Buscar

Livro Teoria da Literatura (parte 4. 2)

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 15 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

TÓPICOS 
AVANÇADOS 
DA TEORIA 
LITERÁRIA
Alessandra Bittencourt Flach
Estrutura do texto 
literário em prosa
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
 � Reconhecer os elementos que compõem a estrutura do texto literário 
em prosa.
 � Analisar as diferentes formas de construção do texto literário em prosa.
 � Relacionar a estrutura do texto literário ao gênero textual no qual 
se manifesta.
Introdução
Neste capítulo, você vai estudar o texto literário em prosa. Muitas vezes, a 
palavra “prosa” é tida como sinônimo de “narrativa”, já que muitos textos 
em prosa contam uma história, uma aventura, ainda que não se limitem 
a esse tipo textual. Como você vai ver, a prosa é um dos meios pelos 
quais uma história é contada. Também é comum a oposição entre prosa 
e poesia. Porém, basta um breve olhar sobre a literatura contemporânea 
para perceber que os limites entre uma e outra estão cada vez mais tênues.
Na leitura de um romance, de um conto ou mesmo de um texto 
ensaístico, as histórias envolvem os leitores de tal modo que eles pouco 
refletem sobre como determinadas obras se constituem ou que estra-
tégias são utilizadas pelo autor para atingir os efeitos pretendidos. No 
entanto, há todo um esforço criativo por trás de um texto literário, seja 
ele qual for, tenha ele a extensão que tiver. O autor, em sua liberdade de 
composição, determina a forma e os sentidos de seu objeto. Para isso, 
emprega esforço, talento e conhecimento, por um lado; e, por outro, 
recorre a conceitos clássicos e comumente aceitos sobre que elementos 
utilizar para atingir os seus propósitos. Ou seja, por maiores que sejam 
a criatividade e a engenhosidade, ainda assim existem elementos estru-
turantes que servem de referência para a composição artístico-literária.
E é justamente um desses elementos — a prosa — que você vai 
estudar neste capítulo. Você vai aprender sobre as estruturas do texto 
literário em prosa e sobre as muitas manifestações dessa categoria em 
gêneros literários distintos.
Texto literário em prosa
Tendo em vista que o propósito aqui é pensar a literatura, convém iniciar com 
uma importante observação: é possível identificar uma prosa ficcional e uma 
prosa não ficcional. Aqui interessa, obviamente, o primeiro tipo. Mas você 
sabe o que é um texto em prosa?
Um texto em prosa, de modo amplo, é aquele no qual a disposição das 
palavras e das frases se dá de maneira contínua, ocupando até o final da 
linha e continuando na linha seguinte. As ideias são reunidas em parágrafos 
e articulam-se por meio de certa reprodução do modo de falar. A metrificação 
e o ritmo regular não são o aspecto mais evidente. Segundo o crítico Salvatore 
D'Onofrio (2007, p. 27), “[...] se o espaço gráfico o permitisse, um conto ou 
um romance poderia ser escrito numa linha única”. Trata-se, portanto, de uma 
definição formal. Associado a outros elementos, o distintivo prosa configura 
um conjunto de características que compõem diversos gêneros narrativos — a 
prosa de ficção.
Assim como a poesia, a prosa de ficção tem uma função poética, no sen-
tido de que vai além da mera informação ou da linguagem cotidiana. Há um 
trabalho artístico sobre a linguagem que a distingue da conversa coloquial, por 
exemplo. A predominância do verso está fortemente relacionada à divulgação 
oral, à recitação, à música. A métrica regular e a sonoridade favorecem a 
memorização. A prosa, por sua vez, como você pode notar na evolução dos 
gêneros, tende à leitura silenciosa e individual.
Você já deve ter ouvido falar em “dedo de prosa”, “prosaico” e “prosador”. 
Os sentidos populares dessas expressões remetem à conversa informal, ao 
causo, aos diálogos cotidianos. E há certa relação entre a prosa enquanto 
conversa e a estrutura literária em prosa.
