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1 CINTIA RIGHETTI MARCONDES ANÁLISE DE ALGUNS CRITÉRIOS DE SELEÇÃO PARA CARACTERÍSTICAS DE CRESCIMENTO NA RAÇA NELORE BELO HORIZONTE MINAS GERAIS UFMG-EV 1999 Dissertação apresentada à Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Zootecnia. Área: Melhoramento Orientador: Prof. José Aurélio Garcia Bergmann 2 3 4 5 DEDICATÓRIA Aos meus pais, José Rubens e Maria Angela, aos meus irmãos Cristiano e Caio Antônio, pela genética a mim transmitida e pelo ambiente de criação favorável ao qual fui submetida. Colham os primeiros frutos e que estes estimulem a produção de mais e melhores. 6 7 AGRADECIMENTOS A Deus. Aos meus pais, aos meus padrinhos Maria Isabel e Sílvio Vasconcellos, aos meus tios Cláudio Righetti e Ana Rosa e às minhas amigas Magali e Mônica Benatti, que contribuíram, de modo literal, aos meus estudos da Graduação. Aos meus orientadores de Iniciação Científica e Aperfeiçoamento na FZEA-USP, José Bento S. Ferraz e Joanir P. Eler, pelo aprendizado, grande incentivo e encaminhamento pelo “mundo do melhoramento genético”. Ao meu orientador de Mestrado, José Aurélio, pela acolhida, aprendizagem e apoio durante o curso, e sempre. À Agropecuária CFM Ltda. pela cessão dos dados e, em especial, ao Alberto pelas informações e ajuda posteriores. Às amigas Carina Bossu e Elisângela Mattos, ao Gilson Gonçalves, ao Prof. César Ribeiro de Lima (vulgo Cesinha) e aos outros funcionários, mestrandos e estagiários do Grupo de Melhoramento Animal da FZEA-USP, meu muito obrigado pelo apoio durante as análises (e posteriormente também!). Às amigas Zilner Callera, Anneliese de S. Traldi, Tutu, Tati e Pupy por me receberem em sua casa com tanto carinho. Aos colegas e funcionários do Grupo de Melhoramento Animal da FZEA-USP, pela troca de experiências, pelo cafezinho nos intervalos de trabalhos e pelas piadas que contribuíram ao bem- estar mental. Aos colegas do Mestrado e do Doutorado da EV-UFMG que de alguma forma contribuíram à minha integração nas Minas Gerais, 8 especialmente à Célia Quirino, por me abrigar em sua casa nas primeiras semanas. Às minhas mais recentes amigas, Ana Paula R. Reinato e Patrícia Noronha, pelo companheirismo, carinho, apoio nas horas difíceis e pelos conselhos nas situações complicadas, muito obrigada. Sem vocês Belo Horizonte seria desconhecida e menos acolhedora. Aos meus grandes amigos que mesmo de longe sempre acreditaram na minha capacidade, Sílvia Robles, Raquel Ferreira, Andréa Munhoz, Myrna Freitas (hoje, Sra. Bastos e mãe do Lucas), Melissa (Memeca e seu filhão Du) e Marcos Gomes (Biza). Aos colegas da Pós de Pirassununga, pelos churrascos, cantorias, fogueiras, festas e passeios gastronômicos na cidade. Um agradecimento especial ao Sancho por “cuidar das minhas filhas” na fase final do trabalho. À Aiesca pela consultoria de moda. Ao Cid pelas caronas diárias até a UFMG. À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Nível Superior (CAPES) pela Bolsa concedida. Enfim, a todos que, mesmo não ajudando, não atrapalharam minha jornada. 9 SUMÁRIO LISTA DE TABELAS 11 LISTA DE ANEXOS 15 RESUMO 17 1. INTRODUÇÃO 19 2. REVISÃO DE LITERATURA 21 2.1 Importância das estimativas de parâmetros genéticos para os programas de seleção 21 2.2. Critérios utilizados para seleção ponderal 22 2.2.1. Peso ao nascimento 26 2.2.2. Peso à desmama 29 2.2.3. Peso ao ano de idade 30 2.2.4. Peso ao sobreano (ou ao ano e meio de idade) 32 2.2.5. Ganhos de peso pré e pós-desmama 33 2.2.6. Taxas de crescimento relativo 34 2.2.7. Dias para atingir determinado peso de mercado 37 3. MATERIAL E MÉTODOS 40 3.1. Descrição das fazendas 40 3.1.1. Fazenda São Francisco 40 3.1.2. Fazenda Aracanguá 41 3.2. Descrição geral dos dados 41 3.3. Métodos 42 3.3.1. Manipulação do Banco de dados e dos arquivos de análise 42 3.3.2. Cálculo das características dias para atingir o peso de mercado (D160 e D300) e taxas de crescimento relativo pré e pós-desmama (TCR1 e TCR2) 42 10 3.3.3. Procedimentos adotados para as análises em MTDFREML 45 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 48 4.1. Análises com característica única 52 4.2. Análises conjuntas de duas características 54 4.2.1. Coeficientes de herdabilidade 54 4.2.2. Correlações genéticas 56 4.2.3. Efeitos de ambiente 58 5. CONCLUSÕES 59 6. SUMMARY 61 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 63 APÊNDICE 71 11 LISTA DE TABELAS Tabela - 1. Resumo das estimativas de herdabilidade (direta e/ou materna) e da correlação genética entre efeito direto e efeito materno (rgam), encontradas na literatura, para algumas características pré-desmama na raça Nelore. 23 Tabela - 2. Resumo das estimativas de herdabilidade (direta e/ou materna) e da correlação genética entre efeito direto e efeito materno (rgam), encontradas na literatura, para algumas características pós-desmama na raça Nelore. 24 Tabela - 3. Correlações fenotípicas (F), genéticas (G) e ambientes (A), entre pesos ajustados aos 180, 270, 360, 450 e 540 dias de idade, de animais da raça Nelore, determinadas pelas análises de covariância entre meio-irmãos paternos. Bergmann, 1982. 25 Tabela - 4. Correlações genéticas entre algumas característicasª na raça Nelore. Eler e Ferraz, 1998. 25 Tabela - 5. Estimativas de herdabilidadeª e das correlações genéticasb, fenotípicasc e de ambiented para as características de crescimento, em animais da raça Nelore criados na região Nordeste do Brasile 1. Biffani et al., 1998. 26 Tabela - 6. Estimativas de herdabilidade (h2+EP) e de correlações genética (rg), fenotípica (rP) e ambiental (rE) para características de crescimento da raça Red Angus. Adaptado de Winder et al., 1990. 28 Tabela - 7. Estimativas de correlações genéticas (rg) e fenotípicas (rP) entre taxas de crescimento relativo (TCR) e medidas produtivas de animais puros e 28 12 cruzados das raças Angus, Hereford e Shorthorn. Adaptado de Smith e Cundiff, 1976. Tabela - 8. Médias aritméticas e estimativas de herdabilidade para taxa de crescimento absoluto (TCA), taxa de maturidade absoluta (TMA) e taxa de crescimento relativo (TCR) para intervalos de idade sucessivos. Adaptado de Fitzhugh e Taylor, 1971. 35 Tabela - 9. Estimativas de correlações genéticas entre taxas de crescimento em diferentes intervalos de idade. Adaptado de Fitzhugh e Taylor, 1971. 35 Tabela - 10. Estimativas de correlações genéticas entre pesos (no ponto médio do intervalo) e medidas de taxa de crescimento para intervalos de idade sucessivos. Adaptado de Fitzhugh e Taylor, 1971. 36 Tabela - 11. Médias aritméticas e estimativas de herdabilidade para taxas de crescimento relativo (TCR), em animais puros e cruzados das raças Angus, Hereford e Shorthorn. Adaptado de Smith e Cundiff, 1976. 37 Tabela - 12. Características meteorológicas da região de Araçatuba, Estado de São Paulo. Fonte: CPTEC/INPE (clima@cptec.inpe.br), 1999. 41 Tabela - 13. Número de observações (N), médias aritméticas, desvios-padrão (DP), coeficiente de variação (CV), valores mínimos (MIN) e máximos (MAX) das características estudadas na fazenda São Francisco, entre os anos de 1984 e 1996 (47.140 animais no total). 49 Tabela - 14. Número de observações (N), médias aritméticas, desvios-padrão (DP), coeficiente de variação (CV), valores mínimos (MIN) e máximos (MAX) das características estudadas na fazenda Aracanguá, entre os anos de 1984 e 1996 (total de 13.330 animais). 49 13 Tabela - 15. Número de observações (N), médias aritméticas, desvios-padrão (DP), coeficiente de variação (CV), valores mínimos (MIN) e máximos (MAX) das características estudadas, nos machos (30.886 animais, nascidos entre 1984 e 1996). 50 Tabela - 16. Número de observações (N), médias aritméticas, desvios-padrão (DP), coeficientes de variação (CV), valores mínimos (MIN) e máximos (MAX) das característicasestudadas, nas fêmeas (29.584 animais, nascidas entre 1984 e 1996). 50 Tabela - 17. Número de observações (N), médias aritméticas, desvios-padrão (DP), coeficiente de variação (CV), valores mínimos e máximos das características estudadas, entre os anos de 1984 e 1996 (total de 60.470 animais). 51 Tabela - 18. Componentes de (co)variância, estimativas de herdabilidade direta (h2d) e materna (h2m)ª, correlação genética entre efeito direto e materno (rgam)ª, efeito de ambiente permanente de vaca (c2)ª e efeito de ambiente temporário (e2) para as características D160, D300, TCR1 e TCR2b, em análises com característica únicac. 52 Tabela - 19. Estimativas dos componentes de (co)variância e dos parâmetros genéticos provenientes das análises com conjuntas com duas características entre o GPNDES (variável 1) e outras características (variável 2)ª. 55 14 15 LISTA DE ANEXOS Anexo - I. Representação gráfica do número de dados analisados, por fazenda e por ano de nascimento, para cada característica de interesse. 71 Anexo - II. Arquivos de informação para MTDFPREP, preparados em editor Vi (sistema operacional LINUX) para rodar análises com característica única (D160 e TCR1). 75 Anexo - III. Arquivos de informação para MTDFPREP, preparados em editor Vi (sistema operacional LINUX) para rodar análises com característica única (D300 e TCR2). 76 Anexo - IV. Arquivos de informação para MTDFPREP, preparados em editor Vi (sistema operacional LINUX) para rodar análise conjunta com duas características (GPNDES & PN). 77 Anexo - V. Arquivos de informação para MTDFPREP, preparados em editor Vi (sistema operacional LINUX) para rodar análises conjuntas de duas características pré-desmama (D160 e TCR1). 79 Anexo - VI. Arquivos de informação para MTDFPREP, preparados em editor Vi (sistema operacional LINUX) para rodar análises conjuntas com duas características pós- desmama (GP345, PSOB, D300 e TCR2). 81 Anexo - VII. Valores iniciais obtidos em análises com característica única (para D160, D300, TCR1 e TCR2), após convergência pelos critérios estabelecidos. 