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Autora: Profa. Ana Lúcia Machado da Silva Colaboradoras: Profa. Cielo Festino Profa. Joana Ormundo Profa. Tania Sandroni Tópicos de Atuação Profissional Professora conteudista: Ana Lúcia Machado da Silva Ana Lúcia Machado da Silva é mestre em Língua Portuguesa pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e especialista em Língua Portuguesa pela mesma instituição. Foi professora do ensino básico em rede pública e privada da disciplina Língua Portuguesa durante quase vinte anos. Ministra aulas de Análise do Discurso, Semântica e Pragmática, Literatura em Língua Portuguesa, entre outras, no curso de graduação em Letras pela Universidade Paulista. Também leciona em módulos para cursos de lato sensu pela UNIP e Faculdade Atibaia. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) S586t Silva, Ana Lúcia Machado da Tópicos de atuação profissional / Ana Lúcia Machado da Silva. – São Paulo: Editora Sol, 2014. 200 p., il. Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XX, n. 2-109/14, ISSN 1517-9230. 1. Professor – atuação profissional. 2. Docência. 3. Trabalho da escrita. I. Título. CDU 377.8 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona-Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcelo Souza Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Cristina Zordan Fraracio Amanda Casale Luanne Batista Sumário Tópicos de Atuação Profissional APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 O TRABALHO DA DOCÊNCIA: REFLEXÃO .................................................................................................11 1.1 Professor reflexivo: conceito ........................................................................................................... 12 1.2 Formação pedagógica para a utilização das TIC ..................................................................... 17 1.3 Diversidade no ensino ........................................................................................................................ 25 2 O TRABALHO DA DOCÊNCIA: ENSINO DE LÍNGUA ............................................................................ 31 2.1 Método, língua & Cia. ......................................................................................................................... 32 2.2 Análise linguística no ensino básico ............................................................................................. 39 2.3 Prática social e gênero ....................................................................................................................... 51 3 O TRABALHO DA DOCÊNCIA: ENSINO DE LEITURA LITERÁRIA ..................................................... 57 3.1 Problemas no ensino de leitura literária no ensino básico ................................................. 60 3.2 Propostas de ensino de leitura literária no ensino fundamental ..................................... 70 3.3 Propostas de ensino de leitura literária no ensino médio ................................................... 89 4 O TRABALHO DA CRÍTICA LITERÁRIA E DA RESENHA .....................................................................100 4.1 Mapeamento da crítica brasileira e a escrita crítica ............................................................101 4.2 Retrato do resenhista: um exemplo ...........................................................................................105 Unidade II 5 TRABALHO DA ESCRITA .............................................................................................................................. 114 5.1 O ato de escrever ................................................................................................................................ 117 5.2 Oficina: escrita criativa ....................................................................................................................127 5.3 Informações sobre publicação e divulgação ...........................................................................137 6 O TRABALHO DA REVISÃO .........................................................................................................................153 6.1 Atribuições do revisor e erros de revisão ..................................................................................155 6.2 Processo da revisão............................................................................................................................161 7 O TRABALHO DA TRADUÇÃO ....................................................................................................................166 7.1 Tradução tradicional e tradução contestadora ......................................................................167 7.2 Estratégias de tradução ...................................................................................................................170 7.3 Tradução de texto literário .............................................................................................................175 8 O TRABALHO DA PESQUISA: PERSPECTIVAS ......................................................................................176 8.1 Professor-pesquisador no ensino básico ..................................................................................176 8.2 Perspectivas profissionais: pesquisa e cursos de pós-graduação ...................................178 8.3 Metodologia da pesquisa: orientação .......................................................................................180 7 APRESENTAÇÃO A disciplina Tópicos de Atuação Profissional serve para a sistematização do conhecimento teórico adquirido no decorrer do curso, aliando as perspectivas da prática profissional do Licenciado em Letras – Língua Portuguesa e Língua Inglesa ou Língua Portuguesa e Língua Espanhola. A proposta é o favorecimento da síntese dos conteúdos estudados que propicie o entendimento da profissão inserida na dinâmica da sociedade, com base no estudo e na reflexão sobre os conhecimentos referentes a aspectos da realidade social e da ação profissional. Essa atuação pode referir-se à atividade docente com os alunos do Ensino Fundamental ou Médio, bem como à de crítico literário, pesquisador, resenhista, tradutor, agente literário e revisor de textos. Sendo assim, o objetivo geral é relacionar os conhecimentos adquiridos na área de língua materna e língua estrangeira às possíveis e variadas profissões dentro da nossa área. Quanto aos objetivos específicos, são eles: realizar didáticas na escola de ensino de língua materna e língua estrangeira, realizar atividades de crítica literária, de tradução e de revisão de textos. Este livro-texto delimita-se às possibilidades de atuação profissional que o curso pode proporcionarao graduando. Nesse sentido, ele se divide em duas unidades, abrangendo as profissões da nossa área. Na primeira parte, encontramos: • o trabalho docente – o graduando pode exercer sua profissão na área da docência, sendo professor no ensino básico em Língua Portuguesa e/ou Língua Estrangeira (Inglesa ou Espanhola). O grande foco do curso de Letras é a docência e, por isso, o livro-texto possui mais capítulos voltados ao trabalho docente, havendo necessidade de discorrer sobre o papel da educação, do professor e de determinadas situações, tais como a inclusão. Além dos primeiros momentos de reflexão, discutimos o ensino básico, em especial o ensino de língua(s) e o de literatura. No caso do ensino de língua, reforçamos a proposta atual de ensino, que precisa ser voltado para o texto e não para a gramática descontextualizada. Sobre literatura, existe proposta atual para abarcar tanto o ensino fundamental (em que não há sistematização de ensino de leitura literária) quanto o ensino médio. O graduando que não visa à docência tem outros campos de atuação. Assim, o livro-texto apresenta outras possibilidades: • o trabalho da resenha e da crítica: — o graduando pode especializar-se e tornar-se um crítico literário ou vincular-se a uma revista, ou jornal, ou site, e tornar-se resenhista. 8 — o graduando pode dar continuidade aos seus estudos, especializando-se em Literatura e tornar- se um crítico literário, estudando, analisando e publicando seus textos sobre obras literárias, com o aval de uma instituição acadêmica. — ele pode, também, sem necessariamente dar continuidade aos seus estudos, vincular-se a uma mídia (revista, jornal, site...) e tornar-se um resenhista ao escrever sobre os últimos lançamentos livrescos. A segunda parte do livro-texto trata de: • o trabalho da escrita – nesse caso, o graduando já tem ou desenvolve durante o curso seu talento para ser escritor. Muitos graduandos ingressam no curso de Letras porque gostam de ler e produzir textos literários. O curso colabora com conhecimentos sobre língua e literatura para o desenvolvimento do aluno como escritor. Neste livro-texto, a produção escrita é abordada de forma geral, uma vez que o graduando pode produzir, por exemplo, resenhas e textos acadêmicos (em sua continuidade formativa), e abordada, também, em sua forma criativa, para mostrar ao estudante a possibilidade de ser escritor literário. • o trabalho da revisão – o graduando pode tornar-se revisor de textos, incluindo nessa função a do editor. O aluno pode atuar como revisor de texto ao corrigir trabalhos acadêmicos, por exemplo, e trabalhar informalmente na área, ou trabalhar em uma empresa fazendo, justamente, revisão dos textos internos. • o trabalho da tradução – o graduando pode tornar-se tradutor, incluindo nessa função a do intérprete, dependendo de seu conhecimento e interesse pela língua inglesa ou espanhola. • o trabalho da pesquisa – o graduando, com a finalização do bacharelado/licenciatura, pode dar continuidade aos seus estudos em cursos de Especialização e em Mestrado/Doutorado e tornar-se um pesquisador. A área da pesquisa serve para a melhoria de sua atuação em sala de aula, bem como para abrir mais um caminho na área profissional: ser pesquisador com aval de uma instituição acadêmica. De forma geral, esta disciplina serve para mostrar a diversidade profissional de um graduado em Letras. Afinal, nada impede um profissional na nossa área de exercer mais de uma função ao mesmo tempo. Você, caro aluno, poderá exercer, por exemplo, a função docente e a de revisor em concomitância. Dependerá de seus conhecimentos na área, dos planos traçados e, também, da sua disposição. Na medida do possível, apresentaremos exemplos de profissionais relacionados ao nosso curso, tanto pessoas com carreiras consolidadas quanto ingressantes. 