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Novas possibilidades de tratamento do tempo_André Soares_Turma 2020

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
Mestrado Profissional em Ensino de História
Disciplina: Ensino de História e a questão das temporalidades
ATIVIDADE III - Novas possibilidades de tratamento do tempo
histórico em sala de aula
NATAL/RN 
05/12/2020
André de Souza Soares
Novas possibilidades de tratamento do tempo
histórico em sala de aula
Tarefa apresentada à disciplina Ensino de História e a questão das temporalidades, ministrada pelos professores: Maria da Conceição, José Evangelista, Haroldo Loguercio, Henrique Alonso Pereira.
NATAL/RN 
05/12/2020
1. O tempo histórico no tempo das aulas de História
O espaço das aulas de História na grade de horários do ensino médio da rede pública estadual é muito limitado, e em virtude de reformas curriculares recentes, esse tempo pode ser ainda mais reduzido. Na educação básica brasileira, o tempo de hora/aula é de cinquenta minutos, e a disciplina História ocupa apenas duas, das vinte e cinco horas/aula que o aluno do ensino médio assiste semanalmente. 
Considerando alguns outros aspectos, como atraso do transporte escolar nas escolas que mais da metade dos alunos residem na zona rural; além de situações inusitadas como falta de merenda e até de água, ano após ano acumulamos um déficit de aula na casa dos 35%. Ou seja, de cada 10 aulas planejadas, 3 ou 4 são inviabilizadas por fatores alheios ao nosso planejamento. Sem falar até nas vezes que prejudicamos uma aula por conta de uma visita inesperada de burocratas da Secretaria de Educação ou da Diretoria Regional, ou ainda, quando somos interrompidos por algum vendedor com “um material enciclopédico que irá contribuir muito para a aprovação dos alunos no ENEM!”
 Aqui propomos uma forma de ampliar a experiência do aluno com aspectos científicos da História, com aprofundamento teórico e epistemológico, a fim de instruí-lo previamente no ofício do historiador e na aquisição de competências essenciais que permitam que estes sujeitos se situem no tempo, conscientemente. Esse esforço, tornará a experiência com o tempo histórico mais assertiva, para que se adeque às realidades escolares diversas conseguindo atingir os objetivos delimitados, buscando também superar as adversidades supracitadas. 
Os alunos egressos dos anos/séries finais do Ensino Fundamental nas redes municipal e estadual; trazem consigo aprendizagens múltiplas sobre fatos históricos e saberes relacionados a trajetória da humanidade no planeta. Entretanto, boa parte destes estudantes trazem alguns conhecimentos, mas não possuem habilidade de entender/dimensionar a historicidade das coisas e muito menos conceitos básicos de tempo, rupturas e continuidades, tais quais seriam úteis para suas vidas. O estudo da História precisa ser para além dos acontecimentos e seu relato em si mesmo. Os alunos devem ser capazes de articular, questionar e construir entendimentos, e depois, dissertar sobre eles de forma ampla e coerente. Isso pode estar ligado a diferença de abordagem na cultura escolar, a articulação metodológica e até ao fato destes alunos nunca terem assistindo a uma aula de História ministrada por um especialista. 
Neste sentido, propomos aqui uma atividade que utilizará o poder da imagem (FREEDBERG, 1992) em sua historicidade, no sentido de enfrentar os discursos romantizados e da “história para ninar gente grande”, que além de desfavorecer o agenciamento histórico, acaba reproduzindo preconceitos, estereótipos e inadequações até involuntárias; caso estas não sejam observadas atentamente pelo professor.
2. Da história que nina para uma tomada de consciência através da historicidade de uma imagem 
Brasil, meu nego
Deixa eu te contar
A história que a história não conta
O avesso do mesmo lugar
Na luta é que a gente se encontra[footnoteRef:1] [1: Trecho do samba enredo História para ninar gente grande, apresentado pela Estação Primeira de Mangueira no desfile das escolas de samba do Rio de Janeiro de 2019, com o qual a escola conquistou o seu 20º título de campeã, letra e música de Deivid Domênico, Manu da Cuíca, e outros. ] 
A proposta a seguir será apresentada no objetivo de trazer à tona uma nova abordagem do tempo Histórico em sala de aula. Para tal, utilizamos a estratégia de estudo do poder da imagem, fonte histórica intensamente utilizada nos livros didáticos, manejada aqui através do exercício de investigação da sua historicidade. 
