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Copyright© 2020 by Literare Books International Todos os direitos desta edição são reservados à Literare Books International. Presidente: Mauricio Sita Vice-presidente: Alessandra Ksenhuck Capa, diagramação e projeto gráfico: Gabriel Uchima Revisão: Rodrigo Rainho Consultoria de escrita: Central de Escritores, Rose Lira, Gabriella Maciel Ferreira, João de Almeida Neto, Pedro Castellani e Elisângela Alves de Alencar. Diretora de projetos: Gleide Santos Diretora executiva: Julyana Rosa Relacionamento com o cliente: Claudia Pires Literare Books International. Rua Antônio Augusto Covello, 472 – Vila Mariana – São Paulo, SP. CEP 01550-060 Fone: +55 (0**11) 2659-0968 “O simples pode ser mais difícil do que o complexo: é preciso trabalhar duro para limpar seus pensamentos de forma a torná-los simples.” (Steve Jobs) Table of Contents 1. Agradecimentos 2. PREFÁCIO 3. INTRODUÇÃO 4. PARTE 1: EM TODA BOA GESTÃO EXISTE UM BOM GESTOR 1. 1- TODO GESTOR TEM UMA HISTÓRIA 1. HÁ GESTÃO NO BRASIL: há tempo de mudar 2. 2- TODO GESTOR PRECISA ESTUDAR 1. HÁ REFERENCIAIS NO BRASIL 2. #SimplesAssim 3. SE É BANAL, POR QUE VOCÊ NÃO FAZ? 5. PARTE 2: EM DIMENSÕES GLOBAIS, QUANDO A GESTÃO BATE NO TETO 1. 3- MUDAR PARA CRESCER COMO GESTOR 1. HÁ GESTÃO NO BRASIL: olhando para o consumidor 2. 4- AMPLIAR A VISÃO PARA CRESCER COMO GESTOR 1. HÁ REFERENCIAIS NO BRASIL 2. #SimplesAssim 3. SE É BANAL, POR QUE VOCÊ NÃO FAZ? 6. PARTE 3: COLOCANDO A GESTÃO DE PONTA CABEÇA, A GRANDE VIRADA 1. 5- PARA CRESCER É PRECISO QUERER E OUVIR 1. HÁ GESTÃO NO BRASIL: Olhando para o consumidor 2. 6- O CAMINHO TAMBÉM É IMPORTANTE... E SIMPLES! 1. HÁ REFERENCIAIS NO BRASIL 2. #SimplesAssim 3. SE É BANAL, POR QUE VOCÊ NÃO FAZ? 7. PARTE 4: GERIR NEGÓCIOS - DO OUTRO, O MEU E O NOSSO 1. 7- GERIR NEGÓCIOS DO OUTRO 2. 8- GERIR NEGÓCIOS... O MEU! 1. HÁ GESTÃO NO BRASIL: Olhando para o consumidor 3. 9- GERIR NEGÓCIOS... O NOSSO! 1. HÁ REFERENCIAIS NO BRASIL 2. #SimplesAssim 3. SE É BANAL, POR QUE VOCÊ NÃO FAZ? 8. PARTE 5: QUANDO O GESTOR GERA GESTORES 1. 10- DESCOMPLICAR PARA MULTIPLICAR 1. HÁ GESTÃO NO BRASIL: Olhando para o consumidor 2. 11- SER DIFERENTE OU SER EFICIENTE? 1. HÁ REFERENCIAIS NO BRASIL 2. #SimplesAssim: termo de compromisso 3. SE É BANAL, POR QUE VOCÊ NÃO FAZ? 9. SÍNTESE E APRESENTAÇÃO DA METODOLOGIA GESTÃO ESCALÁVEL 1. HÁ REFERENCIAIS NO BRASIL 2. Conclusão AGRADECIMENTOS Agradeço aos bons gestores que passaram pela minha carreira, e especialmente aos não tão bons, e que por isso fizeram-me buscar uma diferenciação da sua forma de gerir, permitindo-me novas alternativas de gestão, que mais tarde vieram embasar este livro. Dedico este livro a todos os gestores que desejam potencializar suas equipes em busca de resultados sólidos em detrimento do ego e da vaidade, tão comuns aos cargos de liderança. Ismael Kolling PREFÁCIO Se você é administrador, empresário, empreendedor, tem interesse em iniciar uma empresa ou almeja ter sucesso em sua carreira, você deve ler este livro. Trata-se de uma biografia didática, em que o autor, Ismael Kolling, ao contar um pouco de sua história, traz importantes lições para os negócios e para a vida. Aqui, você irá se deparar com exemplos reais de sucesso e excelentes dicas de como melhorar os processos e lidar com pessoas, fatores cruciais e preponderantes para o êxito de qualquer empreendimento. De linguagem acessível e simples (palavra de ordem neste livro), além das já mencionadas lições, esta publicação traz para você um pouco do case da iPlace, onde a forma prática de gestão do autor fez com que essa rede de lojas saísse do zero, atingindo a marca de um bilhão de reais de faturamento anual em aproximadamente quatro anos. Apesar de administrar as empresas do nosso grupo empresarial por mais de 30 anos, sempre estudando e me atualizando, me sinto muito honrado em prefaciar esta obra, com essa leitura tive a oportunidade de também aprender, visto que algumas das técnicas apresentadas pelo autor eram por mim desconhecidas. Para finalizar, presentearei meus lojistas, clientes e amigos com um exemplar deste livro, pois eles merecem ter acesso a este conteúdo didático, com orientações sobre como ter sucesso no mundo empresarial e pessoal. Newton Patricio Crespi Brusque (SC), 6 de março de 2020. INTRODUÇÃO Uma alavanca para despertar os melhores talentos do mundo profissional”. Foi assim que sempre me vi. Nunca fui um profissional extremamente técnico. Busquei sempre ouvir e ler, muito mais do que falar. Admiro os especialistas em áreas diversas, adoro ouvi-los explicar suas técnicas, falar as gírias e jargões específicos de cada área, mas nunca consegui ser um grande técnico em nenhuma área específica. E muitas vezes me perguntei: quais as razões que me fazem não ser esse profissional extremamente técnico, se costumo me aprofundar nos assuntos e entender as razões pelas quais as coisas acontecem? Nunca consegui me realizar com conquistas individuais, sempre busquei o resultado que é conquistado de forma sólida, estruturada, e sabendo o porquê de ter sido buscado. Acredito fielmente que nenhuma atividade sozinha, isolada, é capaz de produzir um resultado sustentável para um negócio. Minhas experiências me fizeram enxergar que um negócio sólido só é possível com a soma de todas as engrenagens de forma efetiva, e isso me inclui, eu preciso contribuir para que todos os envolvidos funcionem e entreguem, cada um, a sua melhor e mais assertiva contribuição, só assim consigo perceber um sentimento de realização. Comecei minha carreira em uma rede varejista, que ficava na minha cidade, “Dois Irmãos”, no interior do Rio Grande Sul. Fui assistente de TI (Tecnologia da Informação), mas logo ficou perceptível que uma atividade tão técnica não me traria o resultado esperado. Fui assistente, analista e coordenador de marketing em um grande grupo empresarial. Atendia às empresas de varejo, atacado e serviços, desde a estratégia até a parte operacional. Depois me transformei em treinador de vendas de produtos de informática, quando as lojas de varejo de eletrodomésticos começaram a vender computadores. Se você não viveu essa época, quero lhe deixar ciente que, aproximadamente, até a metade da primeira década do século XXI, apenas lojas especializadas em informática vendiam computadores e se constituía um tabu para muita gente a simples ação de ligar um computador na tomada, além de que venda por internet era algo bastante escasso. Fui coordenador de um dos maiores revendedores de produtos de TI para empresas no sul do Brasil, e depois dediquei alguns anos ao varejo de shopping center. Iniciei a primeira operação de shopping center desse mesmo grupo empresarial em 2009, após sete anos do início da minha trajetória. A primeira operação iniciou-se em Florianópolis-SC, uma loja HP Store. Gerenciei e operei as áreas que envolvem um varejo: negociação com o shopping, obras, insumos de obras, contratação e treinamento das pessoas, compra de produtos, visual merchandising, definição de preços, políticas comerciais, estratégia de marketing, entre outros. Ao final daquele ano, tivemos um acordo com a Apple, e optamos por uma migração de foco. Foi quando surgiu a iPlace, que em apenas 4 anos de existência atingiu a marca de 100 lojas e um dos mais expressivos negócios varejistas do segmento no país. Esse foi um dos cases de maior crescimento exponencial visto no mercado brasileiro. Liderei esse projeto da sua concepção, dentro do grupo, até a centésima loja e a consolidação na grande maioria dos Estados brasileiros. Passei a empreender no final de 2014, enfrentei os desafios de uma startup de software voltada a grandes empresas. No desenvolvimento dela, passei por uma experiência riquíssima durante 5 meses, onde troquei minha experiência de estratégia de negócios por uma experiência em empresa de software capitalizada por fundo de investimentos e em fase de estruturação de conselho de administração. Tive a experiência de lançar um software no mercado,testar receptividade de multinacionais, negociar projetos internacionais. Testei o produto no varejo e adentrei em um varejista, referência no Nordeste do Brasil, em uma riquíssima experiência de gestão de canais de varejo, atacado e distribuição, aliada ao desenvolvimento de pessoas através do próprio software que eu havia criado. Mais tarde, deixei a sociedade da empresa que criei e ingressei nas áreas de consultoria, atendendo às empresas brasileiras e americanas, abrindo novos mercados locais, assim como nacionalizando a operação de um fabricante dos Estados Unidos aqui no Brasil. Eu me especializei em conselhos de administração, tentando trazer ao meu conhecimento as melhores práticas das grandes corporações, que crescem de forma estruturada, para levar essa experiência, comum a empresas grandes, às organizações de qualquer tamanho. Porém, percebi que a grande dificuldade das empresas pequenas e médias em crescimento está em manter os aspectos mais simples de gestão. Não que elas não tenham inovação, não que elas não tenham ferramentas avançadas, mas suas estruturas menos robustas fazem com que direcionem seus esforços para crescimento e perdem com isso aspectos essenciais, os quais lhes permitiram chegar aonde estão. Empresas em ascensão buscam constantemente a inovação e a promoção de conquistas, e feitos ditos “foras da curva”, deixando assim aspectos simples em aberto. Você vai cansar de ouvir empresários e funcionários de empresas que cresceram lembrarem do passado como a melhor época, pois quando eram pequenos possuíam uma essência que se perdeu com o tempo. Com o crescimento das organizações, temos a entrada de novas pessoas, novas ideias, outros conhecimentos, que podem nem ser melhores ou piores, mas são diferentes. A maioria das empresas perde na caminhada a sua essência, sua cultura, os fatores que as fizeram ser quem elas realmente são e, juntamente com as pessoas que as compõem, sentem-se perdidas ao longo do tempo, especialmente em seus modelos