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TEMA 01 - A COLONIZAÇÃO PORTUGUESA NO VALE DO GUAPORÉ A exploração do vale do Guaporé no século XVIII Para compreender a ocupação do vale do Guaporé pelos europeus, temos que analisar as disputas territoriais entre Portugal e Espanha no século XVIII. É sabido que anterior a este período já havia andanças por parte dos ibéricos por esta parte, porém a colonização sistemática passou a ser somente no século XVIII, entre outros motivos, a descoberta de ouro e também para consolidar as fronteiras lusitanas e hispânicas na região. No final do século XVII e início do século XVIII foi encontrado ouro na região (atual) de Minas Gerais e Goiás. E devido à grande imigração dos lusitanos da península para o Brasil, vários dos bandeirantes que haviam descobertos tais veias auríferas acabaram por serem expulsos destas minas descobertas e tiveram deslocar para outras partes em busca de novos achados e também de prear as populações nativas. Nas andanças destes paulistas pelo interior (no sentindo oeste) chegaram então ao atual Mato Grosso, e as margens do rio Coxipó, encontraram então ouro. Mais tarde no córrego denominado de prainha, o maior achado de ouro daquelas bandas foi descoberto, a famosa Lavras do Sutil, tudo isso ainda na primeira parte do século XVIII. Porém até 1750 as lavras de Cuiabá já apresentaram forte esgotamento, pois as técnicas de exploração eram muito rudimentares. E esse “rápido” esgotamento levaram a importantes consequências na ocupação das terras a oeste: “... Assim, os mineiros mais afoitos, na ânsia de encontrar ouro em maior profusão, deixavam Cuiabá, seguindo rumos diversos. Dessa movimentação, foram descobertas outras jazidas de menor proporção, responsáveis pelo povoamento de área a Oeste que, pelo Tratado de Tordesilhas, não pertenceria oficialmente a Portugal...” (SIQUEIRA, p.40) A movimentação das populações lusitana acabou por modificar as fronteiras entre Portugal e Espanha. O Tratado de Tordesilhas já havia sido “rasgado” há tempos. Porém a cada dia os portugueses ampliavam ainda mais suas fronteiras para dentro do território hispânico. As fronteiras chegavam, neste momento, até o vale do rio Guaporé, que passou a ser sistematicamente ocupado, ora ordenadamente, ora desordenadamente. Inicialmente a organização não pautou a ocupação, pois quem ali chegou primeiro foram garimpeiros sem grandes condições financeiras para construção de casas e fundação de vilas. E também não era, de início, o interesse da maioria desses garimpeiros se fixarem na região, muito pelo contrário, o sonho do eldorado, era encontrar riqueza e ir embora, de preferência para a terrinha. Mas a Coroa lusitana interessada não apenas na riqueza da região, mas também na ampliação das fronteiras de seu “Império” no Brasil, passou a organizar esta ocupação. A primeira medida foi desmembrar esta região a oeste da capitania de São Paulo, criando em 1748 a capitania de Mato Grosso. Foi nomeado para ser o 1º Capitão-General desta capitania Dom Antônio Rolim de Moura, que recebeu diversas recomendações, diretamente da rainha Mariana para realizar no Mato Grosso. A principal delas: criar uma capital no extremo oeste da capitania, para assegurar o território conquistado. Além disso, criar missões jesuíticas (que foi inicialmente criada no atual município de Chapada dos Guimarães) e construir fortes e fortificações no vale do Guaporé. Em 1752 foi então criada a capital da nova Capitania, Vila Bela da Santíssima Trindade, bem às margens do rio Guaporé (apesar de todas as dificuldades da região). Para abastecer a região, uma nova estratégia foi utilizada. A via Cuiabá-Vila bela por rio era muito complicada, além disso, as monções (rios Cuiabá-Tietê), também não tinham o trajeto tão simples. A ideia era utilizar uma outra rota fluvial, navegar pelos rios Guaporé- Mamoré-Madeira-Amazonas e desaguar no Oceano Atlântico e de lá partir para a Europa. Além de “facilitar” a entrada de produtos a Vila Bela, também serviria para explorar o vale do Guaporé e a bacia Amazônica. Desta maneira várias regiões passaram a ser conhecidas, e exploradas, afastando assim a presença espanhola. Para realizar tal empreitada foi criada uma empresa (Companhia de Comércio Grão-Pará e Maranhão) que possuía o monopólio do comércio nesta região. Agindo com cautela e diplomacia, Rolim de Moura conseguiu aos poucos fundar vilas e aldeias jesuítas nas margens, tanto