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Filosofia, Comunicação e Ética

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Prévia do material em texto

Autor: Prof. Vladimir Fernandes
Colaboradores: Profa. Silmara Maria Machado
 Prof. Nonato Assis de Miranda
 Profa. Dra. Angélica Lúcia Carlini
Filosofia, 
Comunicação e Ética
Professor conteudista: Vladimir Fernandes
Olá! Meu nome é Vladimir Fernandes. Sou Doutor em Educação pela Universidade de São Paulo, Mestre em Filosofia 
pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Especialista em Sociologia e História do Trabalho pela Fundação 
Santo André e graduado em Filosofia pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais. Atuo como professor titular na 
Universidade Paulista e sou líder das disciplinas de Fundamentos de Filosofia e Educação e de Filosofia, Comunicação e 
Ética, no curso de Pedagogia. Tenho experiência na área de Sociologia e de Filosofia, com ênfase em Epistemologia, Ética 
e Educação. Sou integrante do grupo de pesquisa “Políticas Públicas e Gestão de Práticas Educativas”, da Universidade 
Paulista. Amo a Filosofia e sou apaixonado pela Educação! Espero que este material possa contribuir com a sua jornada 
de aprendizagem. Desejo bons estudos a todos vocês!
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
F363 Fernandes, Vladimir
Filosofia, comunicação e ética. / Vladimir Fernandes. - São 
Paulo: Editora Sol, 2011.
92 p. il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de
Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XVII, 
n. 2-059/11, ISSN 1517-9230
1.Comunicação 2.Filosofia 3.Ética I.Título
CDU 659
Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Janandréa do Espírito Santo
 Amanda Casale
Sumário
Filosofia, Comunicação e Ética
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................7
Unidade I
1 O USO DA LINGUAGEM E DA RAZÃO .........................................................................................................9
1.1 O uso da linguagem ...............................................................................................................................9
1.2 O uso da razão ....................................................................................................................................... 12
2 LÓGICA CLÁSSICA E ATITUDE CIENTÍFICA .............................................................................................. 14
2.1 Lógica clássica ....................................................................................................................................... 14
2.1.1 Argumento dedutivo ............................................................................................................................. 16
2.1.2 Argumento indutivo .............................................................................................................................. 17
2.1.3 Argumento por analogia ..................................................................................................................... 18
2.1.4 Falácias ........................................................................................................................................................ 18
2.2 Atitude científica .................................................................................................................................. 19
3 AS LUZES E SOMBRAS DA RAZÃO ........................................................................................................... 22
3.1 Esclarecimento e antissemitismo ................................................................................................... 25
3.2 “Educação após Auschwitz” ............................................................................................................. 28
4 OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA E O MUNDO GLOBALIZADO ................................... 31
4.1 Os meios de comunicação de massa ............................................................................................ 31
4.2 O mundo globalizado ......................................................................................................................... 36
Unidade II
5 VALORES, MORAL E ÉTICA ........................................................................................................................... 44
5.1 Valores ....................................................................................................................................................... 44
5.2 Moral e ética........................................................................................................................................... 45
6 A ÉTICA ARISTOTÉLICA, DETERMINISMO E LIBERDADE .................................................................... 49
6.1 A ética aristotélica ............................................................................................................................... 49
6.2 Determinismo e liberdade ................................................................................................................. 51
6.3 Santo Agostinho e o livre arbítrio ................................................................................................. 53
7 A ÉTICA RACIONAL KANTIANA ................................................................................................................... 56
7.1 A ética racional kantiana .................................................................................................................. 56
7.2 Os direitos humanos ........................................................................................................................... 59
8 A PERSPECTIVA ÉTICA DE NIETZSCHE, WEBER E HABERMAS ....................................................... 65
8.1 Nietzsche e a genealogia da moral ............................................................................................... 65
8.2 Weber: ética da convicção e ética da responsabilidade ........................................................71
8.3 Habermas e a ética discursiva ......................................................................................................... 74
7
APRESENTAÇÃO
Caro aluno,
A disciplina Filosofia, Comunicação e Ética tem como um dos objetivos principais estudar o ser 
humano enquanto um ser produtor de linguagem e de conhecimento. É através da linguagem que 
entramos em contato com a cultura, com os conhecimentos, com os valores produzidos por aqueles que 
nos antecederam e, além disso, a linguagem é condição necessária para o processo de humanização e 
para a produção do conhecimento, daí a importância de iniciarmos com este estudo.
Assim,vamos analisar como o uso da razão e da ciência alteram o habitat humano e a sua 
própria existência. Ao fazer uso da razão, busca-se organizar e compreender a realidade fazendo-a 
inteligível. O uso da ciência moderna possibilitou muitas conquistas e acenou com a perspectiva 
de um mundo cada vez melhor. Faz-se necessário refletir sobre o uso que vem sendo feito da 
razão e da ciência e se a promessa de um “mundo cada vez melhor” está sendo cumprida. Neste 
sentido, buscamos examinar algumas características dos meios de comunicação de massa e do 
mundo globalizado. Os meios de comunicação de massa transformaram o mundo em uma espécie 
“aldeia global”. A televisão é um dos veículos mais utilizados e está presente na grande maioria 
dos lares, das diferentes classes sociais, nas diferentes regiões do país. Vivemos a chamada era da 
globalização, mas cabe ponderar e analisar: quais são os aspectos positivos e quais são os aspectos 
negativos desses fenômenos?
Cabe ainda a esta disciplina pensar sobre o conjunto de valores socialmente acordados que permeiam 
nossas ações. Quer a gente goste ou não, desde que nascemos vamos tomando contato com os valores 
existentes no nosso meio social. As nossas escolhas também se pautam em valores – desde as escolhas 
cotidianas até as escolhas mais complexas –, dessa forma, refletir sobre os valores se torna fundamental 
para ações mais conscientes assim como identificar as inter-relações entre a educação, a moral e a 
sociedade. Se o ser humano é um ser que precisa ser educado, se o ser humano é um ser que precisa se 
tornar um sujeito moral e se o ser humano é também um ser social, logo, se faz pertinente refletir sobre 
a inter-relação desses conceitos, refletir sobre a importância da educação para a formação do sujeito 
moral. 
Por fim, vamos considerar como alguns filósofos fundamentaram suas concepções éticas. Desde a 
Grécia antiga surgiram diferentes concepções éticas. Tais diferenças possuem relação com o contexto 
em que foram pensadas e na forma de entender o que é o homem e como ele deve agir. Analisar 
algumas dessas diferentes concepções ajuda a entender melhor as questões morais concernentes 
aos tempos atuais e também a eleger parâmetros éticos que viabilizem relações humanas mais 
harmônicas.
INTRODUÇÃO
Quais relações podemos estabelecer entre a filosofia, a comunicação e a ética? É possível filosofar 
sobre a ciência ou sobre a ética? Será que já nascemos com uma moral? É possível ser ético e contrariar 
a moral vigente?
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Caro aluno, você já deve ter ouvido falar que, em Filosofia, as perguntas costumam ser mais 
importantes do que as respostas. Isso é verdade, mas não significa que devemos apenas perguntar e 
não se preocupar em responder, e sim que o perguntar irá nos colocar no caminho de respostas mais 
consistentes. Muitas vezes, as repostas nos levam às outras perguntas e assim vamos ampliando a nossa 
visão sobre aquilo que é questionado.
Convido você a percorrer as páginas desta apostila na busca de elucidar algumas interrogações, 
estabelecer outras e, dessa forma, iniciar um rico diálogo com os pensadores que se dedicaram ao 
exercício filosófico.
Seja bem-vindo e boa jornada!
Só aos poucos que o escuro é claro.
Guimarães Rosa
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FILOSOFIA, COMUNICAÇÃO E ÉTICA
Unidade I
LINGUAGEM, RAZÃO E COMUNICAÇÃO
1 O USO DA LINGUAGEM E DA RAZÃO
1.1 O uso da linguagem
Figura 1 – Aristóteles
O ser humano pode ser definido como um ser que fala, uma vez que falar é uma característica 
própria dos seres humanos e os animais não falam. Aristóteles, ao afirmar, em sua Política, que o homem 
é um animal político, sustenta sua tese no pressuposto que o homem é o único que possui linguagem, 
enquanto os animais apenas expressam dor ou prazer através de sons. Aristóteles afirma:
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Como dizemos frequentemente, a natureza não faz nada em vão; ora, 
o homem é o único entre os animais a ter linguagem [logos]. O simples 
som é uma indicação do prazer ou da dor estando, portanto, presente em 
outros animais, pois a natureza destes consiste em sentir o prazer e a dor 
e em expressá-los. Mas a linguagem tem como objetivo a manifestação do 
vantajoso e do desvantajoso, assim sendo, do justo e do injusto. Trata-se 
de uma característica do homem ser ele o único que tem o senso do bom 
e do mau, do justo e do injusto, bem como outras concepções deste tipo 
(ARISTÓTELES apud MARCONDES, 2000, p. 56). 
Dessa forma, a linguagem possibilita manifestar o pensamento, instaurar comunicação entre os 
seres humanos, falar sobre as coisas, estabelecer acordos de convivência etc. Apesar disso, Platão, no 
diálogo Fedro, considera também aspectos problemáticos da linguagem, uma vez que vê a linguagem 
como um phármakon, conforme explica Chauí:
Esta palavra grega, que em português se traduz por poção, possui três 
sentidos principais: remédio, veneno e cosmético. 
