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Júlia Demuner - MED UVV XXIX Vesícula Biliar - Moore cap.2, Kierszenbaum cap.17, Guyton cap. 75 Embriologia O fígado, a vesícula biliar e o sistema de ductos biliares surgem como um crescimento ventral, o divertículo hepático, a partir da porção distal do intestino anterior no início da 4ª semana. - Porção cranial maior do divertículo hepático: é o primórdio do fígado; - Porção caudal menor torna-se o primórdio da vesícula biliar; - Pedúnculo do divertículo forma o ducto cístico; - Na 13ª semana a bile é lançada no duodeno pelo ducto biliar. Anatomia A vesícula biliar tem de 7 a 10 cm de comprimento e situa-se na fossa da vesícula biliar na face visceral do fígado , tendo capacidade de armazenar até 50 ml de bile . Subdivide-se em três partes: - Fundo: a extremidade larga e arredondada circundada e unida ao corpo/colo por peritônio . - Corpo: parte principal, que toca a face visceral do fígado, o colo transverso e a parte superior do duodeno. - Colo: extremidade estreita e afilada voltada para a porta do fígado que se une ao ducto cístico . Vias Biliares Os hepatócitos secretam bile para os canalículos biliares formados entre eles, os quais drenam para os pequenos ductos biliares interlobulares e depois para os grandes ductos biliares coletores da tríade portal intra-hepática , que se fundem para formar os ductos hepáticos direito e esquerdo . Os ductos hepáticos direito e esquerdo drenam as partes direita e esquerda do fígado, respectivamente, unindo-se para formar o ducto hepático comum , que recebe no lado direito o ducto cístico , dando origem, por fim, ao ducto colédoco , que conduz a bile para o duodeno. ductos intra-hepáticos → ducto hepático D + E → ducto hepático comum → ducto hepático comum + ducto hepático cístico (vesícula) → ducto biliar comum A região periampular consiste na localização da segunda porção duodenal próximo à ampola de Vater, região de confluência dos ductos pancreático e biliar , que que desaguam seus fluidos neste local. O trígono cisto-hepático ou trígono de Calot é um espaço anatômico delimitado pelo ducto hepático comum, ducto cístico e a borda inferior do fígado , sendo um marco anatômico para a realização da colecistectomia (retirada da vesícula). Vascularização A irrigação arterial da vesícula biliar, do ducto cístico e do colédoco provém principalmente da artéria cística (que tem origem na artéria hepática direita), enquanto a drenagem venosa geralmente entra diretamente no fígado ou na veia pancreaticoduodenal superior. ! Como a drenagem da vesícula entra diretamente no fígado ou no sistema porta, quaisquer problemas (cirrose, hipertensão portal) vão gerar consequências na vesícula. Histologia A parede da vesícula biliar é formada por uma túnica mucosa, uma túnica muscular e uma túnica adventícia, Júlia Demuner - MED UVV XXIX não apresentando submucosa . A mucosa apresenta múltiplas pregas que facilitam a adaptação do órgão a diversos estágios de seu preenchimento por bile, e é sustentada por uma lâmina própria que contém um plexo vascular, além disso, forma divertículos ou bolsas na mucosa, conhecidas como seios de Rokitansky-Aschoff . Fisiologia da Vesícula Biliar As principais funções da vesícula biliar são armazenamento, concentração e liberação da bile . Secreção A solução inicial é secretada pelas células principais do fígado, os hepatócitos, para os canalículos biliares, e contém grande quantidade de ácidos biliares, colesterol e outros constituintes orgânicos . Em seguida, a bile flui pelos canalículos em direção aos septos interlobulares para desembocar nos ductos biliares terminais, fluindo então, para ductos progressivamente maiores, até chegar ao ducto hepático e ao ducto biliar comum. Desde esses ductos, a bile flui diretamente para o duodeno ou é encaminhada ao ducto cístico e armazenada na vesícula biliar. Nesse percurso pelos ductos biliares , a segunda porção da secreção hepática é acrescentada à bile inicial, adicionando uma solução aquosa de íons sódio e bicarbonato , secretada pelas células epiteliais que revestem os canalículos e ductos e estimulada especialmente pela secretina . Esvaziamento Quando o alimento começa a ser digerido no trato gastrointestinal superior, a vesícula biliar começa a se esvaziar, especialmente quando alimentos gordurosos chegam ao duodeno. Este esvaziamento se dá por contrações rítmicas da parede da vesícula biliar , com o relaxamento simultâneo do esfíncter