direita como esquerda, do Guaporé, expandindo ainda mais as fronteiras portuguesas: O 1º capitão-general foi um habilidoso diplomata, sabendo avançar para dentro dos territórios espanhóis, ampliando as fronteiras lusitanas no oeste da América, e também sabendo recuar quando uma possibilidade de conflito com os hispânicos era evidente. Criou a Companhia de Pedestres, onde recrutava qualquer homem que se disponibilizasse ou não para compor um exército, dando maior segurança à região. TEMA 02 - OS SÉCULOS XIX E XX E A EXPLORAÇÃO DA BORRACHA, POIA E CASTANHA. Os ciclos da borracha e a mão de obra indígena na região de Rondônia A partir da década de 1870, deu-se início à exploração da borracha na Amazônia e, com ela, o surgimento de uma nova frente de expansão com o surgimento de novas áreas de extrativismo. Esse período foi chamado de 1ª Ciclo da Borracha e durou até a segunda década do século XX. O auge do desabastecimento dos seringais ocorreu entre 1890 a 1915. Essa atividade extrativista tirou a Amazônia da letargia econômica em que havia caído no final do século XVIII. Em busca de novas áreas de seringais nativos, grupos de seringueiros passaram a penetrar regiões ainda não colonizadas do Madeira Mamoré e Guaporé. A força de trabalho indígena continuou, durante esse período, a participar significativamente da economia amazônica, seja “no extrativismo, nas atividades de transporte ou na lavoura, os dirigentes exploravam cruelmente o trabalho desses índios. Eram ainda os nativos vendidos ou trocados dentro da região”. Registros mostram também casos de contrabando de indígenas que eram objetos de escambo. A exploração do látex oportunizou trabalho a inúmeros migrantes, trazidos para a região pela instalação das linhas telegráficas de Rondon (1907-1915) e pela construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, entre os anos de 1907 e 1912. A construção da ferrovia consolidou as cidades de Porto Velho (atual capital do estado) e Guajará-Mirim, na divisa com a Bolívia. Porém, quando foi inaugurada a EFMM, em 1912, o preço do látex no mercado internacional já entrava em declínio e a ferrovia deixou de ter importância estratégica. Durante as décadas de 1920 e 1930, a borracha amazônica perdeu preço devido à “concorrência da produção da Malásia, finalizando assim o primeiro ciclo da borracha ocasionando a desvalorização dos látex e o abandono dos seringais em todos os vales amazônicos. Os seringais caíram no abandono a Amazônia mergulhou num profundo estado de decadência”. Os seringueiros abandonavam as suas colocações, que eram as áreas do seringal onde a borracha era produzida, e iam à busca de outras atividades que lhe permitissem a sobrevivência. Essa situação perduraria até o início dos anos de 1940. O segundo ciclo da borracha, juntamente com a exploração da cassiterita, deu- se a partir de 1939 e ocasionou a duplicação da população no então Território de Rondônia, criado no ano 1943. Esse segundo ciclo ocorreu no período da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Como os países aliados não tiveram mais acesso à borracha asiática, devido à invasão das tropas japonesas nos seringais da Malásia, os norte-americanos ficaram desprovidos dessa matéria-prima estratégica para a indústria bélica. A partir de 1941, a borracha da Amazônia era a única alternativa de abastecimento dos Estados Unidos. Neste período vários órgãos de fomento foram criados com a finalidade de captaçãode mão de obra, transporte, financiamento etc. O governo federal passou a recrutar trabalhadores nordestinos para ocuparem os seringais – denominados “soldados da borracha” – em analogia aos demais soldados que partiram, efetivamente, para os campos de batalha. Além dos ‘soldados’, a região passou a acolher grande contingente de migrantes expulsos pelas fortes secas que assolavam o nordeste brasileiro. Os nordestinos foram atraídos para os seringais de Rondônia, da mesma forma que os sulistas e os outros nordestinos foram atraídos pela propaganda governamental para os projetos de colonização. Ambas as situações se explicam pela demanda de mão de obra, assim: Em todas as regiões do Brasil, aliciadores tratavam de convencer trabalhadores a se alistar como soldados da borracha para auxiliar na vitória aliada. Dizia-se que “na Amazônia se junta dinheiro com rodo”. Os velhos mitos do eldorado amazônico voltavam a ganhar força no imaginário popular, agora considerado o paraíso