao-de-matematica-e-ciencias/ 2 http://portal.inep.gov.br/pisa-programa-internacional-de-avaliacao-de-alunos sem o consentimento dos docentes é um movimento bem recorrente na educação brasileira, inclusive muitos recursos pedagógicos não são utilizados, ou por vezes, são usados de maneira intuitiva e sem finalidades pedagógicas. Logo, acredita-se que o primeiro ponto de análise desse item é repensar a compra de recursos, sem a consulta prévia aos trabalhadores da educação. Na impossibilidade de não uso dos materiais, cabe agora aos professores inserirem esse “novo” produto em suas rotinas escolares, tarefa nada fácil, posto que os duzentos dias letivos já são insuficientes para a quantidade de conteúdos propostos nos currículos nacionais, de modo que para atender a toda essa demanda de assuntos é essencial o uso de ações e atividades interdisciplinares. Por interdisciplinaridade, entende-se que seja “uma relação de reciprocidade, de mutualidade, que pressupõe uma atitude diferente a ser assumida frente ao problema de conhecimento, ou seja, é a substituição de uma concepção fragmentária para unitária do ser humano” (FAZENDA, 1979, p. 8). Nesse sentido, esse conceito mais filosófico de uma pedagogia interdisciplinar permite a compreensão de que não se trata apenas de uma “junção” das disciplinas por meio de atividades soltas, mas de uma prática mútua que compreende a construção do conhecimento global. 3. ARTICULAÇÃO TEÓRICO-PRÁTICA O trabalho pedagógico interdisciplinar exige conhecimentos, habilidades e competência de toda comunidade escolar, posto que não pode cair no erro em apenas “juntar” disciplinas a partir de um tema gerador. A concepção de interdisciplinaridade é além, remete a um saber desfragmentado, onde o estudante percebe a relação entre diversos conteúdos a partir de práticas pedagógicas eficientes. Japiassu (1979, p. 15) afirma que a “interdisciplinaridade não é algo que se ensine ou que se aprenda, mas algo que se vive”, sendo considerada um estado de espírito que exige um perfil de professor humilde para reconhecer que a ação interdisciplinar é compreendida aos poucos, coerente em suas atitudes, evitando cair no marasmo da disciplinarização, paciente ao perceber que os resultados são a passos lentos, respeitoso com o estudante e com os demais colegas que preferem as concepções tradicionais de ensino e desapegado de práticas pedagógicas tradicionais (FAZENDA, 2001). A prática interdisciplinar requer a eliminação das barreiras entre as pessoas por meio do diálogo (FAZENDA, 1979), por isso é fundamental que haja as reuniões e encontros pedagógicos entre os professores e a comunidade escolar, uma vez quea escola é feita de pessoas, e são essas pessoas que fazem a escola. Nesse sentido, o plano de ação aqui traçado terá o princípio da dialogicidade enquanto fator primordial para o êxito na solução do referido problema. Admite-se que a interdisciplinaridade propõe novas relações entre as disciplinas, ampliando os espaços de intercâmbio dinâmico e experiências pedagógicas inovadoras. A opção pela interdisciplinaridade também leva a refletir sobre o tempo necessário para o processo de formação, exigência para o assentamento das novas práticas e modos vivenciados no curso. [...] Assim, a interdisciplinaridade é uma oportunidade concreta para a revisão das relações com o conhecimento, provocando a tessitura de um ambiente interativo, entrelaçando os saberes e as pessoas, ampliando na prática, o conceito de construção coletiva (HASS, 2011, p.61). Posto isso, acredita-se que o plano de ação deve ser baseado nos princípios da interdisciplinaridade, oportunizando um trabalho pedagógico de qualidade que permita a relação entre os conteúdos dos cadernos de atividades comprados pelo governo, assim como garanta as características regionais, solicitadas pelos docentes. 4. METODOLOGIA Os procedimentos metodológicos preveem três momentos, sendo a) reuniões extraordinárias com os professores; b) análise dos materiais didáticos e paradidáticos comprados pela Secretaria do Estado; e c) elaboração coletiva do projeto de intervenção. As reuniões extraordinárias devem ter como pauta a discussão do currículo do munícipio “S”, identificando pontos comuns e importantes para o aprendizado integral das crianças do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental. Além disso, deve-se elencar temáticas regionais a fim de inseri-las nas práticas pedagógicas do ano letivo. Esses encontros devem ser mediados pela pedagoga da escola, contudo o protagonismo e as tomadas de decisões devem partir do corpo docente. Em seguida, os encontros pedagógicos devem ser organizados por grupos de trabalho, de preferência, formado por professores de anos similares, ou seja, um grupo de trabalho composto por professores do primeiro e segundo ano, etapas essenciais para o processo de alfabetização e letramento matemático. E outro grupo com os terceiros, quartos e quintos anos. A atividade proposta é de análise dos materiais didáticos e paradidáticos, realizando uma leitura dinâmica da qualidade dos textos, atividades e estrutura didática a fim de alinhá-lo com a proposta pedagógica do município. Durante a análise, é essencial que os docentes evidenciem pontos positivos e negativos do material, visto que o Estado precisa tomar ciência de que esse movimento de consulta e avaliação docente é basilar para o êxito das ações interventivas. Por fim, munidos de informações congruentes sobre o cenário da escola, os professores devem elaborar um plano de ação que preveja formas de trabalho com os conteúdos da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), inserindo os cadernos de atividade comprados pelo governo. Para isso, planejou-se a reorganização do horário de aula, além de atuarem numa perspectiva interdisciplinar. O horário da Escola Professor Poeta da Rosa será reorganizado conforme explicita o quadro 1. Quadro 1 - Organização do horário escolar HORÁRIO ATIVIDADE OBSERVAÇÕES 7h-8h Leitura deleite O momento inicial da aula é marcado pela leitura de um paradidático. A leitura pode explorar diversos mecanismos de aprendizagem, tais como contação de história, leitura das imagens, contação da história pelos próprios estudantes, leitura da capa, conhecendo as palavras diferentes do texto, dentre outros. 