Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
4 INTRODUÇÃO Justamente por ser dotado da inesgotável capacidade de raciocínio e discernimento, o ser humano acumula para si aquela que seja talvez a grande força geradora para novas espécies de Direito: a liberdade de escolha, essa característica leva o indivíduo raciocinar sobre o alcance de nossos atos ou omissões. Por esta circunstância, somos levados a todo o momento a raciocinar a respeito da causa – efeito dos atos ou omissões que praticamos, deixamos de praticar, pois estes atos irão estabelecer nossa conduta perante a sociedade. E mesmo que pratiquemos um permitido por lei dependendo de como isso ocorre, isso pode significar uma lesão ao direito da outra pessoa. No Brasil, até a elaboração do Código Civil de 2002, os danos civis eram apenas indenizados na forma patrimonial, o dano moral aquele que fere a honra, imagem de um individuo para ser indenizado devia ter causado uma conseqüente diminuição ao patrimônio do mesmo, ou seja, tinham que ser conexo os dois. O art. 186, do Código Civil de 2002, diz aquele que causar danos a outrem ainda que meramente moral seja obrigado a repara – lo. Com base neste artigo surgem as novas fontes de indenização do dano moral somente. Hoje no Brasil, vem a tona 5 uma situação que já foi alvo de muitas discussões reparação por perdas danos, do noivo que sem justificativa rompe com seu pretendido, após longa data de noivado. a) Discutir os instrumentos jurídicos do direito civil, através da analise, principalmente do Código Civil, Constituição Federal, que sirvam como base para reparação do dano moral que o individuo venha causar; b) Expor um parâmetro de como os entendimentos tem construído soluções para situações concretas, de modo a impor ao autor provocador da lesão a responsabilidade de reparação do dano. c) Mostrar como pode se passível de reparação por dano moral, quando um dos esponsais desiste do matrimonio sem justificativa. - o tema do trabalho não é a responsabilidade por dano moral no caso de ruptura de noivado? Nada foi falado sobre isso na introdução! 6 CAPITULO 1 A REPARAÇÃO DO DANO MORAL NO DIREITO BRASILEIRO. 1.1. ASPECTOS HISTORICOS Anterior a vigência do Código Civil brasileiro de 1916, o amparo as reparações de danos eram encontradas no Código Penal de 1830, no sentido de que “ a indenização será sempre a mais favorável e completa que for possível; no caso de duvida, será a favor do ofendido”. Mas ali não aludia a reparação do dano moral, apenas deixava bem claro que, nos casos de responsabilidade delitual, a indenização deveria ser plena. Posteriormente tal dispositivo foi reproduzi no art. 800 da Consolidação das Leis Civis der Augusto Teixeira de Freitas, mas não foi dada a merecida atenção a essa consolidação uma vez que ela só servil como base para elaboração do Código Civil da Argentina. Quanto a reparação do dano moral propriamente dito, encontramos indícios da sua regulamentação apenas em alguns 7 dispositivos especiais que tratavam de certas indenizações em dinheiro. Um exemplo, o título 38 do Livro 3º. das Ordenações prescrevia a obrigação de pagar indenização em dinheiro na hipótese de demanda por divida já paga, em que se mandava restituir em dobro o que se houvesse recebido. O art. 276 do Código Penal brasileiro de 1890, por sua vez, assegurava, expressamente, prestação pecuniária satisfatória de dano moral, nos casos de atentados contra a honra da mulher. E o art. 70 do mesmo Código dizia, em regra e nos demais casos, regular pelo Direito Civil a indenização do prejuízo sofrido. Em caso de o homem que dormisse com mulher ainda virgem, mesmo que essa não aceitasse se casar com esse homem, ele era obrigado a ressarci o dano causado, pagando um valor em dinheiro (dote), sendo a única modalidade de indenização por dano moral puro. Antes da vigência do Código Civil brasileiro de 1916, ou se negava a reparabilidade do dano moral ou se considerava indenizável apenas o dano patrimonial da vítima, empobrecimento. Desta forma, escreveu o juiz Luís Augusto de Carvalho e Melo em uma de suas decisões de primeira instância. 8 ● “O dano moral, porém, não é indenizável pelo nosso Direito. A obrigação entre a parte ofendida e o advogado é para o autor do dano “res inter alios” (coisa feita entre terceiros).”17 ● “A legislação pátria nunca consagrou a obrigação de indenizar danos puramente morais, insuscetíveis de serem avaliados em dinheiro. Não se reduzem a moedas os sentimentos, nem se tarifam as afeições.”18 ● “Não se poder resolver em dinheiro a dor que alguém sofre pela morte de outrem.”19 Em 1988, foi elaborada a então vigente Constituição Federal brasileira, que traz em seu art. 5º, V, X, o principio geral que diz, é assegurado direito de resposta, na proporção do agravo, alem de indenização por material, moral, imagem, sendo invioláveis, intimidade, vida privada, honra, imagem, das pessoas, sendo possível a indenização do dano material e moral, pela sua violação. Ai em diante teve-se um embasamento jurídico para que desse causa uma serie de ações para houvesse o ressarcimento em