de gestão, que comandam e dão a linha de trabalho da organização. Por isso e outras razões, resolvi registrar aqui a trajetória de crescimento que me permitiu gerir equipes de forma simples, prática, objetiva, escalável, muito alinhada e estruturada. Pois acredito que são as mesmas que trazem resultados exponenciais, sem a necessidade de se perderem pelo caminho por se emaranhar em termos técnicos ou rebuscados. Quero trazer de volta para você a simplicidade que me trouxe grandes resultados e permitirá que seus negócios cresçam de forma sustentável. Este livro irá abordar as características natas de um gestor, o engajamento da equipe de profissionais, o desenvolvimento da gestão de sucesso embasado em cases reais e, principalmente, ensinar a metodologia da gestão escalável. Uma metodologia acessível, simples e com propósito, construída por mim durante a minha trajetória empresarial. Desejo que você aproveite muito este conteúdo, reflita e possa adaptar à sua realidade. E que você faça as adequações somente após experienciar, pois os prejulgamentos podem impedir que você encontre um verdadeiro caminho para uma gestão eficiente e sustentável. Ismael Kolling PARTE 1: EM TODA BOA GESTÃO EXISTE UM BOM GESTOR “No mundo dos negócios todos são pagos em duas moedas: dinheiro e experiência. Agarre a experiência primeiro, o dinheiro virá depois.” (Harold Geneen, empresário estadunidense) 1- TODO GESTOR TEM UMA HISTÓRIA Para compartilhar com você as experiências que me tornaram o profissional que sou hoje, seja no papel de gestor, empreendedor ou conselheiro, vou começar contando um pouco da caminhada que tracei para chegar até aqui. Pois em toda boa gestão existe um gestor, uma pessoa, um profissional que traz em si mesmo um conjunto de influências e processos que compõe o seu perfil. Mas antes é importante dizer que muito do sucesso de uma empresa vem de escolhas certas. Portanto, uma boa gestão é relacionada diretamente à escolha de um bom gestor, de um gestor com perfil adequado e que tome decisões assertivas. Simples assim. Mas o que é gestão? Gestão é, de maneira prá�ca, potencializar as pessoas e organizar os recursos de uma empresa de forma que a�njam o máximo de resultado com o mínimo de recursos possíveis. Eu acredito que o objetivo de uma boa gestão é atingir a máxima performance de um negócio visando o crescimento sustentável da empresa. Mas quando e como fazer isso? Quando de forma contínua busco melhorar aquilo que já tenho e potencializo as equipes, os recursos e os resultados. E para que isso aconteça precisamos olhar para a gestão vinculada ao gestor, e olhar para o gestor sem esquecer de aspectos que antecedem sua carreira propriamente dita. Por exemplo, as características natas de um gestor. Não pretendo aqui, neste momento, citar todas as características dele, apenas sinalizar por meio da minha vivência algumas que antecedem o início da minha carreira e que influenciaram diretamente no desenvolvimento de uma boa gestão. CARACTERÍSTICAS NATAS DE UM GESTOR As pessoas costumam sinalizar o início da carreira pelo primeiro trabalho. Eu já acredito que a minha carreira não começou no momento em que comecei a trabalhar. Todas as experiências que tive antes desse momento foram importantes para me tornar o que sou hoje, minhas características natas, ou que aprendi antes mesmo de entrar para o universo do trabalho (habilidades), como por exemplo, a minha passagem quando jovem pelo futebol. Essa vivência contribuiu muito para me tornar o profissional que me tornei. É fundamental para o gestor buscar entender de onde vêm suas características natas para poder trabalhar suas fraquezas e potencializar suas fortalezas. O futebol me ensinou muito e trago a sua influência até hoje nas atividades que desempenho, entre muitas, a mais significativa, foi perceber que eu posso ser o melhor jogador que tiver, mas, sozinho, não resolvo nada. Claro que, sempre quis ser o melhor jogador do time, mas, nunca quis fazer nada sozinho, eu sempre dava um jeito de conseguir levar a minha equipe comigo. Meu pai sempre criticou esse meu jeito de pensar em absolutamente todas as coisas relacionando-as ao jogo, levar comigo os ensinamentos do jogo para além do campo. Como capitão do time ou como mais um jogador da equipe, eu me preocupava em fazer os objetivos do time acontecerem, cuidava dos detalhes como fardamento, me preocupava se os outros jogadores tinham dormido bem ou se tinham ido para festas, se estavam com problemas pessoais, se tinham treinado o suficiente. Passava a semana antes do jogo focado na organização e acabava chegando ao campo já desgastado com tanta preocupação com o time. A maioria dos jogadores pega uma “chuteirinha”, coloca debaixo do braço e faz sua parte dentro de campo. Mas comigo nunca foi assim. Lembrando hoje dessa época, percebo que sempre tive a característica do jogo em equipe, de pensar no time e me preocupar com tudo que está envolvido com o processo até o resultado, e não somente o resultado por si só, o que é uma característica essencial para um gestor, mas não tão importante assim para um jogador de futebol. Há quem diga que liderança é uma aptidão ou algo relacionado à personalidade, e em parte concordo e em parte defendo que também faz parte de um conjunto de habilidades que podem ser desenvolvidas. Eu acho que sempre tive um pouco disso desde a época de colégio, sempre líder da turma, das equipes de trabalhos e competições, aliás, mesmo valorizando o time e os grupos em que estava inserido, sempre fui muito competitivo em busca de fazer minha equipe vencer. Nunca aceitei uma derrota simplesmente porque a responsabilidade não era totalmente minha. Recordo-me do último ano do ensino fundamental, quando o colégio em que estudava lançou a sua primeira olimpíada e era permitido jogar em três modalidades individuais e três coletivas. Eu me preparei para fazer minha equipe ganhar e me preparei individualmente também. Joguei as seis competições permitidas e ganhei as seis. Participeide esportes que nem sabia jogar, tipo ping-pong! Eu nunca tinha estado numa partida de ping-pong, treinei duas semanas antes e ganhei. Então, defendo que ser competitivo é uma outra característica inerente a um gestor, desde que você faça o seu time vencer, não queira vencer sozinho. Mas acho que a grande característica que carrego até hoje é de me preocupar com tudo, olhar para a o cenário completo, ter um olhar ramificado e sistêmico. O que, se você pensar, é uma coisa boa e ruim ao mesmo tempo. Toda essa preocupação em pensar nas prioridades do negócio e em todas as implicações que irão impactar no resultado final é muito positivo para a empresa, mas pode fazer você não executar sua parte tão bem quanto poderia se pensasse mais na sua atividade. E isso leva à outra característica que precisa ser observada e que alguns já possuem e levam para o seu processo de gestão: um nível de responsabilização exagerado. Independentemente de quantas áreas esteja gerindo, áreas sob a minha responsabilidade, se alguém fala de um funcionário de uma ou de outra área, eu sinto que a culpa é minha, e não do funcionário. Puxar tudo que acontece absolutamente para mim é um fardo grande a carregar, e até exagerado. É importante você buscar desenvolver seu time e até protegê-lo por algumas vezes, mas o exagero dessa característica nata em muitos gestores precisa de equilíbrio para que haja crescimento também na equipe em relação a responsabilização. Venho de um ambiente familiar extremamente harmônico, onde todos fazem o máximo uns pelos outros, sentem-se responsáveis por tudo que acontece na família, pensam sempre no coletivo potencializando as qualidades de cada um. Assim, levo essa influência para a minha gestão, busco uma harmonia nas minhas equipes, pessoas que se complementam. Algumas vezes, assumo as responsabilidades dos demais, buscando essa harmonia. Porém, fazer isso de forma exagerada certamente fará com que o gestor deixe de fazer sua função para cobrir a de outro. E por isso tento sempre me fiscalizar para não exagerar nessa busca. Pensar em algumas características que você traz com você, que lhe ajudam, mas também podem lhe prejudicar em algum momento é muito importante para a construção de seu perfil profissional. Perceber as atitudes positivas e as de autossabotagem faz parte do compromisso do gestor consigo mesmo. Você consegue perceber quando elas o estão “sabotando”? ACERTAR SE APRENDE O meu primeiro trabalho foi aos 17 anos, o momento que considero o fim do futebol. Como falei, não defino o futebol como tendo sido um trabalho propriamente dito. Apesar de minha tentativa de carreira profissional na área, para mim, eu apenas fazia o que eu gostava e não me importava se fosse apenas um hobby de final de semana. Quando fui para a minha primeira entrevista de emprego, a pessoa que me entrevistou foi o gerente de marketing da empresa chamado Rogério Knebel (ainda que a vaga fosse para assistente de TI) – ele foi uma grande referência para mim em diversos aspectos que irei dividir com você. Para ser sincero, eu fui para uma vaga qualquer, na cidade pequena que morava, era uma pessoa relativamente conhecida por causa do futebol e, então, eles decidiram dar uma oportunidade para aquele menino sem experiência, principalmente por conta das referências que possuía: vir de uma família conhecida, ser um dos melhores alunos da escola mesmo sem ser muito estudioso, ter bons relacionamentos. O entrevistador tinha confiança na seriedade dos meus pais (algo muito importante em cidades pequenas) e sabia de minhas características competitivas e de liderança, o que me fazia, segundo ele, ter perfil para estar lá. Para ele, eram características que enxergava como sendo muito positivas, e que, como ele disse, “forjam você, apesar da sua falta de experiência”. A lembrança mais importante que tenho daquela entrevista foi uma pergunta que ele me fez. — Se você tiver oportunidade de voltar para o futebol, você volta? — Bom, eu nunca trabalhei. A não ser que