Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
FACULDADE BAIANA DE DIREITO E GESTÃO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES DANIEL BELLO SANTOS LETÍCIA LOPES DA SILVA YURI SARMENTO DÓRIA TEIXEIRA GABRIEL BRANDÃO LEITE RAMOS JOSÉ MUNZER BRAIDE NETO AS FUNÇÕES DA RESPONSABILIDADE CIVIL SALVADOR – BA 2022 FUNÇÃO REPARATÓRIA Como ponto de partida de uma discussão que se mantém em constante transformação e aprofundamento, qual seja, o estudo das funções da Responsabilidade Civil, importante é traçar definições que busquem singularizar tal estudo. Nesta atividade, a ilustre professora Maria Helena Diniz declarou que: A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros em razão de ato do próprio imputado, de pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda (responsabilidade subjetiva), ou, ainda, de simples imposição legal (DINIZ, 2003, p.34). A partir de tal definição, muito se difundiu uma tendência de nomear a Responsabilidade Civil como “Direito dos Danos”, quando na verdade, como bem pontuou a professora Fernanda Ivo no seminário IDP/IBERC sobre as funções do supracitado tema, seria uma forma de restrição ampla dos aspectos da Responsabilidade Civil, que para além da reparação do dano, ostenta também responsabilidade social. Ainda em consonância com as palavras da professora Fernanda Ivo no aludido seminário, tem- se que o dano resta traduzido com a perda de um equilíbrio relacional, o qual exige reparação para se “encontrar” o reequilíbrio. Neste ponto, adentramos especificamente na função clássica da Responsabilidade Civil, a reparatória. Como também pontuado pela professora Thaís Pascoaloto, todo sistema da Responsabilidade Civil foi criado no sentido da função clássica-reparatória, pautando-se em uma ideia de olhar o dano pelo retrovisor, uma vez que já tendo o evento danoso acontecido, voltamo-nos para a reparação. Isso se deve a um histórico de alicerce da Responsabilidade Civil pautado no direito privado, e “no ressarcimento dos danos decorrentes da circulação de bens e obrigações” (CHAVES, BRAGA NETTO E ROSENVALD, 2015, p. 40). Visava ela atender as situações por ela não reguladas, basicamente com a função de disciplinar a alocação das perdas que derivam das atividades humanas econômicas, com a proteção do status quo dos indivíduos atingidos por ilícitos por elas desencadeados (CHAVES, BRAGA NETTO E ROSENVALD, 2015, p. 40). O que se busca, segundo a teoria geral, é retornar a parte prejudicada pelo evento danoso ao statu quo ante, buscando-se reestabelecer o equilíbrio jurídico-econômico existente anteriormente entre partes. Faz-se isso, pautado no princípio da restitutio in integrum, em outras palavras, a busca da reparação no máximo possível, tendo como referência a situação em que se encontrava a vítima outrora a lesão. Sobre este ponto, o célebre professor Nelson Rosenvald, no seminário sobredito organizado pelo IDP/IBERC, pontuou que constitui grave erro na expressão “restituir a vítima a situação anterior ao dano”, visto que seria muito melhor não se pensar numa restituição integral, mas sim em uma função reconstitutiva da Responsabilidade Civil. Neste contexto, registramos desde já total concordância ao dito, amparando-se para tal em um Direito que deve ser enxergado como fato social, isto é, não é fruto de uma análise particular de um indivíduo, mas sim de um fenômeno relacional, de tal modo que se deveria pregar uma restituição das partes à situação anterior ao dano. Em prosseguimento, ressalta-se que a conduta lesiva diz respeito a ofensas nas múltiplas órbitas passíveis de análise sobre a égide do neminem laedere, os quais incidem entre os danos morais, materiais e éticos, permitindo um destrinchar em diversos novos danos, tais como o dano espiritual, dentre outros (o que tem sido objeto de profundos estudos). Todavia: Será insuficiente a alegação de mera perda patrimonial e/ou lucro cessante, afirma-se a necessidade de que o dano seja injusto, portador de relevância no confronto intersubjetivo, entre ofensor e ofendido, legitimando-se em todas as situações jurídicas em que o balanceamento de interesses aponta violações de princípios. (CHAVES, BRAGA NETTO E ROSENVALD, 2015, p. 41). Há que se falar ainda a respeito das três formas de tutela que servem por vezes de recurso para a função reparatória, destacando-se aqui: (i) restitutória, na busca de restituir as condições da vítima antes do evento lesivo; (ii) ressarcitória, pretendendo compensar o titular do interesse lesado pelos prejuízos advindos da lesão; (iii) e satisfativa, em outras palavras, “a satisfação in natura de uma posição subjetiva que restou não atuada, ou defeituosamente atuada” (CHAVES, BRAGA NETTO E ROSENVALD, 2015, p. 42). No cenário desta função, o art. 944 do Código Civil surge, então, como um afirmador de todo o cerne principiológico anteriormente explorado, determinando que “a indenização mede-se pela extensão do dano”, sendo complementado no parágrafo único a possibilidade de ponderação em relação à culpa, permitindo ao magistrado a redução do valor da indenização em situações de excessiva desproporção entre a culpa e o dano. Entretanto, diversas críticas e indagações são apontadas em torno deste dispositivo, tal como sublinhado pela professora Fernanda Ivo, com quem demonstramos anuência, quando questiona, em relação ao dano moral, como seria possível avaliar extensão do dano, pois não há como avaliar extensão da personalidade do indivíduo. Aponta ainda a professora, que tal artigo funcionaria como limitador a depender apenas do que se compreenda o que venha a ser o dano: sendo pensado como dinheiro, seria, pois, um limitador; ao contrário, quando pensarmos nessa perda de equilíbrio relacional, estaríamos defronte a inexistência de parâmetros para extensão do dano. Salienta-se ainda, em continuação, que o dano diferencial compreenderia, portanto, o saldo entre a situação patrimonial do sujeito lesado em momento posterior ao ilícito subtraído do cenário anterior ao evento danoso, objetivando-se a chegar a um montante igual a 0 (zero), com o reestabelecimento de tal equilíbrio. Eis que reside neste ponto mais um problema, alvo de críticas constantes, as quais, inclusive, compartilhamos: a perda ocasionada pela lesão cometida frente a relação agora desequilibrada pode mesmo ser totalmente compensada e/ou reparada? Pensamos que não. A compensação-reparação não atingiria nem por completude o indivíduo lesado, e tampouco a sociedade no qual este está inserido. Nenhum ressarcimento, por mais que se assuma compensativo, poderá eliminar a perda produzida pelo ilícito. A responsabilidade não é capaz, em passe de mágica, de produzir o retorno a um passado ideal e repor ao lesado a situação anterior ao ilícito. [...] Exemplifica com a hipótese em que A destrói o carro de B, que vale 20.000 euros, e lhe indeniza com essa soma. B ficará satisfeito, pois se encontrara na mesma situação em que se encontrava antes do tato danoso (recuperará em pecúnia o valor da coisa destruída). Quem não estará na mesma situação será a sociedade considerada globalmente, pois a sua disposição terá um automóvel a menos. Aquele valor estará perdido para sempre, pois não se recupera um veículo destruído pelo tato de que 20.000 euros passarão do bolso de A para B. (CHAVES, BRAGA NETTO E ROSENVALD, 2015, p. 42). Passemos, então, a análise de um caso concreto, oriundo de jurisprudência do Supremo Tribunal de Justiça, em julgamento de Recurso Especial: REsp 1440721 GO 2014/0050110-0, consoante ementa a seguir: RECURSOS ESPECIAIS. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PUBLICAÇÃO DE LIVRO. FALSO RELATO DE CUNHO RACISTA E EUGÊNICO ATRIBUÍDO A POLÍTICO. REPERCUSSÃO NACIONAL E INTERNACIONALDA FALSA IMPUTAÇÃO. DANO MORAL REPARAÇÃO ESPECÍFICA. PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO INTEGRAL DO DANO. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA. NÃO RECEBIMENTO DA APELAÇÃO POR PREMATURIDADE. TRÂNSITO EM JULGADO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. VALOR RAZOÁVEL. REVISÃO. SÚMULA 7/ST 1. Consoante se extrai do acórdão do Supremo Tribunal Federal na ADIn 4.815/DF, a dispensa de autorização prévia dos envolvidos para a publicação de biografias implica a responsabilidade a posteriori por danos comprovadamente causados. Extrai-se do voto da relatora, a Ministra Cármen Lúcia, que "não há, no direito, espaço para a imunidade absoluta do agir no exercício de direitos com interferência danosa a direitos de outrem. Ação livre é ação responsável. Responde aquele que atua, ainda que sob o título de exercício de direito próprio." 2. A liberdade de expressão acarreta responsabilidade e não compreende a divulgação de falsidade e a prática de crimes contra a honra. A divulgação de episódio falso, como se verdadeiro fosse, além de ofender a honra do lesado, prejudica o interesse difuso do público consumidor de bens culturais, que busca o conhecimento e não a desinformação. 3. Publicação de livro imputando falsamente a pessoa pública afirmações de cunho racista e eugênico. Ampla divulgação na mídia impressa, televisiva e virtual, tendo acarretado também processo criminal contra o autor perante o Supremo Tribunal Federal por crime de racismo e processo de cassação de mandato perante a Câmara dos Deputados por quebra de decoro parlamentar. 