valor pecuniário (dinheiro), de uma lesão sofrida pela vítima apenas psicológico, sem causar nem uma redução no seu patrimônio, como sendo um principio ainda precisaria é claro de mais respaldo, com essa preocupação o legislador, constrói o nosso então vigente Código Civil brasileiro 2002, com sua 9 elaboração Miguel Reali, em observância a hierarquia constitucional ele criou o art. 186, que vai regulamentou o dispositivo supra mencionado na CF/88, o artigo diz claramente: quem por negligencia, imprudência, imperícia, violar direito, causar dano a outrem ainda que exclusivamente moral, esta comento ato ilícito. Assim sendo com o novo diploma, o dano moral puro, direto, passa ser perfeitamente indenizável, e mais podendo ser ao livre arbítrio do Julgador para estipular o valor do pagamento em dinheiro pelo dano causado, devendo para isso levar em consideração as provas obtidas, o tamanho da lesão sofrida, as condições de quem praticou o ato e etc. 1.2. Distinção entre dano moral e material Segundo Alfredo Minozzi, a distinção entre dano moral e dano material, ao contrario do que parece, não decorre da natureza do direito, bem ou interesse lesado, mas do efeito da lesão, do caráter da sua repercussão sobre o lesado. Tanto que pode ocorrer, inestimabilidade do bem lesado, se bem, que em regra, constitua a essência do dano moral, não é critério definitivo para a distinção, convindo, pois, para caracteriza-lo, compreender o dano 10 moral e relação ao seu conteúdo, que não é dinheiro, nem coisa comercialmente reduzida a dinheiro, mas a dor, o espanto, a emoção, a vergonha, a injúria física ou moral, em geral uma dolorosa sensação experimentada pela pessoa, atribuída à palavra dor o mais largo significado. O dano material é oriundo da ofensa ao patrimônio da vítima, o interesse expresso de causar considerável diminuição no montante em dinheiro, valor pecuniário, que pode advir de um contrato entre partes, aonde um induz o outro ao erro, ao contrario ao vimos no dano moral aqui, em regra será sempre passível de dar o valor a lesão. Para alguns doutrinadores, também pode perfeitamente haver uma cumulação de danos entre dano moral e material, para Maria Helena Diniz, após definir o dano moral como lesão de interesses não patrimoniais de pessoa física ou jurídica provocada pelo fato lesivo, escreve que qualquer lesão que alguém sofra no objeto de seu direito repercutirá, necessariamente, em seu interesse; por isso, quando se distingue o dano patrimonial do moral, o critério da distinção não poderá, segundo ela, ater-se à natureza ou índole do direito subjetivo atingido, mas ao interesse, que é pressuposto desse direito, ou ao efeitoda lesão jurídica, isto é, ao caráter de sua repercussão sobre da lesão jurídica , isto é, ao caráter de sua repercussão sobre o lesado, 11 pois somente desse modo se poderia falar em dano moral, oriundo de uma ofensa a um bem material, ou em dano patrimonial indireto, que decorre de evento que lesa direito extrapatrimonial, como, por exemplo, direito à vida, à saúde, provocando também um prejuízo patrimonial, como incapacidade para o trabalho, despesas com o tratamento etc. De mesma forma que a integridade física corporal, que é um direito da personalidade, pode sofrer um prejuízo patrimonial, caso em que a lesão será representada pelas despesas (dano emergente) com o tratamento da vítima, e pagamento da perda da capacidade para o trabalho mesmo que seja temporário (lucros cessantes). Podendo assim existir uma coexistência entre ambos os interesses como pressupostos de um mesmo direito, desta forma o dano pode lesar tanto direito patrimonial ou extrapatrimonial. A jurisprudência inclusive já se posicionou em relação a essa questão. A sumula 37 do Superior Tribunal de Justiça declarou que são cumuláveis as indenizações por dano moral e material oriundas do mesmo fato. CAPITULO 2 12 DO NOIVADO 2.1. DO NOIVADO HISTÓRICO Noivado configura-se como o compromisso, firmado entre um homem e uma mulher, de contraírem futuro matrimônio. O foco específico desta dissertação é analisar a possibilidade de indenização por danos materiais e morais em razão do rompimento de noivado. Os antepassados do noivado estão ligados ao instituto denominado “esponsais”, nomenclatura deixado pelo Direito Romano, que representavam a promessa solene de contrair futuro matrimônio (sponsalia sunt mentio et repromissio nuptiarum futurarum). Entre os romanos, o compromisso de casamento era realizado com assentimento dos pais e em cerimônia familiar realizada com a presença dos amigos mais próximos. O noivo presenteava a noiva com o anel esponsalício, ritual que, nos dias de hoje, ainda costuma ser efetivado, todavia com simbolismos diferentes, haja vista o hábito de que, com o noivado, os noivos passem a ostentar alianças em um dos dedos da mão direita. Com esta exposição, fica claro e pacífico que a mentalidade no sentido de não deixar irreparado um prejuízo experimentando em razão de rompimento de noivado tem nuança no Direito 13 Romano, onde existia inclusive a previsão das chamadas (arras esponsalícias), ou seja, em