83 Anexo - VIII. Valores iniciais obtidos em análises conjuntas de duas características, após convergência pelos critérios estabelecidos. 87 16 17 RESUMO Os objetivos deste trabalho foram obter estimativas de parâmetros genéticos para as características peso ao nascimento (PN), ganho de peso do nascimento à desmama (GPNDES), peso ao sobreano (PSOB), ganho de peso em 345 dias, da desmama ao sobreano (GP345), dias para atingir 160kg de peso vivo (D160), dias para atingir 300kg de peso vivo (D300), taxa de crescimento relativo pré-desmama (TCR1) e taxa de crescimento relativo pós-desmama (TCR2). Foram utilizados dados de 60.470 animais da raça Nelore, nascidos entre 1984 e 1996 em duas fazendas do Estado de São Paulo pertencentes à Agropecuária CFM Ltda. Os componentes de (co)variância e os parâmetros genéticos foram estimados pelo método de máxima verossimilhança restrita, por meio do programa MTDFREML (Multiple Trait Derivative-Free Restricted Maximum Likelyhood), sob modelo animal. Para características pré-desmama (PN, GPNDES, D160 e TCR1), o modelo incluía os efeitos aleatórios genético aditivo de animal, genético aditivo materno, de ambiente permanente da vaca e de resíduo, e os efeitos fixos de grupo de contemporâneos à desmama e, como covariáveis, a idade da vaca ao parto e idade do animal à época da desmama. Para características pós-desmama (PSOB, GP345, D300 e TCR2) considerou-se como efeitos fixos o grupo de contemporâneos ao sobreano e idade do animal ao sobreano, como covariável. As médias observadas e os desvios-padrão foram 30,7+3,8kg (PN); 317,2+49,4kg (PSOB); 155,4+21,0kg (GPNDES); 119,6+32,2kg (GP345); 175,7+34,2 dias (D160); 553,9+152,7 dias (D300); 913,2+80,9x10-3%/dia (TCR1) e 140,5+31,2x10-3%/dia (TCR2). Em análises conjuntas de duas características (entre GPNDES e cada uma das outras características), as estimativas de herdabilidade direta (h2d1) e materna (h2m1) para GPNDES variaram de 0,11 a 0,20 e de 0,03 a 0,16, respectivamente. Os valores de h2d1 foram 0,24; 0,26; 0,18; 0,15; 0,12; 0,14 e 0,22, respectivamente, para PN, PSOB, GP345, D160, D300, TCR1 e TCR2. Os valores de h2m1 para PN, D160 e TCR1 foram, respectivamente, 0,11; 0,00 e 0,14. As correlações genéticas entre GPNDES e as outras características foram altas, com exceção da 18 entre GPNDES e GP345 (0,23). O efeito de ambiente permanente da vaca teve importância e deve ser incluído nos modelos de análise. O efeito do ambiente temporário foi mais importante para características pós-desmama, mais sujeitas aos estresses de clima e manejo. Palavras-chave: Parâmetros genéticos, Componentes de (co)variância, Características de crescimento, Bovinos, Nelore. 19 1. INTRODUÇÃO O mercado de gado de corte, no Brasil, reconhece, basicamente dois produtos: o bezerro desmamado e o novilho terminado (Fries et al., 1996). Portanto, para o criador, quanto mais rápida for a taxa de crescimento dos animais, mais rápido será o ciclo de seus produtos, podendo reduzir os custos de manutenção na propriedade, principalmente se o sistema de produção for o confinamento. Isto significa que o rendimento deve ser baseado em quantidade de animais vendidos e não em animais vendidos mais velhos e mais pesados. A seleção para ganho de peso, segundo Lanna e Packer (1997), tem aumentado o peso à idade adulta dos animais da raça Nelore. Por meio desta e de outras constatações (como a forte associação existente, para novilhas, entre taxa de crescimento e idade de entrada em reprodução), os técnicos e criadores estão cada vez mais preocupados em achar o “tamanho ótimo” dos animais; tamanho esse que geraria melhor eficiência produtiva do rebanho, adequando o genótipo existente às condições ambientais de criação, e direcionaria a seleção da raça por outros caminhos, desenvolvendo linhagens de diferentes potenciais de crescimento e tamanho adulto, por exemplo (Lanna e Packer, 1997). Diversos critérios de seleção têm sido propostos recentemente. No início da década de 70, Fitzhugh e Taylor lançaram idéia sobre o estabelecimento de um critério denominado taxa de crescimento relativo, o qual é a expressão logarítmica do desenvolvimento dos bovinos, até sua idade adulta. Essa idéia rendeu discussões por mais de duas décadas. Em 1996, Fries et al. apresentaram outro critério baseado nos dias necessários para o animal atingir peso de mercado, ou dias para 160kg, que resultaria, segundo os autores, na inversão da importância dada ao ganho de peso; o ideal passaria a ser a terminação mais rápida dos animais, favorecendo-se maior giro de capital investido. Esse tipo de 20 característica têm sido amplamente utilizada nos programas de seleção de suínos. Caberia aos pesquisadores, portanto, estudar a viabilidade e as respostas correlacionadas, que possam surgir do uso desses novos critérios. Para tanto, o primeiro passo seria a estimação de parâmetros genéticos (herdabilidades e correlações), os quais são extremamente importantes na definição da estratégia de melhoramento genético a ser adotado. O presente trabalho teve por objetivos: 1) calcular as características dias para atingir 160kg de peso vivo, dias para atingir 300kg de peso vivo, além da taxa de crescimento relativo pré-desmama e taxa de crescimento relativo pós-desmama, para os animais da raça Nelore; 2) estimar os parâmetros genéticos de peso ao nascimento, peso ao sobreano, dias para atingir 160kg de peso vivo, dias para atingir 300kg de peso vivo, ganho de peso do nascimento à desmama, ganho de peso em 345 dias (da desmama ao sobreano), taxa de crescimento relativo pré-desmama e taxa de crescimento relativo pós-desmama. 21 2. REVISÃO DE LITERATURA Todos os criadores, indubitavelmente, teriam uma lista pessoal de características que considerariamimportantes para um programa de melhoramento. A importância relativa de cada característica também mudaria de criador para criador. Segundo Van Vleck et al. (1987), a cadeia produtiva da carne bovina representaria bem esse típico conflito quanto à importância de determinadas características para o melhoramento. Quem trabalha com a fase de cria, produz bezerros para venda. O peso à desmama e o número de bezerros por vaca determinariam a renda bruta do empreendimento e seriam influenciados, por sua vez, pela habilidade materna, pelas taxas reprodutivas e pela facilidade de parto. O custo primário envolvido nessa fase contabilizaria, principalmente, os custos para mantença das vacas adultas. Para quem recria e engorda os animais, o ganho de peso da desmama até o abate, e a musculosidade, têm grande importância. A indústria, no entanto, preocuparia-se com características de qualidade (marmoreio, área de olho de lombo, entre outras). A decisão de incluir ou não uma característica em programa de melhoramento, no entanto, dependeria da importância econômica, do potencial para ganho genético e dos custos de medição dispendidos (Harris, 1970) e não somente dos interesses particulares de cada segmento da cadeia produtiva. 2.1. Importância das estimativas de parâmetros genéticos para os programas de seleção A herdabilidade determina a importância relativa dos fatores genéticos e não genéticos sobre a variação da característica. Ela é básica para a determinação do método de seleção a ser utilizado, além de permitir a estimação da taxa de progresso genético ao longo das gerações. Como a estimativa da herdabilidade é resultado de uma relação entre variâncias, sua magnitude varia entre populações por diferenças nas condições de criação, composição genética dos animais, tamanho das amostras e 22 métodos utilizados em sua obtenção (Nájera Ayala, 1990). As Tab. 1 e 2 apresentam estimativas de herdabilidade para características ponderais pré e pós-desmama, em animais da raça Nelore. A maioria das características de produção em gado de corte são correlacionadas, constituindo a base para o estabelecimento e definição de programas de melhoramento genético. As possíveis causas da correlação genética entre duas características são a pleiotropia, fenômeno pelo qual um gene influencia duas ou mais características, e a ligação gênica, que possibilita que genes de ação independente, em segregação, atuem juntos. Segundo Falconer (1987), o grau de correlação originado pela pleiotropia expressa a quantidade pela qual duas características são influenciadas pelos mesmos genes, mas a correlação resultante desse fenômeno expressa o efeito total de todos os genes em segregação, que influenciam ambas as características. Assim, alguns genes podem levar a incremento fenotípico em ambas as características, enquanto outros incrementam uma e reduzem outra. Os primeiros tendem a causar correlação positiva e, os segundos, correlação negativa. As Tab. 3, 4 e 5 apresentam algumas correlações genéticas, fenotípicas e ambientais estimadas, no Brasil, para animais da raça Nelore. Existe considerável variação entre as estimativas de parâmetros genéticos. Muitas razões podem ser descritas, como o método de estimação, a variância da amostragem, a efetividade na remoção da variância ambiental, a endogamia, os acasalamentos dirigidos ou a seleção prévia (Barlow, 1978). Outras razões, como sexo, raça e ambiente pré-desmama têm sido amplamente estudadas e seus efeitos, dentro do possível, controlados. Ainda, segundo o mesmo autor, correlações genéticas mais baixas, entre medidas pré-desmama e medidas pós-desmama, devem ser esperadas quando os animais foram criados a pasto. 