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INFECÇÃO PUERPERAL OU FEBRE PUERPERAL DEFINIÇÃO: • Também denominada febre puerperal • Qualquer infecção bacteriana do trato genital feminino no pós-parto • A sepse representa importante causa de mortalidade, sendo considerada a terceira ou quarta causa de morte materna. • A infecção puerperal é a principal causa de febre no puerpério e indica a presença de: o Endometrite (mais comum) o Endomiometrite o Endoparametrite • CONCEITO: Ocorrência de temperatura de pelo menos 38 º C, excluídas as primeiras 24 horas de puerpério, por 2 dias quaisquer, durante os 10 dias iniciais do pós-parto. o Devendo a temperatura ser determinada por via oral, pelo menos quatro vezes ao dia, segundo técnica-padrão. INCIDÊNCIA • Varia significativamente dependendo da população estudada o Parto Vaginal: 0,9 a 3,9% o Parto Cesariano: Superior a 10% FATORES DE RISCO • A cesárea, de forma isolada, tem sido considerada o principal. o Principalmente quando realizada após o início do trabalho de parto • Baixo nível socioeconômico • Rotura prematura de membranas ovulares (rpmo) • Anemia • Fórcipe médio • Lacerações do canal de parto • Trabalho de parto prolongado • Infecção vaginal FISIOPATOLOGIA • Ascensão, através do colo uterino, de bactérias que se encontram no trato genital inferior • Após a colonização do trato genital inferior, essas bactérias ascendem ao segmento inferior do útero e alcançam a área da ferida placentária. o A existência de decídua necrótica e sangue na cavidade uterina são importantes meios de cultura para o crescimento bacteriano. • Na cesárea, além dos fatores mencionados, a presença de trauma cirúrgico, hematoma na linha de sutura e corpo estranho (fio de sutura) contribuem para o crescimento bacteriano. o A operação cesariana, em consequência do trauma cirúrgico, também acarreta rotura da camada basal da decídua, facilitando a penetração bacteriana. o A simples presença ou replicação de bactérias na decídua necrótica parece não ser suficiente para ocasionar endometrite pós-parto, sendo necessária a penetração bacteriana na camada basal residual da decídua. o Decídua Basal: forma o componente materno da placenta o Decídua Capsular: situada entre o embrião/feto e a luz do útero; cobre o feto o Decídua Parietal: todo o restante da mucosa uterina ETIOLOGIA • Polimicrobiana Isabel de York, mãe de Henrique VIII, morreu de febre puerperal 9 dias após o parto. • As bactérias envolvidas são aquelas que habitam o intestino e colonizam o períneo, a vagina e o colo uterino. • Geralmente, essas bactérias são pouco agressivas; contudo, podem se tornar virulentas na presença de hematomas e tecido cirúrgico desvitalizado. • As bactérias mais frequentemente isoladas em casos de endometrite são: o Streptococcus agalactiae, Enterococcus spp., Escherichia coli, Bacteroides bivius e Bacteroides disiens • Ocorrência de febre, espeàalmente se acima de 38,5 º C, ainda que nas primeiras 24 horas de puerpério, não deve ser ignorada, pois os estreptococos beta-hemolíticos dos grupos A (Streptococcus pyogenes) e B causam febre já nesse período • Também, em caso de suspeita de endometrite após o 10º dia, podemos pensar em infecção pela Chlamydia. DIAGNÓSTICO CLINICO • O diagnóstico de endometrite pós-parto é clínico e baseia-se principalmente na presença de febre, uma vez excluídas com rapidez outras causas. • Cerca de 10 a 20% das pacientes com endometrite têm sinais de bacteriemia (febre, tremores, calafrio, taquipneia e taquicardia). o Pacientes que no pós-parto apresentem temperatura oral de pelo menos 38 ºC e taquicardia devem ser consideradas como portadoras de infecção até que se prove o contrário. • A presença de dor abdominal pode auxiliar nos casos de endometrite posterior a parto vaginal. • Tríade de Bumm: útero doloroso, amolecido e subinvoluído; • OBS: Cerca de 15% das pacientes podem desenvolver um quadro de endometrite em até 6 semanas pós-parto, principalmente após parto vaginal. • A loquiação pode se tornar fétida e com aspecto purulento o Nos