caso de rompimento de noivado, o noivo responsável por tal, poderia perder o valor das “arras” ou até mesmo ser compelido a pagá-las em triplo ou em quádruplo. Também merece registro histórico, provinda do Direito Romano, a “actio de sponsu”, ou seja, um ato implementado para gerar indenização acerca do rompimento de noivado. Embora não receba expresso tratamento legal no ordenamento jurídico brasileiro, o noivado não deixa de merecer atenção da doutrina e da jurisprudência, uma vez que trata-se de comportamento que pode gerar direitos e obrigações facilmente alcançadas no mundo jurídico. O noivado configura uma realidade social diferenciada de um simples namoro, porém mais embrionário se comparado a um casamento ou mesmo a união estável. Não pode ser considerado como instituto do Direito de Família, até porque o noivado está ainda na fase embrionária da formação de uma família, mas há possibilidade de ser inserido nos estudos respectivo ao Direito das Obrigações e da Responsabilidade Civil. Há algumas legislações alienígenas que admitem expressamente a reparação por danos de ordem material e moral decorrentes da quebra de promessa de casamento. Exemplificando tal quadro, cabe dizer que no Código Civil Italiano a matéria é tratada no art. 81 .1 Findando esta explanação inicial, cumpre trazer à baila o seguinte esclarecimento de Lino Eduardo Araújo que, ao 1 Redação do art. 81 do Código Civil Italiano. 14 estabelecer requisitos para cabimento da indenização por danos morais e materiais diz o seguinte 2: “Para a propositura da competente ação de indenização, é indispensável a concorrência dos seguintes requisitos básicos: a) promessa de casamento (cuja prova poderá ser feita por meio de testemunhas, correspondências trocadas pelos nubentes, convites para o casamento, documentos que demonstrem os preparativos do matrimônio e quaisquer outras provas admitidas em direito); b) ruptura injustificada do casamento; e, c) prova do prejuízo ou do dano causado pelo rompimento imotivado”. 2.2. NATUREZA JURÍDUCA CONSIDERAÇÕES SOBRE O CASAMENTO. 2 PINTO, Lino Eduardo Araújo. Noivado: possibilidade de reparação dos danos pelo seu rompimento. 15 Tendo em mente a forte idéia de que o noivado configura-se como um início de compromisso para o casamento, um detalhado estudo sobre a matéria não pode deixar de apreciar este tópico com os cuidados que se fazem necessárias. Assim sendo, é mister traçar um sucinto roteiro da natureza jurídica do casamento, atitude que facilitará na compreensão da formatação do arcabouço jurídico do noivado. Muitas são as definições doutrinárias acerca da definição do que seria casamento. Com o escopo de ilustrar bem o tema, imperativo trazer para a colação o seguinte ensinamento de Borges Carneiro 3: “Matrimônio é associação permanente do homem e da mulher, instituída por Deus, para gerar e educar filhos, e para recíproco socorro de ambos. É originariamente um contrato: a Religião porém o consagrou e elevou à dignidade de sacramento”. Nesta arguta conceituação alguns caracteres e efeitos do casamento podem ser facilmente visualizados. Senão vejamos: a) O casamento trata-se de enlace com diversidade de sexos, algo que mostra-se absolutamente oposto ao enlace de pessoas do mesmo sexo; 3 CARNEIRO, Borges apud Diniz, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 17ª edição. São Paulo: Saraiva, 2002. volume 05. p. 43 16 b) O casamento tem o finalidade inaugural de ser uma relação permanente, eterna, o que não afasta, contudo, a possibilidade de dissolução de tal vínculo; c) O casamento se presta à formação de uma família, com finalidade à instituição de prole e perpetuação da espécie; d) Não é oportuno deixar de considerar o imprescindível aspecto solidário do casamento, na medida em que homens e mulheres tem deveres indelegáveis de auxílio mútuo; e) O casamento pode ser considerado como um contrato. Em relação ao último item em específico, é oportuno sustentar alguma discussão doutrinária. Não existe uniformização do entendimento quanto à natureza jurídica do casamento, parecendo eterna a disputa entre aqueles que concebem o matrimônio como contrato e outros que defendem a bandeira do casamento enquanto instituição. Parcela significativa da doutrina francesa, tendo como grande doutrinador, Marty e Raynead, é de cunho anticontratualista, ou seja, inclina-se para a teoria da instituição, partindo do pressuposto de que o estado matrimonial se define como um estatuto imperativo pré-organizado, ao qual aderem os que se casam. A doutrina do casamento como instituição apareceu inicialmente como uma espécie de reação publicista a determinados excessos privados da concepção contratualista. O casamento deveria ser enxergado como um “status” dotado com certa estabilidade para determinados fins. Pensando assim, o matrimônio caracteriza-se como um estado, quais os nubentes ingressam, 17 fazendo parte de uma grande instituição social que, se por um lado reflete uma situação jurídica resultante da vontade dos contraentes, por outro lado obedecem à normas, efeitos e condições fixados na lei. Neste sentido, é