Ou seja, Platão considerava que a linguagem pode ser um medicamento ou 
um remédio para o conhecimento, pois, pelo diálogo e pela comunicação, 
conseguimos descobrir nossa ignorância e aprender com os outros. Pode, 
porém, ser um veneno quando, pela sedução das palavras, nos faz aceitar, 
fascinados, o que vimos ou lemos, sem que indaguemos se tais palavras são 
verdadeiras ou falsas. Enfim, a linguagem pode ser cosmético, maquiagem 
ou máscara para dissimular ou ocultar a verdade sob as palavras. A 
linguagem pode ser conhecimento-comunicação, mas também pode ser 
encantamento-sedução (CHAUÍ, 1997, p. 148). 
Nessa linha de raciocínio, podemos lembrar também que o filósofo Sócrates nada escreveu. E por 
qual motivo? Justamente por desconfiança em relação à linguagem escrita. Havia o risco que suas 
ideias fossem ser mal interpretadas e, também, a questão que o texto por si só pode não responder 
aos questionamentos dos possíveis leitores e, dessa forma, ele preferia filosofar dialogando com seus 
contemporâneos e não se preocupava com o registro de seus pensamentos, tarefa que ficou a cargo de 
seus discípulos.
 Lembrete
As três fontes diretas, daqueles que conviveram com Sócrates e 
escreveram sobre ele, são as de Aristófanes, Xenofonte e de Platão. 
Apesar dos aspectos negativos, apontados em relação à linguagem, os aspectos positivos se sobressaem. 
Segundo o filósofo Ernst Cassirer (1994), o uso e o entendimento da linguagem possibilitam o verdadeiro 
“abre-te-sésamo” que permite a entrada no mundo da cultura humana e o seu desenvolvimento.
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FILOSOFIA, COMUNICAÇÃO E ÉTICA
A linguagem é composta por um sistema de signos. O que é um sistema? O que são signos? Um 
sistema é um conjunto de elementos organizados, neste caso, os elementos são os signos. Os signos 
são elementos que designam outros elementos. Por exemplo, a palavra árvore está no lugar do objeto 
árvore, o número 3 está no lugar quantidade real de três coisas e assim por diante.
Cassirer afirma, em seu Ensaio sobre o homem, que é fundamental fazer uma distinção entre 
sinais e símbolos para se ter uma melhor clareza do problema. Expõe que os animais são suscetíveis 
a identificar sinais, como tom de voz, expressões do rosto humano, gestos etc. e que, também, podem 
ser condicionados a vários tipos de sinais, como mostrou Pavlov em suas várias experiências. Conforme 
Cassirer, todas essas atividades denominadas de reflexo condicionado estão não só distantes, comoaté 
mesmo do lado oposto ao caráter fundamental do simbolismo humano.
O filósofo esclarece que as várias experiências feitas com animais superiores demonstraram que 
algumas reações não são meros acasos, mas que envolvem um tipo de compreensão e solução criativa. 
Mesmo nesses casos, a inteligência animal ainda se distancia muito da inteligência propriamente humana, 
já que ela fica limitada à experiência momentânea, não ocorrendo um progressivo desenvolvimento. 
Cassirer busca fundamentar sua tese do homem como animal symbolicum, argumentando que o ser 
humano é o único que atinge o estágio de uma linguagem proposicional, enquanto os animais, mesmo 
mais evoluídos, atingem apenas uma linguagem emocional e uma inteligência prática, susceptíveis 
de aprender a identificar sinais por reflexos condicionados, o que os coloca muito distante de uma 
linguagem simbólica. “Em resumo, podemos dizer que o animal possui uma imaginação e uma inteligência 
práticas, enquanto apenas o homem desenvolveu uma nova forma: uma imaginação e uma inteligência 
simbólicas” (CASSIRER, 1994, p. 60). 
Figura 2 – Segundo Cassirer, o homem é um animal simbólico 
A transição de uma forma para outra fica evidente no desenvolvimento humano, mas nos animais 
tal processo não ocorre. Cassirer cita o caso especial de Helen Keller, que mesmo tendo nascida cega, 
surda e, consequentemente, muda, conseguiu, através dos esforços da sua professora Mrs. Sullivan, 
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compreender o sentido simbólico da linguagem e adentrar no mundo humano do significado. E, mesmo 
no caso de Helen Keller, o fato de usar sinais tácteis no lugar dos vocais não prejudica a continuidade 
de desenvolvimento do seu pensamento simbólico (CASSIRER, 1994, p. 63).
Figura 3 – Helen Keller
Para Cassirer, só o homem desenvolve por si mesmo uma linguagem e uma inteligência simbólica, 
sem o simbolismo, o homem ficaria preso às necessidades biológicas e situações concretas. Dessa forma, 
a questão sobre o que é o homem e qual sua diferença mais primária e específica em relação aos outros 
seres ganha novo enfoque. Daí que, para Cassirer, é mais adequado definir o ser humano como um animal 
symbolicum, ao invés de animal racional ou mesmo animal político ou construtor. Na verdade, essas 
definições não são excludentes ou contraditórias, mas a definição de Cassirer enfoca uma característica 
mais primária no ser humano: criar símbolos. E esse fato que está na base é a condição de possibilidade 
para o desenvolvimento de outras capacidades humanas. O que possibilita que o homem seja um ser 
racional, um ser político, um ser construtor de coisas é sua capacidade primária de criar símbolos. O 
ser humano, enquanto animal simbólico, constrói a realidade em diferentes perspectivas. O sistema 
simbólico é a condição para ordenação do pensamento e da ação; sem ele, não sairíamos da caverna de 
Platão nem adentraríamos no mundo plenamente humano (FERNANDES, 2006, p. 33).
1.2 O uso da razão
O ser humano enquanto animal simbólico é um ser que faz uso da razão. A palavra razão, na 
sociedade ocidental, tem origem em duas fontes: o termo latino ratio e o termo grego logos. Segundo 
Chauí (1997), ambos os termos são substantivos originados de dois verbos com sentidos semelhantes 
em grego e latim. “Logos vem do verbo legein, que quer dizer: contar, reunir, juntar, calcular. Ratio vem 
do verbo reor, que quer dizer: contar, reunir, medir, juntar, separar, calcular” (CHAUÍ, 1997, p. 59). E o que 
fazemos, questiona Chauí, “quando medimos, juntamos, separamos, contamos e calculamos?” Pensamos 
com medida e proporção, pensamos de forma ordenada (CHAUÍ, 1997, p. 59). Dessa forma:
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Logos, ratio ou razão significam pensar e falar ordenadamente, com medida 
e proporção, com clareza e de modo compreensível para os outros. Assim, na 
origem, a razão é a capacidade intelectual para pensar e exprimir-se correta 
e claramente, para pensar e dizer as coisas tais como são. A razão é uma 
maneira de organizar a realidade pela qual esta se torna compreensível. É, 
também, a confiança de que podemos ordenar e organizar as coisas porque 
são organizáveis, ordenáveis, compreensíveis nelas mesmas e por elas 
mesmas, isto é, as próprias coisas são racionais (CHAUÍ, 1997, p. 59).
Figura 4 – Frontispício da Enciclopédia (1772), desenhado por Charles-Nicolas 
A imagem acima se encontra no frontispício da Enciclopédia publicada na França em 1772. A figura 
ao centro representa a Verdade, que está entre a Imaginação (esquerda) e a Razão (direita). Enquanto a 
Imaginação busca enfeitar a Verdade, a Razão quer lhe retirar o véu.
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Entendendo a razão como um modo de organizar e compreender a realidade fazendo-a inteligível, 
a atitude filosófica racional irá se opor a quatro outras formas de atribuição de sentido a realidade. São 
elas: o conhecimento ilusório, as emoções, a crença religiosa, o êxtase místico. Dessa forma, segundo 
Chauí, a razão se opõe:
1. ao conhecimento ilusório, isto é, ao conhecimento da mera aparência das 
coisas que não alcança a realidade ou a verdade delas; para a razão, a ilusão 
provém de nossos costumes, de nossos preconceitos, da aceitação imediata 
das coisas tais como aparecem e tais como parecem ser. As ilusões criam as 
opiniões que variam de pessoa para pessoa e de sociedade para sociedade. A 
razão se opõe à mera opinião;
2. às emoções, aos sentimentos, às paixões, que são cegas, caóticas, 
desordenadas, contrárias umas às outras, ora dizendo “sim” a alguma coisa, 
ora dizendo “não” a essa mesma coisa, como se não soubéssemos o que 
queremos e o que as coisas são. A razão é vista como atividade ou ação 
(intelectual e da vontade) oposta à paixão ou à passividade emocional;
3. à crença religiosa, pois, nesta, a verdade nos é dada pela fé numa revelação 
divina, não dependendo do trabalho de conhecimento realizado pela nossa 
inteligência ou pelo nosso intelecto. A razão é oposta à revelação e, por isso, os 
filósofos cristãos distinguem a luz natural – a razão – da luz sobrenatural – a 
revelação;
4. ao êxtase místico, no qual o espírito mergulha nas profundezas do divino e 
participa dele, sem qualquer intervenção do intelecto ou da inteligência, nem 
da vontade. Pelo contrário, o êxtase místico exige um estado de abandono, de 
rompimento com a atividade intelectual e com a vontade, um rompimento 
com o estado consciente, para entregar-se à fruição do abismo infinito. A 
razão ou consciência se opõe à inconsciência do êxtase (CHAUÍ, 1997, p. 60). 
