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Geovana Sanches, TXXIV ANEMIA FALCIFORME A anemia falciforme é uma anemia hemolítica crônica causada por herança homozigótica do gene responsável pela HbS. A hemoglobina S é quem define a fisiopatologia da doença, a qual cursa com complicações secundárias a hemólise crônica (necessidade de transfusão, por exemplo) e aos fenômenos vaso-oclusivos. Esses fenômenos ocorrem, pois, quando as hemácias se falcizam, elas se unem nos microvasos e geram oclusão, impedindo o fluxo normal do sangue. O formato de hemácia em foice é o mais característico, mas outros formatos anômalos podem ser encontrados. BASES MOLECULARES A alteração da hemoglobina na anemia falciforme se dá pela substituição do ácido glutâmico por valina na posição 6 da cadeia beta das hemoglobinas HbA1. A HbS, portanto, apresenta duas cadeias alfas e duas cadeias betas, todavia, as betas apresentam uma pequena mutação. FISIOPATOLOGIA A alteração genética do ácido glutâmico pela valina, apesar de ser pequena, gera instabilidade molecular na molécula de hemoglobina quando ela não está ligada ao oxigênio. Assim, quando a Hb deoxida, ela se polimeriza e adquire o formato de foice, processo que cursa com estresse oxidativo intracelular. É importante ressaltar que, ao se reoxigenar, a hemácia retorna ao seu estado normal. O grande problema é que a hemácia não tem como função essa alteração constante de formato e, quando essa transição ocorre, alguns fosfolipídeos de membrana se oxidam. Esses fosfolipídeos, por sua vez, são reconhecidos pelos macrófagos esplênicos, ativando a via de hemólise extravascular. Inicialmente, o processo ocorre no baço, mas ao passar dos anos ele ocorre nos outros locais do organismo que contenham macrófagos. Sendo assim, a anemia hemolítica cursa com dois tipos de hemólise: • Intravascular: quando estão em formato de foice, as hemácias se polimerizam e, nesse processo, algumas se rompem. • Extravascular: a membrana celular é oxidada durante a transição de formato da hemácia, de forma que os macrófagos passam a reconhecer a célula como non- self. Esse processo é preponderante. Através desses dois mecanismos, os pacientes com anemia falciforme apresentam quadro anêmico o tempo inteiro, tendo em vista que a hemólise é constante. Todavia, em quadros de infecção, por exemplo, por mais simples que ele seja (uma gripe, por exemplo), a hemoglobina do paciente pode diminuir consideravelmente em um curto período de tempo, gerando quadros agudos e as vezes com necessidade de transfusão. Microangiopatia na doença falciforme Quando as hemácias estão em foice, elas se polimerizam e se embolizam, promovendo oclusão principalmente em arteríolas e capilares. Essa vaso-oclusão gera isquemia nos locais que deveriam ser oxigenados por esses vasos, cursando com infartos locais. Além disso, quando elas se juntam, algumas hemácias acabam estourando no interior desses vasos e, consequentemente, há liberação de hemoglobina, a qual é tóxica quando está livre. Assim, gera-se um ciclo de microangiopatia. Geovana Sanches, TXXIV ESFREGAÇO DE SANGUE PERIFÉRICO No ESF, é possível identificar as hemácias em foice, as quais também são denominadas drepanócitos. Além dessas, outras hemácias anômalas podem ser encontradas, tais como as hemácias em aveia e hemácia gloculada. ESQUEMA GENÉTICO A herança da anemia falciforme é mendeliana simples homozigótica. Assim, quando dois indivíduos que apresentam o traço falciforme, eles têm 25% de probabilidade de possuir um filho com anemia falciforme. Uma explicação para a consolidação desse gene é que os indivíduos com traço falciforme apresentam hemácias mais resistentes a malária, de forma que há uma pressão seletiva artificial, com incremento do gene na sociedade. Com isso, o gene é preponderante na África Subsaariana, com acometimento principal em uma população mais pobre. Isso faz com que a doença seja, muitas vezes, negligenciada. Tendo em vista o histórico do Brasil, com imigração africana forçada no período da escravidão, a doença também é comum no país. ESPECTRO DA DOENÇA FALCIFORME • Anemia falciforme (SS) • Traço Falcêmico o Paciente