válido destacar o que Maria Helena Diniz aponta sobre o assunto4 : “As partes são livres, podendo cada uma escolher o seu cônjuge e decidir se vaicasar ou não; uma vez acertada a realização do matrimônio, não lhes é permitido discutir o conteúdo de seus direitos e deveres, de modo pelo qual se dará a resolubilidade da sociedade ou do vínculo conjugal ou as condições de legitimidade da prole, porque não lhes é possível modificar a disciplina legal de suas relações; tendo uma vez aderido ao estado matrimonial, a vontade dos nubentes é impotente, sendo automáticos os efeitos da instituição por serem de ordem pública ou cogentes as normas que a regem, portanto iniludíveis por simples acordo dos cônjuges”. Colocando um pouco mais de complexidade nesta discussão, deve-se mencionar a existência de uma doutrina eclética ou mista, que procura uma fusão entre as concepções de cunho contratualista e institucionalista, algo que Rouast qualificou como “ato complexo”. 3 CARNEIRO, Borges apud Diniz, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro. 17ª edição. São Paulo: Saraiva 2002. volume 05. 4 op.cit.p. 43 18 2.3. DO NOIVADO NATUREZA DE CONTRATO A concepção contratualista tem sua gênese no Direito Canônico, isto é, tem origens inicialmente de cunho acentuadamente religioso. Este pensamento ganhou corpo no Direito Natural, adquirindo espaço no racionalismo jusnaturalista do século XVII, sendo inclusive incluída, com o advento da Revolução Francesa, no Código Francês de 1804, algo que teve notáveis influências na Escola Exegética do século XIX. A concepção contratualista do casamento sofreu grande mutações comparado à sua elaboração originária. Com uma idéia inicial de mero contrato civil, regido pelas normas comuns a todos os contratos, evoluiu para a configuração como contrato especial de Direito de Família ou contrato sui generis, uma vez que, em razão de certas particularidades legais, não se aplica fielmente ao casamento todos os parâmetros das características contratualista meramente de cunho patrimonial. Silvio Rodrigues trabalha com a mentalidade do casamento como contrato de Direito de Família, postando-se decisivamente contrário a um olhar apenas institucionalista. Expondo trecho da obra deste valoroso pensador do Direito, tem-se o seguinte: 5 “Todavia, por mais sedutora que se revele esta última concepção, não se pode negar o substrato contratual que se encontra no casamento. Em rigor, se a mera idéia de um contrato, semelhante aos demais contratos de direito privado, não é suficiente para explicar a natureza do casamento, pelo menos como a lei o disciplina,, o conceito de instituição, na forma acima exposta, tampouco basta para explicá-la. Trata-se, sem dúvida, de um ato complexo, em que une o elemento volitivo ao elemento institucional. 5 RODRIGUES, Silvio. Direito civil. 30ª edição. São Paulo: Saraiva, 2001. volume 6. p. 18-19 19 (...) Portanto, trata-se de uma instituição em que os cônjuges ingressam pela manifestação de sua vontade, feita de acordo com a lei. Daí a razão pela qual, usando de uma expressão já difundida, chamei ao casamento contrato de direito de família, almejando, com essa expressão, diferenciar o contrato de casamento dos outros contratos de direito privado”. Para que a idéia do noivado ganhe maior expressão e, por conseguinte, receba trato legal mais robusto, é mais interessante inserir o casamento na esfera de um direito contratual, posicionamento que tornará menos o esforço no sentido de conferir natureza jurídica ao noivado. 2.4. DO NOIVADO CONTRATO PRELIMINAR VERBAL O noivado via de regra, não é revestido de maiores solenidades. Tão pouco, por exemplo, que compromissos de noivado sejam pactuados por escrito e torna-se muito mais difícil ainda pensar na possibilidade de um noivado levado a registro público. Isto não retira a necessidade de que o Direito reconheça o noivado como um comportamento gerador de direitos e obrigações para os noivos e que assim, portanto, mereça apuro acadêmico em seu estudo e cuidado na confecção de acórdão legais e jurisprudenciais. A contemporânea acepção do Direito Civil, recheada de inovações estabelecida pela Lei 10.406/02 (o Novo Código Civil), obriga o sensato jurista a reformular o pensamento civilista, adequando-o, definitivamente, às balizas mestres traçadas no constitucionalismo pátrio. Em bom português: o Direito Civil deve ser estudado à luz da Constituição Federal de 1988. Com isto, fica cada vez mais clara uma condenação à visões egoístas sobre a formação e dissolução do noivado, 20 acentuando-se à ampla aversão aos primados estritamente privatistas sobre o tema. Um noivado está longe de ter a mesma imponência e sistemática jurídica de um casamento, mas, na medida em que existe até como compromisso para a existência futura do casamento, também proíbe qualquer dos noivos de atos unilaterais notadamente agressivos à dignidade alheia. Em uma visão mais simplista, é bom dizer que um noivo não pode fazer o que bem entender com seu consorte, havendo valores éticos, morais e jurídicos a serem observados. Ora, se o casamento é um