Buscar

200-anos-da-independencia-do-brasil-como-preparar-boas-aulas-de-historia-sobre-o-tema

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 6 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 6 páginas

Prévia do material em texto

Endereço da página:
https://novaescola.org.br/conteudo/21330/200-anos-da-independencia-
do-brasil-como-preparar-boas-aulas-de-historia-sobre-o-tema
Publicado em NOVA ESCOLA 24 de Agosto | 2022
Planejamento
200 anos da
Independência do Brasil:
como preparar boas aulas
de História sobre o tema
Ouvimos três professores sobre a construção de propostas
que incluem novos personagens e perspectivas, e análise de
imagens e documentos – e preparamos uma charge que
pode ser usada em sala de aula
Victor Santos
Monumento à Independência, localizado em São Paulo (SP). Professores
buscam, cada vez mais, impulsionar a reflexão crítica dos seus alunos a respeito
das simbologias tradicionais relacionadas a esse fato histórico. Crédito: Getty
https://novaescola.org.br/conteudo/21330/200-anos-da-independencia-do-brasil-como-preparar-boas-aulas-de-historia-sobre-o-tema
Images.
“Acredito que o nosso papel, como professores de História, é tentar mostrar
para os alunos que as interpretações sobre o passado mudam à medida que o
nosso presente também muda”, aponta o professor Sinesio Andrade Silva, que
atua nos Anos Finais do Ensino Fundamental na EM José Veríssimo, no Rio de
Janeiro (RJ). “O interessante, então, é usar efemérides como o 7 de setembro
para propor discussões sobre o porquê dessa data ter se tornado referência.
Será que nós temos que aceitá-la do mesmo modo que as pessoas lá no
passado a construíram?”.
O marco trazido pelo bicentenário da Independência do Brasil (1822-2022) tem
ajudado a colocar em evidência muitas reflexões como essa trazida pelo
educador. Ainda em 2021, a 13ª edição da Olimpíada Nacional em História do
Brasil teve como tema justamente os 200 anos do 7 de setembro, rendendo
uma exposição on-line de mais de mil e quinhentos trabalhos de estudantes de
todo o país. Já neste ano, algumas produções audiovisuais buscam apresentar
diferentes olhares sobre essa questão, como o podcast Projeto Querino,
idealizado e apresentado pelo jornalista Tiago Rogero e produzido pela Rádio
Novelo, e a minissérie Independências, dirigida por Luiz Fernando Carvalho e
com exibição prevista na TV Cultura a partir de setembro de 2022.
Essas iniciativas jogam luz em algo que já ocorre há bastante tempo: o esforço,
por parte dos historiadores brasileiros, de conduzir estudos e pesquisas que
tragam perspectivas como a dos povos africanos e indígenas para o centro do
debate, afastando-se da visão eurocêntrica que, por muito tempo, predominou
na historiografia nacional. E essa discussão reverbera nas salas de aula. 
“Não só a História, como a Educação do século 21 no geral, tem esse desafio de
trazer à tona falas e narrativas silenciadas ao longo do tempo. Tanto o 7 de
setembro quanto outros fatos históricos foram construídos sob uma lógica bem
colonizadora”, destaca a professora Roberta Duarte da Silva, que dá aula nos
Anos Finais do Fundamental nas EM Professor Silvio Romero Vieira e Dom
Carlos Coelho, ambas em Jaboatão dos Guararapes (PE). “Cabe a nós, então,
levarmos para a sala de aula um olhar mais descolonizado. E esse é um
movimento que, muitas vezes, vai de encontro aos currículos, livros didáticos e
outros materiais que utilizamos de suporte, sendo uma luta cotidiana e diária”,
completa Roberta, que também faz parte do time de formadores da NOVA
ESCOLA.
Possibilidades de trabalho e início do planejamento
O professor Guilherme Barboza de Fraga, que leciona História na EMEF
Rondônia, em Canoas (RS), comenta que, para turmas do 6º ao 9º ano, é
possível iniciar esse ‘olhar descolonizado’ aos poucos. “Podemos abordar desde
o início desse ciclo escolar questões como a África antes da escravidão e os
povos originários da América Latina. No 7o ano, por exemplo, podemos
desconstruir essa ideia de descobrimento do Brasil e ligá-lo às grandes
navegações e à expansão marítima”, sugere. “É preciso fazê-los pensar que a
forma como os europeus intervieram nessas localidades não significa que ali foi
o início da História.”
