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AV1 Responsabilidade Civil - Prof Leo Vieira

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FACULDADE BAIANA DE DIREITO E GESTÃO 
CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO 
 
 
NATÁLIA OLIVEIRA RODRIGUES 
DANIEL BELLO SANTOS 
LETÍCIA LOPES DA SILVA 
YURI SARMENTO DÓRIA TEIXEIRA 
GABRIEL BRANDÃO LEITE RAMOS 
JOSÉ MUNZER BRAIDE NETO 
 
 
 
 
 
 
 
AS FUNÇÕES DA RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
 
 
 
SALVADOR – BA 
2022 
FUNÇÃO REPARATÓRIA 
Como ponto de partida de uma discussão que se mantém em constante transformação e 
aprofundamento, qual seja, o estudo das funções da Responsabilidade Civil, importante é traçar 
definições que busquem singularizar tal estudo. Nesta atividade, a ilustre professora Maria 
Helena Diniz declarou que: 
A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem alguém a reparar 
dano moral ou patrimonial causado a terceiros em razão de ato do próprio imputado, 
de pessoa por quem ele responde, ou de fato de coisa ou animal sob sua guarda 
(responsabilidade subjetiva), ou, ainda, de simples imposição legal (DINIZ, 2003, 
p.34). 
A partir de tal definição, muito se difundiu uma tendência de nomear a Responsabilidade Civil 
como “Direito dos Danos”, quando na verdade, como bem pontuou a professora Fernanda Ivo 
no seminário IDP/IBERC sobre as funções do supracitado tema, seria uma forma de restrição 
ampla dos aspectos da Responsabilidade Civil, que para além da reparação do dano, ostenta 
também responsabilidade social. 
Ainda em consonância com as palavras da professora Fernanda Ivo no aludido seminário, tem-
se que o dano resta traduzido com a perda de um equilíbrio relacional, o qual exige reparação 
para se “encontrar” o reequilíbrio. Neste ponto, adentramos especificamente na função clássica 
da Responsabilidade Civil, a reparatória. 
Como também pontuado pela professora Thaís Pascoaloto, todo sistema da Responsabilidade 
Civil foi criado no sentido da função clássica-reparatória, pautando-se em uma ideia de olhar o 
dano pelo retrovisor, uma vez que já tendo o evento danoso acontecido, voltamo-nos para a 
reparação. Isso se deve a um histórico de alicerce da Responsabilidade Civil pautado no direito 
privado, e “no ressarcimento dos danos decorrentes da circulação de bens e obrigações” 
(CHAVES, BRAGA NETTO E ROSENVALD, 2015, p. 40). 
Visava ela atender as situações por ela não reguladas, basicamente com a função de 
disciplinar a alocação das perdas que derivam das atividades humanas econômicas, 
com a proteção do status quo dos indivíduos atingidos por ilícitos por elas 
desencadeados (CHAVES, BRAGA NETTO E ROSENVALD, 2015, p. 40). 
O que se busca, segundo a teoria geral, é retornar a parte prejudicada pelo evento danoso ao 
statu quo ante, buscando-se reestabelecer o equilíbrio jurídico-econômico existente 
anteriormente entre partes. Faz-se isso, pautado no princípio da restitutio in integrum, em outras 
palavras, a busca da reparação no máximo possível, tendo como referência a situação em que 
se encontrava a vítima outrora a lesão. 
Sobre este ponto, o célebre professor Nelson Rosenvald, no seminário sobredito organizado 
pelo IDP/IBERC, pontuou que constitui grave erro na expressão “restituir a vítima a situação 
anterior ao dano”, visto que seria muito melhor não se pensar numa restituição integral, mas 
sim em uma função reconstitutiva da Responsabilidade Civil. Neste contexto, registramos desde 
já total concordância ao dito, amparando-se para tal em um Direito que deve ser enxergado 
como fato social, isto é, não é fruto de uma análise particular de um indivíduo, mas sim de um 
fenômeno relacional, de tal modo que se deveria pregar uma restituição das partes à situação 
anterior ao dano. 
Em prosseguimento, ressalta-se que a conduta lesiva diz respeito a ofensas nas múltiplas órbitas 
passíveis de análise sobre a égide do neminem laedere, os quais incidem entre os danos morais, 
materiais e éticos, permitindo um destrinchar em diversos novos danos, tais como o dano 
espiritual, dentre outros (o que tem sido objeto de profundos estudos). Todavia: 
Será insuficiente a alegação de mera perda patrimonial e/ou lucro cessante, afirma-se 
a necessidade de que o dano seja injusto, portador de relevância no confronto 
intersubjetivo, entre ofensor e ofendido, legitimando-se em todas as situações 
jurídicas em que o balanceamento de interesses aponta violações de princípios. 
(CHAVES, BRAGA NETTO E ROSENVALD, 2015, p. 41). 
Há que se falar ainda a respeito das três formas de tutela que servem por vezes de recurso para 
a função reparatória, destacando-se aqui: (i) restitutória, na busca de restituir as condições da 
vítima antes do evento lesivo; (ii) ressarcitória, pretendendo compensar o titular do interesse 
lesado pelos prejuízos advindos da lesão; (iii) e satisfativa, em outras palavras, “a satisfação in 
natura de uma posição subjetiva que restou não atuada, ou defeituosamente atuada” 
(CHAVES, BRAGA NETTO E ROSENVALD, 2015, p. 42). 
No cenário desta função, o art. 944 do Código Civil surge, então, como um afirmador de todo 
o cerne principiológico anteriormente explorado, determinando que “a indenização mede-se 
pela extensão do dano”, sendo complementado no parágrafo único a possibilidade de 
ponderação em relação à culpa, permitindo ao magistrado a redução do valor da indenização 
em situações de excessiva desproporção entre a culpa e o dano. 
Entretanto, diversas críticas e indagações são apontadas em torno deste dispositivo, tal como 
sublinhado pela professora Fernanda Ivo, com quem demonstramos anuência, quando 
questiona, em relação ao dano moral, como seria possível avaliar extensão do dano, pois não 
há como avaliar extensão da personalidade do indivíduo. Aponta ainda a professora, que tal 
artigo funcionaria como limitador a depender apenas do que se compreenda o que venha a ser 
o dano: sendo pensado como dinheiro, seria, pois, um limitador; ao contrário, quando 
pensarmos nessa perda de equilíbrio relacional, estaríamos defronte a inexistência de 
parâmetros para extensão do dano. 
Salienta-se ainda, em continuação, que o dano diferencial compreenderia, portanto, o saldo 
entre a situação patrimonial do sujeito lesado em momento posterior ao ilícito subtraído do 
cenário anterior ao evento danoso, objetivando-se a chegar a um montante igual a 0 (zero), com 
o reestabelecimento de tal equilíbrio. Eis que reside neste ponto mais um problema, alvo de 
críticas constantes, as quais, inclusive, compartilhamos: a perda ocasionada pela lesão cometida 
frente a relação agora desequilibrada pode mesmo ser totalmente compensada e/ou reparada? 
Pensamos que não. A compensação-reparação não atingiria nem por completude o indivíduo 
lesado, e tampouco a sociedade no qual este está inserido. 
Nenhum ressarcimento, por mais que se assuma compensativo, poderá eliminar a 
perda produzida pelo ilícito. A responsabilidade não é capaz, em passe de mágica, de 
produzir o retorno a um passado ideal e repor ao lesado a situação anterior ao ilícito. 
[...] 
Exemplifica com a hipótese em que A destrói o carro de B, que vale 20.000 euros, e 
lhe indeniza com essa soma. B ficará satisfeito, pois se encontrara na mesma situação 
em que se encontrava antes do tato danoso (recuperará em pecúnia o valor da coisa 
destruída). Quem não estará na mesma situação será a sociedade considerada 
globalmente, pois a sua disposição terá um automóvel a menos. Aquele valor estará 
perdido para sempre, pois não se recupera um veículo destruído pelo tato de que 
20.000 euros passarão do bolso de A para B. 
(CHAVES, BRAGA NETTO E ROSENVALD, 2015, p. 42). 
Passemos, então, a análise de um caso concreto, oriundo de jurisprudência do Supremo Tribunal 
de Justiça, em julgamento de Recurso Especial: REsp 1440721 GO 2014/0050110-0, consoante 
ementa a seguir: 
RECURSOS ESPECIAIS. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE 
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PUBLICAÇÃO DE LIVRO. FALSO 
RELATO DE CUNHO RACISTA E EUGÊNICO ATRIBUÍDO A POLÍTICO. 
REPERCUSSÃO NACIONAL E INTERNACIONALDA FALSA IMPUTAÇÃO. 
DANO MORAL REPARAÇÃO ESPECÍFICA. PRINCÍPIO DA REPARAÇÃO 
INTEGRAL DO DANO. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO OCORRÊNCIA. 
NÃO RECEBIMENTO DA APELAÇÃO POR PREMATURIDADE. TRÂNSITO 
EM JULGADO. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. VALOR RAZOÁVEL. 
REVISÃO. SÚMULA 7/ST 1. Consoante se extrai do acórdão do Supremo Tribunal 
Federal na ADIn 4.815/DF, a dispensa de autorização prévia dos envolvidos para a 
publicação de biografias implica a responsabilidade a posteriori por danos 
comprovadamente causados. Extrai-se do voto da relatora, a Ministra Cármen 
Lúcia, que "não há, no direito, espaço para a imunidade absoluta do agir no exercício 
de direitos com interferência danosa a direitos de outrem. Ação livre é ação 
responsável. Responde aquele que atua, ainda que sob o título de exercício de direito 
próprio." 2. A liberdade de expressão acarreta responsabilidade e não compreende 
a divulgação de falsidade e a prática de crimes contra a honra. A divulgação de 
episódio falso, como se verdadeiro fosse, além de ofender a honra do lesado, 
prejudica o interesse difuso do público consumidor de bens culturais, que busca o 
conhecimento e não a desinformação. 3. Publicação de livro imputando falsamente 
a pessoa pública afirmações de cunho racista e eugênico. Ampla divulgação na 
mídia impressa, televisiva e virtual, tendo acarretado também processo criminal 
contra o autor perante o Supremo Tribunal Federal por crime de racismo e processo 
de cassação de mandato perante a Câmara dos Deputados por quebra de decoro 
parlamentar. 4. Admite-se a revisão do valor fixado a título de condenação por danos 
morais em recurso especial quando ínfimo ou exagerado, ofendendo os princípios 
da proporcionalidade e da razoabilidade. 5. A indenização por danos morais possui 
tríplice função, a compensatória, para mitigar os danos sofridos pela vítima; a 
punitiva, para condenar o autor da prática do ato ilícito lesivo, e a preventiva, para 
dissuadir o cometimento de novos atos ilícitos. Ainda, o valor da indenização deverá 
ser fixado de forma compatível com a gravidade e a lesividade do ato ilícito e as 
circunstâncias pessoais dos envolvidos. 6. Indenização no valor de R$ 250.000,00 
(duzentos e cinquenta mil reais), a cargo de cada recorrido, que, no caso, mostra-se 
adequada para mitigar os danos morais sofridos, cumprindo também com a função 
punitiva e a preventiva, sem ensejar a configuração de enriquecimento ilícito. 7. O 
direito de resposta, de esclarecimento da verdade, retificação de informação 
falsa ou à retratação, com fundamento na Constituição e na Lei Civil, não foi 
afastado; ao contrário, foi expressamente ressalvado pelo acórdão do Supremo 
Tribunal Federal na ADPF 130. Trata-se da tutela específica, baseada no 
princípio da reparação integral, para que se preserve a finalidade e a 
efetividade do instituto da responsabilidade civil (Código Civil, arts. 927 e 944). 
8. Segundo o entendimento pacífico do STJ, ao juiz, como destinatário da prova, 
cabe indeferir as que entender impertinentes, sem que tal implique cerceamento de 
defesa. Incidência da Súmula 7/STJ. 9. Tendo sido negado processamento ao 
recurso de apelação interposto pela Editora, por decisão transitada em julgado, não 
cabe apreciar sua inconformidade de mérito em grau de recurso especial. 10. A 
alteração dos valores dos honorários advocatícios fixados pelo Tribunal de origem, 
quando não irrisórios ou excessivos, exige o reexame de fatos e provas incabível no 
âmbito do recurso especial. Incidência da Súmula nº 7/STJ. 11. Recurso especial de 
Ronaldo Ramos Caiado parcialmente conhecido e, na parte conhecida, provido. 12. 
Recurso Especial de Fernando Gomes de Moraes conhecido em parte e, na parte 
conhecida, não provido. 13. Recurso especial de Editora Planeta do Brasil Ltda não 
conhecido. 
(STJ - REsp: 1440721 GO 2014/0050110-0, Relator: Ministra MARIA ISABEL 
GALLOTTI, Data de Julgamento: 11/10/2016, T4 - QUARTA TURMA, Data de 
Publicação: DJe 11/11/2016) 
 