assintomático, mas que carrega o gene para falciforme (AS) o Possui hemoglobina A e hemoglobina S, o que torna a polimerização mais difícil o Há alguns poucos relatos de fenômeno vaso-oclusivo, mas não é habitual • S/beta-talassemia o Apresenta dois genes alterados: § Produz cadeia S (alteração qualitativa) § Produz menos cadeia beta do que o habitual (alteração quantitativa) o Faz parte da Síndrome falciforme, ou seja, o paciente se comporta da mesma maneira que os que possuem anemia falciforme propriamente dita o Em geral, tem um pouco menos fenômeno vaso-oclusivo do que os que possuem anemia falciforme, mas a anemia é mais acentuada • Dupla heterozigose: hemoglobinopatia S/C o HbS + HbC o Faz parte da Síndrome falciforme, ou seja, o quadro clínico é parecido com o da anemia falciforme o Em geral tem menos anemia, porém mais fenômenos no SNC (AVC) e de retina DIAGNÓSTICO Alguns exames podem ser realizados quando há suspeita de anemia falciforme e outros para realmente fechar o diagnóstico. Suspeita diagnóstica • Prova de falcização: colocam-se as hemácias em um ambiente pobre em oxigênio. Caso haja tendência, elas irão se falcizar. o Se positiva, aumenta a suspeita de anemia falciforme, mas não confirma o diagnóstico • Esfregaço do sangue periférico: caso sejam encontradas hemácias em foice (drepanócitos), aumenta-se a suspeita de anemia falciforme, mas não é confirmatório Geovana Sanches, TXXIV Confirmação do diagnóstico A eletroforese de hemoglobina é o exame confirmatório para anemia falciforme. Em caso positivo, é esperado: • HbS presente • HbA1 ausente • HbA2 normal • HbF normal ou aumentada Além da eletroforese de hemoblogina, podem ser realizados testes genéticos. No Brasil, é obrigatório que todos os recém-nascidos passem pelo teste do pezinho, no qual é feita a detecção precoce de diversas doenças, incluindo anemia falciforme. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DAS SÍNDROMES FALCIFORMES • Hb SS= falciforme clássico o Eletroforese: presença de HbS, HbA2 normal e HbF normal ou aumentada § Não possui HbA1, tendo em vista a ausência de cadeia beta sem alterações o VCM, caso haja muita hemólise, pode estar aumentado (aumento no número de reticulócitos circulantes) • HbSß0= associação entre falciforme e beta- talassemia, sem produção alguma de HbA1 • HbSß+= associação entre falciforme e beta- talassemia, com produção diminuída (mas não ausente) de HbA1. o Nas talassemias, o VCM está diminuído MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS As manifestações da anemia falciforme podem ser crônicas ou agudas (no momento das crises). Oclusão venocapilar • Microinfarto • Dor no tecido isquêmico: crises álgicas • Disfunção do órgão isquêmico o Retinopatia o Nefropatia o Pneumopatia o Auto-esplenectomia • Autoinfarto do baço o As crianças possuem um baço normal ou aumentado, mas há obstrução constante dos sinusóides esplênicos ao longo da primeira infância. Com isso, há infarto e fibrose do órgão, de forma que aos 5 a 6 anos de idade, o indivíduo não possui mais baço Hemólise • Anemia • Icterícia • Cálculos da vesícula biliar • Úlceras de MMII o Hemólise no subcutâneo o Oclusão capilar no subcutâneo Manifestações agudas • Crises vaso-oclusivas • Crise anêmica • Síndrome do sequestro esplênico: ocorre apenas nas crianças, tendo em vista que os adultos já sofreram auto-esplenectomia • Priapismo Fatores precipitantes • Infecções • Variações térmicas: frio, baixa umidade • Estresse endógeno: exercício físico intenso, trauma, estresse emocional • Desidratação • Menstruação: sempre devemos evitar hipermenoreia • Consumo de álcool • Hipoxemia noturna Manifestaçõesclínicas X Período da vida Infância - Dactilite - Sequestro esplênico - Crise aplásica Adultos - Crises álgicas - Síndrome Torácica Aguda Geovana Sanches, TXXIV - Colecistite - Úlcera crônica - Retinopatia - Priapismo - Necrose da cabeça do fêmur - Aborto Toda a vida - AVE isquêmico - Síndrome torácica aguda - Hemólise crônica Dactilite A dactilite é ocasionada pela vaso-oclusão e isquemia nos ossos das mãos e dos pés. Não ocorre no adulto pois este já chegou ao máximo desenvolvimento dos ossos, cessando o seu crescimento. O