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W BA 01 71 _V 2. 0 AS RELAÇÕES ENTRE A PRÁXIS E A FORMAÇÃO DOCENTE 2 Clivanir Aparecida de Campos São Paulo Platos Soluções Educacionais S.A 2021 AS RELAÇÕES ENTRE A PRÁXIS E A FORMAÇÃO DOCENTE 1ª edição 3 2021 Platos Soluções Educacionais S.A Alameda Santos, n° 960 – Cerqueira César CEP: 01418-002— São Paulo — SP Homepage: https://www.platosedu.com.br/ Diretor Presidente Platos Soluções Educacionais S.A Paulo de Tarso Pires de Moraes Conselho Acadêmico Carlos Roberto Pagani Junior Camila Braga de Oliveira Higa Camila Turchetti Bacan Gabiatti Giani Vendramel de Oliveira Gislaine Denisale Ferreira Henrique Salustiano Silva Mariana Gerardi Mello Nirse Ruscheinsky Breternitz Priscila Pereira Silva Tayra Carolina Nascimento Aleixo Coordenador Giani Vendramel de Oliveira Revisor Juliana dos Santos Editorial Alessandra Cristina Fahl Beatriz Meloni Montefusco Carolina Yaly Mariana de Campos Barroso Paola Andressa Machado Leal Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) __________________________________________________________________________________________ Campos, Clivanir Aparecida de C198r As relações entre a práxis e a formação docente / Clivanir Aparecida de Campos, – São Paulo: Platos Soluções Educacionais S.A., 2021. 43 p. ISBN 978-65-89881-42-1 1. Formação. 2. Docente. 3. Práxis. I. Título. CDD 370 ____________________________________________________________________________________________ Evelyn Moraes - CRB: 010289/O © 2021 por Platos Soluções Educacionais S.A. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Platos Soluções Educacionais S.A. https://www.platosedu.com.br/ 4 SUMÁRIO A formação do professor: legislação e processo histórico ____ 05 A gestão escolar e a formação continuada do professor _____ 20 A nova identidade do professor diante da BNCC _____________ 34 Novos desafios: o avanço tecnológico e o ensino híbrido ____ 49 AS RELAÇÕES ENTRE A PRÁXIS E A FORMAÇÃO DOCENTE 5 A formação do professor: legislação e processo histórico Autoria: Clivanir Aparecida de Campos Leitura crítica: Juliana dos Santos Objetivos • Promover uma reflexão sobre a formação do professor, a partir da legislação vigente. • Compreender a prática pedagógica como parte essencial da rotina escolar. • Conscientizar o professor sobre os diversos saberes necessários à sua formação. • Estabelecer a relação entre a legislação e a formação continuada. 6 A formação do professor: legislação e o processo histórico Ao tratar da formação inicial docente, é necessário recuperar dados históricos da Pedagogia para que o professor conheça as influências políticas e sociais no processo educacional, considerando a era da Pedagogia desde os jesuítas até a Pedagogia atualmente. O papel da escola na Pedagogia atual é de possibilitar o acesso do indivíduo aos conhecimentos formais, e isso está posto e regulamentado pela legislação vigente, de acordo com o sistema educacional. 1. A formação inicial docente A formação docente consiste em compreender a construção da sua identidade profissional e ser capaz de perceber que seu conhecimento e sua prática pedagógica irão determinar marcas profundas em sua atuação docente. No passado, a educação era exclusividade das classes mais privilegiadas, desde o conhecimento das artes, ciências e até a socialização mediante os mais altos cargos políticos e militares. Havia uma necessidade de melhores condições de vida e educação e, para isso, alguns movimentos populares das classes menos favorecidas foram criados. Dessa forma, criaram-se as Escolas de Aprendizes Artífices (1909), que tinham como objetivo a preparação da mão de obra dos filhos dos proletariados e dos jovens expostos a riscos sociais, por serem considerados mais “nocivos” à construção da sociedade. Posteriormente, foram criadas as escolas públicas profissionalizantes, que iam ao encontro do novo foco, o industrial. A escola, então, 7 priorizava somente a qualificação da mão de obra, tendo em vista o seu papel estratégico para o país no sistema capitalista. Em meados de 1942, as Escolas de Aprendizes Artífices tornaram- se predominantemente escolas industriais e técnicas. Com o passar do tempo, em uma sociedade dinâmica e com a industrialização e o avanço do desenvolvimento do país, as escolas foram se adaptando aos modelos sociais e às necessidades da economia que iam surgindo, até chegar ao modelo de educação que conhecemos hoje. Dessa forma, os currículos escolares foram reorganizados de forma que o docente precisava estar engajado para atender ao novo perfil de aluno e o modelo escolar. Além disso, o currículo é alterado por fatores extraescolares, como políticos, econômicos, sociais, etc. Mediante as mudanças e as inovações tecnológicas, econômicas, políticas e interpessoais da sociedade global, se fez necessária uma reflexão do papel e da atuação dos professores. Atualmente, são inúmeras as possibilidades que existem e estão disponíveis para que o professor esteja em constante atualização, assim como previsto na legislação vigente. Hoje, o mundo digital fornece ferramentas didáticas e educacionais como forma de adquirir saberes que contribuem para a atuação do professor em sala de aula. Além disso, cabe a ele utilizar desses recursos e promover, por meio das teorias e práticas pedagógicas, a socialização com seus pares. Esta perspectiva deve acompanhar sua reflexão sobre este material, pois é fundamental lembrarmos que a prática docente, tal como seu processo de formação, sempre articula duas dimensões: a individual, compreendida por seus valores e sua visão de mundo, e a coletiva, uma vez que o exercício da docência é inserido em um grupo composto por alunos, outros professores e demais profissionais que estejam ligados ao ato educativo de forma direta ou indireta. 8 Embora a legislação vigente (BRASIL, 2019), capítulo II, art. 6º, principalmente art. VIII, prescreva a formação para garantir uma educação de qualidade. Para que isso se efetive, são necessários ações e projetos que atendam ao contexto em que a escola está inserida, que se estende além da formação teórico-científica, promovidas pelas instituições de ensino superior. A formação teórico-científica é aquela relacionada à formação inicial dos professores, e que fornece o seu arcabouço técnico e instrumental para a ação docente. Já ao escolher uma determinada linha teórica, o professor expressa e se posiciona quanto à sua forma de compreender o mundo e construir sua identidade no processo de ensino- aprendizagem. Vale ressaltar que na perspectiva teórica não existe uma que se sobreponha a outra, e sim, a mais adequada ou menos a um contexto social. O conhecimento específico–teórico-científico–deve estar articulado com o conhecimento da disciplina que o professor ministra, ou seja, relacionado ao saber teórico, fundamental para que atue de maneira efetiva. Além disso, o professor deve estar engajado nos conhecimentos atualizados e em acordo com o momento histórico-político-cultural de determinada sociedade. O conhecimento específico adquirido nas instituições de ensino superior muitas vezes foca apenas nos currículos e nos aspectos conceituais, embora nas matrizes curriculares contenham horas complementares e de estágios, sendo essas insuficientes para capacitar os professores na atuação prática, uma vez que essas práticas contemplam apenas observações, sem intervenções. Além do conhecimento teórico, outro elemento constitutivo fundamental para o processo de ensino-aprendizagem efetivo é o didático, pois, como apontamos, a didática será responsável por capacitar os profissionais 9a desenvolverem e selecionarem metodologias adequadas para a produção do conhecimento junto aos alunos. Assim, o conhecimento da didática exige que o professor seja capaz de transcender os aspectos meramente teóricos e criar situações de aprendizagem que sejam significativas para os alunos. Portanto, a formação voltada ao planejamento didático consiste em projetar metodologias, conteúdos, avaliações, espaços e tempos para que a prática pedagógica possa ocorrer. Torna-se necessário, assim, a seleção dos conteúdos a serem ministrados em aula, relacionar tais conteúdos às experiências dos alunos, às vistas da produção de novos conhecimentos. Dessa forma, ao planejar, deve-se questionar sobre: o que ensinar, por que ensinar e a quem ensinar. A formação prática no cotidiano escolar, abarca a relação docente frente à comunidade com a qual atua e constitui o saber pedagógico, no qual permite ao professor tornar o aluno protagonista do próprio saber, pois a escola não é o espaço exclusivo em que o conhecimento se constitui. Ao compreendermos a formação docente, é essencial resgatar um pouco de sua biografia, ou seja, quais experiências e vivências foram determinantes para sua escolha profissional. Um elemento importante dentro deste aspecto é ponderar a influência positiva ou negativa sofrida por modelos de professores na infância e que podem ser marcantes na vida de um profissional. É comum que os professores, ao iniciarem sua vida profissional, imitem os modelos de seus antigos professores. Logo, de certa forma, se espelham nos modelos que conhecem previamente. É certo que o processo de formação e a experiência docente na construção de sua identidade pedagógica vão ganhando contornos próprios e compatíveis ao seu processo de subjetivação. De acordo com Candau (2000, p. 105), “a identidade é algo construído ao longo do tempo, por meio de experiências e processos inconscientes, 10 além da ação na coletividade”. Referida autora, ao citar Hall (1997, p. 43), pontua que “o homem continua buscando a sua identidade e construindo biografias que tecem as diferentes partes de nossos ‘eus’, divididos numa unidade, porque procuramos recapturar esse prazer fantasiado de plenitude”. Portanto, é possível compreender que a construção da identidade do professor é multidimensional, multifacetada e complexa. Considerando que a escolha da profissão esteja associada à trajetória escolar, como citado anteriormente, fazem parte, ainda, das competências a serem desenvolvidas pelo professor em sua área de atuação: os aspectos profissionais, a aquisição de conhecimento e o aperfeiçoamento profissional, aspectos os quais devem nortear os estudos relacionados à construção da identidade profissional do professor, de acordo com as reflexões de Candau (2000). A autora (2000) ainda afirma que a formação do professor é influenciada por aspectos sociológicos e culturais que se relacionam com as suas experiências adquiridas. Só será possível que o professor atue com propriedade e cumpra seu papel de agente transformador, mediante à prática investigativa e pesquisadora contínua. 