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AULA 3 - PANORAMA DA FILOSOFIA POLÍTICA EM PLATÃO

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PLATÃO 
 
 Atenas – 429-347 a.C. 
Antes, porém, relembremos SÓCRATES 
 Atenas – 470 – 399 a.C 
 
Soldado exemplar 
 
Vida pública x vida privada 
 
Manteve-se afastado da vida política. 
 
Momento “Caras”....... 
 
Dedicação à Filosofia, que considerava como sua vocação, como missão confiada 
pela divindade. 
 
Dedicava-se a um exame incessante de si mesmo e dos outros com o objetivo 
de: 
 
esclarecer os conceitos diretivos da vida humana: a virtude; 
 a felicidade; 
 a justiça; 
 o bem. 
 
Conhecer o homem na sua conduta prática e nas suas relações com outros 
homens, na vida social. 
 
Admite, como Protágoras, que o homem como medida de todas as coisas, porém 
diferentemente daquele, entendia que o conhecimento e a verdade são interiores ao 
homem – conheça-te a ti mesmo (oráculo de Delfos) 
 
Sócrates nada escreveu. Sua vida e pensamento estão retratados por Platão: 
Teeteto; Apologia de Sócrates e Alcebíades. 
 
Seu filosofar era um incessante dialogar. 
 
Objetivo: estimular o interesse pela procura da verdade e do bem (que é o 
verdadeiro fim do homem, e onde ele pode encontrar a felicidade) 
 
O método Socrático: 
Ironia 
Maiêutica 
 
O exame, que a cada um recomendava fazer sobre si mesmo e que tão bem 
sabia praticar sobre o próximo, essa análise das noções, essa prova por ironia e a 
dialética (maiêutica) à qual submetia seus discípulos era um verdadeiro 
procedimento científico. 
Conheça-te a ti mesmo. 
 
O único conhecimento que interessa ao homem. 
Para tal é necessário despir-se da arrogância e reconhecer a própria ignorância. 
O sábio reconhece que pouco sabe. 
 
O papel da Filosofia não é responder, mas possibilitar o florescimento da verdade 
interior. 
 
Mas para ser ao mesmo tempo objeto de seu estudo e matéria da pesquisa 
(ciência) o homem é obrigado “a separar-se” de si mesmo, de analisar-se como 
objeto exterior. (psicologia). 
 
MAIÊUTICA 
 
Método que consiste, essencialmente, em: 
reduzir as opiniões em proposições claras, incontestáveis, ou pelo menos 
aproximadamente incontestadas e compará-las a fatos tão nítidos e simples de 
modo que ninguém possa negar. 
 
Espécie de arte da pesquisa associada. O homem, sozinho, não pode atingir 
a verdade; pode atingi-la somente com o dialogar contínuo com outros 
homens e consigo mesmo. 
 
Objetivo: descobrir e demonstrar a definição das coisas, a qual nos faz conhecer 
a verdadeira essência. 
 
Essa essência é um universal, conveniente a todos os objetos individuais que têm 
o mesmo nome, mas que não é separado nem separável. 
 Ou seja, Verdades nas quais todos os homens podem reconhecer-se e estar de 
acordo, e que, por isso mesmo, devem atingir para orientação de sua vida. 
 
(RACIOCÍNIO INDUTIVO) - do exame de um certo número de casos ou de 
afirmações particulares, chega-se a uma afirmação geral que exprime um 
conceito. 
 
O raciocínio indutivo chega a uma afirmação universal, isto é, à definição de 
conceito. 
 
O conceito é o que exprime a essência ou a natureza da coisa, aquilo que a 
coisa é e deve ser. 
 
SÓCRATES aplicou o conhecimento universal a argumentos MORAIS. BEM, 
VIRTUDE E JUSTIÇA. 
 
O HOMEM QUE NÃO SABE O QUE É O BEM NÃO PODE PRATICÁ-LO. 
O HOMEM QUE NÃO SE PREOCUPA EM SABER O QUE É A JUSTIÇA NÃO 
PODE SER JUSTO. 
 
SABER E VIRTUDE SÃO IDÊNTICOS ENTRE SI E SE IDENTIFICAM COM O 
PRAZER, COM A FELICIDADE QUE É PRÓPRIA DO HOMEM. 
 
