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Autora: Profa. Daniela Menezes Colaboradores: Prof. Santiago Valverde Profa. Lérida Gherardini Malagueta Marketing Professora conteudista: Daniela Menezes Graduada em Marketing pela Universidade Nove de Julho. Possui especialização em Docência no Ensino Superior pelas Faculdades Metropolitanas Unidas e também em Formação em Educação a Distância pela Universidade Paulista — UNIP. Cursando mestrado em Comunicação pela UNIP. Atualmente, é professora do ensino a distância na UNIP Interativa, é orientadora de trabalhos multidisciplinares nos cursos Superiores de Tecnologia (presencial e a distância) e também é Coordenadora do curso de Marketing na modalidade EaD da UNIP. Trabalha com desenvolvimento de materiais didáticos (livros‑texto, apresentações, questionários etc.) para o ensino a distância. Possui mais de 10 anos de experiência em marketing, especificamente em eventos de marketing educacionais. Atuou em conceitudas empresas, como o Grupo Fenasoft, Asserge Promoções e Eventos e o Colégio Gibran Khalil Gibran. Desenvolveu diversas atividades na área de marketing: campanhas publicitárias, organização e promoção de eventos, participação na reestruturação do planejamento estratégico da empresa e elaboração de planos de marketing. © Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) M543m Menezes, Daniela Marketing / Daniela Menezes. São Paulo: Editora Sol, 2020. 196 p., il. Notas: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Série Didática, ISSN 1517‑9230. 1. Marketing. 2. Produto. 3. Cliente. I. Título. CDU 658.8 U507.39 – 20 Prof. Dr. João Carlos Di Genio Reitor Prof. Fábio Romeu de Carvalho Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças Profa. Melânia Dalla Torre Vice-Reitora de Unidades Universitárias Prof. Dr. Yugo Okida Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez Vice-Reitora de Graduação Unip Interativa – EaD Profa. Elisabete Brihy Prof. Marcello Vannini Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar Prof. Ivan Daliberto Frugoli Material Didático – EaD Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto Revisão: Vitor Andrade Amanda Casale Sumário Marketing APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................9 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9 Unidade I 1 INTRODUÇÃO AO MARKETING ...................................................................................................................11 1.1 Conceitos e definições de marketing ............................................................................................11 1.2 Elementos básicos de marketing.....................................................................................................11 1.3 Ambiente de marketing ..................................................................................................................... 14 1.3.1 Macroambiente ........................................................................................................................................ 14 1.3.2 Microambiente ......................................................................................................................................... 19 1.4 Segmentação de mercado/clientes ............................................................................................... 22 1.4.1 Marketing de segmento ....................................................................................................................... 23 1.4.2 Marketing de nicho ................................................................................................................................ 24 1.4.3 Marketing individual ............................................................................................................................. 26 1.4.4 Marketing local ........................................................................................................................................ 26 1.5 Segmentações de mercados organizacionais ........................................................................... 27 1.6 Segmentações dos mercados consumidores ............................................................................ 28 1.7 Posicionamento de mercado ........................................................................................................... 33 1.8 Tipos de mercados ................................................................................................................................ 35 1.8.1 Mercado organizacional ....................................................................................................................... 36 1.8.2 Mercado consumidor ............................................................................................................................ 38 2 VALOR AGREGADO AO PRODUTO E PERCEBIDO PELO CLIENTE ................................................... 40 2.1 Como criar uma proposta de valor? ............................................................................................. 