Estrutura do texto literário em prosa2
Observe os exemplos de textos literários a seguir. Eles se diferenciam um do outro, entre 
outros aspectos, pela organização em prosa e em verso. Note o aproveitamento da 
página em cada caso, bem como a descrição da mulher apresentada em cada obra — 
de forma detalhada e minuciosa no primeiro caso; de forma sintética e metafórica 
no segundo.
Prosa
No limiar da porta entreaberta estava ela de pé. A luz indecisa que 
vinha da janela ficava exatamente em frente à porta, e iluminava 
aquela figura com uma luz baça. Era uma criatura pálida, franzina, 
descarnada; apenas uma blusa e uma saia cobrindo uma nudez 
trêmula e gelada. Como cinto usava um barbante, como penteado 
uma fita; tinha os ombros pontudos descobertos, uma palidez loura, 
linfática, clavículas cor de terra, mãos vermelhas, boca entreaberta 
e triste, alguns dentes de menos, olhos ternos, ousados, baixos, 
forma de jovem abortada, olhar de uma corrompida; cinquenta 
anos e quinze anos misturados; um desses seres ao mesmo tempo 
frágeis e horríveis, que fazem estremecer os que não fazem chorar 
(HUGO, 2017, p. 992).
Verso
Pálida à luz da lâmpada sombria,
Sobre o leito de flores reclinada,
Como a lua por noite embalsamada,
Entre as nuvens do amor ela dormia!
Era a virgem do mar, na escuma fria
Pela maré das águas embalada!
Era um anjo entre nuvens d'alvorada
Que em sonhos se banhava e se esquecia! (AZEVEDO, 2007, p. 131).
3Estrutura do texto literário em prosa
O texto literário em prosa tende a projetar o formato da linguagem cotidiana. 
Por isso, durante muito tempo na história da literatura, esse formato foi consi-
derado secundário em relação ao texto em verso. O texto em verso foi tido, por 
certo período, como a “verdadeira” arte da palavra. Com o tempo, foram surgindo 
obras escritas em prosa que passaram a se destacar por seu valor estético, mesmo 
criando uma estrutura textual mais próxima daquela do texto não literário.
Na Poética de Aristóteles, obra essencial para a teorização da literatura, 
pode-se perceber a ausência do texto literário em prosa. A literatura é tida 
como sinônimo de poesia (poiésis, no sentido de criação). Assim, as distinções 
propostas entre os gêneros do discurso envolvem diferenças entre tipos de versos. 
A ausência do verso, ou seja, o texto em prosa, ou uma forma diversa daquela 
utilizada para compor os gêneros clássicos, eram, para Aristóteles, um problema 
ainda a ser debatido: “A arte que se utiliza apenas de palavras, sem ritmo ou 
metrificadas, estas seja com variedade de metros combinados, seja usando uma só 
espécie de metro, até hoje não recebeu um nome” (ARISTÓTELES, 2005, p. 19).
Ao definir epopeia, tragédia e comédia, Aristóteles vai além da distinção 
dos versos e da métrica próprios a cada gênero. Considera o assunto, os atores/
personagens, o propósito, o meio de divulgação. O texto em prosa desenvolve-se a 
partir desses elementos, desdobrando-se em gêneros literários distintos, ainda que 
com a predominância de uma organização formal característica a todos — a prosa.
Categorias do texto literário em prosa
Para além da mera distinção gráfica e estrutural entre texto escrito em prosa 
e texto escrito em verso, você deve perceber que a poesia, de modo geral, está 
associada à expressão do “eu”, a uma estreita relação entre sujeito e objeto. Já 
na prosa, nota-se um distanciamento entre o sujeito e o objeto, um interesse por 
outras realidades. O propósito é narrar ou descrever uma sucessão de eventos 
no tempo e no espaço. Daí a importância do conceito de verossimilhança, da 
lógica interna do texto, ou seja, de criar uma impressão de realidade, mesmo 
que ficcionalmente. O leitor deve aceitar o texto como uma representação 
lógica possível (mesmo que inexistente na realidade). A prosa literária assume 
a forma predominante da narrativa, a qual, por sua vez, expressa-se em gêneros 
como romance, conto, novela, crônica, ensaio literário e teatro.