verde, a terra da fartura, onde a seca não tinha vez. Entretanto essa evidente contradição no quadro social, nos dois ciclos da borracha, devia-se ao sistema de exploração, que consumiu a vida de milhares de homens e mulheres. “Nos seringais esses homens valiam menos que os escravos. Na outra extremidade, os seringalistas e grandes comerciantes usufruíam da riqueza fácil proporcionada pela borracha”. A mão de obra indígena foi utilizada, largamente, nos seringais e na construção da ferrovia Madeira-Mamoré. Os indígenas eram indispensáveis nas atividades realizadas no interior e às margens dos rios. “Esses indígenas se encarregavam de todo o trabalho braçal, carregar as mercadorias e arrastar as embarcações por terra, para contornar os acidentes do rio; levantar os acampamentos, cozinhar e servir as refeições”. Nas décadas de 1950 com a descoberta de pedras e metais preciosos e a abertura da rodovia BR 364, na década de 60/70 fizeram com que os territórios indígenas fossem ocupados também por garimpeiros e posseiros, o que agravaram ainda mais os conflitos e resultou em massacres e desocupação das suas áreas tradicionais. Naquele contexto, a exploração madeireira também passou a despertar interesse, uma vez que se tornou viável a sua retirada em grande escala, quer pelos rios da Amazônia, quer pelo eixo da rodovia BR 364. Esse conjunto de fatores tornou-se um convite para uma nova tentativa de colonização de Rondônia, e com ela, os conflitos e com as sociedades indígenas. TEMA 03 - A CONSTRUÇÃO DA EFMM E DA LINHA TELEGRÁFICA A linha telegráfica e a BR 364: um encontro com os indígenas da região Uma das preocupações do governo brasileiro por volta de 1907 foi promover a integração do Norte ao restante do país, através da porção ocidental. A Comissão Rondon foi fundamental para a formação do Território Federal do Guaporé, com a implantação das linhas telegráficas entre os anos de 1907 e 1915. No ano de 1907, Mal. Cândido Rondon foi designado oficial do corpo de engenharia militar encarregado de comandar a abertura e instalação de linhas telegráficas para integrar o Sul ao Norte país. Pretendia-se tirar do isolamento as regiões do extremo Oeste e Norte do país e romper os grandes “vazios” do Brasil, incorporando-os à civilização. Paralelamente à construção de ferrovias, o telegrafo deveria assegurar o estabelecimento de núcleos de povoamento, garantindo a segurança das fronteiras e procedia-se a uma política que possibilitaria, ao longo do tempo, a integração dos indígenas considerados arredios e de difícil contato a sociedade brasileira tornando-os “civilizados e úteis”. A descrição dos primeiros contatos com os índios em território pertencente aos atuais estados de Mato Grosso e Rondônia foi realizada por Roquette-Pinto, um médico e etnólogo renomado, diretor do Museu Nacional do Rio de Janeiro. Coube-lhe a missão de acompanhar e registrar os principais eventos da expedição de Rondon na implantação das linhas telegráficas. A exemplo do que faria mais tarde e de forma não menos brilhante o etnólogo francês Claude Lévi-Strauss, Roquette-Pinto, descreve o contato com os índios Nhambikwara8 grupos situados na região limítrofe entre Mato Grosso e Rondônia. A Comissão Rondon, atribuía-se também as funções de exploração etnológica e antropológica. Em seu avanço sobre os sertões do Oeste, pacificou várias tribos. Na medida em que desenvolvia o trabalho de implantação das linhas telegráficas ia estabelecendo contatos com os indígenas da região. Dentre as populações contatadas por Rondon durante a abertura da linha telegráfica destacam-se os Paresi, Nhambikwara e Arikeme, sendo que esta última etnia pertencia ao tronco linguístico tupi, toda a sua população foi extinta após os contatos com a sociedade envolvente, restando apenas seu nome na história do município de Ariquemes. A comissão Rondon ao longo da abertura das linhas telegráficas, utilizou-se, simultaneamente, de técnicas militares e antropológicas para contato com as etnias. Escolhia um grupo de trabalhadores que conheciam bem a floresta, composto por guias e intérpretes oriundos de etnias vizinhas. Acampavam próximos às aldeias, normalmente perto de cursos d’água e em local bem protegido. Faziam plantações nos acampamentos para assegurarem sua subsistência. Circundavam o acampamento e colocavam presentes para os índios num raio de um quilômetro, iniciando, assim, os primeiros contatos com esses povos. Além