41 2.2 O que é e como aplicar o marketing de relacionamento? .................................................. 42 2.2.1 Afinal, o que é marketing de relacionamento? .......................................................................... 44 2.2.2 Recursos para a construção de relacionamentos sólidos e duradouros com os clientes ............................................................................................................................................................. 45 2.3 Gerenciar informações no marketing .......................................................................................... 46 2.3.1 O sistema 0800 ........................................................................................................................................ 47 2.3.2 O SAC ........................................................................................................................................................... 47 2.3.3 A internet ................................................................................................................................................... 48 2.3.4 O SMS (também conhecido como “torpedo”) ............................................................................. 48 2.3.5 O telemarketing ....................................................................................................................................... 49 2.3.6 O database (banco de dados) ............................................................................................................. 49 2.4 Dicas para um gestor que é orientado pelo marketing ......................................................................... 49 Unidade II 3 ESTRATÉGIAS DE MARKETING .................................................................................................................... 54 3.1 Orientações das empresas ................................................................................................................ 54 3.1.1 Marketing integrado .............................................................................................................................. 56 3.1.2 Marketing interno ..................................................................................................................................57 3.1.3 Marketing socialmente responsável ................................................................................................ 58 3.2 Avaliação da concorrência ............................................................................................................... 59 3.3 Plano de marketing ............................................................................................................................. 63 3.3.1 Elaboração do plano de marketing .................................................................................................. 66 3.3.2 Informações de um plano de marketing ....................................................................................... 66 4 AS DIFERENÇAS DO MARKETING APLICADO A SETORES DISTINTOS ...........................................71 4.1 O marketing aplicado à indústria .................................................................................................. 72 4.1.1 Composto mercadológico do marketing industrial .................................................................. 73 4.2 O marketing aplicado ao comércio ............................................................................................... 74 4.3 O marketing aplicado ao Terceiro Setor ...................................................................................... 77 4.4 Marketing aplicado a pequenas e médias empresas ............................................................. 80 Unidade III 5 PRODUTO ............................................................................................................................................................ 85 5.1 Níveis do produto ................................................................................................................................. 85 5.2 Classificação de produto ................................................................................................................... 87 5.3 Elementos de diferenciação do produto ..................................................................................... 90 5.3.1 Características (atributos) ................................................................................................................... 91 5.3.2 Diferenciação de serviços .................................................................................................................... 92 5.3.3 Rótulo e embalagem ............................................................................................................................. 93 5.3.4 Marcas ......................................................................................................................................................... 