Como você já viu, um texto em prosa pode desdobrar-se em muitas formas, 
dependendo do objetivo do autor ou, até mesmo, da época em que é escrito. 
No entanto, existem algumas categorias comuns a todos os textos literáriosem prosa. É elas que você vai ver a seguir.
Estrutura do texto literário em prosa4
A epopeia é um gênero literário escrito originariamente em versos. Porém, apresenta 
uma estrutura narrativa. A palavra epos indica uma forma métrica — o verso hexâmetro, 
próprio para a recitação. Uma epopeia conta a história de deuses e heróis e tem um 
propósito exaltatório bem evidente. Isso é percebido nas epopeias de Homero — 
Ilíada e Odisseia — e também na epopeia portuguesa de Camões — Os lusíadas. Os 
gêneros literários em prosa têm relação com o aspecto narrativo da epopeia, sendo 
uma espécie de “versão moderna” desta.
Enredo
Essa categoria abrange a história ficcional a ser contada, a ação. Os eventos 
ficcionais são narrados a partir de uma organização própria — enredo, intriga 
ou trama. Em geral, evidencia-se um conflito e o desenvolvimento das ações 
(complicadores) para resolvê-lo (desfecho). É importante você notar que o 
modo como a história é contada deve estar a serviço da verossimilhança, 
como já referido. Daí a importância das relações entre os acontecimentos e 
a lógica interna do enredo, ou seja, a credibilidade. O modo como as ações 
se articulam e se revelam evidencia maior ou menor tensão, impactando 
diretamente a recepção do leitor.
Foco narrativo
Um dos elementos essenciais do texto em prosa é o foco narrativo, o ponto de 
vista a partir do qual a história é contada. Há muitas opções. A escolha depende 
do efeito pretendido pelo autor. A história pode ser contada por uma personagem 
(principal ou secundária), por um narrador onisciente, por um narrador intruso, 
que comenta/explica/direciona a história. Pode haver ainda compartilhamento 
de narradores, com focos narrativos diversos. Na categoria discursiva, também 
estão incluídos elementos como a linguagem empregada, as figuras de estilo, a 
estrutura sintática, o léxico e a confluência de tipos textuais diferentes.
Personagens
Tal categoria implica definir quais são os atores da narrativa, as suas funções, 
o seu modo de ser, os seus pensamentos, as suas características físicas e psi-
cológicas. Conforme o caso, privilegia-se a descrição física ou a psicológica. 
As personagens podem ser apresentadas pelo viés do narrador, delas próprias 
5Estrutura do texto literário em prosa
ou de outras personagens. Nessa categoria, percebe-se, ainda, uma escolha 
do autor em relação à densidade e à profundidade das personagens — se 
estereotipadas (tipos sociais) ou densas, complexas, contraditórias, intensas.
Tempo
A categoria descritiva de tempo e espaço é fundamental para construir, aos 
olhos do leitor, a situação narrativa. Em relação ao tempo, você deve considerar 
o tempo do escritor, ou seja, a época em que ele vive. O escritor é um sujeito 
histórico e, assim, em maior ou menor grau, seu contexto influencia a sua 
obra. Do mesmo modo, o tempo do leitor (que não precisa coincidir com o do 
autor) certamente impacta o seu modo de ler e compreender o texto. Por fim, o 
tempo da narrativa, ou do discurso, é aquele no qual se desenvolve a narrativa. 
Pode ou não coincidir com o tempo do autor e/ou do leitor. O tempo da narra- 
tiva (interno à narrativa) pode ser cronológico, apresentando uma sequência 
linear de eventos, ou psicológico, caso em que há uma distorção do tempo sequencial.
As categorias na prática
Para compreender melhor as categorias do texto literário em prosa, considere o 
romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. Nele há um narrador em primeira 
pessoa extremamente tendencioso (foco narrativo), que busca contar o seu passado 
de modo a comprovar a sua teoria de que fora traído pela esposa, Capitu, e pelo 
melhor amigo, Escobar (enredo). Para tanto, o narrador emprega, muitas vezes, os 
discursos religioso e jurídico, a fim de convencer o leitor de sua tese sobre o adul-
tério. O tempo predominante da história é o cronológico. O narrador-personagem, 
um homem de meia-idade, vai descrevendo a sua infância, a sua adolescência e 
a sua vida adulta. Nesse processo, descreve os lugares onde viveu e as sensações 
decorrentes de sua memória afetiva. As personagens relacionam-se entre si de 
modo bastante intenso, evidenciando a complexidade das relações interpessoais.