dessa, Rondon utilizou outras técnicas nem tão ‘pacíficas’ quanto às descritas nos seus apontamentos e nos relatos de viajantes e cronistas. A ideia idealizada que Rondon pacificou treze povos hostis aos brancos, entrou em contato com dezenas de outros grupos (...) sem que tenha ocorrido uma só morte entre os indígenas. São profundas as modificações que traduziram consequências negativas durante décadas na região, nas quais são: Traduzidas em violações linguísticas – a proibição de se comunicar em suas línguas maternas; a desagregação tribal – potencializada pela dispersão, expulsão de suas terras, perseguições constantes no tempo das correrias; o regime de semiescravidão nos seringais, as epidemias de gripe que levavam à morte sociedades indígenas inteiras, além de outras doenças, que representaram uma verdadeira guerra biológica. Ao abordar-se a relação de Rondon como os índios, evidencia-se que embora haja, de fato, uma polêmica a respeito da relação de Rondon com os povos indígenas, há quem reconheça o seu trabalho como sertanista, e há também quem avalie que sua verdadeira missão era apenas expandir a ação estatal e não proteger os índios. Como sabemos pela história, ao afinal da implantação das linhas telegráficas, em 1915, aquele meio de comunicação já se encontrava totalmente obsoleto. A construção de uma rodovia, no seu traçado, passou a estimular de modo decisivo no processo de colonização de Rondônia a partir da década de 1960, ocasionando lutas violentas pela terra e, principalmente, estabelecendo grande pressão sobre as áreas indígenas. A construção da rodovia começou a se tornar realidade em 1960, no governo de Juscelino Kubitschek (1956- 1961). Em 1966 completou a ligação entre Cuiabá e Porto Velho. As margens do seu traçado já existiam alguns povoados como Vila de Rondônia (hoje Ji- Paraná), Jaru, Ariquemes e Pimenta Bueno, fundada por frentes de ocupação anteriores. A partir dela, o povoamento de Rondônia e dos estados vizinhos, seria incrementado, uma vez que viabilizou o movimento migratório e a colonização, especialmente a partir da década de 1970 O fluxo migratório da década 1970 possui características diferentes dos anteriores. Até esse período, os fluxos migratórios ocorreram em função da busca de riquezas naturais, portanto os migrantes eram extratores, seringueiros e mineradores. A partir desse momento, a migração ocorreu em torno da buscade terras para a agricultura, o acesso a terras. Nessa década ampliaram-se também os processos de grilagem, invasão de terras da União e os conflitos com a população indígena, seringueiros e ocupantes de pequenas posses. Ainda assim, o governo federal, com o argumento de “integrar para não entregar” resolveu promover a colonização do então Território Federal de Rondônia. O Instituto de Colonização e Reforma Agrária – INCRA coordenou a implantação de grandes projetos de colonização. Para legitimar a iniciativa e atrair a população do centro-sul do país, foi deflagrada uma campanha publicitária com o slogan “Rondônia, um novo Eldorado”, o que gerou um considerável fluxo migratório e ofuscou os conflitos locais. Tal campanha, que prometia terra, fartura, progresso e trabalho, foi lastreada pela ideologia da segurança nacional, levada a efeito pelos governos militares. Ao analisar o processo de ocupação da região e as propagandas do Governo direcionadas a incentivar os migrantes para Rondônia, ressalta-se que foi evidente a flutuação da concepção de migrante no discurso político local: ora se é convidado para vir e participar do desenvolvimento do Estado de Rondônia. Assim, preencher o suposto vazio demográfico existente – discurso que ignorava a existência dos povos da floresta que há muito habitavam a região: indígenas, extrativistas, ribeirinhos e quilombolas, além de resolver o problema de excesso de contingente no sul. Dentre as várias consequências desse afluxo desordenado sobre os territórios indígenas, destacam-se o desaparecimento de diversos povos, a redução populacional e dos territórios tradicionais, a desagregação cultural e o confinamento em pequenas áreas demarcadas, muitas delas, invadidas. Da parte dos indígenas, essa nova realidade ensejou novas estratégias de luta e de resistência, como a sua organização em associações e a formação de parcerias e alianças em defesa dos seus interesses, especialmente dos territórios. Um exemplo desse repensar coletivo ocorrem em 1984, entre os povos