contrato e o noivado simboliza compromisso no sentido de firmar futuro casamento, nada mais simples do que dizer que o noivado pode ser reputado como um pré-contrato ou contrato preliminar. Contudo, que, por óbvio, o noivado, embora enxergado na ótica do pré-contrato, nem sempre resulta obrigatoriamente em casamento. Pode os noivos construir uma expectativa de casamento, mas isto não quer dizer que efetivamente irão se casar. Não é razoável pensar em tornar obrigatório tal comportamento, sob pena de grandiosa violação a um dos princípios básicos do casamento, qual seja, a liberdade dos “candidatos a contraentes” de firmar ou não o matrimônio. Nesta esteira, Silvio Rodrigues diz o seguinte:6 “ Todavia, é possível que o rompimento unilateral e injustificável da promessa de casamento venha a trazer dano a um dos noivos. Em face do que foi dito, o arrependido não pode ser forçado a casar-se. Entretanto, a questão a ser encaminhada é a de saber se poderá o arrependido ser compelido a reparar o prejuízo derivado de seu intempestivo e injusto arrependimento”. 6 RODRIGUES, Silvio. Direito civil. 19º edição. São Paulo: Saraiva, 2002. volume 04. p. 38 21 Diante de todo o exposto, é possível concluir que: • O noivado não prescinde de formas solenes para ser pactuado, bastando o assentimento verbal; • O noivado, na medida em que atesta compromisso de casamento, e considerado o casamento como um contrato, revela-se como pré-contrato; • O noivado merece estudos mais acurados na seara do Direito Obrigacional, mais especificamente no campo da Responsabilidade Civil. CAPITULO 3 3.1. DO NOIVADO POSSIBILIDADE DA INDENIZAÇÃO A noção da responsabilidade pode ser retirada da própria origem da palavra, que vem do latim “respondere”, responder a alguma coisa, ou seja, a necessidade que existe de responsabilizar alguém por seus atos danosos. Os estudos acerca da responsabilidade civil vêm cada vez tomando mais vulto e o implemento do novo Código Civil impulsionou ainda mais este processo. Há um pulcro espetáculo da jurisprudência no sentido de fixar novos parâmetros para a responsabilidade civil, implementando hermenêuticas modernas aos preceitos legais e doutrinários que orientam a matéria. 22 Ainda assim, inexoravelmente, o estudo da responsabilização civil demanda, a priori, análises acerca dos seus pressupostos de ocorrência, a doutrina cita tais pressupostos da seguinte maneira: a) Ação ou omissão do agente; b) Culpa do agente; c) Relação de causalidade; d) Dano experimentado pela vítima. A ação ou omissão do agente simboliza o dever de todos de praticar o bem, evitando danos a outrem. A responsabilidade do agente pode nascer de ato próprio, de ato de terceiro que esteja sob os cuidados do agente e até mesmo por intermédiode coisas que estejam na guarda do agente. A culpa também é um pressuposto da responsabilidade civil que merece avaliação criteriosa. Se alguém causou prejuízo a outrem em virtude de ação ou omissão voluntária, negligência, imperícia ou imprudência, fica obrigado a proceder à reparação do mal causado. A relação de causalidade ou nexo causal revela-se na medida em que é fundamental fazer a prova da existência de uma ligação visível entre a ação ou omissão culposa do agente e o dano experimentado pela vítima. Se a vítima sofrer um dano, mas evidenciar-se que esta mazela não adveio de conduta dolosa ou culposa do agente inicialmente acusado, não há que se falar em responsabilização, hipótese freqüente, por exemplo, nos casos de culpa exclusiva da vítima, caso fortuito e força maior. Imperioso destacar a necessidade de que a responsabilidade civil tenha como um de seus pressupostos a existência concreta de um dano, um prejuízo concreto a alguém. 23 Em sua ilustre obra, Rui Stoco ensina o seguinte:7 “(....)essa imposição estabelecida pelo meio social regrado, através de integrantes da sociedade humana, de impor a todos o dever de responder por seus atos, traduz a própria noção de Justiça existente no grupo social estratificado”. Todos estes pressupostos da responsabilidade civil foram relativamente bem sintetizados na redação do art. 186 do Código Civil, que reza o seguinte: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. De fato, o abuso de direito, que na tradição civilista anterior era apenas tacitamente reconhecido no Código Civil de 1916 (art. 188, I), logrou espaço, ganhou autonomia e, no novo Código Civil, deu trato especial no art. 187, que diz o seguinte: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes”. 7 STOCO, Rui. Responsabilidade civil e sua interpretação jurisprudencial. 