No trecho a seguir, você pode constatar a genialidade do autor ao organizar 
a narrativa com o intuito de criar dúvida e desconfiança em relação ao que 
é narrado. Para isso, o narrador busca o diálogo com o leitor, o que mostra a 
organização discursiva do romance.
Ora, há só um modo de escrever a própria essência, é contá-la toda, o bem 
e o mal. Tal faço eu, à medida que me vai lembrando e convindo à cons-
trução ou reconstrução de mim mesmo. Por exemplo, agora que contei um 
pecado, diria com muito gosto alguma bela ação contemporânea, se me 
Estrutura do texto literário em prosa6
lembrasse, mas não me lembra; fica transferida a melhor oportunidade 
(ASSIS, 2008, p. 234).
É evidente que a escolha por um narrador em primeira pessoa, que se 
diz “vítima” de uma traição, que compõe a narrativa a partir de flashbacks 
e que, em tese, tem o conhecimento de tudo o que aconteceu, impacta o 
efeito de sentido que a obra pretende. Fato é que, pelo modo como o ro-
mance é construído, tem provocado incansáveis debates sobre a traição de 
Capitu (fato este que jamais será esclarecido, uma vez que a ambiguidade e 
a dúvida são a intenção do autor). Em caráter hipotético, considere o quanto 
o sentido da obra mudaria se o foco narrativo fosse outro — um narrador 
em terceira pessoa, que não comenta os fatos e é neutro, em uma narrativa 
linear. A articulação dessas categorias, como prova Machado de Assis, é 
que estabelece a grande distinção das obras literárias, a despeito de serem 
igualmente escritas em prosa.
Gêneros literários em prosa
Você já viu previamente o que é a prosa e quais são as suas categorias. Tam-
bém viu que o texto em prosa possui vários arranjos, os quais podem levar à 
formação de diferentes gêneros literários. Você deve notar, no entanto, que cada 
vez mais, na literatura contemporânea, perde espaço uma definição estanque 
e definitiva desses gêneros. Para fins didáticos e para melhor compreensão, a 
conceituação de gêneros literários precisa considerar certa predominância 
de formas e usos da linguagem literária. Porém, a criação estética não pode 
ser conformada a um modelo ou regra.
A definição clássica de gêneros literários orienta-se a partir da origem 
lírica, épica e dramática e de seus desdobramentos ao longo do tempo, como 
você pode ver no Quadro 1.
Fonte: Adaptado de Steiger (1972).
Lírica
Recordação, emotividade e fusão 
entre sujeito e objeto.
Soneto, ode, balada e 
vilancete.
Épica
Narração e distanciamento entre 
sujeito (narrador) e objeto (ação).
Epopeia, romance, 
conto, novela e crônica.
Drama
Representação e ações apresenta-
das pelas personagens.
Tragédia, comédia, farsa 
e auto.
Quadro 1. Divisão clássica entre os gêneros literários
7Estrutura do texto literário em prosa
A partir do Quadro 1, você pode perceber que a noção de gênero literário 
envolve não apenas uma estrutura e uma organização das palavras no texto 
(verso, prosa), mas também diz respeito ao modo como se dá a relação entre o 
sujeito e o objeto. Em outras palavras, ao optar por determinadas construções 
e representações do objeto, o autor define o gênero por meio do qual expressa 
as suas ideias.
O texto em prosa, em linhas gerais, está associado à narrativa. Envolve 
tanto a prosa de ficção — englobando romance, conto, novela e crônica, ba-
sicamente — quanto o teatro. Como o teatro é um gênero que implica outros 
elementos e meios além do texto literário (é uma produção a priori pensada 
para a encenação, para o espetáculo), aqui você vai se aprofundar no primeiro 
grupo, o da prosa de ficção.
