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Aula 4 Indústria do ácido sulfúrico Prof. Marcelo Ferreira Ácido forte, solúvel em água em qualquer concentração; Produção anual: 190 milhões t/ano; Produção brasileira: 7 milhões t/ano: ◦ 84% a partir do enxofre ◦ 16% a partir de gases metalúrgicos Aplicações em diversas indústrias como matéria-prima ou como auxiliar, perdendo apenas para a água como produto mais utilizado no mundo: ◦ Fertilizantes: maior aplicação no Brasil (80%); serve para produzir ácido fosfórico, fertilizantes fosfatados e sulfato de amônio ◦ Processos inorgânicos: produção de sulfatos ◦ Produtos orgânicos: ácidos orgânicos (acético, cítrico, oxálico) ◦ Siderurgia: decapagem do ferro e do aço ◦ Papel e celulose: polpação da celulose ◦ Têxtil: corantes e pigmentos ◦ Açúcar e etanol: preparação do caldo para decantação ◦ Alimentícia: produção de ácido cítrico e lático ◦ Sabão e detergente: agente de sulfonação orgânica Propriedades: Oxidante; Desidratante: reações orgânicas de nitração, esterificação e sulfonação. Formas de produção: Soluções aquosas em diversas concentrações: 40 – 100%; Soluções de SO3 em H2SO4 (oleum): ◦ 10 – 35% de SO3 livre; ◦ 40% de SO3 livre; ◦ 60 - 65% de SO3 livre Os oleuns são utilizados principalmente na indústria de petróleo, explosivos (nitrocelulose, nitroglicerina e TNT), corantes, entre outros. Tecnologias de produção: Processo de Câmara de Chumbo: limite de concentração de 78% em massa de H2SO4; Processo de Contato: produção com concentração de 96% em massa de H2SO4; Processo de Câmara de Chumbo: Processo criado no século XVIII; Limite de concentração de 78% em massa de H2SO4; Conversão de SO2 a SO3 em fase líquida utilizando óxidos de nitrogênio como catalisador na Torre de Glover: 𝑆𝑂2 + 𝑆𝑂2 → 𝑁𝑂 + 𝑆𝑂3 𝑆𝑂3 + 𝐻2𝑂 → 𝐻2𝑆𝑂4 Processo de Câmara de Chumbo: A mistura gasosa que não reage é transferida para a câmara de chumbo e tratada com água para a formação de H2SO4 a 62-68%: 𝑁𝑂 + 𝑁𝑂2 + 𝐻2𝑂 → 2 𝐻𝑁𝑂2 2 𝐻𝑁𝑂2 + 𝐻2𝑆𝑂3 → 𝐻2𝑆𝑂4 + 2 𝑁𝑂 + 𝐻2𝑂 Os gases residuais do câmara de chumbo são absorvidos com na Torre de Gay-Lussac com ácido concentrado e resfriado da Torre de Glover; Os gases absorvidos são enviados para a Torre de Glover. Processo de Contato: Processo a partir do final do século XIX e predominante no século XX; Matérias-primas: enxofre elementar, sulfetos metálicos e ácido sulfúrico usado; O processo a partir do enxofre é o mais simples e barato, pois precisa de menos etapas de purificação; O processo é dividido em três etapas: ◦ Produção de SO2; ◦ Conversão de SO2 a SO3; ◦ Absorção do SO3 para formar o H2SO4. Processo de Contato: A absorção pode ser simples ou dupla; Absorção simples: obtém conversões de SO2 de 95-98%; Absorção dupla: eleva a conversão para 99,5-99,8% reduzindo as emissões de SO2 para a atmosfera; As plantas de absorção simples são aplicadas para processar gases com baixo teor de SO2 (gases residuais de processos metalúrgicos) e é necessário a lavagem do gás residual para o seu descarte; As plantas de absorção dupla podem trabalhar com gases concentrados e por conta disso, com equipamentos menores para uma mesma taxa de produção; 1) Produção de SO2 – Sulfetos metálicos Obtenção de SO2 por ustulação (oxidação dos sulfetos com ar); Devido às impurezas presentes nos gases do ustulador (cloro, flúor e arsênio), existe a necessidade de purificação dessa corrente para que não ocorra envenenamento do catalisador na etapa catalítica; O processo de purificação é feito em duas etapas: ◦ Absorção (lavador de gases) ◦ Precipitação eletrostática 1) Produção de SO2 – Sulfetos metálicos O líquido de absorção deve ser um solvente de natureza alcalina (amônia, soda cáustica) e injetado contracorrente com o gás; Nessa operação são absorvidos os gases ácidos e particulados mais grosseiros; No precipitador eletrostático, a corrente gasosa passa por um eletrodo de alta voltagem (50000 V) e por um eletrodo de coleta; Os elétrons emitidos de eletrodo de descarga colidem com as moléculas de gás fazendo com que fiquem ionizadas; Essas moléculas migram para o eletrodo de coleta arrastando partículas de poeira e/ou nevoa. 