4. Admite-se a revisão do valor fixado a título de condenação por danos morais em recurso especial quando ínfimo ou exagerado, ofendendo os princípios da proporcionalidade e da razoabilidade. 5. A indenização por danos morais possui tríplice função, a compensatória, para mitigar os danos sofridos pela vítima; a punitiva, para condenar o autor da prática do ato ilícito lesivo, e a preventiva, para dissuadir o cometimento de novos atos ilícitos. Ainda, o valor da indenização deverá ser fixado de forma compatível com a gravidade e a lesividade do ato ilícito e as circunstâncias pessoais dos envolvidos. 6. Indenização no valor de R$ 250.000,00 (duzentos e cinquenta mil reais), a cargo de cada recorrido, que, no caso, mostra-se adequada para mitigar os danos morais sofridos, cumprindo também com a função punitiva e a preventiva, sem ensejar a configuração de enriquecimento ilícito. 7. O direito de resposta, de esclarecimento da verdade, retificação de informação falsa ou à retratação, com fundamento na Constituição e na Lei Civil, não foi afastado; ao contrário, foi expressamente ressalvado pelo acórdão do Supremo Tribunal Federal na ADPF 130. Trata-se da tutela específica, baseada no princípio da reparação integral, para que se preserve a finalidade e a efetividade do instituto da responsabilidade civil (Código Civil, arts. 927 e 944). 8. Segundo o entendimento pacífico do STJ, ao juiz, como destinatário da prova, cabe indeferir as que entender impertinentes, sem que tal implique cerceamento de defesa. Incidência da Súmula 7/STJ. 9. Tendo sido negado processamento ao recurso de apelação interposto pela Editora, por decisão transitada em julgado, não cabe apreciar sua inconformidade de mérito em grau de recurso especial. 10. A alteração dos valores dos honorários advocatícios fixados pelo Tribunal de origem, quando não irrisórios ou excessivos, exige o reexame de fatos e provas incabível no âmbito do recurso especial. Incidência da Súmula nº 7/STJ. 11. Recurso especial de Ronaldo Ramos Caiado parcialmente conhecido e, na parte conhecida, provido. 12. Recurso Especial de Fernando Gomes de Moraes conhecido em parte e, na parte conhecida, não provido. 13. Recurso especial de Editora Planeta do Brasil Ltda não conhecido. (STJ - REsp: 1440721 GO 2014/0050110-0, Relator: Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, Data de Julgamento: 11/10/2016, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 11/11/2016) Do julgado em questão, faz-se necessário ressaltar o dito no voto da relatora, Sra. Ministra Cármen Lúcia, quando proferiu que: "não há, no direito, espaço para a imunidade absoluta do agir no exercício de direitos com interferência danosa a direitos de outrem. Ação livre é ação responsável”. Isto posto, uma vez que os autores da obra em questão provocaram alarmantes danos às figuras das vítimas, na medida em que publicaram conteúdo inverídico a respeito de relato de cunho racista e eugênico atribuído a estes, imprescindível é o dever de reparação das lesões advindas disso. Por conseguinte, em face da função reparatória (aplicada de forma conjunta as funções preventiva e punitiva), foram os autores condenados a indenização em um montante que não provocasse enriquecimento ilícito injustificado das partes (ao contrário, nas palavras do professor Nelson Rosenvald no seminário em questão, trata-se de um enriquecimento justificado pela prática de um ilícito, isto é, de um comportamento antijurídico), mas que trouxesse uma eficácia social importante, revertendo-se em prol das vítimas. Ademais, estabeleceu-se ainda a necessidade de esclarecimento da verdade, isto é, a retratação da informação danosa-falsa, a ser divulgada nas publicações subsequentes da obra, numa tentativa de restabelecer o equilíbrio relacional entre as partes e a situação em que estas se encontravam em momento anterior ao evento causador do dano. Todavia, há que se sublinhar que: “a tutela ressarcitória intervém para reparar consequências e efeitos de comportamentos ilícitos, mas não se afirma como instrumento de recomposição da ordem jurídica violada” (CHAVES, BRAGA NETTO E ROSENVALD, 2015, p. 43). Assim, muito embora tais medidas tenham sido adotadas no caso concreto acima, direitos fundamentais-constitucionais-personalíssimos foram atingidos, e dificilmente (sendo especialmente otimista para não se dizer impossivelmente) se conseguirá reparar os danos deixados às vítimas. FUNÇÃO RESTITUTÓRIA Atualmente ocorre não apenas uma proliferação de ilícitos, há também uma proliferação de ilícitos lucrativos. É possível observar uma expressão no direito anglo-americano chamada “tort must not pay”, isto é, o ilícito não deve se pagar, todavia, a racionalidade econômica nos dias de hoje é de que o ato ilícito não só se paga, mas remunera de maneira significativa. Dessa forma, nota-se, por parte dos agentes econômicos, condutas “free rider”, que são modos parasitais de se comportar em que os agentes econômicos possuem uma máquina de calcular na mão com um cálculo de custo e benefício, no qual o lucro por essas práticas ilícitas é superior a quaisquer danos que recaia, por ventura, sobre eles e isso, numa perspectiva ampla, pode ser vislumbrado em quatro situações: (i) nos direitos da personalidade (a todo momento existe alguém usando a nossa imagem, a nossa intimidade, ganhando muito mais do que, eventualmente, ressarcindo); (ii) na propriedade imaterial (alguém se valendo das nossas patentes, nossos direitos autorais, nosso dados pessoais e lucrando bastante com essas práticas), (iii) nos direitos individuais homogêneos (seriam os chamados “trifling damages”, em outras palavras, aquela conta telefônica que vem com 0,20 centavos amais, um dano pequeno, mas o conjunto da obra demanda ilícitos maiores) e (iv) nos direitos metaindividuais (por exemplo, a Coelba permanece com o seu serviço lucrativo não obstante quedas de energia, processos por conta de eletrodomésticos queimados, isso porque valia apena manter o ilícito mesmo que ele fosse danoso para uma enorme coletividade, afinal o resultado era extremamente benéfico em termos de lucros). Pensando nisso, como se encaixaria, ou melhor, qual seria a reação a esse ilícito lucrativo? Inicialmente, os ingleses alteraram uma linha de raciocínio saindo da noção de “lost-based damages” para “gain-based damages”, quer dizer queem oposição a indenizações baseadas em danos, eles passaram a pensar em indenizações baseadas em ganhos, portanto, eles partiram de uma apreciação de uma responsabilidade civil que se atenta a contenção civil para um pensamento da responsabilidade civil com base em contenção de ilícitos, não somente prevenção de ilícitos, punição de ilícitos, mas restituição de lucros ilícitos. Essa medida dos “gain-based damages” se desdobra em dois remédios: O disgorgement, primeira resposta ao ilícito lucrativo, significa “vomitar”, suprimir, remover os lucros ilícitos, valendo-se de um exemplo feito por Nelson Rosenvald no Seminário produzido pelo IDP/IBERC, imagine o Salte Bae, possuidor de uma rede de restaurantes, Nusr- et, no Oriente Médio e nos Estados Unidos e suponhamos que o Alex Atala, cozinheiro brasileiro renomado, decida abrir uma franquia no Brasil, porém não estabelece um contrato de consentimento de transferência e uso da marca, resta evidente então, que este é um ato ilícito, é uma violação a marca do Salte Bae, apesar disso, é um ato ilícito muito lucrativo. Nesse sentido, por qual razão o Salt Bae não consideraria ajuizar uma ação de compensação de danos? Para ele será extremamente complexo quantificar o dano que foi acometido, afinal esses danos são de difícil percepção, além do mais, ele tem a viabilidade de requerer a remoção dos danos dos lucros de Alex com o restaurante, pois só o ilícito elucida a aquisição dos seus lucros. Dessa forma, não se aborda aqui um enriquecimento injustificado da parte de Alex Atala, o enriquecimento dele é justificado na realização de um ato ilícito, no desempenho de uma conduta antijurídica. Logo, a lógica do disgorgement é impedir o dito “curto circuito do contrato” (ou seja, em países em que o instrumental jurídico é inábil, o pensamento dos indivíduos, a luz do exemplo abordado, é de atuar como Alex Atala, pois, noutrora, numa ação de responsabilidade civil, o que o Alex pagará ao Salt Bae será inferior ao que seria pago com a efetivação do contrato), preservar a violação de todo um sistema de tutela propriedade, visto que as pessoas confiam que a responsabilidade civil disfuncional é mais favorável. Há ainda uma segunda medida restitutória, o reasonable fee, equivalente a uma espécie de valor de uso no mercado, ainda no mesmo exemplo, pressupondo que o Alex Atala abre uma franquia do restaurante Nusr-et, sem o consentimento de Salt Bae (dono da marca), no entanto, embora tenha realizado ato ilícito, não recebe lucro com o restaurante. Com isso, o uso ao disgorgement não se fundamenta, porque é inviável o Salt Bae retirar qualquer lucro ilícito da parte de Alex, todavia realizou-se um ato ilícito e é fato que o Alex poupou gastos ao se utilizar de uma marca já bem estabelecida no mercado, por isso o Salt Bae deve ajuizar uma ação requerendo o valor de mercado que qualquer outra pessoa o pagaria pelo