2.2. Critérios utilizados para seleção ponderal Tradicionalmente, medidas de desempenho ponderal (pesos e ganhos de peso) servem como critérios de seleção nos programas de melhoramento de gado de corte existentes no Brasil. Outras características, como a circunferência (ou perímetro) escrotal, os escores de conformação, precocidade ou musculosidade e a 23 Tabela - 1. Resumo das estimativas de herdabilidade (direta e/ou materna) e da correlação genética entre efeito direto e efeito materno (rgam), encontradas na literatura, para algumas características pré-desmama na raça Nelore. Caract. N h2d h2m rgam Fonte/Local PN 1.310 0,10 0,06 -0,05 Magnabosco et al.,1998/Texas 24.562 0,37 0,11 -0,58 Eler et al., 1996/Brasil 46.455 0,32 0,07 -0,36 Magnabosco et al.,1996/Brasil 18.200 0,28 0,10 - Lôbo et al., 1995/ Brasil 11.070 0,29 - - Lôbo et al., 1994/ Brasil 1.282 0,44+0,11 - - Lôbo et al., 1993/ Brasil 18.751 0,42+0,03 - - Eler et al., 1989/ Brasil 27.354 0,48 0,12 -0,40 Eler, 1987/ Brasil 259 (M) 0,38+0,20 - - Trovo, 1983/ Brasil 297 (F) 0,33+0,18 - - Trovo, 1983/ Brasil 1.580 0,626 - Mortari, 1976/ Brasil P120 24.661 0,27 0,16 -0,42 Garnero et al., 1998/ Brasil 12.625 0,32 0,28 - Lôbo et al., 1995/ Brasil 11.070 0,20 - - Lôbo et al., 1994/ Brasil PD 375 0,29+0,18 - - Martins et al., 1996/ Brasil 259 (M) 0,21+0,16 - - Trovo, 1983/ Brasil 297 (F) 0,21+0,15 - - Trovo, 1983/ Brasil 1.580 0,139 - - Mortari, 1976/ Brasil P205 2.977 0,36+0,06 - - Biffani et al., 1998/ Brasil 1.310 0,22 0,10 0,03 Magnabosco et al.,1998/Texas 24.217 0,29 0,08 -0,40 Eler et al., 1996/ Brasil 29.245 0,15 0,11 0,08 Magnabosco et al.,1996/Brasil 25.977 0,34 - 0,24 Souza et al., 1996/SP – Brasil 26.434 0,29 - 0,18 Souza et al., 1996/MG- Brasil 7.415 0,26 0,28 -0,91 Eler et al., 1994/ Brasil 1.282 0,17+0,06 - - Lôbo et al., 1993/ Brasil 18.751 0,24+0,02 - - Eler et al., 1989/ Brasil 27.356 0,24 0,19 -0,53 Eler, 1987/ Brasil 12.339 0,15+0,03 - - Oliveira Fo e Duarte,1987/Brasil P240 24.661 0,26 0,10 -0,24 Garnero et al., 1998/ Brasil 3913(F) 0,29 0,13 - Mercadante et al., 1997/ Brasil 1.217 0,13 - - Mercadante et al., 1996/Brasil 11.891 0,29 0,22 - Lôbo et al., 1995/ Brasil 11.070 0,25 - - Lôbo et al., 1994/ Brasil GPD 18.772 0,23 0,06 - Paz et al., 1995/ Brasil 259 (M) 0,23+0,17 - - Trovo, 1983/ Brasil 297 (F) 0,21+0,15 - - Trovo, 1983/ Brasil 1.580 0,065 - - Mortari, 1976/ Brasil GPD120k 24.661 0,21 0,15 -0,35 Garnero et al., 1998/ Brasil GPD200k 24.661 0,25 0,00 -0,36 Garnero et al., 1998/ Brasil TCR1 60.160 0,10 0,13 - Marcondes et al., 1998a/Brasil D160 60.158 0,14 0,09 - Marcondes et al., 1998a/Brasil Caract.=característica; N=número de observações; (M)=machos; (F)=fêmeas; PN=peso ao nascer; P120=peso aos 120 dias; PD=peso à desmama; P205=peso à desmama ajustado (205 dias); P240=peso à desmama ajustado (240 dias); GPD=ganho de peso pré-desmama; GPD120k=ganho de peso diário para atingir 120kg de peso; GPD200k=ganho de peso diário para atingir 200kg de peso; TCR1=taxa de crescimento relativo pré-desmama; D160=dias para atingir 160kg de peso. 24 Tabela - 2. Resumo das estimativas de herdabilidade (direta e/ou materna) e da correlação genética entre efeito direto e efeito materno (rgam), encontradas na literatura para algumas características pós-desmama na raça Nelore. Caract. N h2d h2m rgam Fonte/Local P365 2.977 0,32+0,07 - - Biffani et al., 1998/ Brasil 24.661 0,30 0,10 -0,38 Garnero et al., 1998/ Brasil 1.310 0,02 0,03 -0,04 Magnabosco et al., 1998/Texas 3913(F) 0,36 0,09 - Mercadante et al., 1997/ Brasil 18.897 0,12 0,07 0,08 Magnabosco et al., 1996/Brasil 16.747 0,16 0,10 0,09 Eler et al., 1995/ Brasil 10.761 0,39 - - Lôbo et al., 1995/ Brasil 7.415 0,18 0,18 -0,91 Eler et al., 1994/ Brasil 11.070 0,24 - - Lôbo et al., 1994/ Brasil 1.282 0,17+0,06 - - Lôbo et al., 1993/ Brasil 18.751 0,29+0,03 - - Eler et al., 1989/ Brasil 14.393 0,28 0,17 -0,53 Eler, 1987/ Brasil 7.973 0,20+0,03 - - Oliveira Fo e Duarte,1987/Brasil P13 259 (M) 0,41+0,21 - - Trovo, 1983/ Brasil 297 (F) 0,39+0,19 - - Trovo, 1983/ Brasil P550 2.977 0,44+0,10 - - Biffani et al., 1998/ Brasil 24.661 0,35 0,04 0,01 Garneroet al., 1998/ Brasil 1.310 0,08 - - Magnabosco et al., 1998/Texas 20.124 0,30 0,04 0,02 Eler et al., 1996/ Brasil 13.160 0,18 0,07 0,08 Magnabosco et al., 1996/Brasil 8.349 0,31 - - Lôbo et al., 1995/ Brasil 11.070 0,26 - - Lôbo et al., 1994/ Brasil 1.282 0,09+0,05 - - Lôbo et al., 1993/ Brasil 259 (M) 0,58+0,25 - - Trovo, 1983/ Brasil 297 (F) 0,55+0,23 - - Trovo, 1983/ Brasil P570 1.250 0,37 - - Peña et al., 1998/ Paraguai P730 11.070 0,21 - - Lôbo et al., 1994/ Brasil PA 776 0,34 - - Rosa et al., 1998/ Brasil GMD365 2.977 0,24+0,06 - - Biffani et al., 1998/ Brasil 7.973 0,13+0,02 - - Oliveira Fo e Duarte,1987/Brasil GMD550 2.977 0,16+0,07 - - Biffani et al., 1998/ Brasil GPD310k 24.661 0,20 0,00 0,06 Garnero et al., 1998/ Brasil GPD350k 24.661 0,18 0,02 0,08 Garnero et al., 1998/ Brasil TCR2 21.329 0,20 - - Marcondes et al., 1998a/Brasil Caract.= característica; N= número de observações; (M)= machos; (F)= fêmeas; P365= peso ao ano de idade; P13= peso aos 13 meses; P550= peso ao sobreano ajustado para 550 dias de idade; P570= peso ao sobreano ajustado para 570 dias; P730= peso aos dois anos de idade; PA= peso adulto; GMD365= ganho médio diário (desmama ao ano de idade); GMD550= ganho médio diário (desmama ao sobreano); GPD310k=ganho de peso diário para atingir 310kg; GPD350k= ganho de peso diário para atingir 350kg; TCR2= taxa de crescimento relativo pós-desmama. 25 Tabela - 3. Correlações fenotípicas (F), genéticas (G) e ambientes (A), entre pesos ajustados aos 180, 270, 360, 450 e 540 dias de idade, de animais da raça Nelore, determinadas pelas análises de covariância entre meio-irmãos paternosª. Pesos Pesos Correlações 270 dias 360 dias 450 dias 540 dias F 0,65 0,62 0,59 0,61 G 0,60 0,71 0,66 0,70 Aos 180 dias A 0,76 0,60 0,58 0,59 F 0,72 0,68 0,62 G 0,68 0,60 0,76 Aos 270 dias A 0,72 0,69 0,58 F 0,72 0,62 G 0,84 1,11 Aos 360 dias A 0,71 0,51 F 0,73 G 1,00 Aos 450 dias A 0,68 ª Bergmann, 1982. Tabela - 4. Correlações genéticas entre algumas característicasª na raça Nelore1. PESNAS PES205 PES550 CONF PREC PESNAS - PES205 0,63 - PES550 0,77 - CONF 0,68 0,87 - PREC 0,56 0,80 0,86 - MUSC 0,53 0,78 0,82 0,96 GP345 0,16 0,62 CE 0,18 0,30 1 Eler e Ferraz, 1998. ª PESNAS = peso ao nascimento; PES205 = peso à desmama ajustado para 205 dias de idade; PES550 = peso ao sobreano ajustado para 550 dias de idade; CONF= conformação de corte; PREC= precocidade de acabamento; MUSC = musculatura; GP345 = ganho de peso pós-desmama, CE = circunferência escrotal. 26 Tabela - 5. Estimativas de herdabilidadeª e das correlações genéticasb, fenotípicasc e de ambiented para as características de crescimento, em animais da raça Nelore criados na região Nordeste do Brasil e 1. Característica P205 P365 P550 GMD365 GMD550 P205 0,36±0,06 0,81 0,80 0,42 0,24 P365 0,65 0,32±0,07 0,90 0,75 0,29 0,59 P550 0,52 0,65 0,44±0,10 0,58 0,75 0,40 0,55 GMD365 0,02 0,76 0,39 0,24±0,06 0,09 -0,04 0,70 0,31 GMD550 0,06 0,00 0,65 -0,23 0,16±0,07 -0,01 -0,04 0,65 -0,26 1 Biffani et al., 1998 a,b,c,d valores na diagonal, acima da diagonal e primeiro e segundo valores abaixo da diagonal, respectivamente. e P205, P365, P550, GMD365 e GMD550 = peso aos 205, 365 e 550 dias de idade, e ganhos de peso entre os 205 e 365 dias e entre os 365 e 550 dias de idade, respectivamente. medida de altura na cernelha têm sido avaliadas e disponibilizadas aos criadores, por meio dos sumários de touros, como ferramentas auxiliares à escolha dos reprodutores mais adequados a cada situação e sistema de criação. A seguir serão detalhados os critérios ponderais mais usualmente utilizados nos programas de melhoramento da raça Nelore (PMGRN, 1998; CFM, 1998). 2.2.1. Peso ao nascimento O peso do animal ao nascimento é a informação mais precoce do indivíduo, retratando seu crescimento pré-natal. É parcialmente determinado pela capacidade genética do indivíduo para o crescimento pré-natal e pelo ambiente intra-uterino materno (Newman et al., 1987). A utilização de tal medida em programas de seleção, apesar da sua correlação positiva com o crescimento pós-natal, se faz importante somente para raças européias, visando a redução ou eliminação dos problemas de partos distócicos. Nas raças 27 zebuínas, não se verifica a ocorrência de partos difíceis, porém aconselha-se o uso de touros com DEP (Diferença Esperada na Progênie) baixas ou até mesmo negativas para essa característica (CFM, 1998), evitando problemas futuros com pesos excessivos ao nascimento. Muitas vezes, no Brasil, simplesmente não se toma a medida de peso ao nascimento, principalmente em fazendas onde o manejo adotado não permite o acompanhamento do parto, por falta de mão-de-obra ou pela grande extensão dos pastos. Vale ainda ressaltar que tal medida deve seguir normas para que seja bem feita e tenha, assim, aplicabilidade real. Efeitos diversos influenciam de modo considerável a expressão da característica. Diferenças entre sexos, entre filhos de diferentes touros e entre mês ou ano de nascimento variam sua importância conforme o rebanho ou raça estudados. Para a raça Nelore, especificamente, Nájera Ayala (1990) e Lôbo et al. (1993) encontraram efeitos significativos (P<0,05) de reprodutor, sexo, mês e ano de nascimento sobre a característica peso ao nascimento. Algumas estimativas de herdabilidade do peso ao nascimento, na raça Nelore, encontram-se resumidas na Tab. 1. Observa-se variações quanto aos valores apresentados, para a herdabilidade direta (de 0,10 a 0,626) e para a herdabilidade materna (de 0,06 a 0,12); variações estas explicadas, principalmente, pelas diferenças no número de animais amostrados, no rebanho estudado e na metodologia utilizada para a obtenção dos componentes de (co)variância. A correlação genética entre efeito direto e efeito materno (rgam) variou de –0,58 a –0,05 (Tab. 1). Para a raça Red Angus (Tab. 6), Winder et al. (1990) encontraram estimativa de herdabilidade direta, para o peso ao nascimento, de 0,46±0,02. A Tab. 7 mostra correlações genéticas e fenotípicas do peso ao nascimento com diferentes taxas de crescimento relativo, estimadas por Smith e Cundiff (1976), e a Tab. 4 contém a correlação genética entre o peso ao nascimento e o peso à desmama ajustado para 205 dias de idade, na raça Nelore, sendo igual a 0,63 (Eler e Ferraz, 1998). 