9 INTRODUÇÃO A disciplina Tópicos de Atuação Profissional proporciona aos formandos uma oportunidade para visualizar de forma mais ampla as possibilidades de campo de trabalho. Qual a sua história com relação à escolha profissional? Entre as opções a seguir, qual delas você assinalaria como a principal causa da escolha profissional ao ingressar no curso de Letras? • influências familiares; • identificação com profissionais; • mercado de trabalho e retorno financeiro. Como você já percorreu praticamente todo o curso, quais são as disciplinas de maior interesse e maior desinteresse? Quadro 1 Interesse Desinteresse Durante a graduação, ao conhecer as várias disciplinas, áreas de pesquisa, linhas teóricas, aos poucos o estudante passa a se identificar com determinada área e começa a traçar seu caminho profissional. Por exemplo, um graduando em Letras pode identificar-se com a área de língua e, após se formar, ingressar em um curso de pós-graduação e tornar-se especialista em uma linha teórica sobre língua. Pode ocorrer, também, que a instituição que oferece o curso de Letras concentre suas disciplinas em uma determinada área de atuação e o aluno, por desconhecer outros caminhos possíveis, siga na área para a qual foi preparado. Portanto, devido a vários fatores, como afinidade do estudante com um determinado âmbito, a concentração da instituição em uma área, as oportunidades de trabalho, entre outros, o graduando pode percorrer um determinado caminho profissional. Contudo, existem vários caminhos possíveis e este livro-texto serve para esclarecer alguns deles. Assim, deixo-lhe um desafio (agradável). 10 Caro aluno, você sabe qual(is) caminho(s) profissional(is) um formando em Letras Português-Inglês/ Português-Espanhol pode percorrer? formando professor revisor tradutor pesquisador escritor Figura 1 Durante a leitura deste livro-texto, você encontrará informações sobre as possíveis direções que um graduado em Letras pode seguir, consolidando uma carreira. 11 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Unidade I 1 O TRABALHO DA DOCÊNCIA: REFLEXÃO Levar o aluno a trabalhar na área da docência é o maior objetivo do curso de Letras, preparando-o tanto na dimensão do conteúdo, ao explorar a língua em seus diversos paradigmas científicos (Estruturalismo, Análise da Conversação, entre outros), quanto na dimensão prática, com disciplinas voltadas à prática de ensino, incluindo o estágio em sala de aula. No que se refere aos professores, o trabalho ainda se realiza sob a forma de emprego, com direitos como salário fixo, férias anuais e outros benefícios. O professor pode trabalhar em rede pública, prestando concurso (municipal ou estadual) para ser efetivado em sua cidade. Em São Paulo, por exemplo, a vantagem em prestar concurso e efetivar-se na rede municipal da capital é o plano de carreira oferecido para os professores. A cada curso feito pelo docente, sua pontuação aumenta na rede, bem como seu salário. Outra forma de atuação é por meio da rede privada. Nesse caso, o professor precisa estar atento, pois existem escolas que oferecem salários menores do que o oferecido na rede estadual. O professor pode atuar no ensino básico – fundamental II e médio – como professor de língua portuguesa e/ou de língua estrangeira. Há vários profissionais que atuam com ambas as línguas nas escolas básicas, mas geralmente o professor tem preferência ou maior especialização em uma delas. Ressaltamos que atualmente a sociedade exige das escolas e professores constante formação: são os cursos de formação contínua. Assim, além do conteúdo sobre língua, literatura, gramática, semântica etc., o professor precisa ter conhecimento sobre área educacional, as teorias pedagógicas e de qualificação, bem como de seu próprio papel na sociedade, com um posicionamento político. Frente a isso, há necessidade de o professor, ou melhor, o futuro professor tomar consciência de alguns aspectos que podem ajudá-lo no seu desenvolvimento intelectual e humano e na melhoria que ele pode levara um ambiente que hoje é considerado empobrecido: a escola. O aluno, ao decidir por esse curso, abre possibilidade de trilhar o caminho da docência. Nesse caminho, as novas descobertas e certezas se elaboram compreendendo que o ser humano é ao mesmo tempo sujeito e objeto de sua construção e do mundo. Para descrever seu futuro ser profissional, recorremos à metáfora usada por Edgar Morin (apud PIMENTA e GHEDIN, 2002, p. 166): Para que a lagarta se converta em borboleta, deve encerrar-se numa crisálida. O que ocorre no interior da lagarta é muito interessante; seu sistema imunológico começa a destruir tudo o que corresponde à lagarta, incluindo TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL 12 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 o sistema digestivo, já que a borboleta não comerá os mesmos alimentos que a lagarta. A única coisa que se mantém é o sistema nervoso. Assim é que a lagarta se destrói como tal para poder construir-se como borboleta. E quando esta consegue romper a crisálida, a vemos aparecer, quase imóvel, com as asas grudadas, incapaz de desgrudá-las. E quando começamos a nos inquietar por ela, a perguntar-nos se poderá abrir as asas, de repente a borboleta alça voo. 1.1 Professor reflexivo: conceito Para início de conversa, qual a diferença entre: • professor reflexivo e • professor reflexivo? Reflexivo pode ser um atributo dos professores, ou seja, um adjetivo atribuído a esse profissional, que, como qualquer ser humano, tem a capacidade de fazer reflexão. Aliás, tal característica diferencia o ser humano dos demais animais. Nos esclarecimentos de Pimenta (PIMENTA e GHEDIN, 2002), não é nessa acepção – de um simples adjetivo – que a partir de 1990 a expressão professor reflexivo tomou conta do cenário educacional. Professor reflexivo passou a ser uma denominação, um conceito, criado por Schön, professor de Estudos Urbanos no Instituto de Tecnologia de Massachusetts, EUA. Ao observar a prática de profissionais, conforme estudos filosóficos de John Dewey, Schön propôs um currículo seguido até então que é: currículo normativo com a apresentação da ciência, depois a aplicação e, por fim, o estágio. Esse currículo tradicional é normativo e não dá base, de fato, para o profissional responder às situações emergentes no cotidiano da profissão. Portanto, seguindo Dewey, que valoriza a experiência e a reflexão, e Luria e Polanyi (apud PIMENTA e GHEDIN, 2002), que valorizam o conhecimento tácito, Schön propõe um currículo – para uma formação profissional – baseado em uma epistemologia da prática: valorização da prática profissional como momento de construção de conhecimento, por meio da reflexão, análise e problematização desta, e o exame do conhecimento tácito, presente nas soluções encontradas em ato pelos profissionais. Saiba mais O uso do termo reflexão na formação de professores foi incorporado pelos educadores brasileiros com base no livro do português Antônio Nóvoa. O livro, de 1992, apresenta a visão de vários autores sobre o ensino como atividade reflexiva. A ideia, captada especialmente nos artigos de D. Schön e K. Zeichner, é a de que o professor possa “pensar” sua prática, desenvolvendo a capacidade reflexiva sobre sua própria atuação (NÓVOA, 1992). 