4ª edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999.p. 59 24 3.3. FIXAÇAO DE INDEIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS O enfoque do momento é analisar a viabilidade de tal indenização na esfera dos danos materiais. Dando fundamento legal à matéria, a Lei 10406/02 (Novo Código Civil), em seu art. 927 prevê o seguinte: “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. Concluídas tais considerações, o cuidado agora deve ser como aquilatar os danos materiais, ou seja, que tipo de evento ocasiona a incidência de responsabilidade civil inerente a esta hipótese de dano.Lino Eduardo Araújo Pinto assim trata a matéria:8 “Para fins de reparação, são levadas em consideração todas as despesas realizadas em razão do noivado e/ou prejuízos daí advindos com o seu rompimento. Como exemplo podemos citar um o do nubente que perde oportunidade de ser promovido para melhor cargo, ou função dentro da empresa onde trabalha, em virtude da sua recusa em aceitar diante da proximidade do casamento. O efeito parda que haja reparação do dano material, é preciso que o juízo sofrido pela parte tenha acarretado diminuição do patrimônio”. Também discorrendo sobre o assunto, Eduardo Cambi expõe o seguinte:9 “Na esfera patrimonial, os prejuízos mais comuns são os danos emergentes, que constituem na efetiva diminuição do patrimônio da vítima. Em razão da cada vez mais especializada ‘indústria do casamento’, com a prestação de serviços dos mais variados, e com os demais dispêndios que os preparativos deste evento e desta ‘mudança de vida’ sempre causam, os danos podem incluir, dentre outros: os gastos, efetuados por uma das 8 op.cit. p. 01-02 9 op.cit.p. 02 25 partes antes do rompimento do noivado, com a aquisição de alianças, o aluguel do salão de festas, o buffet, o conjunto musical, os arranjos de flores, os convites, a cerimônia religiosa, o vestido de noiva ou a roupa do noivo, o bolo, a compra ou a locação de imóvel para futura residência, o pacote de viagens programado para a lua-de-mel, as peças do enxoval, os móveis e eletrodomésticos adquiridos etc. Além da existência destes danos emergentes, não se pode ignorar a possibilidade de haver lucros cessantes, que são aqueles que resultam da frustração da expectativa de lucro, desde que entre a conduta lesiva e o dano exista uma relação de causa e efeito direta e imediata, conforme prevê o artigo 1060 do Código Civil. Por exemplo, aquela pessoa que, sendo servidora pública, obteve licença sem vencimentos, com o objetivo de se mudar para a cidade em que o outro nubente reside ou para se dedicar integralmente aos preparativos do casamento, pode obter, a título de lucros cessantes, a indenização dos vencimentos que deixou de receber, em razão da não celebração culposa do casamento. No entanto, para haver o reconhecimento judicial desses danos materiais, bem como para se precisar a sua extensão e a sua quantificação, é indispensável à realização de prova, cujo ônus cabe ao autor (CPC, art. 333, I)”. Para terminar o assunto o assunto, recorremos mais uma vez aos sábios e nuca desprezíveis ensinamentos de Silvio Rodrigues:10 “Parece-me, entretanto, que a despeito do silêncio da lei, o rompimento injustificado do noivado justifica a ação de reparação do dano causado. Se por força da promessa de casamento a noiva adquiriu enxoval e nas peças mais caras fez bordar as iniciais do futuro marido; se o noivo alugou prédio para a futura residência, comprou móveis que ficariam inaproveitados; se a noiva pediu demissão de seu emprego com a concordância de seu noivo, para dedicar-se desde logo aos aprestos das bodas e do lar que iam constituir; em todas essas hipóteses e outras semelhantes entendo que a ação de indenização pode ser proposta pelo prejudicado, com fundamento na regra geral do art. 186 do Código Civil.”. 10 op.cit. p. 40-41 26 3.4. DO NOIVADO VIABILIDADE DA INDENIZAÇAO POR DANOS MORAIS O dano moral, na maioria dos casos, representa uma ferida aberta na vida do lesionado, um trauma que abala sensivelmente os valores mais íntimos do atingido, não podendo ser apagado definitivamente. Ao contrário dos danos materiais, nos quais a reconstrução patrimonial firmada pela responsabilização civil do ofensor pode evitar cicatrizes perenes, os danos morais, quando muito, podem apenas ser minorados com o implemento de indenização. Explanando sobre a matéria com a clareza habitual, Humberto Theodoro Júnior assim leciona:11 “No convívio social, o homem conquista bens e valores que formam o acervo tutelado pela ordem jurídica. Alguns deles se referem ao patrimônio e outros à própria personalidade humana, como atributos essenciais e indisponíveis da pessoa. É direito seu, portanto, manter livre de ataques ou moléstias de outrem os bens que constituem seu patrimônio, assim como preservar a incolumidade de sua personalidade. É ato ilícito, por conseguinte, todo o ato praticado por terceiro que venha refletir, danosamente, sobre o patrimônio da vítima ou sobre o aspecto peculiar do homem como ser moral. Materiais, em suma, são os prejuízos de natureza econômica, e, morais, os danos de natureza não-econômica e que ‘se traduzem em turbações de ânimo, em reações desagradáveis, desconfortáveis, ou constrangedoras, ou outras deste nível, produzidas na esfera do lesado’ (CARLOS ALBERTO BITTAR, Reparação Civil por Danos Morais, 2ª ed., São Paulo, Revista dos Tribunais, 1993, n.5, p. 31). Assim, há dano moral quando a vítima suporta, por exemplo, a desonra e a dor provocadas por atitudes injuriosas de terceiro, configurando lesões nas esferas interna e valorativa do ser como entidade individualizada (idem, n. 6, p. 34). De maneira mais ampla, pode-seafirmar que são danos morais os ocorridos na esfera da subjetividade, ou no plano valorativo da pessoa na sociedade, alcançando os aspectos mais íntimos da personalidade humana (‘o da intimidade e da consideração pessoal’), 11 THEODORO JR., Humberto. Dano moral. 