casos de infecção por estreptococo beta-hemolítico do grupo A, é frequente a loquiação escassa e sem odor fétido, ou até mesmo a parada na eliminação de lóquios. EXAMES SUBSIDIÁRIOS HEMOGRAMA: • a leucocitose em casos de endometrite varia de 15.000 a 30.000 células/mm3 • leucocitose é comum após o parto, sendo valorizada quando superior a 20.000/mm3 • desvio à esquerda aumenta a probabilidade HEMOCULTURA E CULTURA ENDOCERVICAL: • Cultura de sangue, secreções ou de material intrauterino: podem orientar no tratamento antimicrobiano em casos SEM resposta ao tratamento convencional (não utilizados rotineiramente); • em casos de endometrite, em virtude de sua baixa positividade, elevado custo, pouca relação com a gravidade do caso e escolha de antibiótico empiricamente antes do resultado do exame - sua realização é tema controverso. • Somente 10 a 20% das pacientes têm positividade no exame. EXAMES DE IMAGEM • A ultrassonografia auxilia no diagnóstico de retenção dos produtos da concepção, abscessos, hematomas intracavitários e da parede abdominal. • A utilização de tomografia computadorizada ou ressonância nuclear magnética fica reservada àquelas pacientes que não respondem de forma adequada ao tratamento antimicrobiano. TRATAMENTO CLÍNICO • Hidratação adequada; • Transfusão de hemoderivados, se necessário; • Ocitócitos para manter contratilidade uterina, se necessário; ANTIBIÓTICOS: REGIME INICIAL PREFERIDO (SEM COLONIZAÇÃO GBS) • Para pacientes com função renal normal e resulta na resolução da infecção em 90 a 97 por cento dos casos • 1 a escolha: Clindamicina, 900mg, EV, de 8/8 horas. Gentamicina, 5mg/kg (ou 240mg), EV, de 24/24 horas; • Duas preocupações em relação ao uso de clindamicina são: o Aumento da resistência entre bactérias anaeróbicas à clindamicina ▪ Ampicilina-sulbactam (3 g IV a cada seis horas) é uma alternativa razoável o Aumento da resistência de isolados de Streptococcus do grupo B (GBS) à clindamicina. • A dosagem de gentamicina de intervalo estendido (5 mg/kg a cada 24 horas) é preferida porque é mais conveniente e econômica e tão eficaz e segura quanto a dosagem três vezes ao dia REGIME INICIAL PREFERIDO (COLONIZAÇÃO GBS) • A resistência à clindamicina em isolados GBS varia de 13 a 43 por cento. • Para aqueles pacientes que são sabidamente colonizados com GBS como resultado da triagem universal, sugerimos: o Clindamicina 900 mg a cada 8 horas mais o Gentamicina 5 mg/kg a cada 24 horas (preferencial) ou 1,5 mg/kg a cada 8 horas (sem dose de ataque) mais o Ampicilina 2 g IV a cada 6 horas Ou o Ampicilina-sulbactam 3 g IV a cada 6 horas • Aproximadamente 20 por cento das falhas de tratamento são devidas a organismos, como enterococos, que são resistentes a cefalosporinas ou clindamicina mais gentamicina. o Na ausência de informações das hemoculturas, a adição de ampicilina 2 g IV a cada seis horas ao esquema de clindamicina mais gentamicina, bem como a repetição do exame físico para excluir outra fonte de febre, pode ser uma abordagem eficaz se o paciente não estiver já em uso de ampicilina . • O tratamento deverá ser continuado até que a paciente esteja clinicamente bem e afebril, por 24 a 48 horas. • Não é necessária a manutenção da antibioticoterapia, por via oral, exceto em infecções estafilocócicas ou se presente hemocultura positiva. o Neste caso, completar sete dias de tratamento. • Se não houver melhora substancial do quadro em 48 a 72 horas, pensar em abscesso pélvico. • Caso não haja imagem sugestiva durante avaliação adequada (USG, TC, RNM), levar em consideração a possibilidade de tratar-se de tromboflebite pélvica. TRATAMENTO CIRÚRGICO • Curetagem uterina: realizada quando da presençade restos ovulares e após iniciado antibiótico, visando diminuir a bacteremia. Utilizar ocitócitos para reduzir risco de perfuração uterina; • Histerectomia: pode ser indicada nas infecções severas (gangrena gasosa causada pelo Clostridium perfringens ou welchii); • Outras indicações de abordagem cirúrgica: o Extensão peritoneal da infecção o Abscesso intra-abdominal ou