13 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL O conhecimento na ação consiste no conhecimento implícito, interiorizado, mobilizado pelos profissionais no seu dia a dia, configurando um hábito. Por ser suficiente, a criação de soluções é feita pelos profissionais por meio de um processo de reflexão na ação: análise, contextualização, possíveis explicações, compreensão de suas origens, enfim, uma apropriação de teorias sobre o problema, uma investigação. A esse movimento, dá-se o nome de “reflexão sobre a reflexão na ação”, abrindo perspectivas para a valorização da pesquisa na atuação dos profissionais, e denominando “professor pesquisador” aquele que realiza essa prática. Em contexto de reforma curricular, as ideias de Schön foram apropriadas e ampliadas. Nesse contexto, questionavam-se a formação de professores e a necessidade de formar profissionais capazes de ensinar em situação singular, instável, incerta, carregada de conflito e de dilemas, bem como se indagava sobre o papel do professor nas reformas curriculares, questionando se os professores eram meros executores das decisões tomadas em outras instâncias. O reconhecimento da participação dos professores e da incorporação de suas ideias, conhecimentos, representações, na elaboração das propostas a serem implantadas foi conjugada ao conceito de professor reflexivo. Da década de 1990 para cá, quais itens estão postos em pauta de discussão? • o projeto pedagógico das escolas; • a importância do trabalho coletivo; • as questões referentes à autonomia do professor e das escolas; • as condições de trabalho, de carreira, salário, profissionalização de professores; • a identidade epistemológica (quais saberes lhes são próprios?); • os processos de formação dessa identidade, incluindo a vida, história, a trajetória pessoal e profissional; • as novas e complexas necessidades colocadas às escolas e aos professores pela sociedade contemporânea das novas tecnologias, informação e do conhecimento; • as novas e complexas necessidades apresentadas às escolas e aos professores pela sociedade contemporânea do esgarçamento das relações sociais e afetivas, da violência, da indisciplina, do desinteresse pelo conhecimento, gerado pela consciência das formas de enriquecimento que independem do trabalho; • as novas e complexas necessidades apresentadas às escolas e aos professores pela sociedade contemporânea das novas configurações do trabalho e do desemprego, requerendo que os trabalhadores busquem constantemente requalificação por meio de cursos de formação contínua etc. As ideias de Schön puseram novamente em pauta a discussão sobre questões organizacionais, o papel do professor e da relação escola/professor e sociedade, enfim, todos os itens anteriores. Nesse contexto de discussões e da apropriação do conceito de professor reflexivo, a formação contínua na escola ganhou força, uma vez que nessa formação se explicitam as demandas da prática, as necessidades dos professores de resolver os conflitos e dilemas de sua atividade de ensinar. 14 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 A formação contínua de professores não se reduz a treinamento ou capacitação. A formação ultrapassa a compreensão que se tinha de educação permanente e se configura como um projeto de formação inicial e contínua, articulado entre as instâncias formadoras – universidade e escolas –, representando a valorização da pesquisa e da prática. O conceito professor reflexivo de Schön levou, nas primeiras críticas, a indagações, tais como: • que tipo de reflexão tem sido realizado pelos professores? • as reflexões incorporam um processo de consciência das implicações sociais, econômicas e políticas da atividade de ensinar? • que condições os professores têm para refletir? A proposta de Schön coloca em destaque o protagonismo do sujeito professor nos processos de mudanças e inovações, podendo, contudo, gerar a supervalorização do professor como indivíduo. Além disso, a mera reflexão sobre o trabalho docente de sala de aula não é suficiente para uma compreensão teórica dos elementos condicionantes à prática profissional. Assim, há necessidade de discutir sobre uma reflexão que parta do individual e chegue à coletividade. Nesse movimento (individual ao coletivo), o papel da teoria é extremamente considerável. Os saberes da teoria articulam-se aos saberes da prática, sendo o papel da teoria oferecer aos professores perspectivas de análise para compreenderem os contextos históricos, sociais, culturais,organizacionais e a si mesmos como profissionais. O professor pode, então, intervir e transformar tais contextos. O reconhecimento por parte dos professores de que seus atos são políticos, podendo ser direcionados a objetivos democráticos e emancipatórios, leva a uma prática reflexiva, enquanto prática social. Nesse sentido, tal prática reflexiva só pode ser realizada em coletivo; os professores, por conseguinte, se apoiam e se estimulam mutuamente. Em síntese, como forma de superação dos limites da ideia proposta por Schön, a estudiosa brasileira Selma Pimenta (apud PIMENTA e GHEDIN, 2002) aponta as seguintes possibilidades: • da perspectiva do professor reflexivo, proposta por Schön, a autora propõe o intelectual crítico reflexivo. Ou seja, a saída da dimensão individual da reflexão para o seu caráter público e ético; • da epistemologia da prática à práxis. Esse movimento ocorre da construção do conhecimento por parte dos professores com base na análise crítica (teórica) das práticas e da ressignificação das teorias com base nos conhecimentos da prática (práxis); • do professor-pesquisador à realização da pesquisa no espaço escolar, como atividade integrante da jornada de trabalho dos profissionais da escola, com a colaboração de pesquisadores da universidade. Essa proposta convida a instaurar na escola uma cultura de análise de projetos de coletivos de investigação, com a colaboração da universidade, bem como a reforçar a importância da universidade na formação, com processos formativos que tomem a realidade existente nas escolas como parte integrante desse processo e no qual a pesquisa é o eixo central; 15 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL • da formação inicial e dos programas de formação contínua, que podem significar um descolamento da escola, aprimoramento individual e um corporativismo ao desenvolvimento profissional. A prática profissional implica a atuação coletiva dos professores sobre suas condições de trabalho, incitando-os ao compromisso com o coletivo profissional e com a escola; • da formação contínua, que investe na profissionalização individual, ao reforço da escola e do coletivo no desenvolvimento profissional dos professores. Enfim, Perrenoud, Carr e Kemmis (apud PIMENTA e GHEDIN, 2002) destacam o papel da reflexão na prática docente no aprimoramento do trabalho. O notório estudioso do pensamento pedagógico brasileiro Libâneo (apud PIMENTA e GHEDIN, 2002) igualmente explora a teoria de professor reflexivo e sugere dois tipos básicos de reflexividade: a reflexividade de cunho neoliberal e a de cunho crítico, formulados no quadro a seguir: Quadro 2 – Tipos básicos de reflexividade Características comuns do contexto • alteração nos processos de produção decorrente dos avanços científicos e tecnológicos; • estreita ligação ciência – tecnologia; • reestruturação produtiva; • intelectualização do processo produtivo. • empoderamento dos sujeitos – flexibilidade profissional Reflexividade crítica Reflexividade neoliberal (linear, dicotômica, pragmática) Características do professor crítico-reflexivo • fazer e pensar, a relação teoria e prática; • agente em uma realidade social construída; • preocupação com a apreensão das contradições; • atitude e ação críticas frente ao mundo capitalista e sua atuação; • apreensão teórico-prática do real; • reflexividade de cunho sociocrítico e emancipatório. Orientações teóricas • marxismo/neomarxismo; • construtivismo histórico-cultural ou socioconstrutivismo ou interacionismo sociocultural. Reconstrucionismo social • reflexividade crítica. Fenomenologia • apreensão subjetiva do real; • reflexividade subjetiva (compreensividade). Teoria da ação comunicativa • reflexividade comunicativa; • reflexividade hermenêutica. Características do professor reflexivo • fazer e pensar, relação entre teoria e prática; • agente numa realidade pronta e acabada; • atuação dentro da realidade instrumental; • apreensão prática do real; • reflexividade cognitiva e mimética. Orientações teóricas • paradigma racional-tecnológico; • cognitivismo; • ciência cognitiva e teoria do processamento da informação; • pragmatismo; • tecnicismo; • construtivismo piagetiano. 16 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 Conforme Libâneo, o contexto econômico e social é o mesmo para ambas as orientações teóricas da reflexividade, com cada visão interpretando-o de forma diferente de acordo com os interesses políticos e ideológicos. Esse estudioso atribui a Feldman (apud PIMENTA e GHEDIN, 2002) a distinção sobre reflexão, que pode ser considerada como metodologia de trabalho para resolução de problemas específicos e também como prática reflexiva, funcionando como um programa de orientação geral na formação de professores. Smyth, ainda segundo Libâneo, resume o enfoque da reflexão crítica em quatro fases da reflexão, sendo elas: 1. descrever: o que estou fazendo? 2. informar: que significado tem o que faço? 3. confrontar: como cheguei a ser ou agir desta maneira? 4. reconstruir: como poderia fazer as coisas de um modo diferente? Uma concepção crítica da reflexividade que se proponha a ajudar os professores no fazer-pensar cotidiano precisa ultrapassar a ideia de os sujeitos da formação inicial e continuada apenas submeterem à reflexão os problemas da prática docente mais imediatos. É preciso levar à reflexão dos contextos sociais, políticos, institucionais na configuração das práticas escolares. Formação continuada Acompanhamento pedagógico Desenvolvimento de competências Figura 2 A escola é um dos lugares específicos do desenvolvimento da razão, portanto, de desenvolvimento da reflexividade. Adquirir conhecimentos, aprender a pensar e agir, desenvolver capacidades e competências, implica sempre a reflexividade, tanto em relação ao professor crítico reflexivo, ao prático reflexivo ou ao intelectual crítico, quanto em relação ao desenvolvimento de capacidades e competências do pensar: raciocínio, análise, julgamento. Exemplo de aplicação Schön defende a ideia do professor como profissional reflexivo, mas não revela o conteúdo para a reflexão. Vamos considerar que esse conteúdo possa ser sobre a linguagem, os sistemas de valores, os processos de compreensão e a forma com que definem o conhecimento. Desses quatro elementos fundamentais, escolha um deles e discuta-o, relacionando-o com as perguntas a seguir: 17 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL a) Descrever: o que estou fazendo? b) Informar: que significado tem o que faço? c) Confrontar: como cheguei a ser ou agir desta maneira? d) Reconstruir: como poderia fazer as coisas de um modo diferente? 