8h-9h Aula sobre os componentes curriculares de ciências, geografia, história e artes Esse momento é dedicado ao trabalho com as disciplinas supracitadas, utilizando-se de recursos lúdicos, visuais ou do próprio livro didático. É importante que o conteúdo ministrado esteja vinculado ao livro lido anteriormente. Em cada dia da semana (exceto às sextas), uma das disciplina deve ser trabalhada de forma enfática, mas sempre que possível, buscar relacionar os conteúdos de forma interdisciplinar. 9h-9h15min Intervalo/Recreio - 9h15min- 10h50min Caderno de Atividades Esse será o tempo dedicado ao uso do caderno de atividades de segunda a quinta-feira. Às sextas-feiras o cronograma de atividades prevê o uso do caderno de atividades durante o turno inteiro. 10h50-11h Organização da sala e hora da saída - Fonte: Escola Professor Poeta da Rosa (2020) 5. PROPOSTA DE INTERVENÇÃO A proposta de intervenção tem como tema “Interdisciplinaridade e Organização didático-pedagógica”, tendo o objetivo de reestruturar os horários da aulas a partir de uma perspectiva interdisciplinar, visando assegurar o uso do caderno de atividades e a manutenção de conteúdos regionais. A proposta de intervenção visa solucionar a problemática do uso dos cadernos de atividades de português e matemática comprados pelo Governo, além de garantir que os docentes tenham tempo para tratar dos outros conteúdos da BNCC. A intervenção foi pensada em coletivo e atende as necessidades atuais da Escola Professor Poeta da Rosa. Os recursos materiais que serão necessários são os próprios cadernos de atividade, posto que serão utilizados após análise do corpo docente em reuniões específicas de trabalho pedagógico. Os novos quadros de horário serão afixados nas portas de cada sala de aula e enviados aos pais nas agendas e cadernos dos alunos. Por se tratar de uma ação nova e que requer tempo para sua implementação, a escola deve dispor de parceria com a Universidade do munícipio, disponibilizando estagiários que acompanhem os professores nesse projeto de intervenção, viabilizando um acompanhamento mais diretivo a aqueles estudantes que possuem dificuldades de aprendizagem. A avaliação da proposta de intervenção dar-se-á através de reuniões semanais em que os docentes devem apresentar os resultados alcançados (ou não) durante a semana. É importante reafirmar que o processo de implementação de uma cultura interdisciplinar é gradativa, logo o início pode ser turbulento, alguns professores podem sentir dificuldade em “articular” os conteúdos da forma integral, assim como prevê a literatura estudada. Por isso, a gestão da escola deve estar aberta ao replanejamento, visto não haver receitas prontas. A experiência se faz ao experenciar. Os erros e acertos são feedbacks para a melhoria do trabalho pedagógico, sendo fundamental construir um ambiente de diálogo, respeito e parceria entre alunos, professores e toda a comunidade escolar. 6. CONCLUSÃO A atividade proposta é um exercício significativo de pensar sobre o trabalho pedagógico em diferentes esferas, uma vez que nesse projeto de intervenção buscou-se pensar acerca da visão do docente, do gestor e do próprio estudante, compondo um cenário de problemas que precisavam de solução. A partir da contextualização do problema, a palavra de ordem do projeto de intervenção foi o “diálogo”, visto que a escola é feita de e para pessoas, sendo fundamental que as escolhas e decisões sejam geridas e legitimadas por quem compõe essa instituição, e não de maneira arbitrária e incisiva, como foi a compra de materiais pelo governo. Sobre o projeto em si, acredita-se que esteja plausível e exequível, pois descreveu as ações por meio das reuniões e grupos de trabalho, além da reestruturação do horário escolar, dando ênfase para um trabalho interdisciplinar, embora atribuindo espaço para cada disciplina no quadro. A interdisciplinaridade é um desafio da educação do século XXI, uma vez que o conceito é carregado de definições polissêmicas que abrigam diferentes correntes de pensadores, mas que aqui evocou-se a gênese de que se trata de um movimento de articulação para além de um conjunto de disciplinas, visando a superação da visão fragmentadae disciplinar que tem assolado a educação brasileira há décadas. 7. REFERÊNCIAS ANTUNES, Celso. Professores e professauros: reflexões sobre a aula e práticas pedagógicas diversas. 9ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014. FAZENDA, Ivani Catarina Arantes (Org.). Dicionário em construção: interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez, 2001. FAZENDA, Ivani Catarina Arantes (Org.). Integração e Interdisciplinaridade no Ensino Brasileiro: efetividade ou ideologia. São Paulo: Loyola, 1979. HAAS, Célia Maria. A Interdisciplinaridade em Ivani Fazenda: construção de uma atitude pedagógica. International Studies on Law and Education, São Paulo, n.8, 2011. JAPIASSU, Hilton. Prefácio. In: FAZENDA, Ivani Catarina Arantes (Org.). Integração e Interdisciplinaridade no Ensino Brasileiro: efetividade ou ideologia. São Paulo: Loyola, 1979.
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