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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRAS DE RIBEIRÃO PRETO DEPARTAMENTO DEQUÍMICA Química Inorgânica Experimental Docente: Prof. Dra. Rogéria Rocha Gonçalves Discentes: Camila de Oliveira Murari e Gabriela dos Reis de Souza Ribeirão Preto 2022 CAMILA DE OLIVEIRA MURARI E GABRIELA DOS REIS DE SOUZA Relatório do Experimento 1 – Síntese do Nitrato de tetraaminocarbonatocobalto(III) Relatório apresentado para a disciplina de Química Inorgânica Experimental sobre a Síntese do Nitrato de tetraaminocarbonatocobalto (III). Docente: Prof. Dra. Rogéria Rocha Gonçalves. Ribeirão Preto 2022 Sumário 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................. 4 2. OBJETIVOS ................................................................................................... 5 3. METODOLOGIA ........................................................................................... 5 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................... 7 5. CONCLUSÃO .............................................................................................. 15 6. REFERÊNCIAS ........................................................................................... 15 4 1. INTRODUÇÃO Complexos ou compostos de coordenação são produtos de uma reação entre um ácido de Lewis e uma base de Lewis onde o ácido de Lewis e o átomo metálico ou íon central que são os átomos receptores, a base de Lewis são as que forma a ligação com o átomo central são chamados de átomo doador porque é ele que doa os elétrons usados para forma a ligação. São definidos como sendo “um composto contendo um átomo ou íon central, ao qual estão ligadas moléculas neutras ou íons, cujo número geralmente excede o número de oxidação do átomo ou íon central”.[1] O cobalto pertence ao grupo 9 da tabela periódica e está intimamente ligado ao desenvolvimento da química de coordenação. Quimicamente este elemento apresenta os estados de oxidação I, II, III, IV, V e VI, tendo como mais importantes os estados II e III. Os íons Co2+ são muito estáveis e podem ser encontrados em vários compostos simples, sendo que todos os sais hidratados apresentam coloração rósea devido ao complexo [Co(H2O)6]2+. Já os íons Co3+ são bastante oxidantes e relativamente instáveis. Para compreender as propriedades dos compostos de coordenação dos metais de transição, os complexos de cobalto (III) foram os mais amplamente estudados. Isso porque, eles são cineticamente inertes e trocam ligantes muito lentamente. Em contraste, os complexos de cobalto (II) são instáveis e sofrem reações de troca de ligantes muito rapidamente. Um procedimento muito comum para a obtenção de compostos de cobalto (III) é a oxidação do sal de cobalto (II) na presença dos ligantes desejados. Os compostos de cobalto (III) com carbonatos são intermediários úteis na síntese de outros complexos de cobalto (III), haja vista que o íon carbonato é facilmente removido. Dado que o íon carbonato é um ligante bidentado, com a sua saída dois sítios de ligação do metal ficam disponíveis. Após a expulsão do carbonato os sítios de coordenação em aberto, geralmente são ocupados por moléculas de água. A água, entretanto, não é um ligante particularmente forte e a adição de compostos, tais como CI, NH3 ou NO2 - leva à substituição das moléculas de água. 5 2. OBJETIVOS Ilustrar a preparação de um composto de coordenação a partir de seus constituintes e verificar experimentalmente algumas de suas propriedades. 3. METODOLOGIA Em um béquer de 300mL, foi dissolvido 20,00g de carbonato de amônio em 60mL de água destilada e adicionou-se 60mL de hidróxido de amônio concentrado. Em um outro béquer de 300mL, foi preparado uma solução contendo 15,0255g de nitrato de cobalto (II) hexahidratado em 30mL de água destilada. A última solução preparada (2), foi adicionado, sob agitação, a solução de carbonato de amônio (1) e depois, lentamente, 8mL de água oxigenada a 30%. 