Surui, Gavião, Arara, Zoró e Cinta-Larga e resultou na definição conjunta de uma agenda de lutas desses povos. TEMA 04 - TERRITÓRIO FEDERAL DO GUAPORÉ/RONDÔNIA A formação do Território de Rondônia Por caminhos bem diversos se deu a formação territorial do Estado de Rondônia, quando comparada com a do Estado do Acre. Quando surgiu a "questão acreana", a região correspondente ao Estado de Rondônia não apresentava traços notáveis de ocupação. Os primeiros movimentos são atribuídos ao Frei João de Sampaio, na região onde hoje se encontra a cidade de Porto velho. Isso, por conta da instalação de missões ao longo do Rio Jamari. Registra o sertanista Francisco de Mello Palheta que, quando subiu o Rio Madeira, em 1723, por ordem do Governador do Grão Pará, Maia Gama, se encontrou com o Frei João de Sampaio nas vizinhanças da cachoeira de Santo Antônio. Francisco de Mello palheta, comandando um "troço de gene de guerra", percorreu todo o curso do Rio Madeira, transpondo os trechos encachoeirados e chegando a "Santa Cruz de Los Cajubabas", no Rio Madre de Dios. Foi o primeiro a explorar o curso desse rio, que, a partir de então, se transforma em via de ligação dos altiplanos bolivianos com a planície amazônica. Em 1742, partindo de Mato Grosso, o português Manoel Félix de Lima, atravessa o Sararé, o Guaporé e o Madeira, chegando ao Pará. Em 1749, mesmo derrotado, José Leme do Prado chega a Belém e retorna às minas de Cuiabá. Os espanhóis, em 1743, estabeleceram o Forte de Santa Rosa – a aldeia de Santa Rosa, referenciada no Tratado de Madri, de 1750 -, a leste da margem direita do Rio Guaporé; ao sul de sua foz, no Rio Mamoré. A iniciativa pretendia obstar a busca e a consolidação de uma ligação entre as bacias platina e amazônica, então objeto da movimentação portuguesa na área. Os espanhóis, no início dos anos cinquenta, foram desalojados, como parte da estratégia lusa de evitar a infiltração hispânica nas comunicações do Mato Grosso com Cuiabá. A praça de guerra foi reforçada e rebatizada como Forte de Nossa Senhora da Conceição, guarnecido com o objetivo de marcar o domínio português na navegação ao longo do Guaporé, Mármore e Madeira. Em 30 de junho de 1776, foi iniciada a construção do Real Forte do Príncipe da Beira, às margens do Guaporé, em substituição ao Forte de Nossa Senhora da Conceição, então desativado. As operações nesta guarnição tiveram continuidade após a Independência, até o ano de 1895, quando foi desativado e abandonado. Em 1904, as ruínas da fortificação foram descobertas pela Comissão de Rondon. Com a assinatura do Tratado de Petrópolis, o Governo brasileiro se comprometeu a garantir as comunicações entre os rios Mamoré e Madeira, vencendo o trecho encachoeirado deste último curso através de uma linha férrea, capaz de garantir o escoamento da produção de borracha na região de "Madre de Dios" para os centros de comercialização no rio Amazonas-Manaus à Belém. O traçado da ferrovia previa os extremos na divisa dos estados do Amazonas e do mato Grosso: na altura, a cachoeira de Santo Antônio, no Madeira e, em um ponto da margem direita do Mamoré, na altura da povoação boliviana, localizada à margem esquerda, conhecida como "Guayara-Mirim". Com a construção da ferrovia, se deu a partida ao processo de ocupação da área. Constituída a empresa "Madeira-Mamoré Rallways Co.", foi escolhida como ponto inicial da ferrovia o antigo Porto de uma barraca, às margens do Rio Madeira, seis quilômetros ao norte da divisa dos Estados, em terras do estado do Amazonas. Em 1907, foi instalado, no local, o núcleo residencial dos empregados da ferrovia e as oficinas. A localidade de Santo Antônio já existia desde o final do século XVII. Portanto, não surgiu em decorrência da construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré ou das Estações Telegráficas da Comissão Rondon. Ao contrário, serviu como ponto de referência para ambos os projetos. Entretanto, sua transformação em município teve como fator principal à ferrovia e a estação telegráfica, em razão de sua importância como um dos dois pontos extremos da linha telegráfica, implantada pela Comissão Rondon. Povoação antiga, pertencente ao Mato Grosso, foi transformada em município pelo Governador mato- grossense, Generoso Paes Leme de Souza Ponce, através da Lei nº 494, de 03 de junho de 1908. O povoado, sede do município, foi elevado à categoria de Vila, em 27 de setembro de 1911, pelo Decreto-Lei nº 576, baixado pelo