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DIREITO PENAL COMUM – CEFC 2 AUTORIDADES Governador do Estado do Rio de Janeiro Exmº Sr Cláudio Bonfim de Castro e Silva Secretário de Estado de Polícia Militar Exmº Sr Coronel PM Luiz Henrique Pires Subsecretário de Estado de Polícia Militar Ilmº Sr Coronel Carlos Eduardo Sarmento da Costa Diretor-Geral de Ensino e Instrução Ilmº Sr Coronel PM Marco Aurelio C. Guarabyra Vollmer Comandante do CFAP 31 de Voluntários Ilmº Sr Coronel PM Marcelo Andre Teixeira da Silva Comandante do Centro de Educação a Distância da Polícia Militar Ilmº Sr Tenente-Coronel PM Alexandre Moreira Soares DIREITO PENAL COMUM – CEFC 3 APRESENTAÇÃO Estamos vivendo a era da tecnologia, na qual a informação está cada dia mais latente e veloz em nossa rotina diária. Este curso tem por objetivo , formar e especializar os Cabos da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro. Para tal, o Curso ocorrerá na modalidade à Distância, pois as disciplinas ocorrerão no ambiente virtual de aprendizagem, por intermédio da Escola Virtual, no Centro de Educação a Distância Cel Carlos Magno Nazaré Cerqueira (CEADPM) e as avaliações de forma presencial no Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças ( CFAP 31 Vol.). É fundamental o seu empenho no curso, pois você terá na parte EaD autonomia de estudos e de horários, mas também é necessário disciplina e dedicação para o êxito dessa jornada, pois alcançar o sucesso depende do esforço coletivo e também individual, objetivando que nossos policiais sejam cada vez mais qualificados, bem treinados e especializados, para cumprirmos nossa missão, buscando cada vez mais a excelência de nossas ações. O bom treinamento envolve aspectos físicos e cognitivos, na era da informação e da tecnologia, precisamos nos aprimorar cada vez mais a fim de garantir uma tropa consciente, respeitosa, pautada em valores morais e institucionais, garantindo assim o cumprimento de suas funções com dignidade e excelência. Esperamos que você aproveite ao máximo os conhecimentos adquiridos através deste curso e busque uma reflexão acerca de suas funções perante a sociedade e seus companheiros de profissão. Que seja um momento de repensar as práticas e fortalecer seu vínculo profissional, ampliando cada vez mais seus conhecimentos para lidar com as particularidades de ser um Policial Militar no Estado do Rio de Janeiro. Desejamos a todos bons estudos! Marco Aurélio C. Guarabyra Vollmer – Coronel PM Diretor-Geral de Ensino e Instrução Marcelo André Teixeira da Silva – Coronel PM Comandante do CFAP DIREITO PENAL COMUM – CEFC 4 Desenvolvedores Supervisão Geral EAD MAJ PM Rodrigo Fernandes Ferreira Equipe Técnica SUBTEN PM Willian Jardim de Souza 3º SGT PM Edson dos Santos Vasconcelos SD PM Lucas Almeida de Oliveira SD PM Diogo Ramalho Pereira Diagramação 2º SGT PM Alan dos Santos Oliveira 2º SGT PM Wallace Reis Fernandes CB PM Michele Pereira da Silva de Oliveira CB PM Vanessa Souza Rino Bahia Design Instrucional 1º SGT PM Eloisa Cláudia Clemente de Almeida CB PM Michele Pereira da Silva de Oliveira Filmagem e Edição de Vídeo CB PM Renan Campos Barbosa SD PM Alessandra Albuquerque da Silva Designer Gráfico / Diagramação Interativa 2º SGT PM Wallace Reis Fernandes SD PM Leonardo da Silva Ramos Suporte ao Aluno CB PM Vanessa Souza Rino Bahia CFAP Supervisão e Coordenação Pedagógica CAP PM Ped. Patrícia Kalife 3ºSGT Rodrigo Barroso Candido CB PM Juliana Pereira de Carvalho CB PM Fernanda Belisio Oliveira dos Santos SD PM Eduarda Vasconcellos Dias de Oliveira Conteudista 1º TEN PM Luciana Ribeiro Almeida DIREITO PENAL COMUM – CEFC 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 6 VAMOS VER OS CONCEITOS E FUNDAMENTOS? ............................................... 7 VOCÊ SABE O QUE É DIREITO PENAL OBJETIVO E DIREITO PENAL SUBJETIVO? ......................................................................................................................... 10 FONTES DO DIREITO PENAL E A INTERPRETAÇÃO DA NORMA E DA LEI PENAL ............................................................................................................................. 11 DOLO, CULPA, ERRO DE TIPO E EXCLUDENTE DE ILICITUDE – CONCEITOS E AÇÃO PENAL ........................................................................................ 15 AÇÃO PENAL ........................................................................................................................ 19 RELAÇÃO DE CAUSALIDADE ....................................................................................... 20 ANÁLISE DE ALGUNS TIPOS PENAIS .................................................................... 22 DIREITO PENAL COMUM – CEFC 6 INTRODUÇÃO De todos os ramos da grande árvore jurídica, o Direito Penal é aquele que protege os valores mais preciosos e significativos para a convivência social. Quais são esses valores? São por exemplo, a vida, a saúde, a honra, a liberdade, a paz pública. Em razão de relevante importância desses valores,quando alguém pratica um homicídio não compete aos parentes ou amigos da vítima punir o autor do delito. A maioria dos crimes tem caráter público e não privado. Ofende a todos, isto é, à sociedade e não exclusivamente a vítima. Portanto, compete ao Estado - Juiz, como representante da sociedade, o direito e o dever de punir os infratores da Leipenal. O conjunto dos profissionais chamados de “operadores do direito” não se limitam aos juízes, promotores, advogados e aos agentes das polícias judiciárias, mas, também, aos policiais militares. O conhecimento jurídico é imprescindível para o policial militar não incidir em práticas de atos arbitrários, que consistem em posicionamentos antagônicos à prática de atos discricionários, o policial militar deve ter a noção exata dos contornos legais da discricionariedade. Destarte, não existe outra forma senão estudar as leis, conhecer a doutrina e, ainda, tomar contato com a jurisprudência, como faz um bom operador dodireito. Diante disto, é importante que ele receba uma boa formação técnico-jurídica para que se sinta preparado e, consequentemente, encontre-se seguro ao tomar decisões, sob o peso da responsabilidade de quem representa o próprio Estado e, nessa condição, é o primeiro normalmente a tomar contato com situação de conflito, adotando providências imediatas e indispensáveis para o restabelecimento da ordem pública. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 7 VAMOS VER OS CONCEITOS E FUNDAMENTOS? Finalidade do direito penal “Ninguém será obrigado a fazer ou a deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”, Dispositivo pétreo da nossa Constituição Republicana consagra o Princípio da Legalidade, que deve nortear o entendimento do Direito Penal, portanto, a proteção dos bens jurídicos mais importantes e necessários para a própria sobrevivência da sociedade perpassam pela legalidade, evitando o exercício arbitrário da própria razão ou o uso violento da força sem reserva legal para tanto, funcionando como um instrumento de controle social. Códigos penais do Brasil Pensando na história, desde que o homem passou a viver em sociedade até quando iniciou o controle social temos diversas fases, começando na punição oriunda dos deuses ou para satisfazer suas aspirações, passando pela vingança privada e chegando na vingança pública. Atualmente vivemos a fase humanitária, onde as penas devem corresponder ao crime cometido, não na ideia de vingança, antes correção.Feita a síntese genérica e mui rápida, vejamos os códigos penais do nosso país: 1. Período colonial – do descobrimento ao Império.Valia o direito Lusitano e vigoravam as Ordenações Afonsinas que foram substituídas pelas Ordenações Manuelinas e por fim Ordenações Filipinas. O que haviam de comum nessas Ordenações era que não se adotava o princípio da reserva legal, DIREITO PENAL COMUM – CEFC 8 antes sem direito a defesa e com penas cruéis e desproporcionais o Estado punia o criminoso; GRAVURA