1.2 Formação pedagógica para a utilização das TIC Ramos (2012) alerta-nos sobre o fato de que os futuros profissionais da educação finalizam sua formação com pouco ou quase nenhum conhecimento sobre as Tecnologias de Informação e Comunicação – TIC. Sabemos que a falta de interesse dos alunos em sala de aula se faz crescente, e cabe ao professor uma nova metodologia, uma nova didática de ensino. Hoje o conhecimento está menos ligado aos conteúdos, está mais voltado para o saber pensar, temos que aprender a aprender. Nas instituições de ensino existe um crescente interesse em descobrir de que forma as mídias digitais podem ser utilizadas como recurso para apoiar a aprendizagem. As ações governamentais incentivam e tem programas de capacitação para atualizar o docente. A tecnologia digital educacional precisa ter objetivos de aprendizagem bem definidos, ensinar conteúdos das disciplinas e promover o desenvolvimento de habilidades para ampliar o cognitivo e intelecto dos alunos. No entanto, será que isso acontece? O professor está preparado para utilizar os recursosde mídias digitais educacionais? O professor não pode ficar alheio a este novo cenário. Não basta equipar as escolas com computadores e internet, é preciso perceber o contexto em que vivem os seus alunos que estão diariamente informatizados, mesmo sabendo que ainda é grande o número de exclusão digital. A formação dos professores, tanto inicial como continuada, é a solução para o desenvolvimento cognitivo dos alunos e para a inclusão digital. Apesar do potencial e benefícios, as tecnologias educacionais digitais ainda são pouco utilizadas. Para muitos professores, encontrar e utilizar ferramentas digitais ainda é um grande desafio. Outro desafio é a avaliação, não basta apenas propor a atividade, é necessário verificar se os objetivos propostos estão sendo atingidos. É fala corrente entre os profissionais da educação que o cotidiano da sala de aula vem sofrendo profundas transformações. Os alunos são mais inquietos, desatentos, menos motivados, enquanto os professores sentem que o modelo de aula costumeiramente usado já não funciona e exige reformulações. Em um mundo com mídias cada vez mais sedutoras e atraentes, as salas de aula com quadro negro e giz estão se tornando lugares tediosos. Segundo Moran (2007, p. 47): Numa sociedade cada vez mais conectada, ensinar e aprender podem ser feitos de forma bem mais flexível, ativa e focada no ritmo de cada um. 18 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 As tecnologias móveis desafiam as instituições a sair do ensino tradicional, em que o professor é o centro, para uma aprendizagem mais participativa e integrada, com momentos presenciais e outros a distância, mantendo vínculos pessoais e afetivos, estando juntos conectados. Preparar profissionais de educação nos dias atuais não significa somente criar condições para que eles vão além das teorias ligadas à área do conhecimento, mas vivenciar, experimentar, entender os novos processos de mediação tecnológica. O domínio das práticas se dá por meio das necessidades e das exigências do pedagógico, e as novas possibilidades técnicas criam aberturas para ele, construindo uma verdadeira espiral ascendente na sua complexidade técnica e pedagógica. Em 2000, o número de computadores pessoais em todo o mundo chegou a 500 milhões. Em 2011, o total de pessoas com acesso à internet atinge 77,8 milhões. O acesso acontece em qualquer ambiente: domicílio, trabalho, escolas, lan house ou outros locais, segundo o IBOPE Nielsen Online. O gráfico apresenta a evolução do número de pessoas com acesso à internet em qualquer ambiente no Brasil. 80 70 60 50 40 30 20 10 0 64,8 2º Tri 2009 2º Tri 2010 2º Tri 2011 73,7 77,8 Figura 3 – Número de pessoas com acesso à internet O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou em 2009 uma pesquisa que apontou que o número de brasileiros que acessam a internet aumentou 75,3% nos últimos três anos, mas que as desigualdades sociais ainda são obstáculo à inclusão digital no país. Em todos os níveis de escolaridade, foi observado aumento do acesso em relação a 2005, mas o crescimento foi mais intenso na população com menos escolaridade. 2,5 10,1 23,4 22,5 38,7 42,7 57,8 76,1 80,4 7,2 2005 2008 sem instrução e menos de 4 anos de 4 a 7 anos de 8 a 10 anos de 11 a 14 anos com 15 anos ou mais Figura 4 – Número de acesso à internet por idade 19 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL A partir dos anos 1980, ocorre o fenômeno chamado “nativos digitais”. Um nativo digital é aquele que nasceu e cresceu com as tecnologias digitais presentes em sua vida. Enquanto os nativos digitais se sentem bem mais à vontade com o computador e a tecnologia existente hoje, o imigrante digital não se sente tão bem com esses conceitos. Apesar de as pessoas mais velhas também estarem integradas com o uso das tecnologias, continuam a se basear nas formas tradicionais e analógicas. Esses nativos são diferentes, porque eles estudam, trabalham, escrevem e se interagem de maneiras diferentes dos jovens pré-1980. Eles leem blogs em vez de jornais. Com frequência se conhecem on-line antes de se conhecerem pessoalmente. Eles obtêm suas músicas on-line gratuitamente. Conectam-se entre si por meio de uma cultura comum. Para educar os nativos digitais precisamos pensar em autonomia e liberdade em processos participativos, interativos, incentivadores, em que todo o conhecimento será compartilhado. Quando falamos em autonomia não podemos deixar de citar Paulo Freire, defensor do professor aprendiz, aberto a aprender com a realidade de seus alunos. Sem discriminar ideias novas e respeitando as diferenças, o professor deve estar aberto a todas as metodologias que possam ajudar no melhor desenvolvimento de seus alunos. Para os nativos digitais, o educador deve fazer constantemente uma crítica a sua prática e aprender a aprender com seus alunos. Para Paulo Freire (apud RAMOS, 2012, p. 16), não é difícil compreender que [...] como uma das minhas tarefas centrais como educador seja apoiar o educando para que ele mesmo vença suas dificuldades na compreensão ou na inteligência do objeto e para que sua curiosidade, compensada e gratificada pelo êxito da compreensão alcançada, seja mantida e, assim, estimulada a continuar a busca permanente que o processo de conhecer implica. Sendo o aprendizado uma constante e o processo de conhecer, permanente, as mudanças precisam ocorrer no currículo, para atender às mudanças da sociedade. As escolas precisam descobrir como os jovens estão aprendendo nessa era digital. A maneira de aprender está mudando rapidamente. Hoje a internet está transformando a forma pela qual os jovens coletam e processam as informações em todos os aspectos da sua vida, navegam por quantidades enormes de notícias e outras informações on-line. As tecnologias móveis desafiam as instituições a sair do ensino tradicional, em que o professor é o centro, para uma aprendizagem mais participativa e integrada com momentos presenciais e outros a distância, mantendo vínculos pessoais e afetivos, estando juntos e conectados. Observação Philippe Perrenoud é o autor da teoria “Pedagogia das diferenças”. Para atender à heterogeneidade em sala de aula, propõe a descentralização do professor, que se torna mediador. 20 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 Todo o processo educativo tem como objetivo o desempenho do profissional para o mercado de trabalho. Segundo Ramos (2012), para Perrenoud, competência não é ensinada, é desenvolvida pela prática, pela ação reflexiva. Se quisermos desenvolver competências, não devemos mais “dar” aulas, mas precisamos criar condições para que os alunos as desenvolvam – nada é ensinado, tudo é aprendido. Partindo dessa premissa, para que o professor desenvolva competências, para mediar posteriormente um aprendizado entre seus alunos, precisa desenvolvê-las na graduação. Estamos no século XXI e temos uma sociedade caminhando para o conhecimento. As informações perderam sua importância prioritária, buscamos aprender a aprender, buscamos o macro, o conhecimento de questionamento, da incerteza, da pesquisa, da crítica, da autocrítica. Para Morin (2010, p. 84), uma [...] nova consciência começa a surgir: o homem, confrontado de todos os lados às incertezas é levado, em nova aventura. É preciso aprender a enfrentar a incerteza. já que vivemos em uma época de mudanças em que os valores são ambivalentes, em que tudo é ligado. É por isso que a educação do futuro deve se voltar às incertezas ligadas ao conhecimento. O conhecimento se constrói e cabe aos educadores mediar esta construção. O professor deve estar preparado para trabalhar com as incertezas e, para que isso ocorra, deve conhecer para analisar, refletir e discutir sobreos objetos de aprendizagem e seu bom uso pelos alunos. Normalmente o professor trabalha com um objetivo e ele cria uma estratégia de ensino para alcançá-lo. Por isso, deve conhecer em que grau de aprendizado se encontram seus alunos para acompanhá-los nesse processo. Com as TIC podemos seguir esse mesmo caminho. Visando melhorar