95 5.4 Hierarquias de produtos ..................................................................................................................100 5.5 Mix de produtos ..................................................................................................................................100 5.6 Planejamento de novos produtos ................................................................................................103 5.7 Estratégias para desenvolvimento de novos produtos .......................................................107 5.8 Etapas do processo de desenvolvimento de novos produtos ..........................................108 5.8.1 Geração de ideias ..................................................................................................................................109 5.8.2 Seleção de ideias ....................................................................................................................................111 5.8.3 Desenvolvimento e teste do conceito ..........................................................................................112 5.8.4 Estratégia de marketing .....................................................................................................................114 5.8.5 Análise do negócio ...............................................................................................................................115 5.8.6 Desenvolvimento do produto .......................................................................................................... 118 5.8.7 Teste de mercado .................................................................................................................................. 119 5.8.8 Comercialização ....................................................................................................................................121 6 PREÇO ................................................................................................................................................................123 6.1 Como as empresas determinam preços ....................................................................................125 6.2 Estabelecimento de preços .............................................................................................................126 6.2.1 Seleção do objetivo da determinação de preços .................................................................... 128 6.2.2 Determinação da demanda ............................................................................................................. 130 6.2.3 Estimativa de custos ........................................................................................................................... 132 6.2.4 Análise de custos, preços e ofertas dos concorrentes .......................................................... 133 6.2.5 Seleção de um método de determinação de preços ............................................................. 134 6.2.6 Seleção do preço final ........................................................................................................................ 137 6.3 Preço geográfico .................................................................................................................................137 6.4 Descontos e concessões de preços ..............................................................................................138 6.5 Preço promocional .............................................................................................................................139 6.6 Preço discriminatório ou diferenciado ......................................................................................140 6.7 Estratégias de preços ........................................................................................................................140 6.8 Mudanças de preços .........................................................................................................................141 Unidade IV 7 PRAÇA (DISTRIBUIÇÃO) ..............................................................................................................................145 7.1 Distribuição física e gerenciamento da logística ..................................................................148 7.2 Intermediários – canais de distribuição ....................................................................................148 7.3 Estratégias de distribuição .............................................................................................................153 7.3.1 Atacado .................................................................................................................................................... 153 7.3.2 Distribuidores ........................................................................................................................................ 156 7.3.3 Varejo ........................................................................................................................................................ 