1 2 Transferiu-se a solução para uma cápsula de porcelana e foi evaporada em banho- maria. Durante a evaporação, adicionou-se em pequenas porções de 1 em 1 minutos, cerca de 5,04g de carbonato de amônio sólido. Com o volume da solução reduzido à metade, foi filtrado a solução a quente, sob sucção, utilizando funil de placa porosa e depois foi transferido o filtrado para um béquer de 250 ml. 1 2 6 Com a temperatura da solução próxima da temperatura ambiente, resfriou-se o filtrado em banho de gelo por uma hora. Foi separado, por filtração sob sucção, utilizando um funil de placa porosa, os cristais vermelhos formados. Lavou-se os cristais no funil, ainda em sucção, com o mínimo possível de água destilada gelada, depois com álcool etílico gelado e por último com éter etílico A sucção foi mantida por 4 minutos para completar a secagem do produto. Pese e transfira o sólido obtido para um frasco com tampa devidamente etiquetado. 7 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Complexo ou íon complexo é um tipo de composto formado pela reação de um ligante químico com um íon metálico central em que este íon coordena os ligantes ao seu redor. No complexo há ligação covalente que são ligações fortes, uma vez que as mesmas são altamente direcionais, isso é a diferença de um íon complexo para um íon solvatado. A formação de complexos na análise qualitativa inorgânica ocorre frequentemente, e ela é utilizada na separação ou identificação, sendo que um dos mais frequentes fenômenos que ocorre na formação de um íon complexo é a mudança de cor na solução. Outrossim, os metais de transição formam compostos de coordenação com facilidade, pois apresentam orbitais d não totalmente preenchidos, dessa maneira quando cada ligante doa um par de elétrons ao íon metálico, estes se acomodam nos orbitais d não preenchidos, assim formando uma ligação coordenada. Os cinco orbitais d não são idênticos e podem ser divididos em orbitais t2g e orbitais eg. Figura 1. Lóbulos dos orbitais Eg (dx2, y2 e dz2), correspondem a x, y e z; Lóbulos dos orbitais T2g (dxy, dxz e dyz) se situam entre os eixos do sistema de coordenados cartesianos ortogonais. Fonte: Relatório da Universidade Federal De Goiás Regional Jataí - Química Bacharelado. Na teoria do campo cristalino, o par isolado de elétron ligante é considerado um ponto de carga negativa que repele os elétrons dos orbitais d do íon metálico central. A teoria se baseia no desdobramento dos orbitais d em grupos com energias diferentes e usa este desdobramento para justificar e 8 correlacionar o espectro óptico, a estabilidade termodinâmica e as propriedades magnéticas dos complexos. Além disso, os ligantes podem ser íons mononucleares (Cl-, F-) ou polinucleares (SO4 2-, NO3 -, CN-) ou moléculas neutras dinucleares (Cl2, O2, CO) ou polinucleares (H2N- CH2-CH2-NH2). Pode-se classificar estes ligantes quanto ao número de átomos doadores que eles possuem, dessa forma, quando um ligante tem apenas um átomo doador, ele é dito ser monodentado, como, por exemplo a amônia (NH3), água (H2O), íon cloreto (Cl - ). Quando houver dois átomos doadores que podem ligar-se simultaneamente à espécie central, denomina-se de bidentado e três ou mais átomos doadores denomina-se de polidentados. A coloração dos complexos está relacionada diretamente com o estado de oxidação do íon metálicocentral, com a disposição espacial da esfera de coordenação primária e com a natureza do ligante. Pode ser caracterizada pela absorção de comprimentos de onda, os quais promovem elétrons de um nível de energia mais baixo para um mais alto do orbital d do íon metálico, sendo os mesmos distintos entre complexos diferentes. [2] Sabe-se que, carbonatos são sais inorgânicos formados pelo ânion CO3 2-. A principal característica desse grupo de compostos é a insolubilidade em água, todos são insolúveis, com exceção do carbonato de amônio (NH4)2CO3. Urge pautar que, os complexos de cobalto tendem a ser octaédricos e para possuírem essa geometria eles devem apresentar 6 ligantes e, sendo assim, um dos ligantes do complexo Nitrato de Tetraamincarbonatocobalto (III) deve ser bidentado. Esse ligante é o carbonato, observado na Figura 2. Figura 2. Estrutura molecular do carbonato. Fonte: Trabalho de conclusão de curso da Universidade tecnológica federal do Paraná – Departamento de Química, curso de Bacharelado em Química. Inicialmente, durante todas as etapas de síntese dos complexos de cobalto, uma