Governador Joaquim da Costa Marques, de Mato Grosso. O município de Santo Antônio do rio Madeira foi instalado no dia 02 de junho de 1912, na gestão do Governador Costa Marques. Naquele dia, tomou posse o primeiro Prefeito, o médico Joaquim Augusto Tanajura, e os Vereadores, também nomeados, Antônio Marcelino Cavalcante, José Fortunati da Conceição, José Alves Damasceno e Antônio Brito Carneiro da Cunha, que presidiu a Comissão Municipal, designação das Câmaras Municipais de Mato Grosso à época. Em 1º de dezembro de 1914, ocorreram as primeiras eleições no município. Consequentemente, foram as primeiras realizadas nesta região. Os Vereadores tomaram posse m 1º de janeiro de 1915. Foram eles: Alfredo Pereira Neves, Manoel Correa de melo, José Fortunati da Conceição e Antônio Salles Ferreira, todos do Partido Republicano Conservador (PRC). Em rápido progresso, o Termo facilitou a criação do município de Porto Velho, através da lei nº 757, de 2 de outubro de 1914, instalado em 24 de janeiro de 1915. Os limites municipais, inicialmente coincidentes com os do termo, foram descritos pela lei 833, de 11 de outubro de 1915, que fixava o limite com o município de Lábrea do divisor de águas do Itxi-Abunã. Em 1917, o Termo foi elevado a Comarca e, em 7 de setembro de 1919, a vila de porto velho foi elevada àcategoria de cidade. Dessa sorte, progrediu Porto Velho. Com a escolha do sítio de porto velho, a povoação de Santo Antônio do Madeira, administrada pelo Governo de Mato Grosso e localizada próximo à cachoeira que lhe emprestava a denominação, acabou sendo absorvida por esta nova povoação. No outro extremo, ocorria fenômeno semelhante, com a formação do povoado de Guajará-Mirim, elevado a município, em 12 de julho de 1912, através da lei 991, do Estado de Mato Grosso. Em 10 de abril de 1929, Guajará-Mirim foi elevada à categoria de cidade. A formação territorial de Rondônia se inicia com a criação do território Federal do Guaporé, através do Decreto nº 5.812, de 13 de setembro de 1943. Este decreto criou os territórios Federais do Amapá, do Rio Branco, do Guaporé, de Ponta Porã e do Iguaçu, atendendo antiga reivindicação de correntes políticas, que propunha a ampliação da autoridade Federal em defesa de interesses nacionais legítimos. A região que corresponde ao Território federal do Guaporé havia sido objeto, em 17 de junho de 1932, de uma proposta do departamento administrativo do serviço Público (DASP), na forma de exposição de motivos ao Presidente da República, para a criação de um território, denominado Mamoré, cujos limites seriam fixados posteriormente. A despeito da proposta, nenhuma providência foi tomada. Somente em 14 de dezembro de 1938, por proposição do Conselho de Segurança Nacional, a presidência da República resolveu tomar providências para uma efetiva ocupação da área. A Constituição de 1937 – a chamada constituição do Estado Novo -, ao invocar, no artigo 6º, o princípio da segurança nacional, estipulava que "a União poderá criar, no interessa de defesa nacional, partes desmembradas dos Estados, Territórios Federais, cuja administração será regulada em lei especial", o que veio a favorecer a criação desse tipo de Unidade da Federação. O Decreto nº 5.812 dava curso à vontade política, atendido o preceito constitucional de 1937, definindo o contorno territorial do Guaporé. Situado a Noroeste do Estado de Mato grosso e ao Sul do Estado do Amazonas, foi constituído por terras desmembradas dessas mesmas unidades da federação. De Mato Grosso, foi retirado o município de Guajará Mirim e partes dos de Alto Madeira e Mato Grosso; e do Estado do Amazonas, os municípios de Porto Velho e parte de Humaitá. Por este Decreto, o município de Porto Velho fica contido no Território, a menos da porção de terras entre o rio Ituxi e o divisor de águas Ituxi-Abunã, antiga divisa municipal com Lábrea; o de Humaitá, lhe cede parte dos distritos de Humaitá, sem a sede, e de Calama, com a sede. O antigo município de Guajará-Mirim fica totalmente incluído no Território; o de Mato Grosso, lhe cede uma parte do distrito de Alto Madeira e de Ariquemes, além de uma parte do distrito de Tabajara, com a sede municipal. O seu limite Oeste e Sudoeste é dado como referência ao estabelecido pelo Brasil com a República da Bolívia, através do Tratado de Petrópolis. Na divisa com o Acre, recorreu-se ao segmento da linha geodésica Madeira-Javari, no trecho que vai do rio Abunã ao Ituxo; a