Você vai ver, então, como as categorias narrativas se articulam a fim de 
constituir gêneros literários distintos. Mais uma vez, no entanto, vale reforçar 
a riqueza do texto literário e a liberdade de criação, a ponto de haver,frequen-
temente, a desconstrução de modelos.
Definição
O romance é uma forma narrativa que tem o indivíduo e os seus conflitos 
como foco (ao contrário da epopeia, que narra grandes feitos de um herói e 
seu povo). Trata-se de uma forma literária que possibilita muitas variações 
de temas, enredos, focos narrativos, personagens. Desde o seu surgimento, 
na Idade Média, até hoje, o romance passou por várias transformações — da 
temática mais histórica à mais introspectiva. Permanece, porém, a articulação 
entre enredo, foco narrativo, personagens, tempo e espaço. Compare, por 
exemplo, os trechos a seguir, que são as linhas iniciais de dois romances dis-
tintos: respectivamente, Memorial do convento, de José Saramago, e Grande 
sertão: veredas, de Guimarães Rosa. Como você vai ver, as opções narrativas 
implicam efeitos completamente diferentes.
D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, 
D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar 
infantes à coroa portuguesa e até hoje ainda não emprenhou. Já se murmura 
na corte, dentro e fora do palácio, que a rainha, provavelmente, tem a madre 
seca, insinuação muito resguardada de orelhas e bocas delatoras e que só entre 
íntimos se confia. Que caiba a culpa ao rei, nem pensar, primeiro porque a 
esterilidade não é mal dos homens, das mulheres sim, por isso são repudia-
das tantas vezes, e segundo, material prova, se necessária ela fosse, porque 
abundam no reino bastardos da real semente e ainda agora a procissão vai na 
praça (SARAMAGO, 2011, p. 11).
Estrutura do texto literário em prosa8
Agora veja o início de Grande sertão: veredas:
— Nonada. Tiros que o senhor ouviu foram de briga de homem não, Deus esteja. 
Alvejei mira em árvore, no quintal, no baixo do córrego. Por meu acerto. Todo dia 
isso faço; gosto; desde mal em minha mocidade. Daí, vieram me chamar. Causa 
dum bezerro: um bezerro branco, erroso, os olhos de nem ser — se viu —; e 
como máscara de cachorro. Me disseram; eu não quis avistar (ROSA, 2001, p. 23).
Ainda que os textos tenham sido escritos sob a mesma categoria (romance) 
e em época próxima (Memorial do convento foi publicado pela primeira vez 
em 1982; Grande sertão: veredas, em 1956), as escolhas narrativas feitas 
em cada um deles — o discurso, a linguagem, o foco narrativo, o tempo — 
evidenciam a amplitude de formas do gênero. Enquanto um escritor escolhe 
uma narrativa histórica, o outro escolhe o tempo presente; enquanto um segue 
uma estrutura sintática convencional, o outro opta pela desconstrução dessa 
mesma estrutura; enquanto um escolhe um foco narrativo em terceira pessoa, 
onisciente, o outro dá voz à personagem.
As mesmas categorias são compartilhadas pelo conto, porém de forma 
mais sintética, em extensão mais breve. Ao contrário do romance, o conto não 
abrange a totalidade do conflito do indivíduo, mas um momento, um flash 
representativo do todo. Descartam-se, portanto, as análises muito minuciosas 
por parte do narrador, bem como a narrativa lenta e os enredos muito com-
plexos. No conto de Machado de Assis “Ideias de canário”, tem-se a suposta 
conversa entre um canário metido em filosofias e o seu dono. Ambos discutem 
o que consideram ser o mundo. Em certo momento, o canário desaparece. O 
seu retorno e o desfecho do conto se dão de forma bastante rápida e objetiva, 
retomando vários pontos previamente abordados no conto:
— Viva, Sr. Macedo, por onde tem andado que desapareceu?