156 7.4 Distribuição no comércio eletrônico ..........................................................................................161 8 PROMOÇÃO (COMUNICAÇÃO) .................................................................................................................1628.1 O desenvolvimento de uma comunicação eficaz ..................................................................165 8.2 Propaganda ...........................................................................................................................................169 8.3 Promoção de vendas .........................................................................................................................170 8.4 Relações públicas e assessoria de imprensa ............................................................................170 8.5 Vendas pessoais ...................................................................................................................................171 8.6 Marketing direto .................................................................................................................................172 8.7 Experiências ..........................................................................................................................................172 8.8 Eventos ...................................................................................................................................................173 8.9 Patrocínio ...............................................................................................................................................173 8.10 Merchandising ...................................................................................................................................173 8.11 Marketing digital ..............................................................................................................................174 8.12 Trade marketing ...............................................................................................................................174 9 APRESENTAÇÃO Esta disciplina tem como principal objetivo introduzir o aluno ao universo do marketing, explicando seus conceitos centrais e sua aplicação na área específica do curso. O conteúdo desse material proporciona ao discente a oportunidade de entender os estudos de mercado, a análise estratégica de seu produto, preço, formas de comunicação e distribuição. Ao final da disciplina, espera‑se que o aluno tenha conhecimento de alguns itens, como: os principais elementos do estudo de marketing; a elaboração de um plano de marketing; a orientação de suas ações pelo marketing; e a estrutura básica do marketing composta pelos 4Ps — produto, preço, praça e promoção. INTRODUÇÃO Esse curso almeja que os alunos busquem a melhoria do desempenho e resultados das empresas para que haja o desenvolvimento do país em que se encontram. A disciplina tem o intuito de desmistificar o conceito do senso comum, que entende o marketing apenas como propaganda ou venda. Na verdade, ele também orienta os estudos de mercado, demonstra a importância do valor agregado ao produto percebido pelo cliente e provê subsídios para a tomada de decisão de forma estratégica. Para compreendermos melhor os pormenores do marketing, devemos nos atentar para algumas ações que geralmente fazemos de forma “automática” e não percebemos. Normalmente, tomamos banhos todos os dias e, para esse momento prazeroso, utilizamos alguns elementos, como: sabonete, água, xampu, entre outros. Para muitas pessoas, esses itens “aparecem” em seu banheiro sem que percebam, ou seja, não sabem quem os colocou ali, mas para outras, esses elementos são selecionados propositalmente. Nesse ato, é possível perceber diversas ações do marketing. Para que o sabonete, por exemplo, esteja em seu banheiro, uma empresa observou a necessidade de higiene pessoal, criou uma solução para isso, investiu em propaganda focada no público‑alvo, colocou esse produto à disposição e também estabeleceu um preço para possibilitar sua aquisição. Perceba que estratégias de marketing permeiam nossas vidas e, para os gestores, não é preciso apenas saber identificá‑las, mas é fundamental que saibam aplicá‑las para o sucesso de suas ações. Utilizando, ainda, o exemplo do banho, entenda algumas variáveis estudadas pelo marketing. A solução criada para satisfazer à necessidade de higiene pessoal é o produto, e o local onde o produto foi colocado à disposição dos clientes faz parte do estudo de distribuição; já a forma como a empresa informou as pessoas sobre a existência desse produto e onde adquiri‑lo é realizada 10 Unidade I estrategicamente pelo setor de comunicação; e seu preço é minuciosamente determinado a partir da percepção do marketing. Identificamos alguns elementos entre os diversos estudados pelo marketing e a partir de agora iniciaremos um estudo crítico sobre essa ciência. 