quadro clínico inclui crise aguda de dor, intensa e normalmente bilateral. As mãos da criança se tornam inchadas, muito doloridas e geralmente quentes à palpação. O tratamento é realizado com hidratação e analgesia potente. Eventualmente, faz-se necessária a transfusão. Há melhora em 3 a 4 dias. Sequestro esplênico Decorrente da vasoclusão local dos sinusóides esplênicos, causando retesamento de sangue e consequente agudização da anemia. Ou seja, há dilatação dos vasos e retenção aguda de grandes quantidades de sangue, causando sintomas anêmicas na criança (dispneia, queda de saturação de oxigênio, entre outros). Ocorre especialmente em crianças que ainda contenham baço e, com a oclusão constante, há isquemia até fibrose difusa do baço. É acompanhado de reticulocitose, pois o organismo interpreta que o indivíduo perdeu grandes quantidades de sangue (o qual está represado) e há tentativa de compensação pela medula. Também pode ocorrer hiperesplenismo, com plaquetopenia associada; à palpação, encontra-se um baço aumentado com consistência esponjosa. Em casos graves, a criança pode evoluir com choque hipovolêmico. O tratamento consiste em analgesia e hidratação. Habitualmente, faz-se necessária a transfusão. Crise aplásica A crise aplásica ocorre mais comumente em crianças, mas pode acometer adultos. Na criança, é ocasionada por infecção pelo parvovírus B19 (parvovirose), a qual afeta os precursores hematopoiéticos, ou seja, o indivíduo deixa de produzir agudamente as hemácias que produzia anteriormente. Em adultos, pode ser ocasionada por outras infecções virais (EBC) e bacterianas, tendo em vista que provavelmente eles já tiveram contato com o parvovírus anteriormente. O quadro clínico apresentado é praticamente o de anemia aguda. A diferenciação do sequestre esplênico é dada pela ocorrência de reticulopenia na crise aplásica. Crise megaloblástica Os indivíduos com anemia falciforme consomem grandes quantidades de vitaminas (especialmente ácido fólico) devido a produção aumentada de hemácias por todo o tempo. A crise megaloblástica é caracterizada pela queda significativa e aguda da hemoglobina, sobretudo após estímulo exacerbado da hemólise, que se dá principalmente pelo consumo total dos estoques de folato. Com isso, os pacientes evoluem com características de megaloblastose, podendo haver reticulocitopenia e outras citopenias associadas. Disfunção do órgão isquêmico Há dor óssea aguda ou crônica, associada a alterações ósseas. A fisiopatologia envolve a vasoclusão dentro da medula óssea, ocasionando infarto ósseo (acomete o periósteo). Há alto comprometimento da qualidade de vida do paciente. Alguns podem cursar com “vértebra em peixe”, situação na qual há destruição do periósteo e encurtamento das vértebras. Geovana Sanches, TXXIV O tratamento da crise álgica consiste em hidratação e analgesia potente: • Utiliza-se opióide, especialmente morfina. o Problema: a medicação é viciante, de forma que não é incomum que esses indivíduos sejam viciados na medicação. • Hidratação: 50 mL/kg/dia , S.F., 0,45% • Evitar hipoxemia, com suporte de oxigênio caso Sat < 94% • Avaliar a causa (fator desencadeante): infecção, desidratação, libação alcoólica, estresse... • A transfusão não faz parte do tratamento inicial, mas é realizado caso: o Crise refratária ao tratamento o Quedas muito importantes na Hb, principalmente se mais de 2 pontos do habitual à Acidente vascular encefálico O AVE se inclui na disfunção do órgão isquêmico. É ocasionado pela obstrução de grandes vasos intracerebrais, a qual é secundária ao quadro de vasculopatia crônica desses vasos. A vasoclusão de pequenos vasos pode gerar microinfartor silenciosos. Trata-se da primeira causa de morte nos indivíduos falciformes, além das possíveis sequelas graves. Pode acometer crianças, mas a maior incidência é em indivíduos jovens, de 15 a 20 anos. As medidas clínicas para o AVCi incluem AAS, estatina, observação neurológica e UTI por ao menos 48h. Faz-se exsanguineotransfusão parcial, na qual há retirada de parte do sangue do indivíduo (no qual há muita HbS) e transfusão de sangue normal, objetivando-se diminuir o fenômeno de vasoclusão. Para