uso da sua marca, ou seja, existe um valor de uso que qualquer outro agente econômico geralmente deveria gratificar o titular da marca pelo fato da execução de contrato de cessão de uso. Dito isso, é possível vislumbrar no caso concreto a função restitutória e formar alguns entendimentos. Atentemos então para uma Apelação Cível do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, AC: 10000204852628001 MG: EMENTA: CIVIL E CONSTITUCIONAL - APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO INDENIZATÓRIA - VEICULAÇÃO DE IMAGEM SEM AUTORIZAÇÃO - - CONFLITO ENTRE VERSÕES DE FATO - ÔNUS DA PROVA - INCUMBÊNCIA DA AUTORA - AUSÊNCIA DA PROVA - LIBERDADE DE IMPRENSA - LIMITES - ABUSO DO DIREITO DE INFORMAR - INOCORRÊNCIA - No conflito entre a versão divulgada por matéria jornalística, supostamente ofensiva à honra da parte, e a versão sustentada pelo autor, não há que privilegiar a segunda, se o requerente não se desincumbe do ônus de provar o fato constitutivo de seu direito - A liberdade de imprensa é pilar do Estado Democrático de Direito, sujeitando-se todavia a limites decorrentes de outras normas jurídicas, das quais destacam-se a atenção ao dever de veracidade, o interesse jornalístico ou público na divulgação do fato e a ausência de intenção de agredir moralmente a pessoa referida na reportagem - Respeitados os limites impostos pelo ordenamento à liberdade de informação jornalística, seu exercício não configura ato ilícito, sem o qual não há obrigação de indenizar - Os direitos da personalidade que têm por objeto a honra, a imagem, a vida privada e a intimidade não protegem seus titulares de toda e qualquer crítica ou notícia de sua vida particular, as quais, por vezes, justificam-se em nome de outros valores prestigiados pelo ordenamento. (TJ-MG - AC: 10000204852628001 MG, Relator: Fernando Lins, Data de Julgamento: 04/11/2020, Câmaras Cíveis / 20ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação: 05/11/2020) Do julgado mencionado acima e em conformidade com os preceitos que a função restitutória da responsabilidade civil carrega, eis o que a Desembargadora Lílian Maciel elucida: “Por certo que o dano moral é uma lesão a um" interesse existencial "concretamente merecedor de tutela. Entretanto, o objetivo da divulgação da imagem não teve qualquer aspecto ofensivo ou viés econômico. Nem ao menos há indícios nos autos de que, a partir da divulgação da imagem do autor no programa mencionado, a emissora ré teria obtido ganhos ilícitos, através do instituto do disgorgement. Na lição de Nelson Ronsenvalt:" (...) é perfeitamente legítimo considerar que o disgorgement se insere no direito restitutório em um sentido mais amplo, por ser mensurado com referência ao valor do benefício obtido pela prática do comportamento antijurídico, ao invés de ter como referência as perdas sofridas pelo demandante. "(in R. Fórum de Dir. Civ. - RFDC | Belo Horizonte, ano 6, n. 14, p. 11-31, jan./abr. 2017 apud Lílian Maciel). À vista disso, cumpre ainda ressaltar que o princípio da reparação integral é a essência da responsabilidade civil, isto é, o propósito neste ponto é restituir a vítima a circunstância prévia ao dano, porém o ideal seria não considerar uma função restituição integral, e sim uma função reconstitutiva da responsabilidade civil, afinal o objetivo é ressarcir as partes da situação anterior ao dano e não é restituir a vítima a conjunção que antecede o ilícito, e isso se efetiva através de uma reconstituição de um equilíbrio relacional, o qual, às vezes dar-se-á com o Magistrado determinando uma reparação de danos, ou então essa restituição de um equilíbrio relacional ocorrerá restituindo o ofensor da circunstância prévia ao dano, logo, confiscando os ganhos ilícitos dele, solicitando a ele o pagamento de um preço de mercado pelo utilização do bem. Dando prosseguimento, nos EUA, a título de exemplo, devido a consolidação do disgorgement, entende-se que a restituição não se confunde com os “punitive damages”, quer seja pelo prisma estrutural, quer seja sob a ótica funcional, porque aplica-se o “punitive damages” no momento de sancionar um comportamento extremamente demelitório e deplorável, contudo a intenção do disgorgement é destituir o agente econômico de benefícios patrimoniais indevidos. Por fim, cabe ainda trazer o contexto dos instrumentos concebidos para reger a função restitutória na civil law. A União Europeia estabelece uma análise pragmática acerca desse assunto, seja no “The Draft Common Frame of Reference”, isto é, a proposta do Código das Obrigações Europeias, quer seja na diretiva da propriedade intelectual deles de 2004, bem como na diretiva do segredo comercial de 2017, nos três em disciplina de responsabilidade civil, a URSS considera 3 alternativas para a vítima: a clássica função compensatória pleiteada nos lucros cessantes, nos emergentes (1ª), entretanto é possível que a vítima não pretenda a indenização e sim a reasonable fee, o valor de mercado do uso do bem (2ª) ou pode requerer o disgorgement, auferindo os lucrosindevidos colhidos pelo transgressor. Isso, oportunizar à vítima de acordo com suas condições e pretensões o remédio a ser seguido, denomina-se “private enforcement”, nesse caso, a vítima deixa de ser um agente passivo e torna-se, naquela lide concreta, um agente regulador do mercado. FUNÇÃO PREVENTIVA Ao assistir o “Webinar: Funções da Responsabilidade Civil”, disponível no YouTube, no canal oficial do IDP (Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa), é possível depreender algumas questões que a professora e doutora, Thaís Pascoaloto, trouxe ao decorrer da exposição do assunto em debate. Tendo como objetivo desse seguinte trabalho, discorrer de forma crítica acerca do assunto tratado na live em questão, e sendo mais específico acerca do primeiro tópico desse, a função preventiva. Porém, apesar de hoje em dia estar sendo discutida a prevenção, ela nem sempre foi tratada com tanta evidência. A doutora Thaís Pascoaloto traz que todo sistema da responsabilidade civil foi criado no sentido da responsabilidade civil clássica/reparatória, e nesse ponto ela parafraseia a autora francesa da obra “La Responsabilité Civile”, Genevieve Viney, quando traz a ideia de que responsabilidade civil clássica foi baseada numa ideia de você olhar o dano pelo “retrovisor”, ou seja, pelo que já aconteceu, pensando em se voltar para a reparação daquele dano. Conquanto, apesar disso, ao decorrer do tempo essa ideia meramente reparatória, da responsabilidade civil se basear numa teoria do retrovisor, passou a se tornar ultrapassada, se tornando inegável a necessidade de se analisar a responsabilidade civil com um olhar do futuro, como exemplo disso, a corrente doutrinária citada no seminário, a responsabilidade- antecipação. Retirando um trecho da obra “Avenir de la responsabilité, responsabilité d’avenir”, da escritora francesa, Catherine Thierge, é possível depreender da tradução para o português o seguinte: “Alguns autores perceberam, desde o fim do século passado, a emergência de um terceiro tempo da responsabilidade: de uma responsabilidade sancionatória, fundada sobre a imputação de uma culpa e centralizada sobre o autor e seu comportamento danoso, dominante no século XIX, repassada – mas não substituída – por uma responsabilidade-indenização, fundada sobre o risco e centralizada sobre a vítima e sobre o dano sofrido, que marcou o século XX, estaria em vias de suceder – certamente sem substituir às duas precedentes –, uma responsabilidade-antecipação, fundada sobre a prevenção dos riscos mais graves e sobre a preservação dos interesses ambientais e bioéticos, e centralizada sobre as gerações atuais e futuras e, mais genericamente, sobre a vida.” Todavia, apesar de usualmente ser tratado a prevenção como sendo uma função da responsabilidade, durante o seminário, é trazido que um número elevado de autores trata a questão da prevenção não sendo tão somente uma função, mas algo além, uma vez que esta se encontra no cerne da responsabilidade civil contemporânea, dessa forma tratando -se assim a prevenção como um princípio norteador. Porém, a doutora vai além disso, tratando a prevenção como um fundamento, uma vez que é base, fundamenta as outras funções, e isso é possível notar e concordar com este pensamento a medida que a responsabilidade civil é um instrumento poderoso de direcionamento das condutas humanas de desenvolvimento social. É possível ainda estabelecer uma relação com a ideia da ética da responsabilidade, trazida originariamente pelo sociólogo Max Weber, que traz que “é aquela voltada para a proteção dos valores existenciais https://www.google.com/search?sxsrf=APq-WBt_1TiFfi0narUKdMWEOF0WLlThUQ:1648998039397&q=genevieve+viney+la+responsabilit%C3%A9+civile&stick=H4sIAAAAAAAAAOPgE-LVT9c3NEwyLzctLMwyUeIBcY2ScpNMsy3KtaSyk630k_Lzs_UTS0sy8ousQOxihfy8nMpFrJrpqXmpZZmpZakKZZl5qZUKOYkKRanFBfl5xYlJmTmZJYdXKiRnlmXmpO5gZdzFzsTBAAAYBLPEbwAAAA&sa=X&ved=2ahUKEwj2hf6ylPj2AhWqjZUCHdfPCQoQmxMoAXoECDAQAw do ser humano [...] a ética da responsabilidade é aquela que homem de ação não pode deixar de adotar, seja em razão de prever as consequências das suas possíveis ações e decisões". Dessa forma, é de conhecimento geral que a raça humana, em sua grande maioria, possui um alto apreço pelo