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Refluxo Vesico-Ureteral Introdução • A urina é formada pelos rins e segue atra- vés dos ureteres até a bexiga, não havendo um retorno por conta de um peristaltismo; • No refluxo vesicoureteral, ocorre retorno da urina pelo ureter, causando uma dilata- ção na estrutura. Não torna-se necessária a análise por DTPA (por não estar obstruído, não é necessário medir o tempo de esvazia- mento), porém, é necessário o acompanha- mento do DMSA (avalia a morte de células glomerulares) por possível infecção renal ou compressão hidrostática; • Refere-se ao fluxo retrógrado da urina da bexiga para o trato urinário superior, estando muitas vezes associada a ITU (in- fecção do trato urinário) e pielonefrite pelo transporte de bactérias para o ambiente es- téril; • Com a evolução da infecção, o rim adquire mais áreas de cicatriz, apresentando mais regiões hipocaptantes no DMSA; • Antigamente o refluxo vesicoureteral era considerado um problema exclusivamente anatômico, sendo corrigido cirurgicamente em todos os casos. → • Sondagem ureteral: tem-se a passagem de 2 sondas na uretra, uma que mede a con- tração da bexiga ao inserir soro fisiológico e aumentar o volume interno do órgão (evi- tando a passagem de urina). A outra sonda é uma sonda transistorizada que capta a onda da bexiga contraindo e faz um eletro desse traçado, ou seja, o exame avalia as fa- ses de enchimento e esvaziamento vesicais pela medida das pressões vesicais e abdomi- nal; • Sondagem da ampola retal: simula a passagem das fezes. Conforme tem-se a perda do esfíncter uretral ou contração da bexiga, tem-se a contração do ânus, que pode ou não estar síncrona; • Permite identificar se o refluxo ocorre por alteração anatômica ou por incoordenação vesical (arritmia vesical), que é a forma mais comum; • A bexiga tem que contrair de cima para baixo para que a urina siga em direção a ure- tra. Nos casos de refluxo vesico-uretral, a urina é direcionada para o sentido contrário; • Pode ser bilateral ou unilateral; • Geralmente, é resultado da uma incoorde- nação nervosa: do simpático e parassimpá- tico, com tratamento majoritariamente clí- nico; • Pode-se avaliar também o fluxo e o vo- lume urinário. → • Ocorre o enchimento pela passagem da urina dos ureteres para a bexiga, atingindo diferentes níveis de contração para diferen- tes volumes; • 120-130mL no adulto: são quantidades que não são percebidas, não ativando o re- flexo de micção, podendo, muitas vezes, ser residual; Marianne Barone (15A) Cirurgia Pediátrica – Prof. Kleber Sayeg • >130mL no adulto: tem-se uma contra- ção inicial, em que o paciente adquire cons- ciência que tem urina na bexiga, porém não tem início da vontade de micção; • 270mL no adulto: tem-se aumento da vontade de urinar, sem urgência, com con- trações não tão intensas; • 310-320 mL no adulto: aumento da con- tração da bexiga e da vontade de urinar; • Incontinência urinária x refluxo vesico- ureteral: - Incontinência urinária: ocorre a contra- ção da bexiga mais intensamente, no sen- tido correto, antes do momento correto, tendo a liberação da urina antes do desejado; - Refluxo vesico-ureteral: é a incoorde- nação entre o simpático e parassimpático, com contração da bexiga antes do desejado no sentido contrário; • A bexiga e o esfíncter da uretra atuam em conjunto, de forma que, se a bexiga está re- cebendo urina dos ureteres, ocorre o fecha- mento do esfíncter da uretra, enquanto no momento da micção tem-se o relaxamento dessa musculatura. Esse músculo é contro- lado por: - Estresse: situações com simpático hipe- rativo causam o relaxamento da bexiga e fe- chamento do esfíncter inferior; - Parassimpático: contrai a bexiga e abre o esfíncter inferior da uretra, permitindo a micção. → • A prevalência diminui quanto maior a