trabalhar aqui seja muito bom, faça eu me sentir mais feliz que no futebol, tenho quase certeza de que eu volto a jogar – respondi, procurando ser honesto. Na minha cabeça, a empresa tinha que ser legal demais para eu não querer mais jogar futebol, um sonho que trazia em minha vida. Até hoje lembro do que ele me respondeu e que foi fundamental para mim naquela época. — Você está jogando a responsabilidade de fazer a empresa ser legal para mim. Essa é uma responsabilidade sua, e não da empresa! Quem tem que fazer com que aqui seja um lugar bom para trabalhar, que você se sinta desafiado e que você queira fazer novas coisas, é você, e não eu. A responsabilidade de ter que fazer com que o ambiente de trabalho seja um local bom de trabalhar é sua. Planeje-se! Se você não consegue tornar seu trabalho desafiador, talvez seja hora de você repensar como está construindo as suas metas. Foi um momento em que olhei para trás, para minha experiência com o futebol e pensei “eu pequei no planejamento para ir jogar futebol, eu não olhei para todas as situações ali envolvidas”. Meu preparo físico era de jogador amador. Meu ambiente de treinamentos era amigável, e não competitivo. Quando cheguei ao alojamento eu via meninos que ganhavam 50 reais por mês e mandavam 30 reais para ajudar em casa. Eles estavam lutando pela oportunidade da vida deles, e eu, apesar de sonhar em me tornar um jogador de futebol, me comportava como se estivesse indo para uma “pelada” de final de semana. E só entendi isso na minha primeira entrevista de emprego, graças a um profissional genial que me fez enxergar que eu precisava aprender a estudar o ambiente e competir, no mínimo, com a mesma intensidade dos demais. E deveria me desafiar e criar metas para mim mesmo, olhando para mim, e olhando para os demais à minha volta. Agradeço imensamente ao Rogério por ter me mostrado isso. Nunca mais olhei para o fracasso do futebol como uma frustração. Olhei para ele como o maior ensinamento da minha vida, e a oportunidade de mudar minha forma de me planejar para qualquer atividade que eu vá realizar: analisar o ambiente, os competidores, trabalhar para minimizar meus pontos fracos e enaltecer ao máximo meus pontos fortes. A CONSCIÊNCIA DO COMEÇO É O DESPERTAR O início da minha carreira se resumia a ir ao trabalho, cumprir a carga horária e voltar para casa. Eu comecei estudando o ambiente, mas ainda muito distante de poder envolver as pessoas nas minhas atividades. Assim como a maioria das pessoas em seu primeiro emprego, minha atividade de assistente de TI era totalmente operacional, atuava sozinho e tinha o foco em cumprir minhas tarefas. Minha característica mais agregadora me fazia ter ótimas relações, e ser sempre muito transparente. Em apenas 3 meses, meu chefe percebeu pelas minhas falas, que trabalhar sozinho na área de TI não me faria ter qualquer resultado expressivo, e me liberou para a área de marketing, que também demandava um assistente. O setor de marketing tinha apenas duas pessoas, dois rapazes extremamente talentosos e já com dois ou três anos de experiência. Cheguei sendo o número três e sem conhecimento. Foi minha oportunidade de mapear as habilidades deles, estudar tudo que eu precisaria desenvolver em conhecimentos. Meu gestor era, agora, a mesma pessoa que havia me contratado, e apesar da minha entrevista não ter sido o que se esperava, tive a oportunidade de me redimir. Passei os dois primeiros dias no setor apenas observando o que acontecia. No terceiro dia, ele me chamou para conversar e saber como estava indo. — Já mapeei o que preciso aprender, e em 3 meses vou conseguir fazer o que os rapazes fazem. Peguei os softwares para estudar e vou fazer as tarefas de passar os comunicados para as lojas. Quero que todo mundo nas lojas saiba o meu nome e me ligue se precisar de alguma coisa – disse a ele antes que me solicitasse as atividades. Eu tinha apenas 18 anos, me sentia orgulhoso quando alguém de alguma loja ligava para falar comigo, para tirar alguma dúvida. Nossarede tinha 20 lojas, todas em cidades próximas, mas algumas delas eu jamais havia visitado. Dois anos depois, ainda mantínhamos a mesma equipe, porém por oportunidades internas, meus dois colegas deixaram o setor ao mesmo tempo. Procurei meu chefe e disse: “Não sei como vai ser a estrutura sem eles, e não sei se precisamos de duas pessoas para substituir. Então me deixa sozinho no setor por uns 3 meses, eu faço o que precisar, e depois lhe digo quantas pessoas precisamos”. A empresa estava crescendo. Naquele ano abríamos 10 novas lojas e iniciávamos nosso e-commerce. Mas ainda assim, resolvi assumir e tive o aval da gestão. Como líder, é esse tipo de atitude que espero da equipe, porém muitas vezes os liderados esperam que o chefe lhes dê as orientações e o caminho a seguir. Aquela, com certeza, foi a maior vitrine do meu trabalho. Aquele foi o despertar da minha consciência de que deveria ser a mesma pessoa compe��va também dentro da empresa. Assumir responsabilidades! Trazer para o ambiente de trabalho algumas caracterís�cas que já possuo. Eu precisava ser dentro do ambiente profissional o que eu era no futebol, competitivo. Foi quando comecei a assumir as responsabilidades. Chegava de manhã e ficava até por volta de 22h quase todos os dias. Esse despertar foi, sem dúvida, o momento em que eu considero o início da minha carreira. Foi quando comecei a levar meu trabalho a sério e de forma mais competitiva. Eu queria me superar a cada dia, mas sempre olhando também para os demais competidores, pois algumas vezes, superar apenas você mesmo não será o suficiente. A questão de planejar e exercitar o olhar para os cenários completos se tornou cada vez mais importante para mim nesse período. Entendi que precisava aprender e me apropriar cada vez mais do planejamento estratégico. É DE PEQUENINO QUE SE TORCE O PEPINO (ditado popular) Ao longo do tempo, você vai entendendo melhor aquilo que quer para a sua carreira e para a sua vida, mas, principalmente, vai entendendo aquilo que NÃO quer e aquilo que você NÃO abre mão. Seus valores, seus princípios, suas prioridades. Essas situações não são natas, elas se formam com o tempo, com as experiências. Na minha caminhada, encontrei muitos profissionais que buscavam visibilidade para si, objetivando serem as grandes estrelas das empresas ou das áreas em que atuavam. Eu não vejo absolutamente nada de errado em buscar esse objetivo, e acredito que seja algo realmente prazeroso para muitas pessoas. Porém, escolher esse caminho costuma ser bastante frustrante, pois algumas vezes podem exigir que você abra mão justamente dos seus princípios. É o chamado “os fins justificam os meios”. Não estou dizendo que você não deve fazer sacrifícios, nem deixar de fazer quaisquer concessões, mas percebo que ao abrir mão de valores pessoais, grandes profissionais não percebem que estarão abrindo mão de si mesmos, e talvez não mais poderão voltar a ser o que eram, e que para estar sempre em evidência, terão de fazer mais e mais concessões. Por isso é importante se conhecer e saber do que se pode abrir mão e do que não. Eu gosto de apreciar a caminhada. Costumo traçar objetivos de longo prazo, e criar momentos para comemorar metas atingidas no caminho para o objetivo maior. Normalmente, a chegada é algo distante, e passamos muito mais tempo caminhando, para poder curtir apenas o pequeno momento da chegada. Essa caminhada terá seus momentos de sacrifício? É claro! Não se iluda pensando que fará apenas o que gosta, mas tornar o caminho mais agradável faz minha vida ser muito mais prazerosa. Os resultados, a visibilidade, são importantes e até mesmo fundamentais. Sem eles, não há a concretude da realização, mas, o “como”, faz muito mais sentido para mim. Se eu consigo chegar lá com as pessoas ao meu lado, ver as pessoas crescendo comigo, minha equipe evoluindo na vida financeira e pessoal, percebendo que as pessoas estão desafiadas e motivadas porque acreditam em um propósito, isso faz muito mais sentido. O sonho de ser um profissional realizado envolve muita gente que está em volta, não dá para conquistar isso sozinho. Os colaboradores também querem se sen�r realizados, não querem só cumprir tarefas enquanto os holofotes se voltam para apenas um. Logo, não pode ser bom para mim, e doloroso para elas, tem que ser bom para todo mundo. Muito desse pensamento me ajuda a ser o bom gestor que considero ser hoje. Eu cheguei a ele através de todas as minhas vivências, inclusive familiares, pois uma pessoa é a soma de toda sua história. Na minha família temos uma relação muito harmônica e, até, diferente. Não conheci ainda nenhuma estrutura, principalmente entre irmãos, como a que tenho com os meus irmãos. Desde pequenos, nunca brigamos. Nem mesmo aquelas briguinhas de crianças. Não tenho recordações de discussões fortes dos meus pais (fora os castigos pelas pequenas “artes” de criança), sempre houve um clima de harmonia, que me serve de exemplo e que tento espelhar nas minhas equipes. Eu tento resolver rápido os problemas, começo a ver um “mimizinho”, uma conversa paralela e eu já puxo e digo “vem cá, vamos resolver isso rápido”. E coloco todos os envolvidos na mesa o mais rápido possível. Acredito que trago essa característica dos exemplos do meu pai. Sempre que havia alguém chateado com alguma coisa, ele já sentava ao lado para entender e dizia: “Vamos conversar com quem está envolvido, não adianta ir reclamar para os outros”. Talvez você pense neste momento: “É porque você não viu a minha equipe! Vivem falando mal pelos corredores e nunca querem resolver. Não tem como manter um clima de harmonia, está cheio de traíras”. É muito mais fácil dizer que não tem solução do que resolver, mas posso garantir que não há nada mais prazeroso do que resolver conflitos. Conflitos são, inclusive, parte do crescimento, não necessariamente algo ruim. Podem ser até bem vistos, quando baseados em ideias ou quando vem de uma vontade de melhorar algo ou discutir algum processo. Mas já quando têm