Do julgado em questão, faz-se necessário ressaltar o dito no voto da relatora, Sra. Ministra 
Cármen Lúcia, quando proferiu que: "não há, no direito, espaço para a imunidade absoluta 
do agir no exercício de direitos com interferência danosa a direitos de outrem. Ação livre é 
ação responsável”. Isto posto, uma vez que os autores da obra em questão provocaram 
alarmantes danos às figuras das vítimas, na medida em que publicaram conteúdo inverídico a 
respeito de relato de cunho racista e eugênico atribuído a estes, imprescindível é o dever de 
reparação das lesões advindas disso. 
Por conseguinte, em face da função reparatória (aplicada de forma conjunta as funções 
preventiva e punitiva), foram os autores condenados a indenização em um montante que não 
provocasse enriquecimento ilícito injustificado das partes (ao contrário, nas palavras do 
professor Nelson Rosenvald no seminário em questão, trata-se de um enriquecimento 
justificado pela prática de um ilícito, isto é, de um comportamento antijurídico), mas que 
trouxesse uma eficácia social importante, revertendo-se em prol das vítimas. Ademais, 
estabeleceu-se ainda a necessidade de esclarecimento da verdade, isto é, a retratação da 
informação danosa-falsa, a ser divulgada nas publicações subsequentes da obra, numa 
tentativa de restabelecer o equilíbrio relacional entre as partes e a situação em que estas se 
encontravam em momento anterior ao evento causador do dano. 
Todavia, há que se sublinhar que: “a tutela ressarcitória intervém para reparar consequências 
e efeitos de comportamentos ilícitos, mas não se afirma como instrumento de recomposição 
da ordem jurídica violada” (CHAVES, BRAGA NETTO E ROSENVALD, 2015, p. 43). 
Assim, muito embora tais medidas tenham sido adotadas no caso concreto acima, direitos 
fundamentais-constitucionais-personalíssimos foram atingidos, e dificilmente (sendo 
especialmente otimista para não se dizer impossivelmente) se conseguirá reparar os danos 
deixados às vítimas. 
FUNÇÃO RESTITUTÓRIA 
Atualmente ocorre não apenas uma proliferação de ilícitos, há também uma proliferação de 
ilícitos lucrativos. É possível observar uma expressão no direito anglo-americano chamada “tort 
must not pay”, isto é, o ilícito não deve se pagar, todavia, a racionalidade econômica nos dias 
de hoje é de que o ato ilícito não só se paga, mas remunera de maneira significativa. 
Dessa forma, nota-se, por parte dos agentes econômicos, condutas “free rider”, que são modos 
parasitais de se comportar em que os agentes econômicos possuem uma máquina de calcular na 
mão com um cálculo de custo e benefício, no qual o lucro por essas práticas ilícitas é superior 
a quaisquer danos que recaia, por ventura, sobre eles e isso, numa perspectiva ampla, pode ser 
vislumbrado em quatro situações: (i) nos direitos da personalidade (a todo momento existe 
alguém usando a nossa imagem, a nossa intimidade, ganhando muito mais do que, 
eventualmente, ressarcindo); (ii) na propriedade imaterial (alguém se valendo das nossas 
patentes, nossos direitos autorais, nosso dados pessoais e lucrando bastante com essas práticas), 
(iii) nos direitos individuais homogêneos (seriam os chamados “trifling damages”, em outras 
palavras, aquela conta telefônica que vem com 0,20 centavos amais, um dano pequeno, mas o 
conjunto da obra demanda ilícitos maiores) e (iv) nos direitos metaindividuais (por exemplo, a 
Coelba permanece com o seu serviço lucrativo não obstante quedas de energia, processos por 
conta de eletrodomésticos queimados, isso porque valia apena manter o ilícito mesmo que ele 
fosse danoso para uma enorme coletividade, afinal o resultado era extremamente benéfico em 
termos de lucros). 
Pensando nisso, como se encaixaria, ou melhor, qual seria a reação a esse ilícito lucrativo? 
Inicialmente, os ingleses alteraram uma linha de raciocínio saindo da noção de “lost-based 
damages” para “gain-based damages”, quer dizer queem oposição a indenizações baseadas em 
danos, eles passaram a pensar em indenizações baseadas em ganhos, portanto, eles partiram de 
uma apreciação de uma responsabilidade civil que se atenta a contenção civil para um 
pensamento da responsabilidade civil com base em contenção de ilícitos, não somente 
prevenção de ilícitos, punição de ilícitos, mas restituição de lucros ilícitos. Essa medida dos 
“gain-based damages” se desdobra em dois remédios: 
O disgorgement, primeira resposta ao ilícito lucrativo, significa “vomitar”, suprimir, remover 
os lucros ilícitos, valendo-se de um exemplo feito por Nelson Rosenvald no Seminário 
produzido pelo IDP/IBERC, imagine o Salte Bae, possuidor de uma rede de restaurantes, Nusr-
et, no Oriente Médio e nos Estados Unidos e suponhamos que o Alex Atala, cozinheiro 
brasileiro renomado, decida abrir uma franquia no Brasil, porém não estabelece um contrato de 
consentimento de transferência e uso da marca, resta evidente então, que este é um ato ilícito, 
é uma violação a marca do Salte Bae, apesar disso, é um ato ilícito muito lucrativo. Nesse 
sentido, por qual razão o Salt Bae não consideraria ajuizar uma ação de compensação de danos? 
Para ele será extremamente complexo quantificar o dano que foi acometido, afinal esses danos 
são de difícil percepção, além do mais, ele tem a viabilidade de requerer a remoção dos danos 
dos lucros de Alex com o restaurante, pois só o ilícito elucida a aquisição dos seus lucros. Dessa 
forma, não se aborda aqui um enriquecimento injustificado da parte de Alex Atala, o 
enriquecimento dele é justificado na realização de um ato ilícito, no desempenho de uma 
conduta antijurídica. 
Logo, a lógica do disgorgement é impedir o dito “curto circuito do contrato” (ou seja, em países 
em que o instrumental jurídico é inábil, o pensamento dos indivíduos, a luz do exemplo 
abordado, é de atuar como Alex Atala, pois, noutrora, numa ação de responsabilidade civil, o 
que o Alex pagará ao Salt Bae será inferior ao que seria pago com a efetivação do contrato), 
preservar a violação de todo um sistema de tutela propriedade, visto que as pessoas confiam 
que a responsabilidade civil disfuncional é mais favorável. 
Há ainda uma segunda medida restitutória, o reasonable fee, equivalente a uma espécie de valor 
de uso no mercado, ainda no mesmo exemplo, pressupondo que o Alex Atala abre uma franquia 
do restaurante Nusr-et, sem o consentimento de Salt Bae (dono da marca), no entanto, embora 
tenha realizado ato ilícito, não recebe lucro com o restaurante. Com isso, o uso ao disgorgement 
não se fundamenta, porque é inviável o Salt Bae retirar qualquer lucro ilícito da parte de Alex, 
todavia realizou-se um ato ilícito e é fato que o Alex poupou gastos ao se utilizar de uma marca 
já bem estabelecida no mercado, por isso o Salt Bae deve ajuizar uma ação requerendo o valor 
de mercado que qualquer outra pessoa o pagaria pelo uso da sua marca, ou seja, existe um valor 
de uso que qualquer outro agente econômico geralmente deveria gratificar o titular da marca 
pelo fato da execução de contrato de cessão de uso. 
Dito isso, é possível vislumbrar no caso concreto a função restitutória e formar alguns 
entendimentos. Atentemos então para uma Apelação Cível do Tribunal de Justiça de Minas 
Gerais, AC: 10000204852628001 MG: 
EMENTA: CIVIL E CONSTITUCIONAL - APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO 
INDENIZATÓRIA - VEICULAÇÃO DE IMAGEM SEM AUTORIZAÇÃO - - 
CONFLITO ENTRE VERSÕES DE FATO - ÔNUS DA PROVA - INCUMBÊNCIA 
DA AUTORA - AUSÊNCIA DA PROVA - LIBERDADE DE IMPRENSA - 
LIMITES - ABUSO DO DIREITO DE INFORMAR - INOCORRÊNCIA - No 
conflito entre a versão divulgada por matéria jornalística, supostamente ofensiva à 
honra da parte, e a versão sustentada pelo autor, não há que privilegiar a segunda, se 
o requerente não se desincumbe do ônus de provar o fato constitutivo de seu direito - 
A liberdade de imprensa é pilar do Estado Democrático de Direito, sujeitando-se 
todavia a limites decorrentes de outras normas jurídicas, das quais destacam-se a 
atenção ao dever de veracidade, o interesse jornalístico ou público na divulgação do 
fato e a ausência de intenção de agredir moralmente a pessoa referida na reportagem 
- Respeitados os limites impostos pelo ordenamento à liberdade de informação 