2) Produção de SO2 – Enxofre elementar O enxofre é queimado com ar em altas temperaturas: 𝑆(𝑙) + 𝑂2(𝑔) → 𝑆𝑂2(𝑔) ∆𝐻 = −296,8 𝑘𝐽 𝑚𝑜𝑙 Por ação bacteriana, o enxofre pode ser reduzido a bissulfeto (𝐻𝑆−) que é altamente corrosivo e deve ser neutralizado com cal virgem, onde forma-se sulfato de cálcio (CaSO4); Para evitar o entupimento da tubulação, o sulfato de cálcio formado deve ser filtrado antes da corrente ser alimentada ao queimador de enxofre; 2) Produção de SO2 – Enxofre elementar O ar utilizado no queimador deve ser seco para evitar a formação de H2SO4 no queimador e no conversor; A secagem do ar ocorre em uma torre de absorção em que H2SO4 (93 – 98%) absorve a umidade do ar, fazendo com que ele saia da torre com teor residual de umidade menor do que 50 mg/m3; As torres são fabricadas em aço, revestidas com cerâmica e recheadas com anéis. 2) Produção de SO2 – Enxofre elementar Para alimentar o queimador, o enxofre deve ser devidamente atomizado em uma temperatura mínima de 120 °C (acima do ponto de fusão); Para buscar uma viscosidade mínima, pode-se trabalhar com a temperatura entre 135-155 °C; Na câmara de combustão, que é revestida com tijolos refratários, a queima ocorre em temperaturas de 950 – 1200 °C; Para evitar a formação de SO3 no forno: ◦ Baixo tempo de residência ◦ Trabalhar com a temperatura elevada para deslocamento do equilíbrio da reação 2) Produção de SO2 – Enxofre elementar A queima no forno é controlada para que a concentração de SO2 na saída seja de 12%; Esse controle pode ser feito pela temperatura na saída do forno: ◦ 970 °C: 10% de SO2 ◦ 1050 °C: 11% de SO2 ◦ 1130 °C: 12% de SO2 Ao sair do queimador, a corrente de SO2 passa pela caldeira principal, onde é resfriada a 400 °C para gerar vapor saturado de alta pressão (> 40 kg/cm2). 3) Produção de SO2 – H2SO4 usado Essa rota não é economicamente viável, mas existe por questões ambientais; Comumente utiliza-se ácido sulfúrico diluído e contaminado de processos orgânicos; Ocorre a decomposição térmica do ácido sulfúrico em torno de 1000 °C, oxidação de amônia e compostos orgânicos e vaporização do excesso de água: 𝐻2𝑆𝑂4 → 𝑆𝑂2 + 𝐻2𝑂 + 1 2 𝑂2 ∆𝐻 = 202 𝑘𝐽 𝑚𝑜𝑙 3) Produção de SO2 – H2SO4 usado Na saída do forno, um trocador de calor aproveita o calor gerado na decomposição do ácido sulfúrico para pré-aquecer o ar de combustão a 450 °C; Na sequência, os gases passam por uma etapa de purificação semelhante à realizada no processo a partir de sulfetos metálicos; Após a purificação, é realizada a secagem do gás. Conversão de SO2 a SO3 A conversão de SO2 a SO3 é reversível e exotérmica: 𝑆𝑂2 + 1 2 𝑂2 → 𝑆𝑂3 ∆𝐻 = −99 𝑘𝐽 𝑚𝑜𝑙 Para deslocar o equilíbrio no sentido do produto: ◦ Procura-se alimentar O2 em excesso ◦ Conduzir a conversão em pressões elevadas e baixas temperaturas ◦ Estabelecer a temperatura ideal para atender ao conflito grau de conversão x velocidade de reação ◦ Realizar a retirada contínua do SO3 formado Conversão de SO2 a SO3 Conversão de SO2 a SO3 Conversão de SO2 a SO3 O reator catalítico é formado por quatro leitos em série; Entre cada leito ocorre o resfriamento da corrente reacional para manter a temperatura entre 430-450 °C para que sejam atingidos altos graus de conversão e uma velocidade de reação satisfatória; Entre o segundo e o terceiro leito, existe uma torre de absorção para remoção intermediária do SO3; Após o quarto estágio, os gases quentes são resfriados até 180 °C para serem enviados para a torre de absorção ou torre de oleum. Conversão de SO2 a SO3 A B C Catalisador O catalisador utilizado é o pentóxido de vanádio (V2O5), com4 a 9% em peso, em suporte de sílica; Os formatos mais utilizados são raiado ou estrela: Esses formatos são utilizados porque oferecem maior resistência mecânica e menor perda de carga ao escoamento da corrente gasosa; Catalisador Esse catalisador tem uma útil média maior do que dez anos e alta resistência ao envenenamento; Os venenos desse catalisador aparecem quando são usados sulfetos metálicos como matéria-prima e o flúor é a impureza que danifica diretamente o suporte de sílica do catalisador; O catalisador funciona apenas em fase fundida, pois é assim que pode liberar espécies iônicas; Portanto, é necessário trabalhar acima do ponto de fusão do catalisador que é de 380 °C; Catalisador O mecanismo