Assim, a Filosofia é um tipo de conhecimento que faz uso da razão para explicar a realidade e, dessa 
forma, como explica Chaui anteriormente, ela se opõe e se diferencia do conhecimento ilusório, das emoções, 
da crença religiosa e do êxtase místico. Cabe enfatizar que a filosofia, desde as suas origens, fazendo uso da 
razão, buscou elaborar um discurso com coerência e clareza. Isso significa que o discurso racional filosófico se 
pauta por certos princípios lógicos. Vamos ver, no item a seguir, alguns desses princípios, que são úteis tanto 
no âmbito da filosofia, quanto em outras áreas do saber.
2 LÓGICA CLÁSSICA E ATITUDE CIENTÍFICA
2.1 Lógica clássica
Em nosso dia a dia, frequentemente utilizamos a expressão “é lógico” ou “isso é lógico”. Por exemplo: é 
lógico que meu time será campeão esse ano; é lógico que gosto de pizza; é lógico que vou assistir à aula de 
filosofia hoje. Nesses casos, a expressão “é lógico” é utilizada no sentido de algoque parece ser evidente, em 
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FILOSOFIA, COMUNICAÇÃO E ÉTICA
que não há nenhuma dúvida. Por outro lado, diante de situações contraditórias, costuma-se dizer “isso não 
tem lógica” ou é “ilógico”. Por exemplo: é ilógico que uma seleção, com os melhores jogadores do mundo, 
perca por 7 a 1; é ilógico deixar de comprar leite para comprar refrigerante; é ilógico que um político corrupto 
consiga se reeleger. Nesses casos, a expressão “é ilógico” remete a situações difíceis de serem explicadas, 
porque parecem absurdas, que não seguem o que seria razoável, no entanto, se forem investigadas a fundo, 
serão encontrados os motivos de tais situações.
Cotidianamente, conversamos com as pessoas e nem sempre concordamos com suas opiniões sobre 
determinados assuntos. Então buscamos argumentar para defender o nosso ponto de vista. Ora, o que 
significa argumentar? Significa que procuramos concatenar ideias de forma coerente para persuadir 
nosso interlocutor da validade das nossas ideias. A lógica pode nos ajudar nessa tarefa.
A lógica formal foi desenvolvida por Aristóteles e tem como objetivo analisar as formas do 
correto pensar. Este filósofo escreveu, no século IV a.C., uma obra monumental denominada 
Organon, composta por seis tratados e que estabelece as bases da lógica formal. A palavra 
grega organon significa “instrumento” e para Aristóteles a lógica é um tipo de conhecimento 
instrumental, ou seja, é uma ferramenta utilizada para o pensar correto. Aristóteles entendia 
que a lógica tinha um caráter propedêutico, isto é, preparatório, uma vez que possibilita uma 
formação geral básica necessária ao exercício filosófico. Dessa forma, a lógica é importante não 
só para a filosofia, mas também para outras áreas do saber, uma vez que pensar de forma lógica 
é um pressuposto necessário a produção do conhecimento. 
Vamos ver como as autoras Aranha e Martins (2003) explicam alguns dos conceitos dessa lógica:
Etimologicamente, a palavra lógica vem do grego logos, que significa 
“palavra”, “expressão”, “pensamento”, “conceito”, “discurso”, “razão”. Podemos 
defini-la como o estudo dos métodos e princípios de argumentação. Ou, 
então, como a investigação das condições em que a conclusão de um 
argumento se segue de suas premissas (ARANHA; MARTINS, 2003, p. 101).
Vamos considerar um exemplo:
a) Todo paulista é brasileiro.
b) João é paulista.
c) Logo, João é brasileiro.
Um argumento é composto por proposições encadeadas que chega a uma conclusão. 
Proposições são sentenças que podem ser declaradas verdadeiras ou falsas. Como por exemplo, 
“Sócrates é mortal”, “o fogo é quente”. As duas primeiras proposições do nosso exemplo (a e b) 
são também chamadas de premissas, que significa “o que vem antes” da conclusão. A partir delas 
extraímos uma conclusão (c). 
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O processo pelo qual passamos de certas premissas a uma conclusão chama-se inferência. A palavra 
inferência vem do latim infere e significa “levar para”. Por exemplo, Pedro vai até a janela, olha para o 
céu e diz: 
– Vai chover! 
Perceba, ele não disse por que vai chover ou por que chegou a essa conclusão, mas apenas que vai 
chover. Se perguntarmos: 
– Pedro, diga-nos por que você está falando isso? 
Se ele disser: 
– Porque estou com calor e eu quero que chova! 
Seria um argumento coerente? Não, pois o fato de querer que chova não decorre que irá chover. 
Agora se ele disser: 
– Eu olhei para o céu e vi nuvens carregadas e alguns relâmpagos. A semana passada, após presenciar 
uma cena parecida, como essa de hoje, choveu. Logo, tudo indica que irá chover.
Perceba que essa inferência possui muito mais coerência e lógica, mesmo que não chova. Conforme 
explica Aranha e Martins:
Cabe ao lógico examinar a forma da inferência, a concatenação existente 
entre os diversos enunciados, a fim de verificar se é válido chegar a 
determinada conclusão. Em outras palavras, a lógica examina se a estrutura 
da inferência é válida ou inválida. 
[...]
Podemos dizer das proposições que elas são verdadeiras ou falsas. Mas 
quando se trata de argumentos, dizemos que são válidos ou inválidos. Uma 
proposição é verdadeira quando corresponde ao fato que expressa. Um 
argumento é válido quando sua conclusão é consequência lógica de suas 
premissas (ibidem, p. 102).
Vamos considerar, a seguir, alguns dos diferentes tipos de argumentação. 
2.1.1 Argumento dedutivo
A palavra dedução remete aos significados: “concluir a partir de”, “extrair de algo”, “diminuir”. Dessa 
forma, em um argumento dedutivo, a partir de uma proposição geral se conclui outra proposição, que 
pode ser particular ou também de caráter geral. Uma característica importante é que a conclusão não 
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FILOSOFIA, COMUNICAÇÃO E ÉTICA
diz algo além do que já estava nas premissas, ou seja, nas proposições anteriores. Conforme explica 
Aranha e Martins:
Em um argumento dedutivo correto a conclusão é inferida necessariamente 
das premissas. Ou seja, o que está dito na conclusão é extraído das premissas, 
pois na verdade já está implícito nelas. Na dedução lógica, o enunciado da 
conclusão não excede o conteúdo das premissas, isto é, não se diz mais nada 
na conclusão do que já foi dito (2003, p. 103). 
Exemplo:
• Todo homem é mortal.
• Sócrates é homem.
• Logo, Sócrates é mortal.
Afirmar que todo homem é mortal significa dizer que todos os seres humanos são mortais: Platão, 
Aristóteles, Sócrates, Diotima, Aspásia.... É uma característica intrínseca da natureza humana, a única 
certeza indubitável: a mortalidade. Sócrates é um desses seres humanos. Logo, podemos concluir que 
Sócrates é também mortal. Perceba que o que se afirma na conclusão (Sócrates é mortal) já estava 
contido na primeira proposição (todo homem é mortal).
2.1.2 Argumento indutivo
O termo indução significa “conduzir para”, “estender”, “desenrolar”, trata-se, portanto, de um tipo 
de raciocínio que a partir de casos particulares conduz a uma conclusão generalizada. Segundo Aranha 
e Martins:
A indução por enumeração é uma argumentação pela qual, a partir de 
diversos dados singulares constatados, chegamos a proposições universais. 
Nesse tipo de argumento ocorre uma generalização indutiva. Enquanto 
na dedução a conclusão deriva de proposições universais já conhecidas, 
a indução, ao contrário, chega à conclusão a partir de evidências parciais 
(2003, p. 104). 
Exemplo:
• O cobre, o ferro, o zinco, dilatam com o calor.
• Logo, todo metal dilata com o calor.
No argumento anterior afirma-se que três metais dilatam com o calor: o cobre, o ferro e o zinco. 
Depois se conclui que não apenas esses metais dilatam com o calor, mas todo metal. Perceba que a 
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partir de três metais se generalizou para todos. Trata-se de uma indução incompleta, ou seja, o que se 
afirma na conclusão é mais amplo, excede o que se afirma nas premissas, por isso no raciocínio indutivo 
há apenas a probabilidade de ser correto. 
Embora a generalização indutiva incompleta seja a mais comum, há outro tipo de indução, a 
completa. Ocorre quando todos os elementos do conjunto são considerados. Por exemplo: se ao invés 
de verificar apenas os três metais citados, no exemplo acima, se verifica também o estanho, o chumbo, 
o ouro e todos os outros metais existentes. Assim, se poderá afirmar de forma completa que todos os 
metais existentes e conhecidosaté então, dilatam com o calor.