jornalística, seu exercício não configura ato ilícito, sem o qual não há obrigação de 
indenizar - Os direitos da personalidade que têm por objeto a honra, a imagem, a 
vida privada e a intimidade não protegem seus titulares de toda e qualquer 
crítica ou notícia de sua vida particular, as quais, por vezes, justificam-se em 
nome de outros valores prestigiados pelo ordenamento. 
(TJ-MG - AC: 10000204852628001 MG, Relator: Fernando Lins, Data de 
Julgamento: 04/11/2020, Câmaras Cíveis / 20ª CÂMARA CÍVEL, Data de 
Publicação: 05/11/2020) 
Do julgado mencionado acima e em conformidade com os preceitos que a função restitutória 
da responsabilidade civil carrega, eis o que a Desembargadora Lílian Maciel elucida: “Por certo 
que o dano moral é uma lesão a um" interesse existencial "concretamente merecedor de tutela. 
Entretanto, o objetivo da divulgação da imagem não teve qualquer aspecto ofensivo ou viés 
econômico. Nem ao menos há indícios nos autos de que, a partir da divulgação da imagem do 
autor no programa mencionado, a emissora ré teria obtido ganhos ilícitos, através do instituto 
do disgorgement. Na lição de Nelson Ronsenvalt:" (...) é perfeitamente legítimo considerar que 
o disgorgement se insere no direito restitutório em um sentido mais amplo, por ser mensurado 
com referência ao valor do benefício obtido pela prática do comportamento antijurídico, ao 
invés de ter como referência as perdas sofridas pelo demandante. "(in R. Fórum de Dir. Civ. - 
RFDC | Belo Horizonte, ano 6, n. 14, p. 11-31, jan./abr. 2017 apud Lílian Maciel). 
À vista disso, cumpre ainda ressaltar que o princípio da reparação integral é a essência da 
responsabilidade civil, isto é, o propósito neste ponto é restituir a vítima a circunstância prévia 
ao dano, porém o ideal seria não considerar uma função restituição integral, e sim uma função 
reconstitutiva da responsabilidade civil, afinal o objetivo é ressarcir as partes da situação 
anterior ao dano e não é restituir a vítima a conjunção que antecede o ilícito, e isso se efetiva 
através de uma reconstituição de um equilíbrio relacional, o qual, às vezes dar-se-á com o 
Magistrado determinando uma reparação de danos, ou então essa restituição de um equilíbrio 
relacional ocorrerá restituindo o ofensor da circunstância prévia ao dano, logo, confiscando os 
ganhos ilícitos dele, solicitando a ele o pagamento de um preço de mercado pelo utilização do 
bem. 
Dando prosseguimento, nos EUA, a título de exemplo, devido a consolidação do disgorgement, 
entende-se que a restituição não se confunde com os “punitive damages”, quer seja pelo prisma 
estrutural, quer seja sob a ótica funcional, porque aplica-se o “punitive damages” no momento 
de sancionar um comportamento extremamente demelitório e deplorável, contudo a intenção 
do disgorgement é destituir o agente econômico de benefícios patrimoniais indevidos. 
Por fim, cabe ainda trazer o contexto dos instrumentos concebidos para reger a função 
restitutória na civil law. A União Europeia estabelece uma análise pragmática acerca desse 
assunto, seja no “The Draft Common Frame of Reference”, isto é, a proposta do Código das 
Obrigações Europeias, quer seja na diretiva da propriedade intelectual deles de 2004, bem como 
na diretiva do segredo comercial de 2017, nos três em disciplina de responsabilidade civil, a 
URSS considera 3 alternativas para a vítima: a clássica função compensatória pleiteada nos 
lucros cessantes, nos emergentes (1ª), entretanto é possível que a vítima não pretenda a 
indenização e sim a reasonable fee, o valor de mercado do uso do bem (2ª) ou pode requerer o 
disgorgement, auferindo os lucrosindevidos colhidos pelo transgressor. Isso, oportunizar à 
vítima de acordo com suas condições e pretensões o remédio a ser seguido, denomina-se 
“private enforcement”, nesse caso, a vítima deixa de ser um agente passivo e torna-se, naquela 
lide concreta, um agente regulador do mercado. 
FUNÇÃO PREVENTIVA 
Ao assistir o “Webinar: Funções da Responsabilidade Civil”, disponível no YouTube, no canal 
oficial do IDP (Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa), é possível 
depreender algumas questões que a professora e doutora, Thaís Pascoaloto, trouxe ao decorrer 
da exposição do assunto em debate. Tendo como objetivo desse seguinte trabalho, discorrer de 
forma crítica acerca do assunto tratado na live em questão, e sendo mais específico acerca do 
primeiro tópico desse, a função preventiva. 
Porém, apesar de hoje em dia estar sendo discutida a prevenção, ela nem sempre foi tratada 
com tanta evidência. A doutora Thaís Pascoaloto traz que todo sistema da responsabilidade civil 
foi criado no sentido da responsabilidade civil clássica/reparatória, e nesse ponto ela parafraseia 
a autora francesa da obra “La Responsabilité Civile”, Genevieve Viney, quando traz a ideia de 
que responsabilidade civil clássica foi baseada numa ideia de você olhar o dano pelo 
“retrovisor”, ou seja, pelo que já aconteceu, pensando em se voltar para a reparação daquele 
dano. 
Conquanto, apesar disso, ao decorrer do tempo essa ideia meramente reparatória, da 
responsabilidade civil se basear numa teoria do retrovisor, passou a se tornar ultrapassada, se 
tornando inegável a necessidade de se analisar a responsabilidade civil com um olhar do futuro, 
como exemplo disso, a corrente doutrinária citada no seminário, a responsabilidade-
antecipação. Retirando um trecho da obra “Avenir de la responsabilité, responsabilité 
d’avenir”, da escritora francesa, Catherine Thierge, é possível depreender da tradução para o 
português o seguinte: 
“Alguns autores perceberam, desde o fim do século passado, a emergência de um 
terceiro tempo da responsabilidade: de uma responsabilidade sancionatória, fundada 
sobre a imputação de uma culpa e centralizada sobre o autor e seu comportamento 
danoso, dominante no século XIX, repassada – mas não substituída – por uma 
responsabilidade-indenização, fundada sobre o risco e centralizada sobre a vítima e 
sobre o dano sofrido, que marcou o século XX, estaria em vias de suceder – 
certamente sem substituir às duas precedentes –, uma responsabilidade-antecipação, 
fundada sobre a prevenção dos riscos mais graves e sobre a preservação dos interesses 
ambientais e bioéticos, e centralizada sobre as gerações atuais e futuras e, mais 
genericamente, sobre a vida.” 
Todavia, apesar de usualmente ser tratado a prevenção como sendo uma função da 
responsabilidade, durante o seminário, é trazido que um número elevado de autores trata a 
questão da prevenção não sendo tão somente uma função, mas algo além, uma vez que esta se 
encontra no cerne da responsabilidade civil contemporânea, dessa forma tratando -se assim a 
prevenção como um princípio norteador. Porém, a doutora vai além disso, tratando a prevenção 
como um fundamento, uma vez que é base, fundamenta as outras funções, e isso é possível 
notar e concordar com este pensamento a medida que a responsabilidade civil é um instrumento 
poderoso de direcionamento das condutas humanas de desenvolvimento social. É possível ainda 
estabelecer uma relação com a ideia da ética da responsabilidade, trazida originariamente pelo 
sociólogo Max Weber, que traz que “é aquela voltada para a proteção dos valores existenciais 
https://www.google.com/search?sxsrf=APq-WBt_1TiFfi0narUKdMWEOF0WLlThUQ:1648998039397&q=genevieve+viney+la+responsabilit%C3%A9+civile&stick=H4sIAAAAAAAAAOPgE-LVT9c3NEwyLzctLMwyUeIBcY2ScpNMsy3KtaSyk630k_Lzs_UTS0sy8ousQOxihfy8nMpFrJrpqXmpZZmpZakKZZl5qZUKOYkKRanFBfl5xYlJmTmZJYdXKiRnlmXmpO5gZdzFzsTBAAAYBLPEbwAAAA&sa=X&ved=2ahUKEwj2hf6ylPj2AhWqjZUCHdfPCQoQmxMoAXoECDAQAw
do ser humano [...] a ética da responsabilidade é aquela que homem de ação não pode deixar 
de adotar, seja em razão de prever as consequências das suas possíveis ações e decisões". 
Dessa forma, é de conhecimento geral que a raça humana, em sua grande maioria, possui um 
alto apreço pelo dinheiro, pelo patrimônio, as vezes até mais do que pela própria vida ou de 
outrem. Com isso, a responsabilidade civil ao entrar na esfera pecuniária de um indivíduo fará 
com que este pense inúmeras vezes em sua ação, já que não deseja interferência no seu 
patrimônio. Conquanto, não se pode afirmar que apesar disso que vivemos num “mundo dos 