observação importante pôde ser feita: os complexos mudavam de 9 cor. Isso se deve a diversos fatores, dentre eles a força dos ligantes de coordenação e transferência de cargas. No caso específico dos compostos aqui formados, a mudança na coloração observada pode ser explicada pela mudança no ligante do metal cobalto. Na primeira etapa que consistiu na síntese do Nitrato de tetraamincarbonatocobalto (III), o Nitrato de Cobalto Hexahidratado (Co(NO3)2.6H2O) (Figura 3) é solúvel em água (Equação 1). Quando se adicionou o hidróxido de amônio na solução de carbonato de amônio percebe-se o desprendimento de gases amônia. CO3(NH4)2(s) + H20(l) → CO3 2- (aq) + NH4(aq) (Equação 1) CO3 2- (aq) + NH4(aq) + NH4OH(aq) → H2CO3(aq) + NH3(g) (Equação 2) Assim, ocorreu a adição de solução de nitrato de cobalto II hexahidratado [Co(H2O)6](NO3)2, que reage com a amônia, formando o nitrato de hexaamincobalto II [Co(NH3)6](NO3)2, representado na equação 3 abaixo. [Co(H2O)6](NO3)2(aq) + NH3(g) → [Co(NH3)6](NO3)2(aq) + 6H2O(l) (Equação 3) Depois disso, ocorreu a adição lentamente de uma solução de peróxido de hidrogênio 30% que fez a oxidação do Co2+ a Co3+. [Co2+(H2O)6](NO3)2(aq) + H2O2(aq) → [Co 3+(NH3)6](NO3)2(aq) + 2OH - (aq) (Equação 4) Posteriormente, foi adicionado mais carbonato de amônio, a fim de proporcionar ligantes CO3 2-, para que ocorresse a troca de um ligante amônia por uma CO3 2-, visto na Equação 5 a seguir. [Co3+(NH3)6](NO3)2(aq) + CO3 2- (aq) → [Co 3+(NH3)4CO3]NO3(aq) + 2NH3(aq) + NO3 - (aq) (Equação 5) Em resumo, o hexamincobalto (II) foi sintetizado a partir da solubilização de NH4HCO3 em NH4OH, com a adição de [Co(NO3)2].6H2O, representado na Equação 6: 10 NH4HCO3 + NH4OH + [Co(NO3)2].6H2O → [Co(NH3)6] 2+ + H2O2 → [Co(NH3)6] 3+ (Equação 6) Ademais, a reação de carbonatos com ácidos tem como produto o dióxido de carbono (CO2). Isso ocorre porque o contato com o íon H+ torna o carbonato mais instável e sujeito à decomposição, que produz o CO2. Esse processo consiste numa efervescência, tal fato foi possível observar durante o experimento, quando foi adicionado peróxido de hidrogênio à solução que continha nitrato de cobalto II hexahidratado, carbonato de amônio, hidróxido de sódio concentrado e água destilada. O peróxido de hidrogênio (H2O2) faz com que ocorra a mudança de nox do cobalto, uma vez que atua como um agente oxidante, porém não altera a sua geometria, permanecendo octaédrica. A posterior adição de NH4HCO3 faz com que ocorra o aumento da interação entre o contra-íon (NO3-) pela adição do nitrato de sódio e o complexo, formando o complexo de interesse [Co(NH3)4(CO3)]NO3. A reação está descrita na Equação 7: [Co(NH3)6] 3+ + NH4HCO3 → [Co(NH3)4CO3] 1+ + NaNO3 → [Co(NH3)4(CO3)]NO3 (Equação 7) O carbonato pode se ligar de diversas maneiras ao íon metálico, depende das condições na qual a síntese irá ocorrer, O carbonato, neste caso, se comporta como um ligante bidentado então liga-se simultaneamente à espécie central como mostra a Figura 3, logo abaixo. Este comportamento de ligantes multiestados (quelantes) é chamado de efeito quelato, complexos mais estáveis são formados com agentes quelantes do que com o número equivalente de ligantes monodentados, isso ocorre, devido ao aumento de entropia no meio. A entropia e a desordem de um sistema relacionam-se com a espontaneidade dos processos, se a entropia e a desordem aumentam, quer dizer que o processo é espontâneo, sendo assim, todo e qualquer ato que se desloca ao contrário do aumento da entropia requer energia, caso desloca-se ao sentido da entropia é termodinamicamente favorecida. 