2. A formação docente e a articulação com a LDB Ao tratar da formação dos profissionais da educação, considera-se que uma das abordagens a serem desenvolvidas é o autoconhecimento, no qual se constrói a identidade do professor. Além disso, o ambiente escolar deve promover o acesso a cursos e outros relacionados às experiências pessoais. 11 Na sociedade atual, quanto melhor preparado esse profissional estiver, maiores oportunidades ele terá como agente ativo no processo educacional. Para tanto, torna-se necessária à valorização do professor, não apenas como um simples técnico, mas também como mediador nos processos constitutivos da cidadania dos alunos para a superação do fracasso, bem como, na diminuição das desigualdades escolares. Vale ressaltar que ao tratar da formação docente, permite-se compreender como esta irá impactar sobre o processo de ensino- aprendizagem e sobre a formação do aluno cidadão e reflexivo. Considerando que o aluno é o protagonista do processo educacional, a formação docente deve favorecer a construção do conhecimento significativo e permitir ao aluno compreender e intervir na sociedade em que vive. Segundo Tardif (2010) são necessários diferentes saberes como base para a formação do profissional. Esses saberes são múltiplos e compatíveis com os elementos constitutivos que apresentamos anteriormente. Um deles, nas palavras do autor, trata-se do saber profissional, recebido nas instituições de formação de professores, que abrange conhecimentos nas ciências humanas e ciências da educação. Porém, para a prática docente, também são necessários saberes pedagógicos ou experienciais, que estão relacionados à didática (como ensinar). Outro saber citado por Tardif (2010) é o saber disciplinar, que corresponde aos diversos campos do conhecimento, tais como se encontram integrados nas universidades. Como exemplo, podemos citar as disciplinas de matemática, história, literatura, entre outros. Já o saber curricular está relacionado aos discursos objetivos, conteúdos e métodos, a partir das instituições a que estão relacionados. 12 O saber experiencial é fundamental na formação do professor, e está relacionado ao seu trabalho cotidiano. Figura 1 – Resumo dos saberes Fonte: adaptada de Tardif (2010). A formação profissional e a construção desses saberes são contempladas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (Lei nº 9.394/1996), a qual busca propor um novo modelo de formação profissional, passando a constituir-se em uma preparação técnica profissionalizante de nível superior. Os artigos 61 a 65 desta lei, tratam sobre a formação continuada dos profissionais da educação como forma de garantir a sua constante atualização. 13 Art. 61. A formação de profissionais da educação, de modo a atender aos objetivos dos diferentes níveis e modalidades de ensino e às características de cada fase do desenvolvimento do educando terá como fundamentos: I–a associação entre teorias e práticas, inclusive mediante a capacitação em serviço; II–aproveitamento da formação e experiências anteriores em instituições de ensino e outras atividades. (BRASIL, 1996) O artigo apresenta a importância de associar teorias e práticas do ser professor mediante à capacitação em serviço no ambiente educacional. A possibilidade da formação docente deve ocorrer em diversos espaços. Citamos como exemplo a que ocorre no ambiente escolar, a qual deverá ocorrer nos momentos privilegiados pelo trabalho pedagógico coletivo e deve ser conduzida pelo coordenador pedagógico e favorece a troca de experiências e leituras formativas. Assim, a LDB apresenta que a formação inicial deve ocorrer nas instituições de ensino superior, como presente no art. 62: Art. 62. A formação de docentes para atuar na educação básica far- se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão: I–cursos formadores de profissionais para a educação básica, inclusive o curso normal superior, destinado à formação de docentes para a educação infantil e para as primeiras séries do ensino fundamental; II–programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de educação superior que queiram se dedicar à educação básica; III–programas de educação continuada para os profissionais de educação dos diversos níveis. (BRASIL, 1996) Ainda nos artigos 62 e 63, encontramos menção sobre os cursos de licenciatura que formarão profissionais da educação para atuarem na educação infantil e nas primeiras séries do ensino fundamental. 14 Já os artigos 64 e 65, tratam das abrangênciasdos profissionais da educação, bem como a obrigatoriedade de prática de ensino (estágios de no mínimo 300 horas). Art. 64. A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica será feita em cursos de graduação em Pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional. Art. 65. A formação docente, exceto para a educação superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas horas. (BRASIL, 1996) Outro documento que trata sobre a formação de professores é o Plano Nacional da Educação (PNE), sendo que o vigente compreende o período que abarca 2014-2024. Tal documento foi criado com disposição transitória da LDB, respeitando uma exigência constitucional e revisto com a periodicidade decenal. Dentre as metas descritas no documento, apresenta-se a de número 16. Meta 16: formar, em nível de pós-graduação, 50% (cinquenta por cento) dos professores da educação básica, até o último ano de vigência deste PNE, e garantir a todos(as) os(as) profissionais da educação básica formação continuada em sua área de atuação, considerando as necessidades, demandas e contextualizações dos sistemas de ensino. (BRASIL, 2014) Assim, o profissional da educação se forma, inicialmente, pela sua trajetória escolar, na qual é inspirado a escolher por esta profissão, mas sua formação inicial requer o ingresso em cursos de instituições específicas do ensino superior. Contudo, como indica o próprio nome, esta é o início de sua trajetória, que será complementada e aperfeiçoada pela formação continuada, a qual, à luz da legislação, incentiva que o docente participe em eventos, cursos ou outras práticas que propiciem a troca de experiências no ambiente de trabalho. 15 Quanto mais engajado o professor estiver na sua função, em relação ao domínio de conteúdo, momentos de autoavaliação, desenvolvimento de um senso crítico, maiores contribuições ele trará ao processo educacional. Também se faz necessária a estimulação e valorização da profissão do magistério. Logo, é evidente que salários mais atrativos, bem como planos de carreiras, corroboram para que eles se sintam engajados e motivados em busca de aperfeiçoamento. Mediante tudo que foi exposto anteriormente, pode-se concluir que a identidade do professor se constrói a partir da trajetória escolar e familiar, da participação em cursos de formação e da prática pedagógica. Além disso, a sociedade atual exige do educador formações contínuas para a construção do aluno crítico e do cidadão consciente. Dessa forma, o papel do professor é garantir ao aluno possibilidades para que ele se desenvolva de forma plena, e a legislação fundamenta aspectos relacionados à formação docente como forma de garantir um ensino de qualidade. 3. Professor reflexivo Anteriormente, foi pontuado sobre o papel do professor e brevemente sobre a importância de ser um professor reflexivo. Mas, afinal, o que é ser um professor reflexivo? O termo é amplo e envolve diversos aspectos, tanto pessoais, relacionados à ética do professor, quanto profissionais, considerando o bom senso no exercício da profissão. Mas, de maneira objetiva, entende-se que um professor reflexivo é aquele envolvido nas questões pedagógicas, capaz de fazer escolhas conscientes e não apenas ser detentor do conhecimento específico na modalidade que leciona. Trata- se de um docente que busca a superação do ensino tradicional. Diante disso, percebe-se que a reflexão é uma exigência para o “fazer” docente. 