sonhos”, querendo ou não sempre haverá danos. 
Como já discutido em parágrafo anterior, a prevenção tem ganhado cada vez mais notoriedade 
e necessidade de ser inserido na responsabilidade civil, e nos dias de hoje essa necessidade se 
faz cada vez mais presente, principalmente quando é tratado a questão dos “novos danos”. É 
um fato, que a tecnologia tem evoluído cada vez mais, principalmente nesses últimos anos que 
a pandemia acelerou anos à frente essa evolução tecnológica. Com esse avanço, é notório que 
uma gama gigante de possibilidades surgiu, conquanto, apesar dos diversos benefícios essa 
tecnologia possibilitou também uma existência de um número maior de meios de danos que 
antes não existiam, e devido a isso a necessidade de prevenção se mostrou mais uma vez 
presente. É possível, citar por exemplo, um fato que tem se tornado cada vez mais comum, a 
questão das “Fake News”. Essa questão não pode ser tratada com uma visão pelo “retrovisor”, 
é preciso que seja analisada através de uma visão futura, antecipada do dano, uma vez que 
espalhada uma “Fake News” é possível desestruturar todo um sistema político democrático de 
um país. 
Faz-se mister, ainda, salientar que a colocação da doutora ao afirmar que a prevenção foi 
impulsionada pela análise econômica do direito, ou sendo mais especifico a análise econômica 
da responsabilidade civil, foi totalmente correta e pertinente. A corrente doutrinária da Law and 
Economics parte de uma premissa de que a primeira função da responsabilidade civil, não é a 
de reparar um dano, mas sim a de exercer influência num comportamento futuro que possa 
resultar num dano, tanto no viés de um potencial agressor quanto na visão de uma potencial 
vítima. De acordo com o autor Nuno Garoupa, em sua obra “Combinar a Economia e o Direito. 
A análise econômica do direito”, tem-se que: 
“Numa perspectiva económica, uma regra de responsabilidade civil é eficiente se os 
benefícios sociais superam os custos de determinação dessa mesma responsabilidade 
e da indemnização. O benefício social de impor uma determinada regra de 
responsabilidade não é a compensação das vítimas, uma vez que existem formas mais 
eficientes de indemnizar a vítima do que o sistema legal, mas evitar ou dissuadir 
comportamentos que possam causar acidentes. Desta forma uma regra de 
responsabilidade é eficiente se tem uma influência assinalável na diminuição da taxa 
de acidentes. ” 
Dessa forma, é possível depreender que a corrente doutrinária da Law and Economics parte de 
uma premissa racional lógica de que a prevenção deve estar ocupando, exercendo um papel 
central, fundamental de qualquer sistema do direito, principalmente em relação a 
responsabilidade civil. Ao se aplicar as regras da responsabilidade civil, o benefício social que 
representa essa aplicação de forma eficaz não é a compensação da vítima, mas sim que 
possibilite a dissuasão e a impossibilidade de comportamentos danosos. 
Seguindo todo o exposto resta agora demonstrar de que forma o direito instrumentaliza essa 
função, esse princípio, esse fundamento da prevenção. Dentro do ordenamento e da pratica 
jurídica brasileira, diversos mecanismos já se encontram muito bem consolidados, 
principalmente em relação ao ramo do direito ambiental, em que a questão da prevençãose faz 
mais presente. Conquanto, a doutora traz uma questão que não se encontra ligada ao direito 
ambiental, mas sim a doutrina processualista do direito, que é o instrumento, o mecanismo da 
tutela inibitória. A tutela inibitória possui um alto grau de importância, principalmente em 
assuntos que são voltados para os direitos individuais e transindividuais, e, essenciais quando 
possuem uma natureza extrapatrimonial, uma vez que a forma mais adequada, e talvez a única 
cabível, seja a proteção por meio da prevenção. E com esse raciocínio, creio que para reforçar 
essa questão seja interessante parafrasear o professor e escritor português, João Calvão da Silva: 
“A tutela inibitória é a mais idónea das tutelas no domínio dos direitos da 
personalidade, por prevenir agressões ilícitas emergentes do progresso técnico e 
tecenológico, especialmente das novas e sofisticadas tecnologias informáticas e 
publicitárias, domínio em que a importância e a natureza pessoal e extrapatrimonial 
dos valores em presença tornam insuficiente e inadequada a tutela ressarcidora. Tutela 
inibitória cuja actuação a sanção pecuniária compulsória pode incentivar, pela pressão 
que exerce sobre o autor da ofensa ou da ameaça, o que atesta bem a importância, no 
direito moderno, esta técnica compulsória na defesa da pessoa humana. ” 
Conquanto, concordando com o pensamento exposto pela doutora Thaís no seminário, a tutela 
inibitória, da forma que foi estruturada como base processualista, não cabe perfeitamente dentro 
da resp. civil, por exemplo. Da forma que foi estruturada, é demonstrada que a tutela de inibição 
só se dá, a partir da violação de um direito, e a inibição não deve ser pensada a partir da violação. 
Dessa forma, é preciso haver uma diferenciação entre a “tutela jurisdicional dos direitos”, 
referente a essa doutrina processualista, e a “tutela dos direitos”. Creio que, uma distinção 
pertinente e adequada seja a proposta pelo jurista brasileiro, Luiz Guilherme Marinoni, que diz 
o seguinte: 
“A tutela é decorrência da existência do próprio direito. Ou melhor, a tutela inibitória 
existe pelo fato de ser inerente à existência do direito; todo titular de direito tem o direito 
de impedir a sua violação. Não basta, como é evidente, que o ordenamento jurídico 
afirme um direito, mas é necessário que ele lhe confira tutela, ou seja, que ele lhe dê 
proteção. Entretanto, em um ordenamento jurídico marcado pela proibição da 
autotutela, a jurisdição deve estar aberta à tutela dos direitos. A consagração dos direitos 
faz surgir, por consequência lógica, o direito à tutela jurisdicional, isto é, o direito de 
pedir, conforme o caso, o impedimento de sua violação, a sua reparação etc. Quem tem 
direito material, tem direito de pedir tutela jurisdicional. De modo que o direito à tutela 
jurisdicional inibitória é conatural ao direito material. Com efeito, não temos a menor 
dúvida em afirmar que o princípio geral de prevenção é imanente a qualquer 
ordenamento jurídico que se empenhe em garantir – e não apenas em proclamar – os 
direitos. ” 
Dessa forma, resta claro que enquanto civilista, é preciso pensar em tutela inibitória material, e 
não processual. Existe certas diferenças entre o direito material e o direito processual. O direito 
material é o conjunto de normas que atribuem direitos aos indivíduos, trata das relações entre 
as partes, é o interesse primário, a própria relação subjetiva, por exemplo o direito à vida, o 
direito ao nome, o direito à privacidade, etc. Quando esses direitos são violados, entra em cena 
o direito processual, que é o conjunto de regras que organizam o instrumento pelo qual se 
buscará o reparo à violação do direito material, é um interesse secundário, e que se trata de uma 
relação triangular, pois o juiz passa a intermediar o conflito entre as partes. 
E para deixar ainda mais estruturado este presente trabalho, a tutela inibitória material, apesar 
de não ser muito mencionada dentro do direito brasileiro, possui alguns mecanismos, como por 
exemplo, a questão das multas, o caráter punitivo pedagógica, e até o institutos da autotutela, 
que apesar de muitas vezes ser considerada obsoleta e injustificável como meio de solução de 
conflitos na atualidade, não foi completamente abandonada, já que parte de uma compreensão 
de que o Estado nem sempre pode estar presente, e com a devida agilidade e efetividade, para 
intermediar as crises sociais, prestando adequada proteção jurisdicional. 
No desfecho da apresentação da doutora Thaís ela menciona acerca da Medida Provisória 966, 
que nasceu a partir do art. 28 da LINDB. Creio que, por atualmente a sua vigência ter sido 
encerrada, não mereça entrar nesse mérito, conquanto creio ser importante trazer acerca de duas 
teses presentes em uma das 7 ações de inconstitucionalidade decorrentes dessa MP. O Ministro 
Luiz Roberto Barroso, na Medida Cautelar na ADI 6.421 Distrito Federal, afirmou o seguinte: 
