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A PRIMEIRA REPÚBLICA NO BRASIL

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Cotidiano e cultura na Primeira República 
 
O início da industrialização brasileira 
Durante o Segundo Reinado, o café tornou-se o principal produto de exportação 
brasileiro. Desse modo, os cafeicultores ampliaram seu poder e sua influência na 
condução da política nacional. Com a instauração da república, os grandes cafeicultores 
praticamente tinham o Estado a serviço de seus interesses. 
No início do século XX, tanto o consumo mundial quanto a produção de café cresceram. 
Estados Unidos e Europa eram os principais consumidores e o Brasil, o maior 
fornecedor. Ao longo da Primeira República, o governo brasileiro criou algumas 
medidas para valorizar o café, mantendo-o como principal produto de exportação do 
país. Essa política de defesa do café, somada à entrada do capital estrangeiro, gerou 
muitos lucros que foram reinvestidos na industrialização e urbanização brasileiras. 
Os cafeicultores deslocaram parte de seus ganhos para a instalação de indústrias e 
investiram em infraestrutura para o escoamento do café, construindo ferrovias, portos e 
estradas. Empresas estrangeiras passaram a investir sobretudo em transportes, em 
bancos e no setor de energia elétrica. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), 
a dificuldade de importar produtos industrializados também estimulou a produção 
interna, concentrada nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. 
A maioria dos estabelecimentos industriais desse período era pequena, tinha poucos 
operários e abastecia apenas sua localidade. Algumas indústrias, no entanto, eram de 
grande porte e chegavam a empregar centenas de trabalhadores. Havia fábricas de 
bebidas, sapatos e chapéus, mas os setores têxtil e alimentício predominavam. 
Investimentos nacionais e estrangeiros facilitaram também a instalação de indústrias de 
cimento, ferro e papel. 
 
Urbanização e mudanças sociais 
O crescimento das indústrias gerou uma demanda por mão de obra nas cidades. Muitos 
dos quase 4 milhões de imigrantes que entraram no Brasil entre 1889 e 1930 tornaram-
se a principal força de trabalho utilizada nas indústrias. A maior parte deles vinha da 
Europa, atraída pelas promessas de trabalho e prosperidade nas fazendas de café. 
Portugal, Itália, Espanha e Alemanha constituíam os principais países de origem desses 
estrangeiros. 
Com o tempo, muitos imigrantes que trabalhavam nos cafezais, descontentes com as 
condições de trabalho, resolveram buscar uma vida melhor nas cidades, onde havia mais 
oportunidades. 
“Os cafeicultores, interessados em manter os salários baixos, 
constantemente reclamavam da falta de braços para a lavoura e 
promoviam a entrada de imigrantes numa escala muito superior 
às suas reais necessidades. Depois de passar pelo campo, muitos 
trabalhadores, sem esperanças de tornarem-se proprietários de 
terras, dirigiam-se para as cidades, proporcionando uma vasta 
oferta de força de trabalho para a indústria nascente. O excesso 
de ofertas permitia não só comprimir os ganhos salariais, como 
também impor condições de trabalho extremamente duras, que 
acabavam por comprometer a saúde do operário. Em certos 
setores, a utilização de mulheres e crianças contribuía para 
diminuir ainda mais os já parcos rendimentos.” 
LUCA, Tânia Regina de. Indústria e trabalho na história do Brasil. São Paulo: 
Contexto, 2001. p. 23. 
CRESCIMENTO INDUSTRIAL (SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO) 
No de 
empresas 
No de 
operários 
SP RJ SP RJ 
1907 326 662 24.186 34.850 
1920 4.145 1.542 83.998 56.517 
1929 6.923 1.937 148.376 93.525 
Fonte: SILVA, Sérgio. Expansão cafeeira e origens da indústria 
no Brasil. São Paulo: Alfa-Ômega, 1976. p. 79 
 
A expansão da indústria e a chegada de imigrantes nas cidades promoveram um intenso 
desenvolvimento urbano no país. Porém, esse crescimento ocorreu de forma 
desordenada, criando problemas de infraestrutura, como a falta de saneamento básico e 
a proliferação de habitações precárias. Com o objetivo de modernizar o Brasil, o 
governo criou projetos para remodelar as principais cidades, tendo como padrão o estilo 
importado da Europa. 
 
A reforma de Pereira Passos 
Em 1902, Rodrigues Alves assumiu a presidência do país. Ele apresentou um plano de 
revitalização e modernização da capital federal, o Rio de Janeiro, e incumbiu o prefeito 
Pereira Passos de realizar as reformas, inspiradas em obras já feitas nas grandes capitais 
europeias. 
Nas obras, vários cortiços foram derrubados para dar lugar a avenidas largas. Oswaldo 
Cruz, médico sanitarista e diretor-geral de Saúde Pública, comandou ações de 
extermínio de vetores de doenças, como ratos e mosquitos. Brigadas sanitárias 
visitavam as habitações populares e determinavam se elas apresentavam riscos à saúde 
dos moradores e se deviam ser demolidas. 
A expressão “bota-abaixo”, usada pelos funcionários que avaliavam as construções e 
recomendavam a sua demolição, tornou-se famosa e temida. Milhares de pessoas foram 
obrigadas a buscar novos locais para morar. Essa situação contribuiu para a formação de 
favelas, pois muitos dos antigos habitantes dos cortiços se alojaram nas encostas dos 
morros ou na periferia da cidade, em condições ainda mais precárias. 
As reformas feitas na capital federal serviram de modelo para os planos de remodelação 
urbana de outras capitais brasileiras. Nesses novos centros, a elite podia circular pelas 
praças, jardins e bulevares recém-criados ou reformados, ir ao cinema, frequentar 
confeitarias e cafés e se atualizar sobre a vida cultural europeia. 
 
A Revolta da Vacina 
Em 1904, Oswaldo Cruz convenceu o Congresso a aprovar uma lei que determinava a 
vacinação obrigatória contra a varíola. Essa medida, aparentemente sensata dado o 
volume de mortes causadas pela doença, produziu uma crise social em razão do método 
aplicado na imunização contra a doença. Uma vez que as brigadas sanitárias tinham 
autorização para recorrer à força na aplicação da vacina, denúncias de violência 
circularam pela cidade e instauraram o pânico na população, que desconhecia e temia os 
efeitos da vacina. 
No dia 9 de novembro de 1904, a Revolta da Vacina, como ficou conhecida, estourou 
no centro do Rio de Janeiro: bondes foram incendiados, trilhos arrancados, a população 
entrou em choque com a polícia. Alguns políticos e militares, críticos e oposicionistas 
do governo, tentaram assumir a liderança do levante, mas não foram seguidos pelos 
insurgentes. O governo desencadeou uma violenta repressão e conteve a agitação.

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