de atuação do catalisador é o seguinte: 𝑆𝑂2 + 2 𝑉 5+ + 𝑂2− ⇌ 2 𝑉4+ + 𝑆𝑂3 1 2 𝑂2 + 2 𝑉 4+ ⇌ 2 𝑉5+ + 𝑂2− Absorção de SO3 O SO3 é borbulhado em contracorrente com H2SO4 concentrado em uma torre de absorção fabricada em aço, com revestimento refratário e recheio feito de anéis cerâmicos; Água não deve ser usada para absorção porque ao entrar em contato com o SO3 forma uma nevoa ácida que não pode mais ser absorvida; O melhor agente de absorção do SO3 é o H2SO4 98,3-99%; O ácido entra na torre a 70-80 °C e sai a 120-125 °C na absorção intermediária e 100-105 °C na absorção final; Absorção de SO3 Na absorção intermediária são absorvidos cerca de 90-95% do SO3; Caso exista a produção de oleum, são instaladas mais uma ou duas torres de absorção com circulação de oleum, após as torres de absorção com ácido sulfúrico; A eficiência de absorção depende: ◦ Concentração de ácido sulfúrico no líquido de absorção (98,3-99%) ◦ Temperatura do líquido (70-120 °C) ◦ Temperatura de entrada do gás (180 °C) ◦ Método de distribuição do ácido ◦ Umidade presente no gás de entrada ◦ Remoção da névoa ácida na saída da torre Energia envolvida na produção de H2SO4 As três principais etapas do processo (queima de S, conversão e absorção) são exotérmicas; 57,5% da energia liberada são recuperados como vapor de alta pressão na caldeira principal após o queimador de enxofre; 3,0% são perdidos nos gases da chaminé do queimador e 0,5% é perdido como calor sensível no ácido produzido; 39,0% podem ser recuperados como calor de baixo nível nas etapas de resfriamento entre os leitos catalíticos; Energia envolvida na produção de H2SO4 Na saída do primeiro leito (maior temperatura), pode ser instalado um superaquecedor para produzir vapor superaquecido e utiliza-lo em turbinas para produzir energia elétrica; Na saída do terceiro leito, pode ser instalada uma caldeira auxiliar; Na saída do quarto leito, pode ser instalado um economizador para pré-aquecer a água de alimentação da caldeira principal. Tratamento do gás residual O gás residual contém N2, O2, SO2, SO3 e H2SO4; Plantas que utilizam enxofre elementar têm menores emissões de SO2, se comparadas a plantas que utilizam sulfetos metálicos, pois o controle das condições de conversão são mais fáceis nesse tipo de planta; Plantas com absorção simples e conversão de 97,5% de SO2: 17 kg de SO2/t de H2SO4; Plantas com absorção dupla e conversão de 99,5% de SO2: 3,3 kg de SO2/t de H2SO4; Plantas com absorção dupla e conversão de 99,7% de SO2: 2,0 kg de SO2/t de H2SO4; Tratamento do gás residual Processos para tratamento do gás residual: ◦ Plantas com absorção simples: lavagem com amônia ◦ Plantas com absorção dupla: processo Peracidox Lavagem com amônia Lavagem com amônia O licor de lavagem é recuperado como uma solução de sulfato de amônio; É possível remover até 95% do SO2 presente no gás residual; O gás residual é lavado em dois lavadores Venturi em série; O SO2 é absorvido na solução de amônia e forma (NH4)2SO3 ou NH4HSO3; SO3 e H2SO4 são convertidos em (NH4)2SO4 ou NH4HSO4; Lavagem com amônia Após a lavagem, o gás passa por um eliminador de névoa ácida antes de ser descartado; O licor da lavagem da névoa ácida e a solução de amônia são alimentadas ao segundo lavador e a solução de lavagem do segundo lavador alimenta o primeiro; Ao sair do primeiro lavador, a solução de lavagem é enviada para o decomponedor junto com ácido sulfúrico concentrado para decomposição dos sulfitos, liberando SO2 e formando uma solução de sulfato de amônio; Lavagem com amônia Um pouco de SO2 ainda fica retido na solução que vai ser removido por arraste com ar; Quando a planta de ácido sulfúrico está instalada junto a uma planta de fertilizantes, o sulfato de amônio formado já pode ser aproveitado para a produção de fertilizantes granulados e a amônia necessária para o processo de lavagem já está disponível na planta. Processo Peracidox Processo Peracidox É um tratamento que faz a oxidação do SO2 do processo de absorção dupla; O processo não gera nenhum rejeito, apenas H2SO4 que é reciclado para a planta; 𝑆𝑂2 + 𝐻2𝑂2 → 𝐻2𝑆𝑂4 O SO3 e o H2SO4 presentes no gás residual também são removidos nesse processo.
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