2.1.3 Argumento por analogia
Em um raciocínio analógico se estabelece um tipo de comparação entre coisas diferentes, mas que 
possuem pontos comuns. O que serve para um, conclui-se que servirá também para o outro. Conforme 
explica Aranha e Martins:
Analogia (ou raciocínio por semelhança) é uma indução parcial ou imperfeita, 
na qual passamos de um ou de alguns fatos singulares não a uma conclusão 
universal, mas a uma outra enunciação singular ou particular, inferida em 
virtude da comparação entre objetos que, embora diferentes, apresentam 
pontos de semelhança:
• Paulo sarou de suas dores de cabeça com este remédio.
• Logo, João há de sarar de suas dores de cabeça com este mesmo 
remédio (2003, p. 104).
2.1.4 Falácias
A falácia é uma forma de raciocínio que parece correto, mas quando examinado melhor se revela incorreto.
Muitas falácias decorrem do fato de algumas premissas serem irrelevantes 
para a aceitação da conclusão, mas são usadas com a função psicológica de 
convencer, mobilizando emoções como medo, entusiasmo, hostilidade ou 
reverência (ARANHA; MARTINS, 2003, p. 105). 
Vamos ver agora alguns entre os vários tipos de falácias.
• Argumento contra o homem. Nesse tipo de falácia ataca-se a pessoa e não o seu argumento. 
Exemplo: “Ele costuma ir ao bar, logo tudo o que ele diz é mentira”. Ou “Ele não frequenta a igreja, 
portanto não é um bom aluno”.
• Argumento de autoridade. Quando se utiliza o prestígio de uma pessoa para defender algo que 
não é da sua competência. Exemplo: “Esse remédio para emagrecer é ótimo, pois quem fez a 
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FILOSOFIA, COMUNICAÇÃO E ÉTICA
propaganda foi aquela atriz” Ou “Vou votar nesse candidato, pois meu cantor favorito está 
apoiando ele”.
• Falácia de acidente. Quando se extrai uma conclusão de algo que é acidental. Exemplo: “Ele nunca 
estudou e se deu bem. Logo, o estudo não serve para nada”. Ou “A primeira vez que meu tio foi ao 
hospital não voltou mais. Logo, toda medicina é inútil”.
• Falácia de ignorância da questão. Nesse tipo de falácia se ignora a questão desviando a discussão 
para outro foco. Por exemplo: Um político foi acusado, graças a uma escuta telefônica, de praticar 
corrupção. Ao ser questionado sobre a corrupção, ele diz que a escuta foi ilegal e ele vai processar 
o fulano que fez a escuta e não diz nada sobre o seu ato ilegal.
• Falácia de falsa causa. Toma-se como causa para um fato algo que não é a verdadeira causa. Por 
exemplo: No jogo em que seu time ganhou o campeonato ele usava uma cueca com as cores do 
clube. Agora sempre vai usar a mesma cueca nos jogos decisivos.
Exemplo de aplicação
A lógica foi denominada como uma disciplina propedêutica, isto é, preparatória ou instrumental 
para se fazer filosofia. Pode-se dizer que a lógica é importante não apenas para a filosofia, mas 
também para outras áreas do saber? Você concorda? Comente.
2.2 Atitude científica
Os primeiros filósofos, que ficaram conhecidos como pré-socráticos, foram os inventores do logos, 
da razão. Eles desconfiaram das explicações míticas e buscaram explicações racionais para explicar o 
mundo. Mas será que eles já estavam fazendo ciência? O físico Marcelo Gleiser expõe, na Introdução do 
livro Pré-socráticos – a invenção da razão, as seguintes considerações:
Se entendermos Ciência no sentido moderno, em que modelos matemáticos são 
desenvolvidos na tentativa de expressar, da melhor forma possível, resultados 
obtidos em experiências realizadas em laboratórios ou observações de fenômenos 
naturais, talvez seja adequado começar com Galileu Galilei, na Itália, e Johannes 
Kleper, na Alemanha, no início do século XVII. Porém, se por Ciência entendermos 
a tentativa de compreender racionalmente o comportamento dos fenômenos 
naturais sem uma preocupação direta com a experimentação, então devemos 
começar a nossa história muito antes, em torno de seiscentos anos antes de 
Cristo (GLEISER apud MACIEL JR, 2003, p. 9).
Nessa perspectiva, os pré-socráticos foram os primeiros a adotar uma postura científica, uma 
vez que o conhecimento científico resulta de uma atividade racional. Os filósofos entendiam que 
era necessário passar da opinião (doxa), que é um conhecimento impreciso, superficial, subjetivo, 
para a ciência (epistéme), entendida como conhecimento racional e objetivo. Por outro lado, de um 
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modo geral, a ciência grega permaneceu contemplativa, separada da prática e sem o interesse de 
intervir na realidade. Uma possível explicação para isso pode residir no fato de que a sociedade 
grega era escravagista e, dessa forma, o trabalho braçal e, consequentemente, o aperfeiçoamento dos 
instrumentos técnicos utilizados não serem valorizados pelos pensadores gregos.
Figura 5 – Galileu Galilei (1564-1642) 
A partir do século XVII, com Galileu Galilei, tem início a moderna concepção de ciência com sua separação 
da Filosofia. Galileu, em seus estudos de astronomia, faz uso da luneta para observar os astros e, nas suas 
investigações de física, recorre ao uso de matematização e experiências. Segundo Aranha e Martins:
A grande novidade da nova física foi o uso da experimentação e da 
matematização. Enquanto a física antiga era qualitativa, baseada nas 
qualidades intrínsecas das coisas, Galileu observava e realizava experiências em 
laboratório, usava instrumentos e descrevia quantitativamente os fenômenos.
Para compreender a queda dos corpos, Aristóteles indagava a respeito da 
natureza dos corpos pesados ou leves. Diferentemente, Galileu investigava 
“como” os corpos caem (e não “por que” caem) e depois, de repetir inúmeras 
experiências em um plano inclinado, descobriu a relação entre o espaço 
percorrido por um corpo em movimento e o tempo que leva para percorrê-lo. 
Expressou então a lei da queda dos corpos numa forma geométrica (ARANHA; 
MARTINS, 2005, p. 189)
Com a tendência crescente de valorização da razão e de um saber ativo, o método científico foi 
se desenvolvendo e sendo adaptado a outros campos do conhecimento, originando outras ciências 
particulares, como a astronomia, a química, a biologia, a sociologia, entre outras.
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FILOSOFIA, COMUNICAÇÃO E ÉTICA
Enquanto o senso comum produz um conhecimento superficial e impreciso, a ciência busca um 
conhecimento preciso e objetivo, que possa ser comprovado e, dessa forma, utiliza um método. A palavra 
método vem do grego meta, “através de” e hodós, “caminho”, portanto, indica a necessidade de buscar 
procedimentos adequados para atingir determinado objetivo. Faz-se necessário trilhar um caminho para 
atingir um objetivo, no caso da ciência a elucidação de um problema. 
Em uma passagem de Aventuras de Alice no país das maravilhas, de Lewis Carrol (2002), ela 
encontra um gato e pergunta: “Como posso sair daqui? O gato responde: Isso depende muito de para 
onde você quer ir. Alice explica: Não quero ir para lugar nenhum. Apenas sair daqui. O gato retruca: 
Se você não vai para lugar nenhum, qualquer direção serve”. Daí a importância de se ter clareza de 
onde se quer chegar.
O conjunto de procedimentos adotados pela ciência ao investigar um problema configura 
o seu método. Nas ciências da natureza, como a física, química, a biologia, que possibilitam a 
experimentação, temos, em seu método, as seguintes etapas: observação do problema, hipótese, 
experimentação e generalização. Vamos ver, segundo Aranha e Martins, um exemplo de aplicação 
do método científico.
O carbúnculo, doença infecciosa provocada por bactéria,trazia inúmeros 
prejuízos aos criadores de gado quando, em 1881, o francês Louis Pasteur 
se ocupou com o assunto. Levantou a hipótese de que os animais poderiam 
ser imunizados caso fossem vacinados com bactérias enfraquecidas de 
carbúnculo. Separou, então, 60 ovelhas da seguinte maneira: em dez não 
aplicou tratamento algum; vacinou duas vezes outras 25, e após alguns 
dias lhes aplicou uma cultura contaminada por carbúnculo; não vacinou as 
25 restantes, mas inoculou-lhes a cultura contaminada. Depois de algum 
tempo, verificou que as 25 ovelhas não vacinadas morreram, as 25 vacinadas 
sobreviveram e, comparadas com as dez que não tinham sido submetidas a 
tratamento, ficou constatado que a vacina não lhes prejudicara a saúde. 
Esse procedimento clássico exemplifica o método das ciências experimentais. 
Inicialmente, apresenta-se um problema que desafia a inteligência humana: no 
exemplo dado, a doença que dizimava o rebanho francês. A partir do problema, 
o cientista elabora uma hipótese e estabelece as condições para o seu controle, a 
fim de confirmá-la ou não. Se não chegar a uma conclusão a partir da primeira 
suposição formulada, deverá repetir as experiências ou alterar inúmeras vezes as 
hipóteses. A conclusão é, pois, generalizada, ou seja, considerada válida não só 
para aquela situação, mas para outras similares (ARANHA; MARTINS, 2005, p. 178).