esses indivíduos, seria ideal a transfusão crônica a cada 2 semanas, para evitar novo evento isquêmico. O objetivo seria manter crianças com HbS < 30% e adultos, < 50%. Todavia, não há sangue disponível para realizar esse procedimento. O Screening com Doppler (aumento do fluxo do Doppler) também seria indicação para transfusão crônica, pois prevê o quadro de isquemia. Mas, como já mencionado, não há sangue disponível para tal. Síndrome Torácica Aguda (STA) A síndrome torácica aguda é mais prevalente no adulto, mas também ocorre em crianças. O principal fator desencadeante são as infecções pulmonares. A fisiopatologia não é bem esclarecida, mas há vasoclusão de microvasos pulmonares (ramificações da artéria pulmonar), levando a isquemia do pulmão e consequente irritação da pleura. Assim, há dor torácica pleurítica, a qual é bem localizada e ventilatório-dependente. A dor é tão intensa que o paciente começa a hipoventilar, ocasionando atelectasia pulmonar e hipoxemia. Com isso, o paciente pode apresentar parada cardiorrespitatória, sendo esse acontecimento, em associação ao AVC, uma causa importante de morte nos indivíduos falciformes. O diagnóstico é sindrômico, com presença de novo infiltrado no raio-x de tórax, associado a dor torácica e pelo menos uma das características: febre, tosse, sintomas respiratórios, hipoxemia ou queda na saturação de oxigênio e dispneia. O tratamento inclui analgesia com bomba de morfina, a qual tem como objetivo tratar a dor e melhorar a ventilação. Além disso, faz-se hidratação do paciente, oxigenoterapia e suporte ventilatório, antibiótico para a infecção pulmonar, e transfusão. Cálculos biliares Os cálculos biliares são decorrentes do aumento de bilirrubina e na sua excreção decorrentes da hemólise intensa. Com isso, os sais biliares se concentram e formam cálculos. Os cálculos formados são negros ou esverdeados e cursam com colecistite. Retinopatia A retinopatia ocorre devido a vasoclusão dos vasos da retina. O paciente evolui com exsudato algodonoso, o qual faz com que haja perda da acuidade visual. A evolução para cegueira é mais rara. Geovana Sanches, TXXIV Priapismo Os corpos esponjosos são como esponjas que se enchem de sangue para promover a ereção. Em indivíduos com anemia falciforme, as hemácias podem se falcizar nesse local, ocasionando uma ereção duradoura (mais de 30 minutos) e dolorosa, normalmente não estimulada por via sexual. O tratamento consiste em analgesia e hidratação. Caso a ereção perdure por mais de 3 horas, é necessário solicitar um urologista, o qual fará drenagem cirúrgica do corpo esponjoso. Caso a drenagem não seja eficaz, é necessário fazer uma fístula, a qual torna o indivíduo impotente para o resto de sua vida, por impedir que o sangue chegue ao corpo esponjoso. Faz-se, ainda, exsanguíneotransfusão. Osteonecrose de cabeça de fêmur A necrose da cabeça do fêmur gera uma dor crônica, além de impedir o bom funcionamento da articulação. Com isso, o indivíduo pode inclusive perder a força para o movimento,não conseguindo mais andar. O tratamento é cirúrgico, sendo necessária a substituição de toda a articulação coxofemoral. Úlcera crônica As úlceras crônicas são decorrentes de hipoxemia e vasolusão do subcutâneo. Elas podem ser dolorosas eventualmente e podem infectar, evoluindo com osteomielite e possível necessidade de amputação. TRATAMENTO A LONGO PRAZO • Profilaxia para infecções o Tendo em vista que o paciente sofre autoesplenectomia, há maior chance de infecção por germes capsulados, como pneumococo e meningococo. o Utiliza-se PenV ou eritromicina dos 3 meses aos 5 anos o Imunização: pneumo23 • Suplementação com ácido fólico 5 mg 1x/dia • Hemotransfusão – fenotipados • Hidroxiureia à quimioterápico utilizado no tratamento da anemia falciforme devido ao seu efeito colateral de aumentar a HbF. Com esse aumento, a polimerização é impedida e há diminuição no fenômeno vasoclusivo. o Aumenta a sobrevida do paciente o Diminui complicações o Atentar para as toxicidades (pode ter toxicidade medular inclusive) o Medicamento está em falta no mercado atualmente, tendo em vista o baixo interesse da indústria farmacêutica (acometimento de indivíduos de classe mais baixa) • Quelantes de ferro: utilizado caso o paciente tenha passado por mais de 10 transfusões • Transplante de medula óssea (TMO) alogênico: é o único tratamento definitivo para anemia falciforme. o 30% de mortalidade devido ao procedimento o Dificuldade em encontrar medula compatível, tendo em vista que pais e irmãos normalmente possuem a doença ou traço falciforme RESUMIDAMENTE... • Hemograma: o normo/normo o Hiperporliferativa • Provas de hemólise positiva • História familiar positiva • Fisiopatologia: troca de ácido glutâmico por valina na cadeia beta, fazendo com que ela se torne uma cadeia S o HbA1 à Hbs • Hemácias em foice deoxidadas à falcização, hemólise intravascular e fenômenos vasoclusivos • Alteração oxidativa da membrana da hemácia à hemólise extravascular o Principal • Diagnóstico: eletroforese de hemoglobina o HbA1 ausente, HbA2 normal ou diminuída, HbF normal ou aumentada, presença de HbS o Se tem HbA1 e HbS à traço falciforme Geovana Sanches, TXXIV • Sintomas vasoclusivos: dor, AVC, STA, dactilite, retinopatia, nefropatia... • Sintomas anêmicos: palidez, icterícia, cálculos biliares por hemólise crônica... • Tratamento agudo: sempre hidratação + alguma coisa o AVC: hidratação + transfusão + suporte; HbS < 50% o STA: hidratação + analgesia + ATB + oxigênio + transfusão § Crise álgica: hidratação + analgesia opióide o Priapismo: hidratação + analgesia + intervenção S/N • Tratamento crônico: hidroxiureia (aumenta HbF) + ácido fólico + vacinas TALASSEMIAS INTRODUÇÃO O nome talassemia vem do grego “Thalassa” (mar) e emas (sangue). Trata-se da deficiência na síntese de cadeias de globina: • Beta-talassemias: diminuição ou ausência de cadeia beta • Alfa-talassemias: diminuição ou ausência de cadeia alfa BETA-TALASSEMIA A beta talassemia também é denominada Anemia de Cooley ou Talassemia do Mediterrâneo. Isso pois, foi descrita por Thomas Cooley em 1925 e foi descoberta nos países banhadas pelo Mar Mediterrâneo. São as talassemias mais comuns no Brasil e no mundo, tendo muita relação com a descendência grega, italiana e árabe. Nesse caso, há produção de cadeia beta em menor quantidade, mas o pouco produzido não possui alteração. Genética O gene da cadeia Beta está presente no cromossomo 11. Existem quase 200 mutações descritas desse gene, sendo que o defeito envolve mutação pontual, deleção, troca ou acréscimo de genes. A partir disso, podemos ter: • ß / ß à hemoglobina normal • ß0 / ß0 à homozigoto, não há produção de cadeia beta o Beta-talassemia major • ß0 / ß+ à heterozigoto, há uma produção muito pequena de cadeia beta o Beta-talassemia major • ß+ / ß+ à duplo heterozigoto; ambos os genes promovem baixa produção de cadeia beta o Beta-talassemia intermedia o Eventualmente, beta-talassemia major • ß0 / ß ou ß / ß+ à heterozigoto um gene é normal e o outro alterado o Beta-talassemia minor § Há um pouco de alteração no hemograma, com Hb entre 10 e 11 normalmente § Mais comum no perfil ß0 / ß o Traço-talassêmico § Normalmente não possui anemia o Eventualmente, beta-talassemia intermedia Pacientes com traço beta-talassêmico ou com talassemia beta-minor geralmente possuem quadros assintomáticos, mesmo com a discreta anemia que ocorre na minor. Já na talassemia beta-intermedia, o paciente apresenta anemia importante, com dependência transfucional média e possível hemocromatose secundária. A talassemia beta-mejor, por sua vez, apresenta o mesmo quadro da intermedia, porém de forma mais grave. Geovana Sanches, TXXIV Consequências Em decorrência da menor quantidade de cadeia beta, a hemoglobina não é formada adequadamente, causando uma anemia microcítica e hipocrômica. Além disso, há acúmulo de cadeia alfa, o que provoca precipitação celular e destruição intramedular das hemácias erroneamente formadas (na prática, funciona como uma eritropoiese ineficaz, mas este termo não pode ser utilizado nesse caso). Apesar dessa destruição intramedular, algumas células conseguem deixar a medula, de forma que há hemácias com restos de cadeia alfa na periferia. Os corpúsculos de inclusão são então percebidos pelos macrófagos esplênicos e estas células sofrem