de Oddi , que controla a entrada do ducto biliar comum no duodeno. O estímulo mais potente para as contrações da vesícula biliar é o hormônio CCK , liberado após a constatação da presença de alimentos gordurosos no duodeno , porém, a vesícula biliar também é estimulada, com menor intensidade, por fibras nervosas secretoras de acetilcolina , tanto no nervo vago como no sistema nervoso entérico. Além disso, quando o alimento não contém gorduras , a vesícula biliar também se esvazia, mas faz isso lentamente. Funções Os sais biliares têm ação detergente , sobre as partículas de gordura dos alimentos, atuam diminuindo a Júlia Demuner - MED UVV XXIX tensão superficial das partículas , o que permite que a agitação no trato intestinal as quebre em partículas diminutas, processo denominado função emulsificante ou detergente dos sais biliares. Além disso, os sais biliares ajudam na absorção de ácidos graxos, monoglicerídeos, colesterol e outros lipídios pelo trato intestinal mediante a formação de complexos físicos bem pequenos denominados micelas , os quais são semissolúveis no quimo devido às cargas elétricas dos sais biliares. Cálculos Biliares Sob condições anormais, o colesterol pode se precipitar na vesícula biliar, resultando na formação de cálculos biliares de colesterol , a colelitíase. Os sais biliares são formados nas células hepáticas a partir do colesterol no plasma sanguíneo. O colesterol é quase completamente insolúvel em água, mas os sais biliares e a lecitina na bile se combinam fisicamente com o colesterol, formando micelas ultramicroscópicas em solução coloidal. Conceitos Colelitíase: pedra na vesícula que gera cólica biliar. Colecistite: inflamação da vesícula por impactação de cálculo em ducto cístico. Coledocolitíase: presença de cálculos nos ductos biliares . Colangite: ocorre quando o cálculo vai para ducto colédoco e gera inflamação . Colestase: é a retenção sistêmica dos constituintes da bile como resultado da falha em sua produção e excreção, tendo causas intra e extra-hepáticas. Tipos de Cálculos Existem três tipos diferentes de cálculos biliares: cálculos biliares de colesterol, cálculos biliares mistos e cálculos pigmentados , que por sua vez podem ser divididos cm cálculos negros e marrons . Colesterol (mais frequente - mistos) Cálculos de monoidrato de colesterol cristalino originados exclusivamente na vesícula biliar . A quantidade de colesterol na bile é determinada pela quantidade de gordura ingerida , assim, pessoas que ingerem dieta rica em gorduras, durante anos, tendem a desenvolver cálculos biliares. Além disso, a inflamação do epitélio da vesícula biliar pode alterar as características absortivasda vesícula , permitindo a absorção excessiva de água e sais biliares, mas não de colesterol, aumentando a concentração deste. Pigmentados A formação de cálculos de pigmentos está associada a hiperbilirrubinemia , estase biliar e infecções . Quando a quantidade de bilirrubina não conjugada na bile aumenta , pode iniciar a formação de cálculos, especialmente se houver infecções (bacterianas ou parasitárias) cujos microrganismos contenham β-glicuronidase, que hidrolisa a bilirrubina conjugada presente na bile, aumentando a concentração de bilirrubina não conjugada. ! A doença hemolítica pode causar cálculo biliar pigmentoso em pessoas novas e sem fatores de risco associado, devido à bilirrubina não-conjugada. Etiologia Os cálculos biliares podem ser originados por: absorção excessiva de água da bile, absorção excessiva de ácidos biliares da bile, excesso de colesterol na bile ou inflamação do epitélio. - Formação de bile supersaturada de colesterol (litogênica): a solubilidade do colesterol depende da formação de micelas (as quais são constituídas por sais biliares ligados a lecitina), logo, o desequilíbrio dessa composição , quando as concentrações de colesterol excedem a capacidade de solubilização da bile (supersaturação) e/ou deficiência de secreção de lecitina e sais biliares, forma-se a bile litogênica. Júlia Demuner - MED UVV XXIX - Nucleação ou Cristalização: a partir da solução supersaturada , o colesterol não pode mais ficar disperso e é nucleado em cristais sólidos de monoidrato de colesterol, além disso, partículas como muco, sais de cál- cio, bactérias, ovos de parasitos ou células descamadas atuam como fatores de nucleação. - Crescimento: a formação desses cálculos é acentuada pela hipomotilidade da vesícula biliar , que promove a nucleação e a hipersecreção de