“1. Configura erro grosseiro o ato administrativo que ensejar violação ao direito à 
vida, à saúde, ao meio ambiente equilibrado ou impactos adversos à economia, por 
inobservância: (i) de normas e critérios científicos e técnicos; ou (ii) dos princípios 
constitucionais da precaução e da prevenção. 2. A autoridade a quem compete decidir 
deve exigir que as opiniões técnicas em que baseará sua decisão tratem 
expressamente: (i) das normas e critérios científicos e técnicos aplicáveis à matéria, 
tal como estabelecidos por organizações e entidades internacional e nacionalmente 
reconhecidas; e (ii) da observância dos princípios constitucionais da precaução e da 
prevenção, sob pena de se tornarem corresponsáveis por eventuais violações a 
direitos”. 
Por fim, com tudo isso esclarecido, e com o intuito de exemplificação dentro da prática 
jurisprudencial brasileira acerca de tudo que foi tratado acerca da função preventiva da 
responsabilidade civil, acredito que é possível citar de forma exímia o Recurso Inominado Cível 
n° 0000375-63.2021.8.16.0092, do Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR), vejamos: 
EMENTA: RECURSO INOMINADO. AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS 
MORAIS. DANOS POR AUSÊNCIA DE TRANSFERÊNCIA DE VEÍCULO POR 
REVENDA. INSURGÊNCIA RECURSAL LIMITADA AO PEDIDO DE 
MAJORAÇÃO DOS DANOS MORAIS. TRANSTORNOS SUPORTADOS EM 
VIRTUDE DE ACIDENTE DE TRÂNSITO COM OMISSÃO DE SOCORRO. 
INDÍCIOS DE CONDIÇÃO FINANCEIRA QUE AUTORIZAM O AUMENTO DO 
VALOR. ATENDIMENTO À FUNÇÃO PREVENTIVA E REPRESSIVA DA 
INDENIZAÇÃO. PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO QUE 
AUTORIZAM A MAJORAÇÃO PARA R$ 5.000,00. RECURSO CONHECIDO 
E PROVIDO.1. O recorrente pretende a majoração dos danos morais fixados em R$ 
2.000,00 (dois mil reais), em decorrência do abalo moral suportado em virtude de falha 
na prestação do serviço da recorrida que não procedeu a transferência de propriedade 
de veículo após sua venda. 2. A pretensão comporta acatamento. 3. Para quantificar o 
valor do abalo moral é necessário verificar a extensão dos danos e a condição financeira 
das partes e, in casu, verifica-se que as peculiaridades autorizam a fixação do valor em 
patamar acima do fixado pelo Juízo de origem.4. Veja-se que, que além de o recorrente 
ser idoso e cego, situação que revela maior vulnerabilidade, teve de enfrentar diversos 
transtornos para tentar se eximir da responsabilidade acerca de acidente de trânsito em 
que houve omissão de socorro (o que pode vir a ensejar tanto uma responsabilização 
civil, quanto criminal). No mais, verifica-se que a recorrida possui capital social 
aproximado em R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), o que revela que a indenização 
no patamar fixado pode prejudicar as finalidades preventiva e repressiva da 
indenização. 5. Por conseguinte, considerando as peculiaridades do caso concreto, bem 
como as finalidades da indenização, tem-se que os danos morais comportam majoração 
para R$ 5.000,00 (cinco mil reais). 
(TJPR - Recurso Inominado Cível n° 0000375-63.2021.8.16.0092,Relatora: Manuela 
Tallão Benke Juíza de Direito da Turma Recursal dos Juizados Especiais, Data de 
Julgamento: 07/02/2022, 5ª Turma Recursal dos Juizados Especiais, Data de 
Publicação: 07/02/2022) 
Analisando o caso em questão, vale ressaltar um ponto tratado no recurso, a majoração dos 
danos morais. Isto posto, uma vez que os autores da obra em questão provocaram alarmantes 
danos a vítima, na medida em que deixaram de transferir a propriedade após a venda, fato 
este que causou transtornos a vítima, que vale ressaltar ser cega e idosa, uma vez que teve 
que tentar se eximir da responsabilidade acerca de acidente de trânsito em que houve omissão 
de socorro. 
Dessa forma, em decorrência do alto capital da recorrida, a majoração do valor de R$ 2.000,00 
para R$ 5.000,00 se faz necessária, com o intuito que as funções preventivas e repressivas sejam 
atendidas. Uma vez que, a indenização possuindo um valor relativamente baixo em relação ao 
dano causado, além de não reparar corretamente a vítima pelos transtornos, não serviria como 
um método pedagógico corretivo, não alcançando a visão de prevenir que fatos como esse 
https://portal.tjpr.jus.br/jurisprudencia/j/2100000019460901/Ac%C3%B3rd%C3%A3o-0000375-63.2021.8.16.0092
https://portal.tjpr.jus.br/jurisprudencia/j/2100000019460901/Ac%C3%B3rd%C3%A3o-0000375-63.2021.8.16.0092
voltassem a se repetir. Fazendo-se então necessário uma indenização por danos morais com um 
valor pecuniário mais elevado do que o proposto anteriormente ao recurso, para que seja 
instrumento eficaz de prevenção de fatos e comportamentos futuros danosos dentro da esfera 
civil. 
FUNÇÃO PROMOCIONAL 
Diante da complexidade social contemporânea, frente a diversas situações que podem gerar 
danos a terceiros, tendo como consequência a responsabilidade civil, esta, a qual, o judiciário 
busca solucionar, corrobora para que a justiça fique ainda mais inchada. Nessa senda, sem 
dúvidas a função promocional da responsabilidade civil, almeja que as partes reparem 
espontaneamente eventuais danos que ocorreram naquela relação jurídica ou em algum fato da 
vida, tal reparação é preferível que seja feita fora do judiciário, ou de forma mais célere no 
processo. 
A ideia de que diversas relações jurídicas as quais geram a prerrogativa de uma 
responsabilidade civil, possam ser solucionadas fora do judiciário não é atual, o ministro Gilmar 
Mendes, do Supremo Tribunal Federal, criticou em 2013, o inchaço na estrutura do Judiciário 
durante seminário que discutiu uma reforma no Poder, sendo extremamente necessário, 
segundo ele, incentivar soluções para os conflitos fora dos tribunais (VIEIRA, 2013). 
Nesse sentido, podemos afirmar que a função promocional da responsabilidade civil, define-se 
como finalidade última do direito dos danos, como um verdadeiro degrau da atualização da 
responsabilidade civil, cujo sentido, conecta-se à sua finalidade primária, de reparação, no 
entanto aqui, se revela pelo conjunto de medidas que visam estimular, com amparo na ideia de 
sanção positiva, a reparação ou compensação espontânea dos danos. 
De toda sorte, por ser uma espécie de responsabilização em desenvolvimento doutrinário e 
jurisprudencial, faz-se mister que se elabore critérios seguros de definição das vantagens ou da 
redução, ou privação das desvantagens que o agente causador do dano poderia alcançar, caso 
decidisse reparar ou compensar, espontânea e rapidamente, de modo eficiente os danos por ele 
causados. 
A ideia de uma sanção positiva, recai justamente na temática de trazer à tona a possibilidade de 
o agente por si só buscar repara os danos que causou a terceiro. Tais sanções positivas possuem 
prerrogativas de prêmios ou recompensas, cujo objetivo é estimular a reparação espontânea e 
eficiente dos danos. Nesse contexto, há um conjunto de efeitos favoráveis ao agente que, 
atribuindo-lhe uma vantagem ou privando-o de uma desvantagem, uma vez reconhecidos pela 
doutrina e pela jurisprudência, terão força suficiente para gerar um ambiente ideal em uma 
possível relação jurídica, cujo maior beneficiário continuará sendo a própria vítima: pessoa 
lesada cujo centro de interesses se mantém como aquele mais importante a tutelar, haja vista 
que através dessa função, o conflito seria resolvido de forma extremamente mais célere. 
Nesse sentido, a função promocional da responsabilidade civil não trata sobre a sanção 
negativa, essa que recai sobre a finalidade primária da responsabilidade civil, o viés reativo, de 
resposta, como sanção negativa, a um dano causado por alguém na esfera jurídica alheia, 
portanto, a ideia de sanção não se confunde com a de punição, ou imposição de pena. Dessa 
forma, sanção negativa representa, em termos gerais, uma resposta negativa a um 
comportamento negativo, rejeitado pela ordem jurídica, motivo pelo qual a imputação do dever 
de indenizar o responsável representa uma forma de aplicação de uma sanção negativa, mesmo 
que desprovida de viés punitivo (REALE, 1987, p.673). 
Por conseguinte, pode-se relatar que a função promocional, atinge a liberdade dos agentes, e de 