sepse. PROFILAXIA • O emprego rotineiro de antibiótico profilático reduz a incidência de endometrite em cerca de 70%, tanto em cesárea eletiva quanto na de urgência. • Única dose de ampicilina ou de cefalosporina de primeira geração • A administração de antibiótico profilático, cerca de 30 a 60 minutos antes do início da cirurgia • American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG) preconiza que a profilaxia antimicrobiana seja administrada em todos os casos de operação cesariana • Dose única de cefazolina (2 g por via intravenosa; nas paà entes com mais de 120 kg, administram- -se 3 g por via intravenosa). Nas pacientes alérgicas a antibióticos betalactâmicos, administra-se dindamià na (900 mg, por via intravenosa), associada à gentamicina (3,5 a 5 mg/ kg por via endovenosa). COMPLICAÇÕES E DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS TROMBOFLEBITE PÉLVICA PUERPERAL • Incidência de 0,05 a 0,18% • Não se sabe ao certo se primeiro há formação do trombo e este se infecta, ou se a infecção pélvica puerperal favorece a formação de trombos, ou, ainda, se os dois fenômenos ocorrem simultaneamente. • A patogênese da tromboflebite pélvica pode ser explicada por estase venosa ou baixo fluxo sanguíneo, alteração da coagulação (hipercoagulabilidade) e lesão da camada íntima dos vasos. • Admite-se ainda que durante o parto vaginal ou na cesárea ocorra lesão venosa intimai, variando em extensão e grau de comprometimento. • O diagnóstico de tromboflebite pélvica puerperal é difíàl, pois, com exceção da tromboflebite da veia ovariana, em que se pode palpar uma massa dolorosa que se estende até a margem lateral do músculo reto do abdome, o exame físico é pouco eluàdativo. Geralmente, a paciente se encontra em bom estado, porém apresenta febre persistente, que pode atingir até 40 º C, acompanhada de calafrios, a despeito do tratamento antibiótico adequado. • A heparina pode ser administrada por via endovenosa, como heparina não fracionada na dose inicial de 5.000 U, seguida de infusão contínua de 16 a 18 U/kg, devendo-se manter o tempo de tromboplastina parcial entre 1,5 a duas vezes do valor médio. • A heparina também pode ser administrada como heparina de baixo peso molecular (enoxaparina, 1 mg/kg, por via sub cutânea, a cada 12 horas). INFECÇAO DA PAREDE ABDOMINAL • A infecção da parede abdominal após operação cesariana representa uma das principais complicações do período puerperal. • Tempo prolongado de internação, obesidade, diabetes mellitus, imunossupressão, tempo àrúrgico prolongado, desnutrição, má técnica cirúrgica e infecções em outros sítios são considerados os fatores predisponentes para infecção da parede abdominal • Staphylococcus epidermidis, o Staphylococcus aureus e a Escherichia coli • Em geral, a infecção da ferida cirúrgica manifesta-se em torno do quinto ao sétimo dias de pós-operatório; entretanto, se há envolvimento do estreptococo beta-hemolítico do grupo A, os sinais denunciadores de infecção podem aparecer precocemente, já dentro de 48 a 72 horas após a cirurgia. • A forma mais grave de infecção da ferida cirúrgica é a fasciite necrosante INFECÇAO DE EPISIOTOMIA • A infecção de episiotomia é uma complicação infrequente, com incidência inferior a 1% . • A gravidade da infecção guarda relação direta com a profundidade da lesão. Na maioria das vezes, a infecção acomete de forma superficial a episiotomia, com presença de dor local, edema e hiperemia • O tratamento consiste na combinação de antibioticoterapia e debridamento da área afetada. Nos casos em que não há manifestação sistêmica e abscesso, prescreve-se antibiótico por via oral ( amoxicilina, 500 mg, associada a clavulanato de potássio, 250 mg, a cada 8 horas, ou d indamicina, 300 mg, a cada 6 horas). • na presença de manifestação sistêmica, acompanhada ou não de abscesso, administra-se clindamicina (900 mg, a cada 8 horas, ou 600 mg, a cada 6 horas) associada a gentamicina (3,5 a 5 mg/kg, a cada 24 horas) ou ampicilina/sulbactam (3 g, a cada 6 horas).
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