a qualidade da educação básica, o Ministério da Educação, por meio da SEED (Secretaria de Educação a Distância), passou a promover várias ações para uma educação tecnológica de qualidade para todos. Com abrangência nacional, conta com o envolvimento de instituições públicas e particulares, dedicadas ao ensino e pesquisa, incluindo as seguintes ações/objetivos: • incentivo a programas de inovação pedagógica; • apoio técnico-financeiro aos sistemas educacionais para a melhoria das condições de ensino; • constituição e consolidação de sistema de avaliação do ensino tecnológico; • apoio a ações de formação inicial e continuada de professores; • desenvolvimento e manutenção de um portal educacional da web; • apoio a eventos e publicações, dentre outros. No escopo desse programa, algumas ações atuais do Ministério da Educação para a melhoria da educação tecnológica incluem: 21 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL • Domínio Público – Biblioteca Virtual Com acervo de mais de 123 mil obras e um registro de 18,4 milhões de visitas (dados de junho de 2009). Lançado em 2004, o portal oferece acesso de graça a obras literárias, artísticas e científicas (http://www.dominiopublico.gov.br). • E-ProInfo Programa educacional criado em 1997 para promover o uso pedagógico de Tecnologia de Informática e Comunicação na rede pública de ensino fundamental e médio (http://e-proinfo.mec.gov.br). • E-Tec Brasil Lançado em 2007, visa à oferta de educação profissional e tecnológica a distância e tem o propósito de ampliar e democratizar o acesso a cursos técnicos de nível médio, públicos e gratuitos. A meta é estruturar mil polos e atender 200 mil (http://moodle2.mec.gov.br). • Programa Banda Larga nas Escolas Tem como objetivo conectar as escolas públicas urbanas à internet, por meio de tecnologias que propiciem qualidade, velocidade e serviços para incrementar o ensino público. Iniciou em 2008 (http:// portal.mec.gov.br). • Proinfantil Curso em nível médio, a distância, destinado aos profissionais que atuam em sala de aula da educação infantil, das redes públicas municipais, estaduais e da rede privada, sem fins lucrativos. Tem duração de dois anos e, ao final do curso, o cursista será capaz de dominar os instrumentos necessários para o desempenho de suas funções e desenvolver metodologias e estratégias de intervenção pedagógicas adequadas às crianças da educação infantil (http://proinfantil.mec.gov.br/). • ProInfo e ProInfo Integrado Programa educacional com o objetivo de promover o uso pedagógico da informática na rede pública de educação básica. O programa leva às escolas computadores, recursos digitais e conteúdos educacionais. O Proinfo Integrado é um programa de formação voltada para o uso didático-pedagógico das tecnologias da informação e comunicação - TIC - no cotidiano escolar, articulado à distribuição dos equipamentos tecnológicos nas escolas e à oferta de conteúdos e recursos multimídia e digitais oferecidos pelo Portal do Professor, pela TV Escola e DVD Escola, pelo Domínio Público e pelo Banco Internacional de Objetos Educacionais (http://e-proinfo.mec.gov.br) e (http:// integrado.mec.gov.br/). 22 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 • TV Escola Canal de televisão do MEC que capacita, aperfeiçoa e atualiza educadores desde 1996. São 24 horas diárias de séries e documentários (http://tvescola.mec.gov.br/). • Sistema Universidade Aberta do Brasil (UAB) A Universidade Aberta do Brasil é um sistema integrado por universidades públicas que oferece cursos de nível superior para camadas da população que têm dificuldade de acesso à formação universitária, por meio do uso da metodologia da educação a distância. O público em geral é atendido, mas os professores que atuam na educação básica têm prioridade de formação, seguidos dos dirigentes, gestores e trabalhadores em educação básica dos estados, municípios e do Distrito Federal. Instituído em 2006, procura plantar a semente da universidade pública de qualidade em locais distantes e isolados, incentiva o desenvolvimento de municípios com baixos IDH e IDEB. Desse modo, funciona como um eficaz instrumento para a universalização do acesso ao ensino superior e para a requalificação do professor em outras disciplinas, fortalecendo a escola no interior do Brasil, minimizando a concentração de oferta de cursos de graduação nos grandes centros urbanos, o que evita o fluxo migratório para as grandes cidades (http://www.uab.capes.gov.br). • Banco Internacional de Objetos Educacionais Portal para assessorar o professor. No banco, estão disponíveis recursos educacionais gratuitos em diversas mídias e idiomas (áudio, vídeo, animação, imagem, hipertextos, software educacionais) que atendem desde a educação básica até a superior, nas diversas áreas do conhecimento (http:// objetoseducacionais2.mec.gov.br/). • Portal do Professor Espaço para troca de experiências entre professores do ensino fundamental e médio. É um ambiente virtual com recursos educacionais que facilitam e dinamizam o trabalho dos professores. O conteúdo do portal inclui sugestões de aulas de acordo com o currículo de cada disciplina e recursos como vídeos, fotos, mapas, áudio e textos. O professor poderá preparar a aula, ficará informado sobre os cursos de capacitação oferecidos em municípios e estados e na área federal e sobre legislação específica (http:// www.portaldoprofessor.com.br/). • Programa Um Computador por Aluno – Prouca O Decreto nº 7243, de 26 de julho de 2010, regulamentou o Programa Um Computador por Aluno (Prouca). O Prouca é um programa pelo qual estados, municípios e o Distrito Federal podem adquirir computadores portáteis novos para uso das suas redes públicas de educação básica. O laptop possui configuração exclusiva e requisitos funcionais únicos, tela de cristal líquido de sete polegadas, bateria com autonomia mínima de três horas e peso de até 1,5 kg. É equipado para rede sem fio e conexão de Internet. Por iniciativa dos governos Federal, Estaduais e Municipais, o projeto foi replicado em seis 23 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL municípios brasileiros, que tiveram todas as suas escolas atendidas, onde são chamadas de UCA Total (http://www.uca.gov.br). Os municípios selecionados foram: Barra dos Coqueiros/SE; Caetés/PE; Santa Cecília do Pavão/PR; São João da Ponta/PA; Terenos/MS; Tiradentes/MG. • Guia de Tecnologias O Guia de Tecnologia é composto pelas tecnologias pré-qualificadas em conjunto com as tecnologias desenvolvidas pelo MEC. Com a publicação, o MEC visa oferecer aos gestores educacionais uma ferramenta a mais que os auxilie na aquisição de materiais e tecnologias para uso nas escolas públicas brasileiras. Está organizado em cinco blocos de tecnologias: — gestão da educação; — ensino-aprendizagem; — formação de profissionais da educação; — educação inclusiva; — portais educacionais. A Lei Federal n. 10.172/2001, que aprovou o Plano Nacional de Educação em 09/01/01, define prazos para sua implantação e consolidação do uso das TIC. O capítulo sobre a educação a distância e tecnologias educacionais, define objetivos e metas, dos quais destacamos: • iniciar, logo após a aprovação do plano, a oferta de cursos a distância, em nível superior, especialmente na área de formação de professores para a educação básica; • incentivar, especialmente nas universidades, a formaçãode recursos humanos para a educação a distância; • instalar, em cinco anos, 500.000 computadores em 30.000 escolas públicas de ensino fundamental e médio, promovendo condições de acesso à Internet; • capacitar, em dez anos, 12.000 professores multiplicadores em informática da educação; • equipar, em dez anos, todas as escolas de nível médio e todas as escolas de ensino fundamental com mais de 100 alunos com computadores e conexões de Internet que possibilitem a instalação de uma Rede Nacional de Informática na Educação. Como vimos, o governo criou programas para atender à Lei, por meio da SEED – Secretaria de Educação a Distância –, que foi criada para a inovação dos processos de ensino e para incorporar as Tecnologias de Informação e Comunicação nas escolas públicas. Analisando os programas do MEC pelo site, fica claro que houve alguns progressos para atingir as metas. Muitas instituições estão cadastradas e credenciadas pelo órgão para o EAD – Educação a Distância – e há um crescente interesse pela modalidade de ensino. No entanto, ainda há um longo caminho a percorrer para que as ações se popularizem e as TIC tenham mais sucesso. 24 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 Exemplo de aplicação Como é a sua relação com o computador? 1. Você utiliza o computador para realizar atividades? ( ) Sim. ( ) Não. 2. Caso a resposta anterior tenha sido sim, assinale a seguir a alternativa que demonstra como você faz uso do computador: ( ) Uso em casa. ( ) Na faculdade. ( ) No trabalho. 3. Utilizo o computador para (você deverá marcar todos os usos que faz): ( ) Fazer pesquisas. ( ) Entrar em redes sociais (Facebook, Orkut, outras). ( ) Fazer compras. ( ) Participar de cursos on-line. ( ) Baixar músicas e filmes. ( ) Assistir vídeos. ( ) Enviar e verificar e-mails. ( ) Fazer trabalhos escolares e/ou profissionais. ( ) Outros. 4. Indique quais dos seguintes serviços/ferramentas você costuma utilizar quando navega na web. A gradação das respostas vai de 5 a 1, sendo 5 para uso frequente e 1 para uso esporádico. ( ) Visitar páginas de web. ( ) Ler jornal e/ou revistas eletrônicos. ( ) Comunicar-se por Messenger (MSN). ( ) Uso de e-mail. ( ) Acesso ao YouTube. 