Era o canário; estava no galho de uma árvore. Imaginem como fiquei, e o 
que lhe disse. O meu amigo cuidou que eu estivesse doudo; mas que me 
importavam cuidados de amigos? Falei ao canário com ternura, pedi-lhe que 
viesse continuar a conversação, naquele nosso mundo composto de um jardim 
e repuxo, varanda e gaiola branca e circular...
— Que jardim? Que repuxo?
— O mundo, meu querido.
— Que mundo? Tu não perdes os maus costumes de professor. O mundo, 
concluiu solenemente, é um espaço infinito e azul, com o sol por cima.
Indignado, retorqui-lhe que, se eu lhe desse crédito, o mundo era tudo; até já 
fora uma loja de belchior...
— De belchior? Trilou ele às bandeiras despregadas. Mas há mesmo lojas de 
belchior? (ASSIS, 1990, p. 69).
9Estrutura do texto literário em prosa
O gênero novela, em termos de extensão, é intermediário — com uma 
história não tão desenvolvida e detalhada como é possível no romance, mas 
também não tão sintética e pontual como no conto. De forma recorrente, na 
novela, há uma série de pequenas histórias “encaixadas” em uma macrofábula. 
Portanto, em uma estrutura menos definida e mais aberta que o romance (que, 
necessariamente, precisa construir o início, o meio e o fim). A mesma lógica 
é seguida pelas novelas televisivas, em que personagens entram e saem da 
história sem grande impacto para a obra como um todo. Um bom exemplo de 
novela é Noite na taverna, de Álvares de Azevedo. Nela, um grupo de amigos, 
reunidos em uma taverna, compartilha histórias e experiências de bebedeiras e 
aventuras sexuais (macrofábula). Cada capítulo destina-se ao relato (um tanto 
fantasioso) de cada um dos amigos (histórias “encaixadas”).
Por fim, tem-se a crônica literária (em oposição à crônica histórica, poli-
cial, esportiva, política). Trata-se de uma forma curta, amparada ou não em um 
fato real, em uma notícia, mas que transcende o simples registro cronológico do 
tempo do autor. Ela evidencia um olhar poético sobre o tempo, sobre um fato, 
sobre um episódio do cotidiano, sobre um tipo social. Também é recorrente 
que o ato de escrever seja o próprio tema da crônica. O meio de divulgação 
primário — jornais e revistas — é outro aspecto que costuma caracterizar a 
crônica. A seguir, leia um trecho de A última crônica, de Fernando Sabino.
A caminho de casa, entro num botequim da Gávea para tomar um café junto 
ao balcão. Na realidade estou adiando o momento de escrever.
A perspectiva me assusta. Gostaria de estar inspirado, de coroar com êxito 
mais um ano nesta busca do pitoresco ou do irrisório no cotidiano de cada 
um. Eu pretendia apenas recolher da vida diária algo de seu disperso conteúdo 
humano, fruto da convivência, que a faz mais digna de ser vivida. Visava 
ao circunstancial, ao episódico. Nesta perseguição do acidental, quer num 
flagrante de esquina, quer nas palavras de uma criança ou num acidente 
doméstico, torno-me simples espectador e perco a noção do essencial. Sem 
mais nada para contar, curvo a cabeça e tomo meu café, enquanto o verso do 
poeta se repete na lembrança: “assim eu quereria o meu último poema”. Não 
sou poeta e estou sem assunto. Lanço então um último olhar fora de mim, onde 
vivem os assuntos que merecem uma crônica. [...] (SABINO, 2007, p. 188).
A prosa poética
Você ainda deve atentar a um último ponto: a prosa poética. Na medida em que 
as disposições dos gêneros literários e as suas categorias não são estanques, o 
ficcionista pode explorar os seus limites, “brincar” com o texto. Visualmente, é 
fácil perceber se um texto literário é escrito em prosa ou verso. Essa distinção, 
porém, não é definidora da poesia ou da prosa de ficção.
Estrutura do texto literário em prosa10
Antes de mais nada, observe o trecho a seguir, retirado do romance 
O vendedor de passados, do escritor angolano Eduardo Agualusa (2004, p. 178):
Então,
como 
num
bailado
lento:
Ângela atravessa a cozinha,
passa rente à mesa,
com a mão direita recolhe a pistola,
com a mão esquerda afasta Félix,
aponta ao peito de Edmundo
e dispara. 