16 Segundo Alarcão (2011): A noção de professor reflexivo baseia-se na consciência da capacidade de pensamento e reflexão que caracteriza o ser humano como criativo e não como mero reprodutor de ideias e práticas que lhe são exteriores. É central, nesta conceptualização, a noção do profissional como uma pessoa que, nas situações profissionais, tantas vezes incertas e imprevistas, atua de forma inteligente e flexível, situada e reativa. (ALARCÃO, 2011, p. 45) Dessa forma, pode-se concluir que o professor reflexivo é um profissional que necessita saber quem é e as razões pelas quais atua, conscientizando-se do lugar que ocupa na sociedade. O objetivo principal do papel de um professor reflexivo é o de repensar sobre o seu trabalho docente, ultrapassando a racionalidade do teórico científico, já que por um período longo, os professores eram considerados apenas como técnicos. Logo, o professor reflexivo deve construir constantemente o seu conhecimento no ambiente escolar, de modo a sempre buscar sua formação continuada e realizar críticas à sua própria prática pedagógica, se preparando, antecipadamente, de maneira a dominar os conteúdos a serem ministrados. Paulo Freire (2011, p. 96) corrobora com a explicação supracitada “[...] ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo”. Diante da complexidade do sistema educacional, em que a formação do aluno cidadão crítico é influenciada por elementos e fatores externos ao ambiente escolar, os professores que atuam em diferentes escolas, inviabilizam a efetiva participação nos anseios da comunidade em que a escola está inserida para adaptar os conteúdos ao público-alvo que esteja em contato. Apesar das dificuldades encontradas pelo professor reflexivo que atua em mais de uma escola, sua prática pedagógica deve abranger escolhas conscientes e planejamentos adequados, além da sistematização do 17 trabalho, como forma de projetar o cenário educativo desejado por ele e pela comunidade. Segundo Alarcão (2011, p. 47), “O professor não pode agir isoladamente na sua escola. É neste local, o seu local de trabalho, que ele, com os outros, seus colegas, constrói a profissionalidade docente”. Logo, pode-se concluir que é por meio da atitude individual e coletiva que se constrói a identidade do professor reflexivo pois, caso contrário, torna- se um processo solitário e frustrante. Dessa forma, as decisões tomadas de maneira consciente e coletiva auxiliam na identidade profissional e possibilitam o desenvolvimento das competências em diferentes dimensões holísticas e interativas. O professor reflexivo deve ter ciência de que ele não é o detentor do saber. Um exemplo dessa situação é mediante o uso da tecnologia, uma vez que diversos alunos têm mais conhecimentos tecnológicos e midiáticos do que alguns professores que se encontram defasados nessa metodologia. O professor que está ciente disso utilizará desse fator a favor de promover uma interação, passando da condição de mediador do conhecimento para a condição de aprendiz. Este é um grande desafio: a transferência de papéis, do “ser professor” para o “ser aprendiz”. Para que a formação continuada do professor reflexivo aconteça, além da autocrítica e da autoavaliação, são necessárias políticas públicas que venham ao encontro de promover formações no ambiente escolar, com valorização do profissional, com remuneração adequada e com um ambiente escolar propício ao desenvolvimento, para que se estabeleçam projetos que permitam debates envolvendo toda a comunidade escolar e não apenas como um discurso evasivo, mas como ações transformadoras. 18 Figura 2 – Resumo sobre o que é ser um professor reflexivo Fonte: elaborada pelo autor. Mediante o texto anterior, a Figura 2 retrata, resumidamente, alguns pontos a respeito do “ser um professor reflexivo”. Lembre-se que são inúmeras as variáveis que interferem na identidade desse professor, por isso, os aspectos individuais e coletivos devem ser considerados para que ele atue de maneira efetiva no processo educacional. Para concluir, o professor deve ser aquele que possui a reflexão na ação, sendo capaz de permitir a reflexão sobre ações passadas, para que possa se projetar no futuro como novas práticas, a fim de concretizar um ensino de qualidade. Segundo Perrenoud(2002), o exercício de uma competência está além da aplicação de saberes, requer do professor raciocínio, antecipação, criação e risco. Essa reflexão o leva a desenvolver novos raciocínios mediante situações problema, novas formas de pensar e de agir, de compreender e amenizar os problemas. Dessa forma, permite realizar outras experiências e cometer novos erros, mas como forma de se conscientizar e tentar novamente, de outra maneira. Nesse sentido, a 19 prática em sala de aula permite a integração de todas as competências, o que só é possível se o professor refletir sobre sua atuação. Logo, a reflexão e a experimentação do professor são elementos essenciais na sua atuação, promovendo um desenvolvimento progressivo de suas potencialidades, de forma que ele passe a conhecer melhor a si mesmo. Referências bibliográficas ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2011. BRASIL. Presidência da República. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. D.O.U., Brasília, 1996. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm. Acesso em: 26 abr. 2021. BRASIL. Ministério da Educação. Plano Nacional de Educação. Brasília: INEP, 2014. Disponível em: http://pne.mec.gov.br/. Acesso em: 26 abr. 2021. CANDAU, V. M. (org). Reinventar a escola. 4. ed. Petrópolis: Vozes, 2000. HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. RJ: Dp&A, 1997. HALL, S.; RAYMOND, D. Saberes, tempo e aprendizagem do trabalho no magistério. Educação & Sociedade. 2000. PERRENOUD, P. A prática reflexiva no ofício de professor: profissionalização e razão pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2002. TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. Petrópolis: Vozes, 2010. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm http://pne.mec.gov.br/ 20 A gestão escolar e a formação continuada do professor Autoria: Clivanir Aparecida de Campos Leitura crítica: Juliana dos Santos Objetivos • Compreender a importância da formação de professores no ambiente escolar. • Refletir sobre o papel dos gestores na formação continuada dos professores. • Elencar maneiras de conduzir a formação continuada no horário pedagógico. 21 A gestão escolar e a formação continuada do professor Ao tratar da formação continuada do professor, deve-se pensar que, por meio dela, será possível capacitá-lo para exercer com propriedade sua função de mediador do conhecimento e da construção de cidadãos críticos. Para tal, torna-se necessária uma gestão escolar que atenda às necessidades de sua comunidade e de sua equipe pedagógica. 1. A equipe gestora e a formação docente Ao tratar das principais funções das unidades escolares, deve-se pensar que é por meio dela que se constrói o conhecimento propriamente dito e o desenvolvimento de cidadãos críticos e reflexivos. Assim, torna-se necessário que os professores exerçam sua cidadania, tenham ciência de suas responsabilidades e saibam a relevância de uma formação consolidada. Logo, somente a formação inicial no ensino superior, não é suficiente para que o professor atinja seus objetivos e domine os saberes, pois esse processo é contínuo e dialético. Dessa forma, existe a necessidade de uma reflexão sobre o papel da equipe gestora na formação continuada, no ambiente escolar, que irá contribuir para a articulação de uma equipe diretiva e assertiva com objetivos comuns. Mas, quem compõe a equipe gestora? A equipe gestora de uma escola é composta por alguns profissionais, tais como: o supervisor de ensino, o diretor da escola e o professor coordenador. A escola, diante de uma diversidade de espaços, recursos 22 e público-alvo, requer uma gestão democrática, porém, que não abra mão de um olhar humanizado. Para tal, Alarcão (2011) pontua: Por modelo democrático de gestão entendo um modelo organizacional em que todos e cada um se sente pessoa. E ser pessoa é ter papel, ter voz e ser responsável. Um modelo em que cada um se considera efetivamente presente ou respeitado nos órgãos de decisão. E em que há capacidade real de negociação e de diálogo capaz de ultrapassar as dicotomias entre o eu e o nós, entre os administrativos e os professores [...], entre decisões casuísticas e a decisão determinada por princípios gerais. (ALARCÃO, 2011, p. 101) É diante desse cenário organizacional que devemos identificar cada membro da equipe gestora e suas respectivas atribuições. O supervisor de ensino representa a Secretaria da Educação e promove o suporte técnico administrativo pedagógico, garantindo a formação continuada da equipe pedagógica, inclusive, nas questões referentes à implantação de políticas públicas. Ele também exerce um papel fundamental na formação em serviço dos professores, junto ao diretor de escola, pois ele tem condições de suscitar questões complexas em relação à legislação vigente e à proposta pedagógica. Vale salientar que o supervisor é o profissional responsável em realizar a ponte entre as diretrizes das diretorias de ensino e as unidades escolares, embora seu local de trabalho não seja diretamente nessas unidades. Para tal, ele deve atuar como parceiro na organização, acompanhamento e formação de professores durante as horas de trabalho pedagógico coletivo (HTPC), bem como atuar sempre quando solicitado. Já o diretor de escola tem a responsabilidade legal e pedagógica pela instituição. Ele ocupa a função de liderança para garantir o funcionamento da escola. Embora, diversas vezes, tem sido compreendido apenas como um gestor administrativo, faz parte de suas atribuições, acompanhar o processo