muco , que fornece a matriz essencial para o crescimento progressivo, e consequentemente aprisionam os cristais , permitindo sua agregação em cálculos. Fisiopatologia Normalmente, o colesterol insolúvel em água é transformado em colesterol hidrossolúvel , pela combinação dos sais biliares com lecitina para formar micelas mistas. A supersaturação da bile com colesterol comumente resulta da secreção excessiva de colesterol (como ocorre na obesidade ou diabetes), mas pode resultar da diminuição da secreção de sais biliares (na fibrose cística por causa da má absorção de sais biliares) ou da deficiência de lecitina . Com isso, o excesso de colesterol deve precipitar na forma de microcristais sólidos , que posteriormente são convertidos em lipossomas (vesículas multilamelares) e sofrem nucleação, processo pelo qual os cristais de colesterol monoidratado se formam e aglomeram. Para a formação dos cálculos em si, esse processo de precipitação e agregação é acelerado pela mucina , pela diminuição da contratilidade da vesícula biliar (que resulta do próprio excesso de colesterol na bile) ou pelo alentecimento do trânsito intestinal . Para que os cálculos biliares causem sintomas clínicos, devem alcançar tamanho suficiente para causar lesão mecânica da vesícula biliar ou obstrução das vias biliares , sendo a extremidade distal da ampola de Vater (região periampular) a parte mais estreita das vias biliares e, portanto, um local comum de impactação dos cálculos biliares. Os cálculos biliares também podem se alojar nos ductos hepáticos e císticos , sendo que cálculo alojado no ducto cístico causa cólica biliar (dor espasmódica intensa). Nesses casos, o cálculo pode voltar para o seu interior quando a vesícula biliar relaxa ou, ainda, obstruir o ducto cístico e ocasionar colecistite , a inflamação da vesícula biliar , em razão do acúmulo de bile, o que causa aumento da Júlia Demuner - MED UVV XXIX vesícula biliar. Quadro Clínico Os sintomas causados pelos cálculos biliares frequentemente são inespecíficos e incluem náuseas, distensão abdominal e dor no quadrante superior direito . A cólica biliar, descrita como uma dor epigástrica ou no quadrante superior direito, ocorre 15 a 30 minutos após uma refeição e frequentemente irradia para a região dorsal , é imprevisível, intensa e geralmente constante (mas não é uma verdadeira cólica). Se não puder sair da vesícula biliar, bile entra no sangue e causa icterícia . O diagnóstico pode ser feito por ultrassonografia e TC , técnicas não invasivas usadas comumente para localizar os cálculos. Além disso, os pacientes apresentam sinal de Murphy positivo no exame físico , quando o paciente suspende a inspiração por dor à compressão do rebordo costal direito (local onde se encontra a vesícula biliar). Fatores de Risco Hereditariedade , obesidade (fatores que prejudicam a absorção de sais ), fatores neurais, ambiente, influencia hormonal (influência do estrogênio – anticoncepcional, gravidez – terceiro trimestre), emagrecimento (eliminação mais rápida de colesterol), diminuição de fosfolipídeos, aumento da produção do colesterol, doenças do fígado e das vias biliares (hepatite, cirrose, cisto de colédoco) paciente com nutrição parenteral, pacientes com doenças intestinais, fibrose cística, alterações na motilidade da vesícula em puérperas. Diagnóstico Diferencial Cálculos no Duodeno (Síndrome Mirizzi) A dilatação e a inflamação da vesícula biliar causadas pela impactação do cálculo biliar em seu ducto podem provocar aderências às vísceras adjacentes que, com o tempo, podem romper (ulcerar) os limites teciduais entre a vesícula biliar e uma parte do sistema digestório aderido a ela, resultando em fístula colecistoentérica . A fístula permitiria que um grande cálculo biliar , incapaz de atravessar o ducto cístico, entrasse no sistema digestório, ocasionando seu aprisionamento na papila ileal e a obstrução intestinal (íleo biliar) . Uma fístula colecistoentérica também permite a entrada de gás do sistema digestório na vesícula biliar, o que produz um sinal radiológico diagnóstico . ! colestase extra-hepática → obstrução e refluxo de bile para o fígado → lesão intra-hepática !! bilirrubina não circula → colúria + acolia fecal Neoplasia Periambular - Adenocarcinoma de Cabeça de Pâncreas ou Carcinoma de ampola de Vater - vesícula palpável e indolor → sinal de courvoisier - quadro clínico: dor sem fator de melhora, icterícia, prurido , acolia fecal e colúria - realizar tomografia