3ª edição. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2000.p. 02-03 27 ou o da própria valoração da pessoa no meio em que vive e atua (‘o da reputação ou da consideração social’) (idem, n. 7, p. 41)”. No ordenamento jurídico pátrio, o instituto dos danos morais encontrou, durante bom tempo, forte resistência, posicionamento que tinha como uma de suas escoras principais o fato da não inserção em textos legais deste tipo de dano. A Constituição Federal de 1988, seguindo a mais acertada jurisprudência e doutrina, espancou completamente o problema, uma vez que, de forma expressa, no art. 5º, V, consagrou a possibilidade de reparação por danos morais. O Novo Código Civil, reproduzindo este pensamento, expressamente inseriu a possibilidade de reparação por danos morais no já mencionado art. 186. Ainda assim, o instituto dos danos morais permanece recheado de polêmicas, dúvidas, paradoxos e variantes intermináveis. Uma dificuldade monstruosa, por exemplo, liga-se à fixação de critérios para arbitramento quantitativo do dano moral no caso em concreto. A honra, o decoro, a dignidade de uma pessoa representam idéias muito íntimas, portanto carregadas de alto teor de subjetivismo. Logo, não é sem lugar a seguinte pergunta: quanto vale a moral de alguém? Responder tal questionamento eqüivaleria a encontrar-se o Santo Graal, o Cálice Sagrado do Direito, tarefa de dificuldade ainda para grandes e embates doutrinários, tarefa epeopeica... 3.5. Fixação de indenização por danos morais 28 Para esse embate nada melhor do que atentar para mais umas vez o ensinamentos do ilustre doutrinador, Silvio Rodrigues: 12 “A meu ver, repito, desde que haja rompimento injusto do noivado- e esse é o requisito básico para que a demanda possa prosperar-, pode o prejudicado, a despeito do silêncio da lei, reclamar a indenização do prejuízo experimentado. Entendo ademais que, em face do rompimento injustificado do noivado, poderá o juiz, igualmente, fixar uma indenização moderada para a reparação do dano moral”. A idéia do nobre doutrinador realmente traduz o pensamento mais avançado sobre a matéria, ou seja, o rompimento do noivado, desmotivado e lesivo ao noivo abandonado gera a possibilidade de reparação por danos morais. O Direito deve sempre estar atento à demanda social e não tolerar a transformação do livre arbítrio em mecanismo de menoscabo aos sentimentos alheios. Apontando para obtenções não se circunscrevem somente às dissertações doutrinárias, existindo crescente amparo jurisprudencial para o pensamento aqui esposado. Julgado do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, de 5 de maio de 1982, tem a seguinte ementa: “CASAMENTO- Promessa- Noivado- Rompimento três dias antes do dia do matrimônio- Culpa- Indenização- Ação ajuizada pela noiva- Procedência” A promessa de casamento é contrato preliminar e à responsabilidade dele decorrente subordina-se caráter abusivo do rompimento. Os princípios que impedem a executividade da promessa de casar não significam que sua ruptura culposa seja indiferente ao Direito. A configuração da culpa extracontratual pelo rompimento injustificado do compromisso importa reparação através de indenização abrangente das despesas feitas em contemplação do noivado e dos prejuízos resultantes da ruptura da promessa a título de danos emergentes, a serem apurados em execução de sentença. No aresto ainda se cogita da indenização do dano moral, pois estes, conjuntamente com os prejuízos materiais resultantes do ato ilícito, deverão ser apurados em execução” (RT, 567/174) 12 op.cit. p.39 29 “INDENIZATÓRIA- RESPONSABILIDADE CIVIL- ESPONSAIS- DANOS MORAIS E MATERIAIS- Ruptura de noivado às vésperas do casamento e após distribuição de convites. Incontrovérsia em relação ao rompimento. Danos materiais devidos. Desnecessidade de prova do dano moral, considerado notório o sofrimento de noiva jovem, protagonista de relacionamento que durou 5 anos. Preliminares rejeitadas. Condenação afastada em face dos benefícios da gratuidade judiciária. Recurso provido em parte. (TJSP- AC 89.944-4- 6ª CDPriv.- Rel. Des. Munhoz Soares- J. 16.03.2000)”. INDENIZAÇÃO- ROMPIMENTO DE NOIVADO – DANO MORAL E MATERIAL – RESSARCIMENTO. JoÆo Batista Cƒndido -A ruptura, sem motivo plausível, da promessa de casamento pode dar lugar a indenização decorrente de dano material, evidenciado pela aquisição do enxoval e contribuição para construção da casa, e da reparação, decorrente de dano moral, posto que o rompimento do noivado sempre afetará a pessoa da mulher, atingindo, de alguma forma, sua honra e seu decoro. -Recurso a que se nega provimento. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 200.791-0 da Comarca de PASSOS, sendo Apelante (s): OTACÍLIO GARCIA DOS REIS e Apelado (a) (os) (as): NAIR FRANCISCO DE OLIVEIRA. ACORDA, em Turma, a Terceira Câmara Civil do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, NEGAR PROVIMENTO, VENCIDOS PARCIALMENTE OS JUÍZES REVISOR E VOGAL. 30 Presidiu o julgamento o Juiz DORIVAL GUIMARÃES PEREIRA e dele participaram os Juizes DUARTE DE PAULA (Relator), KILDARE CARVALHO (Revisor vencido parcialmente) e XIMENES CARNEIRO (Vogal vencido parcialmente). Belo Horizonte, 06 de dezembro de 1995. JUIZ DUARTE DE PAULA Relator JUIZ KILDARE CARVALHO Revisor vencido parcialmente JUIZ XIMENES CARNEIRO Vogal vencido parcialmente APELAÇÃO CÍVEL Nº 200.791-0 - 06.12.95 PASSOS VOTOS O SR. JUIZ DUARTE DE PAULA: Da sentença julgando procedente ação de indenização que lhe propôs 31 a apelada, recorre o réu, objetivando a inversão do julgado, alegando que o instituto dos esponsais tornou-se obsoleto e o fato de Ter desfeito o noivado com a apelada não cabe indenizá-la por danos morais, dada a falta do vínculo matrimonial, se insurgindo contra a verba destinada à reposição do enxoval adquirido por ela, pelo que deve ser entregue a ele as peças que pagar, caso em que ocorreria o “bis in idem”. Quanto à indenização pela participação da apelante na construção da casa, diz improceder vez que não comprovado documentalmente, sendo a prova testemunhal destituída de credibilidade. Conheço do recurso, eis que presentes seus pressupostos de admissibilidade. Versa a espécie sobre uma ação de indenização, proposta pela apelada NAIR FRANCISCO DE OLIVEIRA contra o apelante que teria prometido casamento mediante o comprovado noivado de 17 anos, tendo participação ativa na construção da casa que seria utilizada pelo casal, além de Ter efetivado gastos com o enxoval necessário para o ato, pleiteando ainda a título de danos morais pelo rompimento do noivado, reparação que entende reparadora pelos danos sofridos por comentários, vexames e humilhações que sofreu. O MM. Juiz “a quo” para assim decidir o pleito indenizatório, objetivando o reconhecimento do direito da apelada em se ver ressarcida pelos danos morais e materiais, baseou-se no fato de que ficou provado, de forma inequívoca a sua participação na aquisição do patrimônio do casal, assim como ficou evidenciado o trauma advindo do rompimento do noivado. Rebela-se o apelante contra tal decisão negando a participação da apelada na construção da casa, rebatendo ainda no tocante a existência de dano moral. 32 Tenho porém que não lhe assiste razão. Ora, o matrimônio é sempre precedido de uma promessa de casamento, de um compromisso, que duas pessoas de sexo diferente assumem reciprocamente. A ruptura, sem motivo, pode dar lugar a umaindenização, face às suspeitas que ela fará pesar sobre a pessoa abandonada, e se a reparação pode concernir a um prejuízo de ordem material, é mais comum invocar-se o dano moral causado à noiva, uma vez atingida em sua reputação. Como é sábio, as nossas disposições de lei houve por bem disciplinar os esponsais como instituto autônomo, preferindo, conforme assina uníssona doutrina, deixar a responsabilidade civil pelo rompimento da promessa sujeita à regra geral do ato ilícito. Daí concluir-se que o silêncio do Código Civil não obsta que os esponsais possam dar causa a uma indenização por danos efetivo. 33 CONCLUSÃO Com intento acentuadamente didático, procurando compilar idéias de forma organizada e inteligível, crê-se que o tema indenização por rompimento de noivado forneceu a oportunidade para fortalecer o conhecimento a luz da tão controversa reparação de danos. A indenização por rompimento de noivado, tanto na esfera dos danos materiais, quanto na dos danos morais, muito embora não esteja expressamente prevista no Direito codificado pátrio e ainda seja objeto de ojeriza de certa parcela de juristas, configura-se como assunto de profundo destaque na doutrina e jurisprudência. Trata-se de instituto que tem raízes no Direito Romano, tendo já sido celebrado em vários ordenamentos jurídicos alienígenas, traduzindo ditames maiores de Justiça aplicáveis à matéria. A dignidade da pessoa humana deve ser preservada das intempéries dos menos afetos aos sentimentos alheios e a fixação deste tipo de reparação cível se insere nesta realidade. Diga-se mais... Não fosse a execrável letargia do legislador pátrio, certamente este tipo de reparação também já estaria habilmente regulado em diploma normativo, haja vista a notória necessidade de que ditames legais mais específicos tracem os contornos do tema. Para mentes menos sensíveis, abordar o tema rompimento de noivado e seus consectários dentro da Responsabilidade Civil pode parecer tarefa sem grande relevância no mundo jurídico. Contudo, ainda que, de certa maneira com teor ácido, impõe-se, com o desígnio de dar um desfecho ao tema e demonstrar o quão necessário se torna dar magnitude a este assunto. 34 É que não devemos deixar jamais, que a chama viva que é o Direito se apague dentro de quem legisla cria leis, e que para nós futuros aplicadores do Direito estejamos sempre em consonância com ensejos da sociedade, para que ela possa alcançar a tão sonhada “JUSTIÇA”.
Compartilhar