dinheiro, pelo patrimônio, as vezes até mais do que pela própria vida ou de outrem. Com isso, a responsabilidade civil ao entrar na esfera pecuniária de um indivíduo fará com que este pense inúmeras vezes em sua ação, já que não deseja interferência no seu patrimônio. Conquanto, não se pode afirmar que apesar disso que vivemos num “mundo dos sonhos”, querendo ou não sempre haverá danos. Como já discutido em parágrafo anterior, a prevenção tem ganhado cada vez mais notoriedade e necessidade de ser inserido na responsabilidade civil, e nos dias de hoje essa necessidade se faz cada vez mais presente, principalmente quando é tratado a questão dos “novos danos”. É um fato, que a tecnologia tem evoluído cada vez mais, principalmente nesses últimos anos que a pandemia acelerou anos à frente essa evolução tecnológica. Com esse avanço, é notório que uma gama gigante de possibilidades surgiu, conquanto, apesar dos diversos benefícios essa tecnologia possibilitou também uma existência de um número maior de meios de danos que antes não existiam, e devido a isso a necessidade de prevenção se mostrou mais uma vez presente. É possível, citar por exemplo, um fato que tem se tornado cada vez mais comum, a questão das “Fake News”. Essa questão não pode ser tratada com uma visão pelo “retrovisor”, é preciso que seja analisada através de uma visão futura, antecipada do dano, uma vez que espalhada uma “Fake News” é possível desestruturar todo um sistema político democrático de um país. Faz-se mister, ainda, salientar que a colocação da doutora ao afirmar que a prevenção foi impulsionada pela análise econômica do direito, ou sendo mais especifico a análise econômica da responsabilidade civil, foi totalmente correta e pertinente. A corrente doutrinária da Law and Economics parte de uma premissa de que a primeira função da responsabilidade civil, não é a de reparar um dano, mas sim a de exercer influência num comportamento futuro que possa resultar num dano, tanto no viés de um potencial agressor quanto na visão de uma potencial vítima. De acordo com o autor Nuno Garoupa, em sua obra “Combinar a Economia e o Direito. A análise econômica do direito”, tem-se que: “Numa perspectiva económica, uma regra de responsabilidade civil é eficiente se os benefícios sociais superam os custos de determinação dessa mesma responsabilidade e da indemnização. O benefício social de impor uma determinada regra de responsabilidade não é a compensação das vítimas, uma vez que existem formas mais eficientes de indemnizar a vítima do que o sistema legal, mas evitar ou dissuadir comportamentos que possam causar acidentes. Desta forma uma regra de responsabilidade é eficiente se tem uma influência assinalável na diminuição da taxa de acidentes. ” Dessa forma, é possível depreender que a corrente doutrinária da Law and Economics parte de uma premissa racional lógica de que a prevenção deve estar ocupando, exercendo um papel central, fundamental de qualquer sistema do direito, principalmente em relação a responsabilidade civil. Ao se aplicar as regras da responsabilidade civil, o benefício social que representa essa aplicação de forma eficaz não é a compensação da vítima, mas sim que possibilite a dissuasão e a impossibilidade de comportamentos danosos. Seguindo todo o exposto resta agora demonstrar de que forma o direito instrumentaliza essa função, esse princípio, esse fundamento da prevenção. Dentro do ordenamento e da pratica jurídica brasileira, diversos mecanismos já se encontram muito bem consolidados, principalmente em relação ao ramo do direito ambiental, em que a questão da prevençãose faz mais presente. Conquanto, a doutora traz uma questão que não se encontra ligada ao direito ambiental, mas sim a doutrina processualista do direito, que é o instrumento, o mecanismo da tutela inibitória. A tutela inibitória possui um alto grau de importância, principalmente em assuntos que são voltados para os direitos individuais e transindividuais, e, essenciais quando possuem uma natureza extrapatrimonial, uma vez que a forma mais adequada, e talvez a única cabível, seja a proteção por meio da prevenção. E com esse raciocínio, creio que para reforçar essa questão seja interessante parafrasear o professor e escritor português, João Calvão da Silva: “A tutela inibitória é a mais idónea das tutelas no domínio dos direitos da personalidade, por prevenir agressões ilícitas emergentes do progresso técnico e tecenológico, especialmente das novas e sofisticadas tecnologias informáticas e publicitárias, domínio em que a importância e a natureza pessoal e extrapatrimonial dos valores em presença tornam insuficiente e inadequada a tutela ressarcidora. Tutela inibitória cuja actuação a sanção pecuniária compulsória pode incentivar, pela pressão que exerce sobre o autor da ofensa ou da ameaça, o que atesta bem a importância, no direito moderno, esta técnica compulsória na defesa da pessoa humana. ” Conquanto, concordando com o pensamento exposto pela doutora Thaís no seminário, a tutela inibitória, da forma que foi estruturada como base processualista, não cabe perfeitamente dentro da resp. civil, por exemplo. Da forma que foi estruturada, é demonstrada que a tutela de inibição só se dá, a partir da violação de um direito, e a inibição não deve ser pensada a partir da violação. Dessa forma, é preciso haver uma diferenciação entre a “tutela jurisdicional dos direitos”, referente a essa doutrina processualista, e a “tutela dos direitos”. Creio que, uma distinção pertinente e adequada seja a proposta pelo jurista brasileiro, Luiz Guilherme Marinoni, que diz o seguinte: “A tutela é decorrência da existência do próprio direito. Ou melhor, a tutela inibitória existe pelo fato de ser inerente à existência do direito; todo titular de direito tem o direito de impedir a sua violação. Não basta, como é evidente, que o ordenamento jurídico afirme um direito, mas é necessário que ele lhe confira tutela, ou seja, que ele lhe dê proteção. Entretanto, em um ordenamento jurídico marcado pela proibição da autotutela, a jurisdição deve estar aberta à tutela dos direitos. A consagração dos direitos faz surgir, por consequência lógica, o direito à tutela jurisdicional, isto é, o direito de pedir, conforme o caso, o impedimento de sua violação, a sua reparação etc. Quem tem direito material, tem direito de pedir tutela jurisdicional. De modo que o direito à tutela jurisdicional inibitória é conatural ao direito material. Com efeito, não temos a menor dúvida em afirmar que o princípio geral de prevenção é imanente a qualquer ordenamento jurídico que se empenhe em garantir – e não apenas em proclamar – os direitos. ” Dessa forma, resta claro que enquanto civilista, é preciso pensar em tutela inibitória material, e não processual. Existe certas diferenças entre o direito material e o direito processual. O direito material é o conjunto de normas que atribuem direitos aos indivíduos, trata das relações entre as partes, é o interesse primário, a própria relação subjetiva, por exemplo o direito à vida, o direito ao nome, o direito à privacidade, etc. Quando esses direitos são violados, entra em cena o direito processual, que é o conjunto de regras que organizam o instrumento pelo qual se buscará o reparo à violação do direito material, é um interesse secundário, e que se trata de uma relação triangular, pois o juiz passa a intermediar o conflito entre as partes. E para deixar ainda mais estruturado este presente trabalho, a tutela inibitória material, apesar de não ser muito mencionada dentro do direito brasileiro, possui alguns mecanismos, como por exemplo, a questão das multas, o caráter punitivo pedagógica, e até o institutos da autotutela, que apesar de muitas vezes ser considerada obsoleta e injustificável como meio de solução de conflitos na atualidade, não foi completamente abandonada, já que parte de uma compreensão de que o Estado nem sempre pode estar presente, e com a devida agilidade e efetividade, para intermediar as crises sociais, prestando adequada proteção jurisdicional. No desfecho da apresentação da doutora Thaís ela menciona acerca da Medida Provisória 966, que nasceu a partir do art. 28 da LINDB. Creio que, por atualmente a sua vigência ter sido encerrada, não mereça entrar nesse mérito, conquanto creio ser importante trazer acerca de duas teses presentes em uma das 7 ações de inconstitucionalidade decorrentes dessa MP. O Ministro Luiz Roberto Barroso, na Medida Cautelar na ADI 6.421 Distrito Federal, afirmou o seguinte: “1. Configura erro grosseiro o ato administrativo que ensejar violação ao direito à vida, à saúde, ao meio ambiente equilibrado ou impactos adversos à economia, por inobservância: (i) de normas e critérios científicos e técnicos; ou (ii) dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção. 2. A autoridade a quem compete decidir deve exigir que as opiniões técnicas em que baseará sua decisão tratem expressamente: (i) das normas e critérios científicos e técnicos aplicáveis à matéria, tal como estabelecidos por organizações e entidades internacional e nacionalmente reconhecidas; e (ii) da observância dos princípios constitucionais da precaução e da prevenção, sob pena de se tornarem corresponsáveis por eventuais violações a direitos”. Por fim, com tudo isso esclarecido, e com o intuito de exemplificação dentro da prática jurisprudencial brasileira acerca de tudo que foi tratado acerca da função preventiva da responsabilidade civil, acredito que é possível citar de forma exímia o Recurso Inominado Cível n° 0000375-63.2021.8.16.0092, do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR), vejamos: EMENTA: RECURSO INOMINADO. AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS. DANOS POR AUSÊNCIA DE TRANSFERÊNCIA DE VEÍCULO POR REVENDA. INSURGÊNCIA RECURSAL LIMITADA AO PEDIDO DE MAJORAÇÃO DOS DANOS MORAIS. TRANSTORNOS SUPORTADOS EM VIRTUDE DE ACIDENTE DE TRÂNSITO COM OMISSÃO DE SOCORRO. INDÍCIOS DE CONDIÇÃO FINANCEIRA QUE AUTORIZAM O AUMENTO DO VALOR. ATENDIMENTO À FUNÇÃO PREVENTIVA E REPRESSIVA DA INDENIZAÇÃO. PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO QUE AUTORIZAM A MAJORAÇÃO PARA R$ 5.000,00. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.1. O recorrente pretende a majoração dos danos morais fixados em R$ 2.000,00 (dois mil reais), em decorrência do abalo moral suportado em virtude de falha na prestação do serviço da recorrida que não procedeu a transferência de propriedade de veículo após sua venda. 2. A pretensão comporta acatamento. 3. Para quantificar o valor do abalo moral é necessário verificar a extensão dos danos e a condição financeira das partes e, in casu, verifica-se que as peculiaridades autorizam a fixação do valor em patamar acima do fixado pelo Juízo de origem.4. Veja-se que, que além de o recorrente ser idoso e cego, situação que revela maior vulnerabilidade, teve de enfrentar diversos transtornos para tentar se eximir da responsabilidade acerca de acidente de trânsito em que houve omissão de socorro (o que pode vir a ensejar tanto uma responsabilização civil, quanto criminal). No mais, verifica-se que a recorrida possui capital social aproximado em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), o que revela que a indenização no patamar fixado pode prejudicar as finalidades preventiva e repressiva da indenização. 5. Por conseguinte, considerando as peculiaridades do caso concreto, bem como as finalidades da indenização, tem-se que os danos morais comportam majoração para R$ 5.000,00 (cinco mil reais). (TJPR - Recurso Inominado Cível n° 0000375-63.2021.8.16.0092,Relatora: Manuela Tallão Benke Juíza de Direito da Turma Recursal dos Juizados Especiais, Data de Julgamento: 07/02/2022, 5ª Turma Recursal dos Juizados Especiais, Data de Publicação: 07/02/2022) Analisando o caso em questão, vale ressaltar um ponto tratado no recurso, a majoração dos danos morais. Isto posto, uma vez que os autores da obra em questão provocaram alarmantes danos a vítima, na medida em que deixaram de transferir a propriedade após a venda, fato este que causou transtornos a vítima, que vale ressaltar ser cega e idosa, uma vez que teve que tentar se eximir da responsabilidade acerca de acidente de trânsito em que houve omissão de socorro. Dessa forma, em decorrência do alto capital da recorrida, a majoração do valor de R$ 2.000,00 para R$ 5.000,00 se faz necessária, com o intuito que as funções preventivas e repressivas sejam atendidas. Uma vez que, a indenização possuindo um valor relativamente baixo em relação ao dano causado, além de não reparar corretamente a vítima pelos transtornos, não serviria como um método pedagógico corretivo, não alcançando a visão de prevenir que fatos como esse https://portal.tjpr.jus.br/jurisprudencia/j/2100000019460901/Ac%C3%B3rd%C3%A3o-0000375-63.2021.8.16.0092 https://portal.tjpr.jus.br/jurisprudencia/j/2100000019460901/Ac%C3%B3rd%C3%A3o-0000375-63.2021.8.16.0092 voltassem a se repetir. Fazendo-se então necessário uma indenização por danos morais com um valor pecuniário mais elevado do que o proposto anteriormente ao recurso, para que seja instrumento eficaz de prevenção de fatos e comportamentos futuros danosos dentro da esfera civil. FUNÇÃO PROMOCIONAL Diante da complexidade social contemporânea, frente a diversas situações que podem gerar danos a terceiros, tendo como consequência a responsabilidade civil, esta, a qual, o judiciário busca solucionar, corrobora para que a justiça fique ainda mais inchada. Nessa senda, sem dúvidas a função promocional da responsabilidade civil, almeja que as partes reparem espontaneamente eventuais danos que ocorreram naquela relação jurídica ou em algum fato da vida, tal reparação é preferível que seja feita fora do judiciário, ou de forma mais célere no processo. A ideia de que diversas relações jurídicas as quais geram a prerrogativa de uma responsabilidade civil, possam ser solucionadas fora do judiciário não é atual, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, criticou em 2013, o inchaço na estrutura do Judiciário durante seminário que discutiu uma reforma no Poder, sendo extremamente necessário, segundo ele, incentivar soluções para os conflitos fora dos tribunais (VIEIRA, 2013). Nesse sentido, podemos afirmar que a função promocional da responsabilidade civil, define-se como finalidade última do direito dos danos, como um verdadeiro degrau da atualização da responsabilidade civil, cujo sentido, conecta-se à sua finalidade primária, de reparação, no entanto aqui, se revela pelo conjunto de medidas que visam estimular, com amparo na ideia de sanção positiva, a reparação ou compensação espontânea dos danos. De toda sorte, por ser uma espécie de responsabilização em desenvolvimento doutrinário e jurisprudencial, faz-se mister que se elabore critérios seguros de definição das vantagens ou da redução, ou privação das desvantagens que o agente causador do dano poderia alcançar, caso decidisse reparar ou compensar, espontânea e rapidamente, de modo eficiente os danos por ele causados. A ideia de uma sanção positiva, recai justamente na temática de trazer à tona a possibilidade de o agente por si só buscar repara os danos que causou a terceiro. Tais sanções positivas possuem prerrogativas de prêmios ou recompensas, cujo objetivo é estimular a reparação espontânea e eficiente dos danos. Nesse contexto, há um conjunto de efeitos favoráveis ao agente que, atribuindo-lhe uma vantagem ou privando-o de uma desvantagem, uma vez reconhecidos pela doutrina e pela jurisprudência, terão força suficiente para gerar um ambiente ideal em uma possível relação jurídica, cujo maior beneficiário continuará sendo a própria vítima: pessoa lesada cujo centro de interesses se mantém como aquele mais importante a tutelar, haja vista que através dessa função, o conflito seria resolvido de forma extremamente mais célere. Nesse sentido, a função promocional da responsabilidade civil não trata sobre a sanção negativa, essa que recai sobre a finalidade primária da responsabilidade civil, o viés reativo, de resposta, como sanção negativa, a um dano causado por alguém na esfera jurídica alheia, portanto, a ideia de sanção não se confunde com a de punição, ou imposição de pena. Dessa forma, sanção negativa representa, em termos gerais, uma resposta negativa a um comportamento negativo, rejeitado pela ordem jurídica, motivo pelo qual a imputação do dever de indenizar o responsável representa uma forma de aplicação de uma sanção negativa, mesmo que desprovida de viés punitivo (REALE, 1987, p.673). Por conseguinte, pode-se relatar que a função promocional, atinge a liberdade dos agentes, e de forma mais incisiva uma maior solidariedade do agente causador do dano em relação à vítima, para buscar a melhor forma de reparar o dano que causou, como se fosse um dever. Nesta direção, a solidariedade exprime também, quando conectada à função primária, ou seja, ligado à ideia de uma liberdade positiva, além disso, concretizado o dano, invoca a vítima a propor meios possíveis para a realização de uma eventual reparação, exigindo-se cooperação de sua parte. Abre-se assim um canal de diálogo possível e desejável, daí o sentido ético em um ambiente normalmente hostil da responsabilidade extracontratual, por isso que, tal função, sem dúvidas é um passo adiante na escala do avanço civilizatório e comunitário (REALE, 1987, p. 673). Ademais, como já foi dito, a função promocional reflete um estímulo à reparação espontânea do dano, nesse viés, analisando o termo “espontâneo”, faz-se necessário destacar alguns pontos. Decerto, uma pessoa age espontaneamente quando movida por impulsos próprios, sem que haja interferência externa na conformação de sua vontade, assim sendo, pode surgir dúvidas se a sanção positiva influenciaria de tal forma que a decisão do agente não estaria livre. De fato, essa é a apuração conceitual comum em relação ao temo “espontâneo”, no entanto, à luz dos valores do ordenamento do (dever-ser) e da praxe (ser), pode-se observar uma problemática que envolve, a eficácia do direito, ou seja, mesmo o autor expoente do positivismo jurídico já afirmou que as normas jurídicas somente permanecem válidas, portanto, vigentes “se esta ordem jurídica é eficaz, quer dizer, enquanto a ordem jurídica numa consideração global for eficaz” (KELSEN, 2009, p. 28). Dessa forma, a importância da praxe (mundo do ser) na conformação da ordem jurídica positiva mundo do (dever-ser) é de tal grau que se torna condicionante da própria existência válida do direito objetivo, enquanto tal. Sendo assim, é necessário compreender que