uma razão mais sentimental, ideológica ou até mesmo passional, não posso ver como positivo. Gerar um desgaste que você talvez não consiga solucionar mais adiante e pode ser que cause sérios problemas. Precisa ser resolvido rápido! E quem melhor que você, sendo gestor ou não, para intermediar a solução dessa situação? Se pode ser você para resolver, por que ser outra pessoa? Eu vejo muitos gestores que olham para esses tipos de conflitos passionais e que dizem “eles se resolvem depois”. Eu vejo muitas gestões fazendo isso e, na maioria dos casos, isso não vai acontecer! Vai atenuar, sim. Especialmente se as pessoas envolvidas precisam do emprego. Mas essa situação não plenamente resolvida virá à tona em algum momento, assim como acontece em relacionamentos sentimentais. E nesse momento, talvez fique muito maior do que seria se tivesse sido resolvida no passado. Em reuniões em que são gerados pontos de vista diferentes, eu costumo dizer: “Essa porta vai continuar fechada enquanto a gente continuar discutindo. No momento em que abrirmos essa porta, não se discute mais. Todos vão para o mesmo lado que combinamos aqui”. Não consigo suportar sair de uma reunião em que houve um alinhamento de direção, e as pessoas seguirem discutindo o tema: “Ah, mas eu acho que deveria ser diferente, acho que não foi a melhor decisão”. Enquanto toda equipe não abraçar a ideia, a discussão segue. E quando encerrar, estamos todos no mesmo caminho. Herdei da minha família a parte da conciliação, por isso respeito a história de cada colaborador da minha equipe, assim como respeito a minha história, que contribui positivamente para a minha gestão. HÁ GESTÃO NO BRASIL: há tempo de mudar Um case impactante na minha vida foi no segundo ano de trabalho na iPlace. Compramos uma operação em São Paulo que tinha sete lojas, nos principais shoppings da cidade. O responsável era um dos maiores importadores de produtos da Apple na época, e a margem de lucro era muito maior em acessórios da Apple do que nos produtosoriginais da marca. Entusiasta de acessórios, a empresa era reconhecida no país inteiro pela qualidade dos acessórios que comprava. Chegando lá e estudando a situação mais a fundo, descobri que a empresa não dava lucro, por maior margem que tivesse. Os custos fixos não são cobertos por percentual de margem, mas, sim, pelo valor monetário que entra na conta bancária da empresa. Comecei a analisar e vi que ela possuía grande dificuldade em ter estoques de produtos da Apple, indo mais fundo, vi ainda que os clientes iam às lojas para comprar acessórios, o que não é suficiente para manter uma operação como essa, afinal, o cliente que compra acessórios é um consumidor dos produtos principais da marca. Se você pensar, acessório é isso mesmo, apenas um acessório. Foi necessário mudar a cabeça de toda a empresa. Os executivos da empresa viam os produtos (Apple iPhone, iPad, linha Mac) como um “mal necessário”, afinal era uma loja Apple. A equipe já tinha enraizado que os acessórios eram o Core Business e eles não iam mudar o jeito de vender Apple de jeito nenhum. Mas não conseguiam enxergar que os custos da empresa não seriam cobertos pela venda somente de acessórios, por maior percentual de margem que tivessem. A gestão é, afinal de contas, a grande responsável pelo negócio, porque é quem forma o conceito dentro da empresa, e ela pode quebrar a empresa. Foram necessárias, inclusive, demissões de funcionários para permitir a mudança de mentalidade, o que foi mal visto por alguns colaboradores na época. Mas, pensando dentro da empresa, o negócio precisa de pessoas que tenham alinhamento de pensamento com o modelo da empresa, o modelo de ser gerida. Se não existe esse alinhamento, tem que ser mudada toda a estrutura. Foi um enorme desafio assumir a cadeira de um dono de empresa, um dia após a compra dessa empresa. A cadeira de dono, em São Paulo, em um estado que nunca havia morado até então, com uma empresa com uma cultura enraizada e onde trabalhei por cerca de 2 meses sem conseguir os resultados que esperava, e tendo que mudar pessoas. Muitas vezes mudar é preciso! O objetivo das pessoas nunca pode estar acima dos valores e da cultura de uma organização. Há tempo de conciliar, mas também há tempo de mudar. 2- TODO GESTOR PRECISA ESTUDAR Muita gente acredita que ser um gestor é algo inerente apenas a características natas. Tem gente que acredita que gestor se forma ao receber um cargo, está na operação em um dia, e vira um gestor no dia seguinte. Acredita-se que basta entender do negócio e ter um espírito de liderança e, assim, faz-se um gestor. Claro que as características natas ajudam muito. Mas não é só isso! Todas as características de um gestor podem e devem ser desenvolvidas e aprimoradas. É preciso conhecer sobre Gestão de Negócios, e não somente de equipes. Você precisa conduzir sua equipe para o objetivo do negócio, e não para o objetivo do time ou o seu próprio. Você precisa estudar gestão continuamente. Para quem fala que faculdade de administração não serve para nada, eu gostaria de dar meu ponto de vista: “Se você não aplicar os conceitos, nenhuma faculdade serve”. Nem seu curso técnico, nem seu curso on-line, nem aquela imersão que você fez no final de semana passado. Conteúdo só na teoria não serve para nada se você não levar para a prática! Basta você deixar de estudar só porque vai cair na prova e começar a pensar e investigar como esse conceito funciona na prática nas empresas, para notar a diferença que o seu estado irá produzir em suas atividades. É PRECISO SER, MAS TAMBÉM É PRECISO ESTUDAR Eu acho que a minha faculdade de administração foi muito significativa para minha carreira nesse aspecto, ela soma inúmeras atividades, junta diversas áreas, o que é bom para mim, que sou generalista por natureza. Eu amo a área estratégica dos negócios, mas gosto de contábeis, finanças, do marketing, de vendas, do administrativo. Eu busco saber as razões pelas quais as coisas dão certo ou errado, por isso me interesso por tudo que diz respeito a negócios. Precisa fazer sentido para mim. Vamos admitir que é raro você encontrar um profissional que goste de tudo, mas acredito que a formação acadêmica em administração contribuiu para essa amplitude. Como não tive recursos para me formar cedo, durante a faculdade eu já estava no mercado de trabalho e já liderava negócios quando me formei. Ao longo do curso, entrava nas áreas da empresa para entender o que aplicavam e como aplicavam. E é claro que ouvia sempre: “Na prática, não dá para usar esse conceito”. E, na maioria das vezes, percebia que não dava porque as pessoas tinham preguiça de organizar. Ao me formar, eu já estava à frente de aproximadamente seis lojas que vendiam uma grande marca. Eu precisei me formar sem exibições e celebrações. Pois não ficava bem, na posição em que eu me encontrava, como executivo e gestor de uma cadeia de lojas, evidenciar que ainda não possuía uma graduação. Eu fiz uma formatura de gabinete, já com 26 anos de idade, quando minha situação financeira permitiu. Recebi o diploma, sem barulho e depois saí para comer uma pizza e pronto. Não estou dizendo aqui que é obrigatório que você siga o meio acadêmico tradicional. Estou apenas afirmando, categoricamente, que se você focar apenas em concluir um curso e achar que o diploma lhe dará os resultados que espera, posso garantir que nada do que você estudar vai servir na prática. Se você não puder fazer uma graduação extensa, como uma Faculdade de Administração, pode se aplicar a outros cursos de gestão, alguns cursos são básicos para um empresário ou para um gestor. É justamente no básico onde vejo os maiores erros de gestão. Errar no básico é o que faz com que você não consiga inovar. Ficar buscando o “fora da caixa” é muito prazeroso, mas não serve de nada se você voltar para sua empresa e ficar tendo que correr sem parar atrás de situações simples porque o básico não está rodando. Mesmo com bases significativas, os dois MBAs que cursei sobre gestão e mais a Formação de Conselheiro, me fizeram revisar conceitos e aplicar conceitos básicos. Sem o básico bem-feito, eu não teria tempo de inovar. E, ao revisar o básico, sempre percebia a mesma coisa: com o tempo, eu deixava de fazer bem alguns conceitos simples que eu já fazia muito bem no passado. Princípios preciosos do básico vão sendo abandonados quando julgamos que precisamos de situações muito avançadas para gerir. O básico precisa ser bem-feito para que seja possível inovar. Também aprendi com culturas organizacionais diferenciadas. Passei cerca de oito meses trabalhando para uma empresa americana, com mentalidade totalmente voltada a resultados. Eu tinha autonomia plena. Jamais recebi perguntas relacionadas à minha estratégia, à situação do cliente. Eu era o diretor para o Brasil, e as únicas perguntas que recebia era: quanto você vendeu e quanto vai vender no próximo ano fiscal? Mostre-nos seu plano de vendas e quanto precisa de orçamento. Os executivos, na maioria, sentem-se felizes por isso. Acreditam que esse é o caminho ideal. “Não me cobre como eu faço, apenas questione meu resultado”! Eu não vejo exatamente por esse prisma. Bati todas as metas que me foram passadas. Quando deixei meu cargo e a operação, a empresa não tinha a menor ideia de como eu havia feito. Não havia deixado nenhum legado. Logo após a minha saída, a venda da empresa no Brasil reduziu drasticamente, e o trabalho que eu levei meses para construir foi embora junto comigo. Quantas vezes isso acontece nas empresas? Ficam reféns dos melhores executivos, e não dominam as práticas que fizeram com que o sucesso acontecesse. Não são capazes de disseminar as estratégias que geraram seu sucesso. Na minha carreira como executivo, sempre acreditei que precisava deixar um legado. Estou sempre aprendendo e esse aprendizado precisa ser coletivo. Aprendi com todas as experiências diversificadas e foi assim que passei a me conhecer como gestor. Acho que se eu precisasse me descrever como gestor, poderia dizer