28 Tabela - 6. Estimativas de herdabilidade (h2+EP) e de correlações genética (rg), fenotípica (rP) e ambiental (rE) para características de crescimento da raça Red Angusª Taxas de crescimento relativo Caract. b h2 Pré-desmama (TCR1) Pós-desmama (TCR2) Pós-natal (TCR3) PN 0,46±0,02 rg -0,68±0,02 -0,02±0,02 -0,71±0,02 rP -0,67 -0,03 -0,71 rE -0,71 -0,04 -0,72 P205 0,39±0,02 rg 0,22±0,01 -0,38±0,02 0,01±0,02 rP 0,44 -0,45 0,20 rE 0,53 -0,46 0,28 P365 0,40±0,02 rg 0,01±0,01 0,25±0,01 0,16±0,01 rP 0,01 0,24 0,37 rE 0,01 0,24 0,47 TCR1 0,33±0,02 rg -0,33±0,02 0,84±0,02 rP -0,33 0,85 rE -0,34 0,59 TCR2 0,33±0,02 rg 0,23±0,02 rP 0,21 rE 0,15 TCR3 0,33±0,02 ª Adaptado de Winder et al., 1990; b Caract.= características, PN = peso ao nascer, P205 = peso à desmama ajustado para 205 dias de idade, P365 = peso ao ano de idade. Tabela - 7. Estimativas de correlações genéticas (rg) e fenotípicas (rP) entre taxas de crescimento relativo (TCR) e medidas produtivas de animais puros e cruzados das raças Angus, Hereford e Shorthorn ª Taxas de crescimento relativo Pré-desmama (TCR1) Pós-desmama (TCR2) Pós-natal (TCR3) Caract.b rg rP rg rP rg rP PN -1,04±1,63 -0,54 -0,62±0,36 -0,08 -0,61±0,32 -0,69 P200 -1,19±1,11 0,40 0,08±0,45 -0,48 -0,31±0,29 0,04 P452 0,28±0,70 0,11 0,54±0,29 0,30 0,34±0,23 0,34 GMD1 -1,22±0,99 0,55 0,29±0,57 -0,51 -0,22±0,33 0,16 GMD2 1,23±1,59 -0,16 0,78±0,15 0,77 0,74±0,17 0,43 TCR1 2,41±3,17 -0,40 1,45±1,24 0,71 TCR2 1,19±0,24 0,37 ª Adaptado de Smith e Cundiff, 1976;b Caract.= característica, PN = peso ao nascer, P200 = peso aos 200 dias de idade, P452 = peso aos 452 dias de idade, GMD1 = ganho de peso médio diário, pré-desmama, GMD2 = ganho de peso médio diário, pós-desmama. 29 2.2.2. Peso à desmama Esta medida tem grande importância no processo seletivo dos animais por representar, além da capacidade de crescimento do indivíduo, a capacidade materna para produção de leite. Ainda, o peso à desmama possui correlação positiva com pesos às idades ulteriores. Sua medição depende do tipo de manejo da fazenda e da idade, que varia, geralmente, entre os sete e oito meses. Graser e Tier (1988) referiram-se ao peso à desmama como a combinação do potencial do bezerro para crescer e da capacidade da mãe para produção de leite, tendo em conta que a correlação genética ligeiramente positiva ou negativa, entre as características de crescimento e produção leiteira, induziu a considerá-las como não correlacionadas. A medida de peso à desmama em um programa de melhoramento genético possui como vantagem, ainda, a possibilidade de dissociação entre efeitos genéticos direto e materno, permitindo a seleção de vacas para habilidade materna (Eler e Ferraz, 1998). A idade à desmama, o sexo, o ano e a estação de nascimento do bezerro, o grupo de manejo na fase pré-desmama, a localização geográfica e interações existentes entre alguns destes fatores, além da idade da mãe ao parto, têm sido identificados como fatores não-genéticos importantes, contribuindo para a variação no peso à desmama (Cundiff et al., 1966; Leighton et al., 1982; Amaral et al., 1986; Eler et al., 1989, Lôbo et al. 1993). Os efeitos médios de ano de nascimento e mês de nascimento, o efeito de sexo do animal, além das interações entre ano de nascimento, mês de nascimento e ordem de parição da vaca, foram estatisticamente significativos sobre a variação do peso à desmama de animais da raça Nelore, segundo Bergmann (1982). Influências de touro, fazenda, sexo, manejo, mês e ano de nascimento foram observadas (P<0,05) por Nájera Ayala (1990), também em animais da raça Nelore. Marcondes et al. (1998b) encontraram efeitos significativos (P<0,0001) de sexo, classe de idade da vaca (variando de 1 a 5), Estado de origem (São Paulo, Mato Grosso do Sul ou Goiás) e idade do animal à desmama (linear e quadrático) para descrever o peso à desmama e o peso à desmama ajustado para 205 dias de idade, em estudo envolvendo 30 239.511 animais da raça Nelore. Martins et al. (1996) observaram que os efeitos de sexo do animal, do peso da vaca à desmama e do mês de nascimento influenciaram significativamente (P<0,01) os pesos à desmama de bovinos Nelore criados no Maranhão. Vacas de maior peso corporal produziram bezerros mais pesados à desmama. Estimativas de herdabilidade direta (h2d) e materna (h2m) para peso à desmama (PD), peso à desmama ajustado para 205 dias de idade (P205) e para o peso à desmama ajustado para 240 dias de idade (P240), bem como estimativas de correlação genética entre efeito direto e efeito materno (rgam), para a raça Nelore, encontram-se resumidas na Tab. 1. Observou-se variação de 0,05 a 0,47 (h2d), de 0,08 a 0,28 (h2m) e de –0,91 a 0,24 (rgam). Biffani et al. (1998) obtiveram estimativa de 0,36+0,06 para h2d, correlações genéticas, fenotípicas e ambientes altas e positivas entre P205 e pesos às idades ulteriores, correlações genéticas moderadas e positivas entre P205 e ganho de peso pós-desmama, correlações fenotípicas e ambientes baixas ou negativas entre P205 e ganho de peso pós-desmama (Tab. 5), para animais da raça Nelore criados na região Nordeste do Brasil. A Tab. 3 apresenta estimativas de correlação genética, fenotípica e ambiente entre o peso aos 270 dias e outras medidas de peso anteriores e posteriores, também para animais da raça Nelore (Bergmann, 1982). A correlação genética entre o P205 e o peso ao sobreano ajustado para 550 dias de idade (P550) foi bastante alta e positiva (0,77), assim como suas correlações com os escores de conformação, precocidade e musculosidade (0,68; 0,56 e 0,53, respectivamente). Com medidas de ganho de peso pós-desmama e circunferência escrotal, o P205 tem correlações positivas e de moderada magnitude, segundo Eler e Ferraz (1998), sendo suas estimativas apresentadas na Tab. 4. 2.2.3. Peso ao ano de idade O peso ao ano de idade apresenta efeitos maternos residuais, além de expressar o mérito do animal para crescimento. Nájera Ayala (1990) observou efeitos significativos (P<0,05) de touro, fazenda, sexo, manejo, mês e ano de nascimento sobre a medida de peso ao ano de idade, em animais da raça Nelore. Obteve estimativa de herdabilidade direta na ordem de 0,15±0,06 e correlações genéticas com peso ao nascimento e com peso à desmama, de 31 0,13±0,30 e 0,81±0,15, respectivamente. Eler et al. (1989) observaram, ainda, que além dos fatores não-genéticos de sexo, rebanho, ano e estação de nascimento, a classe de idade da vaca ao parto também influenciou significativamente o peso ao ano de idade, em 18.751 animais da raça Nelore do Estado de São Paulo. Efeitos de interação entre ano de nascimento, mês de nascimento e ordem de parição da vaca foram significativos sobre a expressão do peso aos 360 dias de idade, no estudo de Bergmann (1982) com animais da raça Nelore. Efeitos médios de ano e mês de nascimento, sexo e ordem de parição da vaca também foram, segundo o autor, estatisticamente significativos. Outras estimativas de herdabilidade, para a raça Nelore, encontram-se na Tab. 2. A estimativa de herdabilidade direta variou de 0,02 a 0,62 e de herdabilidade materna, entre 0,03 e 0,18, conforme o número de animais estudados, metodologia empregada etc. A correlação genética entre efeito direto e efeito materno apresentou grande variação entre os trabalhos pesquisados (de –0,91 a 0,09). Biffani et al. (1998) obtiveram estimativa de herdabilidade direta para peso ao ano de idade igual a 0,32±0,07. As correlações genéticas entre essa característica e os pesos ao nascimento, à desmama e ao sobreano, e o ganho de peso pós-desmama foram de moderada a alta magnitude e sempre positivas. Altas e positivas correlações fenotípicas e ambientes foram verificadas com as características de peso anteriormente citadas e o ganho de peso da desmama ao ano de idade. Para o ganho de peso do ano de idade ao sobreano, essas correlações foram nulas ou ligeiramente negativas (Tab. 5). O valor da estimativa de herdabilidade do peso ao ano de idade, obtido por Winder et al. (1990) para animais Red Angus, foi de 0,40±0,02. A Tab. 6 apresenta essa e outras estimativas de correlação genética, fenotípica e ambiente entre o peso ao ano e taxas de crescimento relativo às várias idades. 32 2.2.4. Peso ao sobreano (ou peso ao ano e meio de idade) Esta medida, basicamente, reflete o mérito próprio do indivíduo em ganhar peso e também expressa a capacidade, nos animais a pasto em condições tropicais, de ganho compensatório, após o estresse sofrido durante a época com menor disponibilidade de alimentos. É mais livre do efeito materno residual (Eler e Ferraz, 1998), encontrado no peso a um ano de idade, e apresenta correlações mais altas com o peso ao abate. Assim, é uma importante medida a ser considerada nos programas de seleção. Representa, nos zebuínos, a idade em que os animais entram em reprodução ou um dos pesos usados na negociação comercial, peso médio próximo a 300kg. Os efeitos de sexo-estação-ano do parto e touro foram significativos sobre a expressão da característica peso ao sobreano ajustado para 550 dias de idade (Lôbo et al., 1993). O sexo, mês e ano de nascimento do animal influenciaram todos os pesos, do nascimento aos 24 meses de idade, no estudo de Amaral et al. (1986), com a raça Nelore. A idade da vaca somente não foi uma influência significativa para o peso ao sobreano. As interações entre fatores não-genéticos (anoe mês de nascimento e ordem de parição da vaca) e os efeitos médios de ano e mês de nascimento e do sexo do animal influenciaram, segundo Bergmann (1982), a expressão do peso do animal aos 540 dias de idade. Em discordância à afirmativa de Eler et al. (1996), de que a literatura é bastante pobre em referências a parâmetros genéticos de peso ao sobreano, apresenta-se, na Tab. 2, algumas estimativas encontradas para peso ao sobreano ajustado para 550 dias de idade (P550) e para 570 dias de idade (P570), na raça Nelore. Dado o maior uso desta característica como critério de seleção, trabalhos mais recentes preocuparam-se em obter as estimativas de parâmetros genéticos para o peso ao sobreano. Observa-se variação de 0,08 a 0,83 para a herdabilidade direta, de 0,04 a 0,07 para herdabilidade materna e de 0,01 a 0,08 para a correlação genética entre efeito direto e efeito materno. O trabalho de Biffani et al. (1998) mostrou que as correlações genéticas, fenotípicas e ambientes, entre o P550 e todos os pesos e ganho de peso anteriores foram altas e positivas (Tab. 5). 