o fenômeno do agir espontâneo vai de acordo com as circunstâncias da realidade e pela via dos valores e instrumentos que a ordem positiva põe à disposição do agente causador do dano. É por essa razão que aqui se considera espontânea tanto a conduta motivada pelo despertar íntimo e pessoal, de raiz puramente religiosa ou moral subjetiva, quanto o comportamento impulsionado pela existência de uma sanção determinada a qual a pessoa prestou obediência, como senso de dever ético-moral objetivo ou simplesmente jurídico, devido a essa ideia que podemos analisar que a sanção positiva, pode sim ser considerada uma forma de agir espontâneo por parte do agente causador do dano. Nesse sentido, ainda que se utilizem de uma ponte dourada oferecida pela ordem jurídica para influenciar a tomada de decisão do agente causador do dano, serão considerados espontâneostodos os atos de composição extrajudicial, como também aqueles que se deram no curso do processo, pelo caminho das oportunidades oferecidas na legislação processual. De forma contrária, o comportamento não será espontâneo, quando a pessoa é compelida, coercitivamente, a realizá-lo, como, por exemplo, pela via de decisão judicial, ou de protesto de título, ou de execução forçada extrajudicial. De todo modo, apesar da função promocional carecer de um maior aprofundamento doutrinário e jurisprudencial, nossos tribunais já conseguem estabelecer em suas sentenças e acórdãos, a sanção positiva, concedendo “bônus” para um determinado comportamento pautado na solidariedade e voluntariedade do agente causador, nesse viés, vejamos: BANCÁRIO. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. RÉU QUE, NA CONTESTAÇÃO, INFORMA A HABILITAÇÃO DO CRÉDITO JUNTO AO SEU PROCESSO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. ATO CONTÍNUO, BANCO AUTOR QUE PEDE A DESISTÊNCIA DA AÇÃO POR SUPERVENIENTE FALTA DE INTERESSE DE AGIR. HOMOLOGAÇÃO DA DESISTÊNCIA, COM A CONDENAÇÃO DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA AO PAGAMENTO DAS CUSTAS PROCESSUAIS E HONORÁRIOS ADVOCTÍCIOS FIXADOS EM 10% (DEZ POR CENTO) SOBRE O VALOR DA CAUSA. INSURGÊNCIA A RESPEITO DO PERCENTUAL FIXADO. NÃO APLICAÇÃO DA EQUIDADE ( CPC, ART. 85, § 8º), DIANTE DO VALOR ATRIBUÍDO À CAUSA. POR OUTRO LADO, NECESSIDADE DE PRIVILEGIAR O COMPORTAMENTO PROBO E COLABORATIVO DO AUTOR, EM PROCESSO EVIDENTEMENTE MENOS DIFICULTOSO PARA AMBAS AS PARTES. APLICAÇÃO, POR SIMETRIA, DO ART. 90, § 4º, DO CPC. INTERPRETAÇÃO QUE SE COADUNA COM A RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE A QUE ESTÁ O JUIZ OBRIGADO A OBSERVAR, BEM COMO COM AS DEMAIS NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL. São regras de hermenêutica jurídica: “onde houver o mesmo fundamento haverá o mesmo direito” (“ubi eadem ratio ibi idem jus”) e “onde há a mesma razão de ser, deve prevalecer a mesma razão de decidir” (“ubi eadem legis ratio ibi eadem dispositio”). (TJ-PR - APL: 00014002320188160026 PR 0001400-23.2018.8.16.0026 (Acórdão), Relator: Desembargador Lauro Laertes de Oliveira, Data de Julgamento: 03/02/2020, 16ª Câmara Cível, Data de Publicação: 05/02/2020) Nesse sentido, podemos perceber que o nosso ordenamento, já estabelece de certa forma, sanções positivas promocionais para que o conflito ele se resolva de forma mais célere e benéfica para ambas as partes. Conquanto, faz-se necessário uma maior elucidação sobre a função promocional por parte da doutrina e da nossa jurisprudência. Por fim, pode-se concluir que a função promocional aperfeiçoa a busca pela reparação do dano, calcada na solidariedade e na máxima efetividade dos direitos, busca-se, a satisfação eficaz e eficiente do interesse atual da vítima após sofrer o dano, que não confunde com a intenção única e exclusiva de recuperar a situação patrimonial ou existencial de outrora. Persegue-se, assim, uma solução célere, ainda que a busca seja por rapidez razoável, com nível de consciência e reflexão apurado entre as partes acerca da amplitude e intensidade do dano, reverberando então em uma sociedade complexa, porém mais solidária entre si, e tendo como consequência um enxugamento em cascata em que um terceiro resolve determinado conflito, o qual era totalmente possível a autocomposição das partes. FUNÇÃO PRECAUCIONAL A função precaucional representa uma evolução socioeconômica da sociedade. O seu surgimento possui como marco a conferência de Estocolmo acerca do meio ambiente, que representou um abalo ao modo antropocentrista clássico da humanidade lidar com o mundo. As necessidades humanas superaram seu estigma puramente capitalista, econômico e industrial, passando a se importar com a fonte condicional da produção de riquezas, o meio ambiente. A declaração do meio ambiente não só expandiu direitos e deveres para com os não humanos, como também polinizou pelo mundo a preocupação com os riscos advindos das atividades humanas. No Brasil, a função precaucional, por influência de Estocolmo, veio a ser consolidada com a promulgação da Constituição de 1988, passando a ter garantia expressa em seu artigo 225. Dentro da análise dos riscos vigem dois princípios fundamentais, a prevenção e a precaução. A função precaucional se difere da função preventiva na medida em que se aplica antes mesmo do conhecimento do risco. Nas palavras de Maria Alexandre Aragão: Comparando-se o princípio da precaução com o da atuação preventiva, observa-se que o segundo exige que os perigos comprovados sejam eliminados. Já o princípio da precaução determina que a ação para eliminar os possíveis impactos danosos ao ambiente seja tomada antes de um nexo causal ter sido estabelecido com evidência científica absoluta (ARAGÃO, 1997, p.68). Na falta de estudo científico, comprovação técnica ou ausência de informações suficientes para determinar a existência ou não de um risco, a administração pública tem o direito-dever de atuar in dubio pro ambiente, inclusive negando ou não a concessão de licença ambiental para aquele que deseja realizar a atividade. Essa função permite que a administração pública se anteveja a existência de um risco, atuando de forma a impedir que novos riscos surjam para o meio ambiente. Em consonância com esse posicionamento, a Relatora Carmen Lucia por meio da ADI 5592 do Distrito Federal decide: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. MEDIDAS DE CONTENÇÃO DAS DOENÇAS CAUSADAS PELO AEDES AEGYPTI. ARTIGO 1º, § 3º, INCISO IV DA LEI N. 13.301, DE 27 DE JUNHO DE 2016. PERMISSÃO DA INCORPORAÇÃO DE MECANISMOS DE CONTROLE VETORIAL POR MEIO DE DISPERSÃO POR AERONAVES MEDIANTE APROVAÇÃO DAS AUTORIDADES SANITÁRIAS E DA COMPROVAÇÃO CIENTÍFICA DA EFICÁCIA DA MEDIDA. POSSIBILIDADE DE INSUFICIÊNCIA DA PROTEÇÃO À SAÚDE E AO MEIO AMBIENTE. VOTO MÉDIO. INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO. ARTIGOS 225, § 1º, INCISOS V E VII, 6º E 196 DA CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA. INAFASTABILIDADE DA APROVAÇÃO PRÉVIA DA AUTORIDADE SANITÁRIA E DA AUTORIDADE AMBIENTAL COMPETENTE. ATENDIMENTO ÀS PREVISÕES CONSTITUCIONAIS DO DIREITO À SAÚDE, AO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO E AOS PRINCÍPIOS DA PRECAUÇÃO E DA PREVENÇÃO. PROCEDÊNCIA PARCIAL DA AÇÃO. 1. Apesar de submeter a incorporação do mecanismo de dispersão de substâncias químicas por aeronaves para combate ao mosquito transmissor do vírus da dengue, do vírus chikungunya e do vírus da zika à autorização da autoridade sanitária e à comprovação de eficácia da prática no combate ao mosquito, o legislador assumiu a positivação do instrumento sem a realização prévia de estudos em obediência ao princípio da precaução, o que pode levar à violação à sistemática de proteção ambiental contida no artigo 225 da Constituição Federal. 2. A previsão legal de medida sem a demonstração prévia de sua eficácia e segurança pode violar os princípios da precaução e da prevenção, se se mostrar insuficiente o instrumento para a integral proteção ao meio ambiente equilibrado e ao direito de todos à proteção da saúde. 3. O papel do Poder Judiciário em temas que envolvem a necessidade de consenso mínimo da comunidade científica, a revelar a necessidade de transferência do lócus da decisão definitiva para o campo técnico, revela-se no reconhecimento de que a lei, se ausentes os estudos prévios que atestariam a segurança ambiental e sanitária, pode contrariar os dispositivos constitucionais apontados pela Autora em sua exordial, necessitando, assim, de uma hermenêutica constitucionalmente adequada, a assegurar a proteção da vida, da saúde e do meio ambiente. 4. Em atendimento aos princípios da precaução e da prevenção, bem como do direito à proteção da saúde, portanto, confere-se interpretação conforme à Constituição, sem redução de texto, ao disposto no inciso IV do § 3º do artigo 1º da Lei nº 13.301/2016, para fixar o sentido segundo o qual a aprovação das autoridades sanitáriase ambientais competentes e a comprovação científica da eficácia da medida são condições prévias e inafastáveis à incorporação de mecanismos de controle vetorial por meio de dispersão por aeronaves, em atendimento ao disposto nos artigos 225, § 1º, incisos V e VII, 6º e 196 da Constituição da República. 