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Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS DOENÇAS FÚNGICAS SUPERFICIAIS: As micoses superficiais são um grupo de afecções limitadas às camadas queratinizadas da pele ou a estruturas anexas, causadas por fungos. De modo geral, é possível identificar quatro “subgrupos” distintos entre essas apresentações, a saber: Dermatofitoses: descrevem as doenças causadas por dermatófitos (Microsporum, Trichophyton e Epidermophyton), parasitas que utilizam a queratina como substrato energético, se fixando às porções queratinizadas da epiderme, dos pelos e unhas; Moléstias causadas por fungos sem afinidade micológica/clínica (ex.: pitiríase versicolor, piedras): vivem comensalmente sobre a pele, consumindo restos epiteliais e produtos excretados, sem poder queratolítico; Podem causar fungemia e sintomas sistêmicos em pacientes imunocomprometidos. Infecções cutaneomucosas pelo gênero Candida; Dermatomicoses: são causadas por fungos geofílicos (encontrados no solo), que parasitam, à semelhança dos dermatófitos, a pele e as unhas, com comprometimento de pelos sendo menos comum TÍNEA CAPITIS: Representa o acometimento do couro cabeludo por fungos dos gêneros Mycosporum ou Trichophyton, que criam áreas de alopecia focal ao quebrar a raiz dos cabelos. O parasitismo pode ser dos tipos ectotrix (alvo na cutícula capilar) ou endotrix (prejuízos à haste do fio). Possíveis alvos em doenças do couro cabeludo (haste, pontos vermelhos; folículo piloso, pontos pretos) É observada principalmente em crianças, sendo que a incidência decai na puberdade como resultado do aumento da produção de glândulas sebáceas, que dificultam a proliferação do microrganismo. No que se refere à apresentação clínica, é possível identificar dois padrões distintos, a saber: Tínea capitis tonsurante: quadro de evolução crônica causado predominantemente pelo Microsporum canis e Trichophyton tonsurans. É adquirido por contato direto ou por pentes contaminados, apresentando incubação de 10 a 14 dias. Ocorre alopecia descamativa (foco grande e único na microspórica, e formações pequenas e disseminadas na manifestação tricofítica), que pode ou não estar ligada a eritema. Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Apresentação das formas microspórica (acima) e tricofítica (abaixo) da tínea capitis Na infecção por M. canis há uma forma aguda com inflamação intensa, conhecida como Kerion Celsi (quérion). As lesões são dolorosas e têm borda elevada e bem definida, levando à formação de abcessos e pústulas. Descamação intensa em lesão inflamatória num paciente com quérion em couro cabeludo O diagnóstico pode ser confirmado pela luz de Wood (fluorescência esverdeada) e por exame micológico direto. O tratamento, por sua vez, requer uso de medicamentos sistêmicos VO, como griseofulvina (10-15 mg/kg/dia) por 8 a 12 semanas, e terbinafina (< 20 kg: 62,5 mg/dia; 20-40 kg: 125 mg/dia; > 40 kg: 250 mg/dia) ao longo de 4 a 8 semanas. Para casos de quérion, recomenda- se, para além dos antifúngicos, o uso de compressas de permanganato de potássio (1:40.000) e, se necessário, drenagem local. Tínea capitis favosa: tem como principal causador o Trichophyton schoenlenii, dermatófito antropofílico de áreas rurais que desencadeia o aparecimento crônico de pequenas lesões crostosas crateriformes (escútulas) que tendem a persistir por décadas. Vista de crânio acometido por múltiplas lesões descamativas, com foco evidente de alopecia O teste da luz de Wood aponta aspecto cor de palha sobre as lesões, ao passo que a pesquisa direta revela a morfologia desses fungos. O controle é feito com as mesmas preparações usadas na tinea tonsurante. Nesses pacientes, a alopecia é definitiva, uma vez que há atrofia dos folículos pilosos. TÍNEA CORPORIS: Causada primariamente pelo Trichophyton rubrum e pelo Microsporum canis, é a tínea da pele glabra (sem pelos), também conhecida como “impingem”. O Também podem ser usados de modo sistêmico o itraconazol, fluconazol e cetoconazol, sendo que nesse último há maior risco de hepatotoxicidade Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS acometimento pode ocorrer no tronco, face e membros. A transmissão pode ser tanto inter- humana (fômites, banhos público) quanto pelo contato com cães e gatos. As lesões podem se apresentar de modo vesiculoso, anular (mais comum, com aspecto descamativo, eritematopapular e com bordos elevados) ou em placas, quando múltiplas formações coalescem. O diagnóstico deve ser comprovado a partir da análise micológica do segmento lesionado. Lesões eritematodas de grande diâmetro em tronco, causadas por tínea corporis Quando o comprometimento é localizado, o tratamento é feito com uso de cremes antifúngicos (preferencialmente imidazólicos, como o isoconazol e tioconazol). Em caso de lesões disseminadas ou refratárias, por sua vez, torna-se necessário abrir mão de cetoconazol (200 mg/dia), itraconazol (100 mg/dia), fluconazol (150 mg/semana) ou terbinafina (250 mg/dia). TÍNEA PEDIS: A tínea pedis, também conhecida como “pé de atleta”, é uma infecção fúngica comum, causada por Trichophyton rubrum e