Tanto pela extensão quanto pela clara presença das categorias que defi-
nem o romance — enredo linear, sequenciamento de ações no tempo e no 
espaço, narrador em terceira pessoa, personagens —, não há dúvida quanto à 
composição do livro. É um romance. No entanto, no trecho citado, você pode 
perceber que o autor busca criar um efeito impactante em sua obra, chamando 
a atenção do leitor. E como ele faz isso? Incluindo um trecho em verso, que se 
diferencia, em termos de metro e ritmo, do restanteda obra.
Se considerado como um texto autônomo, desvinculado do resto, esse 
trecho seria classificado como poesia, pois predominam aí as características 
líricas. Mesmo sem a rigidez formal, se percebem a disposição gráfica de 
verso (inclusive com aproveitamento do espaço da página, que é uma tendência 
contemporânea da poesia), o paralelismo (“com a mão”), as repetições fônicas, 
as imagens. Inclusive, essa organização métrica cria a sensação de imagem 
vagarosa, como se fosse uma cena filmada em câmera lenta.
Além disso, o destaque para a imagem da personagem em ação — Ângela — 
gera outra ruptura com as estruturas literárias convencionais. A poesia, tradicio-
nalmente, esteve sempre associada ao belo, aos temas elevados. O romance, ao 
trivial, ao comum. Porém, o lirismo aqui está justamente no ato de violência. Há um 
contraste entre o movimento delicado (bailado) e a ação brutal (disparo da arma).
Claro está, e o escritor Eduardo Agualusa acaba de mostrar, que, para além 
da simples divisão gráfica e sintática entre prosa e poesia, outros aspectos se 
articulam para construir o efeito do texto literário. Quando esses elementos 
se fundem, há a chamada prosa poética. E são esses processos que despertam 
a atenção e o interesse do leitor.
11Estrutura do texto literário em prosa
AGUALUSA, E. O vendedor de passados. Rio de Janeiro: Gryphus, 2004.
ARISTÓTELES. Arte poética. In: ARISTÓTELS; HORÁCIO; LONGINO. A poética clássica. 
São Paulo: Cultrix, 2005.
ASSIS, M. de. Dom casmurro. 2. ed. Cotia: Ateliê Editorial, 2008.
ASSIS, M. de. Ideias de canário. In: ASSIS, M. de. Páginas recolhidas. Rio de Janeiro: 
Garnier, 1990.
AZEVEDO, Á. Soneto. In: SIMPSON, P.; MARQUES, P. (Org.). Antologia da poesia romântica 
brasileira. São Paulo: Companhia Editora Nacional; Lazuli Editora, 2007.
D´ONOFRIO, S. Forma e sentido do texto literário. São Paulo: Ática, 2007. 
HUGO, V. Os miseráveis. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. t. 1.
ROSA, J. G. Grande sertão: veredas. 19. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.
SABINO, F. A última crônica. In: SANTOS, J. F. (Org.). As cem melhores crônicas brasileiras. 
Rio de Janeiro: Objetiva, 2007.
SARAMAGO, J. Memorial do convento. 41. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
STEIGER, E. Conceitos fundamentais da poética. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1972.
Leituras recomendadas
ABDALA JÚNIOR, B. Introdução à análise da narrativa. São Paulo: Scipione, 1995. 
AZEVEDO, Á. Noite na taverna. Porto Alegre: L&PM, 1998.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 
DUCROT, O.; TODOROV, T. Dicionário enciclopédico das ciências da linguagem. 3. ed. São 
Paulo: Perspectiva, 2001.
GANCHO, C. V. Como analisar narrativas. 9 ed. São Paulo: Ática, 2006. 
HAMBURGER, K. A lógica da criação literária. 2. ed. São Paulo: Perspectiva, 1986. 
SAMUEL, R. (Org.). Teoria literária. 14. ed. Petrópolis: Vozes, 1985.
TODOROV, T. Poética da prosa. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
Estrutura do texto literário em prosa12

Continue navegando