pedagógico junto aos professores, primeiramente porque é responsável por mobilizar e estimular o 23 avanço no processo educacional, assim como promover uma gestão democrática junto à comunidade escolar. O diretor também tem a função de acompanhar os recursos humanos, mediar os recursos financeiros e materiais para organizar a administração e os contextos burocráticos pedagógicos em que a escola deve cumprir. Cabe a ele, também, participar das discussões coletivas que envolvam propostas pedagógicas, curriculares e metodológicas. Seu papel é apoiar, junto ao coordenador pedagógico, os processos de formação continuada em serviço, relacionado aos professores e primar pelo cumprimento e planejamento do Projeto Político Pedagógico (PPP). A função do coordenador pedagógico, dentro da equipe gestora, é de fundamental importância, pois cabe a ele proporcionar momentos de formação continuada em serviço dos educadores, além de acompanhar, estimular e transformar a escola em uma verdadeira comunidade de aprendizagem em um espaço de formação permanente, de reflexões coletivas e de qualificação dos professores. Esse processo deve ser contínuo, com ações e estratégias que privilegiam a atualização e o exercício dos professores em suas funções. A proposta é que o coordenador de ensino deva primar e refinar a prática docente, pois esta é muito complexa e demanda processos reflexivos com o objetivo de transformar a prática dos professores e viabilizar uma educação com melhor qualidade. A atuação do coordenador pedagógico, junto aos professores, pode ser realizada em momentos individualizados, porém, deve privilegiar a construção coletiva, pois é na coletividade que se faz a construção de diferentes saberes, por meio da práxis docente. 24 Figura 1 – Resumo equipe gestora Fonte: elaborada pelo autor. É possível verificar, por meio do esquema, a forma que os gestores escolares se relacionam no processo educacional. Nota-se que, apesar de atribuições específicas, existe uma integração e interação global entre as funções, com o objetivo comum de promover um ensino de qualidade. Considerando as diferentes áreas, saberes e práticas, a partir da troca de experiências com objetivo comum é que se constrói uma equipe pedagógica sólida, capaz de promover o acolhimento e parcerias fundamentais no processo educacional.Embora a formação continuada nos ambientes escolares tenha como objetivo trazer conhecimento teórico e prático, são necessários, também, espaços para que o professor se posicione, defenda suas ideias e posições, para que possa atuar de acordo com sua identidade 25 profissional, e faça uso de diferentes didáticas baseado nos saberes adquiridos na sua história pessoal e profissional. Ainda que toda escola tenha uma especificidade de organograma, com objetivos gerais e específicos, a sistematização do trabalho, deve priorizar o que for de “maior urgência”. O professor não pode agir isoladamente na sua escola. É neste local, o seu local de trabalho, que ele, com os outros, seus colegas, constrói a profissionalidade docente. Mas se a vida dos professores tem seu contexto próprio, a escola, esta tem de ser organizada de modo a criar condições de reflexibilidade individuais e coletivas. (ALARCÃO, 2011, p. 47) Além das especificidades físicas e sociais que a escola possui, a questão humana também deve ser respeitada, pois a cada situação do dia a dia, será necessário rever, reorganizar, repensar, replanejar etc. Tal sistematização do trabalho da equipe gestora deve funcionar de forma articulada e coesa, para garantir uma educação de qualidade. Para que isso ocorra, o trabalho deve conter um planejamento com metas a serem atingidas, além de garantir o cumprimento do Plano Político Pedagógico (PPP) que norteará o dia a dia do processo de aprendizagem escolar. 2. A formação docente e a articulação com o PPP Para a escola funcionar de forma harmônica e articulada, deve ter como referência o PPP. Esse documento define a identidade da escola e as diretrizes a serem implantadas para aprendizagem e para a formação integral dos alunos. Além disso, visa, principalmente, estabelecer de que maneira a escola irá trabalhar para atingir os objetivos. 26 Ao refletir sobre o PPP, deve-se considerar a comunidade intra e extraescolar, os recursos financeiros e pedagógicos, os projetos, métodos, a organização e a sistematização do trabalho. O PPP é dinâmico e flexível, podendo ser reformulado sempre que a equipe escolar julgar necessário, mediante a não correspondência dos princípios às aspirações pedagógicas. Portanto, pode ser modificado quando os objetivos iniciais forem alcançados ou alterados. Para definição do Projeto Político Pedagógico, observe palavra projeto, que está relacionada ao futuro, algo a ser construído pela equipe escolar e de acordo com o público-alvo a ser atendido, bem como ao contexto em que a escola está inserida. Já a palavra político, relaciona-se a questões de cidadania. Já a palavra pedagógico, contempla situações no processo educacional. Não se constrói um projeto sem uma direção política, um norte, um rumo. Por isso, todo projeto pedagógico da escola é também político. O projeto pedagógico da escola é, por isso mesmo, sempre um processo inconcluso, uma etapa em direção a uma finalidade que permanece como horizonte da escola. (GADOTTI; ROMÃO, 2000, p. 2) Segundo Gadotti e Romão (2000), não se constrói um projeto sem uma direção, e todos os processos devem estar conectados em prol de um bem comum. Para isso, torna-se necessário um engajamento dos professores, da gestão, dos pais e dos alunos, objetivando a construção da identidade da escola enquanto instituição social e democrática. A partir da construção coletiva na elaboração do PPP, poderá ser realizada em formação continuada escolar que inclui: ATPC (Aula de Trabalho Pedagógico Coletivo), planejamento e reuniões pedagógicas. Assim, será possível verificar quais as maiores dificuldades na unidade escolar, como definir ações, responsabilidades e prazos a serem cumpridos para atingir as metas. Para que o Projeto Político Pedagógico realmente seja um direcionador e um guia norteador do trabalho na escola, faz-se necessária sua construção de forma participativa e colaborativa, com momentos de 27 formação continuada em conjunto com a gestão em que serão feitos os encaminhamentos de maneira descentralizada, pois, cada membro da equipe escolar tem suas respectivas atribuições e respondem por elas. Na formação continuada do professor em ambiente escolar, torna-se imprescindível ter clareza sobre a proposta pedagógica construída no PPP, para direcionar e nortear a prática pedagógica do professor. Durante a formação nas reuniões escolares, o material deve ser estudado e revisto, considerando, também, que exista uma rotatividade de profissionais da educação, os quais precisam se familiarizar e se integrar no processo educacional daquela unidade escolar. Para tal, deve encontrar-se em local de fácil acesso, para ciência de todos, bem como ser construído com uma linguagem simples, para ser facilmente compreendido. Como esse material compõe a construção pedagógica, seguem para conhecimento do professor, itens importantes a serem considerados. Figura 2 – Resumo do PPP Fonte: elaborada pelo autor. 28 3. Novas diretrizes para elaboração do PPP, a partir da BNCC Na formação continuada do professor, faz-se necessário conhecer a legislação vigente, pois ela interfere diretamente na sua prática pedagógica. Uma das leis atuais a serem estudadas no ambiente escolar é a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), promulgada pela Portaria nº 331, de 5 de abril de 2018. Conforme definida na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) (Lei nº 9394/96), a BNCC tem caráter normativo e deve nortear os currículos das unidades federativas, bem como as propostas pedagógicas das escolas públicas e privadas, nas modalidades educação infantil, ensino fundamental e médio em todo o Brasil. Entende-se por currículo a seleção de conhecimentos e práticas de ensino e aprendizagem, os conteúdos que o aluno vai aprender e deve ser estabelecido por cada instituição. A BNCC objetiva o desenvolvimento de competências e habilidades no aluno que perpassam o conteúdo, sendo este um novo norteador do currículo, logo, é a organização do conhecimento escolar. Ao ministrar as aulas, o professor utilizará dos fundamentos filosóficos e sócio-políticos que contemplam a concepção de currículo. Dessa forma, a BNCC não melhora a qualidade da educação, mas mostra a direção para onde deve caminhar para tal, de forma a assegurar os direitos de aprendizagem do que é essencial, de maneira assertiva. Tal documento estabelece competências, habilidades e conhecimentos que se esperam desenvolver no aluno durante a escolarização na educação básica. O professor deverá se apropriar e ter conhecimento sobre os princípios éticos, políticos e estéticos que contemplam no documento, como forma 29 de direcionar sua prática pedagógica e, assim, priorizar seu trabalho em uma formação humana integral e a construção de uma sociedade inclusiva e democrática. As práticas pedagógicas têm um forte apelo ao desenvolvimento do aluno como um sujeito ativo. Assim, para pensarmos esta organização, deve-se compreender a relação professor versus aluno dentro de um viés de parceria, em que as práticas pedagógicas são horizontais no estabelecimento das relações de poder. A autoridade do professor reside na sua competência em levar o aluno a construir o próprio conhecimento. A partir da legislação vigente, construindo o Projeto Político Pedagógico (PPP), o professor poderá se apropriar das teorias recebidas na sua formação inicial e direcionar a sua prática pedagógica, para atender a comunidade escolar a que ele pertence. O professor ainda deverá refletir sobre algumas questões, que irão nortear o seu trabalho em sala de aula. São elas: 1. “Onde estamos?” – A partir do diagnóstico do perfil da comunidade e do contexto em que a escola está inserida. 