idade da criança; • Estima-se que 5% das meninas e 2% dos meninos que apresentam o refluxo desen- volve ITU; • 40% das crianças com infecção do trato urinário terão refluxo vesicoureteral; • Até 25% das crianças e 15% dos adultos com insuficiência renal crônica apresentam nefropatia de refluxo; • Cerca 30-70% das crianças com refluxo vesico ureteral apresentam cicatriz renal no momento do diagnóstico. Causas → • Anatômicas: alteração na posição em que o ureter adentra na bexiga, chamado de ure- ter ectópico; • Funcional: ocorre pela chamada bexiga neurogênica, em que a contração é realizada no sentido contrário ao desejado, ou seja, de baixo para cima, causando refluxo da urina. → • Primárias: podem ter ou não tratamento cirúrgico, geralmente com causas congêni- tas, como incoordenação do sistema ner- voso autônomo e muscular da junção ure- tero-vesival, ou imaturidade do sistema simpático e parassimpático; • Secundárias: o tratamento sempre será ci- rúrgico, sendo exemplos válvula de uretra posterior, bexiga neuropática, disfunções miccionais e duplicidades com ureterocele e ectopia. Graus de refluxo vesi- coureteral • Grau I: ocorre o refluxo da urina até o ureter, sem atingir os rins; • Grau II: ocorre o refluxo da urina até a região da pelve renal (cálices), sem dilata- ção ureteral ou renal; • Grau III: ocorre o refluxo da urina até os cálices, causando uma dilatação renal sem grande deformação de sua estrutura, com dilatação do ureter; • Grau IV: ocorre o refluxo da urina até os cálices, causando uma dilatação renal com grande deformação de sua estrutura, per- dendo a aparência do órgão, com dilatação do ureter; • Grau V: refluxo até o rim causando in- tensa dilatação renal e tortuosidade dos ure- teres; • A quantidade de urina que desce é sempre a mesma, porém no refluxo tem-se o retorno da urina, causando congestão pelo acúmulo da urina que está sendo produzida pelo rim somada à quantidade que retorna ao ureter. Quadro clínico • Paciente pediátrico com <10 anos, apre- sentando quadros de infecção urinária re- corrente (pielonefrites); • Quadro associado à: febre, dor abdomi- nal, mal-estar, náusea, vômitos e constipa- ção intestinal (imaturidade do sistema ner- voso simpático e parassimpático dos órgãos intrapélvicos), cistite associada a disúria e incontinência urinária. Diagnóstico • É importante o diagnóstico precoce para que seja instalado o tratamento, com redu- ção de incidência de ITU e formação de no- vas cicatrizes, com resolução mais rápida e espontânea do refluxo; • Nos casos de demora na identificação e re- alização do tratamento cirúrgico, tem-se um aumento dos índices de falha cirúrgica e au- mento das taxas de recidiva pós-cirurgia; • Diagnóstico pré-natal: é observado urete- rohidronefrose (dilatação do ureter e rim) uni ou bilateral • O diagnóstico é feito por meio de exames, sendo o padrão-ouro a uretrocistografia miccional retrógrada (e não é urografia), em que tem-se a passagem de uma sonda na uretra, com inserção de contraste na bexiga, seguido por retirada da sonda e compressão da parte inferior do abdome. No paciente sem alterações, a urina segue em direção a uretra (caminho normal), enquanto no paci- ente com refluxo vesicoureteral no mo- mento da compressão a urina retorna para os rins; • Outros exames: no paciente com infec- ção, deve-se realizar cultura, hemograma, antibiograma; - A urecistografia miccional retrógrada é exame padrão-ouro, portanto, não é pre- ciso a realização da urodinâmica (identifica causa primária, ou seja, contração da be- xiga); - A cintilografia com DSMA é realizado para medir a porcentagem de perda renal, com indicação para pacientes com exceção de crianças <3 meses (nesses casos, é indi- cado o uso de outro marcador, chamado MAG3); - USG dos rins e vias urinárias: apenas realiza o