mesma linha geodésica da extrema brasileira, decorrente do Tratado de 1867. Aqui, mais uma vez, surge a questão do conflito de limites, só que interestadual. De longa data, os Estados do Amazonas e de Mato Grosso disputavam a região em que se fez assente a cidade de Porto Velho e a povoação mato-grossense de Santo Antônio do Madeira. A demanda foi dirimida, em 11 de novembro de 1899, por acórdão do Supremo Tribunal Federal, que fixou como limite entre as duas unidades, o trecho que tem início "na barra do rio São Manuel com Teles Pires, no rio Tapajós, sobe por este até encontrar o paralelo de 8248′ de latitude sul; toma por este, na direção oeste, até alcançar a cachoeira de Santo Antônio, no rio Madeira; sobe pelo eixo desde até a barra do rio Abunã, seu afluente da margem esquerda". No ano de 1944, procedeu-se a uma revisão dos limites dos Territórios Federais, criados em 1943, através do Decreto-Lei nº 6.550, de 31 de maio de 1944. A divisa política do território Federal, na ocasião, compreendia três municípios: o de porto velho, abrangendo a área de seu antigo homônimo, mais às áreas desmembradas do município de Humaitá; o de Alto Madeira, formado pelas partes do antigo município homônimo; e o de Guarajá-Mirim, compreendendo, além das áreas de seu antigo homônimo, a área desmembrada do município de Mato Grosso. Como sede da capital, é destinado o município de Porto Velho. Em 1956, o Território Federal do Guaporé teve sua denominação alterada para Território Federal de Rondônia, como uma justa homenagem àquele que tanto contribuiu para a integração da região amazônica à vida nacional, o marechal Cândido Mariano Rondon, através da lei 2.731, de 17 de fevereiro de 1956. O Território foi elevado à categoria de Estado, através da Lei Complementar nº 41, de 22 de dezembro de 1981, que manteve, para os limites territoriais, os descritos em 1944, ao estabelecer: (....); Art. 1º - Fica criado o Estado de Rondônia, mediante à elevação do Território Federal de mesmo nome a essa condição, mantidos os seus atuais limites e confrontações. (....). A elevação do Território Federal à categoria de Estado atendia a reivindicação antiga que havia se acentuado na década anterior, diante da intensificação do movimento migratório, tendo como condicionador o eixo da Rodovia BR-364, no trecho Cuiabá-Porto Velho. TEMA 05 - A RODOVIA BR-364 E OS GARIMPOS A abertura da BR-029 atual 364 O principal evento que marca a colonização recente do território federal de Rondônia e a transformação do mesmo em Estado, foi a abertura da BR 029, posterior 364. A “estrada das onças” como ficaria conhecida mais tarde, tem sua origem ligada ao então Governador do Território Federal do Guaporé Aluizio Pinheiro Ferreira que em 1943 inicia sua abertura tendo como ponto inicial Porto Velho. Inicialmente, a rodovia foi chamada de 029. Essa iniciativa avançou algumas dezenas de quilômetros rumo à localidade de Ariquemes. No que pese a iniciativa do então primeiro Governador do Território Federal do Guaporé recém criado, foi somente 17 anos mais tarde que a estrada realmente saiu do plano teórico para o plano prático. A iniciativa foi do então Governador Paulo Nunes Leal, como é relatado em seu livro “O Outro Braço da Cruz”, quando o mesmo assedia o então Presidente JK para construir a estrada. Juscelino Kubistchek aceitou o desafio e iniciou a obra que foi feita em muito pouco tempo, após um ano de trabalho o Presidente visitou a localidade de Vilhena para derrubar, simbolicamente a última árvore na divisa entre o Mato Grosso e as terras do então Território Federal de Rondônia. Com a abertura da rodovia, o caminho estava livre para a gigantesca migração que não demorou a acontecer. Milhares de famílias, em sua maioria, sulistas buscavam sua terra prometida e com eles, garimpeiros, grileiros e madeireiros, todos os “eiros” da vida pareciam querer aportar nestas bandas, para de alguma maneira construir seus sonhos e devaneios. As pessoas que buscavam um pedaço de terra para garantirem sua sobrevivência foram motivadas a se instalarem na Amazônia Rondoniense sem a estrutura básica necessária. Os últimos quarenta anos são exemplos claros de como não se deve promover uma política de Reforma Agrária. A BR-364, foi erguida nos caminhos de Rondon, para o traçado foram utilizados os estudos do grande General da Paz. Nosso ilustre Rondon, provavelmente não sabia que seus estudos, trabalhos, levantamentos e apontamentos