que possuo uma liderançacarismática, sempre tive empatia forte com meus liderados, e sou analítico. Não me contento em atingir um resultado, quero saber quais razões fizeram com que esse resultado fosse atingido. Eu analiso tudo o que está envolvido em cada situação. Em tudo que faço na posição de gestor, eu analiso as consequências, cada ligação que existe em cada ação deve ser levada em consideração. Mesmo possuindo grande foco no resultado, analiso o processo. E tento despertar isso no meu time: analisar as razões do seu sucesso ou fracasso e disseminar essas informações por toda a empresa. É preciso olhar para a atividade e para a consequência dela a longo prazo, resultado bom é resultado duradouro, e não momentâneo. Ser um gestor é, antes de tudo, um exemplo para as pessoas que querem crescer e se desenvolver. O tempo do “manda quem pode, obedece quem tem juízo” já acabou faz alguns anos. Sua equipe não quer mais que você diga o que ela tem que fazer. Ela quer que você diga por que tem que fazer, e quer ser desafiada a apresentar o “como”. As pessoas querem sentir-se parte fundamental de algo realmente importante e maior. Se conseguir explicar as razões por trás dos objetivos e fazer com que faça sentido para o seu time, assim como faz para você, jamais precisará motivá- los a fazer qualquer atividade. GESTOR, CONSELHEIRO E CONSULTOR Toda equipe precisa de referenciais. Na realidade, as pessoas buscam alguém para se espelharem, admirarem, conduzirem seu crescimento através de um caminho já percorrido por alguém. Isso reduz consideravelmente o medo de não estarem indo pelo caminho correto. Se alguém já percorreu, e tem os valores que admiro, posso seguir por esse mesmo percurso que a tendência é chegar ao meu objetivo. Com um cenário de equipes cada vez mais heterogêneo, o gestor passa a ter o papel de ser o ponto de equilíbrio e a referência para guiar perfis diferentes a buscarem objetivos comuns, cada um à sua maneira. Um gestor é aquele que se torna referencial, ponto de convergência e orientador de uma equipe em meio ao processo, em busca do resultado desejado. Também me tornei conselheiro, estudei para isso. Enquanto o gestor faz o papel de harmonizar os diferentes elementos de uma equipe, o conselheiro é a figura que incomoda um pouco mais, que tira a empresa e as pessoas da condição de “ser sempre como foi”. É aquele que dá uma “cutucadinha na ferida”. O meu papel como conselheiro sempre foi de questionar modelos, normalmente, de uma forma que incomode e que a empresa ou pessoa que está à frente tenha que criar alternativas para buscar soluções que não tinha pensado antes. Eu, como conselheiro, sou diferente de como gestor. Na posição de conselheiro, eu não costumo dar a solução exata e pronta, porque eu não sou parte do negócio, a empresa não tem e não terá minhas características de gestor. Sou alguém de fora da estrutura operacional. Não tenho o DNA da empresa, e preciso fazer a empresa questionar suas direções. Não tenho o pleno domínio de todas as condições da empresa, justamente por isso meu papel mais importante é de perguntar, e nunca me contentar com a primeira resposta. Por quê? Ah, porque a primeira resposta é sempre aquela que está relacionada com o que sempre foi feito. A resposta rasa, a que já é de domínio. Porque o papel de um conselheiro é dar cinco ou seis “porquês” e aprofundar a reflexão sobre determinado assunto que precisa ser esclarecido. De todas as empresas que acompanhei no mercado, as que mais cresceram implementaram conselhos de administração. Algumas em estágio mais avançado, mas muitas delas ainda em seus primeiros passos. Isso porque o conselheiro tem o papel de questionador e faz você se perguntar sobre todas as razões que o levaram a tomar decisões ou planejar sua empresa para que você possa responder a esses questionamentos. “Como a área de TI está se preparando para essa ação comercial?” “A área contábil já analisou todos os impactos fiscais desse planejamento?” “De que forma o cliente será impactado por nossa mudança de processo? Ele verá benefícios? Se não, por que fazer?” Essa reflexão por meio de questionamentos direcionados consegue inclusive agregar as diferentes áreas das empresas, consigo juntá-las de forma realmente efetiva fazendo-as se questionarem entre si. Acho que minha habilidade de dar valor ao processo, de entender todos os porquês de uma empresa estar onde se encontra, ajuda muito. E é no papel de conselheiro que exerço plenamente a capacidade de análise e aumento o poder de investigação, exerço minha habilidade de visão sistêmica de forma plena, unindo as diferentes áreas, averiguando impactos que as empresas costumeiramente não têm. Como conselheiro, consigo fazer com que a empresa analise os impactos de cada decisão, em todas as áreas da empresa e, principalmente, ao cliente. Um conselheiro precisa ter uma visão sistêmica, por mais que seja especializado, segmentado, precisa analisar tudo. Uma decisão em uma área, como o Marketing, ou Finanças, pode afetar o todo da empresa. E, principalmente, pode afetar o cliente. O conselho é para estar no mais alto nível da empresa, acima da diretoria, precisa entender as nuances de qualquer estratégia. A consultoria já é mais segmentada, tem responsabilidade pela entrega dos resultados, especificamente da área que foi contratada. Se a consultoria é em RH, a preocupação vai ser com o RH, e o que acontecer no Marketing não é um problema a ser considerado. O conselho, não. Qualquer decisão que impactar em outro setor também é de responsabilidade dele. Não à toa, o conselho de administração é o órgão mais estratégico da empresa. Ambos, gestor e conselheiro, são aqueles a quem foi dado a posição de decisões e questionamentos estratégicos. São aqueles que, normalmente, são responsáveis pelos maiores desafios em uma empresa: gerir o negócio, conduzir a estratégia e direcionar as pessoas rumo ao caminho desejado pela organização. Cada qual em seu nível, suas decisões carregam a responsabilidade de fazer com que o básico funcione perfeitamente e permita que existam condições para estratégias inovadoras. Por isso, para cada atividade desempenhada é preciso estudo, aprendizado, preparo para conquistar os resultados pretendidos. Seja na gestão da equipe ou ques�onando o pensamento estratégico, é preciso, antes de tudo, fazer o básico bem-feito. HÁ REFERENCIAIS NO BRASIL José Agnelo Seger e Germano Grings foram grandes referenciais para mim. O Grupo Herval, que é o detentor da marca iPlace, tinha esses dois grandes líderes em meu período como diretor-geral da operação. Esses líderes mesclavam ousadia, controle, confiança. Mas, acima de tudo, o poder de delegar e confiar. Quando a operação está funcionando, e a cultura da organização está sendo respeitada, mesclada ao desenvolvimento de novas lideranças, a operação pode seguir sem a interferência dos sócios. Eles nunca me cobraram a questão dos detalhes da operação, eles me ensinaram a usar a liberdade de uma forma responsável. Dois grandes empreendedores que cresceram exercendo a função de executivos, participando ativamente do negócio e sendo as referências em todos os negócios do Grupo Herval. Ambos abriram mão de suas funções de executivos para se posicionarem como conselheiros da operação iPlace de forma informal. Se o resultado está dentro do previsto, não há razão para interferências recorrentes. Faziam os alinhamentos que achavam importantes dentro dos valores da organização a que pertenciam e esperavam os resultados. Eles se arriscaram comigo. Não é fácil encontrar pessoas que se arriscaram como eles fizeram. Uma empresa sólida, com negócios de décadas, permitir o surgimento de um novo negócio nas mãos de um executivo formado em casa. Um negócio independente, em mercados em que a empresa jamais havia pisado. Um negócio que se tornou a vitrine da empresa na época. Veio deles a liberdade, a autonomia, o espaço para que houvesse crescimento, e deu certo, colheram depois os frutos. Como honrar essa liberdade e autonomia? Só havia uma forma:responsabilidade, cultura alinhada e resultado. A iPlace se tornou um grande sucesso pela incrível humildade e capacidade de gestão descentralizada, característica do grupo Herval e de seus acionistas. #SimplesAssim Para consolidar este capítulo, você pode utilizar este espaço para refletir sobre você e seus maiores potenciais para alavancar sua carreira. UTILIZE A MEMÓRIA: quais os 5 momentos mais bem-sucedidos em sua carreira? E quais as 3 atitudes responsáveis por esses sucessos conquistados? (RE)CONSTRUA-SE: olhando para o que você já fez no passado e que não está fazendo hoje, trace 5 metas para resgatar e melhorar o que você precisa, com datas para atingir cada uma dessas metas. SE É BANAL, POR QUE VOCÊ NÃO FAZ? E então? Por que você não traça suas metas? Por que você mesmo não define o que precisa para melhorar e traçar seu próprio plano? Vai deixar que outros tracem a sua meta? Quando você vai saber que está bom se não tiver metas traçadas para você? Quanto é o melhor possível? Aonde ele o levou? Estamos sempre “tentando” e “fazendo”. Mas e aí? O que é? Para quando é? O quanto é? Você só vai saber se tentar! Estabeleça sua meta. Entenda o porquê de atingir e o porquê de não conseguir. Mude os planos, seja mais ousado. Desafie-se. Quando não der, tente de novo, mas tente diferente. Quando der, tente ir além. Você não vai saber quanto é “o melhor possível” se não ficar tentando ir além! Se isso é básico e simples... Por que você não faz? PARTE 2: EM DIMENSÕES GLOBAIS, QUANDO A GESTÃO BATE NO TETO “A recompensa nos negócios vai para o homem que fez algo com uma ideia.” (William Benton, senador estadunidense) 3- MUDAR PARA CRESCER COMO GESTOR Como já deve ter percebido, acredito que o básico precisa ser bem- feito. Mas, claro, o básico de toda empresa se constitui – sempre – em dar resultados. O bom gestor é fruto dos resultados que produziu em seu caminho profissional, isso é indiscutível. Uma gestão deve ser voltada à entrega de