Em relação especificamente à temática da Independência, os três professores
https://www.olimpiadadehistoria.com.br/especiais/aindependenciaexposta/
https://www.olimpiadadehistoria.com.br/especiais/aindependenciaexposta/lista
https://projetoquerino.com.br/
acreditam que as atenções que o bicentenário está recebendo rendem, de fato,
possibilidades de trabalho com toda a etapa dos Anos Finais do Fundamental.
“Faz muito sentido levar para a sala de aula questões, problemas e situações
que o aluno está acompanhando. Em anos como este de aniversário da data, a
escola pode planejar ações educativas para todos os anos”, diz Sinesio.
A professora Roberta exemplifica que, atualmente, desenvolve com alunos do
6º ao 9º ano um projeto sobre a Revolução Pernambucana (1817). “Vamos fazer
uma peça teatral revivendo esse movimento. Vamos mostrar como ele teve sua
importância ao ajudar a introduzir a ideia de independência do Brasil em meio
às discussões que ocorriam à época.”
Ao levar o assunto para as turmas, continua a educadora, é importante que o
planejamento seja construído em cima das reflexões críticas que se espera que
os estudantes atinjam. “Na lógica do planejamento reverso, começamos a
planejar já pensando nos resultados que queremos obter e onde queremos que
o aluno chegue”, sintetiza Roberta. “Então, se quero que o aluno problematize
essa data, olhe para o 7 de setembro e reflita sobre a questão da
independência, da liberdade e da identidade cultural e social construída no
período, como faço para que ele tenha esse olhar? Um dos caminhos é trazer as
narrativas que foram silenciadas ao longo da História.”
Questionamentos iniciais e contextualizações
“Os alunos muitas vezes se assustam quando eu digo: ‘quem proclamou a
Independência não foi um brasileiro, e sim um português que, inclusive, foi
imperador no Brasil e depois rei em Portugal”, conta o professor Sinesio.
“Curiosidades assim chamam a atenção deles na hora de começar a abordar
esse assunto”.
Esse comentário ajuda a resumir alguns dos pontos cruciais indicados pelos
educadores para consolidar propostas sobre a Independência: incluir boas
questões disparadoras e realizar um trabalho amplo de contextualização
histórica, se possível, apoiado por imagens.
“Gosto muito de trabalhar com fontes visuais. Nos Anos Finais, isso é
particularmente atraente – deixo que as imagens conduzam a conversa e vou
mais provocando do que respondendo”, afirma o professor Guilherme. Autor
de planos de aulas da NOVA ESCOLA que tratam das independências na
América Latina, ele diz que, tanto em sala de aula quanto em seu canal do
Youtube, busca descrever a conjuntura brasileira em meio às emancipações
políticas que já vinham ocorrendo nos países vizinhos.
“Procuro focar inicialmente na Independência do Haiti, com as imagens
mostrando a revolta dos escravizados e os seus líderes, que são homens
negros, o que já gera reflexões iniciais – uma pessoa negra ocupando essa
posição de destaque, com trajes militares, em pleno final do século 18, é algo
que causa um ‘susto’ inicial”, observa. Em seguida, ele busca mostrar murais de
Diego Rivera (1886-1957), que ilustram elementos e grupos sociais ligados à
Independência do México, e imagens de figuras como Simón Bolívar (1783-
1830), Manuela Sáenz (1797-1856) e José de San Martín (1778-1850), pontuando
como integraram processos que levaram a emancipações na América do Sul
hispânica.