25 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL ( ) Produção na Wikipédia. ( ) Pesquisa na Wikipédia. ( ) Acesso a rádio e TV on-line. ( ) Acesso a páginas educacionais. ( ) Pesquisar em buscadores (Google, Ask, Yahoo, UOL). ( ) Comunicar-se por Skype. ( ) Uso de Blog. ( ) Participar de lista de discussão (Google Groups, Yahoo Groups). ( ) Fazer compras on-line. ( ) Participar de redes sociais (Facebook, Orkut). ( ) Outros. 5. De quem geralmente é a iniciativa de novos recursos educacionais em sua escola, de acordo com as experiências que já teve? ( ) Própria. ( ) De outro professor. ( ) Da gestão da escola. ( ) Da Secretaria ou Departamento de Educação. ( ) Dos alunos. ( ) Da exigência dos pais. 1.3 Diversidade no ensino Em seu primeiro ano de atuação, o professor normalmente confronta as ideias trazidas pelo curso de formação com a realidade escolar, tendendo a mudar suas opiniões e mostrar-se mais conservador (ANDRÉ, 2008). Entre a realidade a ser conhecida e os anseios de um professor iniciante, encontra-se a heterogeneidade na educação. Tal heterogeneidade está presente em uma turma de alunos, pois cada um traz uma história, tem uma cultura e um nível de aprendizado; está presente em um grupo de professores, que também carregam individualmente sonhos, planos, conhecimentos específicos, atuações políticas e ideológicas; está na diversidade de grupos sociais e seus valores culturais; está na própria atuação profissional. 26 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 Apresentamos, em caráter exemplificador, duas situações. Uma delas é o trabalho escolar voltado à discriminação. O professor encontra em sala de aula a diversidade social, sendo ele próprio parte de um grupo. Trabalhar a cultura negra, a cultura indígena, a cultura rural, a cultura urbana faz parte do currículo indicado pelo Ministério da Educação. Para o trabalho ser significativo, os valores e os conteúdos precisam ultrapassar simples eventos de datas comemorativas. A revista Nova Escola (Nov., 2004) lançou um questionário muito pertinente sobre como a escola lida com, por exemplo, o dia institucionalizado Dia da Consciência Negra. Você pode aproveitar o teste e respondê-lo, pensando na realidade escolar em que atua (como estagiário ou se já for professor) ou na de uma pessoa próxima (seu filho, irmão). Sua escola combate a discriminação? Assinale a alternativa que julgar mais correta: 1. A trajetória histórica do negro é estudada… a. nas efemérides: 13 de maio, no mês do folclore, 20 de novembro. b. como conteúdo pedagógico amplamente explorado em sala de aula. c. não é estudada. 2. Acredita-se que o racismo é para ser tratado… a. como conteúdo nas várias áreas que possibilitem tratar o assunto. b. pelos movimentos sociais. c. quando acontece algum caso evidente na escola. 3. A cultura negra é… a. estudada como rico folclore do Brasil. b. um tema presente na proposta pedagógica da escola. c. assunto de aula quando surge alguma notícia na imprensa. 4. O currículo… a. baseia-se nas contribuições das culturas europeias representadas nos livros didáticos. b. aborda positivamente a diversidade racial e as verdadeiras contribuições de todos os povos. c. procura apresentar aos alunos informação também sobre os indígenas e negros brasileiros. 27 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL 5. Você, professor… a. é neutro quanto às questões sociais, pois seu trabalho se baseia apenas nos conteúdos dos livros didáticos e manuais pedagógicos. b. reavalia sua prática cotidiana e reflete sobre os valores e conceitos que traz introjetados sobre o povo e a cultura negra. c. tem investido em formação e buscado informações sobre as questões raciais. 6. A abordagem das questões raciais… a. não é feita com profundidade, pois a escola prioriza outras temáticas mais relevantes para o contexto. b. é contextualizada na realidade dos alunos, promove uma análise crítica do assunto e visa à transformação dos conceitos preconceituosos. c. não acontece, pois não é considerada assunto para a escola. 7. As diferenças culturais entre os diversos povos… a. não são tratadas, pois não temos informações suficientes e o assunto é polêmico. b. servem como reflexão para rever posturas preconceituosas e comparações hierarquizadas. c. são mostradas como diversidade cultural brasileira. 8. As situações de desigualdade e discriminação presentes na sociedade… a. são temas de reflexão para todos os alunos. b. são discutidas apenas com os alunos discriminados. c. são discussões estratégicas para conscientização dos alunos quanto à luta contra todas as formas de injustiça social. 9. Acredita-se que, para fortalecer o reconhecimento, a aceitação e o respeito à diversidade racial, deve-se… a. promover o orgulho racial de seus alunos. b. procurar não chamar a atenção para as visões estereotipadas sobre os negros em livros, produções e textos existentes no material didático. c. promover maior conhecimento sobre as heranças culturais brasileiras. 28 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 10. A linguagem verbal utilizada no cotidiano escolar… a. tem o poder de influenciar nas questões de racismo e discriminação. b. se vale de expressões referentes à cor dos alunos, como neguinha, negão ou preto. c. não tem influência direta nas questões raciais. 11. Quanto ao trabalhoescolar sobre a temática racismo… a. alguns professores tratam o assunto em determinadas etapas do ano letivo. b. existe um trabalho coletivo com a participação de todos, inclusive direção e funcionários. c. existe resistência de alguns colegas para tratar a questão racial. 12. Na biblioteca da escola… a. existem muitos e variados livros sobre a questão racial para alunos e professores. b. existem poucos títulos sobre a questão racial. c. não existe literatura que contemple a questão racial. 13. Quanto à capacitação sobre a questão racial, você… a. ainda não teve oportunidade de estudar o assunto. b. participou de cursos e grupos de estudos sobre a questão racial. c. tem procurado incorporar o assunto nas reuniões pedagógicas, grupos de estudos e momentos de formação. 14. A coordenação pedagógica de sua escola … a. orienta de maneira eficaz a efetiva aplicação da lei 10639. b. repassa sempre que chega à escola sugestões e/ou reuniões sobre diversidade racial.. c. não demonstra interesse, já que tem muitas atividades a resolver. 15. A resistência em buscar aperfeiçoamento existente no ambiente escolar… a. se dá devido ao mito da democracia racial. b. se dá devido ao fato de que há outras questões discriminatórias que não são levantadas.. c. se dá pela falta de conhecimento histórico para desfazer mentalidades racistas. 29 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Confira o resultado: 1- a. 1 b. 2 c. 0 2- a. 2 b. 0 c. 1 3- a. 0 b. 2 c. 1 4- a. 0 b. 2 c. 1; 5- a. 0 b. 2 c. 1 6- a. 1 b. 2 c. 0 7- a. 0 b. 2 c. 1 8- a. 1 b. 0 c. 2; 9- a. 2 b. 0 c. 1 10- a. 2 b. 0 c. 0 11- a. 1 b. 2 c. 0 12- a. 2 b. 1 c. 0; 13- a. 0 b. 1 c. 2 14. a.2 b. 1 c. 0 15. a 1 b. 0 c. 2. Até 6 pontos: Sua escola está na fase da invisibilidade. O tema ainda é tabu. Este silêncio é significativo. Os alunos estão perdendo a oportunidade de formação de valores essenciais para uma convivência harmônica em sociedade. Que pena! De 7 a 18 pontos: Sua escola está na fase da negação. O assunto racial está começando a ser discutido. É preciso que a maioria dos professores admita a existência do racismo na sociedade e no ambiente escolar. E que a verdadeira história de resistência do povo negro sirva de exemplo de luta pela cidadania a todos os alunos. De 19 a 28 pontos: Sua escola está na fase de reconhecimento. Muito bem! Vocês estão no caminho certo! Reconhecem a necessidade urgente de transformar a escola em um espaço de combate ao racismo e à discriminação. De 29 pontos e 30 pontos: Sua escola está na fase do avanço. Parabéns! Vocês não temem o trabalho sobre as diferenças raciais e apresentam uma postura ética e humanista. A equipe está no caminho do aperfeiçoamento da prática pedagógica. E assim busca não fomentar o preconceito e a discriminação. (Nova Escola. Nov. 2004) Tratar da cultura negra em sala de aula é seguir a Lei nº 10.639, em que é proposto o novo conhecimento científico contrário à superioridade da produção cultural europeia. O documento determina que a história da África seja tratada em perspectiva positiva, não privilegiando somente as denúncias da miséria que atinge o continente. A importância dos anciãos na preservação da memória e a religiosidade, por exemplo, passam a fazer parte dos conteúdos. 