A MAIOR INFELICIDADE PARA O HOMEM CONSISTE EM COMETER 
INJUSTIÇA. ISTO TORNA-O TRISTE E DOENTE. 
 
Acusado por (Melito, Anito e Lícon) de: 
a) não reconhecer os deuses do Estado; 
b) introduzir inovações religiosas pelo culto de divindades não reconhecidas; 
c) sedução e corrupção da juventude por doutrinas perigosas. 
 
Defendeu-se mas foi condenado a beber cicuta. 
 
No intervalo entre a condenação e a execução (retardada por festividade 
religiosa) seus amigos quiseram induzi-lo a fugir. 
 
Recusou: em toda a sua vida havia ensinado a justiça e o respeito às leis. 
Não quis desmentir seus ensinamentos. 
 
Bebeu cicuta entre discípulos amigos em 399 a.C. depois de ter discorrido 
sobre a imortalidade da alma e o destino do homem depois da morte 
(segundo Platão). 
 
“Para o homem honesto não existe mal nem na vida, nem na morte e que a sua 
causa está nas mãos do deuses. A divindade (Daimon) é, pois, a guarda do 
destino dos homens; é a garantia dos valores morais. 
 
 
RETORNANDO A PLATÃO: 
 
Proposta: 
 
Criar um sistema filosófico amplo que compreendia o mundo da natureza e o mundo social. 
a) Organizar a vida política segundo regras racionais. 
b) Sustentou que a maneira como Sócrates investigou a moral do indivíduo só podia ser bem 
sucedida se a comunidade também fosse reformada com base na razão. 
Destaque para: 
a) A doutrina das Ideias 
b) A teoria do Estado justo. 
 
IDEIAS: 
 
EXISTE UM MUNDO SUPERIOR DE REALIDADE, INDEPENDENTE DO MUNDO DAS 
COISAS QUE NOS É REVELADO TODOS OS DIAS. 
 
O reino das Ideias ou Formas – padrões imutáveis, eternos, absolutos e universais de beleza, 
bondade, justiça e verdade. 
 
Viver em harmonia com esses padrões constitui a felicidade; conhecer essas formas é 
compreender a verdade. 
Portanto, a verdade reside nesse mundo das Formas e não no mundo apreendido pelos sentidos. 
(mundo ideal situado além do espaço e do tempo) 
 
Por exemplo: 
 
Ninguém pode desenhar um quadrado perfeito, mas as propriedades de um quadrado perfeito 
existem no mundo das Formas. 
 
O escultor observa muitos corpos e todos são, de certa maneira imperfeitos. Com o olho da alma, 
ele procura penetrar no mundo das Ideias e reproduzir com arte um corpo perfeito. 
 
O homem comum só forma um conceito do que é a beleza, observando coisas belas. 
 
O filósofo, que aspira ao verdadeiro conhecimento, vai além do que vê e tenta apreender com a 
mente a Ideia do belo. 
 
Da mesma forma, falta ao indivíduo comum uma verdadeira concepção da justiça ou do bem; tal 
conhecimento está ao alcance somente do filósofo cuja mente pode saltar das particularidades 
vulgares para um mundo ideal situado além do espaço e do tempo. 
 
Por que? 
O mundo dos fenômenos é instável, transitório e imperfeito. 
O seu reino das Ideias era eterno e universalmente válido. 
 
Cada pessoa em particular partilha de uma forma imperfeita e limitada da Ideia de homem. Os 
homens vêm e vão, mas a Ideia de homem persiste eternamente. 
 
Tal hipótese pode ser observada na famosa ALEGORIA DA CAVERNA, de Platão. 
 
Nessa, em apertada síntese, Platão relata a hipótese de uma caverna fictícia, onde os homens 
vivem em seu interior, acorrentados e com uma única possibilidade: olhar para a parede dos 
fundos, onde observam imagens (como se fosse um filme). Um certo dia, um dos habitantes 
(Sócrates), consegue se livrar das amarras, sai da caverna e vê que, em verdade, as imagens que os 
homens veem no interior da caverna, são meras projeções da realidade externa. Retorna à caverna 
e tenta convencer seus companheiros mas, desacreditado, é condenado à morte por eles. 
 