geográficos, geológicos, estudos sobre flora e fauna serviriam para auxiliar a abertura da principal “artéria” do nosso Estado. A BR-364 foi o mais importante passo para o desenvolvimento regional dasterras de Rondon. Com os seringais, nos tempos anteriores, surgiram praticamente dois municípios: Guajará Mirim e Porto Velho. Com a abertura da BR 364 foram surgindo povoamentos em todas as localidades, principalmente nas margens da nova estrada. Hoje, contamos com mais 50 municípios totalizando com Porto Velho e Guajará Mirim 52 municípios, todos em fraco desenvolvimento. TEMA 06 - A OCUPAÇÃO RECENTE DA AMAZÔNIA E RONDÔNIA, A COLONIZAÇÃO AGROPASTORIL O INCRA foi o principal instrumento governamental encarregado dos projetos de colonização, onde se destacaram o PIC, Projeto Integrado de Colonização com lotes de 50 a 100 hectares, criado em julho de 1970, com área total de 250 mil hectares, tivemos o Pic denominado Sidney Girão, em Guajará-Mirim, com área de 200 mil hectares; PIC Gy-Paraná, criado em 1972 na BR-364, com área de 400 mil hectares; PIC Paulo de Assis Ribeiro, criado em Colorado do Oeste no ano de 1973. Outro modelo de colonização foi o PAD, Projeto de Assentamentos Dirigidos, um pouco maior que o Pic com lotes de 100 a 250 hectares criado em 1971; o PAD Burareiro, em Ariquemes no ano de 1974 para incentivar a plantação de Cacau; PAD Mal. Dutra, criado em 1975 para exploração agropecuária; e, ainda em 1975, o PIC Ouro Preto e o PAD Adolpho Roll. De 1970 a 1984 foram realizados assentamentos em área superior a 3,6 milhões de hectares, beneficiando milhares de agricultores. Criou-se, ainda, o Projeto Fundiário Alto Madeira em Porto Velho, o Projeto Fundiário Ouro Preto, o Projeto Fundiário Corumbiara em Pimenta Bueno e o Projeto Fundiário Guajará -Mirim, que contribuíram para o desenvolvimento da região. Deve-se acrescentar que o INCRA realmente atuava com presteza e agilidade, seus técnicos não mediram esforços para o êxito dos Projetos, sendo que entre 1980 e 1988 desenvolveram condições para a criação dos municípios de Machadinho do Oeste, Cujubim, Seringueiras, São Felipe, Castanheiras e Buritis. Foi graças à regularização das terras que surgiram grandes cidades ainda na década de setenta, obrigando o Governo a promover nova divisão geográfica com a criação dos municípios de Ariquemes, Ji-Paraná, Cacoal, Pimenta Bueno e Vilhena. E finalmente criar, pela Lei complementar nº 41, o Estado de Rondônia que hoje possui 238.512,80 quilômetros quadrados, correspondendo a 2,86% da superfície do Brasil e 6,79% da região norte. Quando da posse como primeiro Governador do Estado de Rondônia, Teixeirão assim se manifestou: “Venham brasileiros de todo o Brasil, venham gentes de todos os povos. Rondônia oferece trabalho, solidariedade e respeito. Tragam seus sonhos, anseios e ilusões, compartilhem tudo isso com este povo admirável, assumam com ele os problemas e as dificuldades naturais na trajetória em busca do grande destino do Brasil.” Em 1970, a população era de 100 mil habitantes. De 1979 a 1982 a população de Rondônia cresceu mais de 57%, passando de 423 mil para 608 mil. Atualmente está estimada em mais de um milhão e meio de habitantes. O ordenamento agrário no Estado de Rondônia ocorreu no decorrer de trinta anos com ações discriminatórias de terras, separando as públicas das particulares. Quando o INCRA entrou no Território em 1970, 75% da superfície de sua área foi discriminada, arrecadada e matriculada em nome do Governo Federal. O restante corresponde a áreas institucionais, indígenas, reservas biológicas, florestas nacionais, estações ecológicas, reservas extrativistas, áreas de refúgio faunístico. O setor agropecuário do Estado de Rondônia concentra a principal fonte de renda da sua economia. Entretanto, os sucessivos planos ambientais e/ou de proteção indígena, ou ainda, as reservas de matas obrigatórias, tornaram indisponíveis para exploração cerca de 56% (cinquenta e seis por cento) de sua área territorial. Na atualidade foram desencadeados projetos gigantescos que ameaçam o equilíbrio ecológico, esses projetos são compostos por novas estradas, ampliação das redes urbanas em praticamente todos os municípios, a expansão da agricultura, principalmente o soja, e expansão da pecuária. Some a tudo isso os mega projetos que envolvem hidroelétricas como as do Madeira e as pontes do rio Madeira.
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