diagnóstico em casos acima do grau 3, visto que, nãotem alteração anatô- mica nos graus 1 e 2. Portanto, USG nor- mal não exclui refluxo vesicoureteral. Tratamento • Existem 3 níveis de tratamento: clínico (dividido em 3 etapas), endoscópico/cistos- cópico ou cirúrgico. → • É realizado nos pacientes com refluxo e ausência de perda renal (avaliado pelo DMSA); • 1ª etapa: administra-se fármacos para a contratilidade da bexiga (oxibutinina) e contração/relaxamento do músculo de- trusor (principalmente doxazosina), ou seja, anticolinérgicos e alfabloqueadores; • 2ª etapa: a incoordenação do simpático e parassimpático dos órgãos intrapélvicos (bexiga é intrapélvico) geralmente também resulta na incoordenação na parte de reto e sigmóide que estão na mesma topografia (no mesmo dermátomo), ou seja, pode tor- nar o paciente constipado, este que pode ser: - Sintomático: dieta laxativa ou medica- ção laxativa; - Assintomáticos ou oligossintomáticos: medicação laxativa; - Os adultos evacuam em média 1x/dia, o RN evacua a cada mamada (a cada 2h, por- tanto, em torno de 10 a 12x/dia). Os sinto- mas tendem a piorar na administração da oxibutinina, que diminui a contratilidade da bexiga, mas também tem uma atuação no intestino, e diminui um pouco o peristal- tismo do intestino; - Uma das causas do problema em órgão tubular é a obstrução extrínseca: a constipa- ção piora extrinsecamente o funcionamento da bexiga, e como o reto está atrás da bexiga do lado esquerdo, ocorre compressão da be- xiga no aumento da quantidade de fezes no reto, comprimindo a parede posterior da be- xiga, o ângulo bexiga/uretra é modificado e isso diminui a capacidade vesical causando disúria (dificuldade para urinar); • 3ª etapa: antibioticoterapia nos casos de infecção. Caso seja um paciente com infec- ções recorrentes, pode-se realizar a antibi- oticoprofilaxia (geralmente ¼ da dose do remédio dado para tratar a infecção), por pe- ríodo a ser avaliado caso a caso. → • Pode ser realizado com materiais biode- gradáveis (dextranômero e ácido hialurô- nico - deflux) ou não biodegradáveis (po- lidimetilsiloxano ou poliacrilato poliálcool – macroplastique e vantris) através das téc- nicas de Sting (subureteral por injeção) e de hidrodistenção por injeção; • Tem-se a entrada pela uretra com o cistos- cópio, realizando a injeção do material abaixo da mucosa e fechando o buraco par- cialmente; • Desvantagem: - Preço elevado e deve ser repetida a apli- cação a cada 3 anos, em média; - A administração de grandes quantidades de material pode transformar o refluxo ve- sicoureteral numa estenose de junção urete- rovesical, resultando ureterohidronefrose; - A administração de baixas quantidades de material não leva a cura, porém causa uma diminuição do grau; • Geralmente com 1 aplicação tem-se 71% de cura, aumentando para 89% numa 2ª aplicação. → • Graus I, II e III: geralmente o tratamento é clínico; • Graus IV e V: geralmente o tratamento é cirúrgico; • É um tratamento cirúrgico invasivo, com baixas chances de complicações e alta taxa de resolutividade; • Realiza-se a incisão do abdome, podendo ser realizada através das técnicas intravesi- cais (Cohen, Politano e Gilvernet), com abertura da bexiga e ligação do ureter na mucosa vesical, formando um fluxo submu- coso para a urina adentrar a bexiga laterali- zado, correr bilateral para depois subir, for- mando um mecanismo valvular; • Outra forma de tratamento é através das técnicas extravesicais (Lich-Gregoir), com abertura apenas da serosa e camada muscular, suturando o ureter do lado de fora da bexiga, sendo uma técnica menos inva- siva; • Por fim, pode ser realizado laparoscopica- mente, tanto transvesical quanto extrave- sica, • Esse paciente não precisa de DTPA, so- mente DMSA que irá determinar a necessi- dade de tratamento cirúrgico ou clínico.