REPRESENTANDO A PENA DE MORTE IMPOSTA 2. Período Imperial–Grande avanço humanitário em relação ao período anterior, proibindo torturas, marcas de ferro, açoites entre outras práticas como a personalização da pena, que passou a ser apenas do delinquente, mas foram mantidas a pena de morte, trabalho forçado, banimento entre outras. Foram editados os códigos penais: 1) Código Criminal do Império do Brasil – 1830; 2) Código Penal dos Estados Unidos do Brasil – 1890; GRAVURA REPRESENTANDO A ASSINATURA DO CÓDIGO CRIMINAL DIREITO PENAL COMUM – CEFC 9 3. Período Republicano – é o atual, com grandes tendências humanitárias, contudo atualmente marcado pela fragilidade do Estado no enfrentamento a criminalidade crescente e desenfreada. Foram editados os seguintes códigos: 1) Consolidação das Leis Penais – 1932; 2) Código Penal – 1940, cuja parte especial, com algumas alterações, vigora até hoje; 3) Código Penal – 1969, que teve uma ‘vacatio legis’ de aproximadamente nove anos, e foi revogado sem nunca ter entrado em vigor; 4) Código Penal – 1984, que revogou tão somente a parte geral do Código de 1940. Assim, o nosso atual Código possui uma parte geral (arts. 1o a 120), que reporta a 1984, e uma parte especial (arts. 121 a 361), que reporta a 1940 com alterações. Embora muitas leis esparsas tenham sido editadas, nosso código penal já está ultrapassado carecendo de uma nova edição. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 10 VOCÊ SABE O QUE É DIREITO PENAL OBJETIVO E DIREITO PENAL SUBJETIVO? Direito penal objetivo– em síntese são as Leis em vigor, ou seja, as editadas e não revogadas. Direito Penal subjetivo– é a possibilidade que tem o Estado de punir o cidadão dentro da sociedade, que abarca: 1. A possibilidade de criar Leis, impondo sanção a determinados comportamentos abstratamente considerados; 2. O poder-dever de aplicar a pena cominada quando ocorrer, concretamente, o comportamento proscrito; 3. O poder-dever de executar a pena aplicada, forçando o delinquente condenado a efetivamente se submeter à sanção que lhe foi imposta; 4. A possibilidade de abolir figuras delitivas ou restringir o alcance da mesma. Nos itens 2 e 3 – a polícia é um dos órgãos que tem esse poder-dever! DIREITO PENAL COMUM – CEFC 11 FONTES DO DIREITO PENAL E A INTERPRETAÇÃO DA NORMA E DA LEI PENAL Vamos ver os conceitos e considerações gerais da Infração penal? O legislador penalista estabeleceu diferença entre crime (ou delito - sinônimo) e contravenção penal, mas essa diferença não é essencial, situando-se, tão somente, no campo da pena. Os delitos sujeitam seus autores a penas de reclusão e detenção, enquanto as contravenções, no máximo, implicam prisão simples, portanto, o critério é exclusivamente político. Uma contravenção muito comum no cotidiano do policial é o cidadão não querer se identificar, conforme o artigo 68 da LCP.Interessante notar que a rigor não existe diferença entre ilícito civil e penal, pois ambos são infrações à Lei, contudo, o ilícito penal afronta bens jurídicos mais importantes para a sociedade. Um ilícito civil muito comum em nossa cidade é o ato de urinar na rua, punido com multa, cujo agente fiscalizador é a prefeitura municipal, não a polícia. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 12 Agora no tocante ao conceito de crime, nosso legislador não o conceituou!!!Portanto, este é essencialmente jurídico. Você sabia que o crime pode apresentar três conceitos diferentes: 1. Conceito formal; 2. Material e 3. Conceito analítico. Vamos ver cada um? 1. CONCEITO FORMAL – o crime é determinado pelo conceito da Lei; 2. CONCEITO MATERIAL – todo o fato humano lesivo de um interesse capaz de comprometer as condições de existência, de conservação e de desenvolvimento da sociedade. É a conduta que viola os bens jurídicos mais importantes. 3. CONCEITO ANALÍTICO – crime é ação típica (tipicidade – reserva legal), antijurídica ou ilícita (ilicitude – comportamento contrário a lei) e culpável (culpabilidade– consciência que afere dolo ou culpa). Aqui começa a confusão, pois nesse ponto se conceitua o crime a partir dos seus elementos, principalmente pela posição pacífica em que o crime é um fato típico, ilícito e culpável. O principal motivo dos debates é a conduta. Existem três teorias acerca da conduta – causal, social e finalista.Para nosso estudo importa duas formas de condutas humanas: AÇÃO E OMISSÃO. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 13 Os crimes podem ser praticados por ação (crimes comissivos) ou por omissão (crimes omissivos). Os crimes comissivos consistem num fazer, numa ação positiva. Os crimes omissivos consistem na abstenção da ação devida. Os crimes omissivos dividem-se em:omissivos próprios (ou omissivos puros) – deixar de socorrer (135 CP), por exemplo sem o dever de agir, respondendo apenas pelo não agir e nunca pelo resultado; e comissivos por omissão (omissivos impróprios– 13§ 2º CP) – deixar de socorrer, sendo policial ou bombeiro ou qualquer agente garantidor. Há de se avaliar o crime de deixar de socorrer e o resultado da omissão do dever de agir. Um caso interessante para nosso cotidiano é o caso da tortura, pois a Lei 9455/97 pune a conduta de quem se omite em face da tortura, quanto tinha o dever de evitar ou apurar o fato. A conduta penal ainda precisa ser analisada sob o aspecto do dolo e da culpa. DOLOSA – ocorre quando o agente quer o resultado ou assume o risco de produzi-lo; CULPOSA – ocorre quando o agente dá causa ao resultado em virtude de sua imprudência, imperícia ou negligência. Via de regra, os crimes só podem ser dolosos, sendo culposos apenas quando houver previsão legal expressa nesse sentido. De acordo com o artigo 18, PARÁGRAFO ÚNICO, do CP. Salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. Interessante e oportuno trazer ao conhecimento que se não houver vontade dirigida à produção de um resultado qualquer, não haverá, penalmente falando, conduta. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 14 Ocorre nos casos de: a) força irresistível (seja proveniente da natureza ou da ação de um terceiro); b) movimentos reflexos (só excluem a conduta quando absolutamente imprevisíveis); c) estados de inconsciência, entre outros. Outro ponto a destacar é que a simples vontade de delinquir não é punível, se não for seguida de um comportamento externo. Nem mesmo o fato de outras pessoas tomarem conhecimento da vontade criminosa será suficiente para torná-la punível. É necessário que o agente, pelo menos, inicie a execução da ação que pretende realizar (a exceção é no crime de terrorismo e o de quadrilha ou bando). Logo, o ‘Iter Criminis’ divide-se duas fases: uma interna e outra externa. Na fase interna, está a cogitação. Já na fase externa, estão preparação, execução e consumação. É importante perceber que nem todo crime percorre o iter criminis completo. (Crimes tentados, crimes de terrorismo, quadrilha ou bando). O crime pode ser Permanente, continuado ou instantâneo. Crime permanente é aquele crime que a sua consumação se estende no tempo. Crime continuado quando o agente pratica várias condutas, implicando na concretização de vários resultados, terminando por cometer infrações penais de mesmas espécies, em circunstânciasparecidas de tempo, lugar e modo de execução, aparentando que umas são meras continuações de outras. Em face disso aplica-se a pena de um só dos delitos. Já o crime instantâneo é porque a consumação ocorre num só momento, num instante, sem continuidade temporal. Um segredo para identificá-los é analisar o verbo descrito no tipo penal. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 15 DOLO, CULPA, ERRO DE TIPO E EXCLUDENTE DE ILICITUDE – CONCEITOS E AÇÃO PENAL Dolo Oartigo 18 do CPdiz do crime doloso: quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo, logo, dolo é a vontade livre e consciente de realizar a conduta prevista no tipo penal incriminador. Para juristas o dolo possui inúmeras classificações. Nós ficaremos apenas com o dolo direto e o eventual. Assim, dolo direto é aquele em que o agente quer o resultado e o indiretoou eventual onde o agente assume o risco de causá-lo. Culpa O mesmo artigo 18do CP diz do crime culposo: quando o agente deu causa ao resultado por imprudência, negligência ou imperícia e no seu PARÁGRAFOÚNICO afirma que salvo os casos expressos em lei, ninguém pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o pratica dolosamente. Nos delitos culposos, a conduta do agente é dirigida, em regra, a um fim lícito. Não há conduta sem finalidade, seja ela dolosa ou culposa. Cabe ressaltar que na conduta dolosa a ação é impulsionada por uma finalidade ilícita já na culposa, visto ser a finalidade geralmente lícita, precisar-se-á analisar o resultado. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 16 Erro de Tipo O artigo20 do CP ensina que o erro de tipo pode ter duas facetas: Erro de tipo escusável – é o erro de tipo invencível, em que qualquer pessoa normal poderia incorrer; erro de tipo inescusável é o erro de tipo vencível, que poderia ter sido evitado se o agente tivesse agido com as diligências ordinárias. OBS.: Seja o erro de tipo escusável ou inescusável, o fato é que ele sempre afastará o dolo do agente. Excludente de Ilicitude O artigo 23 do CP (42 do CPM) enumera as causas excludentes de ilicitude: Estado de necessidade - quando o autor pratica a conduta para salvar de perigo atual não provocado voluntariamente pelo agente. Legítima defesa - consiste em repelir moderadamente injusta agressão a si próprio ou a outra pessoa. A legítima defesa requer, para sua configuração, a ocorrência dos seguintes elementos: Que o sujeito conheça a situação de fato justificante, ou seja, sabe que está agindo em legítima defesa (animus defendendi); Agressão injusta: agressão é conduta humana - Não vale, por exemplo, contra quem cumpre mandado de prisão; vale contra inimputáveis; pode ser usada pelo provocador, desde que não premeditadamente; https://pt.wikipedia.org/wiki/Estado_de_necessidade https://pt.wikipedia.org/wiki/Leg%C3%ADtima_defesa DIREITO PENAL COMUM – CEFC 17 Agressão atual ou iminente: Atual é aquela que está ocorrendo e iminente é aquela que está prestes a ocorrer. Não é a simples ameaça; Lesão ou ameaça de lesão a direito próprio ou alheio: Significa que o agente pode repelir injusta agressão a direito seu (legítima defesa própria) ou de outrem (legítima defesa de terceiros). Pode ser filho, cônjuge, um segurança com relação ao patrão. Uso do meio necessário: eficaz e suficiente. Juristas entendem que é aquele que o ofendido dispõe no momento em que está sendo agredido ou na iminência de sê-lo. Moderação no emprego dos meios: Significa que o agente deve agir sem excesso. Comedimento, visando apenas afastar a agressão, interrompendo a reação quando cessar a reação injusta. Inevitabilidade: não é a covardia, mas os tribunais têm entendido que: “o cômodo e prudente afastamento do local”. Estrito Cumprimento de Dever Legal Quando o autor tem o dever de agir - por ser agente público - e o faz de acordo com determinação legal.Exemplos de estrito cumprimento de dever legal, largamente difundidos na doutrina: https://pt.wikipedia.org/wiki/Estrito_cumprimento_de_dever_legal DIREITO PENAL COMUM – CEFC 18 Policial que viola domicílio onde está sendo praticado um delito; Emprego de força indispensável no caso de resistência ou tentativa de fuga; Soldado que mata um inimigo no campo de batalha; Oficial de justiça que viola domicílio para cumprir ordem de despejo, dentre outros. Exercício regular de direito Consiste na atuação do agente dentro dos limites conferidos pelo ordenamento legal. Exemplos de exercício regular de direito largamente difundidos na doutrina: Correção de filho pelo pai Violência esportiva, praticada nos limites da competição Prisão em flagrante por particular; Direito de retenção por benfeitorias previsto no Código Civil; Desforço imediato no esbulho possessório. Trote acadêmico ou militar; OBS.: O agente, em qualquer das hipóteses, responderá pelo excesso doloso ou culposo. As excludentes de ilicitude como a própria designação sugere, eliminam a antijuridicidade da conduta do agente. Não há, portanto, fato típico e antijurídico (o fato é lícito), logo, não há crime a ser imputado, em princípio. https://pt.wikipedia.org/wiki/Exerc%C3%ADcio_regular_de_direito DIREITO PENAL COMUM – CEFC 19 AÇÃO PENAL É um direito subjetivo público de se invocar do ‘Estado- Administração’ a sua tutela jurisdicional, a fim de que decida sobre determinado fato trazido ao seu crivo, trazendo de volta a paz social, concedendo ou não o pedido levantado em juízo. A ação penal é, portanto, o exercício de uma acusação, que indica o autor de determinado crime, responsabilizando-o, e pedindo, para o mesmo, a punição prevista em lei. Inúmeras são as doutrinas e correntes sobre o tema. A nós interessa conhecer que existem ações penais públicas, públicas condicionadas e privadas. As ações penais públicas independem da vontade da vítima, já as públicas condicionadas/ privadas carecem de manifestação da vítima ou de seus familiares. Normalmente crimes sexuais e ligados à honra são públicos condicionadas/ privadas. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 20 RELAÇÃO DE CAUSALIDADE Nexo Causal Nexo de causalidade, também chamado de nexo causal ou relação de causalidade, é o elo que existe entre a conduta e o resultado. É a relação de causa e efeito existente entre a ação ou omissão do agente e a modificação produzida no mundo exterior, em resumo significa avaliar se a conduta deu ou não causa ao resultado. Inúmeras são as correntes doutrinárias e jurisprudenciais, além de várias teorias. A nós importa saber que o nexo causal ocorrerá nos seguintes crimes: a) Crimes materiais – a lei penal exige, para sua caracterização, a produção de um resultado que cause uma modificação no mundo exterior, perceptível pelos sentidos. EXEMPLOS: homicídio, tráfico de entorpecentes, roubo de veículo, etc. b) Crimes omissivos impróprios (comissivos por omissão) – são os constantes do §2º do artigo 13 do CP, que também exigem materialidade para a responsabilização do agente. EXEMPLO: mãe que não alimenta o filho e ele morre. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 21 Porém, não ocorrerá nexo causal, nos seguintes crimes: a) Formais– não importa o resultado, apenas a conduta. Ocorrendo ou não o resultado o crime estará caracterizado. O resultado é mero exaurimento. EXEMPLO: extorsão, corrupção, ameaça, desacato, etc. b) Mera conduta – delitos de simples atividade, em que o legislador não fez qualquer previsão de resultado a fim de caracterizá-lo. Difere-se do formal porque, neste, embora não seja necessário o resultado para sua consumação, o legislador o prevê como mero exaurimento do crime. EXEMPLOS: o porte ilegal de arma defogo (perigo abstrato), violação de domicílio e o controvertido embriaguez ao volante, etc.... Esses crimes são assim interpretados para repelir comportamentos indesejados na sociedade. c) Comissivos próprios ou omissivos puros – para sua caracterização, basta a inação do agente. EXEMPLO é a omissão de socorro. ATENÇÃO - Quem se omite não permanece inativo, mas realiza uma ação diferente à que se podia e devia esperar! DIREITO PENAL COMUM – CEFC 22 ANÁLISE DE ALGUNS TIPOS PENAIS Alguns Crimes Contra a Vida 1. Homicídio: (121 CP) Objeto jurídico: Preservação da vida humana. Convém destaque que pode restar caracterizado pela omissão do autor, nas hipóteses de crime omissivo impróprio, aqueles que a norma impõe ao autor obrigação de impedir a ocorrência crime (fala-se também em impedir o resultado), previstas no artigo 13, §2.º, do Código Penal.A conduta também admite a colaboração de terceiros: a coautoria e/ou a participação, O homicídio simples será considerado hediondo se praticado em “... atividade típica de grupo de extermínio...”, mesmo praticado por um só agente. Também será hediondo o homicídio qualificado, previsto nas hipóteses do § 2.