resultados cada vez maiores. Nesta segunda parte, vou narrar uma das minhas experiências de gestão que foi imprescindível para formar o profissional que sou hoje: o case iPlace, empresa que, com minha participação, nasceu de uma ideia inusitada, cresceu rápida e exponencialmente e obteve resultados muito expressivos, acima de qualquer expectativa Quando a gestão bate no teto, alcança os objetivos pretendidos, alguns se acomodam, outros se perguntam: será que eu realmente não posso ir além disso? E foi isso que me perguntei... MUDAR É NECESSÁRIO Tudo começou quando ainda estava num cargo de assistente de T.I. (Tecnologia da Informática) no grupo Herval. Eu não era nem de longe um cara de T.I., por isso fui transferido para o Marketing, como já mencionei. Já estava no grupo há mais de seis anos e em um determinado momento, as lojas de varejo, que comercializavam móveis, entre outros, começaram a vender computadores, algo novo, porém com pouca saída. Na época, só se encontrava computador em loja de informática, especializada no assunto. Um usuário de computador daquela época precisava praticamente de um curso apenas para conectar o computador ao seu monitor, e depois ligar mouse e teclado. Os varejos já vendiam de tudo, ferramentas, eletrodomésticos, móveis e, naquele momento, ensaiavam a venda de computadores. Meu chefe percebeu a oportunidade surgindo e me pediu para me informar e observar melhor o varejo de informática. Isso porque eu tinha bons conhecimentos sobre o assunto na empresa e poderia “pensar em alguma coisa”. Chegando às lojas e olhando para o cenário, compreendi que nenhum dos funcionários sabia vender computador e eu pensei: posso ensinar a eles e vai ser um diferencial, pois a maioria dos consumidores também não sabia muito sobre o assunto. Então desenhei o meu plano, comecei a circular, rodar junto aos supervisores das lojas. E quando digo rodar, é rodar mesmo. Pegava carona para ir até às cidades, treinava as lojas, ensinava aos funcionários como falar e ressaltar as qualidades e diferenciais dos computadores, et cetera. No primeiro mês, as lojas que visitei e treinei ultrapassaram o dobro em vendas. Eu não podia gerar custos, mas queria mostrar trabalho e resultados. Comecei a criar materiais de vendas em manuais que eu mesmo montava e as lojas viam os resultados dobrando mês a mês. Em pouco mais de um ano, passamos de “uma lojinha” de estratégia simples para uma das referências em vendas de computadores no Rio Grande do Sul. Foi então que surgiu uma nova oportunidade: trabalhar com a HP em um segmento corporativo, o projeto se chamava Hervaltech. Para explicar um pouco, devo dizer que o tipo de compra do mercado corporativo é muito diferente da compra do varejo. Ela é, primeiro, planejada, não acontece por impulso. Você não vê um cliente do corporativo comprando algo que não precise ou não tenha estudado antes, tudo tem um planejamento e uma designação específica. Em toda relação comercial, existe um jogo emocional, no varejo isso é mais presente que no universo corporativo. Vender com a mesma estratégia para empresas e pessoas físicas é um erro absurdo. Cliente de corporativo está preocupado com o negócio dele, não quer fazer esforços para comprar: quer serviços agregados, receber visitas na sua empresa, quer ajuda para desenhar seus projetos, quer especialistas que recomendem os caminhos a seguir. Não pode perder tempo indo até uma loja, aguardar atendimento. É preciso criar outros tipos de estruturas como central de atendimento, executivo que visite a empresa, consultorias que ajudem o cliente corporativo, ele quer que você vá até ele, você não pode apenas esperar que esse cliente entre na sua loja e compre dez computadores. E não tente conversar com um cliente corporativo apenas sobre produtos. Ele espera muito mais de um fornecedor. A não ser que você tenha o melhor preço do mercado. Cliente corporativo espera que você entenda do negócio dele, perceba suas dores, saiba resolver seus problemas. No meu caso, o cliente não queria que eu entregasse caixas. Ele esperava ver os computadores ligados em sua rede, conectados ao seu servidor. E não esperava ter que contratar outra empresa para poder fazer isso. Nem dimensionar tudo que deveria ser feito e com quais recursos. O mercado corporativo me ensinou que o cliente que recebe serviços agregados e tem uma ótima experiência não troca o fornecedor com facilidade, pois se ressente de não ter a mesma experiência em outro lugar. Depois, resolvi tentar a mesma experiência no varejo, que normalmente tem mais dificuldade de fidelização. PENSANDO A ESTRATÉGIA DA IPLACE Desse projeto da Hervaltech, iniciou-se uma parceria sólida, que depois originou lojas de shopping center, que mesclavam atendimento varejista com atendimento especializado em atender pequenas e médias empresas. E a construção dessas lojas da HP Store foram um embrião para a iPlace, porque possuíam a mesma sistemática: Lojas de shopping com experiências diferentes para o cliente; Produtos interligados e que podiam ser experimentados na loja. Inicialmente, reservamos cinco lojas, destaco que nós não tínhamos nenhuma loja desse tipo até aquele momento, nem mesmo alguma operação em shopping, apenas lojas de rua, lojas que tinham em torno de 800m², que possuíam uma estrutura bem diferente. Quando fomos montar nossa primeira loja, o recurso que eu tinha para iniciar o processo era... eu mesmo. Eu nunca havia feito uma loja de shopping, e eu comuniquei isso aos acionistas. O que ouvi do vice- presidente do grupo foi: “Nem nós, portanto, pode fazer, se ninguém sabe, faz você”. Eu não entendia de obra, de negociação de shopping, das muitas situações peculiares, das regras de construção complexas e até as estratégias de venda, que eram diferentes de lojas de rua, foi algo desafiador. Por outro lado, aprendi muito, hoje consigo entrar num shopping e sei de tudo que preciso me inteirar, desde as tubulações ao fluxo de clientes. Eu precisei aprender, naquele início, e meio que sozinho. Não sabe comofazer? Talvez muita gente não saiba. Talvez se você es�ver disposto a aprender e man�ver sua humildade para pedir ajuda, os resultados poderão ser uma surpresa muito posi�va. Foi quando batemos na porta da Apple, na época éramos uma empresa regional e desconhecida nacionalmente para um projeto ousado. Não tínhamos produtos ligados, nem funcionando dentro da loja. Claro que, diante de outros fortes concorrentes e da pouca relevância que tínhamos na época, escutamos inicialmente dos executivos da Apple: “Não. É impossível que vocês façam parte disso!” SIMPLES COMO UMA PRENSA DE BANHA Apenas depois de muita insistência, eles da Apple concordaram em nos visitar no Rio Grande do Sul – uma sede bem organizada para uma cidade do interior com 30 mil habitantes. Levar o country manager da Apple até lá foi, no mínimo, meio estranho. Mas, não só isso. Inesquecível foi a apresentação de um dos maiores executivos da empresa, ao enunciar os três pilares da empresa. Falou com sua forma peculiar: — Aqui na empresa temos uma “prensa de banha”. Fazendo alusão aos três pilares da empresa. Prensa de banha, caso não tenha ouvido falar, é onde se faz torresmo artesanal, um equipamento de madeira de três peças, por isso foi assim que ele definiu os pilares da empresa, de forma muito peculiar, porém dotada de um conhecimento muito grande. Esse executivo era uma grande referência e sempre usava figuras de linguagem. Todos que estavam naquela reunião se entreolharam e eu pensei naquele momento que ali tinha acabado qualquer oportunidade para nós. “Acabaram-se as possibilidades”, pensei. Mas, depois, conversando com os executivos da Apple, aquilo foi uma das coisas que os fizeram topar e ir em frente com o projeto. Eles disseram: — Vocês são simples, fazem as coisas sem muito enfeite, falam a verdade e fazem as coisas de forma simples. Conseguimos formar parcerias com grandes empresas mundiais: sendo nós mesmos. Simples assim. RISCO PLANEJADO VIRA OUSADIA Sem enfeite! Isso foi algo que chamou a atenção da Apple na nossa operação, mas apesar de sermos simples, perceberam também que éramos ousados. Se tem uma palavra que me define no tempo de abertura de lojas da iPlace é esta: ousadia. Decidimos abrir inicialmente duas lojas. Seriam duas operações em dois lugares diferentes do Estado, erguendo-as ao mesmo tempo. Existia, naquele ano, apenas uma pessoa que sabia fazer a exposição e o merchandising dos produtos da marca Apple, e outra que fazia isso com os acessórios de outras marcas, que complementavam o mix de produtos. Então levei uma das pessoas da Apple para montar metade da loja em um lugar, enquanto a outra montava a outra metade no outro lugar, depois, às três da manhã do dia anterior à inauguração, dirigi os 200 quilômetros para trocar as duas pessoas de lugar, para assim tudo ficar pronto para a inauguração. Poderiam ter dito que era arriscado, mas o resultado foi mais do que surpreendente. A meta do mês foi mais que dobrada em cerca de quatro dias de funcionamento da loja. Um estouro estrondoso. As lojas possuíam filas que contornavam o shopping. Era o lançamento da iPlace no Brasil, e o início de uma história permeada de peculiaridades, passei estando à frente desse projeto. Buscávamos mais, queríamos crescer. Definimos que abriríamos oito lojas no primeiro ano, só que não tínhamos como abrir todas elas ficando na região onde já estávamos. Existiam algumas regras a obedecer para abrir as lojas com a Apple, e isso me deixava cheio de restrições para crescer. Por isso, lá fui eu novamente bater na casa da Apple e pedir mais lojas, em outras localidades. HÁ GESTÃO NO BRASIL: olhando para o consumidor Algo que posso citar como um case é a forma de pensar do consumidor, que aprendi na prática com a iPlace. Eu ia de duas a seis vezes ao ano para os Estados Unidos, para olhar como funcionavam as lojas da Apple de lá, por dentro. Eu ficava observando o fluxo de funcionários para entender melhor como a Apple pensava a experiência com o