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Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS ACNE: A acne vulgar é uma dermatose inflamatória crônica comum que acomete a unidade pilossebácea, apresentando pico de incidência na adolescência e tendência de desenvolvimento de formas graves no sexo masculino. Cerca de 35% das mulheres e 20% dos homens permanece com manifestações acneicas após os 30 anos. A unidade pilossebácea é uma invaginação da pele que contempla o folículo piloso (matriz, papila dérmica e pelo), o músculo eretor do pelo e as glândulas sebáceas, que drenam secreções para a região folicular. Anatomia da unidade pilossebácea A patogênese da acne se dá a partir da hiperqueratinização do infundíbulo folicular, provocando a obstrução de seu orifício e a formação dos comedos, podendo ser fechados (cravos brancos) ou abertos (cravos pretos). Essa mudança de coloração resulta da oxidação de queratinócitos e do acúmulo de melanina. A hipersecreção de sebo é comumente associada à estimulação androgênica periférica e à hipertrofia das glândulas sebáceas. A progressão do quadro é diretamente associada à presença da Cutibacterium acnes (antes P. acnes), bactéria saprófita que encontra condições ideais de replicação no folículo impactado, já que se nutre por lipídios. A hidrólise dessas moléculas leva à liberação de ácidos graxos irritantes, o que promove ampla reação inflamatória e a consequente ruptura do folículo, infiltrando mediadores imunes e bacterianos na derme. Esse processo resulta no surgimento de papilas inflamatórias, gradualmente convertidas em pústulas, nódulos ou até mesmo abcessos. Estágios de evolução da acne QUADRO CLÍNICO: As manifestações clínicas são variadas, sendo estratificadas de acordo com os graus de gravidade da acne vulgar, a saber: O desenvolvimento da acne pode ser estimulado por fatores genéticos (herança autossômica dominante), estresse emocional, período menstrual, síndromes androgênicas femininas e o uso de determinadas medicações (ex.: lítio, glicocorticoides) Há acometimento preferencial em áreas seborreicas, como face, tórax e dorso Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Grau I (acne não inflamatória ou comedônica): forma mais comum de acne, é marcada pela presença de comedões abertos e fechados, porém pápulas ou pústulas são raras; Presença de comedões fechados em fronte de paciente com acne grau I Grau II (papulopustulosa): são encontrados, para além dos comedões, pápulas inflamatórias e pústula, com acometimento predominante em face. o acúmulo local de sebo está sempre presente; Lesões típicas da acne grau II Grau III (nódulo-cística): manifesta-se de modo semelhante ao Grau II, com a adição de nódulos fuunculoide que eliminam secreção purulenta. Pode estender-se para tronco e parte proximal dos braços; Formações nodulares de acne grau III em mento Grau IV (conglobata): é uma apresentação grave na qual há predomínio de nódulos purulentos que confluem entre si, criando abcessos e fístulas. É mais frequente em homens, afetando face, pescoço e tronco, podendo atingir as nádegas; Lesões nodulares com presença de cicatrizes em paciente com acne conglobata Grau V (fulminante): apresentação rara na qual há aparecimento súbito de lesões semelhantes à acne grau IV, acompanhadas por febre, poliartralgia e leucocitose. As áreas afetadas podem sofrer ulcerações hemorrágicas ou necrose. Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Lesões por acne fulminante O aparecimento de cicatrizes residuais ou manchas pigmentares pode ocorrer, especialmente em apresentações de grau III (formação de áreas deprimidas) e IV (queiloides deformantes). Cicatrizes da acne VARIANTES CLÍNICAS DA ACNE: Acne por cosméticos: é a forma mais frequente de lesões acneiformes induzidas, observada quase que exclusivamente em mulheres de 30-40 anos com histórico prévio de acne. Pode se desenvolver com o uso excessivo de sabões (com ou sem medicações), formando comedões e pápulas na face; Acne estival: costuma surgir no verão, como resultado do edema (e inflamação) de glândulas sudoríparas, associado a quadros prévios de acne ou ao uso de protetores solares. Há papulopústulas com poucos comedões, afetando face, dorso, ombros e pescoço; Acne androgênica: compõe a síndrome SAHA (seborreia, acne, hirsutismo, alopecia), resultante da produção excessiva de angrogênios em mulheres com ovários policísticos ou outras endocrinopatias; Acne da