33 2.2.5. Ganhos de peso pré e pós-desmama O cálculo dos ganhos de peso nas fases pré e pós-desmama auxilia e muito o processo seletivo dos animais, e tem sido uma das ferramentas mais utilizadas pelos criadores, substituindo, em parte, a medida de peso, pois possibilitaria a escolha de animais mais precoces. O ganho de peso pré-desmama é fortemente influenciado pela habilidade materna da vaca, enquanto que o ganho de peso pós- desmama representa a capacidade individual de crescimento, porém com influência ambiente considerável. Ambas as medidas participam da formação dos critérios taxa de crescimento relativo e dias para atingir determinado peso de mercado. O ganho de peso da desmama ao ano de idade, segundo Oliveira Filho e Duarte (1987), sofreria influência significativa (P<0,05) dos efeitos de sexo, rebanho, manejo alimentar, idade da vaca, ano e mês de nascimento, além da interação sexo-manejo alimentar, em estudo realizado com 7.973 animais da raça Nelore. Para a raça Tabapuã, Ledic (1983) observou que os fatores não-genéticos (sexo, mês e ano de nascimento do animal e interação mês-ano) influenciaram significativamente os ganhos de peso do nascimento aos 90 dias de idade, do nascimento aos 205 dias de idade e dos 90 dias aos 205 dias de idade. Interações sexo-mês influenciaram o último ganho de peso citado, porém a idade da vaca ao parto não foi importante para esse ganho de peso, sendo importante para os outros dois ganhos de peso anteriores. Os efeitos de mês, ano, sexo, touro e interações sexo-manejo e ano- manejo influenciaram de maneira significativa os ganhos de peso diários nas fases pré e pós-desmama, em animais da raça Nelore estudados por Oliveira Filho (1979). As estimativas de herdabilidade para o ganho de peso pré- desmama, na raça Nelore, variam de 0,06 a 0,59 (Mortari, 1976; Oliveira Filho e Duarte, 1980; Silva et al., 1981; Trovo, 1983; Cardellino e Castro, 1987; Eler et al., 1989; Paz et al., 1995), o que sugere viabilidade de seleção para tal característica. Para o ganho de peso da desmama ao ano de idade de animais da raça Nelore, Oliveira Filho e Duarte (1987) e Biffani et al. (1998) encontraram estimativas de herdabilidade, respectivamente, de 34 0,13±0,02 e 0,24±0,06. Esta característica apresentou baixa correlação genética e correlações fenotípicas e ambientais negativas com o ganho de peso na fase posterior. O ganho de peso do ano de idade ao sobreano, segundo estudo de Biffani et al. (1998), teve estimativa de herdabilidade da ordem de 0,16+0,07. Correlações genéticas entre o ganho de peso da desmama ao sobreano, ajustado para 365 dias, e o peso aos 205 dias e aos 550 dias de idade foram apresentadas por Eler e Ferraz (1998), sendo, respectivamente, iguais a 0,16 e 0,62. Smith e Cundiff (1976) estudaram as correlações genéticas entre os ganhos pré e pós-desmama e as taxas de crescimento relativo às várias idades, em animais de raças européias. Os valores encontrados pelos autores foram sumarizados na Tab. 7. 2.2.6. Taxas de crescimento relativo O uso do crescimento proporcional como estratégia para alterar a forma da curva de crescimento dos animais foi descrito por Fitzhugh e Taylor (1971). Geralmente, o crescimento proporcional é conhecido como taxa de crescimento relativo (TCR), a qual é uma expressão da porcentagem de ganho de peso por dia em relação ao peso no final do período. Os autores estimaram a variação genética, herdabilidades e correlações genéticas para taxa de crescimento absoluto (ou TCA, razão peso-idade), taxa de maturidade absoluta (ou TMA, razão grau de maturidade-idade) e taxa de crescimento relativo (ou TCR, razão log(peso)-idade) de fêmeas Hereford e concluíram que houve tanta variação genética no grau de maturidade ao nascer, aos seis, aos 12 e aos 18 meses de idade, quanto no próprio peso corporal e que as estimativas de herdabilidade foram semelhantes (Tab. 8, 9 e 10). Smith et al. (1976) sugeriram que a seleção para taxa de crescimento relativo poderia aumentar efetivamente as taxas de crescimento às idades de mercado, muito além do que a seleção para peso adulto, e Smith e Cundiff (1976) concluíram que a seleção para taxa de crescimento relativo pós-desmama ou pós- natal poderia aumentar o grau de maturidade dos animais aos 452 dias de idade, sem elevar o peso adulto. Adicionalmente, essas taxas foram favoravelmente correlacionadas com consumo diário de energia metabolizável e energia metabolizável/unidade de ganho de peso vivo (Tab. 7 e 11). 35 Tabela - 8. Médias aritméticas e estimativas de herdabilidade para taxa de crescimento absoluto (TCA), taxa de maturidade absoluta (TMA) e taxa de crescimento relativo (TCR) para intervalos de idade sucessivos ª Taxas médias/dia Herdabilidades Intervalo de idades TCA (kg) TMA (%A)b TCR (%) TCA TMA TCR Pré-natal - - - 0,38 0,22 - 0 a 6 meses 0,79 0,16 0,90 0,40 0,42 0,27 6 a 12 meses 0,21 0,04 0,10 0,45 0,46 0,47 12 a 18 meses 0,62 0,13 0,23 0,35 0,24 0,24 18 meses a maturidade - - - 0,48 0,42 0,42 ª Adaptado de Fitzhugh e Taylor, 1971. b Taxa de maturidade absoluta expressa em porcentagem do peso à maturidade (A). Tabela - 9. Estimativas de correlações genéticas entre taxas de crescimento em diferentes intervalos de idade ª Intervalo de idades Intervalo de idades 0 a 6 meses 6 a 12 meses 12 a 18 meses 18 meses a maturidade Pré-natal TCA 0,46 0,07 0,43 0,43 TMA 0,35 -0,15 0,04 -0,30 TCR* - - - - 0 a 6 meses TCA -0,23 0,49 -0,07 TMA -0,39 0,36 -0,70 TCR -0,41 0,00 -0,50 6 a 12 meses TCA -0,06 0,17 TMA -0,31 -0,22 TCR -0,46 -0,04 12 a 18 meses TCA -0,03 TMA -0,57 TCR 0,12 ª Adaptado de Fitzhugh e Taylor, 1971; TCA= taxa de crescimento absoluto, TMA= taxa de maturidade absoluta, TCR= taxa de crescimento relativo.* taxa de crescimento relativo pré-natal não foi determinada. 36 Tabela - 10. Estimativas de correlações genéticas entre pesos (no ponto médio do intervalo) e medidas de taxa de crescimento para intervalos de idade sucessivos ª Pesos no intervalo de idades Intervalo de idades Pré- natal 0 a 6 meses 6 a 12 meses 12 a 18 meses 18 meses a maturidade Pré-natal TCAb 1,00 0,46 0,07 0,43 0,43 TMAc 0,46 -0,09 -0,11 -0,09 0,13 TCRd,e - -0,41 -0,09 0,00 0,13 0 a 6 meses TCA 0,70 0,96 -0,17 0,53 0,11 TMA 0,21 0,51 -0,34 0,17 -0,26 TCR - 0,37 -0,42 0,00 -0,26 6 a 12 meses TCA 0,63 0,89 0,22 0,49 0,06 TMA 0,19 0,39 0,05 0,07 -0,37 TCR - 0,35 -0,04 -0,21 -0,37 12 a 18 meses TCA 0,60 0,71 0,45 0,63 0,11 TMA -0,09 0,14 0,27 0,15 -0,36 TCR - 0,20 0,22 -0,11 -0,36 18 meses a maturidade TCA 0,69 0,56 0,38 0,62 0,56 TMA -0,27 -0,20 0,08 0,04 0,11 TCR - -0,02 0,12 0,14 0,11 ª Adaptado de Fitzhugh e Taylor, 1971. b entre peso e taxa de crescimento absoluto (TCA); c entre peso e taxa de maturidade absoluta (TMA); d entre peso e taxa de crescimento relativo (TCR);e taxa de crescimento relativo pré-natal não foi determinada. Ainda, segundo Kemp (1990), a seleção pela taxa de crescimento relativo poderia favorecer taxas de crescimento maiores, sem aumento do tamanho adulto dos animais, mas com menor intensidade que a seleção para taxa de crescimento absoluto (TCA). A taxa de crescimento relativo teve estimativa de herdabilidade moderada, podendo responder à seleção massal direta. 37 Tabela - 11. Médias aritméticas e estimativas de herdabilidade para taxas de crescimento relativo (TCR), em animais puros e cruzados das raças Angus, Hereford e Shorthorn ª TCR Média* h2±EP Pré-desmama 0,885 0,05±0,12 Pós-desmama 0,265 0,25±0,14 Pós-natal 0,540 0,64±0,18 ª Adaptado de Smith e Cundiff, 1976. h2±EP= herdabilidade±erro-padrão. * Porcentagem de aumento do peso corporal/dia, em relação ao peso no final do período. As vantagens e desvantagens do uso da taxa de crescimento relativo foram discutidas por Winder et al. (1990). Os autores comentaram que medidas relativas de crescimento, expressas como razão, não refletem necessariamente o fenômeno biológico envolvido. O método de cálculo pareceu causar dois resultados, um cuja expressão do ganho relativo ao peso teve pequena variação, com exceção da taxa de crescimento relativo pós- desmama, possivelmente pelo ganho compensatório; as correlações seriam resultantes das relações matemáticas entre características do numerador e do denominador da razão, e não por causas biológicas. Concluíram que taxa de crescimento pode ser aumentada sem acréscimo subseqüente nos pesos ao nascimento e à idade adulta, mas, no entanto, que taxas de crescimento foram medidas viciadas e ineficientes para crescimento. 