consumidor. A essência de olhar para todo o processo, e pensar como ele, afeta a vida do consumidor, o quanto gera de esforço para ele e se há uma forma de tornar a experiência do cliente mais simples e prática. E o mais importante: tratar cada consumidor do seu jeito, com empatia. E não do jeito que você acha que deve ser. Buscávamos, e isso é um ponto interessante dos meus aprendizados com a Apple, ter equipes heterogêneas nas lojas, algo muito comum no mercado americano e incomum no nosso. O que acontece, normalmente, nas lojas brasileiras, são gestores que buscam um perfil de loja de pitbull vendedor! Pessoas agressivas na venda, quanto mais agressivo, melhor. Já a Apple me falou o seguinte: — Tenha dois assim, venda no sangue. Os outros, você traz um músico, um contador de piadas, dois com perfil organizado e que sejam muito bons em arrumar a loja. Uma equipe que tenha cara de equipe. E que se adapte aos diferentes consumidores que você tem. Alguns clientes vão querer uma atenção toda especial, muita dedicação. Outros vão querer ser atendidos rapidamente. As pessoas do seu time não podem ter a cara que você quer, precisam ter a cara do seu consumidor. Até porque, você não pode criar um time só de atacantes. Com o tempo, você vai ter conflitos e sua operação é que vai sofrer as consequências. Você precisa pensar no consumidor, e o consumidor quer estar em um ambiente legal, com pessoas animadas. Você vai precisar ter um clima bom, vai precisar de pessoas que organizem seus processos, vai precisar de uma equipe que se complemente. Já tentou organizar seus processos e tê-los totalmente respeitados por seus vendedores mais agressivos? É bastante raro que isso funcione se você tiver apenas um perfil no seu time. 4- AMPLIAR A VISÃO PARA CRESCER COMO GESTOR Quando comecei a negociar com a Apple, as operações para ampliação, pude perceber que fazer uma parceria em grandes dimensões e em grande porte, como eu fiz, me ajudava bastante a ampliar os horizontes do meu olhar como gestor. A Apple é uma empresa global que padroniza tudo, absolutamente tudo que acontece. Ela precisou criar processos e procedimentos extremamente padronizados, que funcionassem com todas as lojas, numa proporção global. Aprendi nessa experiência como gestor que é preciso que seus funcionários caminhem em uma linha coesa, com um obje�vo definido e um caminho que seja mapeado. É preciso profissionalizar a empresa e registrar processos para poder crescer. SABER QUANDO MUDAR É PRECISO Eu mesmo questionei a Apple muitas vezes sobre a forma com que ela trabalhava. Eles viravam para mim e diziam apenas: — Ismael, funciona assim em mais de 200 países. Quem é você para fazer com que a gente trabalhe diferente? A gente passa meses construindo um projeto e um processo, testamos o mesmo até a exaustão. Pode ter certeza de que a gente já gastou a energia que você está gastando para contestar. Fazendo um paralelo com o contexto brasileiro, acredito que tenhamos, hoje, uma cultura nacional em que achamos que “temos que inovar o tempo inteiro”. Temos um espaço que aceita inovações, mas também no qual todos pensam que precisam fazer do seu jeito e que devem modificar as coisas a toda hora. Porque “o meu cliente é diferente, meu mercado é diferente, o meu produto é diferente”. Todo mundo fala isso o tempo todo. Isso, a meu ver, é confundir personalização com justificação. É um cenário generalizado, em que as pessoas gastam mais energia em justificar as particularidades do que padronizar o negócio. Antes de mexer em algo porque “aqui é diferente”, seria mais simples se você entendesse que aquele foi um processo desenhado por alguém que se sentou e pensou na sistemática antes de você, depois de testar da forma que foi concebido. Em um momento em que seja oportuno, você pode argumentar, é possível apresentar provas e sugestões de mudança. Mas o gestor, e isso acontece muito no Brasil, recebe um processo e logo que olha, já quer mudar, sem nem ao menos tentar implementar da maneira que recebeu. Játenta logo “dar a cara dele”, “porque aqui é diferente”. O grande problema que surge no processo é justamente quando o gestor vem com esse “desejo” de “personalizar” tudo. O que por vezes é só uma desculpa, na maioria dos casos o que percebo é que as mudanças apresentadas têm apenas o objetivo de deixar mais confortável o processo para ele, o gestor. Então, mudar, inovar, é bom quando existem razões concretas e mensuráveis para tal, e não por capricho ou conforto diante do processo. É preciso tomar decisões profissionais e não passionais e pessoais. VINHA MAIS POR AÍ Voltando aos processos da Apple, chegou um dia em que eu percebi que não tinha mais para onde crescer com aquele modelo de negócio. Eu sentia necessidade de abrir em outros lugares, eu precisava ir além, ir atrás dos lugares ainda inexplorados por mim. Tínhamos oportunidades em Belo Horizonte e Brasília – e eu nunca tinha ido a nenhuma das duas cidades, nem a turismo. Bati o pé e lá fui eu para os dois locais, conhecer os shoppings e tentar desvendar o mercado. Descobri quais eram os shoppings mais importantes e criei uma sistemática própria para avaliar os pontos dos shoppings que visitava. Eu fazia, acredite se quiser, a contagem de sacolas por corredor de um shopping. Contagem de verdade. Pegava uma prancheta, me sentava em um banco e olhava o que as pessoas que passavam carregavam. Mapeava, assim, onde ficavam as lojas, analisava onde as pessoas andavam com mais sacolas e de que lojas eram a maioria das sacolas. Aprendi diversas informações valiosas sobre shoppings nesse período, como, por exemplo, que eles possuem uma espécie de fluxo previsível, como nas ruas de uma cidade. Existem os corredores que são de passagem, com bastante trânsito de transeuntes, mas outros que são mais de compra e onde o fluxo se torna consumidor. Estudo realizado, abrimos duas lojas em cada uma das cidades, isso ainda no primeiro ano de iPlace. Já estávamos nos tornando um estrondo, onde colocávamos o tapume da obra, virávamos assunto na cidade. Uma vez, no início de uma reforma, fomos o assunto mais comentado no Twitter no Brasil, apenas por conta do tapume do shopping, só para você ter uma ideia. Mas aquilo não era, ainda, a iPlace. Vinha mais por aí. ENTENDER DO NEGÓCIO É FUNDAMENTAL Todo mundo sabia onde ficava a loja da Apple, mas ninguém perguntava ainda “onde é a iPlace?”. Usávamos muito do marketing que a própria marca Apple carregava, o que se tornou um desafio para nós sermos vistos como iPlace. Quando negociava os lugares das lojas, os shoppings já diziam “você é operação destino!”, o que significa que o negociante do shopping sempre queria que eu fosse um puxador de fluxo para o lugar. O que não era viável para a minha operação. Mapeei, em meus planejamentos, que a participação da Apple no mercado de smartphones era de 2% na época, era o início do iPhone e começávamos a vender aos poucos. Se você pensar em números, como aprendi a fazer para negociar, um contingente de 98% do público nem sequer cogita comprar os meus produtos, pelas mais diversas razões, especialmente por preço ou por achar que “não é o produto ideal”. O que significa que, se eu for uma operação destino em um ponto de baixo fluxo, sequer terei a oportunidade de demonstrar minhas soluções à maioria do público. Eu precisava dos pontos de loja bons e não ser uma “operação destino”. Ao montar as operações, administrar as finanças, compras e questões tributárias que tinha que lidar todos os dias eram bem desafiadoras de manter-se equilibradas, por vivermos em um país muito complexo do ponto de vista fiscal. O que me fez aprender muito sobre a parte da gestão contábil, também. Era o meu sonho de consumo? Claro que não! Mas dava resultado ao negócio, e eu gostava disso! Olhava para os créditos de impostos como parte fundamental do negócio, que precisava ser gerido a partir de uma estratégia contábil. Você estuda e conhece as áreas, entende a relação entre elas, junta as estratégias seguindo todas as leis e, assim, reduz significativamente seus custos. As estratégias de melhoria de custos e do balanço do caixa são itens que o administrador ou gestor precisa ter condições de analisar. Não pode ser algo que “deixa apenas para o contador”, não. Também não obriga você a ser um especialista: você pode e deve ter especialistas no seu time, mas não saber nada impede você de interligar as áreas. Os setores de uma empresa funcionam como “miniempresas” dentro da organização. Eles têm seus próprios interesses. O papel de um gestor é organizar esses interesses na direção do interesse maior: o objetivo do negócio. Imagine que eu era a cara da empresa fora do país, com nossos parceiros. Eles queriam vender produtos para nós que tínhamos pensamentos diferentes de outros países. Eu passava uma dificuldade absurda para explicar para os executivos do exterior como funcionava o sistema tributário do Brasil. Encontrar um gestor que possuía conhecimentos sobre áreas diferentes era um diferencial em relação aos outros. Agora imagine se em toda viagem tivesse que levar um contador ou analista fiscal, que, além de impactar custos, mudaria a forma de comunicar com o parceiro de negócios, porque normalmente profissionais dessas áreas não têm grande habilidade de negociação e relacionamento. No Brasil, precisamos ser simples no fazer e substanciais no saber. Chegamos a um outro momento de auge, em que começamos a alavancar as vendas, e continuávamos a expandir para onde tinha abertura. Comecei, então, a marcar as regiões geográficas com os alfinetes. Olhava para o mercado brasileiro por inteiro e pensava “aonde ainda não chegamos?”, eu queria e precisava expandir para todos os lados. Logo, alfinetei mais de 30 lojas, além das que já tínhamos até então. Não apenas como a loja da Apple, viramos a “iPlace” e ganhamos algumas regalias e facilidades em negociações para novas lojas. Tínhamos alcançado um certo patamar de referência. Eu via postagens nas redes sociais onde as pessoas diziam: “Estou