Essa tarefa irá fundamentalmente enfrentar as impressões equivocadas que geralmente podem emergir das ilusões historicistas do quadro Tiradentes Esquartejado (Anexo 1), originalmente chamado Tiradentes Supliciado, um óleo sobre tela de 1893 do pintor brasileiro Pedro Américo de Figueiredo e Melo. Essa pintura é uma das mais reincidentes nos livros, e que somado a lembrança do feriado de 21 de abril, pode funcionar como um gatilho positivo do heroísmo intencional. A proposta, visa levantar questionamentos sobre esse apelo heroico, propondo uma reflexão que faça vir à tona “a história que a história não conta”, ou que ao menos está sendo silenciada. 
Quadro 1
	Quadro de intervenção – Sequência didática Tiradentes Esquartejado
	Atividade desenvolvida
	Abordagem procedimental
	Estudo do texto – A biografia política de uma fotografia – Ana Maria Mauad – a historicidade de uma imagem, estudo de caso. Gestão do tempo: 1 hora/aula
	Leitura compartilhada e exposição dialogada do método utilizado pelo historiador ao conceber e abordar a historicidade de uma imagem.
	Descrição e análise da pintura Tiradentes Esquartejado, de Pedro Américo. Gestão do tempo: 1 hora/aula
	Intervenção expositiva do professor utilizando o método isotópico. 
	Exposição dialogada – Inconfidências – O caso mineiro 1789 e o caso baiano 1798. Evidência final ao martírio de Tiradentes. Gestão do tempo: 1 hora/aula
	Aula-narrativa. Análise do contexto histórico utilizando referências da época. 
Destaque para a diferença temporal de 100 anos entre os fatos abordados e produção da pintura.
	Descrição e análise da aquarela de João Teófilo - releitura da obra Tiradentes Esquartejado. (Anexo 2) Gestão do tempo: 1 hora/aula
	Atividade espontânea de descrição e intervenção expositiva do professor utilizando o método isotópico.
	Debate e produção textual – Silenciamento do heroísmo negro. Gestão do tempo: 2 horas/aula
	Roda de conversa sobre os estereótipos que constroem a imagem dos heróis. Solicitação das impressões por escrito. 
Sucintamente, podemos apresentar essa sequência didática (Quadro 1) como um confronto entre duas imagens e duas ideias que delas advém ao longo do tempo, e como estas podem acabar por influenciar nas condutas sociais. A proposta visa compreender e verificar como os heróis são fabricados e/ou ocultados.
A atividade tem como referência a pintura Tiradentes Esquartejado (1893) e a fabricação do seu primeiro herói nacional na ressaca da proclamação da Primeira República brasileira. A proposta visa estabelecer um estudo esclarecedor sobre as rupturas e continuidades do contexto das inconfidências, das propostas do movimento mineiro em comparação aos silenciamentos que recaíram sobre a memória da conjuração baiana, ao analisar o advento da escolha do herói que representou a nacionalidade da recém-admitida República. 
Toda imagem fala sobre o tempo Histórico de sua produção. Sendo assim, a primeira fase da sequência didática evidencia a produção da pintura e a construção do heroísmo de Tiradentes em detrimento da memória dos quatro inconfidentes baianos mortos (João de Deus, Manoel Faustino, Luís Gonzaga e Lucas Dantas), apresentados aos alunos na releitura. Desta feita, podemos estudar o contexto das revoltas separatistas coloniais (1789-1798), o contexto da proclamação e instituição da República (1889-1893) e o contexto atual, com a erupção dos casos de racismo e violência contra negros no Brasil.
Ao substituir Tiradentes pelos quatro inconfidentes negros, o artista João Teófilo propõe reflexão traz uma ferramenta valiosa paraa abordagem do tempo histórico, os avanços, rupturas, continuidades e retrocessos em variadas temporalidades, como também contribui na compreensão da historicidade da imagem original. 
Anexos:
Anexo 1
Anexo 2
Ilustração feita por João Teófilo (2015). A imagem
apareceu na capa da RHBN de julho/2015.
Referências:
FREEDBERG, David. El poder de las imágenes. Madrid: Cátedra, 1992, p. 19-44.
LIBERA, Alain de. Pensar na Idade Média. São Paulo: Editora 34, 1999. Cap. 3: O Ocidente cristão. A cultura visual e os Conan.
MAUAD, Ana Maria. “A biografia política de uma fotografia”. Jornal da Unicamp, 20/04/2018. Edição	web.	Disponível	em
<https://www.unicamp.br/unicamp/index.php/ju/noticias/2018/04/20/biografia-politica-de- uma-fotografia.
ROSA, Cláudia Beltrão da; CARDOSO, Ciro Flamarion S. (org.) Semiótica do espetáculo: um método para a História. Rio de Janeiro: Apicuri, 2013, “Capítulo II: Uma proposta metodológica para a análise semiótica de filmes e etc., p. 52-103

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