11 MARKETING Unidade I 1 INTRODUÇÃO AO MARKETING 1.1 Conceitos e definições de marketing Perceba que em poucos parágrafos (como os da introdução da disciplina) já podemos observar algumas das ações que uma empresa precisa tomar para atender seus consumidores e consequentemente conquistar seus objetivos empresariais. É preciso ressaltar que o marketing está presente em diversos setores da sociedade, e não apenas no setor privado. Há teóricos que expõem algumas definições sobre o marketing. Segundo Kotler (2006), há a definição social e a gerencial: na primeira, o marketing é o processo social que permite às pessoas obter aquilo que necessitam e que desejam com a criação, a oferta e a livre negociação de produtos e serviços de valor com os outros. O propósito do marketing, segundo essa definição, é proporcionar à sociedade maior qualidade de vida; na segunda definição, o marketing é o processo de planejar e executar a concepção, a determinação do preço, a promoção e a distribuição de ideias, bens e serviços para criar negociações que satisfaçam metas individuais e organizacionais. A intenção dessa definição é satisfazer às necessidades dos clientes e construir relacionamentos duradouros, e não apenas vender produtos. Se refletirmos sobre essas duas definições, não será difícil concluir que o marketing é uma ciência que estuda o processo de troca, em que duas ou mais partes oferecem algo de valor entre si com o objetivo de satisfazer necessidades e desejos. 1.2 Elementos básicos de marketing O marketing tem o papel de planejar e executar estratégias para que o processo de troca beneficie quem o procura e também satisfaça a necessidade ou desejo de alcançar metas individuais ou organizacionais de quem o oferta. Há alguns elementos básicos na essência do marketing: a) necessidades: é o elemento mais básico e desencadeador do marketing, pois é a partir dele que percebemos um estado de privação ou limitação e, assim, inicia‑se a busca pela satisfação. Conforme Abraham Maslow, elas referem‑se a aspectos básicos da condição humana – alimentar‑se, vestir‑se, ter um lugar para morar etc. (KOTLER, 2006, p.213). 12 Unidade I Destaca‑se a pirâmide de Maslow, em que o autor destaca a hierarquia das necessidades: Autorrealização (autodesenvolvimento) Estima (fatores internos da estima) Sociais (busca de identificação e aceitação em grupo, amizade, afetividade) Segurança (busca pela proteção física e emocional) Fisiológica (fome, sede, respiração, homeostase) Figura 1 – Pirâmide de Maslow Quando uma necessidade é focada em um único objeto, e somente ele é capaz de satisfazer a essa necessidade, isso se transforma em desejo. b) desejos: são manifestações de nossa vontade. Não são necessidades. Assim, temos o desejo de um sapato novo, de um televisor maior, de um apartamento novo. c) oferta: consiste em colocar à disposição a troca de um produto, serviço ou ideias. d) troca: é o conceito central de Marketing, envolve a obtenção de um produto desejado por alguém que oferece algo em troca. Para que o potencial de troca possa existir, há cinco condições essenciais: 1. Que existam pelo menos duas partes. 2. Que todas as partes possuam algo que possa ter valor para as outras partes. 3. Que todas as partes tenham capacidade de comunicação e de entrega.13 MARKETING 4. Que todas as partes estejam livres para aceitar ou recusar a oferta de troca. 5. Que todas as partes acreditem que seja adequado participar da negociação. e) transação: é uma troca de valores entre duas ou mais partes (KOTLER, 2006, p.214,215). Uma transação envolve várias dimensões: é preciso que haja ao menos duas coisas de valor, um acordo especificando todas condições, o momento desse acordo e o local adequado. Geralmente, há um sistema legal para apoiar e exigir o cumprimento das obrigações contratuais. Sem legislação, a transação poderia ser vista com desconfiança, e isso traria prejuízos a ambas as partes. O autor também destaca alguns elementos: f) transferência: quando uma parte dá algo para outra, mas não recebe nada em troca. Presentes, subsídios e doações a obras de caridade são transferências. O ato de transferência também pode ser compreendido por meio de conceito de troca, pois quem transfere espera receber algo em troca. Exemplo: ao doar sangue a alguém, espera‑se receber gratidão, o que traz ao doador uma sensação de bem‑estar. g) satisfação: uma oferta poderá proporcionar satisfação ao consumidor se os seus atributos, o seu pacote de benefícios (também chamado de valores) os satisfizer, ou seja, atender suas expectativas. h) valor: segundo Cobra (2003), ele pode ser definido como a diferença entre o que o cliente espera e o que ele recebe. O autor explica o valor pela seguinte fórmula: benefícios – sacrifícios (benefícios práticos + benefícios emocionais) – sacrifícios valor = ___________________ = _______________________________________________________ Custos custos monetários + custo tempo + custe energia + custos psicológicos (KOLTER, 2006, p.216). Por fim, o autor define mais dois elementos: i) mercado: atualmente, pode ser definido como um conjunto de compradores e vendedores que efetuam transações relativas a determinado produto ou classe de produto (mercado imobiliário ou de cana‑de‑açúcar, por exemplo). 