forma mais incisiva uma maior solidariedade do agente causador do dano em relação à vítima, 
para buscar a melhor forma de reparar o dano que causou, como se fosse um dever. Nesta 
direção, a solidariedade exprime também, quando conectada à função primária, ou seja, ligado 
à ideia de uma liberdade positiva, além disso, concretizado o dano, invoca a vítima a propor 
meios possíveis para a realização de uma eventual reparação, exigindo-se cooperação de sua 
parte. Abre-se assim um canal de diálogo possível e desejável, daí o sentido ético em um 
ambiente normalmente hostil da responsabilidade extracontratual, por isso que, tal função, sem 
dúvidas é um passo adiante na escala do avanço civilizatório e comunitário (REALE, 1987, p. 
673). 
Ademais, como já foi dito, a função promocional reflete um estímulo à reparação espontânea 
do dano, nesse viés, analisando o termo “espontâneo”, faz-se necessário destacar alguns pontos. 
Decerto, uma pessoa age espontaneamente quando movida por impulsos próprios, sem que haja 
interferência externa na conformação de sua vontade, assim sendo, pode surgir dúvidas se a 
sanção positiva influenciaria de tal forma que a decisão do agente não estaria livre. 
De fato, essa é a apuração conceitual comum em relação ao temo “espontâneo”, no entanto, à 
luz dos valores do ordenamento do (dever-ser) e da praxe (ser), pode-se observar uma 
problemática que envolve, a eficácia do direito, ou seja, mesmo o autor expoente do positivismo 
jurídico já afirmou que as normas jurídicas somente permanecem válidas, portanto, vigentes 
“se esta ordem jurídica é eficaz, quer dizer, enquanto a ordem jurídica numa consideração 
global for eficaz” (KELSEN, 2009, p. 28). Dessa forma, a importância da praxe (mundo do ser) 
na conformação da ordem jurídica positiva mundo do (dever-ser) é de tal grau que se torna 
condicionante da própria existência válida do direito objetivo, enquanto tal. Sendo assim, é 
necessário compreender que o fenômeno do agir espontâneo vai de acordo com as 
circunstâncias da realidade e pela via dos valores e instrumentos que a ordem positiva põe à 
disposição do agente causador do dano. É por essa razão que aqui se considera espontânea tanto 
a conduta motivada pelo despertar íntimo e pessoal, de raiz puramente religiosa ou moral 
subjetiva, quanto o comportamento impulsionado pela existência de uma sanção determinada a 
qual a pessoa prestou obediência, como senso de dever ético-moral objetivo ou simplesmente 
jurídico, devido a essa ideia que podemos analisar que a sanção positiva, pode sim ser 
considerada uma forma de agir espontâneo por parte do agente causador do dano. 
Nesse sentido, ainda que se utilizem de uma ponte dourada oferecida pela ordem jurídica para 
influenciar a tomada de decisão do agente causador do dano, serão considerados espontâneostodos os atos de composição extrajudicial, como também aqueles que se deram no curso do 
processo, pelo caminho das oportunidades oferecidas na legislação processual. De forma 
contrária, o comportamento não será espontâneo, quando a pessoa é compelida, 
coercitivamente, a realizá-lo, como, por exemplo, pela via de decisão judicial, ou de protesto 
de título, ou de execução forçada extrajudicial. 
De todo modo, apesar da função promocional carecer de um maior aprofundamento doutrinário 
e jurisprudencial, nossos tribunais já conseguem estabelecer em suas sentenças e acórdãos, a 
sanção positiva, concedendo “bônus” para um determinado comportamento pautado na 
solidariedade e voluntariedade do agente causador, nesse viés, vejamos: 
BANCÁRIO. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE COBRANÇA. RÉU QUE, NA 
CONTESTAÇÃO, INFORMA A HABILITAÇÃO DO CRÉDITO JUNTO AO SEU 
PROCESSO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. ATO CONTÍNUO, BANCO 
AUTOR QUE PEDE A DESISTÊNCIA DA AÇÃO POR SUPERVENIENTE 
FALTA DE INTERESSE DE AGIR. HOMOLOGAÇÃO DA DESISTÊNCIA, COM 
A CONDENAÇÃO DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA AO PAGAMENTO DAS 
CUSTAS PROCESSUAIS E HONORÁRIOS ADVOCTÍCIOS FIXADOS EM 10% 
(DEZ POR CENTO) SOBRE O VALOR DA CAUSA. INSURGÊNCIA A 
RESPEITO DO PERCENTUAL FIXADO. NÃO APLICAÇÃO DA EQUIDADE ( 
CPC, ART. 85, § 8º), DIANTE DO VALOR ATRIBUÍDO À CAUSA. POR OUTRO 
LADO, NECESSIDADE DE PRIVILEGIAR O COMPORTAMENTO PROBO 
E COLABORATIVO DO AUTOR, EM PROCESSO EVIDENTEMENTE 
MENOS DIFICULTOSO PARA AMBAS AS PARTES. APLICAÇÃO, POR 
SIMETRIA, DO ART. 90, § 4º, DO CPC. INTERPRETAÇÃO QUE SE 
COADUNA COM A RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE A QUE 
ESTÁ O JUIZ OBRIGADO A OBSERVAR, BEM COMO COM AS DEMAIS 
NORMAS FUNDAMENTAIS DO PROCESSO CIVIL. São regras de 
hermenêutica jurídica: “onde houver o mesmo fundamento haverá o mesmo direito” 
(“ubi eadem ratio ibi idem jus”) e “onde há a mesma razão de ser, deve prevalecer a 
mesma razão de decidir” (“ubi eadem legis ratio ibi eadem dispositio”). 
(TJ-PR - APL: 00014002320188160026 PR 0001400-23.2018.8.16.0026 (Acórdão), 
Relator: Desembargador Lauro Laertes de Oliveira, Data de Julgamento: 03/02/2020, 
16ª Câmara Cível, Data de Publicação: 05/02/2020) 
Nesse sentido, podemos perceber que o nosso ordenamento, já estabelece de certa forma, 
sanções positivas promocionais para que o conflito ele se resolva de forma mais célere e 
benéfica para ambas as partes. 
Conquanto, faz-se necessário uma maior elucidação sobre a função promocional por parte da 
doutrina e da nossa jurisprudência. Por fim, pode-se concluir que a função promocional 
aperfeiçoa a busca pela reparação do dano, calcada na solidariedade e na máxima efetividade 
dos direitos, busca-se, a satisfação eficaz e eficiente do interesse atual da vítima após sofrer o 
dano, que não confunde com a intenção única e exclusiva de recuperar a situação patrimonial 
ou existencial de outrora. Persegue-se, assim, uma solução célere, ainda que a busca seja por 
rapidez razoável, com nível de consciência e reflexão apurado entre as partes acerca da 
amplitude e intensidade do dano, reverberando então em uma sociedade complexa, porém mais 
solidária entre si, e tendo como consequência um enxugamento em cascata em que um terceiro 
resolve determinado conflito, o qual era totalmente possível a autocomposição das partes. 
FUNÇÃO PRECAUCIONAL 
A função precaucional representa uma evolução socioeconômica da sociedade. O seu 
surgimento possui como marco a conferência de Estocolmo acerca do meio ambiente, que 
representou um abalo ao modo antropocentrista clássico da humanidade lidar com o mundo. 
As necessidades humanas superaram seu estigma puramente capitalista, econômico e industrial, 
passando a se importar com a fonte condicional da produção de riquezas, o meio ambiente. 
A declaração do meio ambiente não só expandiu direitos e deveres para com os não humanos, 
como também polinizou pelo mundo a preocupação com os riscos advindos das atividades 
humanas. 
No Brasil, a função precaucional, por influência de Estocolmo, veio a ser consolidada com a 
promulgação da Constituição de 1988, passando a ter garantia expressa em seu artigo 225. 
Dentro da análise dos riscos vigem dois princípios fundamentais, a prevenção e a precaução. A 
função precaucional se difere da função preventiva na medida em que se aplica antes mesmo 
do conhecimento do risco. Nas palavras de Maria Alexandre Aragão: 
Comparando-se o princípio da precaução com o da atuação preventiva, observa-se que 
o segundo exige que os perigos comprovados sejam eliminados. Já o princípio da 
precaução determina que a ação para eliminar os possíveis impactos danosos ao 
ambiente seja tomada antes de um nexo causal ter sido estabelecido com evidência 
científica absoluta (ARAGÃO, 1997, p.68). 
Na falta de estudo científico, comprovação técnica ou ausência de informações suficientes para 
determinar a existência ou não de um risco, a administração pública tem o direito-dever de 
atuar in dubio pro ambiente, inclusive negando ou não a concessão de licença ambiental para 
aquele que deseja realizar a atividade. 
Essa função permite que a administração pública se anteveja a existência de um risco, atuando 
de forma a impedir que novos riscos surjam para o meio ambiente. 
Em consonância com esse posicionamento, a Relatora Carmen Lucia por meio da ADI 5592 
do Distrito Federal decide: 
 
AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ADMINISTRATIVO E 
AMBIENTAL. MEDIDAS DE CONTENÇÃO DAS DOENÇAS CAUSADAS 
PELO AEDES AEGYPTI. ARTIGO 1º, § 3º, INCISO IV DA LEI N. 13.301, DE 
27 DE JUNHO DE 2016. PERMISSÃO DA INCORPORAÇÃO DE 
MECANISMOS DE CONTROLE VETORIAL POR MEIO DE DISPERSÃO POR 
AERONAVES MEDIANTE APROVAÇÃO DAS AUTORIDADES 
SANITÁRIAS E DA COMPROVAÇÃO CIENTÍFICA DA EFICÁCIA DA 
MEDIDA. POSSIBILIDADE DE INSUFICIÊNCIA DA PROTEÇÃO À SAÚDE E 
AO MEIO AMBIENTE. VOTO MÉDIO. INTERPRETAÇÃO CONFORME À 
CONSTITUIÇÃO. ARTIGOS 225, § 1º, INCISOS V E VII, 6º E 196 DA 
CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA. INAFASTABILIDADE DA APROVAÇÃO 
PRÉVIA DA AUTORIDADE SANITÁRIA E DA AUTORIDADE AMBIENTAL 
COMPETENTE. ATENDIMENTO ÀS PREVISÕES CONSTITUCIONAIS DO 
DIREITO À SAÚDE, AO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO E AOS 
PRINCÍPIOS DA PRECAUÇÃO E DA PREVENÇÃO. PROCEDÊNCIA 
PARCIAL DA AÇÃO. 1. Apesar de submeter a incorporação do mecanismo de 
dispersão de substâncias químicas por aeronaves para combate ao mosquito 
transmissor do vírus da dengue, do vírus chikungunya e do vírus da zika à 
autorização da autoridade sanitária e à comprovação de eficácia da prática no 
combate ao mosquito, o legislador assumiu a positivação do instrumento sem a 
realização prévia de estudos em obediência ao princípio da precaução, o que 
pode levar à violação à sistemática de proteção ambiental contida no artigo 225 
da Constituição Federal. 2. A previsão legal de medida sem a demonstração prévia 
de sua eficácia e segurança pode violar os princípios da precaução e da prevenção, 
se se mostrar insuficiente o instrumento para a integral proteção ao meio ambiente 
equilibrado e ao direito de todos à proteção da saúde. 3. O papel do Poder 
Judiciário em temas que envolvem a necessidade de consenso mínimo da 
comunidade científica, a revelar a necessidade de transferência do lócus da 
decisão definitiva para o campo técnico, revela-se no reconhecimento de que a 
lei, se ausentes os estudos prévios que atestariam a segurança ambiental e 
sanitária, pode contrariar os dispositivos constitucionais apontados pela 
Autora em sua exordial, necessitando, assim, de uma hermenêutica 
constitucionalmente adequada, a assegurar a proteção da vida, da saúde e do 
meio ambiente. 4. Em atendimento aos princípios da precaução e da prevenção, 
bem como do direito à proteção da saúde, portanto, confere-se interpretação 
conforme à Constituição, sem redução de texto, ao disposto no inciso IV do § 3º do 
artigo 1º da Lei nº 13.301/2016, para fixar o sentido segundo o qual a aprovação das 
autoridades sanitáriase ambientais competentes e a comprovação científica da 
eficácia da medida são condições prévias e inafastáveis à incorporação de 
mecanismos de controle vetorial por meio de dispersão por aeronaves, em 
atendimento ao disposto nos artigos 225, § 1º, incisos V e VII, 6º e 196 da 
Constituição da República. 5. Ação direta de inconstitucionalidade julgada 
parcialmente procedente. (STF - ADI: 5592 DF, Relator: CÁRMEN LÚCIA, 
Data de Julgamento: 11/09/2019, Tribunal Pleno, Data de Publicação: 
10/03/2020) 
Do julgado em questão se extrai a essência do princípio da precaução. Por mais que os 
fertilizantes em lide possuem a capacidade de produzir efeitos muito positivos para os seres 
humanos, a probabilidade, mesmo que não comprovada, do uso produzir riscos para o 
equilíbrio ambiental e sanitário, já bastaram para a não permissão de seu uso, por força 
constitucional do princípio da precaução. 
Entende-se por meio ambiente, não só o meio natural, como também o meio urbano, cultural e 
do trabalho. Deste modo, a função precaucional não se limita ao meio ambiental propriamente 
dito, permitindo que a administração pública atue inibindo quaisquer atividades humanas com 
potencial de produzir novos riscos e danos coletivos ao meio ambiente em que se encontra 
inserido. Por esse viés Marcela Sobral Castro afirma: 
O referido princípio foi introduzido no ordenamento brasileiro através do Direito 
Ambiental, mas não se restringe a ele. Outros ramos do direito aderiram a esse 
princípio, como o da Responsabilidade Civil... 
[...] 
O princípio da precaução e prevenção se instrumentalizaria através da adoção de 
políticas públicas aptas a demonstrarem à sociedade a reprovabilidade de condutas 
lesantes ao cidadão (CASTRO, SOBRAL, 2016). 
A responsabilidade civil com sua função precaucional tem por objetivo a responsabilidade sem 
danos, exemplo disso são órgãos de fiscalização como EIA/RIMA que possuem por função 
fiscalizar obras que tenham um grande impacto no meio ambiente e sempre que houver dúvidas 
quanto ao nível de impacto deve escolher aquele que não cause danos de forma alguma. 
Nesse sentido, vige jurisprudência do Tribunal de Justiça de Santa Catarina: 
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL. 
DECISÃO QUE DEFERE PEDIDO DE AVERBAÇÃO ACERCA DA 
EXISTÊNCIA DA DEMANDA ORIGINÁRIA NA MATRÍCULA DE IMÓVEL 
COM EDIFICAÇÃO SITUADA EM ÁREA DE PRESERVAÇÃO 
PERMANENTE (APP). POSSIBILIDADE. CAUTELA NECESSÁRIA À 
PROTEÇÃO AMBIENTAL E AOS EVENTUAIS INTERESSES E DIREITOS DE 
TERCEIROS. DECISÃO MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. 
"'O ônus da prova incumbia ao Requerido/Agravante, que, apesar das diversas teses 
apresentadas com o objetivo de afastar a ilicitude de sua intervenção em área 
especialmente protegida, não conseguiu desconstituir as alegações e provas robustas 
encartadas pelo Ministério Público, porque bem demonstrado está o dano ambiental 
e seu nexo causal com a atividade degradadora, inclusive que a construção é recente 
e não pode ser considerada como núcleo urbano informal, nos termos do Enunciado 
do Ministério Público de Santa Catarina. Aliás, importa mencionar que, na esfera 
penal, o Agravante foi efetivamente condenado pela prática do crime descrito no 
artigo 64 da Lei n. 9.605/98 em decorrência do evento apontado na exordial, cuja 
sentença transitou em julgado em 17-3-2021, pois comprovada sua responsabilidade 
penal. Em suma: o dano e a atividade degradadora estão devidamente demonstrados 
nos autos e o nexo causal decorre justamente da afronta ao Código Florestal vigente 
pelo Requerido/Agravante, haja vista ser possível presumir que sua conduta de 
intervir em Área de Preservação Permanente causará consequências 
ao meio ambiente equilibrado, pois, se assim não o fosse, a Lei n. 12.651/12 não 
teria cuidado de tratar especificamente sobre o tema em seu artigo 4º, impondo a 
obrigação de se respeitar recuos mínimos a partir da calha do leito regular de cursos 
d'água a depender de sua largura. O dano ambiental presumido, por seu turno, 
configura-se no presente caso porque há uma presunção normativa de que o ato 
praticado pelo Agravante causa efeitos deletérios ao meio ambiente equilibrado, 
independente da comprovação in concreto de tais resultados danosos, em virtude do 
caráter difuso do direito violado e da "função precaucional atribuída à 
responsabilidade civil" que 'por força do princípio da precaução, também determina 
uma flexibilização do nexo causal"'. 
(TJ-SC - AI: 50179323820218240000 Tribunal de Justiça de Santa Catarina 
5017932-38.2021.8.24.0000, Relator: Jaime Ramos, Data de Julgamento: 
26/10/2021, Terceira Câmara de Direito Público) 
 