2. “Para onde devemos seguir?” – Essa questão tem como objetivo refletir a que público-alvo busca-se atingir, ou seja, a intencionalidade da aprendizagem. 3. “Como atingir os objetivos?” – De que forma e quais ações serão necessárias para promoverum ensino de qualidade. A cada modalidade que o professor atua, a BNCC traz especificidades a serem conhecidas, por isso torna-se necessário que o professor atue de forma competente. Mas, o que é ser um professor competente? A competência é definida por Perrenoud (2002): 30 Como a aptidão para enfrentar uma família de situações análogas, mobilizando de uma forma correta, rápida, pertinente e criativa, múltiplos recursos cognitivos: saberes, capacidades, microcompetências, informações, valores, atitudes, esquemas de percepção, de avaliação e de raciocínio. (Perrenoud, 2002. p. 19) Ao tratar do professor competente, nos referimos a aquele que domina o conteúdo a ser ministrado, aquele que reflete sobre as suas práticas pedagógicas, aquele que contribui para a democratização do ensino e tem consciência do seu papel como agente transformador. Outro aspecto a ser pontuado é a disponibilidade que o professor tem para trabalhar coletivamente, a maneira que se envolve nos projetos, bem como a reflexão constante sobre o processo de autoavaliação e sobre a necessidade de replanejar suas aulas e a sua prática pedagógica. A autoavaliação insere o professor na condição de aprendiz e permite a ele entender que é também passível de erros, e que a humildade em reconhecer tais fragilidades, permitirá ser visto pelo aluno como um igual. Isso contribuirá, também, para entender que faz parte da cultura educacional “dar valia”, sendo que o processo avaliativo é institucional, um assunto amplo e muitas vezes ainda visto como punitivo. A partir dessa revisão no processo de aprendizagem e das práticas pedagógicas, previstos no (PPP), a autoavaliação deve ser vista como mais um instrumento a ser utilizado para a melhoria da qualidade de ensino. Sendo assim, Perrenoud (2002) apresenta as competências do professor, descritas a seguir. 31 Quadro 1 – Competências do professor 1. Organizar e estimular situações de aprendizagem. 2. Gerenciar a progressão das aprendizagens. 3. Conceber e fazer evoluir dispositivos de diferenciação. 4. Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho. 5. Trabalhar em equipe. 6. Participar da gestão da escola. 7. Informar e envolver os pais. 8. Utilizar as novas tecnologias. 9. Enfrentar os deveres e dilemas éticos da profissão. 10. Gerenciar sua própria formação contínua. Fonte: Perrenoud (2002, p. 30). O conhecimento adquirido na formação inicial pelo professor, vai se moldando por meio das formações continuadas durante sua trajetória profissional. A competência é uma atribuição adquirida de forma gradativa, e requer o saber agir de maneira técnica e humana. Diante das modalidades em que o professor atua, competências específicas deverão ser desenvolvidas. Exemplo: um professor que atue na educação infantil deverá conhecer o quanto a ludicidade faz parte do processo de aprendizagem nessa etapa tão importante. Assim como outros saberes, tais competências podem ser adquiridas na formação continuada nas reflexões em reuniões escolares, organizadas pela equipe gestora. Para lucidar a organização das diferentes modalidades na educação básica, de acordo com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), observe a figura a seguir. 32 Figura 3 – Organização da BNCC nas diferentes modalidades na educação básica Fonte: Brasil (2018). A formação continuada realizada pelo professor no ambiente escolar deverá prever momentos de capacitação com profissionais multidisciplinares, por meio de serviços especializados para garantir a adequação curricular, considerando que existem diversos alunos com 33 necessidades educacionais especiais. Portanto, haverá necessidade de flexibilizar a prática educacional. A adequação curricular deve considerar a realidade das escolas, o potencial dos alunos e os valores que orientam a prática pedagógica, que devem estar previstos no Projeto Político Pedagógico. Para concluir, diante do cenário atual, das legislações vigentes e da dinâmica da sociedade, é necessário que o professor tenha consciência do seu papel na construção de um cidadão capaz de confiar em si mesmo e ter perspectivas profissionais. Para tanto, a BNCC prevê um currículo que valoriza além dos conhecimentos científicos; valoriza as questões socioemocionais e afetivas, pois o conhecimento não é apenas adquirido na escola, uma vez que o aluno traz diversos conhecimentos e aprendizados adquiridos por meio de sua história de vida. O ambiente escolar deve ter um espaço para o conhecimento prévio do aluno, e que também possa ser ampliado e organizado pedagogicamente, com auxílio de uma equipe dedicada e experiente para a construção de novos conhecimentos. Referências bibliográficas ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2011. BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/. Acesso em: 26 abr. 2021. GADOTTI Moacir, ROMÃO, José E. (orgs.) Educação de Jovens E Adultos. 2. ed. ver. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire, 2000. PERRENOUD, P. A prática reflexiva no ofício de professor: profissionalização e razão pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2002 PERRENOUD, P. A formação dos professores no século XXI. Porto Alegre: Artmed, 2002. http://basenacionalcomum.mec.gov.br/ 34 A nova identidade do professor diante da BNCC Autoria: Clivanir Aparecida de Campos Leitura crítica: Juliana dos Santos Objetivos • Compreender a importância da identidade do professor. • Conhecer o documento da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). • Estabelecer a relação entre a identidade do professor e a BNCC. 35 A nova identidade do professor diante da BNCC Ao tratar da identidade do professor e sua práxis, deve-se considerar a educação como algo dinâmico e que requer um profissional atualizado, reflexivo, ciente de seu compromisso e da necessidade do cumprimento da legislação vigente, dentre elas, a BNCC. 1. A identidade do professor e sua práxis pedagógica A partir do momento que o professor torna-se profissional da educação, por meio da construção da sua identidade e da formação inicial recebida no ensino superior, deve atuar de forma reflexiva e flexível, diante da diversidade cultural e das mudanças no processo educacional. Sua práxis pedagógica deve conter situações atuais para não desconstruir a associação da escola e da sociedade. Para tal, o ambiente escolar deve ser uma representação das relações sociais e deve contemplar as infinitas possibilidades, para resolução de situações problema, baseado sempre nas teorias e fundamentações de cada disciplina que o aluno cursar. Já as atividades pedagógicas devem compor a escola atual além da apropriação do conhecimento, devem também estimular o aluno ao exercício da capacidade reflexiva de uma visão plural e histórica do conhecimento e de diferentes linguagens. Diante das mudanças sociais, políticas e educacionais, torna- se necessário que a escola também se atualize para se adaptar constantemente a novos cenários. 36 Para tal, Candau (2000) define como um novo sistema escolar um cenário em que se fundamentam situações interculturais e que garantam inúmeras contribuições de diversas etnias, a fim de interagir e promover uma igualdade social, portanto, faz-se necessária uma “reinvenção da escola”. O trabalho de reinvenção da escola não é reduzido a um modelo pronto, tradicional, enquadrado e engessado, uma vez que a práxis pedagógica exige desafios audaciosos, com possibilidade de erros e acertos e é nessa dinâmica que a equipe escolar se consolidará, se ressignificará e se reinventará constantemente. A escola assim concebida é um espaço de busca, construção, diálogo e confronto, prazer, desafio, conquista de espaço, descoberta de diferentes possibilidades de expressão e linguagens, aventura, organização cidadã, afirmação da dimensão ética e política de todo processo educativo. (CANDAU, 2000, p. 15) Dianteda diversidade cultural e da heterogeneidade dos alunos, a educação não pode ser estagnada, mas deve permitir ao aluno expressar-se por meio de diferentes linguagens que representam o conhecimento que eles possuem e que perpassa o teórico. Outro aspecto relevante é a compreensão de que o interesse do aluno é o propulsor para o desenvolvimento do conhecimento que se pretende construir. Dessa forma, as práticas pedagógicas exigem do professor: dinâmica, atualizações e formações continuadas para uma melhoraria da qualidade do ensino. 