30 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 Quadro 3 – A cultura negra em sala de aula Erros Acertos • abordar a história dos negros a partir da escravidão; • aprofundar-se nas causas e consequências da dispersão dos africanos pelo mundo e abordar a história da África antes da escravidão; • apresentar o continente africano cheio de estereótipos, como o exotismo dos animais selvagens, a miséria e as doenças, como a AIDS; • enfocar as contribuições dos africanos para o desenvolvimento da humanidade e as figuras ilustres que se destacaram nas lutas em favor do povo negro; • pensar que o trabalho sobre a questão racial deve ser feito somente pelos professores negros para alunos negros; • a questão racial é assunto de todos e deve ser conduzida para a reeducação das relações entre descendentes de africanos, de europeus e de outros povos; • acreditar no mito da democracia racial. • reconhecer a existência do racismo no Brasil e a necessidade de valorização e respeito aos negros e à cultura africana. As marcas da cultura de raiz africana devem ser ressaltadas em Artes, Literatura e História do Brasil. Desde que faça sentido para a comunidade escolar, o professor pode trabalhar questões sociais que envolvam seus alunos. Outro exemplo de diversidade na docência é o lugar de atuação do professor. Tradicionalmente, local de ensino é em prédio construído para tal, com divisórias chamadas salas de aula, com carteiras e cadeiras dispostas umas atrás das outras e com quadro negro (a lousa). Contudo, o professor pode atuar em um ambiente inesperado. Desde o século XIX, em hospitais, presídios e outros lugares, por lei, podem ocorrer aulas do ensino básico. Vejamos alguns casos: 1854 – Brasil – Dom Pedro II - Imperial Instituto dos Meninos Cegos (atual Instituto Benjamin Constant) – atendimento aos deficientes visuais. 1857 – Institutos dos Surdos-Mudos (atual Instituto Nacional da Educação dos Surdos – INES). 1926 – Instituto Pestalozzi - deficientes mentais. 1954 – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – Apae. 1950 – Primeira Classe Hospitalar no Brasil – Hospital Municipal Jesus – Rio de Janeiro/RJ. 1994 - MEC reconhece o direito ao atendimento pedagógico-educacional para crianças e adolescentes hospitalizados. Uma das alunas da pós-graduação da nossa instituição pesquisou sobre a classe hospitalar (SCOLAMIERI, 2011). A classe hospitalar começou na França, em 1935, com pessoas com tuberculose. Em 1995, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente estabeleceu na Resolução 41, do artigo 9, o direito à educação e recreação da criança/adolescente hospitalizado. 31 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL O paciente tem alteração da rotina: • afastamento dos familiares e amigos; • afastamento do espaço e dos objetos significativos; • limitação de espaço/locomoção; • sensação de abandono (principalmente nos menores de três anos); • solidão; • medo do porvir e medo da morte; • procedimentos invasivos/dolorosos. Além disso, o tratamento oncológico provoca internações longas e frequentes, alteração estética (cabelos, inchaços, palidez), mal-estar generalizado (quimioterapia e radioterapia) e estigma da doença. No entanto, o desenvolvimento da criança e do adolescente continua acontecendo. No caso em especial de classe hospitalar com pacientes da oncologia, o tratamento é multidisciplinar, envolvendo médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, professores, assistentes sociais, fisioterapeutas etc. Em relação ao professor, ele atua junto à família do aluno-paciente, escola, hospital, e sua maior competência é para a não rotina da classe hospitalar. Outra característica da classe hospitalar é o currículo. Enquanto a escola regular tem plano bimestral, semestral e/ou anual, por séries e disciplinas, a classe hospitalar conta com uma simultaneidade de idades, conteúdos, séries e metodologias, que precisam ser respeitadas. A referência de classe hospitalar é a Escola Schwester Heine, do Hospital do Câncer A. C. Camargo, que, em 1987, firmou convênio entre o Hospital do Câncer e a Prefeitura de São Paulo/SME e, em 1992, com a Secretaria de Estado de Educação. A Escola Schwester Heine, em 2011, contava com 14 professoras municipais e estaduais. Esses dois exemplos mostram o grau de diversidade com que o professor se depara na sua profissão. 2 O TRABALHO DA DOCÊNCIA: ENSINO DE LÍNGUA Ensino básico consiste no ensino fundamentale médio, tanto na rede privada quanto na rede pública. Um graduado em Letras pode atuar como professor no ensino básico em ambas as redes; ressalto que o ensino fundamental é dividido em I e II, ou seja, de 1ª a 4ª série ou os primeiros cinco anos escolares, e de 5ª a 8ª série ou 6º, 7º, 8º e 9º anos. No caso, do graduado em Letras, sua formação é adequada para ministrar aulas no fundamental II. Em síntese, o graduado em Letras pode ministrar aulas em: • fundamental II (5ª a 8ª série ou 6º, 7º, 8º e 9º anos) e 32 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 • ensino médio. No ensino básico, a disciplina ministrada por um graduado em Letras é denominada Língua Portuguesa e, no ensino médio, faz parte da área do conhecimento Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Totalizam três áreas. Cada área abrange número de disciplina com afinidade, como verificamos no quadro: Quadro 4 Área do conhecimento Disciplinas Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias • Biologia • Física • Matemática • Química Ciências Humanas e suas Tecnologias • Filosofia • Geografia • História • Sociologia Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. • Língua Portuguesa • Arte • Língua Estrangeira Moderna • Educação Física • Informática O graduado, com licenciatura em língua materna e em língua estrangeira, pode, igualmente, ministrar aulas de Língua Inglesa ou Língua Espanhola, dependendo de sua formação. O ensino de Língua Estrangeira Moderna faz parte da capacitação do graduado, contudo, as outras disciplinas (Arte, Educação Física e Informática) não podem ser ministradas pelo graduado em Letras. A proposta de área do conhecimento visa à formação ampla, a fim de romper com o modelo fragmentário e realizar mudanças estruturais profundas, como pretendem algumas iniciativas governamentais. Apesar de válidas, falta a essas iniciativas o incremento de políticas de formação do professor mais consistentes e conectadas às demandas atuais. 2.1 Método, língua & Cia. Você sabe quais são as cinco coisas que todo professor de português tem a obrigação de saber? Na concepção de Oliveira (2010), são: 1. o que é ensinar; 2. o que é método de ensino; 3. o que é língua; 33 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL 4. o que significa saber português; 5. a razão pela qual se ensina português a brasileiros. Frente à pergunta “O que é ensinar?”, é preciso conhecer as concepções de aprendizagem, que são três: inatista, behaviorista e interacionista. O inatismo parte do pressuposto de que, após o nascimento da pessoa, os eventos ocorridos com ela não interferem no seu desenvolvimento, pois o ser humano já nasce com determinadas características, as quais não mudam no decorrer da vida do indivíduo. O ambiente social, por exemplo, não exerce influência sobre a pessoa, e, nessa perspectiva determinista, o ser humano não têm chance de mudança. Seguindo essa concepção, o papel do professor não tem importância, porque ele, assim como qualquer elemento posterior ao nascimento do indivíduo, não exercerá nenhuma influência no aluno, no desencadeamento do processo de aprendizagem. Nessa mesma perspectiva, os alunos que são bem sucedidos na vida acadêmica devem à sorte de nascer com o aparato necessário que permite o desenvolvimento de sua aprendizagem; os que não são bem sucedidos não trazem elementos necessários de seu nascimento para aprenderem. O inatismo passou a ser questionado por psicólogos e educadores, fazendo surgir o behaviorismo. De acordo com essa nova concepção, popularizada por Skinner, o ser humano aprende por meio de estímulos, respostas, reforço positivo (recompensa) e reforço negativo (punição). Esse mecanismo leva o aprendiz a adquirir um conjunto de bons hábitos, que contribuem para o sucesso na aprendizagem, ou de maus hábitos, que contribuem para o insucesso na aprendizagem. O meio ambiente passa a ser, então, o único elemento responsável por esse processo. Nessa concepção, se o ser humano aprende exclusivamente com base em estímulos do meio ambiente, a pessoa é um ser passivo perante o processo de aprendizagem, pois necessita de algo ou alguém que origine os estímulos. O professor passa ser aquele que sabe tudo e preenche a mente vazia do aluno, metaforizada pelo termo latino de tabula rasa, uma superfície vazia a ser preenchida. Cabe ao aluno repetir o que o professor disser e fizer. Saiba mais Não é lógico imaginar que o aluno é passivo no processo de aprendizagem, mas é concebível o mecanismo de estímulo-resposta e reforço-punição em treinamento de soldado nas forças armadas e em situações de ficção, como em Laranja mecânica. BURGESS, A. Laranja mecânica. Tradução de Fábio Fernandes. São Paulo: Aleph, 2004. 