5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada parcialmente procedente. (STF - ADI: 5592 DF, Relator: CÁRMEN LÚCIA, Data de Julgamento: 11/09/2019, Tribunal Pleno, Data de Publicação: 10/03/2020) Do julgado em questão se extrai a essência do princípio da precaução. Por mais que os fertilizantes em lide possuem a capacidade de produzir efeitos muito positivos para os seres humanos, a probabilidade, mesmo que não comprovada, do uso produzir riscos para o equilíbrio ambiental e sanitário, já bastaram para a não permissão de seu uso, por força constitucional do princípio da precaução. Entende-se por meio ambiente, não só o meio natural, como também o meio urbano, cultural e do trabalho. Deste modo, a função precaucional não se limita ao meio ambiental propriamente dito, permitindo que a administração pública atue inibindo quaisquer atividades humanas com potencial de produzir novos riscos e danos coletivos ao meio ambiente em que se encontra inserido. Por esse viés Marcela Sobral Castro afirma: O referido princípio foi introduzido no ordenamento brasileiro através do Direito Ambiental, mas não se restringe a ele. Outros ramos do direito aderiram a esse princípio, como o da Responsabilidade Civil... [...] O princípio da precaução e prevenção se instrumentalizaria através da adoção de políticas públicas aptas a demonstrarem à sociedade a reprovabilidade de condutas lesantes ao cidadão (CASTRO, SOBRAL, 2016). A responsabilidade civil com sua função precaucional tem por objetivo a responsabilidade sem danos, exemplo disso são órgãos de fiscalização como EIA/RIMA que possuem por função fiscalizar obras que tenham um grande impacto no meio ambiente e sempre que houver dúvidas quanto ao nível de impacto deve escolher aquele que não cause danos de forma alguma. Nesse sentido, vige jurisprudência do Tribunal de Justiça de Santa Catarina: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL. DECISÃO QUE DEFERE PEDIDO DE AVERBAÇÃO ACERCA DA EXISTÊNCIA DA DEMANDA ORIGINÁRIA NA MATRÍCULA DE IMÓVEL COM EDIFICAÇÃO SITUADA EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APP). POSSIBILIDADE. CAUTELA NECESSÁRIA À PROTEÇÃO AMBIENTAL E AOS EVENTUAIS INTERESSES E DIREITOS DE TERCEIROS. DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. "'O ônus da prova incumbia ao Requerido/Agravante, que, apesar das diversas teses apresentadas com o objetivo de afastar a ilicitude de sua intervenção em área especialmente protegida, não conseguiu desconstituir as alegações e provas robustas encartadas pelo Ministério Público, porque bem demonstrado está o dano ambiental e seu nexo causal com a atividade degradadora, inclusive que a construção é recente e não pode ser considerada como núcleo urbano informal, nos termos do Enunciado do Ministério Público de Santa Catarina. Aliás, importa mencionar que, na esfera penal, o Agravante foi efetivamente condenado pela prática do crime descrito no artigo 64 da Lei n. 9.605/98 em decorrência do evento apontado na exordial, cuja sentença transitou em julgado em 17-3-2021, pois comprovada sua responsabilidade penal. Em suma: o dano e a atividade degradadora estão devidamente demonstrados nos autos e o nexo causal decorre justamente da afronta ao Código Florestal vigente pelo Requerido/Agravante, haja vista ser possível presumir que sua conduta de intervir em Área de Preservação Permanente causará consequências ao meio ambiente equilibrado, pois, se assim não o fosse, a Lei n. 12.651/12 não teria cuidado de tratar especificamente sobre o tema em seu artigo 4º, impondo a obrigação de se respeitar recuos mínimos a partir da calha do leito regular de cursos d'água a depender de sua largura. O dano ambiental presumido, por seu turno, configura-se no presente caso porque há uma presunção normativa de que o ato praticado pelo Agravante causa efeitos deletérios ao meio ambiente equilibrado, independente da comprovação in concreto de tais resultados danosos, em virtude do caráter difuso do direito violado e da "função precaucional atribuída à responsabilidade civil" que 'por força do princípio da precaução, também determina uma flexibilização do nexo causal"'. (TJ-SC - AI: 50179323820218240000 Tribunal de Justiça de Santa Catarina 5017932-38.2021.8.24.0000, Relator: Jaime Ramos, Data de Julgamento: 26/10/2021, Terceira Câmara de Direito Público) Do texto legal em anteposto, é importante ressaltar o dito em grifo do Relator Jaime Ramos, que deixa claro e evidente a forma com que o princípio da precaução atua, influenciando exponencialmente na forma como a responsabilização é tratada, afastando a concretude de fatores fundamentais para o instituto da responsabilização como o do nexo causal. FUNÇÃO PUNITIVA Ao analisar o exposto pela doutora Fernanda Ivo Pires, destaca-se a idoneidade de sua fala a respeito do tema, expondo, de logo, dominante concordância, divergindo apenas sobre o entendimento do art. 944 do CC, o que será detalhado a seguir. No início de sua fala, a doutrinadora chama atenção para características punitivas presentes no código civil, citando como exemplo a perda de benfeitorias úteis realizadas pelo possuidor de má-fé, cláusulas penais dos contratos, entre outras. A mencionada perspectiva, apesar de não aparecer de maneira tão nítida no referido código, tem como principal porta de entrada o artigo 944, ao expor: Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. Deslinda-se ainda mais essa perspectiva ao analisar o enunciado 379 do CNJ, que diz: O art. 944, caput, do Código Civil não afasta a possibilidade de se reconhecer a função punitiva ou pedagógica da responsabilidade civil. Desse modo, defende-se que assiste razão a doutrinadora ao expor tal entendimento, haja vista as fontes supracitadas, que não apenas abrem espaço como se manifestam expressamente acerca do tema. Uma vez respaldado o caráter punitivo da responsabilidade civil, segue-se comentando a fala a doutrinadora, no tocante à destinação da parcela provenientes dos danos punitivos. A despeito de se entender pertinente a defesa de que as indenizações provenientes de danos punitivos deveriam ser revertidas em fundos públicos, cujos principais fundamentos são a isonomia e a vedação ao enriquecimento sem causa, segue-se aqui a mesma linha adotada pela doutrinadora, no sentido de que os valores provenientes delas devem ser revertidos em favor das vítimas. Diz-se isso, tendo como inspiração uma perspectiva de uma corrente norte americana presente no Corpus Juris Secundum, que a defende sob o fundamento de recompensar a vítima por ter trazido o causador do dano à justiça (as a reward for his public service in bringing the wrongdoer to justice) (Verbete “Damages”. Corpus Juris Secundum, p. 706). Ademais, é importante destacar, também, o mérito do advogado em trazer o presente tema para os autos, que já não é pacificamente recepcionado pela doutrina e jurisprudência brasileiras, apesar de já se encontrar um considerável espaço galgado. Sendo assim, ao destinar os valores decorrentes dos danos punitivos à vítima, alcança-se, por sua vez, o profissional responsável pela obtenção desse resultado, haja vista o fato de que, se não fosse ele, o poder judiciário não poderia condenar a Ré em tais danos, uma vez que esta seria uma decisão ultra petita. Nessa perspectiva, contesta-se o argumento da isonomia, chamando atenção para o fato de que as outras vítimas das mesmas condutas lesivas nada fizeram para que houvesse uma providencia a respeito do ilícito praticado pela empresa infratora. E seria deveras injusto com a vítima que teve dignidade e atitudepara levar tal causa à justiça repartir sua indenização com as outras que nada fizeram, dado que, tal qual o poder judiciário, o advogado precisa da anuência da vítima para que ele possa ajuizar a respectiva ação. Nesta senda, uma vez que a função desta responsabilidade é coibir a reiteração dessas práticas e punir suas praticantes, entende-se que esse objetivo seria mais facilmente alcançado com a destinação das verbas para as vítimas do que para os fundos públicos. O efeito disto é facilmente previsível, uma vez que, tendo em vista a publicidade dos processos e das decisões judiciais, outras vítimas e advogados começariam a ajuizar mais ações a respeito desses ilícitos cometidos, que consequentemente teriam os mesmos resultados da ação inspiradora, com as devidas variações a depender do caso, impactando diretamente no orçamento das empresas a ponto de tornar a “indústria” dessas práticas abusivas não lucrativas. Sobre o enriquecimento sem causa, reitera-se o exposto pela professora Fernanda ao analisar a questão colocando o foco da causa no ilícito praticado pela empresa e na rua respectiva função social. Nessa perspectiva, a causa para o “enriquecimento” é a conduta lesiva socialmente reprovável, por divergir de sua função social, praticada reiteradamente pela empresa, o que ao aglutinar-se com o fundamentado anteriormente, confere plenos direitos às vítimas de serem destinatárias finais das verbas oriundas dos danos punitivos. Nesse sentido, traz-se o entendimento do professor Salomão Resedá que é idôneo ao manifestar seu conceito sobre dano moral punitivo: Um acréscimo econômico na condenação imposta ao sujeito ativo do ato ilícito, em razão da sua gravidade e reiteração que vai além do que se estipula como necessário para satisfazer o ofendido, no intuito de desestimulá-lo à prática de novos