2. A BNCC e as diferentes linguagens Retomando a ideia do material anterior, o documento da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) foi promulgado pela Portaria nº 331, de 5 37 de abril de 2018, tem caráter normativo e caracteriza os conteúdos e diferentes aprendizagens essenciais que os alunos do Brasil devem desenvolver ao longo da escolarização na educação básica e foi construído com base no PNE (Plano Nacional de Educação) e na LBD (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) (BRASIL, 1996). A BNCC tem como um de seus pilares no eixo do conhecimento que o professor, além de dominar os conteúdos, deverá saber como ensiná- los por meio da didática. Isso implica que suas práticas pedagógicas deverão conter momentos de estudos e planejamento de suas ações para uma aprendizagem efetiva. O professor deverá, ainda, ter condições de avaliar a aprendizagem dos alunos, de acordo com competências e habilidades previstas no currículo. A BNCC exige do professor comprometimento com sua atualização profissional, a participação na construção do Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, estimulando a construção de valores democráticos, além de estarem engajados com os pares, famílias e a comunidade escolar. Tal documento redireciona a práxis pedagógica do professor, pois traz um “novo olhar” sobre a formação do aluno e a importância de desenvolver habilidades e competências em inúmeras linguagens, dentre elas: artísticas, linguísticas, corporais etc. A seguir, algumas competências descritas no documento da BNCC para o ensino fundamental a serem conhecidas pelo professor e que nortearão o seu planejamento e sua prática pedagógica no ensino fundamental. O aluno, nesse segmento de ensino, constrói um alicerce pedagógico que, se bem estruturado, será ampliado e aperfeiçoado nos demais anos de escolarização. Vale ressaltar que diversos alunos na Graduação apresentam dificuldades quanto à alfabetização, interpretação e produção textual, derivados de um déficit do ensino fundamental. 38 Figura 1 – Competências específicas de linguagens para o ensino fundamental COMPETÊNCIAS ESPECÍFICAS DE LINGUAGENS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL 1. Compreender as linguagens como construção humana, histórica, social e cultural, de natureza dinâmica, reconhecendo-as e valorizando-as como formas de significação da realidade e expressão de subjetividades e identidades sociais e culturais. 2. Conhecer e explorar diversas práticas de linguagem (artísticas, corporais e linguísticas) em diferentes campos da atividade humana para continuar aprendendo, ampliar suas possibilidades de participação na vida social e colaborar para a construção de uma sociedade mais justa, democrática e inclusiva. 3. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao diálogo, à resolução de conflitos e à cooperação. 4. Utilizar diferentes linguagens para defender pontos de vista que respeitem o outro e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, atuando criticamente frente a questões do mundo contemporâneo. 5. Desenvolver o senso estético para reconhecer, fruir e respeitar as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, inclusive aquelas pertencentes ao patrimônio cultural da humanidade, bem como participar de práticas diversificadas, individuais e coletivas, da produção artístico- cultural, com respeito à diversidade de saberes, identidades e culturas. 6. Compreender e utilizar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares), para se comunicar por meio das diferentes linguagens e mídias, produzir conhecimentos, resolver problemas e desenvolver projetos autorais e coletivos. Fonte: Brasil (2018). A figura acima apresenta competências a serem desenvolvidas na modalidade do ensino fundamental, as demais modalidades têm competências específicas a serem conhecidas pelos professores, porém, a prática pedagógica do professor – seja em qual modalidade atua –, deverá promover assuntos comuns a todos. A BNCC traz diversas áreas do conhecimento, dentre elas a de linguagem, que contempla os seguintes componentes curriculares: Língua Portuguesa, Arte, Educação Física e Língua Inglesa. Diante disso, o que se objetiva é que os alunos participem de várias situações para o desenvolvimento de linguagem de forma dinâmica e desenvolvam 39 outras habilidades artísticas, corporais e linguísticas, que se iniciam desde a educação infantil e que se consolidará ao longo da educação básica, em um processo de constante transformação. Para que o aluno desenvolva as diferentes linguagens, a BNCC apresenta dez competências gerais a serem desenvolvidas pelos alunos. Diante de tais competências, o professor que possui sua identidade focada no ensino tradicional, terá dificuldade em participar ativamente do processo educacional, pois o ambiente escolar deverá estar organizado com espaços que possibilitem que o aluno seja protagonista do próprio conhecimento. Figura 2 – Competências gerais da BNCC COMPETÊNCIAS GERAIS DA BASE NACIONAL COMUM CURRICULAR 1. Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. 2. Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, para investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. 3. Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural 4. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artísticas, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo. 5. Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva. 6. Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade. 7. Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, para formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsávelem âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta. 40 8. Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas. 9. Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza. 10. Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários. Fonte: Brasil (2018). Como o professor em sua práxis será capaz de desenvolver tais competências nos alunos? A competência 1 está relacionada ao conhecimento, o que requer que o professor domine o conhecimento que irá ministrar, estimular o aluno a buscar novos conhecimentos, como forma de compreender a realidade e o seu contexto social. Já a competência 2 diz respeito a questões críticas, científicas e criativas. Para desenvolver tais habilidades no aluno, o professor deverá trazer questões do cotidiano. Para estimular a criatividade e a imaginação do aluno, independentemente da área em que o professor atua, deverá conter situações com projetos de leitura, pois, assim, estimulará o aluno a tornar-se leitor proficiente, capaz de analisar, refletir, opinar e ser crítico em diferentes áreas do conhecimento. Repertório cultural está relacionado à competência de número 3. Para que o aluno desenvolva tal competência durante a educação básica, deverá participar e ter contato com o mundo artístico e cultural, e isso inclui acesso a teatros, museus, cinemas e o reconhecimento de que todos esses locais compõem a cultura de um povo. Portanto, necessitará que o professor seja conhecedor de diferentes práticas culturais para construir juntamente com o aluno, novos conhecimentos. Pois, como ele poderá desenvolver tal competência se ele mesmo não o tiver? 41 A competência 4 está relacionada a diferentes formas de comunicação que o aluno tem acesso dentro e fora do ambiente escolar. Essa competência requer que o professor domine áreas da tecnologia, da diversidade linguística, da música, dentre outras, para promover aos alunos a possibilidade de expressão de sentimentos, ideias, vivências culturais etc. Nesse aspecto, estão inclusos respeito a alunos que vieram de outras regiões e alunos que possuem alguma deficiência (ex.: uso de língua de sinais para os deficientes auditivos). Já a competência de número 5 trata sobre a cultura digital e o papel do aluno na sociedade. Essa competência permitirá ao aluno opinar sobre questões sociais, compreender a diversidade cultural e respeitar opiniões diferentes das que possui. Para que o professor desenvolva tal competência, deverá promover momentos de debates, situações-problema em que o aluno argumente e se posicione, desenvolvendo um senso crítico. Se faz necessário também a facilitação do uso de ferramentas tecnológicas como forma de promover o acesso e essas informações locais e do mundo. O professor deve, também, orientar aos alunos a analisar os fatos que se encontram na mídia e verificar a sua veracidade, pois nem tudo que está disponível em plataformas, aplicativos e redes sociais é verídico. A competência 6 está relacionada ao trabalho e projeto de vida, mediante o acesso a informações e saberes de diferentes culturas que possibilitam compreender seu mundo, sua participação na sociedade, refletir sobre seus projetos de vida, sobre liberdade e responsabilidade. Para que o aluno desenvolva tal competência, se faz necessária a leitura sobre alguns temas, como por exemplo: questões ambientais, de gêneros, políticas, econômicas, fake news etc. Argumentação é o assunto contemplado na competência 7, em que o aluno seja estimulado desde cedo a realizar escolhas, se posicionar, 42 tomar decisões, inclusive estar ciente de consequências nas esferas coletivas. Para que o professor desenvolva tal competência, deverá promover situações em que os alunos sejam desafiados e questionados. O professor que simplesmente utilizar teorias referentes à sua disciplina, não despertará no aluno a consciência crítica e o poder de argumentação, pois ele se tornará apenas um “depósito” de conteúdos. A competência 8 trata do autoconhecimento e autocuidado. Tal competência possibilitará ao aluno conhecer a si mesmo, entender- se como indivíduo com características específicas, saber lidar com as emoções, com seus próprios sentimentos e das pessoas ao seu redor. Outra habilidade a ser desenvolvida refere-se ao autocuidado com o próprio corpo com a mente e com as emoções. O professor, para desenvolver tal competência nos alunos, deverá, prioritariamente, se conhecer, lidar bem com as próprias emoções e buscar ajuda, caso tenha dificuldade em lidar consigo mesmo. A competência de número 9 refere-se à empatia e cooperação, que permitirá ao aluno refletir sobre respeito, empatia e a boa convivência na sociedade. O aluno será capaz de respeitar diferentes grupos sociais e conhecer sua capacidade diante das atividades em grupos, cooperando e entendendo as diferenças sem preconceitos. Responsabilidade e cidadania é a competência de número 10, que refere-se ao compromisso que o aluno terá de assumir na sua vida pessoal ao realizar escolhas, agindo, assim, com responsabilidade social e ética. Para que o professor consiga construir tal competência com seus alunos, deverá incentivá-lo desde a educação infantil e por toda a educação básica a fazer escolhas, opinar e ter acesso a informações que possibilitem ouvir e refletir sobre condutas. 