mulher adulta: manifestação que pode persistir desde a adolescência ou ter início tardio (depois dos 25 anos). Afeta o terço inferior da face, com piora no período menstrual; A maioria dos casos tem perfil hormonal normoandrogênico. Acne ocupacional: divide-se em cloracne (intoxicação por cloro), comum em trabalhadores agropecuários e de indústrias, com lesões em face e pescoço; e elaioconiose (óleos minerais e graxas), marcada por comedões abertos nas coxas, antebraços e dedos das mãos; Acne medicamentosa: fármacos tópicos ou sistêmicos, como corticoides, esteroides anabolizantes, gonadotrofinas e anticoncepcionais são capazes de induzir, manter ou agravar quadros acneicos com pápulas pequenas disseminadas, podendo ou não ter crostas hemáticas e prurido. DIAGNÓSTICO: Em decorrência das manifestações características, o diagnóstico da acne é clínico, não costumando oferecer dificuldades. Em indivíduos adultos, é necessário diferenciar o quadro da rosácea, erupção acneiforme que apresenta pápulas foliculares. No entanto, a presença de telangiectasia e a localização (face medial e fronte) auxiliam a estabelecer a diagnose. Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Apresentação típica de rosácea, importante diagnóstico diferencial da acne pós-puberdade TRATAMENTO: O tratamento da acne vulgar tem como principal objetivo evitar o desenvolvimento de sequelas (cicatrizes), promovendo a correção da queratinização folicular, supressão da secreção sebácea, o controle da proliferação bacteriana e a redução da inflamação epidérmica. Não é recomendada a aplicação de produtos que ressequem a pele, pois podem causar quebras na barreira de proteção cutânea e efeito rebote. Esse propósito pode ser alcançado por meio do uso de medicamentos tópicos e sistêmicos, com estratégias direcionadas para suas várias formas clínicas: Acne grau I: apresenta resultados satisfatórios dentro de 4 semanas com o uso de fármacos tópicos, especialmente de retinoides, como isotretinoína gel (0,05%) e adapaleno (0,1-0,3%), administrados à noite, após limpeza da pele com sabões à base de enxofre ou ácido salicílico. A exposição solar deve ser evitada, pois esses medicamentos aumentam a sensibilidade da pele. Para aqueles pacientes que não podem reduzir a exposição ao sol, recomenda-se o uso de ácido azelaico gel (15%), em 1 ou 2 aplicações diárias. A extração manual dos comedões deve ser reservada a quadros refratários, como uma abordagem adjuvante. Acne grau II: a maioria dos pacientes também reage bem aos medicamentos tópicos, com resultados esperados dentro de três meses, com manutenção por tempo indeterminado. Como esse quadro também apresenta manifestações inflamatórias, o uso de fármacos “anti C. acnes” é recomendado. Assim, a terapia de escolha se baseia no uso de antimicrobianos tópicos (eritromicina 2-4% ou clindamicina 1% associados a peróxido de benzoíla) pela manhã e derivados de retinoides, já descritos anteriormente, à noite. Em apresentações extensas ou refratárias,pode ser indicado o uso de antibióticos sistêmicos, à exemplo da tetraciclina (500 mg, 2 a 4x/dia). Acne graus III. IV e V: a isotretinoína (0,5-1,5 mg/kg/dia por 5 meses) deve ser iniciada precocemente nesses quadros, devido à sua ação direta sobre a glândula sebácea. Além disso, antibióticos sistêmicos continuam apresentando papel importante no controle da proliferação de C. acnes. A literatura internacional recomenda ainda a terapia hormonal com 0,035 mg de etinilestradiol antes da implementação da isotretinoína. A isotretinoína tem como principal contraindicação o uso em gestantes, dado o risco de efeitos teratogênicos. Mulheres em idade fértil devem associar dois métodos Como efeitos adversos mais evidentemente associados à iotretinoína, destacam-se a secura labial/quelite, eritema facial, prurido, mialgia, hipercolesterolemia e hepatite. Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS contraceptivos para iniciar o uso desse medicamento. A prednisona (20 mg/dia) é de uso obrigatório no grau V, auxiliando a prevenir episódios de exacerbação da acne, graças a seu potente efeito anti-inflamatório. Em caso de acne ligada a endocrinopatias, a resposta à isotretinoína é limitada, sendo necessário manejo específico do distúrbio hormonal. A acne por cosméticos, por sua vez, é resolvida com a suspensão do uso do agente causador. Fluxograma geral de tratamento da acne
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