Epidermophyton flocosum. É observada predominantemente entre os 20 e 50 anos, em áreas de clima quente e úmido ou em pacientes que utilizam calçados fechados com frequência. O quadro tem evolução crônica, geralmente assintomática, por meses ou anos, referindo apenas prurido ocasional e dor na presença de infecções secundárias por bactérias. No que se refere às formas clínicas dessa condição, é possível destacar as seguintes variações: Tipo interdigital (intertriginoso): apresenta descamação seca ou maceração entre os artelhos, sendo comum o surgimento de fissuras no local; Afeta mais intensamente a região entre o quarto dedo e o dedo mínimo, porém pode se disseminar para áreas adjacentes. Descamação evidente em segmento inferior dos artelhos e espaço interdigital Tipo mocassim: bilateral, cursa com descamação branca em lesões bem- demarcadas e presença de eritema margeado por pápulas. A hiperqueratose é um achado comum, mas limitado aos calcanhares, plantas e laterais do pé; Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Padrão descamativo tipo mocassim, com presença de ceratodermia e eritema Tipo inflamatório/bolhoso: marcado por vesículas ou bolhas cheias de líquido transparente, que pode ser substituído por secreção purulenta em infecções secundárias por S. aureus. Após a ruptura, formam-se erosões anulares sinuosas, dispostas pelo dorso do pé, planta e membranas interdigitais. Lesões bolhosas/ulcerativas na tínea pedis O diagnóstico deve ser feito com base em achados da microscopia direta (detecção de hifas na membrana da bolha) e da cultura (isolamento e crescimento dos fungos). O teste da luz de Wood resulta em fluorescência negativa. Para o manejo dessa dermatofitose, são usados imidazólicos tópicos por 2 a 3 semanas, além de compressas de permanganato (1:10.000), com ou sem antibióticos (tetraciclina ou macrolídeos), para o controle de infecções bacterianas. Recomenda-se que o paciente faça a secagem adequada das regiões interdigitais, empregando pós- antifúngicos ou antissépticos nos calçados para reduzir recidivas. ONICOMICOSE (DERMATOFITOSE UNGUEAL): A onincomicose (tínea ungueal) é marcada por perda da função protetora e de manipulação das unhas, que se tornam grossas, opacas (tom de “marfim velho”), frágeis e irregulares. Os microrganismos mais associados à essaapresentação são o Trichophyton rubrum e o Epidermophyton flocosum, também observados no acometimento dos pés. Onicomicose em unhas das mãos, evidenciando tonalidade amarelada e aspecto frágil Esse quadro pode afetar crianças ou adultos (com predomínio em homens), porém a incidência aumenta com a idade, uma vez que não costuma haver remissão espontânea após a primeira interação com o fungo. O principal fator predisponente para a onicomicose atualmente é o uso de calçados fechados. A transmissão desses dermatófitos antropofílicos se dá por meio de fômites ou Os principais diagnósticos diferenciais para as tíneas dos pés são eritrasma, psoríase, dermatite eczematosa, impetico bolhoso e dermatite de contato Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS contato direto (comum entre membros da mesma família). A maioria dos casos ocorre nos pés, com destaque para o hálux, porém, de acordo com o segmento da unha lesado, surgem como formas clínicas: Onicomicose subungueal distal e lateral: se inicia na prega ungueal em direção à região subungueal, sempre ocorrendo conjuntamente com a tínea pedis. Há formação de uma placa branca sob a região lateral ou distal, bem como no leito ungueal. Com o tempo, ela se torna espessa, opaca e elevada por debris hiperceratóricos Apresentação típica da onicomicose subungueal distal e lateral Onicomicose branca superficial: a invasão se inicia na parte dorsal da unha, com formação de placas branco- giz em região proximal, podendo induzir seu desprendimento. Raramente acomete as mãos. Onicomicose branca superficial (segmento mais distal da unha) Onicomicose subungueal proximal: a penetração ocorre na região posterior da prega ungueal/cutícula, migrando em direção à matriz da unha. Presença de mancha branca que gradualmente preenche a lúnula, estando associada a imunossupressão. Acometimento proximal em unha com onicomicose A confirmação diagnóstica requer exame direto em preparado de KOH (detecção de hifas), sendo necessário destacar outras hipóteses, como unhas psoriáticas e lesões traumáticas. O uso de corante PAS para identificação de elementos fúngicos pode ser indicado em caso de exame direto negativo com clínica sugestiva. Nessa apresentação, o tratamento deve ser prolongado, associando antifúngicos tópicos (esmalte de amorolfina 5% 1x/semana) e sistêmicos (terbinafina 250 mg/dia e itraconazol 200 mg/dia ou em Indivíduos com histórico de atopias têm maior chance de ser infectados pelo T. rubrum, assim como diabéticos, imunossuprimidos e portadores de psoríase (unhas já danificadas) Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS pulsoterapia), ambos se estendendo por 3 a 4 meses. Os cremes usados para manejo das outras dermatofitoses são totalmente ineficazes (não penetram a unha).
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