hemólise extravascular. Nas talassemias intermédio ou major, essa hemólise intramedular com eritropoiese ineficaz, por mecanismo desconhecido, estimulam a absorção de ferro, causando hemocromatose secundária nesses pacientes. Associadamente a hemólise extracelular, gera anemia, esplenomegalia e consequências da hemólise crônica. Traço talassêmico beta ou Beta Minor • Anemia leve ou ausente • Microcitose acentuada, ou seja, muita microcitose em uma anemia discreta • Hipocromia • RDW geralmente normal o Grande diferencial com ferropenia • Aconselhamento genético o É importante saber se o parceiro também apresenta traço talassêmico, pois em conjunto podem gerar prole talassêmica • Não há tratamento, mas faz-se uso de suplemento de ácido fólico ou orientação nutricional para aumento do seu consumo o Para esses casos, a suplementação normalmente pode ser feita apenas aos finais de semana Beta Major e Beta intermedia Antigamente, os pacientes não chegavam a idade aguda com essas duas faces da doença, mas hoje em dia há alguns pacientes que sim. As manifestações clínicas das duas variam basicamente no grau de gravidade da doença. Beta-major • Quadro clínico após 6 meses o Período de troca da HbF • Hemoglobina muito baixa, entre 4 e 5g • Hiperplasia eritroide e expansão da medula óssea o Deformidades ósseas associadas • Deficiência de desenvolvimento o Paciente não cresce de acordo com os percentis • Hepatoesplenomegalia multifatorial o O baço retorna à função de produção de hemácias na vida adulta • Hemólise crônica Beta Intermedia • Diagnóstico em crianças mais velhas e adolescentes • Hemoglobina entre 6 a 9g • Hemólise crônica intensa, porém menos que na major • Menor deformidade óssea e hepatoesplenomegalia Características gerais • Aumento do crânio de forma global • Fáscies em esquilo • Crânio cabeludo o Expansão da medula da calota craniana • Grandes hepatoesplenomegalias Laboratório • Anemia o Microcítica o Hipocrômica o Hiperproliferativa o RDW normal • Diagnóstico diferencial: anemia ferropriva o Hipoproliferativa o RDW muito aumentado Geovana Sanches, TXXIV Diagnóstico • Esfregaço de sangue periférico (ESP) o Presença de hemácias em alvo, as quais embora não sejam exclusivas, são muito características da talassemia. § Centro mais escuro, com halo mais claro em torno e outro halo escuro em volta• Provas de hemólise positivas • Coombs negativo • História familiar positiva • Eletroforese de hemoglobina Tratamento • Suplementação de ácido fólico o Para o traço beta talassêmico e a talassemia minor, muitas vezes a dieta é suficiente o Para Intermedio e Major, faz-se necessária a suplementação diária § Endofilin® 5mg • Transfusão sanguínea crônica, de acordo com a necessidade do doente o Para a Major, normalmente são necessárias transfusões a cada 14 ou 21 dias o Para a Intermedio, normalmente os pacientes conseguem passar mais de 2 meses sem necessidade de transfusão • Quelante de ferro o Deve ser utilizado sempre que é necessária a transfusão § Exjade® • Deferasirox 500mg • Esplenectomia o Antigamente era muito realizada, mas demonstrou-se piora no prognóstico a longo prazo • Transplante de Medula o Para ser realizada, o indivíduo ainda deve ser uma criança, entre 5 e 6 anos. Após esse período, não há mais órgãos de qualidade. o É um procedimento muito complexo, especialmente em decorrência do timo • Pode-se realizar tratamento estético para melhora das características fenotípicas da doença. Resumidamente... • Hemograma o Anemia hipo/micro com RDW normal o Hiperproliferativa • Provas de hemólise + • Coombs – • ESP beta o Codócitos ou hemácias em alvo • ESF alfa o HbH e corpúsculos de Heinz • Diagnóstico: eletroforese de hemoglobina o Traço beta: HbA1 diminuído, HbA2 aumentado e HbF normal o Traço alfa: pode ser normal § Lembrar de pedir em pH alcalino • Clínica o Traço: nenhum o Intermedia: § Dependência transfucional § Hepatoesplenomegalia § Hemocromatose § Alterações ósseas o Major: § Dependência transfucional § Hemocromatose § Hepatoesplenomegalia grave § Alterações ósseas • Tratamento o Minor: aconselhamento genético e ácido fólico o Major: ácido fólico, quelante de ferro e transfusão