Assim, pode-se afirmar que na Idade Moderna, surge um novo tipo de conhecimento, o científico, que 
faz uso de método, experimentação e comprovação na aplicação de suas hipóteses. A utilização da razão 
e o desenvolvimento da ciência possibilitam, por um lado, a resolução de muitos problemas e uma vida 
mais confortável. Por outro lado, o uso da razão e da ciência não produzem apenas luzes e bem estar, mas 
também desencadeiam problemas, as sombras da razão, como será abordado no próximo item.
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3 AS LUZES E SOMBRAS DA RAZÃO1
Figura 6 – Eclipse
Segundo Adorno e Horkheimer (1985), a humanidade tem buscado sempre, através do esclarecimento, 
superar o medo do desconhecido e passar a posição de senhores. Mas isso levou a um problema: “a terra 
totalmente esclarecida resplandece sob o signo de uma calamidade triunfal” (ADORNO; HORKHEIMER, 
1985, p. 19). A calamidade a que os autores se referem são, justamente, os acontecimentos aos quais 
assistiam e propiciaram as suas reflexões: a ascensão do nazismo, a ditadura stalinista e o desenrolar da 
Segunda Guerra Mundial. Fatos estes que resultaram do tipo de relação que os homens estabeleceram 
com os próprios homens e com a natureza e que tem como pressuposto a maneira como se desenvolveu 
a razão ocidental. Dessa forma, os autores buscam, então, analisar como se constituiu e se desenvolveu 
esse tipo de razão, para assim explicar os seus efeitos catastróficos. 
O mundo esclarecido se torna também desencantado. É um mundo despido de seus aspectos míticos 
e místicos. Um mundo no qual tudo pode ser conhecido, controlado e numerado. Segundo os autores, 
a essência desse saber esta na técnica. “A técnica é a essência desse saber, que não visa a conceitos e 
imagens, nem o prazer do discernimento, mas o método, a utilização do trabalho de outros, o capital” 
(ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 20).
O que importa é dominar e subjugar a natureza e os homens, visando ao poder e ao lucro. O 
conhecimento torna-se sinônimo de poder. O importante não é a verdade, não é saber o que é, mas 
sim como é, qual a operação eficaz. Segundo Adorno e Horkheimer, a história do logos é a constante 
superação de tudo o que é transcendente, de tudo que não pode ser provado, só restando aquilo que 
1 O texto desse item foi extraído e adaptado de: FERNANDES, Vladimir. Ernst Cassirer: o mito político como técnica de 
poder no nazismo. 2000. 155p. Dissertação (Mestrado e Filosofia) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São 
Paulo, 2000, capítulo 4. 
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FILOSOFIA, COMUNICAÇÃO E ÉTICA
pode ser explicado pela razão técnica. Mas a técnica é um saber que não se preocupa com o sentido, 
apenas com a eficiência prática. Não se pergunta mais pela felicidade, nem pelas causas e essências, mas 
sim como são as regras e qual o seu funcionamento. Tudo aquilo que foge ao campo da utilidade e do 
cálculo foge também aos interesses do esclarecimento.
A origem comum entre o mito e o esclarecimento é que ambos buscam controlar as desconhecidas 
forças da natureza.
Na relação mítica com a natureza, o sacerdote estabelece uma mimese com as potências naturais. Ele 
se dirige a cada espírito de uma forma peculiar e singular, mimetiza os gestos de cólera ou apaziguamento 
dos espíritos, tornando-se semelhante a eles e com isso consegue assustá-los ou acalmá-los.
Já a ciência troca a mimese pelo princípio de identidade. Aquilo que deve ser conhecido pelo sujeito 
é aquilo que permanece imutável e universal. O conceito privilegia o caráter universal em detrimento 
das particularidades. Segundo Adorno e Horkheimer: “O preço que se paga pela identidade de tudo com 
tudo é o fato de que nada, ao mesmo tempo, pode ser idêntico consigo mesmo. O esclarecimento corrói 
a injustiça da antiga desigualdade...” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 27).
O controle rígido ao qual o esclarecimento submete a natureza acaba por converter a desmitologização 
numa nova mitologia. O esclarecimento passa a pensar o mundo a partir do princípio de identidade, que 
exclui tudo o que é contraditório e, por isso mesmo, perde seu caráter dialético. 
O pensar se fecha em si mesmo e perde a perspectiva da multiplicidade, passa a ser apenas um instrumento 
de dominação. Segundo Adorno e Horkheimer: “O pensar reifica-se num processo automático e autônomo, 
emulando a máquina que ele próprio produz para que ela possa finalmente substituí-lo. O esclarecimento pôs 
de lado a exigência clássica de pensar o pensamento...” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 37).
Ao se recusar a pensar o próprio processo do pensar, esse pensamento regride à mitologia, a qual, 
todavia, não conseguiu escapar. Esse tipo de pensamento que a tudo classifica e coisifica, que transforma 
tudo em objeto, reifica-se num automatismo totalitário.
 Observação
Reificar: 1 encarar (algo abstrato) como uma coisa material ou concreta; 
coisificar. 2 transformar em coisa; dar o caráter de coisa a (Dicionário 
Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa).
Adorno e Horkheimer ilustram a constituição do sujeito racional no canto XII da Odisseia, quando 
Ulisses tem de enfrentar ainda alguns perigos antes de retornar à Ítaca.
Ulisses, advertido do perigo do canto das sereias, utiliza-se de dois recursos que possibilita que todos 
sejam salvos e que ele possa, ao mesmo tempo, ouvir ao belíssimo canto sem sucumbir. Ulisses pede 
para ser amarrado fortemente ao mastro do navio e seus companheiros têm os ouvidos tampados com 
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cera e a incumbência de remarem disciplinados e ainda o compromisso de amarrarem mais fortemente 
Ulisses se este lhes pedir para que lhe soltem.
Amarrai-me de pé sobre a carlinga, com rudes laços, para que eu daqui não 
saia, e pendam fora do meu alcance as pontas das cordas. Se eu insistir 
convosco para que me solteis, apertai-me, então, em laços mais numerosos 
(HOMERO, 1997, p. 144).
Figura 7 – Ulisses e as sereias
Dessa forma, todos conseguem se salvar do encanto do canto das sereias. Os companheiros 
de Ulisses porque foram privados de ouvir o canto e remavam concentrados. Ulisses, amarrado 
ao mastro, pode escutar, mas é obrigado a renunciar a estafelicidade. É obrigado a contemplar 
impotente ao espetáculo. Segundo Adorno e Horkheimer: “As medidas tomadas por Ulisses quando 
seu navio se aproxima das Sereias pressagiam alegoricamente a dialética do esclarecimento” 
(ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 45).
Ulisses é comparado, por Adorno e Horkheimer, ao futuro burguês, que renuncia a felicidade quanto 
mais seu poder a torna possível. Já os remadores são comparados aos trabalhadores nas fábricas. Devem 
executar seu trabalho de forma disciplinada e sistemática, não tendo ouvidos para o prazer que foi 
colocado de lado.
Assim, Ulisses só pode deleitar-se com o canto das sereias renunciando a ele, transformando-o em 
espetáculo. Sua razão astuciosa necessitou abdicar de si mesmo, do prazer da entrega, para triunfar. Para 
vencer o destino e sobreviver, teve que renunciar a si mesmo e sacrificar-se. A viagem metafórica da 
constituição do sujeito racional que calcula e domina a natureza pressupõe a renúncia de si mesmo, o 
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FILOSOFIA, COMUNICAÇÃO E ÉTICA
sacrifício. Foi necessário reprimir os instintos e sacrificar-se para que Ulisses ouvisse o canto, sobrevivesse e, 
depois, contasse aos outros mortais sobre sua beleza. O sacrifício é o tributo necessário para a constituição 
do sujeito, para que este vença o destino e também para sua dolorosa separação do estado de natureza. O 
caminho do mito à razão é a constituição desse “eu”, dessa consciência de si mesmo. O preço que se paga 
para constituição do eu que se faz consciente e racional é o sacrificar-se. Para dominar a natureza externa, 
é necessário que o homem domine, primeiramente, a natureza interna, os instintos.
Deste modo, a consciência do “eu” se forma juntamente com a razão que visa a dominar a natureza 
exterior e, para isso, domina a natureza interior. Essa origem da razão, que se contrapõe à natureza, já 
contém o germe da regressão.
O mundo que se torna esclarecido se torna também desencantado. É um mundo despido de seus 
aspectos míticos e místicos. Um mundo onde tudo pode ser conhecido, controlado e numerado. Segundo 
os autores, a essência desse saber está na técnica. “A técnica é a essência desse saber, que não visa a 
conceitos e imagens, nem ao prazer do discernimento, mas ao método, à utilização do trabalho de outros, 
ao capital” (ADORNO; HORKHEIMER, 1944, p. 20). O que importa é dominar e subjugar a natureza e os 
homens, visando ao poder e ao lucro. A razão burguesa entendeu que conhecer a natureza é, sobretudo, 
dominá-la. O esclarecimento torna-se uma dominação cega que não se preocupa mais com a essência, 
apenas com a eficiência. Tudo se transforma em mercadoria, em objeto quantificável que deve atender as 
exigências do sistema capitalista. O importante não é a verdade, não é saber o que é, mas sim como é, qual 
a operação eficaz. Segundo Adorno e Horkheimer, a história do logos é a constante superação de tudo o que 
é transcendente, de tudo que não pode ser provado, só restando aquilo que pode ser explicado pela razão 
técnica. Mas a técnica é um saber que não se preocupa com o sentido, apenas com a eficiência prática. Não 
se pergunta mais pela felicidade, nem pelas causas e essências, mas sim como são as regras e qual o seu 
funcionamento. Tudo aquilo que foge ao campo da utilidade e do cálculo foge também aos interesses do 
esclarecimento. O esclarecimento passa a pensar o mundo a partir do princípio de identidade, que exclui 
tudo o que é contraditório e, por isso mesmo, perde seu caráter dialético. Segundo Adorno e Horkheimer, 
“o pensar reifica-se num processo automático e autônomo, emulando a máquina que ele próprio produz 
para que ela possa finalmente substituí-lo. O esclarecimento pôs de lado a exigência clássica de pensar 
o pensamento...” (1944, p. 37). Ao se recusar a pensar o próprio processo do pensar, esse pensamento 
regride à mitologia, à qual, todavia, não conseguiu escapar. Esse tipo de pensamento que a tudo classifica 
e coisifica, que transforma tudo em objeto, reifica-se num automatismo totalitário. 