43 Figura 3 – Resumo sobre as 10 competências gerais da BNCC Argumentação Empatia e cooperação. Responsabilidade e cidadania. Autoconhecimento e autocuidado. Trabalho e projeto de vida. Cultura digital. Comunicação. Repertório cultutal. Pensamento científico crítico e criativo. Conhecimento. Fonte: adaptada de Mykhailo Ridkous/iStock.com.; askmenow/iStock.com.; Irina Cheremisinova/iStock.com.; IconicBestiary/iStock.com.; Irina Cheremisinova/iStock.com.; PCH-Vector/iStock.com.; Natalie_/iStock.com.; BonneChance/iStock.com.; eliflamra/iStock. com.; Victor_Brave/iStock.com. 44 Após se apropriar dos conhecimentos estabelecidos na BNCC sobre competências gerais a serem desenvolvidas pelos alunos e pontuar como deve ser a prática pedagógica para que estas sejam desenvolvidas de forma plena, há a necessidade de destacar que existem as competências específicas por área do conhecimento. As competências específicas devem ser desenvolvidas gradualmente ao longo da escolarização – desde os anos iniciais até os anos finais –, e permitem relacionar os conhecimentos de diferentes áreas, que devem perpassar os conteúdos curriculares. Todo professor deve ter conhecimento sobre as competências gerais expostas na BNCC. Porém, é essencial que ele conheça as competências específicas da área em que atua (Educação Física, Arte, Língua Inglesa, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências da Saúde, Geografia, História, Ensino Religioso), pois, desta forma, poderá articular o currículo às habilidades a serem desenvolvidas no processo de aprendizagem de sua turma específica e no contexto social em que a escola está inserida, sem ignorar os aspectos pontuados no PPP, que representa o perfil da comunidade e as metas a serem atingidas. Tudo deverá acontecer de forma harmônica e articulada. 3. A BNCC e o ensino integral Um dos grandes desafios propostos na BNCC, visando promover maior qualidade de ensino, é a escola de ensino integral, chamado de Programa de Ensino Integral (PEI). O PEI é um modelo de escola emque os alunos permanecem até nove horas e meia na escola, recebem três refeições ao dia, são orientados quanto aos estudos, estimulados para ingressar no mercado de trabalho e recebem auxílio para a construção de um projeto de vida. 45 Além disso, os alunos no PEI cursam disciplinas curriculares obrigatórias e eletivas, escolhidas pelos próprios alunos. Embora seja um avanço em questões pedagógicas e organizacionais, infelizmente, não é extensivo a todas as unidades escolares. Um dos objetivos dessa educação de ensino integral é de oferecer ao aluno possibilidades de desenvolvimento global e pleno, com uma educação acolhedora e com respeito às diversidades. Para isso, o ensino integral: Requer o desenvolvimento de competências para aprender a aprender, saber lidar com a informação cada vez mais disponível, atuar com discernimento e responsabilidade nos contextos das culturas digitais, aplicar conhecimentos para resolver problemas, ter autonomia para tomar decisões, ser proativo para identificar os dados de uma situação e buscar soluções, conviver e aprender com as diferenças e as diversidades. (BRASIL, 2018, p. 14) Diante da citação extraída do documento da BNCC, observa-se que é necessário um perfil de professor com uma formação ampla, disposto a participar de projetos pedagógicos que envolvam alunos e comunidade escolar. A quantidade de horas de permanência do aluno não garantirá a ele um ensino global se a equipe escolar não estiver totalmente integrada, em um objetivo comum. Evitar que o aluno esteja exposto a uma sociedade, diversas vezes violenta, e proporcionar a ele a reflexão a partir de temas e projetos de vida, poderá dar a ele uma perspectiva melhor de um futuro promissor, em que ele possa utilizar todos os conhecimentos adquiridos e colocá- los em prática, enquanto agente transformador de uma sociedade. Vale ressaltar que o professor atuante em escolas que contemplem o PEI, apresenta projetos e atuam com dedicação exclusiva, podendo ter 46 uma gratificação salarial de até 75% a mais do salário base, como forma de incentivo. Estimulados por melhores condições salariais, valorizados por um trabalho integrado em que PEI- possibilita, acredita-se que estarão sendo desenvolvidas as competências gerais citadas anteriormente, bem como outras habilidades que só serão possíveis, a partir da disponibilidade e do planejamento da comunidade escolar. Dentre as demais habilidades a serem desenvolvidas no ambiente escolar, as propostas dos quatro pilares da Educação elencadas pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) possibilitam tornar o aluno o protagonista do próprio conhecimento, mediado por um professor que também acredite na interação, como uma importante forma de aprendizagem. Os pilares contemplam diferentes formas de aprender, dentre eles: aprender a conhecer; aprender a fazer, aprender a viver juntos; aprender a ser. • Aprender a conhecer: trata sobre o compreender, o construir o conhecimento, ir além da aquisição dos saberes. “Como o conhecimento [...] evolui em ritmo incessante, torna-se cada vez mais inútil tentar conhecer tudo [...] Daí a importância dos primeiros anos da educação” (UNESCO, 2005, p. 18). • Aprender a fazer: trata sobre colocar o conhecimento em prática, está relacionado à possibilidade de o aluno encontrar habilidades a partir de disciplinas eletivas que escolher cursar no integral. “O aprender a fazer está mais ligado à educação profissional” (UNESCO, 2005, p. 18). • Aprender a viver juntos: trata sobre reduzir a competitividade, incentivar a criação de laços afetivos, a fim de tornar um mundo melhor e mais democrático. “[...] a descoberta progressiva do outro 47 e o seu reconhecimento e a participação em projetos comuns” (UNESCO, 2005, p. 19). • Aprender a ser: trata a respeito do desenvolvimento do ser como um todo, pois “Todo ser humano deve ser preparado para a autonomia intelectual e para uma visão crítica da vida” (UNESCO, 2005, p. 19). Tais pilares foram elaborados por Jacques Delors, professor político e econômico francês, em 1999. Concluindo, a partir da implantação da BNCC, diversas mudanças ocorreram no sistema educacional, exigindo novos olhares sobre a aprendizagem e a construção do conhecimento. Diante disso, o perfil do professor também teve que se modificar para se adequar às novas propostas curriculares, bem como o novo perfil do aluno. Os desafios são imensos e exige do professor além do saber do conhecimento, um olhar humanizado diante de tantas diversidades sociais e culturais que respingam na educação. Formar um aluno cidadão exige conhecimento e domínio das competências gerais e específicas em cada área de atuação, bem como a prática pedagógica pontuada nos quatro pilares da educação, o que garante uma melhoria efetiva na qualidade de ensino, em busca de uma equidade educacional. Referências bibliográficas BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018. CANDAU, V. M. Construir ecossistemas educativos – Reinventar a escola. In: CANDAU, V. M. (Org.). Reinventar a escola. Petrópolis: Vozes, 2000. 48 UNESCO. Werthein, J. Cunha, C. Fundamentos da Nova Educação. v. 5. Brasília, 2005. Disponível em: https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000129766. Acesso em: 26 abr. 2021. https://unesdoc.unesco.org/ark:/48223/pf0000129766 49 Novos desafios: o avanço tecnológico e o ensino híbrido Autoria: Clivanir Aparecida de Campos Leitura crítica: Juliana dos Santos Objetivos • Refletir sobre o como o avanço tecnológico pode contribuir na aprendizagem. • Conhecer quais as contribuições do ensino híbrido no processo educacional. • Refletir o papel do professor a partir do ensino híbrido. 50 Novos desafios: o avanço tecnológico e o ensino híbrido Com o surgimento do coronavírus, a pandemia exigiu do sistema educacional a aquisição de outras formas de transmitir o conhecimento, dentre elas: o ensino remoto e o ensino híbrido. Percebeu-se, então, que a tecnologia tornou-se uma grande aliada no processo de aprendizagem, mas jamais substituirá o papel do professor. 