14 Unidade I i) demanda: é o grupo de pessoas que procura determinados produtos e tem o poder aquisitivo para obtê‑los (Ibidem, p.217). Os elementos demonstrados nessa obra devem ser estudados individualmente e inter‑relacionados para que os objetivos individuais e organizacionais sejam alcançados. Assim, é preciso ter a consciência de que aqueles que ofertam (geralmente as empresas) não estão sozinhos, ou seja, interagem com outros agentes e forças que podem influenciar direta ou indiretamente o seu negócio. 1.3 Ambiente de marketing Conforme Cobra (2003), o ambiente de marketing é formado pela união de uma força externa (macroambiente) e interna (microambiente), as quais interferem direta ou indiretamente nas decisões e nos resultados das ações de marketing realizadas por uma empresa. Os profissionais de marketing sempre devem se atentar ao ambiente de marketing para que possam identificar possíveis oportunidades e se defender de ameaças, ou ainda para transformar possíveis ameaças em oportunidades. Esse ambiente pode ser representado pela figura a seguir: Mercado global Macroambiente Microambiente Os fornecedores, os intermediários, os concorrentes, as entidades públicas e privadas, os clientes e a empresa. Forças: demográficas, tecnológicas, econômicas, político‑legais e naturais. Figura 2 – Mercados 1.3.1 Macroambiente O macroambiente é formado por forças que a empresa não pode controlar, e é responsabilidade do gerente de marketing analisar, avaliar e entender o histórico e evolução dessas forças bem como as possíveis tendências de evolução futura, de modo a elaborar e trabalhar com cenários que minimizem os riscos das decisões e ações de marketing. Quando dizemos que são forças que não se pode controlar, isso significa que a empresa não pode impedir que alguns fatos aconteçam, mas também não significa que ela não possa se prevenir, ou melhor, antevê‑los para se defender. 15 MARKETING São forças do macroambiente: 1. Forças tecnológicas: provavelmente essa seja a força com maior expressão nos últimos tempos em função das constantes inovações proporcionadas pela tecnologia, que geram oportunidades de mercado. É importante ressaltar que as inovações tecnológicas podem movimentar o mercado, substituir produtos, criar demanda primária (com lançamento de novos produtos) e até afetar a outra força, como no caso da indústria da natalidade: a pílula anticoncepcional está reduzindo o tamanho das famílias, neste caso influi na força cultural. Lembrete Podemos observar que o gestor, por estar em constante evolução, deve acompanhar essa força de maneira muito próxima e constante para utilizá‑la a seu favor. 2. Forças econômicas: além da necessidade de se ter um mercado para que essas forças existam, é imprescindível haver pessoas, e estas devem possuir o poder compra. E esse poder de compra está atrelado à distribuição de renda, aos preços, às poupanças, aos empréstimos e à disponibilidade de crédito. Em suma, é importante avaliar a situação econômica do país em que uma empresa pretende atuar (KOTLER, 2006, p.219). Os profissionais de marketing devem estar atentos às principais tendências na renda e nos padrões de consumo, pois elas podem ter um forte impacto nos negócios, especialmente no caso de produtos direcionados aos consumidores de alto poder aquisitivo e que são sensíveis ao preço. Segundo Kotler (2006), em uma economia global, é preciso atentar‑se a mudanças na distribuição de renda no mundo (pois essa distribuição varia muito de país para país), especialmente nos locais em que os níveis de riqueza estão aumentando. Para entendermos melhor essa força, basta nos perguntarmos: será que todas as pessoas que desejam um produto fazem parte de uma determinada demanda? Podemos prontamente responder que não, uma vez que (para o marketing) para fazer parte de uma demanda, é preciso ter poder aquisitivo para comprar o produto. E o termo “ter poder aquisitivo” não está relacionado somente em ter dinheiro no bolso e sim em ter como conseguir o valor total para pagar, mesmo que esse valor seja diluído em parcelas. Assim, podemos entender o poder do crédito, o poder das taxas de juros, o valor da moeda do país, enfim, elementos da economia que interferem diretamente nos resultados de uma empresa. 16 Unidade I Kotler (2006) também cita as forças político-legais. Diz que elas são formadas por leis, regulamentos, tratados, acordos e normas que são outorgados por governos e “grupos de pressão” que possuem influência sobre várias organizações e indivíduos da sociedade. Com relação a essa força, é preciso considerar a atuação dos partidos e dos grupos que eles representam. As privatizações, as instituições jurídicas, a legislação sindical, a proteção industrial nacional, a lei de patentes, os impostos e o código de defesa ao consumidor são algumas variáveis importantes. Algumas leis favorecem determinados setores, como a Lei Rouanet (Lei Federal de incentivo à cultura), que beneficiou o mercado cultural, e a Lei da Alcoolemia Zero nº11.705, mais conhecida como a Lei Seca, que beneficiou o mercado de seguro automobilístico no Brasil reduzindo o número de acidentes e consequentemente os sinistros das seguradoras. Kotler (2006) também cita as forças naturais. É necessário que as empresas percebam a necessidade de adoção de práticas que