Reabilitar o pensamento que pensa sobre si mesmo; eis aí o caminho alternativo ao totalitarismo 
da razão.
3.1 Esclarecimento e antissemitismo
Na ordem da sociedade capitalista reificada, isto é, em que os homens se transformam em coisas 
e as coisas em seres com forças próprias, a desfiguração dos homens é inerente ao próprio sistema. 
O pensamento é abolido e os homens tateando cegamente, privados de sua subjetividade, aceitam 
como seus guias aqueles que estão no poder. Agressores e vítimas agem cegamente, atacando-se e 
defendendo-se, pertencentes ambos ao mesmo sistema nefasto.
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Segundo Adorno e Horkheimer, “não existe um genuíno antissemitismo e, certamente, não há 
nenhum antissemita nato” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 160). Porque as vítimas são intercambiáveis 
e, dependendo da conjuntura e dos interesses do poder, podem ser substituídas por outras: católicos, 
mendigos, idosos etc. Assim, também as vítimas podem tomar o lugar dos assassinos, quando a nova 
norma dessa forma prescrever.
 Observação
Antissemita: que ou aquele que se opõe aos semitas, especialmente 
aos judeus. (Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa).
A consciência moral deixa de existir no fascismo, pois o indivíduo substitui sua responsabilidade por si e 
pelos outros pela responsabilidade de servir ao sistema. O sistema, por sua vez, escolhe os bodes expiatórios 
em que vão projetar a culpa. Os judeus, por vários motivos que os autores apontam, são alvos privilegiados 
dessa projeção. Além disso, eles exibem a imagem daquilo que, embora condenado pelos perseguidores, nada 
mais é que a inspiração inconfessa deles mesmos: “os traços da felicidade sem poder, da remuneração sem 
trabalho, da pátria sem fronteira, da religião sem mito” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 185).
 Observação
Fascismo: regime que faz prevalecer os conceitos de nação e raça sobre os 
valores individuais e que é representado por um governo autocrático, centralizado 
na figura de um ditador (Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa).
Para os autores, é fundamental reabilitar o pensamento, a reflexão para que seja possível se passar 
da condição patológica que é a sociedade antissemita, para uma sociedade humana. “Superando a 
doença do espírito, que grassa no terreno da autoafirmação imune à reflexão, a humanidade deixaria 
de ser a contra raça universal para se tornar a espécie que [...] é mais que simples natureza...” (ADORNO; 
HORKHEIMER, 1985, p. 186).
Para a superação da dominação individual ou coletiva, é necessário um movimento de todo perseguido 
contra a falsa projeção, como forma de tornarem-se senhores de si mesmos e perderem, assim, aquilo 
que os fazem semelhantes à cega imagem projetada. Segundo os autores:
A emancipação individual e social da dominação é o movimento contrário à 
falsa projeção, e todo judeu que soubesse vencê-la dentro de si perderia toda 
a semelhança com a desgraça que irrompe sobre ele, assim como sobre todo 
perseguidos, homens ou animais (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 186).
Segundo Adorno e Horkheimer, não há mais antissemitismo, no sentido desse ser uma escolha 
subjetiva e independente do indivíduo. O que existe é uma mentalidade de ticket. Quando se diz “sim” 
a uma determinada plataforma de um partido político, já se aceita em bloco todo um conjunto de 
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posturas ideológicas. Esse conjunto pode conter dizimação dos judeus, negros, protestantes, fechamento 
de sindicatos,caça aos socialistas etc.
No mundo em que tudo se transforma em mercadoria, não há mais espaço para o pensamento 
reflexivo. Os juízos deixam de ser ponderados, meditados e perdem seu poder de discernimento. “Na era 
do vocabulário básico de trezentas palavras, a capacidade de julgar e, com ela, a distinção do verdadeiro 
do falso estão desaparecendo” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 188).
Os seres humanos não se reconhecem mais no próprio mundo que eles produziram. Embrutecidos e 
desprovidos do pensar dialético, contemplam um mundo fetichizado. Esse estado de coisas favorece que 
as massas sejam facilmente manobradas para aceitação dos tickets ideológicos. Segundo os autores:
A mentalidade do ticket, produto da industrialização e de sua propaganda, 
adapta-se às relações internacionais. A escolha do ticket comunista ou do ticket 
fascista depende da impressão que o Exército vermelho ou os laboratórios do 
Ocidente deixam no indivíduo (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 191).
 Observação
Fetiche: Objeto animado ou inanimado, feito pelo homem ou produzido 
pela natureza, ao qual se atribui poder sobrenatural e se presta culto. 
(Dicionário Aurélio Eletrônico).
Os tickets poupam os indivíduos do trabalho (ou do prazer) do pensamento dialético. Já trazem 
pronto todo o cardápio ideológico, deixando aos indivíduos a simples tarefa de escolher entre um ou 
outro. Mesmo as massas judias, segundo Adorno e Horkheimer, são, assim como os antissemitas, sujeitas 
a mentalidade de ticket. Mas os autores vislumbram a possibilidade do antissemitismo desaparecer:
“O fato de que o antissemitismo só ocorre, tendencialmente, como uma posição de ticket 
intercambiável, justifica, sem sombra de dúvida, a esperança que ele venha desaparecer” (ADORNO; 
HORKHEIMER, 1985, p. 193). No entanto, isso não significa ainda uma superação da mentalidade de 
ticket, já que mesmo aqueles que são atraídos pelos tickets progressistas, embora “psicologicamente 
mais humanos”, não conseguem sair do círculo demarcado pela mentalidade de ticket e acabam por 
se transformarem em contrários à diferença. “Não é só o ticket antissemita que é antissemita, mas a 
mentalidade de ticket em geral” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 193). Assim, pensar em forma de 
ticket é continuar sendo inimigo da diferença, já que tal condição é intrínseca a esse próprio sistema.
 Observação
Dialética: dialektkê (tékhné) (arte) dialética, arte de discutir e usar 
argumentos lógicos... Em sentido bastante genérico, oposição, conflito 
originado pela contradição entre princípios teóricos... (Dicionário Eletrônico 
Houaiss da Língua Portuguesa).
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Os autores concluem seu texto apontando a possibilidade de superação dos “limites do esclarecimento”. 
Segundo eles, “o próprio esclarecimento, em plena posse de si mesmo e transformando-se em 
violência, conseguiria romper os limites de esclarecimento” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p. 194). 
O esclarecimento deve resgatar a reflexão sobre si mesmo que deixou se perder; não ser pacífico nem 
fazer concessões no autoquestionamento sobre si, seus limites e possibilidades. A partir daí, se delineia a 
perspectiva de abrir novos caminhos e romper com os limites desse esclarecimento, entendido até então 
como sinônimo de dominação e poder.
3.2 “Educação após Auschwitz”
Figura 8 – Auschwitz-Birkenau, Polônia
“Educação após Auschwitz” foi uma palestra de Adorno, transmitida em 18 de abril de 1965, na rádio 
de Hessem e redigida pelo próprio autor para a publicação.
 Lembrete
Auschwitz-Birkenau é o nome de um grupo de campos de concentração, 
utilizados pelos nazistas, localizados no sul da Polônia. 
Segundo Adorno, a questão primordial para a educação é “a exigência que Auschwitz não se 
repita...” (ADORNO, 1995, p. 119). Mas o próprio fato dessa exigência merecer tão pouca atenção e 
consciência por parte das pessoas prova que a possibilidade de que se repita semelhante evento é 
latente. Para o autor, enquanto permanecerem as condições que provocaram a barbárie, a barbárie 
também permanece.
Para Adorno é importante que se reflita com mais atenção sobre alguns dos conhecimentos 
possibilitados por Freud, principalmente nos seus ensaios O mal estar na cultura e Psicologia de massas 
e análise do eu. Segundo Adorno, “um dos [conhecimentos] mais perspicazes parece-me ser aquele de 
que a civilização, por seu turno, origina e fortalece progressivamente o que é anticivilizatório” (ADORNO, 
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1995, p. 119). É necessário refletir sobre “como evitar a repetição de Auschwitz” levando-se em conta 
as análises de Freud sobre a civilização, ou seja, de que esta já traz a barbárie em seu próprio princípio, 
dessa forma, evita-se cair num discurso apenas idealista. 