/conteudo/21153/planejamento-como-construir-e-desenvolver-esse-instrumento-de-forma-mais-assertiva
/planos-de-aula/autores/guilherme-barboza-de-fraga/1410
https://www.youtube.com/channel/UCA-y39SwboLfCsrEoqJaF2A/videos
/planos-de-aula/fundamental/8ano/historia/sequencia/independencia-do-haiti/842
Como explica a professora Roberta, esse encadeamento de conjunturas
também inclui acontecimentos históricos que já vinham causando abalos no
território que viria a ser nosso futuro país. “É importante destacar lutas que já
aconteciam anteriormente, que muitas vezes são minimizadas, como a
Inconfidência Mineira (1789-1792) e a Conjuração Baiana (1798-1799).Esses
movimentos já traziam à tona essa questão do Brasil independente, e a baiana
lutou por pautas importantes como a abolição da escravatura”. Para o
professor Guilherme, o apelo imagético desses dois movimentos também
funciona na sala de aula. “É interessante exibir os quatro líderes da Conjuração
Baiana, todos homens negros, e pedir que os estudantes comparem com os
que estavam à frente da revolta mineira.”
Imagens oficiais e charges
Como reforçam os três educadores, a simbologia que envolve o 7 de setembro
é grande, e avançar nesse trabalho com elementos visuais permite análises,
desconstruções e mesmo a apresentação de figuras não tão conhecidas. O
pontapé inicial, segundo eles, pode ser o próprio quadro Independência ou
Morte, de Pedro Américo (1843-1905). “Essa imagem, muito difundida, é ‘a
imagem’ quando pensamos em 7 de setembro. Então, trago para problematizá-
la com meus alunos”, conta Roberta. “Aconteceu daquela maneira? Quais
personagens estão presentes nessa cena? Eles são representantes de toda a
população? Negros e escravizados, que eram a maior parte da população,
estavam onde? Questões como essas ajudam a evidenciar a ausência de
participação popular e o silenciamento de quem ficou à margem desse
processo e permitem que eles comecem a compreender a narrativa construída
no quadro, pintado mais de sessenta anos depois da Independência.”
Dessa forma, é possível ‘desmontar’ os elementos da cena ali retratada. “Antes
de mostrar o quadro, comento que a Independência já havia sido assinada pelo
conselho de estado sob o comando da [imperatriz] Leopoldina. Ela enviou uma
carta ao seu marido, o então príncipe-regente Pedro I, que estava em viagem”,
explica Guilherme. “Assim, ao verem a tela de Pedro Américo, vêm as
perguntas: ‘por que uma espada, se ele tinha recebido uma carta com o
documento assinado pela esposa?’ Aos poucos, os alunos vão captando a
imagem heroica construída, do homem levantando a espada em defesa dos
interesses nacionais.”
Conforme as respostas dos alunos e as interações, salienta a professora
Roberta, é possível avançar ainda mais nas reflexões. “Até que eles entendam
que esse foi um movimento construído pela elite e que as pautas discutidas
foram voltadas para esse grupo. Itens como a abolição da escravidão não foram
abordados e nem mesmo um outro tipo de modelo de governo – porque tudo
ali atendia aos interesses da elite colonial brasileira, nessa transição para
Império.”
As charges também podem ser úteis no sentido de perceber o viés elitista e
excludente que envolve o 7 de setembro. “Tem uma que costumo mostrar, com
dois homens comemorando a Independência e uma mãe com uma criança no
cantinho”, lembra o educador Guilherme. “Aí a criança pergunta ‘o que é a
Independência’, e a mãe diz que ‘deve ser um novo produto inglês’”. Para apoiar
o seu trabalho reflexivo em sala de aula sobre a Independência do Brasil, NOVA
ESCOLA elaborou uma charge exclusiva que pode ser utilizada com os seus
alunos.
 
BAIXE A CHARGE GRATUITAMENTE AQUI
Análise de documentos
A abordagem imagética aparece também como estratégia para apresentar
personagens e acontecimentos desconhecidos de boa parte dos estudantes. “A
participação das mulheres é pouco trabalhada e precisa ser mais explorada”,
reforça o professor Guilherme. “Trago imagens como a Maria Quitéria vestida
de soldado nas lutas de Independência na Bahia, além da pernambucana
Barbara de Alencar, da mineira Barbara Heliodora e da baiana Maria Filipa de
Oliveira.”