2.2.7. Dias para atingir determinado peso de mercado Na indústria suinícola o tempo para chegar a uma unidade de produto é utilizado como um dos critérios de seleção há várias décadas e, com isso, observou-se rápido progresso genético e uniformidade da produção. Normalmente, nos programas de melhoramento de suínos, a seleção é praticada sobre poucas características de importância econômica. O número de leitões nascidos vivos e o peso da leitegada aos 21 dias de idade são usualmente considerados como características maternas importantes. As características de crescimento são ganho médio diário ou dias para atingir 104kg e, para qualidade de carcaça, a espessura média de toucinho. A resposta à seleção para estas 38 características depende de vários fatores, como da herdabilidade, da intensidade de seleção e da habilidade do criador em identificar os animais geneticamente superiores, em um dado grupo (Ferraz e Johnson, 1993). No Brasil, Fries et al. (1996) realizaram estudo sobre possíveis conseqüências da seleção para incrementar pesos às idades- padrão (desmama e pós-desmama) vs. reduzir idades para produzir unidades de mercado, comparando ganho de peso do nascimento aos 205 dias de idade com dias para ganhar 160 kg de peso, em animais das raças Polled Hereford e Nelore. Para que os custos de produção fossem minimizados, deveria-se atingir uma unidade de produto (kg de bezerro desmamado ou de novilho terminado) em períodos de tempo cada vez menores. Para isso, uma ótima taxa de ganho de peso e, possivelmente, uma melhor eficiência alimentar seriam fundamentais durante as fases de cria/recria e terminação dos animais. Encontraram estimativa de herdabilidade direta, para dias para atingir 160kg, da ordem de 0,40 e herdabilidade materna igual a 0,12, concluindo que a seleção por dias para 160kg seria mais eficiente que a seleção por ganho de peso pré-desmama. Em 1998, Albuquerque e Fries estimaram as herdabilidades direta e materna das características dias para atingir 160kg (D160) e dias para atingir 240kg de peso vivo (D240), em animais da raça Nelore. Foram observados valores de 0,22 e 0,36, respectivamente, para a herdabilidade direta de D160 e D240, e de 0,14 para a herdabilidade materna de D160. Reyes et al. (1997) e Garnero et al. (1998), seguindo a mesma idéia de seleção para reduzir o tempo até a terminação dos animais ao peso de abate, estudaram o ganho de peso por dia de idade até os 120, 200, 310 e 350kg, juntamente com pesos-padrão aos 120, 240, 365 e 550 dias de idade e o peso real às idades mencionadas, em animais da raça Nelore, no Brasil. Em análise com característica única, os valores de herdabilidade encontrados foram semelhantes aos valores para pesos pré-desmama e variaram de 0,21 a 0,27 (direta) e 0,00 a 0,16 (materna), sendo a correlação genética entre efeito direto e efeito materno sempre negativa, variando de –0,42 a –0,24. Concluíram, baseados nos valores de herdabilidade estimados, que, para o período pós- 39 desmama, a seleção por peso seria mais eficiente que o ganho de peso por dia de idade. 40 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1. Descrição das fazendas As condições climáticas e edafológicas das duas fazendas utilizadas neste estudo são bastante semelhantes. As pastagens, em sua quase totalidade, são formadas por braquiária (Brachiaria sp) ou capim colonião (Panicum maximum). As instalações são adequadas à criação de bovinos de corte. Ocorrem duas estações de monta ao ano: a primeira, de novembro a janeiro, resultando mais da metade dos partos no mês de setembro, e a segunda, de 15 de março a 30 de abril, ocorrendo os nascimentos de janeiro a fevereiro do ano seguinte. Animais denominados “fora de época” seriam aqueles pertencentes à segunda estação de monta. O número de registros para cada característica analisada, por fazenda e por ano de nascimento foi representado de forma gráfica e encontra-se no Anexo I. 3.1.1. Fazenda São Francisco A fazenda São Francisco está situada no município de Magda, região de Araçatuba, Estado de São Paulo e pertence à Agropecuária CFM Ltda. Localiza-se a uma altitude média de 525m acima do nível do mar, a 20°34’03’’ de latitude Sul e 50°13’49’’ de longitude Oeste. O clima predominante é o de verões chuvosos, com temperaturas elevadas, e um inverno com baixo índice pluviométrico, com temperaturas médias mensais e umidade relativa do ar representadas na Tab. 12. Os tipos de solo predominantes são latossolo vermelho-amarelo, latossolo eutrófico e podzólico eutrófico. O plantel atual é constituído por 12.384 cabeças distribuídas em 15.737ha, tendo 5.014 matrizes em reprodução. 41 Tabela - 12. Características meteorológicas da região de Araçatuba, Estado de São Pauloª Meses Precipitação (mm) Temperatura média (°C) Umidade relativa do ar (%) Janeiro 219,7 24,9 75,3 Fevereiro 179,2 25,3 74,5 Março 149,0 25,3 74,6 Abril 82,9 22,3 72,3 Maio 63,7 20,2 71,8 Junho 43,6 18,3 71,1 Julho 35,9 18,5 67,1 Agosto 38,7 20,7 62,0 Setembro 67,1 21,6 61,9 Outubro 130,5 23,5 64,8 Novembro 137,4 20,2 68,3 Dezembro 211,1 24,3 72,4 Médias anuais 113,2 22,1 69,7 ª Fonte: CPTEC/INPE (clima@cptec.inpe.br), 1999. 3.1.2. Fazenda Aracanguá Localizada no município de Araçatuba, Estado de São Paulo, a fazenda Aracanguá pertence à mesma caracterização meteorológica da fazenda São Francisco. Apresenta 20°58’62’’88 de latitude Sul e 50°40’51’’36 de longitude Oeste. Os tipos de solo predominantes são areias quartzosas, latossolo eutrófico e podzólico eutrófico. Atualmente, é destinada exclusivamente à fase de engorda dos animais, possuindo 2.887 cabeças em uma área total de 4.284ha. É participante há 14 anos do programa de seleção da Agropecuária CFM Ltda. 3.2. Descrição geral dos dados O arquivo de dados analisado consistia em um total de 60.470 registros de peso às várias idades, sendo 30.886 informações de machos e 29.584 de fêmeas, filhos de 203 touros e provenientes das Fazendas São Francisco e Aracanguá. Os animais nasceram entre os anos de 1984 e 1996. 42 3.3. Métodos 3.3.1. Manipulação do Banco de dados e dos arquivos de análise As análises foram realizadas na Faculdade de Zootecnia e Engenhariade Alimentos da Universidade de São Paulo (FZEA), na cidade de Pirassununga, e na Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte. Na fase preliminar, o banco de dados da Agropecuária CFM Ltda., sob responsabilidade do Grupo de Melhoramento Animal da FZEA (atualmente com mais de 285.000 registros), foi manipulado em programa dBase IV, formando arquivo com 63.051 informações de peso às várias idades. Foram eliminados deste arquivo, dados de animais nascidos em ano anterior a 1984 e aqueles considerados “fora de época”. A consistência dos dados e a análise descritiva das características de interesse ao estudo, foram realizadas através do pacote estatístico SAS para Windows (Statistical Analysis System), versão 6.12 (1996). O novo arquivo formado apresentou 60.470 registros, sendo estudadas as características peso ao nascimento (PN), peso ao sobreano (PSOB), ganho de peso do nascimento à desmama (GPNDES), ganho de peso da desmama ao sobreano, ajustado para 345 dias (GP345), dias para atingir 160kg de peso vivo (D160), dias para atingir 300kg de peso vivo (D300), taxa de crescimento relativo pré- desmama (TCR1) e taxa de crescimento relativo pós-desmama (TCR2). As características idade da vaca (IDVACA), idade à desmama (IDDES) e idade ao sobreano (IDSOB) foram utilizadas como covariáveis nos modelos de análise genética. A idade à desmama e a idade da vaca ao parto participaram da formação das características de ganho de peso, de dias para atingir determinado peso de mercado (D160 e D300) e das taxas de crescimento relativo (TCR1 e TCR2). 3.3.2. Cálculo das características dias para atingir o peso de mercado (D160 e D300) e taxas de crescimento relativo pré e pós-desmama (TCR1 e TCR2) Os cálculos dos ganhos de peso, realizados em programa dBase IV, foram feitos para animais que apresentavam pesos diferentes de zero: 43 GPDNDES = [(PD-PESONAS)/IDDES], em que: GPDNDES é o ganho de peso diário do nascimento à desmama, em kg, que entrou na formação de GPNDES e de D160; PD é o peso do bezerro à desmama, em kg; PESONAS é o peso ao nascimento real (para animais que foram pesados logo após o nascimento) ou o peso médio da raça (29kg para as fêmeas e 31kg para os machos); IDDES é a idade do bezerro à desmama, em dias. GPNDES = GPDNDES*205, em que: GPNDES é o ganho de peso do nascimento à desmama, em kg e 205 é o fator multiplicativo que ajusta o ganho de peso diário para 205 dias. GPDSOB = (PSOB-PD)/(IDSOB-IDDES), em que: GPDSOB é o ganho de peso diário entre a desmama e o sobreano, em kg, que entrou na formação de GP345 e de D300; PSOB é o peso ao sobreano, em kg; IDSOB é a idade do animal ao sobreano, em dias. GP345 = GPDSOB*345, em que: GP345 é o ganho de peso da desmama ao sobreano ajustado para 345 dias e 345 é o fator multiplicativo que ajusta o ganho de peso diário para 345 dias. As características D160 e D300 foram calculadas segundo definições de Fries et al. (1996), para animais com GPNDES e GPDSOB diferentes de zero, com se segue: D160=(160-PESONAS)/GPDNDES, em que: PESONAS= peso ao nascimento (real ou média da raça), em kg; GPDNDES= ganho de peso diário do nascimento à desmama, em kg. D300=[(300-PD)/GPDSOB]+IDDES, em que: PD= peso à desmama, em kg; 44 GPDSOB= ganho de peso diário da desmama ao sobreano, em kg; IDDES= idade do bezerro à época da desmama, em dias. As características TCR1 e TCR2, por sua vez, foram calculadas conforme estudo de Fitzhugh e Taylor (1971), conforme se segue: TCR1 = {[log(PD)-log(PESONAS)]/IDDES}*100, em que: TCR1 é a taxa de crescimento relativo pré-desmama, em porcentagem de aumento do peso por dia de vida do animal, em relação ao peso final (PD); Log(PD)= logaritmo na base 10 do peso à desmama; Log (PESONAS)= logaritmo na base 10 do peso ao nascimento (real ou médio da raça); IDDES= idade do bezerro à época da desmama, em dias. TCR2={[log(PSOB)-log(PD)]/(IDSOB-IDDES)}*100, em que: TCR2 é a taxa de crescimento relativo pós-desmama, em porcentagem de aumento do peso por dia de vida do animal, em relação ao peso final (PSOB); Log(PSOB)= logaritmo na base 10 do peso ao sobreano; Log(PD)= logaritmo na base 10 do peso à desmama; (IDSOB-IDDES)= diferença entre as idades nas épocas de pesagem ao sobreano e à desmama. Ainda, seguindo procedimentos sugeridos por Winder et al. (1990), os valores obtidos para as características TCR1 e TCR2, expressos em porcentagem de aumento do peso por dia, foram multiplicados por 103, com o intuito de evitar problemas de escala. Para a formação do arquivo de dados final, o ganho de peso diário do nascimento à desmama (GPDNDES) foi limitado entre 0,40kg e 1,0kg e o ganho de peso diário da desmama ao sobreano (GPDSOB), entre 0,15kg e 0,60kg, excluindo-se todos os valores extremos. Assim, as tabelas representativas das análises descritivas dos dados apresentam menos observações para ganho de peso do nascimento à desmama (GPNDES) do que para dias para atingir 160kg de peso e para taxa de crescimento relativo pré-desmama. 