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Ministério da Educação UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ Setor de Ciências da Saúde Departamento de Farmácia Disciplina de Química Medicinal Farmacêutica Isosterismo e Bioisosterismo Introdução Em 1919, Langmuir observou que moléculas ou íons que têm número e arranjo idênticos de elétrons apresentam propriedades físico-químicas semelhantes (ex: N2 e CO). A esses compostos chamou de isósteros, e o estudo desses arranjos eletrônicos de moléculas recebeu o nome de isosterismo. Mais tarde, Erlenmeyer definiu como isósteros os átomos, íons ou moléculas que contêm idênticas camadas periféricas de elétrons. Isto ocorre mais frequentemente entre átomos que estão na mesma coluna periódica, onde as camadas externas de elétrons são idênticas ou quase idênticas e entre átomos que não sejam muito diferente em tamanho e massa. Em 1925, Grimm formulou regras para a substituição entre alguns grupos isostéricos, que são conhecidas como regra do hidreto. Os grupos isostéricos ficariam nas colunas, formadas pelo elemento anterior da linha horizontal e adicionando um átomo de hidrogênio (ou hidreto), continuando este processo até não ser mais possível. Tabela: Regra do hidreto de Grimm Elétrons totais 6 7 8 9 10 C N CH O NH CH2 F OH NH2 CH3 Ne HF H2O NH3 CH4 Elétrons periféricos 4 5 6 7 8 Si P SiH S PH SiH2 Cl SH PH2 SiH3 Ar HCl H2S PH3 SiH4 Posteriormente (Friedman, 1951), verificou-se que compostos quimicamente isósteros apresentam, não raro, atividade farmacológica semelhante. Esses foram chamados de bioisósteros, e ao seu estudo deu-se o nome de bioisosterismo. Partindo-se de uma visão mais moderna, a regra do hidreto de Grimm não leva em consideração parâmetros como basicidade, acidez, eletronegatividade, polaridade, ângulos de ligação, tamanho, forma de orbitais moleculares, densidade eletrônica, coeficiente de partição, que fazem importantes contribuições nas propriedades físico-químicas e biológicas de uma molécula. Mais amplamente, o termo isóstero pode ser aplicado a grupos que apresentam semelhança nas suas camadas eletrônicas externas ou mais restritamente, a grupos com ____________________________________________________________________________________________ Profa. Dra. Angela C. L. B. Trindade - UFPR 1 localizações similares de regiões com alta ou baixa densidade eletrônica na molécula, com tamanho e forma similares. Atualmente, o bioisosterismo é aplicado extensivamente no planejamento de fármacos, incluindo o emprego de técnicas computacionais. Burger (1970) classificou os isósteros ou bioisósteros em duas grandes categorias: os clássicos e os não-clássicos. Tipos de bioisósteros 1. Bioisósteros clássicos Aqueles que seguem a regra do hidreto, a definição de Erlenmeyer, e equivalentes anelares. Apresentam aproximadamente o mesmo tamanho, forma e configuração eletrônica na camada externa. a) Átomos e grupos monovalentes: Halogênios e grupos –XHn, onde X = C, N, O, S N N N N H NH2 adenina N N N N H OH hipoxantina N N N N H SH 6-mercaptopurina (antitumoral) X = H tripelenamina (ativ. 1) X = F (ativ. 3-4) X = Cl (ativ. 2-3) X = Br (ativ. 1) X = I (ativ. 0,3-0,5) N N N CH3 CH3 X OH NH2 SH NH2 etanolamina b) Átomos e grupos divalentes: R-O-R’, R-S-R’, R-NH-R’, R-CH2-R’, R-Si-R’ ____________________________________________________________________________________________ Profa. Dra. Angela C. L. B. Trindade - UFPR 2 O O NH2 N CH3 CH3 procaína NH O NH2 N CH3 CH3 NHNH R1 R2 OO O barbitúrico NHNH R1 R2 OO S tiobarbitúrico procainamida c) Átomos e grupos trivalentes: R-N=R’, R-CH=R’ benzeno piridina N NH2 S NH O O Y X X = N, Y = CH, sulfapiridina X = Y = N, sulfadiazina d) Átomos tetravalentes: =C=, =N+=, =PP H += CH3 N + O C 3 CH3 CH3 O acetilcolina CH3 P + O C 3 CH3 CH3 O H CH3 O C 3 CH3 CH3 O H e) Equivalentes anelares: -C=C-, -S-, -O-, -NH- S O N H Tabela 2: Isósteros clássicos Monovalentes Bivalentes Trivalentes Tetra-substituídos Equivalentes anelares F, OH, NH2, CH3 -O- -N= =C= =Si= -CH=CH- Cl, SH, PH2 -S- -P= =N+= -S- Br -Se- -As= =P+= -O- I -Te- -Sb= -CH= =As+= =Sb+= -NH- 2. Bioisósteros não-clássicos Aqueles que, quando substituídos em uma molécula, dão origem a um composto cujo arranjo estérico e configuração eletrônica são similares às do composto protótipo. No entanto, não seguem exatamente a regra do hidreto e a definição de Erlenmeyer. No geral, não apresentam o mesmo número de átomos e as mesmas características estéricas e eletrônicas dos isósteros clássicos, mas produzem atividades biológicas similares. H e F -CO- e –SO2- -SO2NH2, -COOH e –PO(OH)NH2 N H5C6 O O CH3 CH3 petidina N H5C6 S O CH3 O CH3 ____________________________________________________________________________________________ Profa. Dra. Angela C. L. B. Trindade - UFPR 3 Bibliografia BARREIRO, E. J.; FRAGA, C. A. Química Medicinal, As bases moleculares da ação dos fármacos. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001. Cap. 6, p. 163-175. KOROLKOVAS, A. Essentials of medicinal chemistry. New York: Wiley, 1988. MINGOIA, Q. Química farmacêutica, São Paulo: Melhoramentos, 1967. ____________________________________________________________________________________________ Profa. Dra. Angela C. L. B. Trindade - UFPR 4 THOMAS, G. Química Medicinal: uma introdução. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2003. cap. 2, p. 36- 37. Isosterismo e Bioisosterismo
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