protejam o meio ambiente para evitar a escassez de matéria‑prima e a própria degradação do meio ambiente. Grandes oportunidades aguardam por empresas e profissionais de marketing que consigam criar novas soluções capazes de conciliar prosperidade e proteção ambiental. O autor relata que as empresas precisam se conscientizar sobre as ameaças e oportunidades associadas a quatro tendências do ambiente natural: a escassez de matérias‑primas, especialmente de água, o custo mais elevado de energia, os níveis mais altos de poluição e as mudanças nopapel dos governos em relação à proteção ambiental. Fazendo uma contextualização sobre a importância dessa força, podemos observar o caso do Walmart: O investidor: o caso do Walmart Há uma mudança em curso também na maior empresa de varejo do mundo, o WalMart. Antes conhecida por sua falta de consciência em relação às preocupações sociais e ambientais, essa empresa jamais foi considerada uma “boa cidadã corporativa”. Foi muito criticada por seus baixos salários e pela frequente ignorância dos problemas ambientais. Robert Greenwald produziu um filme intitulado Walmart: o alto custo do preço baixo. Neste filme, há a apresentação do comentário de uma ativista dizendo que jamais encontrara uma empresa tão ignorante quanto o Walmart. E a empresa manteve essa posição de ignorante mesmo quando essa atitude lhe custava milhões de dólares em multas por abuso ambiental. De acordo com a pesquisa noticiada pela McKinsey, cerca de 8% dos consumidores suspenderam suas compras regulares nas lojas do Walmart porque tinham a percepção negativa da empresa. Numa tentativa de evitar a excessiva publicidade negativa e finalmente se voltar para os problemas ambientais, o Walmart declarou em 2005 que se tornaria um bom administrador do meio ambiente. Scott Lee, ex‑CEO do Walmart, em seu discurso para a conferência 21st Century Leadership, anunciou que a empresa investiria milhões de doláres no redesenho de seu modelo de negócios, incorporando processos eficientes em combustível e boa gestão de resíduos. Com esse novo projeto, ele esperava obter maiores ganhos de eficiência para cobrir os custos. 17 MARKETING Para atingir esse objetivo, o Walmart construiu supercentros verdes e lançou produtos verdes em suas lojas. Devido ao seu porte, ele tornou‑se o maior varejista de leite orgânico e peixes sustentáveis do mundo em apenas um ano. O Walmart também alavancou sua forte posição de barganha para obrigar os forncedores a encontrar métodos de embalagem e processos mais eficientes. Muitos estão entusiasmados com os ambiciosos planos do Walmart, porque uma pequena transformação em uma das maiores empresas do mundo significa uma grande mudança. As mudanças também melhoram as relações públicas do Walmart; os críticos atualmente têm opiniões mais favoráveis sobre sua abordagem frente à responsabilidade social. No entanto, muitos deles ainda afirmam que o modelo de negócios do Walmart se preocupa apenas com os custos. Hoje o lema da empresa é “Economize. Viva melhor”. Mas muitos encaram a atitude do Walmart para salvar o meio ambiente como algo que foi feito apenas em função de objetivos econômicos egoístas: economizar energia, custos e aumentar a receita. Por definição, o investidor é alguém que investe, por meio de compra ou gasto, em alguma coisa que ofereça possíveis retornos sob a forma de juros, receita ou valorização. Embora essa descrição pareça algo negativo, sobretudo no contexto de se dar algo em troca para a Mãe Natureza e não tirar mais, destaca‑se que o investidor não contribui menos que o inovador. Os investidores são instituições e pessoas que financiam projetos de pesquisa (em geral realizadas pelos inovadores) em empresas externas ou nas próprias empresas. Por exemplo: o Walmart investiu US$500 milhões em 2005 para que suas lojas pudessem usar menos energia, seus caminhões emitissem menos gases venenosos etc. Exatamente como um investidor, o Walmart calculou os custos, benefícios e riscos antes de realizar um investimento. Outros que fazem parte do grupo dos investidores são a Goldman Sachs e a Hewlett‑Packard. Alguns fabricantes também estão começando a investir na redução das emissões de gases por suas fábricas, diminuição no uso de energia em lojas e computadores etc. O investidor não se arriscará muito em esforços ambientais como o inovador porque o negócio verde não é a missão essencial de sua empresa. No entanto, os investidores compartilham da visão de um mundo mais verde e mais sustentável. Além de buscar retornos financeiros, o investidor também busca retornos em outras áreas, como: a melhor imagem da empresa, o aumento no valor da marca, o alívio da pressão por parte de organizações de defesa e preservação ambiental, venda de produtos verdes para suprir a demanda do mercado etc. Embora não atuem diretamente no negócio da inovação de produtos, os investidores têm enorme contribuição emprestando recursos financeiros a projetos que não agridem o meio ambiente (KOTLER; KARTAJAYA; SETIAWAN, 2010). 