Como hoje em dia é extremamente limitada a possibilidade de mudar 
os pressupostos objetivos, isto é, sociais e políticos que geram tais 
acontecimentos, as tentativas de se contrapor a Auschwitz são impelidas 
necessariamente para o lado subjetivo (ADORNO, 1995, p. 121).
Para Adorno, é necessário desvendar, nos próprios perseguidores, quais mecanismos que explicam tais 
atos bárbaros. Revelar para eles mesmos porque agem de tal forma, visando a despertar uma consciência 
que impeça que venham a agir novamente de maneira bárbara. Segundo o autor, há uma falta de 
consciência em tais fascista que faz necessário que eles reflitam sobre si mesmos. E Adorno chama a 
atenção de que a educação só faz sentido enquanto instrumento que possibilite uma autorreflexão 
crítica, com o objetivo de evitar a repetição da barbárie. Para esse propósito, deve-se atuar em duas 
frentes: primordialmente, na educação infantil, concentrando-se na primeira infância, já que segundo 
a psicologia é nessa fase que se dá a formação do caráter; “e, além disto, ao esclarecimento geral, que 
produz um clima intelectual, cultural e social que não permite tal repetição...” (ADORNO, 1995, p. 123).
Para Adorno, os sujeitos do mundo de Auschwitz formam um coletivo unido por uma identidade 
cega, desprovidos de subjetividade. Assim, o entendimento deve contrapor-se em relação a esse cego 
poder dos coletivos, trazendo à consciência os problemas inerentes aos mesmos, objetivando que a 
barbárie não se repita. Quaisquer coletivos, em geral, são severos até com os próprios novos integrantes 
que se filiam a eles, através de diversos tipos de trotes que, via de regra, os novos filiados devem ser 
capazes de suportar na própria pele, através de dores físicas.
Segundo Adorno, tais hábitos criam o ambiente suscetível para a brutalidade nazista. Além do que, 
há uma relação totalmente infundada entre a virilidade, caracterizada como capacidade de suportar a 
dor, e educação severa.
Essa ideia educacional da severidade, em que irrefletidamente muitos podem 
até acreditar, é totalmente equivocada. A ideia de que a virilidade consiste 
num grau máximo da capacidade de suportar dor há muito se converteu em 
fachada de um masoquismo que – como mostrou a psicologia – se identifica 
com muita facilidade com o sadismo (ADORNO, 1995, p. 128).
Ser duro consigo mesmo acaba por suprimir a sensibilidade também para com a dor alheia. O 
resultado desse tipo de educação é que se passa a ser indiferente com a dor em geral. As pessoas que 
agem assim se sentem no direito de “ser severo também com os outros, vingando-se da dor cujas 
manifestações precisou ocultar e reprimir” (ADORNO, 1995, p. 128).
É necessário trazer esse mecanismo à luz. Tomar consciência de que a educação não pode premiar 
a dor e se pautar no medo. Medo e dor que, da forma que foram reprimidos, só irão se manifestar de 
forma nefasta.30
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Adorno chama de “caráter manipulador” aqueles que, como os líderes nazistas, “se distinguem pela 
fúria organizativa, pela incapacidade total de levar a cabo experiências humanas diretas, por um certo 
tipo de ausência de emoções, por um realismo exagerado” (ADORNO, 1995, p. 129). Tais características 
comuns aos líderes nazistas, também estão, segundo Adorno, disseminadas pela sociedade, em vários 
lideres marginalizados que chegam aos noticiários. Na tentativa de explicar resumidamente esse 
“caráter manipulador”, Adorno afirma que eles possuem uma “consciência coisificada”. Aqueles que se 
enquadram nesse tipo, primeiramente, tornam-se iguais a coisas. Depois, vão transformando os outros 
também em coisas e submetendo-os a sua fúria.
A grande preocupação de Adorno, nesse texto, é como evitar que Auschwitz se repita. Como impedir 
a reprodução de “consciências coisificadas”. Para tanto, o autor formula uma “proposta concreta”:
Quero fazer uma proposta concreta: utilizar todos os métodos científicos 
disponíveis, em especial psicanálise, durante muitos anos, para estudar os 
culpados por Auschwitz, visando, se possível, a descobrir como uma pessoa 
se torna assim (ADORNO, 1995, p. 131).
Pressupondo que seja possível conhecer as condições internas e externas que produziram tais 
criaturas, seria também possível, a partir daí, encontrar soluções que não tornem possível um novo 
Auschwitz.
Outro ponto importante, que, segundo Adorno, é necessário examinar com mais detalhes, é a relação 
entre a consciência coisificada e a técnica, na psicologia individual das pessoas. Como é possível que 
uma pessoa ou grupo de pessoas projetem uma câmara de gás para funcionar com precisão e eficiência 
e não se preocupem com o destino das vítimas. Segundo Adorno, “no caso do tipo com tendências à 
fetichização da técnica, trata-se simplesmente de pessoas incapazes de amar” (ADORNO, 1995, p. 133). 
As pessoas são frias demais umas com as outras e se recusam a amar.
[...] se as pessoas não fossem profundamente indiferentes em relação ao que 
acontece com todas as outras, excetuando o punhado com quem mantêm 
vínculos estreitos e possivelmente por intermédio de alguns interesses 
concretos, então Auschwitz não teria sido possível, as pessoas não o teriam 
aceito (ADORNO, 1995, p. 134).
Na sociedade atual, se aprofundou mais a defesa dos interesses particulares em relação aos interesses 
coletivos. “Hoje em dia, qualquer pessoa, sem exceção, se sente mal amada, porque cada um é deficiente na 
capacidade de amar” (ADORNO, 1995, p. 134). Segundo Adorno, essa ausência de identificação entre as pessoas 
foi a condição psicológica fundamental para tornar realidade Auschwitz. O interesse particular colocado acima 
de tudo faz com que as pessoas, visando a tirar vantagem da situação, não se oponham a mesma, a não ser 
que seus interesses particulares sejam diretamente ameaçados. Mas Adorno não esta fazendo uma apologia ao 
amor. O autor entende que o próprio cristianismo verdadeiro pretendia eliminar a “frieza que a tudo penetra” e 
fracassou, provavelmente porque não alterou as condições objetivas que produzem esse estado de coisas. Assim, 
o primordial é tomar consciência de quais são os mecanismos que geram a frieza. Qual a sua gênese.
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FILOSOFIA, COMUNICAÇÃO E ÉTICA
É necessário que a educação assuma o compromisso radical de que “Auschwitz não se repita.” De 
forma que tal compromisso não se intimide em contrariar os interesses de quem quer que seja, mesmo 
do Estado ou de potências econômicas.
Adorno finaliza seu texto declarando que a educação dificilmente evitará o ressurgimento dos 
“assassinos de gabinetes”, ou seja, dos ideólogos que ordenam aos seus subalternos. Mas que, em relação 
aos subalternos, que são os executores das ordens e “enquanto serviçais, façam coisas que perpetuem 
sua própria servidão, tornando-os indignos (...) contra isto, é possível empreender algo mediante a 
educação e o esclarecimento” (ADORNO, 1995, p. 138).
4 OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO DE MASSA E O MUNDO GLOBALIZADO
4.1 Os meios de comunicação de massa
Os meios de comunicação de massa, como a própria expressão indica, são aqueles meios capazes de 
atingir um grande numero de pessoas, de diferentes lugares e classes sociais. E esses meios são objetos 
tecnológicos como o rádio, o cinema, a imprensa, a televisão. É por meio desses objetos tecnológicos que 
as mensagens são propagadas. E quais são os conteúdos transmitidos? São informações sob diferentes 
formas: novelas, notícias, jogos, música, debates etc.
Convido você para ler, a seguir, um trecho do texto do filósofo Mário Sérgio Cortella2, em que ele relata 
sua experiência e algumas reflexões sobre os efeitos de um meio de comunicação de massa, a televisão.
Figura 9 – Televisão antiga
2 Mário Sérgio Cortella é filósofo e doutor em Educação, docente do Departamento de Teologia e Ciências da Religião e 
da Pós-Graduação em Educação (Currículo) da PUC-SP. 
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Como era a sala da minha casa em Londrina, há 30 anos? Num canto, tinha 
uma mesa com cadeiras em voltas e nela fazíamos uma coisa inacreditável 
na hora do almoço: almoçávamos juntos, pais e filhos. No fundo, tinha um 
guarda-comida, um armário onde a minha mãe guardava tudo o que ela 
tinha ganhado no casamento para usar num dia especial, que nunca chegou; 
mas guardava. E com o tempo, foi sendo distribuído para filhos e netos. Na 
sala, tinha uma área de circulação para chegar à cozinha e num cantinho 
havia um altarzinho com uma imagem de Nossa Senhora Aparecida. Havia 
ainda quatro poltronas. Por incrível que pareça, uma de frente para a 
outra de maneira que as pessoas, quando sentassem, pudessem fazer uma 
coisa antiga, que era se ver. E sabem o que fazíamos em casa, à noite? Só 
quem é idoso como eu vai saber. Sabem o que fazíamos? Conversávamos! 
Conversavam pais com filhos, vinham os parentes. Vizinho era bem-vindo. 
Alguém se lembra desse tempo em que vizinho era bem-vindo? Ele vinha, 
trazia um bolo, conversava. Tinha que tomar café, comer um bolo, uma 
tapioca, o que fosse.