“........ SÓCRATES — Agora imagina a maneira como segue o estado da nossa 
natureza relativamente à instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada 
subterrânea, em forma de caverna, com uma entrada aberta à luz; esses homens estão 
aí desde a infância, de pernas e pescoço acorrentadas, de modo que não podem mexer-
se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes os impedem de voltar a 
cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por detrás 
deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao 
longo dessa estrada está construída um pequeno muro, semelhante às divisórias que os 
apresentadores de títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas 
maravilhas......” 
(República: livro VII) 
Tal hipótese demonstra que o homem que sai da caverna (Sócrates), o faz em virtude da utilização 
da razão, via de acesso ao verdadeiro conhecimento,através do conhecimento filosófico. 
 
Assim, a verdadeira sabedoria é obtida através do conhecimento das Ideias, e não através de 
reflexões imperfeitas sobre as Ideias percebidas pelos sentidos. 
 
Razão em primeiro plano, a ponto de tentar organizar a vida humana segundo modelos 
universalmente válidos. 
 
MATRIX: 
Thomas Anderson – programador  Neo (hacker) 
Submundo virtual  Matrix (crítica sobre o mundo) 
Trinity (hacker)  Morfeu – líder da rebelião - (mundo: realidade virtual – dominado por 
máquinas sencientes, que absorvem energia de humanos) – distraem os homens dormentes com 
uma simulação da vida na Terra em harmonia e desenvolvimento. 
Neo  realidade com a pílula vermelha  retorna, mas com a retina acostumada à luz, fica cego 
nas trevas, o que dificulta o convencimento dos demais (conformismo). 
 
O ESTADO JUSTO 
 
Platão efetuou, no plano do pensamento, a idealização de um modelo racional de Estado. 
 
Tentou resolver um problema deixado pelos Sofistas radicais: o enfraquecimento dos valores 
tradicionais. 
 
Para Sócrates, lembrem-se, a solução para tal problema era a transformação moral do indivíduo. 
 
Platão quis ajustar toda a comunidade a princípios racionais. 
 
Afirmava: se os seres humanos devem viver uma vida ética, precisam fazê-lo como cidadãos 
de um Estado racional e justo. 
Obs.: num Estado injusto as pessoas não poderiam alcançar a sabedoria socrática, pois suas almas 
são o reflexo da maldade do Estado. 
 
Motivo: viu a guerra do Peloponeso e o julgamento de Sócrates. Na constituição de Atenas nem a 
moral de cada cidadão, nem o bem do Estado podiam ser valorizados. Atenas precisava de uma 
reforma moral e política completa, fundada na filosofia de Sócrates. 
 
A República: 
 
Imaginou um Estado ideal baseado em 2 modelos que salvariam os atenienses dos males que lhes 
foram impostos. 
 
O Estado justo não se podia fundar na tradição (pois os comportamentos herdados não provinham 
de modelos racionais) nem da doutrina da legitimidade do poder (pregado por sofistas radicais e 
praticado por estadistas atenienses). 
 
Um Estado justo devia conformar-se aos PRINCÍPIOS UNIVERSALMENTE válidos e 
visar ao aprimoramento moral de seus cidadãos e não ao aumento do seu poder e bens 
materiais. 
 
Tal Estado precisa de líderes que se distinguissem pela sabedoria e virtude mais do que pela 
inteligência e eloquência dos sofistas. 
 
A essência de sua teria política, tal qual na República, é a crítica da democracia ateniense. 
 
Aponta três problemas da democracia: 
 
Era insensato, dizia: 
1) Esperar que o homem comum pensasse de modo inteligente sobre política externa, 
economia ou outros assuntos vitais do Estado. Contudo era permitido ao homem comum falar na 
Assembléia, votar e ser escolhido, por sorteio, para cargos executivos. 
“.... ninguém confia um doente aos cuidados de qualquer um, nem esperasse que um aprendiz 
pilotasse um navio em plena tempestade. Contudo, numa democracia, permite-se que amadores 
tomem as rédeas do governo e supervisionem a educação dos jovens....“ 
 
2) Os líderes são escolhidos e seguidos por razões não-essenciais tais como discurso 
persuasivo, boa aparência, riqueza e tradição familiar. 
 