Do texto legal em anteposto, é importante ressaltar o dito em grifo do Relator Jaime Ramos, 
que deixa claro e evidente a forma com que o princípio da precaução atua, influenciando 
exponencialmente na forma como a responsabilização é tratada, afastando a concretude de 
fatores fundamentais para o instituto da responsabilização como o do nexo causal. 
FUNÇÃO PUNITIVA 
Ao analisar o exposto pela doutora Fernanda Ivo Pires, destaca-se a idoneidade de sua fala a 
respeito do tema, expondo, de logo, dominante concordância, divergindo apenas sobre o 
entendimento do art. 944 do CC, o que será detalhado a seguir. 
No início de sua fala, a doutrinadora chama atenção para características punitivas presentes no 
código civil, citando como exemplo a perda de benfeitorias úteis realizadas pelo possuidor de 
má-fé, cláusulas penais dos contratos, entre outras. 
A mencionada perspectiva, apesar de não aparecer de maneira tão nítida no referido código, 
tem como principal porta de entrada o artigo 944, ao expor: 
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano. 
Deslinda-se ainda mais essa perspectiva ao analisar o enunciado 379 do CNJ, que diz: 
O art. 944, caput, do Código Civil não afasta a possibilidade de se reconhecer a função 
punitiva ou pedagógica da responsabilidade civil. 
Desse modo, defende-se que assiste razão a doutrinadora ao expor tal entendimento, haja vista 
as fontes supracitadas, que não apenas abrem espaço como se manifestam expressamente acerca 
do tema. 
Uma vez respaldado o caráter punitivo da responsabilidade civil, segue-se comentando a fala a 
doutrinadora, no tocante à destinação da parcela provenientes dos danos punitivos. 
A despeito de se entender pertinente a defesa de que as indenizações provenientes de danos 
punitivos deveriam ser revertidas em fundos públicos, cujos principais fundamentos são a 
isonomia e a vedação ao enriquecimento sem causa, segue-se aqui a mesma linha adotada pela 
doutrinadora, no sentido de que os valores provenientes delas devem ser revertidos em favor 
das vítimas. 
Diz-se isso, tendo como inspiração uma perspectiva de uma corrente norte americana presente 
no Corpus Juris Secundum, que a defende sob o fundamento de recompensar a vítima por ter 
trazido o causador do dano à justiça (as a reward for his public service in bringing the 
wrongdoer to justice) (Verbete “Damages”. Corpus Juris Secundum, p. 706). 
Ademais, é importante destacar, também, o mérito do advogado em trazer o presente tema para 
os autos, que já não é pacificamente recepcionado pela doutrina e jurisprudência brasileiras, 
apesar de já se encontrar um considerável espaço galgado. 
Sendo assim, ao destinar os valores decorrentes dos danos punitivos à vítima, alcança-se, por 
sua vez, o profissional responsável pela obtenção desse resultado, haja vista o fato de que, se 
não fosse ele, o poder judiciário não poderia condenar a Ré em tais danos, uma vez que esta 
seria uma decisão ultra petita. 
Nessa perspectiva, contesta-se o argumento da isonomia, chamando atenção para o fato de que 
as outras vítimas das mesmas condutas lesivas nada fizeram para que houvesse uma providencia 
a respeito do ilícito praticado pela empresa infratora. E seria deveras injusto com a vítima que 
teve dignidade e atitudepara levar tal causa à justiça repartir sua indenização com as outras que 
nada fizeram, dado que, tal qual o poder judiciário, o advogado precisa da anuência da vítima 
para que ele possa ajuizar a respectiva ação. 
Nesta senda, uma vez que a função desta responsabilidade é coibir a reiteração dessas práticas 
e punir suas praticantes, entende-se que esse objetivo seria mais facilmente alcançado com a 
destinação das verbas para as vítimas do que para os fundos públicos. 
O efeito disto é facilmente previsível, uma vez que, tendo em vista a publicidade dos processos 
e das decisões judiciais, outras vítimas e advogados começariam a ajuizar mais ações a respeito 
desses ilícitos cometidos, que consequentemente teriam os mesmos resultados da ação 
inspiradora, com as devidas variações a depender do caso, impactando diretamente no 
orçamento das empresas a ponto de tornar a “indústria” dessas práticas abusivas não lucrativas. 
Sobre o enriquecimento sem causa, reitera-se o exposto pela professora Fernanda ao analisar a 
questão colocando o foco da causa no ilícito praticado pela empresa e na rua respectiva função 
social. Nessa perspectiva, a causa para o “enriquecimento” é a conduta lesiva socialmente 
reprovável, por divergir de sua função social, praticada reiteradamente pela empresa, o que ao 
aglutinar-se com o fundamentado anteriormente, confere plenos direitos às vítimas de serem 
destinatárias finais das verbas oriundas dos danos punitivos. 
Nesse sentido, traz-se o entendimento do professor Salomão Resedá que é idôneo ao manifestar 
seu conceito sobre dano moral punitivo: 
Um acréscimo econômico na condenação imposta ao sujeito ativo do ato ilícito, em 
razão da sua gravidade e reiteração que vai além do que se estipula como necessário 
para satisfazer o ofendido, no intuito de desestimulá-lo à prática de novos atos, além 
de mitigar a prática de comportamentos semelhantes por parte de potenciais ofensores, 
assegurando a paz social e consequente função social da responsabilidade civil 
(RESEDÁ, 2009). 
Dando continuidade, há que se ressaltar, aqui, que apesar de o artigo 944 do CC abrir portas 
para a função punitiva e pedagógica da responsabilidade civil, ele traz consigo alguns pesares 
que precisam de uma certa cautela quando analisados. 
A referida doutrinadora, ao longo de sua apresentação, traz acertadamente a dificuldade de se 
medir a extensão do dano no âmbito moral, por se tratar de danos subjetivos, cuja extensão, 
mesmo diante de idêntica conduta, varia a depender do caso concreto. 
Contudo, mesmo sendo verdadeiramente difícil, a medição dos danos da esfera 
extrapatrimonial, esta acaba sendo inevitavelmente feita, uma vez que ao determinar um valor 
a título de danos morais, determina-se, por sua vez, uma medição da extensão de tais danos. 
Nessa perspectiva, adota-se o exposto pela professora acerca do parágrafo único do artigo 944, 
CC, tendo como base o princípio da equidade, a fim de não limitar o a medição de tais danos 
apenas para reduzir e sim aumentar, quando necessário, dependendo do caso concreto. 
Segue-se ainda com o que fora lecionado pela professora, no tocante à perspectiva do dano. 
Menciona-se essa parte da apresentação no intuito, inclusive, de facilitar uma medição de 
extensão dos danos sofridos em decorrência do ilícito praticado, dentro do cenário proposto 
pelo referido artigo. 
Nesse viés, a concepção de que o dano seria a perda do equilíbrio relacional seria extremamente 
útil na medição dos danos morais, uma vez que funcionaria como um bom critério a ser avaliado 
e mais fácil de ser observado. 
Posto isso, a discordância reside apenas na possibilidade de utilização do mencionado artigo 
para a majoração também dos danos morais, haja vista as próprias concepções trazidas pela 
Doutora que auxiliariam na medição da extensão desse dano que ocorre inevitavelmente. 
Cumpre destacar que este não seria o único critério a ser observado na majoração dos danos 
extrapatrimoniais, até porque, no sistema jurídico brasileiro não há nenhum critério objetivo na 
majoração dos danos morais, o que abre, por sua vez, grande leque para doutrina e 
jurisprudência trabalharem, da melhor forma possível, para fornecer uma maneira mais palpável 
de majoração de tais danos, como de certa forma se tem atualmente com os direitos da 
personalidade e a função punitiva. 
Por fim, como exemplo jurisprudencial, aduz-se o exposto pelo ministro Carlos Fernando 
Mathias, durante o julgamento do REsp 210.101/PR, proferindo o seguinte entendimento: 
[...] Há, como bastante sabido, na ressarcibilidade do dano em destaque, de um lado, 
uma expiação do culpado e, de outro, uma satisfação à vítima. Como fixar a 
reparação?; quais os indicadores? Por certo, devido à influência do direito norte-
americano muitas vezes invoca-se pedido na linha ou princípio dos 'punitive damages'. 
'Punitive damages' (ao pé da letra, repita-se o óbvio, indenizações punitivas) diz-se da 
indenização por dano, em que é fixado valor com objetivo a um só tempo de 
desestimular o autor à prática de outros idênticos danos e a servir de exemplo para 
que outros também assim se conduzam. Ainda que não muito farta a doutrina pátria 
no particular, têm-se designado as 'punitive damages' como a 'teoria do valor do 
desestímulo' posto que, repita-se, com outras palavras, a informar a indenização, está 
a intenção punitiva ao causador do dano e de modo que ninguém queira se expor a 
receber idêntica sanção. No caso do dano moral, evidentemente, não é tão fácil apurá-
lo. Ressalte-se, outrossim, que a aplicação irrestrita das 'punitive damages' encontra 
óbice regulador no ordenamento jurídico pátrio que, anteriormente à entrada em vigor 
do Código Civil de 2002, vedava o enriquecimento sem causa como princípio 
informador do direito e após a novel codificação civilista, passou a prescrevê-la 
expressamente, mais especificamente, no art. 884 do Código Civil de 2002. Assim, o 
critério que vem sendo utilizado por esta Corte na fixação do valor da indenização por 
danos morais, considera as condições pessoais e econômicas das partes, devendo o 
arbitramento operar-se com moderação e razoabilidade, atento à realidade da vida e 
às peculiaridades de cada caso, de forma a não haver o enriquecimento indevido do 
ofendido e, também, de modo que sirva para desestimular o ofensor a repetir o ato 
ilícito. (REsp 210.101/PR, Rel. Min. Carlos Fernando Mathias (Juiz Federal 
convocado do TRF 1ª Região),4ª Turma, unânime, DJe de 09.12.2008 – grifo nosso). 
Sendo assim, na mencionada jurisprudência encontra-se não apenas a validade e recepção dos 
danos punitivos, confirmado o que se defendeu ao longo desse texto, como também uma forma 
de aplicá-lo e os critérios a serem observados ao longo desta aplicação. 
Chama a atenção para a consideração das condições econômicas e pessoais das partes, o que de 
imediato se relaciona com o parágrafo único do artigo 944 e o principio da equidade, usado 
para fundamentar, assim como a redução, o aumento do valor da indenização, respeitando-se 
as peculiaridades de cada caso. 
Frisa-se, por fim, o objetivo fortemente destacado no voto do ministro de desestimular a 
repetição desta atividade ilícita, ante a aplicação deste tipo de dano, servindo inclusive como 
exemplo para os outros praticantes de ilícitos que acabam sendo intimidados, cumprindo, assim, 
uma função pedagógica. 
Diante disso, não se pode deixar de destacar a maior eficácia e facilidade de alcance deste 
objetivo com a destinação das verbas provenientes de tais danos para a vítima ao invés dos 
fundos públicos, o que, como visto, incentivaria mais vítimas a ajuizarem ações, denunciando, 
assim, os praticantes de tais ilícitos, o que por sua vez permitiria que o poder judiciário 
cumprisse com sua função social. 
Finalmente, conclui-se reiterando a idoneidade da fala da doutrinadora ao expor e defender 
pontos extremamente pertinentese necessários, ressalvando apenas a questão do artigo 944 e a 
sua aplicabilidade aos danos morais, que podem ser facilmente observados na jurisprudência 
trazida. 
 
 
 
 
 
 
 
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