45 3.3.3. Procedimentos adotados para as análises em MTDFREML Utilizou-se o programa MTDFREML (Multiple Trait Derivative-Free Restricted Maximum Likelihood - Boldman et al., 1995), sob sistema operacional LINUX, em computadores com processadores dos tipos Pentium II ou MMX, com velocidades de processamento variando entre 166 e 450MHz, para as análises genéticas com uma ou duas características. As estimativas dos componentes de (co)variância, necessários às estimativas de herdabilidade e de correlações genéticas, fenotípicas e ambientais foram, assim, obtidas pelo método de máxima verossimilhança restrita com algoritmo livre de derivadas sob modelo animal, com inclusão da matriz de parentesco. O arquivo de pedigree continha 74.150 animais e foi obtido com o uso do programa PED3GB, desenvolvido pelo Grupo de Melhoramento Animal da FZEA - USP. O efeito fixo de grupo de contemporâneos (GC) foi composto pelas seguintes informações: fazenda, ano de nascimento, estação de nascimento, sexo do animal, grupo de manejo à desmama e grupo de manejo ao sobreano ou somente grupo de manejo à desmama para o GC à desmama. As estimativas dos parâmetros genéticos das características pré- desmama (PN, GPNDES, D160 e TCR1), foram obtidas seguindo o modelo: y= Xβ + Zg + Mm + Wp + e, em que: y é o vetor das observações; X é a matriz de incidência que associa β a y; β é o vetor do efeito fixo (GC); Z é a matriz que associa g a y; g é o vetor dos valores genéticos para efeitos diretos; M é a matriz que associa m a y; m é o vetor dos valores genéticos para efeitos maternos; W é a matriz que associa p a y; p é o vetor dos efeitos permanentes de ambiente mais os efeitos não aditivos proporcionados pelas mães; e é o vetor dos efeitos residuais inerentes a cada observação. 46 O modelo utilizado para as características pós-desmama (GP345, PSOB, D300 e TCR2) foi como se segue: y= Xβ + Zg + e, em que: y é o vetor das observações; X é a matriz de incidência que associa β a y; β é o vetor do efeito fixo (GC); Z é a matriz que associa g a y; g é o vetor dos valores genéticos para efeitos diretos; e é o vetor dos efeitos residuais inerentes a cada observação. Em anexo (Anexo II ao Anexo VI) encontram-se os arquivos de informação para o MTDFPREP (segundo de três procedimentos que constituem o programa MTDFREML), preparados em editor Vi (sistemal operacional LINUX). Análises com característica única foram feitas para D160, D300, TCR1 e TCR2, visando a obtenção dos valores iniciais para análises posteriores. Os componentes de (co)variância obtidos foram publicados por Marcondes et al. (1998b) e representados na Tab. 18. A “característica-âncora” adotada, em análises conjuntas de duas características foi o ganho de peso do nascimento à desmama (GPNDES). Os valores iniciais para as características PN,GPNDES, PSOB e GP345 foram aqueles estabelecidos pelo Grupo de Melhoramento Animal na obtenção anual dos valores genéticos dos touros usados nas fazendas pertencentes ao programa de seleção da Agropecuária CFM Ltda. O critério de convergência considerado variou de 10-6 até 10-9. Após cada convergência, as análises eram reiniciadas e os valores da variância (-2Log L) comparados aos anteriores. Seguindo recomendações de Boldman et al. (1995), a diferença entre as - 2Log L de duas repetições sucessivas deveria ser menor que 0,002 unidades. Na análise de GPNDES com D160, após várias tentativas de convergência, sem sucesso, utilizou-se estratégia sugerida por Meyer (comunicação pessoal, 1998), fixando-se os componentes de (co)variância aditiva e ambiental para a característica de 47 interesse (D160), com o objetivo de se obter estimativas para efeito materno e correlações genéticas. Dentre as características utilizadas como critério de seleção e objeto deste trabalho, também estava incluído o peso à desmama. Entretanto, após várias tentativas, não foi possível obter-se convergência nas análises conjuntas da característica com o ganho de peso do nascimento à desmama (característica-âncora). 48 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO As Tab. 13, 14, 15, 16 e 17 apresentam as estatísticas descritivas das características estudadas, por fazenda ou sexo e do arquivo final de análise. Estatísticas descritivas são importantes no reconhecimento e avaliação da instabilidade das variáveis. Medidas de desempenho, geralmente, estão sob influência de muitos fatores ambientais. Além disso, as pesagens na fazenda, mesmo quando muito bem feitas, são práticas de manejo sujeitas aos fatores externos, desde quem faz a leitura (peão) até as condições climáticas do dia da pesagem. Erros posteriores podem surgir, também, principalmente na manipulação das fichas de campo e incorporação das informações no Banco de dados. O coeficiente de variação (CV) ou de instabilidade relativa tem importante papel na caracterização das respostas de interesse. Geralmente, experimentos a campo geram respostas com CV’s mais altos que experimentos laboratoriais ou com ambiente controlado (valores entre dez e 20% são comumente encontrados). No entanto, a maioria dos trabalhos publicados na área de melhoramento animal não apresentam CV em seus resultados. Para medidas relativas (como as taxas de crescimento estudadas, que relacionam pesos às idades), espera-se menores CV’s, visto que, de certa forma, seriam corrigidas para os efeitos de idade. Os coeficientes de variação observados para as características PN, PD, PSOB, GPNDES, D160 e TCR1 estão dentro do esperado para medições a campo, de animais que apresentam menor uniformidade (quando comparados com aves ou suínos). A exclusão de ganhos de peso diários (pré e pós-desmama) antes da formação das características dias para determinado peso de mercado (D160 e D300), das taxas de crescimento relativo (TCR1 e TCR2) e do cálculo do ganho de peso da desmama ao sobreano (GP345) poderia ter reduzido os CV’s para níveis dentro dos padrões, tanto para os dados analisados separadamente (por fazenda ou por sexo), quanto para o arquivo total de dados. 49 Tabela - 13. Número de observações (N), médias aritméticas, desvios- padrão (DP), coeficiente de variação (CV), valores mínimos (MIN) e máximos (MAX) das características estudadas na fazenda São Francisco, entre os anos de 1984 e 1996 (47.140 animais no total). Características 1 N Média DP CV MIN MAX IDVACA (meses) 47.140 72,9 37,33 51,2% 23 240 IDDES (dias) 46.883 192,4 15,71 8,2% 129 312 IDSOB (dias) 16.969 563,8 43,09 7,6% 430 671 PN (kg) 16.444 30,25 3,60 11,9% 15 58 PD (kg) 46.862 175,67 25,66 14,6% 64 311 PSOB (kg) 16.741 313,97 50,30 16,0% 100 614 GPNDES (kg) 46.859 155,16 21,13 13,6% 82 205 GP345 (kg) 16.702 117,84 33,05 28,0% 8,79 334,34 D160 (dias) 46.860 176,6 35,35 20,0% 97 638 D300 (dias) 16.702 560,2 158,65 28,3% 202 6081 TCR1 (%/dia)* 46.862 915,6 78,95 8,6% 314,3 1398,1 TCR2 (%/dia)* 16.696 138,8 31,80 22,9% 13,0 365,6 1 IDVACA = idade da vaca ao parto, IDDES = idade do bezerro à desmama, IDSOB= idade do animal ao sobreano, PN = peso ao nascer, PD = peso à desmama, PSOB = peso ao sobreano, GPNDES = ganho de peso do nascimento à desmama, GP345 = ganho de peso da desmama ao sobreano, D160 = dias para atingir 160kg de peso, D300 = dias para atingir 300kg de peso, TCR1 = taxa de crescimento relativo pré-desmama (x10-3), TCR2 = taxa de crescimento pós-desmama (x10 –3). Tabela - 14. Número de observações (N), médias aritméticas, desvios- padrão (DP), coeficiente de variação (CV), valores mínimos (MIN) e máximos (MAX) das características estudadas na fazenda Aracanguá, entre os anos de 1984 e 1996 (total de 13.330 animais). Características 1 N Média DP CV MIN MAX IDVACA (meses) 13.330 72,4 35,83 49,5% 23 216 IDDES (dias) 13.298 195,6 18,74 9,6% 122 284 IDSOB (dias) 4.810 591,7 41,31 7,0% 450 694 PN (kg) 6.262 31,89 4,05 12,7% 15 50 PD (kg) 13.298 180,42 25,18 14,0% 63 291 PSOB (kg) 4.634 329,11 44,11 13,4% 153 493 GPNDES (kg) 13.029 156,18 20,62 13,2% 82,62 205 GP345 (kg) 4.634 126,11 27,80 22,0% 11,73 237,93 D160 (dias) 13.298 172,6 29,65 17,2% 93 625 D300 (dias) 4.634 531,2 126,44 23,8% 245 4956 TCR1 (%/dia)* 13.298 904,8 86,82 9,6% 437,2 1482,2 TCR2 (%/dia)* 4.633 146,9 27,80 21,7% 23,4 280,7 1 IDVACA = idade da vaca ao parto, IDDES = idade do bezerro à desmama, IDSOB= idade do animal ao sobreano, PN = peso ao nascer, PD = peso à desmama, PSOB = peso ao sobreano, GPNDES = ganho de peso do nascimento à desmama, GP345 = ganho de peso da desmama ao sobreano, D160 = dias para atingir 160kg de peso, D300 =dias para atingir 300kg de peso, TCR1 =taxa de crescimento relativo pré-desmama (x10-3), TCR2 =taxa de crescimento pós- desmama (x10-3) 50 Tabela - 15. Número de observações (N), médias aritméticas, desvios- padrão (DP), coeficiente de variação (CV), valores mínimos (MIN) e máximos (MAX) das características estudadas, nos machos (30.886 animais, nascidos entre 