34 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 Enfim, parte-se do pressuposto de que os alunos não sabem nada, cabendo ao professor transferir informações para eles; o ensino, por consequência, é sinônimo de transferência de conhecimentos. No entanto, se fosse apenas uma transferência de conhecimentos, todos os quarenta alunos em uma sala de aula teriam seu aprendizado uniforme, uma vez que o livro didático, as aulas e o professor são os mesmos para todos. Stephen Hawking, por exemplo, poderia vir ao Brasil, dar aulas em uma escola ou universidade e os alunos sairiam das aulas com todo o conhecimento construído por esse grande físico sobre os buracos negros. Contudo, a aprendizagem não ocorre de maneira uniforme, porque simplesmente os alunos são pessoas diferentes, com histórias de vida distintas. O estudante é o grande responsável pela construção dos seus conhecimentos, podendo, obviamente, optar por aprender ou não aprender algo. No entanto, se decide participar do processo, assume papel cognitivo ativo. Considerando o papel ativo do aluno no processo de aprendizagem, é disseminada terceira perspectiva: o interacionismo, o que vê o aprendizado como um processo de interação. Esse processo envolve três fatores: o aprendiz, os elementos de sua natureza biológica e o meio sociocultural em que ele está inserido. Ensinar passa a significar facilitar a aprendizagem dos alunos e entender o aprendizado como fenômeno sociocultural. Cabe ao professor propiciar ambiente e meios necessários aos alunos para que eles construam seus conhecimentos. O professor precisa em sua prática pedagógica: • criar uma atmosfera afetiva (emocional e psicológica) favorável na sala de aula para facilitar o aprendizado dos alunos. Isso significa que o professor não assume atitude de falsa erudição, de arrogância, do sabe-tudo, que o leva a menosprezar os alunos; • dar espaço para a voz do aluno, para que este possa constituir-se como sujeito de sua aprendizagem. Isso conduz à formação de uma consciência crítica, que o professor precisa fomentar; • sugerir estratégias de aprendizagem; • recomendar leituras de textos e livros que contribuam para a construção dos conhecimentos dos alunos; • continuar estudando, participando de congressos e encontros, lendo, para manter-se informado e, assim, estar preparado para fornecer informações atualizadas aos alunos e repensar suas crenças teóricas. Exemplo de aplicação Não apenas Oliveira (2010), mas muitos outros estudiosos apontam para um processo de ensino- aprendizagem baseado na perspectiva interacionista. No entanto, sabemos das dificuldades encontradas por um professor para a concretização de seu papel em conformidade a essa perspectiva. 35 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL Converse com um professor, não necessariamente de língua, do ensino básico e faça um confronto entre a proposta interacionista e a realidade desse professor: Quadro 5Atmosfera em sala de aula criada pelo professor pesquisado ______________________________ ______________________________ ______________________________ ______________________________ Atitude do professor frente ao seu próprio conhecimento ______________________________ ______________________________ ______________________________ ______________________________ Três exemplos, no mínimo, de atividade em sala de aula que dê chance ao aluno de se posicionar (dar espaço para a voz do aluno) ______________________________ ______________________________ ______________________________ ______________________________ Indicação das últimas três leituras dadas para os alunos ______________________________ ______________________________ ______________________________ ______________________________ Indicação de três participações de congresso, encontro, oficina ou outra atividade realizada nos últimos doze meses pelo professor ______________________________ ______________________________ ______________________________ ______________________________ Frente à pergunta “O que é método de ensino?”, o professor precisa ter consciência de que ensinar requer um método. Entre outras definições viáveis, método é conjunto de princípios teóricos, princípios organizacionais e ações práticas norteador da estruturação de um curso, bem como envolve planejamento das aulas, avaliação da aprendizagem e a escolha de materiais didáticos. O conceito de método, segundo Richards e Rodgers (apud OLIVEIRA, 2010), constitui-se de três partes: abordagem, projeto e procedimento. Abordagem é formada por uma teoria da língua e dá base para o professor tomar decisões pedagógicas, selecionar materiais didáticos e avaliar políticas educacionais. O projeto, por sua vez, constitui-se no delineamento organizacional do curso ou da disciplina. No projeto (ou plano de disciplina), são explicitados os objetivos da disciplina, o conteúdo, os tipos de atividades em aula, os papeis que alunos, professores e materiais didáticos desempenham no processo de ensino e aprendizagem. O procedimento é o conjunto de ações práticas implementadas no projeto, esclarecidos as técnicas didáticas, as práticas docentes e os comportamentos esperados dos alunos. 36 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 Esquema da composição do método Teoria da língua Objetivos Técnicas Teoria da aprendizagem Conteúdo Comportamentos Tipos de atividades Papeis do aluno Papeis do professor Papeis dos materiais didáticos Método Abordagem Projeto Procedimento Figura 5 - Esquema baseado em Richards e Rodgers Frente à pergunta “O que é língua?”, é necessário que o professor saiba que conceito de língua ele adota, porque o conceito determina a maneira como ele ensina português. Temos duas grandes correntes teóricas que polarizam as discussões acerca do conceito de língua: estruturalista e interacionista. Lembrete A corrente linguística do Estruturalismo surgiu no início do século XX como resultado das reflexões do suíço Ferdinand de Saussure e reforçada pelos trabalhos diversos de linguistas como Leonard Bloomfield, Charles Fries e, principalmente, Noam Chomsky, que lançou a teoria Gerativo- Transformacional. Para a concepção estruturalista, a língua é um sistema formado por estruturas gramaticais inter- relacionadas. O princípio teórico dessa corrente é a exclusão do uso linguístico e, por consequência, do sujeito usuário da língua, bem como a exclusão das variações linguísticas provocadas pelos sujeitos. Sem sujeito não existe língua nem uso da língua. Um professor não pode ignorar esses elementos quando se trata de ensino de língua, pois o torna problemático: as estruturas gramaticais são abordadas, mas não se fala sobre os usos que se fazem delas, nem se trata das variações linguísticas de forma racional, tranquila e sem preconceito. A outra corrente teórica – interacionista ou sociointeracionista – concebe a língua como um meio de interação sociocultural, que obviamente está estreitamente ligada à concepção interacionista de aprendizagem. Interação pressupõe a presença do sujeito que fala ou escreve, do sujeito que ouve ou lê, das especificidades culturais desses sujeitos, do contexto da produção e da recepção dos textos. Nessa perspectiva, o professor de língua deve orientar seu trabalho em sala de aula por uma perspectiva semântico-pragmática, que relaciona os elementos gramaticais aos usos e aos significados 37 Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 TÓPICOS DE ATUAÇÃO PROFISSIONAL que esses elementos ajudam a produzir. O eixo em torno do qual as aulas de língua giram é a razão de ser da língua: o texto. Enfim, a língua precisa ser concebida como um conjunto de estruturas gramaticais e lexicais à disposição dos falantes-ouvintes e dos escritores-leitores para que eles possam interagir socialmente em encontros culturalmente marcados. Frente à pergunta “O que significa saber português?”, o professor de língua precisa ter em mente que todos os brasileiros sabem português e, portanto, todos os seus alunos (brasileiros) conhecem a língua portuguesa. Quando uma pessoa, inclusive escolarizada, declara não conhecer português, quer, na verdade, declarar seu desconhecimento das regras gramaticais normativas. Quadro 6 Saber a língua portuguesa X Dominar a gramática normativa Saber português significa: • ter domínio inconsciente das estruturas gramaticais da língua; • ter domínio inconsciente das regras que regem essas estruturas; • ter domínio do léxico da língua; • ter domínio de normas socioculturais de comportamento que possibilitam a interação com o outro. Frente à pergunta “Para que ensinar português a brasileiros?”, o professor precisa ter consciência de função da sua disciplina/curso de língua, uma vez que todos os brasileiros conhecem a própria língua e todo estudante brasileiro que vai à escola sabe português. Ensinar português serve para mostrar ao aluno como interagir em situação comunicativa ainda não dominada por ele. Por exemplo, o aluno pode aprender como se comportar linguisticamente em uma entrevista de emprego, saber redigir um currículo ou produzir um anúncio para vender filhotes de sua cachorra perdigueira. Ajudar o aluno a aprender a se comportar linguisticamente, desenvolvendo sua competência comunicativa, em diversas situações de interação social é o objetivo principal das aulas de língua. 38 Unidade I Re vi sã o: C ris tin a Zo rd an F ra ra ci o Di ag ra m aç ão : L éo - 2 4/ 11 /2 01 2 Competência comunicativa, proposta por Hymes (1991), abrange quatro aspectos: possibilidade formal, exequibilidade, adequação contextual e possibilidade de ocorrência. Possibilidade formal corresponde à gramaticalidade, ou seja, à boa formação da sentença, que segue as regras da língua. Nos exemplos: O porta está aberto e Eu não estudaram a lição, não temos sentenças formalmente possíveis em português. Exequibilidade é saber criar sentenças que não causem problemas no ato de comunicação por serem muito longas e muito complexas. Uma sentença longa demais, com muitos encaixes, pode ser formalmente possível, mas pode se tornar inexequível. A competência comunicativa possui, também, uma parte sociocultural que estabelece regras para o uso das frases de acordo com o contexto em que eles se encontram. Trata-se do que Hymes chama de adequação. Mesmo que uma frase seja formalmente possível e exequível, ela tem de ser utilizada de acordo com o contexto social e cultural no qual ela é produzida; ela tem de ser adequada. Por fim, o último aspecto importante do conceito de competência comunicativa: a possibilidade de ocorrência. Uma frase pode ser possível, exequível e adequada ao contexto e, mesmo assim, não ocorrer. Por exemplo, a sentença Eu trouxe o faisão que Vossa Majestade pediu é possível, exequível,
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