º do artigo 121 (artigo1.º, inciso I, da Lei n. º 8072/90). Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: Qualquer pessoa com vida. Elemento subjetivo: Dolo ou Culpa. Consumação: Evento morte. Só ocorrerá a tentativa se, e apenas se, por circunstâncias alheias à vontade do agente o evento não ocorrer DIREITO PENAL COMUM – CEFC 23 Importante conhecer um pouco sobre o homicídio privilegiado, cuja natureza jurídica é de causa de diminuição de pena, e embora a letra da lei mencione que o juiz pode diminuir a pena, na verdade, a doutrina e os tribunais tem entendido tratar-se de um dever por parte do magistrado e não uma faculdade.O ‘privilégio’, por ser circunstância subjetiva, não se comunica aos colaboradores no caso de concurso de pessoas. Já o homicídio qualificado é aquele que é cometido em circunstâncias que o tornam ainda mais reprovável. 2. Homicídio culposo de trânsito: (302 CTB) Desse tipo penal importante salientar que para a caracterização não basta que o homicídio seja no trânsito, é necessário que seja na condução de veículo automotor. Se alguém no trânsito, conduzindo uma mobilete, uma bicicleta, uma carroça, matar alguém, responderá pelo Código Penal. 3. Induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio (122 CP) Objeto jurídico: Preservação da vida humana. Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: Qualquer pessoa com discernimento. Elemento subjetivo: Apenas o dolo. Consumação: Com o evento morte ou lesão corporal grave OBS.: Não é necessário que o acidente com veículo automotor ocorra na via pública. Não há essa especificação no art. 302. Se o homicídio ocorrer em via particular também incidirá o CTB. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 24 Induzir: Significa despertar, dar, criar a ideia na cabeça da vítima. Instigar: Significa reforçar, encorajar uma ideia já existente. Auxiliar: Significa dar apoio material ao ato suicida, disponibilizar os meios materiais para que o suicídio morra. 4. Infanticídio (123 CP) Objeto jurídico: Preservação da vida humana. Sujeito ativo: Só a mãe. Sujeito passivo: O recém-nascido. Elemento subjetivo: Apenas o dolo. Consumação: Com o evento morte, admissível a tentativa. Para entender melhor o tipo penal, o puerpério é o período que se estende do início do parto até a volta da mulher às condições pré- gravidez e como toda mãe passa pelo estado puerperal, algumas com graves perturbações e outras com menos, é desnecessário a perícia. São duas as modalidade de participação ao suicídio: MORAL - Induzir e Instigar; MATERIAL -Auxiliar. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 25 5. Aborto (124 a 128 CP) Objeto jurídico: Preservação da vida humana. Sujeito ativo: A gestante no auto abortamento e qualquer pessoa no aborto provocado por terceiros. Sujeito passivo: O feto no auto abortamento e o feto e a gestante no aborto provocado por terceiros. Elemento subjetivo: Apenas o dolo. Consumação: Com o evento morte, admissível a tentativa ou a destruição do óvulo. O aborto consiste na interrupção da gravidez com a consequente morte do feto, que pode ser realizada pela própria gestante ou por terceira pessoa. O aborto em geral é classificado em: a) natural: interrupção espontânea da gravidez; b) acidental: decorrente de queda ou traumatismo da gestante, por exemplo; c) criminoso; d) legal ou permitido. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 26 6. Lesão Corporal (129 CP) Objeto jurídico: Integridade física e psíquica da pessoa. Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: Qualquer pessoa. Elemento subjetivo: Dolo e culpa. Consumação: Com a efetiva ofensa, admissível a tentativa. Importante salientar que ainda que a vítima sofra mais de uma lesão o crime será único. O delito de lesão corporal consiste em todo e qualquer dano produzido por alguém, sem animus necandi, à integridade física ou à saúde de outrem. Ela abrange qualquer ofensa à normalidade funcional da pessoa, tanto do ponto de vista anatômico, quanto do fisiológico ou psíquico. A doutrina e os Tribunais têm entendido ser impossível uma perturbação mental sem um dano à saúde, ou um dano à saúde sem uma ofensa física. O objeto da proteção legal é a integridade física e a saúde do ser humano. A autolesão não é punida no ordenamento jurídico brasileiro. No crime, mesmo doloso, é cabível fiança e admite transação penal. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 27 7. Disparo de arma de fogo Agora um assunto a se estudar profundamente é o crime de disparo de arma de fogo, estabelecido pelo Estatuto do Desarmamento versus o crime de lesão corporal, o disparo de arma de fogo no seu artigo 15, verbis: Art. 15.- Disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa. PARÁGRAFO ÚNICO. O crime previsto neste artigo é inafiançável. A jurisprudência dos tribunais quanto à condenação de policiais por disparos de arma de fogo, sem a observância do princípio da proporcionalidade, é farta! A questão que se coloca para solução doutrinária e jurisprudencial é o disparo de arma de fogo realizado por policial que causa lesão corporal de natureza leve, sem que a intenção deste seja o homicídio. Alguns poucos juristas entendem que o disparo de arma de fogo por ser crime mais grave que a lesão corporal leve deve prevalecer na tipificação delitiva, contudo, toda a questão se prende a conduta do policial, qual foi o seu ânimo. Por moderação/ proporcionalidade, alguns tribunais têm entendido que o disparo para o alto para cessar grave perturbação da ordem é cabível ou para reprimir a ocorrência de outro crime, como por exemplo, se defender, ou a terceiros, do ataque de uma multidão, mas repudiam, condenando o policial pelo chamado ‘tiro de advertência’. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.826compilado.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.826compilado.htm DIREITO PENAL COMUM – CEFC 28 A jurisprudência majoritária e a doutrina dominante, entende que o crime de disparo de arma de fogo é subsidiário à prática do delito de lesão corporal, sendo por este absorvido. Assim, uma vez comprovado que a conduta do agressor, ao disparar a arma, almejava lesionar os ofendidos, não se pode falar em condenação pelo crime meio, mesmo que a sua pena seja superior à do crime fim.Frisando bem o tipo penal inserto no art. 15 da Lei 10.826 /03 apenas restam configurado se a conduta praticada não tenha como finalidade precípua a prática de outro crime, não se concretizando quando o agente se vale do disparo da arma de fogo apenas como um meio para se atingir outro objetivo criminoso final. Se o agente comete o crime de ameaça ou de lesão corporal leve utilizando-se de disparo de arma de fogo para tanto, impera aplicar o princípio da consunção, em que o crime-meio resta absorvido pelo crime-fim ainda que o Código Penal comine a esta pena privativa de liberdade menor. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 29 Alguns crimes contra a honra 1. Calúnia (138 CP) Objeto jurídico: Honra objetiva (reputação). Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: Qualquer pessoa. Elemento subjetivo: Apenas o Dolo. Consumação: Quando chega ao conhecimento de uma terceira pessoa. 2. Difamação (139 CP) Objeto jurídico: Honra objetiva (reputação). Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: Qualquer pessoa. Elemento subjetivo: Apenas o Dolo. Consumação: Quando chega ao conhecimento de uma terceira pessoa. 3. Injúria (140 CP) Objeto jurídico: Honra subjetiva (sentimento de per si). Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: Qualquer pessoa. Elemento subjetivo: Apenas o Dolo. Consumação: Quando chega ao conhecimento do ofendido. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 30 Para que se caracterize a calúnia, deve haver uma falsa imputação de fato definida como crime (não se admite fato definido como contravenção penal) de forma determinada e específica, onde um terceiro toma conhecimento. Já o crime de difamação consiste na atribuição de um fato desonroso (não precisa ser falso) enão criminoso, distinguindo-se da calúnia por essa razão. Por derradeiro injuriar alguém, significa imputar a este uma condição de inferioridade perante a si mesmo, atacando de forma direta seus próprios atributos pessoais. Se gerar uma discussão onde ambas as partes se atacam verbalmente procurando diminuir o outro, ambos cometem o crime. Se houver agressão física, ocorre a chamada injúria real e dependendo da lesão, pode haver o concurso com o crime de lesão corporal. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 31 Alguns crimes contra a liberdade pessoal 1. Ameaça (147 CP) Objeto jurídico: Liberdade pessoal, paz de espírito, segurança da ordem jurídica, tranquilidade pessoal entre outros. Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: Qualquer pessoa capaz de sentir-se intimidado. Elemento subjetivo: Apenas o Dolo específico. Consumação: Quando chega ao conhecimento do ofendido. É crime formal. Ameaçar significa procurar intimidar, prometendo malefício. Pode ser oral, escrito, por mímica e até simbolicamente. O mal deve ser injusto e grave, além do meio ser idôneo e sério. Vale ainda frisar que predomina, portanto, o entendimento de que a ameaça, para configurar o tipo penal, precisa ser marcada pela seriedade e idoneidade, razão pela qual diversas decisões judiciais apontam a não configuração de crime quando a ameaça é produto de ato impensado, tal qual em momento de cólera, revolta ou ira; ou estando o autor ébrio; ou ainda quando a vítima não lhe confere maior relevância. Cumpre distinguir a ameaça do constrangimento ilegal, onde este o objetivo a subjugação, por meio da violência ou grave ameaça, da vontade do ofendido para alcançar um fim ilegítimo e, aquela o incutimento do medo é um fim em si mesmo. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 32 2. Sequestro e cárcere privado (148 CP) Objeto jurídico: Liberdade individual, notadamente a de locomoção; Sujeito ativo: Qualquer pessoa (se funcionário público o crime pode ser outro). Sujeito passivo: Qualquer pessoa. Elemento subjetivo: Apenas o Dolo. Consumação: Delito material e permanente. Admite-se a tentativa O sequestro pode dar-se mediante detenção que em síntese consiste em levar a vítima para outra casa e prendê-la em um quarto, ou retenção que nada mais é que impedir que a vítima saia de casa. Outros autores afirmam que o tipo penal procura tutelar o direito à liberdade. Inúmeros meios podem ser empregados para concretizar o intento criminoso como, por exemplo o emprego de substâncias entorpecentes, fraude, ameaça, não conceder autorização para liberação de enfermo, dentre outros que a mente criminosa puder imaginar. Importante frisar que o núcleo do tipo penal admite hipótese de omissão, qual seja, a do agente garantidor, que ao tomar conhecimento não adota providências para cessar o crime. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 33 É um crime material e permanente, como já estudado. A respeito sobre o tipo penal há pequenas diferenças entre as condutas criminosas, a saber: no crime de sequestro, a vítima possui maior liberdade de locomoção, enquanto que no crime de cárcere privado a vítima quase não tem como se locomover, sua liberdade é mais restrita. Se o crime for praticado por funcionário público no exercício de suas funções, aplica-se, de acordo com o princípio da especialidade, a Lei 4898/65 – Abuso de Autoridade. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 34 Alguns crimes contra a inviolabilidade do domicílio 1. Violação de domicílio (150 CP) Objeto jurídico:Inviolabilidade da casa. Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: Morador da casa. Elemento subjetivo: Apenas o Dolo. Consumação: Com a entrada ou permanência. Crime formal de mera conduta. Fazendo uma leitura do tipo penal, podemos conceituá-lo como o ato de entrar ou permanecer, de maneira clandestina ou astuciosa, em casa alheia, contra a vontade do seu habitante. Este é um tipo penal também consagrado constitucionalmente contendo um dos princípios mais sagrados da Constituição Federal, no seu artigo 5º inciso XI, que estabelece a casa como ASILO INVIOLÁVEL DO CIDADÃO. A busca sem mandado judicial só é justificada por uma fundada suspeita da prática de crime permanente, como por exemplo o tráfico de drogas e a posse de armamento de uso proibido ou restrito. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 35 Observa-se que as decisões majoritárias dos tribunais, deixam bem claro a conduta policial esperada, mesmo ante crimes permanentes: Desconstruindo a afirmativa que deve ser analisada frente às narrativas comuns aos autos de prisão em flagrante por tráfico de drogas, descobre-se que, em regra, não há uma situação de flagrância comprovadamente constatada antes da invasão de domicílio, o que a torna ilegal, violadora de direito fundamental. Porém, como em um passe de mágica juridicamente insustentável, por uma convalidação judicial, a apreensão de objetos ou substâncias que sejam proibidos ou indicativos da prática de crime e a prisão daquele (s) a quem pertença (m) travestem de legalidade uma ação essencialmente – e originariamente – violadora de direito fundamental. O STF definiu que o ingresso forçado em domicílios sem mandado judicial apenas se revela legítimo, em qualquer período do dia (inclusive durante a noite) quando tiver suporte em razões devidamente justificadas pelas circunstâncias do caso concreto e que indiquem que no interior da residência esteja a ocorrer situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade penal, cível e/ ou disciplinar do policial. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 36 Alguns crimes contra o patrimônio 1. Furto (155 CP) Objeto jurídico: Propriedade, posse, detenção da coisa. Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: Proprietário, possuidor ou detentor da coisa. Elemento subjetivo: Apenas o Dolo. Consumação: Quando a coisa é retirada da esfera da disponibilidade do ofendido. É crime material e admite tentativa. Para a jurisprudência do STF, para a consumação do crime de furto basta a posse do bem em poder do agente, independentemente de vigilância da vítima ou posse tranquila, de modo que a fuga logo após o furto caracteriza a inversão da posse estará consumado mesmo havendo perseguição imediata e, consequente retomada do objeto. O crime insculpido no artigo 155 do CP consiste em subtrair coisa alheia móvel. A subtração é o ato de tomar para si aquilo que não está sob a sua legítima posse ou de que não seja de sua propriedade, logo, o verbo é SUBTRAIR, consiste em tirar; retirar de outrem, bem móvel sem a permissão com o ânimo definitivo de ficar com a coisa. É a retirada do bem sem o consentimento de quem detém ou possui o bem. A coisa não está com o sujeito ativo. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 37 Importante salientar que para o direito penal, o conceito de móvel é o natural, qual seja tudo aquilo que é removível de um local para outro, pouco importando se a coisa está ou não incorporada ao solo. Não pratica furto o funcionário público que subtrai dinheiro, valor ou bem, público ou particular, ou concorre para que seja subtraído, valendo-se de facilidade proporcionada pela qualidade de funcionário, antes pratica o crime de “peculato-furto”, previsto no art. 312, § 1º, do CP. Pode haver alguma confusão com o tipo penal da Apropriação indébita, previsto no art. 168 do CP e uma forma bem simples de saber quando se aplica uma ou outra tipicidade, dentro da esfera penal e aplicando a análise ao caso concreto, é saber o seguinte: A coisa estava com o agente? Se a resposta for positiva, o crime é de apropriação indébita (analisadas as circunstâncias); Se a resposta for negativa, o crime é de furto (analisadas as circunstâncias). Outro assunto interessante para conhecermos é que o furto com abuso de confiança, furto uso, quando a pessoa repõe em seguida ao uso, não é considerado ilícito penal, mas ilícito civil. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 38 2. Roubo (157 CP) Objeto jurídico: Propriedade, posse, detenção da coisa. Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: Proprietário, possuidor ou detentor da coisa. Elemento subjetivo: Apenas o Dolo. Consumação: Quando a coisa é retirada da esfera da disponibilidade do ofendido. É crime material e admite tentativa. Para a jurisprudência do STF, para a consumação do crime de roubo basta a posse do bem em poder do agente, independentemente de vigilância da vítima ou posse tranquila, de modo que a fuga logo após o roubo caracteriza a inversão da posse estará consumado mesmo havendo perseguição imediata e, consequente retomada do objeto. O roubo nada mais é que o furto agravado pelas circunstâncias da violência física ou psíquica contra a pessoa, ou ainda por outro meio que a impede de resistir aos propósitos e à ação do delinquente. O roubo próprio, previsto no caput do artigo 157 do CP, para sua configuração, exige que a violência ou grave ameaça ocorra para possibilitar a subtração do bem, enquanto que no roubo impróprio, descrito no § 1º do artigo referido, primeiro ocorre a retirada do bem da vítima e, logo após, haja a violência ou grave ameaça para garantir a manutenção da posse da coisa subtraída. Portanto a diferença entre ambos está no momento em que ocorre a violência, se antes – roubo próprio, se depois – roubo impróprio.Interessante observar que se por alguma razão, não houver violência após a subtração da coisa, não haverá roubo tentado, mas furto consumado, sendo essa a posição doutrinária e jurisprudencial dominante. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 39 3. Extorsão (158 CP) Objeto jurídico: O patrimônio, a liberdade e a incolumidade pessoais. Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: Qualquer pessoa. Elemento subjetivo: Apenas o Dolo, admissível a tentativa. Consumação: É crime formal e consuma-se mesmo sem a obtenção da vantagem indevida. Ela consuma-se, portanto, no momento em que a vítima, depois de sofrer a violência ou grave ameaça, realiza o comportamento desejado pelo criminoso. No crime de extorsão, usando da violência ou da grave ameaça o criminoso, obriga outra pessoa a ter determinado comportamento, com o objetivo de obter uma vantagem econômica indevida. A vítima é coagida pelo autor do crime a fazer, tolerar que se faça ou deixar fazer alguma coisa.Importante saber que se a extorsão fosse crime material, o agente poderia ser preso no momento em que estivesse recebendo a vantagem, no entanto, como a extorsão é crime formal, a prisão em flagrante deverá levar em consideração o momento em que houve o agente constrangeu a vítima. Se o constrangimento for feito em um momento e a obtenção da vantagem em outro, o que importa para o flagrante é o instante do constrangimento, o recebimento da vantagem indevida é mero exaurimento. Exemplificando, podemos citar que se o agente constrangeu a vítima a dar o seu cartão bancário e senha em um dia, mas somente foi sacar a quantia três dias depois, nesse momento do saque não haverá mais flagrante. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 40 4. Extorsão mediante sequestro (159 CP) Objeto jurídico: O patrimônio, a liberdade e a incolumidade pessoais. Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: Qualquer pessoa. Elemento subjetivo: Apenas o Dolo, admissível a tentativa. Consumação: Com o sequestro/ privação de liberdade. É um crime permanente. A corrente majoritária entende que no tipo penal da extorsão a expressão “qualquer vantagem diz respeito realmente a ‘qualquer vantagem’, sendo irrelevante que seja devida ou indevida, econômica ou não econômica”. Também é um crime complexo formado pela conexão de dois crimes, o de extorsão e o de sequestro. O objeto jurídico protegido pela norma é o patrimônio, a liberdade de locomoção e a incolumidade pessoal, e mesmo havendo ofensa à liberdade pessoal, trata-se de crime contra o patrimônio, pois o sequestro é crime meio para obter vantagem patrimonial. Interessante relembrar, tal qual no crime do artigo 148, algumas diferenças conceituais entre sequestro e cárcere privado. A primeira diferença é que o cárcere privado consiste na privação da liberdade de locomoção de uma pessoa nos moldes mais estrito, concretizada por meio da clausura, no local onde ela estiver. Já o sequestro admite que essa mesma privação da liberdade de locomoção seja efetivada de uma forma mais ampla – geograficamente –, admitindo sua efetivação em local diverso daquele no qual ela se encontrar. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 41 5. Apropriação indébita (168 CP) Objeto jurídico: O patrimônio. Sujeito ativo: Quem tem a posse ou a detenção lícita da coisa. Sujeito passivo: O dono ou o possuidor em razão de direito real. Elemento subjetivo: Apenas o Dolo. Consumação: Com a negativa de devolver a coisa. O tipo penal consiste no apoderamento de coisa alheia móvel, sem o consentimento do proprietário. O criminoso recebe o bem por empréstimo ou em confiança, e passa a agir como se fosse o dono. Como já estudado, pode haver alguma confusão com o tipo penal do Furto, previsto no art. 155 do CP e uma forma bem simples de saber quando se aplica uma ou outra tipicidade, dentro da esfera penal e aplicando a análise ao caso concreto, é saber o seguinte: A coisa estava com o agente? Se a resposta for positiva, o crime é de apropriação indébita (analisadas as circunstâncias); Se a resposta for negativa, o crime é de furto (analisadas as circunstâncias). DIREITO PENAL COMUM – CEFC 42 6. Estelionato (171 CP) Objeto jurídico: O patrimônio. Sujeito ativo:Qualquer pessoa. Sujeito passivo: Qualquer pessoa determinada. Elemento subjetivo: Apenas o Dolo. Admissível a tentativa. Consumação: Crime material. Consuma-se no momento e local em que o agente obtém a vantagem ilícita em prejuízo alheio. O tipo penal deverá sempre abarcar o fim econômico, de natureza patrimonial. A vantagem precisa ser ilícita, do contrário o crime será o previsto no artigo 345 CP, exercício arbitrário das próprias razões. Se o sujeito passivo for criança ou menor incapaz o crime será o de abuso de incapaz, previsto no 173 CP. Interessante em nossa prática diária, conhecer que a chamada “COLA ELETRÔNICA” segundo a orientação do STF e do STJ, não é crime de estelionato, antes crime de fraude em concurso público previsto no artigo 311-A CP. Ainda de acordo com o com o STJ, a exploração e funcionamento de máquinas eletrônicas programadas, denominadas caça-níqueis, videopôquer, vídeo bingo e equivalentes, em qualquer uma de suas espécies, revela prática contravencional, não configurando o estelionato. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 43 7. Receptação (180 CP) Objeto jurídico: O patrimônio. Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: Qualquer pessoa. Elemento subjetivo: Dolo e culpa. Admite-se tentativa. Consumação: Crime material e formal. Enquanto material (receptação própria) consuma-se no momento em que ocorre a aquisição, transporte, condução (e outras condutas) de objeto produto de crime. Já no formal (receptação imprópria) consuma-se com a conduta idônea de influir na opinião, requerendo segundo corrente majoritária, no entanto, que o terceiro pratique o ato para o qual foi induzido. Interessante para nosso estudo pontuar que no crime de receptação, a alegação de desconhecimento que o bem era oriundo de um crime, se o valor ou a condição do objeto indicam que ele não vem de boa procedência, o comprador ou quem receber estará cometendo o crime de receptação. A expressão deve presumir usada na lei é muito importante, pois a pessoa não precisa ter certeza ou evidência de que o produto tem origem criminosa, basta que a condição ou preço faça com que qualquer pessoa normal suspeite que o produto é originário de um crime. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 44 Alguns crimes contra os costumes 1. Estupro (213 CP) Objeto jurídico: A liberdade sexual da pessoa. Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: Qualquer pessoa. Elemento subjetivo: Apenas o Dolo, admitida a tentativa. Consumação: O estupro é crime material, se consuma com a cópula vagínicae/ou outro ato libidinoso, indispensável o constrangimento da vítima, mediante violência ou grave ameaça. São quatro as condutas a serem observadas: Constrangimento decorrente da violência física ou da grave ameaça; Dirigido a qualquer pessoa, seja do sexo feminino ou masculino; Para ter conjunção carnal; Ou, que a vítima pratique ou permita que com ela se pratique qualquer ato libidinoso. O ESTUPRO, CONSUMADO OU TENTADO É CRIME HEDIONDO. Para configurar o estupro é necessário que durante todo o ato sexual que a vítima não concorde e manifeste de forma clara e objetiva que não deseja que com ela se pratique, seja cópula vaginal, seja ato DIREITO PENAL COMUM – CEFC 45 libidinoso, sem, contudo, exigir comportamento heróico que coloque em risco sua vida. Para os casos de vítimas vulneráveis o consentimento é indiferente! Sobre vítimas vulneráveis, o bem jurídico tutelado no art. 217-A é a dignidade do menor de catorze anos, do enfermo e do deficiente mental, ou seja, pessoas que possuam discernimento reduzido. Outrora, o tipo penal para vítimas vulneráveis permitia muitas elucubrações, o que com o atual tipo não ocorrem, uma vez que basta ser menor de 14 anos de idade. A conhecida corrupção de menores da nossa profissão, hoje no artigo 218 do CP, impõe analisar se o agente induziu (convenceu, criou a ideia) da vítima praticar algum ato que visasse satisfazer a lascívia de outra pessoa, de forma meramente contemplativa, sem que exista qualquer contato físico, que se vier a ocorrer, ambos, quem induziu e beneficiado, serão responsabilizados por estupro de vulnerável, desde que, tenha existido dolo do aliciador nesse sentido. Importante salientar que todos os crimes contra o costume, a liberdade sexual, passaram a ser de ação pública condicionada a representação e, para vulneráveis, pública incondicionada. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 46 Alguns crimes contra a paz pública 1. Apologia de crime ou criminoso (287 CP) Objeto jurídico: A paz pública. Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: A coletividade se for pessoa determinada o crime será outro. Elemento subjetivo: Apenas o Dolo, admitida a tentativa. Consumação: É crime formal, não sendo necessário que alguém cometa o crime incitado. Impossível esgotar o tema. Mas alguns apontamentos importantes para nossa profissão: Incitação na área musical/ artística: Inicialmente cumpre estabelecer que a música é uma forma de expressão cultural, e como tal, a Constituição a protege com veemência: Inciso IX, do artigo 5º da CF - É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independente de censura ou licença. E não poderia ser diferente tendo em vista constituir-se nosso país num Estado Democrático de Direito, sendo um de seus objetivos a construção de uma sociedade livre, justa e solidária, contudo, não se pode entender que há, caso a caso, liberdade absoluta. Nesse sentido seria legitimado, por exemplo, expressão cultural de caráter claramente antidemocrático, como a que pregasse o racismo ou o nazismo, uso de entorpecentes? DIREITO PENAL COMUM – CEFC 47 Claro que não. O direito à liberdade de expressão deve ser sopesado com outros direitos, como o da segurança, sob a perspectiva do princípio democrático. Importante frisar que a conduta pública a ser avaliada, deve constituir incentivo doloso indireto a prática de crime. Outro local onde o crime de incitação ao crime é fértil é a internet, sendo os crimes cuja incitação ou apologia mais comuns são: A pedofilia, Racismo, Nazismo, Uso de entorpecentes e pirataria (violação dos direitos autorais). Um último detalhe, fazer publicamente apologia de alguém que fugiu não é crime porque fugir não é crime, mas apologia de favorecimento pessoal ou do criminoso que ajudou a escapar ou que escapou é crime. Interessante frisar que defender publicamente alguém condenado, não é apologia a criminoso, mas puro e simples exercício da liberdade de expressão. Ser amigo de criminoso também não é crime. Enfim você pode se associar, gostar ou desgostar de quem quiser, mas dizer que alguém que cometeu um crime é um exemplo a ser seguido, um herói, etc, é crime. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 48 2. Associação Criminosa (288 CP) Objeto jurídico: A paz pública. Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Trate-se de crime coletivo ou plurissubjetivo, que requer a participação de pelo menos 3 pessoas. Sujeito passivo: A coletividade. Elemento subjetivo: Apenas o Dolo. Consumação: É crime formal e permanente, se consuma com a efetiva associação. O ponto central da análise do novo tipo penal trazido pela Lei 12.850/2013é que não basta que de três (ou mais) pessoas pratiquem delitos. É necessário que se faça para a específica prática de crimes. A lei exige que a paz pública seja afetada pela intenção específica de cometer crimes. Ressalte-se que se associação criminosa não possuir estabilidade e caráter de permanência será considerado mero concurso de agentes. Vale acrescentar que se trata de atividade criminalordinária, devidamente orquestrada. Por fim interessante observar que o crime de associação criminosa é formal, autônomo e independe da prática e/ou comprovação de outros delitos e enquadra-se na modalidade de ofensa a paz pública. http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12850.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12850.htm DIREITO PENAL COMUM – CEFC 49 Alguns crimes contra a administração pública 1. Peculato (312 CP) Objeto jurídico: A administração pública no aspecto moral e patrimonial. Sujeito ativo: O funcionário público. Sujeito passivo:O Estado e a entidade de direito público. Elemento subjetivo: Dolo e culpa. Consumação: Quando o agente passa a dispor do objeto material como se fosse seu e quando existe o desvio da coisa pública. De forma resumida, o crime de peculato, previsto no artigo 312 do Código Penal, ocorre com: A apropriação (peculato-apropriação) ou Desvio (peculato-desvio) devalor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posseem razão da função, ou O desvia em proveito próprio ou alheio (peculato-furto). DIREITO PENAL COMUM – CEFC 50 2. Concussão (316 CP) Objeto jurídico: A administração pública no aspecto moral e patrimonial. Sujeito ativo: O funcionário público. Sujeito passivo: O Estado e a entidade de direito público. Elemento subjetivo: Apenas o dolo, não há forma culposa. Consumação: Crime formal se consuma com a simples exigência. Em resumo, o crime de Concussão previsto no artigo 316 do Código Penal, ocorre quando o funcionário público, em razão do cargo, exige para si ou para outrem, vantagem indevida. Como exemplo poderíamos ter um delegado de polícia exigindo dinheiro para permitir o funcionamento de prostíbulo. Mister destacar que a vantagem deve ser indevida, caso seja devida não há o crime. Caso o particular ceda à exigência indevida, não comete crime algum. É preciso que o agente efetivamente exija a vantagem, não basta que a peça, que a solicite. Quando servidor público apenas ‘pede’ vantagem ilícita devido à sua função, isso caracteriza outro crime, que o caso concreto dirá qual será, contudo, se a vantagem for oferecida por alguém ao agente público, não haverá crime de concussão, mas corrupção ativa, de acordo com o artigo 333 do Código Pena. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 51 3. Corrupção passiva (317 CP) Objeto jurídico: A administração pública no aspecto moral e patrimonial. Sujeito ativo: O funcionário público. Sujeito passivo: O Estado e a entidade de direito público. Elemento subjetivo: Apenas o dolo, não há forma culposa. Consumação: Crime formal, se consuma com a simples exigência. Em síntese, na corrupção passiva, o servidor público comercializa sua função pública. Sua honra e caráter não importam... Não existe crime mais sério do que a corrupção. Outras ofensas violam uma lei enquanto a corrupção ataca as fundações de todas as leis.Sob nossa forma de Governo, toda a autoridade está investida no povo e é por ele delegada para aqueles que o representam nos cargos oficiais. Não existe ofensa mais grave do que a daquele no qual é depositada tão sagrada confiança, quem a vende para seu próprio ganho e enriquecimento, e não menos grave é a ofensa do pagador de propinas. Ele é pior que o ladrão, DIREITO PENAL COMUM – CEFC 52 porque o ladrão rouba o indivíduo, enquanto que o agente corrupto saqueia uma cidade inteira ou o Estado. Ele é tão maligno como o assassino, porque o assassino pode somente tomar uma vida contra a lei, enquanto o agente corrupto e a pessoa que o corrompe miram, de forma semelhante, o assassinato da própria comunidade. São três as condutas típicas que caracterizam corrupção passiva: Solicitar (pedir) vantagem indevida; Receber referida vantagem; e, por fim, Aceitar promessa de tal vantagem, anuindo com futuro recebimento. A corrupção passiva é a prostituição da pureza do cargo pela parcialidade ou pelo interesse. No verbo solicitar, a corrupção parte do funcionário público corrupto e aqui reside a diferença marcante entre os crimes de corrupção passiva e concussão, qual sejaa ação do funcionário, no caso da concussão, representa uma exigência, e, no caso da corrupção passiva, representa uma solicitação (pedido). DIREITO PENAL COMUM – CEFC 53 4. Prevaricação (319 CP) Objeto jurídico: A administração pública no aspecto moral e patrimonial. Sujeito ativo: O funcionário público. Sujeito passivo: O Estado. Elemento subjetivo: Apenas o dolo, não há forma culposa. Consumação: Com o efetivo retardamento, omissão ou prática. A doutrina o considera crime funcional, isto é, um dos crimes que o agente público pode praticar contra o funcionamento regular da administração pública em geral, ao deixar de praticar o ato de ofício definido pela lei como decorrente de trabalho do agente público, ou seja, ato que deve ser praticado pela própria natureza do trabalho do agente, mesmo que não seja provocado para isso de forma específica. Seu retardamento, omissão ou a prática desvirtuada (ilegal) do ato devem ocorrer para a satisfação de interesse ou sentimento pessoal, e é nesse sentido que o crime de prevaricação se torna dificílimo de punição no Brasil, uma vez que a prova de interesse ou sentimento pessoal são difíceis de produzir e somado a isso, uma pena muito pequena para o delito. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 54 Alguns crimes praticados por particular contra a administração pública 1. Resistência (329 CP) Objeto jurídico: A administração pública no aspecto moral e patrimonial. Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: O Estado e a pessoa contra a qual a ação é praticada, ou seja, o funcionário público. Elemento subjetivo: Dolo, não há modalidade culposa. Consumação: Com a prática de violência ou ameaça, independentemente de conseguir obstar a execução (crime formal). Neste tipo penal, a conduta incriminada é a oposição à execução de ato funcional. Os meios empregados são a violência física ou a ameaça verbal ou escrita, independentemente da gravidade. São pressupostos do delito em estudo: a) Ato legal - é necessário a legalidade do meio e forma de execução, posto que a ilegalidade do ato do funcionário público, torna legítima a resistência e afasta o crime; b) Funcionário competente - é mister que o funcionário seja efetivamente competente, ou seja, competência funcional para praticar o ato; c) Violência física ou ameaça–é essencial para a configuração do crime, não caracterizando o crime a simples desobediência ou resistência passiva. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 55 2. Desobediência (330 CP) Objeto jurídico: A administração pública no aspecto do cumprimento de suas ordens. Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: O Estado. Elemento subjetivo: Dolo, não há modalidade culposa. Consumação:Com a efetiva desobediência, após o prazo que se estabeleceu para o cumprimento da ordem (crime formal). O tipo penal de desobediência exige para a sua configuração a existência de pessoa determinada, contra quem foi expedida a ordem da autoridade. Por isso se diz que a ordem deve emanar de funcionário público, pois somente este é o agente do Poder Público, em cujo nome atua, expedindo ordemde cumprimento obrigatório direcionada a uma pessoa determinada. Portanto a ordem deverá ser direta, inequívoca e induvidosa, emanada por agente público competente. Por isso se diz que a desobediência é ao agente, não a Lei. Para o caso da nossa realidade, resistência passiva a prisão nãoé desobediência bem como crime de qualquer espécie. Outro ponto relevante para nossa profissão é o conhecido teste do bafômetro/exame de sangue e a presunção de inocência/ produção de prova contra si versus crime de desobediência – sem delongas o assunto ainda não foi pacificado nos tribunais bem como na doutrina, existindo teses para todos os gostos. De fato,ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo, mas no caso de recusa o funcionário público deve considerar outro meio de prova, mas em todos os casos não é cabível a tipificação do delito de desobediência. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 56 3. Desacato (331 CP) Objeto jurídico: A administração pública. Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: O Estado, secundariamente o funcionário ofendido. Elemento subjetivo: Dolo, não há modalidade culposa. Consumação: Com o ato ou palavra de que o ofendido tome conhecimento (crime formal). O cerne do delito está no verbo desacatar, que em outras palavras quer dizer ofender, menosprezar, diminuir, humilhar. Em suma qualquer palavra ou ato que procure impingir ao funcionário público algum tipo de humilhação, desprestígio, vexame, entre outras. Desnecessário estar na presença de outras pessoas, ou seja, mesmo presente apenas o funcionário público e o desacatante, o crime se consuma. É importante frisar que o funcionário público deve estar no exercício da função ou o desacato deve ser em razão da função exercida. Aspecto relevante para nossa profissão é que se o funcionário der causa ao desacato, não haverá crime, apenas retorsão ou repulsa. Outro assunto importante a tratar é que a desaprovação censura áspera ou reprovação não injuriosa da conduta do funcionário público não constitui crime. Por ser um crime formal é irrelevante o pedido de desculpas por parte do agente infrator. Um outro detalhe e relevante para nossa profissão é que mesmo embriagado o agente comete o crime, ficando pela corrente majoritária sem pena. 4. Tráfico de Influência (332 CP) Objeto jurídico: A administração pública. DIREITO PENAL COMUM – CEFC 57 Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Sujeito passivo: O Estado e o prestígio da Administração. Elemento subjetivo: Dolo, não há modalidade culposa. Consumação: Com efetiva solicitação, exigência, cobrança ou obtenção de vantagem ou promessa desta, sem necessidade do resultado (crime formal). Atento ao tipo penal e seus verbos, entende-se no delito em questão que alguém pode se aproveitar de uma posição privilegiada dentro de uma instituição pública ou ainda de conexões com pessoas em posição de autoridade, para obter favores ou benefícios para terceiros, geralmente assim agindo em troca de favores ou ainda um pagamento. Tal qual na corrupção, esse tipo é nocivo porque se trata de mercadejar a função pública! Para nossa profissão é mister entender que o funcionário público que se deixa influenciar, o crime deste, é a corrupção! Muitos outros crimes poder-se-ia estudar de forma sucinta e prática, contudo estes estão aí para auxiliar-nos no exercício da profissão. Se entender pertinente outros tipos penais, não hesite em comentar com seu professor.
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