1. A chegada do coronavírus e seus impactos na educação Em 2019, o mundo foi surpreendido por um vírus que causa infecções respiratórias, existente desde 1960. Porém, passou por um processo de mutação, o qual apresenta contágio rápido, fácil e apresenta um alto índice de mortalidade. Este é o coronavírus. O novo agente do coronavírus começou a atingir as pessoas em dezembro de 2019 na China, mas somente em janeiro o vírus foi atrelado à morte de diversas pessoas por um quadro de “pneumonia desconhecida”. Rapidamente, o vírus se alastrou pelo mundo, acionando a Organização Mundial da Saúde (OMS). Diante dos riscos que esse vírus poderia acarretar à população brasileira, entra em vigor a Lei nº 13.979, promulgada em 6 de fevereiro de 2020. A lei estabeleceu medidas que deveriam ser adotadas para o enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional, como isolamento (separação de pessoas contaminadas ou objetos portados por elas), implementação da quarentena (restrição de atividades àqueles que possivelmente estão contaminados), dentre outras. 51 Vale ressaltar que quando criada, a Lei nº 13.979 ainda não havia nenhum caso de coronavírus confirmado no Brasil, sendo que o primeiro caso no país surgiu na cidade de São Paulo em 26 de fevereiro de 2020 (BRASIL, 2019). Dentre as medidas de restrição a respeito do enfrentamento do novo coronavírus, as escolas também sofreram modificações e precisaram fechar suas portas, ou seja, o processo de aprendizagem passou a ser completamente remoto. Essa medida provocou um impacto em mais de 70% da população estudantil do mundo e mais de 1,5 bilhão de estudantes e jovens em todo o planeta estão ou já foram afetados pelo impacto do fechamento de escolas e universidades devido à pandemia (UNESCO, 2020). Os professores, então,precisaram se reinventar e dominar outros recursos que enriquecem ainda mais a práxis pedagógica, dentre eles, a tecnologia, pois iniciou-se o processo de aprendizagem no ensino remoto e posteriormente o híbrido que, segundo Bacich, Neto e Trevisani (2015) são, respectivamente, substituição das aulas presenciais, complementação do on-line e do presencial. Foi preciso manter a qualidade de suas aulas, avaliações e didática de suas próprias casas. Alguns deles não possuíam sequer equipamentos adequados para elaborar conteúdos digitais, pois muitos não tiveram acesso a tecnologias educacionais em sua formação inicial. Além disso, notou-se que a maioria dos professores não possuía formações suficientes para atuar nessa nova proposta, mesmo a tecnologia há muito tempo sendo necessária. Os professores, então, precisaram se atualizar, buscar novas práticas pedagógicas e metodologias que contemplassem o novo modelo de ensino. Para tal, segundo Pimenta (2002, p. 22), “Conhecer significa estar 52 consciente do poder do conhecimento para produção da vida material, social e existencial da humanidade”. Nunca foi tão pontual o poder do conhecimento e a importância da mediação do professor, como forma de construir a aprendizagem diante de tantos desafios. Assim, pode-se perceber que a prática pedagógica foi obrigatoriamente revista em tempos de pandemia, pois, para alcançar o aluno, o professor precisou incluir atividades significativas, diversas vezes incluindo as famílias, de forma a realizar a transposição didática do presencial para o virtual, na tentativa de minimizar o distanciamento na relação professor- aluno. Mas, como promover esse conhecimento diante da distância física promovida pelo isolamento e pela quarentena? Inúmeras inquietações e questionamentos de alunos, professores e pais diante dessa nova fase, também levam o professor a transformações contínuas em sua rotina, como forma de atender a realidade complexa em que estamos vivendo. Logo, um ponto importante a ser destacado é que o professor seja capaz de se reconhecer como peça fundamental na transmissão de informações, utilizando as metodologias propostas e inovando apesar de todas as dificuldades postas. Para Candau (2000): Trata-se do desafio de se recriar o sentido profundo da escolarização. Acolhendo a tradição construída como histórica, evitando posições saudosistas e/ou fundamentalistas para conscientes das raízes histórico- culturais da instituição escolar, enfrentarmos as novas questões e reinventarmos o sentido da escola para os indivíduos, os grupos sociais e a sociedade como um todo. (CANDAU, 2000, p. 36) É nesse cenário sem posição saudosista e no processo de reinventar a escola que o professor teve que buscar se integrar diante das situações impostas pela pandemia. Outro desafio promovido pela pandemia 53 está relacionado às desigualdades econômicas que se acentuaram pelo acesso restrito dos alunos à internet. Como exemplo, além disso, diversas vezes o celular é o único recurso disponível para muitos membros da família, o que inviabiliza o acesso simultâneo no período de aula, a diferentes salas para os diferentes membros dessa família. O impacto das medidas de enfrentamento contra o coronavírus, também fez com que diversas pessoas nas famílias perdessem seus empregos, os obrigando, ainda, a ter uma responsabilidade maior no acompanhamento educacional. Entretanto, as famílias que possuem mais de um filho e tem mais de um meio de acesso à internet, ainda assim, não conseguem acompanhar ou promover o acesso simultâneo de todos os membros da família, dificultando o auxílio nas atividades propostas. 2. O ensino híbrido e a pandemia Na pior fase da pandemia a educação, passou a adotar o ensino completamente remoto e na perspectiva de uma possível melhora do isolamento, algumas escolas adotaram o regime de educação híbrida. Esse tipo de ensino contempla uma metodologia antiga na história da educação que surgiu no ano de 2000, nos Estados Unidos e era nomeada de blended learning. Era utilizada em cursos educacionais voltados para empresas, porém, a metodologia evoluiu antes mesmo da pandemia e começou a ser utilizada em salas de aula, abrangendo um conjunto muito maior de recursos e diferentes abordagens, com combinações e ambientes de ensino-aprendizagem, contando diretamente com o uso de recursos tecnológicos e/ou plataformas adaptativas. Logo, a aprendizagem se dá em diferentes momentos e espaços, saindo das paredes da escola que detinham o conhecimento, 54 ganhando o mundo com as incontáveis possibilidades que o ensino híbrido e as tecnologias podem proporcionar para esse novo aluno. O ensino híbrido buscava atingir os alunos por diferentes recursos e potencializar o acesso ao conhecimento com as tecnologias e as novas práticas pedagógicas. Vale ressaltar que, quando surgiu o ensino híbrido, era proposto em uma sociedade de educação à distância em que a condição socioeconômica permitia o recurso tecnológico e o acesso à internet de forma adequada. No entanto, a utilização desse tipo de ensino durante a pandemia, não se aplica a todos os alunos, diante da diversidade social e econômica do país. No ensino híbrido, a aprendizagem acontece por uma mistura de metodologias diferenciadas em um espaço contínuo de aprendizagem, o qual mescla o ensino presencial com o ensino virtual, em que um complementa o outro. Segundo Bacich (2015), são consideradas modalidades do ensino híbrido: 1. Laboratório rotacional com uso de espaços diferentes: como o uso de laboratórios tecnológicos, onde o professor irá mediar os conhecimentos adquiridos pelo aluno. 2. Rotação por estações: uma sala de aula organizada em diversas estações e materiais, sendo pelo menos uma estação com recursos tecnológicos. As demais, com acesso à pesquisa e outros experimentos. Sob a orientação do professor, os grupos de alunos se revezam para participar e vivenciar todas as estações. 3. Rotação individual: a partir de um roteiro, o aluno circula nas estações e reveza de forma individual e não com o grupo, alternando de acordo com o seu interesse ou dificuldades em determinados conceitos e vivências. 4. Sala de aula invertida: o aluno pesquisa anteriormente a aula on-line e, ao chegar à sala de aula, apresenta os conhecimentos 55 adquiridos e troca as informações com seus pares e é mediado pelo professor por meio de supervisão. Essa metodologia traz benefícios ao aluno, e permite conduzir os seus estudos de forma mais independente e autônoma. Como se vê, o conceito de híbrido propõe uma flexibilização de acordo com a necessidade do grupo e do processo de aprendizagem. O termo híbrido é amplo e possibilita uma educação imaginativa, dentro e fora do espaço escolar, com metodologias ativas e tecnologias móveis, o que possibilita ao aluno desenvolver capacidades de lidar com o “experimentar de diferentes linguagens” em que ele também possa participar de uma proposta de sala de aula invertida. Desde o surgimento da proposta do ensino híbrido, até o momento desafiador atual, muitos testes e metodologias diferenciadas estão sendo utilizadas com a proposta de reorganizar o espaço físico, em que o aluno não mais receba informações de forma passiva, ou seja, faça uso das tecnologias para um ensino personalizado. Segundo Bacich, Neto e Trevisani (2015): Personalizar não é traçar um plano de aprendizado para cada aluno, mas utilizar todas as ferramentas disponíveis para garantir que os estudantes tenham aprendido. Se um aluno aprende com um vídeo, outro pode aprender mais com uma leitura e um terceiro com resolução de um problema e, de forma mais completa, com todos esses recursos combinados. (BACICH; NETO, TREVISANI, 2015, p. 98) Inúmeros são os desafios para que o professor se sinta apto a utilizar essa metodologia, pois requer que ele reveja as suas práticas pedagógicas, de forma a inserir a tecnologia, pois são vários os problemas de infraestrutura
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