Um dia, há 30 anos, numa sexta-feira à tarde, tocou a buzina do jipe como 
meu pai fazia todo dia no fim da tarde (no Paraná se usava jipe na época, 
jipe de capota de lona) e nós, os filhos, saímos correndo e fomos lá para ver. 
Dentro tinha uma caixa grandona. Ele tirou a caixa e a colocou em cima da 
mesa da sala. Abriu e dentro tinha um aparelho de televisão Telefunken, 
preto e branco, à válvula, com os pezinhos de madeira. A partir desse dia, 
nossa vida mudou. Primeira modificação: saiu a imagem de Nossa Senhora 
Aparecida e em seu lugar entrou a Telefunken. Segunda modificação: as 
poltronas mudaram de lugar, ficaram todas de frente para aquilo. Terceira 
modificação: nunca mais nós conversamos. Aliás, nem podia. Pensamos 
estar ligando a televisão? A televisão é que nos liga. Todo dia, à noite, 80 
milhões de pessoas estão paradas defronte a um aparelho de TV, olhando, 
com um jornal no colo, um prato ou um tricô no colo, todas de boca aberta. 
De repente, faz plim-plim e levanta-se o jornal, pega-se o prato e sai. Aí 
faz plim-plim de novo, volta-se e fica-se ali até dormir. E se alguém resolve 
conversar? Não pode. Aí o filho fala: “Sabe, pai, hoje eu...”. “Psiu, fica quieto. 
Você não está vendo que eu estou vendo o noticiário?”. O sujeito quer saber 
de notícia que está acontecendo lá na Indochina e não faz a mínima questão 
de saber o que está acontecendo à sua volta. “Olha, mãe, eu queria...”.“Psiu, 
estou vendo a novela. Trabalho o dia inteiro, já estou por aqui. Agora você 
fica falando comigo?”. Se o vizinho chegar é um inferno! Sabe por quê? 
Porque vai atrapalhar aquele nosso imenso ato de convivência, que é ficar 
cinco ou seis de boca aberta, olhando para um aparelho. Tem gente que nem 
desliga a televisão quando chega uma visita. Aí fica aquela coisa horrorosa, 
olho na TV e olho na visita; depois de dez minutos ela também está assistindo 
televisão.
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FILOSOFIA, COMUNICAÇÃO E ÉTICA
O erro está na televisão? Não. Televisão é uma coisa maravilhosa, informa, 
distrai. O erro está na tecnologia que nos faz correr? Não. O erro está na 
concepção, no modo entendemos a qualidade da nossa existência. Não são 
apenas os idosos que vivem assim. São gerações que estão vivendo desse 
modo, sem que a gente dê uma parada e fale: basta. Tecnologia é ferramenta, 
não é finalidade. Aparelho eletrônico é para melhorar a vida coletiva, e não 
para isolar as pessoas cada vez mais. Por que o idoso se dedica muito a 
assistir televisão? Porque não tem o convívio e aí tem que se limitar a ela. 
O grande escritor Fernando Sabino dizia que a televisão é o “chiclete dos 
olhos”. Mesmo quando já se perdeu o sabor, continua sendo mastigado. As 
pessoas dizem: a televisão e o rádio são modos de fazer companhia. Isso é 
necessário em uma sociedade que tem milhões de pessoas? Para se sentir 
acompanhado, precisa-se de uma coisa eletrônica, que é ótima, mas que 
não precisaria ter essa função? (CORTELLA, 1999).
Cortella aborda algumas mudanças ocorridas na organização familiar em função do uso que se fez 
da televisão. Mas, como o próprio autor chama a atenção, a TV é apenas um meio e não um fim em si 
mesmo. Você concorda?
Vamos ver algumas características da linguagem televisiva. Uma característica é a apresentação 
do conteúdo como espetáculo. O espetáculo atrai e prende a atenção pela beleza e grandiosidade da 
apresentação. Eventos como carnaval, catástrofes naturais, shows etc. são apresentados de modo a 
prender o olhar do telespectador. Na forma de espetáculo, a realidade é transformada em simulacro. E o 
que é simulacro? Essa palavra significa representação, semelhança, imitação e segundo Aranha (2006):
O simulacro intensifica e embeleza o real, que se torna “hiper-real” e, 
portanto, mais atraente. Basta ver como nas propagandas, o hambúrguer 
parece mais saboroso ainda ou a guerra distante nos faz lembrar um trailer 
de um filme qualquer. As consequências dessa superexposição de imagens é 
que tudo se transforma em show, em entretenimento, na sua apresentação 
sedutora.
Por outro lado, o resultado também é, muitas vezes, a ilusão de conhecimento, 
a atenção flutuante, o conhecer por fragmentos, sem um momento de 
parada para a integração das partes e a reflexão sobre as informações 
recebidas. Trata-se, enfim, de um desafio para o professor, cujo trabalho 
teórico contraria o fluxo frenético e feito em partículas do videoclipe ou do 
zapping na tevê (ARANHA, 2006, p. 79).
Dessa forma, o real transformado em simulacro se torna mais atraente, uma vez que as imagens 
produzidas são mais belas e sedutoras que a própria realidade. Na imagem, a comida parece mais 
atraente, a guerra parece menos violenta. Tal fato pode produzir ideias equivocadas e isso pode levar a 
uma visão superficial e acrítica de determinado evento. Veja, a seguir, imagens da Guerra do Golfo que 
podem dar a impressão que foi uma guerra não violenta e não sangrenta.
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Figura 11 – Pouso de um helicóptero-ambulância norte-americano durante a Guerra do Golfo
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Outra característica é a fragmentação. Os programas são apresentados divididos em capítulos, 
episódios, separados por comerciais. Nos comerciais, são vendidos os espaços publicitários que geram 
lucros aos proprietários das emissoras. Outro aspecto da linguagem televisiva é o ritmo acelerado. O 
ritmo deve ser rápido para manter a atenção. “Para ser entendido de maneira rápida, o conteúdo deve 
ser diluído, reduzido à sua forma mais estereotipada ou massificada” (ARANHA; MARTINS, 2005, p. 64). 
Nos telejornais, esse ritmo acelerado leva a um empobrecimento das notícias. “Os acontecimentos são 
retirados do desenrolar histórico, onde encontramos suas raízes e suas causas, e são apresentados como 
se fossem fatos isolados, sem nenhuma análise que os explique” (ARANHA; MARTINS, 2005, p. 64). 
Sabe-se de tudo que acontece no mundo de forma diluída e superficial. O ritmo acelerado deve envolver 
o telespectador e mantê-lo interessado para que não troque de canal. Nos programas, sempre há um 
mistério, uma pergunta a ser respondida após o intervalo comercial.
Outra característica importante é a instantaneidade. É possível apresentar os acontecimentos no 
tempo em que acontecem. Você, por exemplo, liga a televisão e pode ficar sabendo de coisas que estão 
acontecendo do outro lado do mundo. Pode ter contato com acontecimentos de diferentes lugares do 
planeta. Mas essa facilidade pode ocultar um problema: uma confusão entre realidade e representação. 
Por exemplo, um noticiário é neutro, imparcial? 
Ora, é preciso lembrar que cada imagem é fruto de uma escolha em 
termos de enquadramento (que elementos serão mostrados e quais serão 
descartados; quais aparecerão em primeiro plano, portanto maiores e 
mais visíveis, quais em último plano; e assim por diante); de sequência 
(que cena virá em primeiro, segundo, terceiro... até em último lugar); 
de duração de cada cena; de texto ou de música que acompanhará a 
imagem. Além disso, quem escolhe as imagens que vão ao ar é o diretor 
do programa, que, até certo ponto, interpreta os fatos (ARANHA; 
MARTINS, 2005, p. 63). 
Dessa forma, não se deve confundir a realidade com a sua representação, uma vez que a representação 
envolve escolhas como: O que será mostrado? Em qual sequência? Por quanto tempo? O que não será 
mostrado? 
Figura 12 – Vítimas de enchente assistem a pronunciamento de presidente pela televisão
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Por fim, cabem destacar os seguintes aspectos em relação os canais de televisão no Brasil: 
• o canal de televisão é concessão do Estado, que pode ser suspensa 
a qualquer momento – por essa razão, só têm canal de televisão os 
grupos que interessam ao Estado, que não farão oposição contínua 
nem defenderão um tipo diferente de ideologia;
• a televisão é um empreendimento comercial privado e, como tal, visa 
ao lucro;
• a televisão é sustentada pelos anunciantes, que, antes de gastarem sua 
verba de publicidade, verificam o índice de audiência de cada programa.
O conteúdo da programação sofre, portanto, vários tipos de influência e de “censura”: 
do Estado e dos grupos econômicos que compram o espaço publicitário, ou seja, 
dos poderes político e econômico do país (ARANHA; MARTINS, 2005, p. 69). 
Dessa forma, é necessário ter uma postura ativa e crítica diante da televisão e buscar formas de 
utilização produtiva desse meio tecnológico. 
4.2 O mundo globalizado
Figura 13 – Planeta Terra
Você vai com um amigo ou amiga ao cinema, assistir a um filme norte-americano. Quando saem do 
cinema, vocês estão com fome e resolvem comer uma pizza em uma cantina italiana; no cardápio vocês 
optam por um vinho chileno. Quando saem, está chovendo e vocês abrem um guarda-chuva fabricado

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