atos, além de mitigar a prática de comportamentos semelhantes por parte de potenciais ofensores, assegurando a paz social e consequente função social da responsabilidade civil (RESEDÁ, 2009). Dando continuidade, há que se ressaltar, aqui, que apesar de o artigo 944 do CC abrir portas para a função punitiva e pedagógica da responsabilidade civil, ele traz consigo alguns pesares que precisam de uma certa cautela quando analisados. A referida doutrinadora, ao longo de sua apresentação, traz acertadamente a dificuldade de se medir a extensão do dano no âmbito moral, por se tratar de danos subjetivos, cuja extensão, mesmo diante de idêntica conduta, varia a depender do caso concreto. Contudo, mesmo sendo verdadeiramente difícil, a medição dos danos da esfera extrapatrimonial, esta acaba sendo inevitavelmente feita, uma vez que ao determinar um valor a título de danos morais, determina-se, por sua vez, uma medição da extensão de tais danos. Nessa perspectiva, adota-se o exposto pela professora acerca do parágrafo único do artigo 944, CC, tendo como base o princípio da equidade, a fim de não limitar o a medição de tais danos apenas para reduzir e sim aumentar, quando necessário, dependendo do caso concreto. Segue-se ainda com o que fora lecionado pela professora, no tocante à perspectiva do dano. Menciona-se essa parte da apresentação no intuito, inclusive, de facilitar uma medição de extensão dos danos sofridos em decorrência do ilícito praticado, dentro do cenário proposto pelo referido artigo. Nesse viés, a concepção de que o dano seria a perda do equilíbrio relacional seria extremamente útil na medição dos danos morais, uma vez que funcionaria como um bom critério a ser avaliado e mais fácil de ser observado. Posto isso, a discordância reside apenas na possibilidade de utilização do mencionado artigo para a majoração também dos danos morais, haja vista as próprias concepções trazidas pela Doutora que auxiliariam na medição da extensão desse dano que ocorre inevitavelmente. Cumpre destacar que este não seria o único critério a ser observado na majoração dos danos extrapatrimoniais, até porque, no sistema jurídico brasileiro não há nenhum critério objetivo na majoração dos danos morais, o que abre, por sua vez, grande leque para doutrina e jurisprudência trabalharem, da melhor forma possível, para fornecer uma maneira mais palpável de majoração de tais danos, como de certa forma se tem atualmente com os direitos da personalidade e a função punitiva. Por fim, como exemplo jurisprudencial, aduz-se o exposto pelo ministro Carlos Fernando Mathias, durante o julgamento do REsp 210.101/PR, proferindo o seguinte entendimento: [...] Há, como bastante sabido, na ressarcibilidade do dano em destaque, de um lado, uma expiação do culpado e, de outro, uma satisfação à vítima. Como fixar a reparação?; quais os indicadores? Por certo, devido à influência do direito norte- americano muitas vezes invoca-se pedido na linha ou princípio dos 'punitive damages'. 'Punitive damages' (ao pé da letra, repita-se o óbvio, indenizações punitivas) diz-se da indenização por dano, em que é fixado valor com objetivo a um só tempo de desestimular o autor à prática de outros idênticos danos e a servir de exemplo para que outros também assim se conduzam. Ainda que não muito farta a doutrina pátria no particular, têm-se designado as 'punitive damages' como a 'teoria do valor do desestímulo' posto que, repita-se, com outras palavras, a informar a indenização, está a intenção punitiva ao causador do dano e de modo que ninguém queira se expor a receber idêntica sanção. No caso do dano moral, evidentemente, não é tão fácil apurá- lo. Ressalte-se, outrossim, que a aplicação irrestrita das 'punitive damages' encontra óbice regulador no ordenamento jurídico pátrio que, anteriormente à entrada em vigor do Código Civil de 2002, vedava o enriquecimento sem causa como princípio informador do direito e após a novel codificação civilista, passou a prescrevê-la expressamente, mais especificamente, no art. 884 do Código Civil de 2002. Assim, o critério que vem sendo utilizado por esta Corte na fixação do valor da indenização por danos morais, considera as condições pessoais e econômicas das partes, devendo o arbitramento operar-se com moderação e razoabilidade, atento à realidade da vida e às peculiaridades de cada caso, de forma a não haver o enriquecimento indevido do ofendido e, também, de modo que sirva para desestimular o ofensor a repetir o ato ilícito. (REsp 210.101/PR, Rel. Min. Carlos Fernando Mathias (Juiz Federal convocado do TRF 1ª Região),4ª Turma, unânime, DJe de 09.12.2008 – grifo nosso). Sendo assim, na mencionada jurisprudência encontra-se não apenas a validade e recepção dos danos punitivos, confirmado o que se defendeu ao longo desse texto, como também uma forma de aplicá-lo e os critérios a serem observados ao longo desta aplicação. Chama a atenção para a consideração das condições econômicas e pessoais das partes, o que de imediato se relaciona com o parágrafo único do artigo 944 e o principio da equidade, usado para fundamentar, assim como a redução, o aumento do valor da indenização, respeitando-se as peculiaridades de cada caso. Frisa-se, por fim, o objetivo fortemente destacado no voto do ministro de desestimular a repetição desta atividade ilícita, ante a aplicação deste tipo de dano, servindo inclusive como exemplo para os outros praticantes de ilícitos que acabam sendo intimidados, cumprindo, assim, uma função pedagógica. Diante disso, não se pode deixar de destacar a maior eficácia e facilidade de alcance deste objetivo com a destinação das verbas provenientes de tais danos para a vítima ao invés dos fundos públicos, o que, como visto, incentivaria mais vítimas a ajuizarem ações, denunciando, assim, os praticantes de tais ilícitos, o que por sua vez permitiria que o poder judiciário cumprisse com sua função social. Finalmente, conclui-se reiterando a idoneidade da fala da doutrinadora ao expor e defender pontos extremamente pertinentese necessários, ressalvando apenas a questão do artigo 944 e a sua aplicabilidade aos danos morais, que podem ser facilmente observados na jurisprudência trazida. REFERÊNCIAS ARAGÃO, Maria Alexandre e Sousa. O princípio do poluidor-pagador: pedra angular da política comunitária do ambiente. Coimbra: Coimbra, 1997. BRASIL, Tribunal de Justiça. Apelação Cível AC: 10000204852628001 MG, Apelante: Fabio Benicios Lemes, Apelado: TVSBT canal 4 de São Paulo S/A. Relator: Fernando Lins, D.J 04 nov. 2020. Disponível em: https://tj-mg.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1116891220/apelacao- civel-ac-10000204852628001-mg/inteiro-teor-1116891405. Acesso em: 29 mar. 2022. CASTRO, Marcela Sobral. A Insuficiência da Responsabilidade Civil em face do Abandono afetivo. Faculdade Baiana de Direito. 2016, Disponível em: <http://portal.faculdadebaianadedireito.com.br/portal/monografias/Marcela%20Sobral%2 0Castro.pdf>. Acesso em 28 mar.2022. FARIAS, Cristiano Chaves de; BRAGA NETTO, Felipe Peixoto; ROSENVALD, Nelson. Novo Tratado de Responsabilidade Civil. São Paulo: Atlas, 2015. GAROUPA, Nuno. Combinar a Economia e o Direito: A Análise Económica do Direito. Systemas: Revista de Ciências Jurídicas e Econômicas, v.1, n.º1, 2009. IDP. Webinar “As funções da responsabilidade”. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=6aVlqXQMyHQ>. Acesso em: 28 mar. 2022. KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. MARINONI, Luiz Guilherme. Tutela inibitória. 4ª ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. REALE, Miguel. Filosofia do direito. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 1987. RESEDÁ, Salomão. A Função Social do Dano Moral. Florianópolis: Conceito Editorial, 2009. ROSENVALD, Nelson; KUPERMAN, Bernard Korman. Restituição de ganhos ilícitos: há espaço no Brasil para o disgorgement? Disponível em: <https://revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/viewFile/5283/3367>. Acesso em: 29 mar. 2022. ROSENVALD, Nelson. Responsabilidade Civil: Compensar, punir e restituir. Revista IBERC – Editorial, v. 2, n. 2, p. 01-09, abr.-jun./2019. SILVA, João Calvão da. Cumprimento e sanção pecuniária compulsória. 2ª ed. Coimbra: Coimbra, 1995. THIBIERGE, Catherine. Avenir de la responsabilité, responsabilité d’avenir, Recueil Dalloz. Chronique. Paris, n. 9, mars, 2004. VERBETE “DAMAGES. Corpus Juris Secundum. VIEIRA, Victor. Ministro Gilmar Mendes critica tamanho do Judiciário. Conjur. Disponível em: <ConJur - Ministro Gilmar Mendes critica tamanho do Judiciário brasileiro>. Acesso em: 07 abr. 2022. https://tj-mg.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1116891220/apelacao-civel-ac-10000204852628001-mg/inteiro-teor-1116891405 https://tj-mg.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/1116891220/apelacao-civel-ac-10000204852628001-mg/inteiro-teor-1116891405 http://portal.faculdadebaianadedireito.com.br/portal/monografias/Marcela%20Sobral%20Castro.pdf http://portal.faculdadebaianadedireito.com.br/portal/monografias/Marcela%20Sobral%20Castro.pdf https://www.youtube.com/watch?v=6aVlqXQMyHQ https://revistas.unifacs.br/index.php/redu/article/viewFile/5283/3367 https://www.conjur.com.br/2013-mar-26/ministro-gilmar-mendes-critica-tamanho-judiciario-brasileiro
Compartilhar