11 Figura 3. Representação molecular do Nitrato de Tetraamincarbonatocobalto(III). Fonte: Trabalho de conclusão de curso da Universidade tecnológica federal do Paraná – Departamento de Química, curso de Bacharelado em Química. O NH4HCO3 adicionado sob aquecimento, ilustrada na figura 4 (imagem do autor) fez com que o NH4 + evaporasse e o íon carbonato reagisse com o complexo fazendo parte do mesmo. O reagente de partida foi o nitrato cobaltoso pelo fato do íon de interesse do complexo ser o nitrato. Figura 4. Adição de NH4HCO3 sob aquecimento. A formação deste complexo é favorecida em baixas temperaturas, por este motivo foi utilizado o banho gelo para a cristalização do [CoCO3(NH3)4]NO3. O banho maria feito 12 com a solução contendo [Co(H2O)4(OH)2] + NO3 - + NH4 + + CO3 2- foi utilizado para promover a troca do ligantes aquo por um ligantes carbonato e amônios, pois, o carbonato e amônia um ligante mais forte que a água e faz com que a água seja retirada do complexo para que o CO3 2- e NH4 + entre na esfera de coordenação. Quando o CO3 2- e NH4 + entrou na esfera de coordenação a colocação do complexo mudou de roxo avermelhado para vermelho escuro. Para separar os cristais da solução utilizou-se um filtro a vácuo, a solução foi filtrada a quente, como demonstra a imagem a seguir (imagem do autor): Figura 5. Pós filtração a quente. Para garantir que os cristais estivessem o mais puro possível, de [CoCO3(NH3)4]NO3 foi realizado a lavagem com os solventes água, etanol e éter gelados. O composto foi deixado por cerca de 4 minutos na filtração à vácuo para melhor secagem. Os cristais foram pesados em balança analítica, a síntese realizada resultou em 6.4325g de produto. 13 Figura 6. Resultado Final, Cristais de Nitrato de tetraaminocarbonatocobalto (III). Como o cobalto presente no complexo possui nox +3, o diagrama de Tanabe Sugano utilizado é um d6. Os ligantes do complexo são em maioria campo forte, consequentemente o complexo é considerado de campo forte e tem spin baixo. As transições de transferência de carga no complexo octaédrico para um d6. de spin baixo são do tipo TCML, ou seja, a transferência de carga ocorre do metal para o ligante. Como o complexo é de campo forte, as suas transições permitidas devem ocorrer entre termos de mesma multiplicidade. É uma reação de aquação, já que o único ligante disponível para realizar a substituição é a água. A mudança de ligante foi observada visualmente pela alteração da cor do complexo. 14 Figura 7. Cristais de Nitrato de tetraaminocarbonatocobalto (III) sob microscópio. O rendimento da síntese está representado logo abaixo: Quantidade teórica de complexo que seria produzido, rendimento de 100% [Co(H2O)6](NO3)2 → [Co(NH3)4(CO3)]NO3 291,03g/mol → 248,93g/mol 15,0255g → X 𝑋 = 15,0255𝑔 ∙248,93𝑔/𝑚𝑜𝑙 291,03𝑔/𝑚𝑜𝑙 = 12,8519𝑔 Rendimento da síntese, considerando quantidade teórica como real (100% da reação) 12,8519g [Co(NH3)4(CO3)]NO3 → 100% 6.4325g → Y 𝑌 = 6,4325𝑔 ∙ 100% 12,8519𝑔 ≅ 50,05% Considera-se um rendimento satisfatório, visto que, o complexo produzido é extremamente solúvel em água, dificultando os processos de síntese, principalmente os de lavagem, que mesmo com todos os cuidados, “perde-se” produto final. É improvável 15 que uma síntese ocorra com 100% de rendimento, há muitos fatores e muitas variáveis a serem controladas 5. CONCLUSÃO A prática realizada mostra ampliar nosso conhecimento sobre compostos de coordenação e sobre algumas técnicas como a filtração à vácuo. No início, é necessário trocar os ligantes da rede cristalina do complexo, neste experimento foi necessário trocar os ligantes aquo por ligantes Amin e por ligante CO3 2-. Assim, nas reações para a síntese do nitrato de tetraamincarbonatocobalto (III) foi possível a observação do procedimento em suas diferentes etapas onde a cada etapa ocorreu a mudança de cor da solução dependendo do ligante que ser coordenava com o átomo central, possibilitando uma visualização melhor de cada etapa da síntese. 6. REFERÊNCIAS [1] ATIKINS, P, W; SHRIVER, D. F. Química Inorgânica. 4ª ed. Editora Bookman, Porto Alegre, 2008 pág.: 241 a 242 e 481 a 485. [2] Lee, J. D.; Química Inorgânica não tão concisa, 5ª ed., Edgard Blücher: São Paulo, 1999. [3] Nakamoto, Kazuo; Infrared and Raman Spectra of Inorganic and Coordination Compounds parte B, 6 edition [4]HOLLER, F. J.; SKOOG, Douglas A.; CROUCH, Stanley R. Princípios de análise instrumental. 6ª ed. Porto Alegre: Bookman, 2009. [5]MEDEIROS, Miguel A. de. Cobalto. Química Nova Escola. Tocantins, v, 35, no. 3, p.220 – 221, 2013. [6]MOURA, Aline O.; MARTINS, Paolla C.; CUNHA, Lucas B. F. R.; BOLZON, Lucas B; PERTUSATTI, Jonas; PRADO, Alexandre G. S. Estudos Cinéticos da Aquação do Trans- [Co(en)2Cl2]Cl. Química Nova. V 29, n 2, p 385-387, 2006.
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