3) Podia degenerar em anarquia. Intoxicados de tanta liberdade, os cidadãos de uma democracia 
podiam perder todo o seu sentido de equilíbrio, autodisciplina e respeito à lei. 
 
“os cidadãos se tornam desconfiados e irritadiços, a ponto de se erguerem em revolta contra a 
menor aparência ou suspeita de servidão. Acabam, como bem sabes, por não fazer nenhum caso 
das leis escritas ou não escritas, para que jamais se verifique a hipótese de terem sobre si algum 
de’spota.” 
 
Como a licença sucede à liberdade, a sociedade democrática viria a deteriorar-se moralmente. 
“..... os moços querem emparelhar-se com os velhos e lutar com eles, em pé de 
igualdade, nas palavras e atos....” 
 
4) Como a sociedade democrática descambasse em desordem, acabaria por evidenciar-se uma 
Quarta fraqueza da democracia. Um demagogo podia adquirir poder prometendo despojar os ricos 
em benefício dos pobres. Para conservar o seu domínio sobre o Estado o tirano 
 
“..... sempre tem o cuidado de manter algum simulacro de guerra, a fim de que o povo 
sinta a necessidade de um cabeça. E também a fim de empobrecê-lo com os imposots 
cobrados, de modo que, ocupado em acudir diariamente à própria penúria, não 
medite o povo em assaltos contra a sua pessoa.” 
 
Sugeria que Atenas só poderia ser governada corretamente quando os homens mais sábios, os 
filósofos galgassem o poder. 
 
As funções de governo só poderiam ser desempenhadas pela aristocracia da cidade, os filósofos 
(governantes naturais do Estado), que iriam tratar os problemas humanos com a razão e a 
sabedoria provenientes do conhecimento do mundo de Ideias imutáveis e perfeitas. 
 
A formulação de Estado formulada por Platão em A República correspondia à sua concepção da 
alma humana, da natureza humana. Tinha 3 partes: 
a) razão (a busca pelo conhecimento) 
b) cólera (auto-afirmação, coragem, ambição) 
c) desejo (ö monstro selvagem com muitas cabeças” que nos impele a comer, aos prazeres 
sexuais, à riqueza). 
 
Numa alma bem orientada, a cólera e o desejo são orientados pela razão. 
 
Frisava ele que podia ser contado nos dedos os homens que tinham inteligência e autodomínio 
para pautar a sua vida por modelos provenientes do mundo das Ideias. 
 
As pessoas eram divididas por ele em 3 grupos 
a) as que demonstravam capacidade filosófica - governantes 
b) aquelas cujo pendor natural revelava uma coragem 
 excepcional - soldados 
 
c) as que guiadas pelo desejo (a grande maioria) 
deviam ser produtores - comerciantes, artesões, 
agricultores) 
 
Sustentava que homens e mulheres deveriam receber a mesma educação e ter acesso igual a 
todas as ocupações e cargos públicos, até mesmo o de filósofo-governante. 
 
A comunidade devia reconhecer a primazia do intelecto e buscava criar um Estado harmonioso 
onde cada indivíduo desempenhasse a função de sua preferência, para a qual tivesse melhor 
qualificado. 
 
Esse era um Estado justo. Reconhecia as desigualdades e diversidades humanas e fazia melhor 
uso possível delas para toda a comunidade. 
 
Resposta aos Sofistas, para quem justo era o direito dos fortes em governar em seu próprio 
benefício, ou que a justiça era sempre tendenciosa. 
 
O filósofos eram selecionados de acordo com um critério rigoroso de educação aberto a todas as 
crianças. Aqueles que não demonstrassem inteligência ou força de caráter suficientes deveriam ser 
relegados a produtores ou guerreiros, dependendo de suas aptidões naturais. 
 
Depois de muitos anos de educação seriam filósofos-governantes e somente se preocupariam com 
a justiça. 
 
Deviam ser monarcas absolutos. O povo perderia a participação nas decisões políticas mas 
ganharia um estado bem administrado, cujos governantes buscariam apenas o bem comum. 
 
O propósito de A República foi advertir os atenienses de que, sem respeito às leis, liderança sábia 
e educação adequada para a juventude, a sua cidade continuaria a degenerar-se. 
 
 
Referência: 
BITTAR, Eduardo C.B. Curso de filosofia política. 4 ed. São Paulo: Atlas, 2011.

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