1984 e 1996). Características 1 N Média DP CV MIN MAX IDVACA (meses) 30.886 73,0 37,05 50,7% 23 228 IDDES (dias) 30.724 192,7 16,42 8,5% 122 312 IDSOB (dias) 10.905 576,9 48,02 8,3% 449 691 PN (kg) 11.675 31,95 3,81 11,9% 15 58 PD (kg) 30.704 183,70 26,28 14,3% 71 311 PSOB (kg) 10.767 348,83 42,26 12,1% 100 614 GPNDES (kg) 29.718 161,46 21,20 13,1% 82 205 GP345 (kg) 10.745 138,84 27,83 20,0% 10,04 334,34 D160 (dias) 30.702 167,2 33,62 20,1% 93 638 D300 (dias) 10.745 469,6 99,38 21,2% 202 3034 TCR1 (%/dia)* 30.704 916,7 83,33 9,1% 314,3 1482,2 TCR2 (%/dia)* 10.739 152,7 28,47 18,6% 13,0 325,2 1 IDVACA = idade da vaca ao parto, IDDES= idade do bezerro à época da desmama, IDSOB = idade do bezerro ao sobreano, PN = peso ao nascer, PD= peso à desmama, PSOB = peso ao sobreano, GPNDES = ganho de peso do nascimento à desmama, GP345= ganho de peso da desmama ao sobreano, D160 = dias para atingir 160kg de peso, D300= dias para atingir 300kg de peso, TCR1= taxa de crescimento relativo pré-desmama vezes 10-3, TCR2= taxa de crescimento pós-desmama vezes 10 -3. Tabela - 16. Número de observações (N), médias aritméticas, desvios- padrão (DP), coeficientes de variação (CV), valores mínimos (MIN) e máximos (MAX) das características estudadas, nas fêmeas (29.584 animais, nascidas entre 1984 e 1996). Características 1 N Média DP CV MIN MAX IDVACA (meses) 29.584 72,5 36,95 51% 23 240 IDDES (dias) 29.457 193,5 16,53 8,5% 123 300 IDSOB (dias) 10.874 563,0 47,09 8,4% 430 678 PN (kg) 11.031 29,38 3,32 11,3% 15 47 PD (kg) 29.456 169,45 22,76 13,4% 63 260 PSOB (kg) 10.608 285,19 32,69 11,5% 100 481 GPNDES (kg) 29.170 149,19 18,92 12,7% 82 205 GP345 (kg) 10.591 100,15 23,32 23,3% 8,79 241,42 D160 (dias) 29.456 184,6 32,55 17,6% 102 625 D300 (dias) 10.591 639,4 149,76 23,4% 342 6081 TCR1 (%/dia)* 29.456 909,7 78,09 8,6% 434,4 1470,3 TCR2 (%/dia)* 10.590 128,2 28,84 22,5% 16,2 365,6 1 IDVACA = idade da vacaao parto, IDDES = idade do bezerro à época da desmama, IDSOB = idade do bezerro ao sobreano, PN = peso ao nascer, PD = peso à desmama, PSOB = peso ao sobreano, GPNDES = ganho de peso do nascimento à desmama, GP345 = ganho de peso da desmama ao sobreano, D160 = dias para atingir 160kg de peso, D300 = dias para atingir 300kg de peso, TCR1 = taxa de crescimento relativo pré-desmama vezes 10-3, TCR2 = taxa de crescimento pós-desmama vezes 10 -3. 51 Tabela - 17. Número de observações (N), médias aritméticas, desvios- padrão (DP), coeficiente de variação (CV), valores mínimos e máximos das características estudadas, entre os anos de 1984 e 1996 (total de 60.470 animais). Características 1 N Média DP CV Mínimo Máximo IDVACA (meses) 60.470 72,8 37,0 50,8% 23,0 240,0 IDDES (dias) 60.181 193,1 16,5 8,5% 122,0 312,0 IDSOB (dias) 21.779 570,0 44,2 7,8% 430,0 694,0 PN (kg) 22.706 30,7 3,8 12,4% 15,0 58,0 PD (kg) 60.160 176,7 25,6 14,5% 63,0 311,0 PSOB (kg) 21.375 317,3 49,4 15,6% 100,0 614,0 GPNDES (kg) 58.888 155,4 21,0 13,5% 82,0 205,0 GP345 (kg) 21.336 119,6 32,2 26,9% 8,8 334,3 D160 (dias) 60.158 175,7 34,2 19,5% 93,0 638,0 D300 (dias) 21.336 553,9 152,7 27,6% 202,0 6081,0 TCR1 (%/dia)* 60.160 913,2 80,9 8,9% 314,3 1482,2 TCR2 (%/dia)* 21.329 140,5 31,1 22,1% 13,0 365,6 1 IDVACA = idade da vaca ao parto, IDDES = idade do bezerro à época da desmama, IDSOB = idade do bezerro ao sobreano, PN = peso ao nascer, PD = peso à desmama, PSOB = peso ao sobreano, GPNDES = ganho de peso do nascimento à desmama, GP345 = ganho de peso da desmama ao sobreano, D160 = dias para atingir 160kg de peso, D300 = dias para atingir 300kg de peso, TCR1 = taxa de crescimento relativo pré-desmama (x10-3), TCR2 = taxa de crescimento pós-desmama (x10-3). Os animais da Fazenda Aracanguá mostraram-se, em média, mais pesados em todas as fases consideradas (do nascimento ao sobreano), atingindo mais rapidamente os pesos de mercado (160 ou 300kg), através de maiores ganhos pré e pós-desmama. No entanto, em média, os animais da Fazenda São Francisco crescem a taxas mais rápidas, na fase pré-desmama, possivelmente atingindo mais rapidamente o peso final (PD). O maior valor da média para taxa de crescimento relativo pós-desmama, na Fazenda Aracanguá, confirma tal conclusão. Os machos foram mais pesados, em média, que as fêmeas, em todas as fases consideradas. Apresentaram maiores ganhos médios pré e pós-desmama e, consequentemente, atingiram os pesos de mercado mais rapidamente que as fêmeas. No entanto, as fêmeas cresceriam a taxas mais altas, em média, na fase pré- desmama, que os machos, desacelerando o crescimento na fase pós-desmama, o que sugere que as fêmeas chegariam mais rapidamente ao peso final estipulado (PD). Também, aliado a isso, os pesos finais (PD e PSOB) das fêmeas foram, em média, inferiores aos pesos dos machos. Quanto aos CV’s, as mesmas considerações para as fazendas podem ser feitas para machos e fêmeas, em separado. 52 A estatística descritiva do arquivo de dados total apresentou CV’s mais altos que o esperado, conforme discutido anteriormente para as análises com dados separados por fazenda ou por sexo do animal. A existência de animais que necessitariam de 638 dias para atingir 160kg de peso vivo ou de animais que levariam 6081 dias até atingir 300kg pode ser explicada através dos seguintes exemplos: Animal A PN= 30,7kg (média da população estudada); Ganho de peso diário pré-desmama = 0,2026kg D160=(160-30,7)/0,2026 ⇒ 638 dias para atingir 160kg de peso. Animal B PD= 89kg com idade de 220 dias; Ganho de peso pós-desmama = 0,036kg D300=[(300-89)/0,036]+220 ⇒ 6081 dias até atingir 300kg. 4.1. Análises com característica única A Tab. 18 apresenta os valores obtidos para os componentes de (co)variância e estimativas de parâmetros genéticos das características D160, D300, TCR1 e TCR2. Tabela - 18. Componentes de (co)variância, estimativas de herdabilidade direta (h2d) e materna (h2m)ª, correlação genética entre efeito direto e materno (rgam)ª, efeito de ambiente permanente de vaca (c2)ª e efeito de ambiente temporário (e2) para as características D160, D300, TCR1 e TCR2b, em análises com característica únicac. σ2P σ2A σ2E h2d h2m rgam c2 e2 D160 839,3 118,4 661,5 0,14 0,09 -0,25 0,01 0,79 D300 11784,4 1060,6 10442,7 0,09 - - - 0,91 TCR1 3546,2 372,0 2763,3 0,10 0,13 -0,27 0,02 0,78 TCR2 364,1 71,4 292,7 0,20 - - - 0,80 ª somente para D160 e TCR1; b D160= dias para atingir 160kg de peso vivo; D300= dias para atingir 300kg de peso vivo; TCR1= taxa de crescimento relativo pré-desmama; TCR2= taxa de crescimento relativo pós-desmama; c σ2P = componente de variância fenotípica, σ2A = componente de variância genética aditiva, σ2E = componente residual; c2 = fração da variância fenotípica devida ao efeito de ambiente permanente de vaca; e2 = fração da variância fenotípica devida ao efeito de ambiente temporário (variância residual). 53 As estimativas apresentadas na Tab. 18 são pouco usuais na literatura, em especial para zebuínos no Brasil, sendo, portanto, de difícil comparação. Fries et al. (1996) e Albuquerque e Fries (1998) encontraram estimativas de herdabilidade direta para D160 iguais a 0,40 e 0,22, respectivamente. A herdabilidade materna para D160, nos mesmos estudos, foi de 0,12 e 0,14, respectivamente. Para a característica dias para atingir 240kg de peso vivo (D240), Albuquerque e Fries (1998) observaram estimativa de herdabilidade direta igual a 0,36. Os valores estimados da herdabilidade direta foram de baixa magnitude (menores ou iguais a 0,20, Tab. 18), porém observou-se a importância do efeito genético materno sobre as características medidas no período pré-desmama. Diferenças na modelagem dos efeitos genéticos e não-genéticos que afetariam as características D160 e D300 podem ter ocorrido entre esse estudo e aqueles desenvolvidos por Fries et al. (1996) ou Albuquerque e Fries (1998). Além disso, as populações estudadas não foram as mesmas e, muito menos, o ambiente de criação foi semelhante, não permitindo, assim comparações dos resultados. Os componentes de (co)variância auxiliaram como valores iniciais nas análises conjuntas de duas características e encontram-se em anexo (Anexo VII). Verificou-se pouca influência do efeito de ambiente permanente da vaca (c2) sobre as características D160 e TCR1 (1% e 2% da variação fenotípica total, respectivamente), bem como a grande participação do ambiente temporário (e2) em todas as características (acima de 78% da variação fenotípica total). A correlação negativa e moderada entre os efeitos direto e materno indica a necessidade de inclusão dos efeitos maternos nos programas de seleção, permitindo resultados mais confiáveis, a longo prazo, do que a seleção baseada unicamente no efeito genético direto. Uma prática adotada nas fazendas pertencentes ao grupo da Agropecuária CFM Ltda. pode ter prejudicado as estimativas para ambiente permanente da vaca. Era comum a troca de reprodutrizes entre fazendas, com posterior mudança no número da vaca. Isso não permitiria o perfeito acompanhamento da vida reprodutiva da vaca e causaria estimativas pouco expressivas do seu ambiente permanente. 54 4.2. Análises conjuntas com duas características A Tab. 19 apresenta os valores obtidos para os componentes de (co)variância e parâmetros genéticos, em análises com duas características (valores iniciais encontram-se no Anexo VIII). 4.2.1. Coeficientes de herdabilidade Para a característica ganho de peso pré-desmama obteve-se mais de uma estimativa dos parâmetros herdabilidade direta (h2d1) e herdabilidade materna (h2m1), pois foi a característica adotada como âncora e combinada com todas as outras. A h2d1 variou de 0,11 a 0,20, enquanto que a h2m1 variou de 0,03 a 0,16. Os coeficientes de herdabilidade direta obtidos nesse estudo encontram-se, para as características PN, GPNDES e PSOB, de acordo com a revisão apresentada nas Tab.