na iPlace de Londres, de Paris, de Berlim...” Eram as lojas próprias da Apple, mas a marca iPlace já ficava na mente dos consumidores. As negociações para abrir novas lojas agora eram muito mais fáceis, porque os resultados impressionavam qualquer empresa de shopping center do país. TRAGA AS PESSOAS COM VOCÊ Uma característica que foi fundamental para mim, para me tornar, junto à iPlace, referência no mercado, foi, sem dúvida, ter ousadia. Crescer pode custar caro, e o maior custo possível é perder a essência do seu negócio. Só ousadia não é capaz de formar negócios sólidos. É preciso levar consigo as pessoas, saber explicar os porquês. Uma grande falha da maioria dos gestores é que eles fazem e delegam atividades e ainda acham que não precisam justificar o porquê de estar delegando ou fazendo. Se você consegue convencer as pessoas com o porquê de você fazer o que está fazendo, consegue levar todos com você e gerar segurança para você mesmo e para a equipe. Você não está e não pode estar sozinho nessa empreitada. O gestor e o empresário, quando crescem, eles ficam, normalmente, meio saudosistas do passado. Geralmente os comentários seguem uma linha parecida neste sentido: — Saudade do início. Tinha tudo da minha operação na mão, quando ela era pequena. Tudo era do meu jeito, e funcionava bem. Hoje parece bagunçado, não tem mais a mesma qualidade e essência. E talvez tivesse mesmo. O fato é que os gestores, em sua maioria, pensam seus negócios ou suas equipes como se eles fossem ser gestores das áreas ou das empresas para sempre. Não há engano maior do que isso. Você não estará em toda parte a todo tempo. Sempre organizei minha gestão para que não precisasse de mim. Sempre busquei ser dispensável. Defini que a iPlace deveria ter 100 lojas, e quando abri a primeira loja já pensava: “como deve ser o meu processo nesta loja, para quando tivermos 100”. Sim, seria muito mais simples pensar o processo para apenas uma ou duas lojas. Uma comunicação direta comigo, simples, prática. Uma gestãoem que a equipe sempre pudesse estar perto de mim, ter a minha essência. Mas isso seria possível após a trigésima loja? Eu crio um processo extremamente simples e reproduzível, e aí eu me pergunto: “Será que funciona se eu tiver mais operações? Será que ele funciona em um país com cultura diferente? ”. Tem que pensar na simplicidade de execução, criar processos simples, mas questionar-se para saber até onde vai. Esse processo, do jeito que está, vai funcionar até que ponto de crescimento da minha operação? Como será a checagem desse processo quando você estiver dez vezes maior? O nível dos meus funcionários e gestores permitirá que eles executem esse processo sem precisarem se comunicar comigo? Se a resposta for não, sempre é tempo de repensar. Se você consegue desenhar isso, qualquer processo, por mais simples que seja, e o ideal é que seja, vai funcionar. HÁ REFERENCIAIS NO BRASIL Hoje, sendo conselheiro, posso dizer que Rudinei Rufatto foi uma pessoa que exerceu, mesmo que informalmente, esse papel comigo. Ele começou a parte de informática dentro do grupo Herval, e é um profissional que tem um nível de criatividade muito grande. Ele pensa no consumidor antes do processo do negócio, e isso foi um ensinamento importantíssimo. Algo que ele reforçava muito era que, dentro do alicerce do seu negócio, você precisa pensar em deixar o cliente confortável antes de qualquer coisa, antes de deixar o seu processo agradável para você. A tendência natural de quem cria um processo é facilitar seu controle, esquecendo do consumidor. É o processo de troca, por exemplo, em que você faz com que o cliente tenha uma nota fiscal. É algo comum e que é horrível para o consumidor. Em uma compra no varejo, ele recebe um cuponzinho fiscal que apaga em um mês, e não é nada confortável guardar aquilo! Se não é bom para o cliente, não é bom para o negócio. E uma coisa que o Rudinei fazia o tempo inteiro era questionar qualquer ideia minha: — E o seu cliente? Ficou melhor ou pior para ele? Uma vez, houve uma troca da country manager na Apple e, assim que assumiu, ela me chamou e perguntou por que eles deveriam continuar apostando em nossa empresa em vez de outra concorrente, que pertencia a uma rede de lojas com características premium maior que a nossa. A resposta que dei, prontamente, foi: — Porque o negócio deles acontece dentro do escritório no setor de compras, o meu acontece dentro da loja, no salão de vendas. Escolha como o seu cliente vai comprar. Varejistas costumam ficar focados em comprar muito bem, a preços e condições baixos, que permitam vender barato ou ter grandes margens de lucro. O grande diferencial da iPlace, que eu me preocupava bastante e me preocupo até hoje em todas as funções que assumo, é a experiência do cliente. Desde a entrada na loja até a saída, pensando nele em cada parte do processo. Rudinei foi importantíssimo nesse aprendizado. #SimplesAssim Como falei neste capítulo, a essência do seu negócio se dá pela sua equipe. São as pessoas que farão com que sua cultura seja disseminada quando o negócio crescer. Mais que isso: são as pessoas que farão com que seu negócio seja questionado internamente e mude conforme a necessidade, e é isso que vai garantir sua perpetuidade. E são essas pessoas que escutam o que o seu cliente fala. Vejo gestores e donos de empresas formando suas equipes com o máximo alinhamento com o seu perfil. Quanto mais parecido com ele próprio, melhor. Se você realmente quiser ter um negócio sólido, precisará de pessoas que se complementem, e não que façam a mesma coisa. Sugiro a você fazer uma análise do seu time ideal. Pense no número de pessoas que você gera, mas não pense nas pessoas. Quantas delas deveriam ter cada característica no quadro? Marque um “X” e reflita bem como seria um time totalmente complementar, ao acessar a tabela através do QR code ou link a seguir. https://bit.ly/2y0LfYm Após feito esse exercício, pense na sua equipe e compare com o ideal. Será que você não tem pessoas muito similares e não estão faltando algumas características no seu time? Não estou dizendo que você vai sair mudando sua equipe de uma hora para outra. Mas quem sabe na próxima contratação você já não busca um perfil complementar àqueles que você já tem? SE É BANAL, POR QUE VOCÊ NÃO FAZ? Você, provavelmente, deve pensar que o exercício anterior é algo “banal”. Quantos profissionais fora do perfil que seu negócio precisa hoje, continuam com você? Quantos profissionais parecidos uns com os outros se acumulam dentro da sua empresa? Nossa tendência é de “nos acostumarmos” com as pessoas, ainda que o resultado não esteja acontecendo. E passamos a acreditar que não é possível, pois não conseguimos nos ver reavaliando os recursos que temos em nossas organizações. Ter as pessoas certas, fazendo a coisa certa, parece a coisa mais banal do mundo. Às vezes, as pessoas já foram as certas, mas não são mais. Você só vai saber se tirar tempo para analisar. É tão simples, por que não fazer? PARTE 3: COLOCANDO A GESTÃO DE PONTA CABEÇA, A GRANDE VIRADA “Quanto mais um homem se aproxima de suas metas, tanto mais crescem as dificuldades.” (Johann Goethe - Romancista, dramaturgo e filósofo alemão) 5- PARA CRESCER É PRECISO QUERER E OUVIR O tempo que implantei a iPlace foi também um período muito promissor e de grande aprendizado para mim. Costumo dizer que foi o momento em que eu “bati no teto”, justamente porque considero que cheguei no que eu imaginava ser a fase das minhas maiores conquistas como profissional naquela área. E por incrível que pareça, essas vitórias não se deram somente pela boa fase que vivi, mas principalmente pelas dificuldades que se impuseram sobre o meu negócio e como consegui superá-las. Fazíamos parte de um programa mundial da Apple, que era igual em todos os países, em implantação no Brasil e já consolidado na Europa. Essa gigante da tecnologia não é uma empresa que aceita muitas mudanças, assim como qualquer empresa consolidada. O patamar a que chegou se deu a processos muito bem estabelecidos e cultura clara. Muitas vezes ouvi: — Nosso modelo dá certo no mundo inteiro e não é à toa que somos a marca mais valiosa do mundo. Siga o modelo que funciona, não tente inventar e inovar demasiadamente. Eu só tinha um modelo de loja com pré-requisitos muito bem definidos para instalação: que seja em cidades com mais de 500 mil habitantes e em shoppings de classe A e B. Eu não poderia atender a somente um deles, tinha que cumprir com ambas as exigências. Então, mapeando o Brasil e olhando para o cenário que eu tinha diante de mim, descobri que havia 44 locais possíveis para eu abrir a minha loja e mais outras 14 que estavam na mão de outros parceiros da Apple. Eu não tinha nada além disso, estava em franco crescimento, meu planejamento e minhas negociações já estavam atingindo todos os referidos shoppings. Porém, enquanto eu fazia o meu planejamento, olhava para esse cenário e imaginava como estaria ao atingir todos os shoppings que atendiam estes requisitos. Não imaginava durar mais de dois anos essa expansão. As expectativas não eram boas. Eu temia que a minha operação estagnasse, porque eu não tinha mais como seguir crescendo e sem crescimento, chegaria a um determinado momento em que a Apple iria buscar mais alternativas de levar mais produtos para o varejo. Então, eu deixaria de ser o foco principal e a verdade era só uma: Eu não queria estacionar, eu queria crescer. — O que eu posso fazer? – perguntei à Apple. — Está no limite do programa. É um programa mundial. Mas eu não conseguia me conformar com aquilo. Então, em determinado momento, reuni meus gestores de loja para discutir e eles começaram a falar: — Poxa, mas tem muita gente que frequenta o shopping, que nem parece ter recursos, mas quando entra em uma loja compra um tênis de mais de mil reais. Ouvindo esse tipo de argumento, comecei a pensar que se uma pessoa está disposta a financiar um calçado nessa faixa de preço, por que não compraria um iPhone ou iPad parcelado no