A figura de Maria Quitéria, inclusive, se relaciona com o fato de que a
Independência do Brasil envolveu muitas lutas. “É crucial mostrar que não foi só
o Grito do Ipiranga. Houve um processo em julho de 1825 na Bahia com a
participação de várias camadas da sociedade em lutas armadas e teve a Batalha
do Jenipapo no Piauí, entre outras lutas em diferentes localidades”. É nesse
momento que, segundo o educador, é possível transitar das imagens para a
análise de documentos. Em uma experiência recente, ele montou um mural
online com a turma usando o padlet, que mesclou imagens, pesquisa em
diferentes fontes e reflexões sobre esses personagens invisibilizados e batalhas
que se seguiram ao 7 de setembro.
Para o professor Sinesio, esse caminho de estimular o contato dos alunos com
a pesquisa em documentos históricos rende oportunidades de aprendizagem
potentes. Ele conta que o site do Arquivo Nacional está disponibilizando
documentos digitalizados, e alguns se relacionam com as guerras de
Independência. Há imagens da Maria Quitéria e mesmo cartas. “Gosto de
pensar como brincar com essas coisas, por exemplo, ao pegar uma carta ou
documento da época e pedir para os alunos decifrarem – dá para ir sentindo a
turma e, se estiver difícil, codificar parte da carta para eles. Às vezes, eles
reclamam dizendo ‘mas tem que ler nessa letrinha aqui?’, e eu digo ‘é, nessa
letrinha aí mesmo’”, diverte-se ao recordar. “O interessante é essa oportunidade
de colocá-los em contato com aquilo que o historiador faz, como a leitura e
interpretação de documentos.”
Olhar crítico e relação com o presente
Pelos relatos dos educadores, ficam notórias as muitas camadas de reflexões,
que atingem diferentes simbologias, que permeiam o ensino da Independência
do Brasil. “É importante enfatizar que não houve unanimidade, o que houve foi
sangue. Ela se consolidou por meio de conflitos armados em que a família real
se saiu vitoriosa”, pontua o professor Sinesio. “E isso se reflete até mesmo no
verde e amarelo da bandeira brasileira, que são cores de famílias nobres
europeias. A narrativa de que o amarelo representa nossas riquezas [como o
ouro] e o verde nossas florestas é apenas uma releitura republicana.”
O educador Guilherme também realça que é interessante puxar essa
constatação de que a bandeira atual republicana possui apenas ligeiras
https://nova-escola-producao.s3.amazonaws.com/77TmJFNE5MVsCJHnMvKRUJqzGbZDP7ydnRRyECcA97f245UW3VnTP23bcrK5/charge-independencia-brasil.pdf
https://cursos.novaescola.org.br/curso/11377/como-avaliar-os-alunos-a-distancia/resumo
https://www.gov.br/arquivonacional/pt-br
modificações em relação à do Império. “Então, vale questionar o que de fato
mudou depois de 1825, quando foi reconhecida pelos portugueses. O que
melhorou na vida do povo? Porque, na prática, não houve transformações
substanciais na vida da população: a escravidão permaneceu, assim como a
concentração fundiária e a desigualdade social. Isso permite refletir sobre a
ideia de construção desses 200 anos”.
Assim, a chave, segundo os professores, é conduzir reflexões que dialoguem
com aquilo que ocorreu em 1822. “Gosto de pedir que os alunos imaginem esse
mesmo processo de independência acontecendo atualmente, como se o Brasil
ainda fosse colônia”, indica Roberta. “Como acham que esse movimento
aconteceria? Como seria a participação popular? Quais atores seriam
coadjuvantes? Vejo essa como uma boa maneira de fazê-los refletir, criar
conexões e ir além, quem sabe até imaginando outros cenários.”
De acordo com ela, é preciso trazer criticidade para que essa data seja cada vez
mais trabalhada de outras maneiras, que vão além do discurso cívico-militar, e
com outros tipos de homenagens, discussões e pautas. “É necessário
descolonizar esses fatos históricos consagrados e entender como essas
narrativas estão inseridas em contextos mais complexos, como o do racismo
estrutural que ocorre no Brasil até hoje”.
https://box.novaescola.org.br/etapa/3/educacao-fundamental-2/caixa/214/precisamos-falar-sobre-racismo-estrutural/conteudo/19922

Continue navegando