18 Unidade I No caso apresentado, é explícita a transformação da orientação da empresa quanto a sua atuação no mercado de uma forma totalmente ignorante frente às questões da natureza para um papel de investidor do meio ambiente. Podemos perceber que a tendência é que cada vez mais empresas se atentem ao poder que têm as forças naturais e que, mesmo que não consigamos controlá‑las, é possível redefinir os negócios para ao menos considerá‑las e utilizá‑las a favor da instituição. Você já pensou o que pode fazer para se adaptar a essa nova realidade? Sua empresa considera as forças da natureza para definir as estratégias para seus negócios? Saiba mais Para saber mais sobre as forças naturais, leia: KOTLER, P.; KARTAJAYA, H.; SETIAWAN, I Marketing 3.0: as forças que estão definindo o novo marketing centrado no ser humano, . Editora Elsevier. RJ, 2010. Kotler (2006) também destaca as forças demográficas. Ele afirma que elas referem‑se às pessoas que formam os mercados (o público‑alvo). As empresas têm muito interesse no tamanho e na taxa de crescimento populacional em diferentes mercados, assim como na distribuição etária, no composto étnico, nos níveis educacionais, nos padrões de moradia, nas características regionais etc. Por meio de um aprofundamento em pesquisas demográficas, é possível que a instituição concentre seus esforços em determinadas ações almejando atender a características próprias de públicos específicos, por exemplo: crianças com poder de influenciar em uma decisão de compra, casais jovens com dupla fonte de renda e sem filhos, profissionais liberais solteiros, universitários etc. Para entendermos melhor essa força, podemos imaginar uma confecção de roupas direcionadas para adolescentes. Suponha que essa empresa pretende expandir seu mercado e se instalar em outro estado do país. Assim, é preciso investigar, entre outros dados, o número de jovens que habitam aquela região, pois eles podem migrar para um local em que haja mais idosos do que jovens. Esses idosos não fazem parte do seu público‑alvo e também não vão gerar filhos que possam vir a fazer, um dia, parte de seu mercado. Enfim, as forças demográficas não podem ser controladas, mas podem oferecer indicadores para desenharmos nossos negócios, levando em consideração suas características. Por último, Kotler (2006) fala das forças culturais (sociais). Relata que conforme as preferências, hábitos e gostos das pessoas, a decisão de compra é direcionada para um determinado produto e/ou serviço em detrimento de outro. A sociedade molda crenças, valores e normas que definem, em grande parte, suas preferências. Os profissionais de marketing devem entender as visões que as pessoas têm de si próprias, das outras, das instituições, da sociedade, da natureza e do universo. As empresas precisam criar e vender produtos 19 MARKETING e/ou serviços que vão ao encontro dos valores centrais e secundários da sociedade, assim como abordar as necessidades das diferentes subculturas existentes dentro da sociedade. De uma forma geral, pode‑se dizer que a cultura relaciona‑se diretamente com a identidade das pessoas, ela influencia suas preferências, seus valores, sua percepção de mundo e consequentemente de consumo. Daí entende‑se porque, ao internacionalizar uma marca, primeiramente é preciso entender os costumes desse país para não agredir a cultura de seu povo, pois o produto pode ter muitos benefícios, mas se não se adequar aos costumes da região nãoirá conquistar os consumidores. 1.3.2 Microambiente Segundo Cobra (2003), as empresas precisam atrair clientes e retê‑los por meio da construção de um relacionamento estruturado, baseado na entrega de valor e satisfação. Para tal, é necessário administrar diversas variáveis no seu microambiente, que é formado por forças que a empresa pode controlar. São elas: empresa: é considerada uma força do microambiente porque interfere diretamente nos resultados do negócio e, nesse caso, é preciso avaliar todos os recursos utilizados na atuação da empresa, incluindo o recurso humano, que, aliás, é um dos recursos mais importantes para o seu bom desempenho. Os gestores devem construir uma administração que conscientize cada colaborador sobre sua importância em todo o processo de atendimento ao cliente. TODOS TÊM O SEU VALOR, ou seja, todos representam um papel fundamental para a existência da empresa e, por essa razão, devem estar integrados para alcançar um só objetivo e trabalhar em conjunto para que ele seja alcançado (COBRA, 2003, p.117, grifo nosso). Além dos colaboradores, a empresa é composta por equipamentos, processos, planejamento, entre outros recursos que devem ser controlados constantemente. O controle dessa força interna determina a forma de administração da empresa e ajuda a entender seus valores, sua visão e a sua missão. A segmentação de mercados é importante para a delimitação do público‑alvo de uma empresa, porque centraliza os esforços de marketing em um ou poucos grupos que interessam à empresa atender. Seguindo esse princípio da segmentação, Kotler (2006) propôs a existência de cinco tipos de mercados com características bem distintas e que devem ser explorados com atenção especial, pois os critérios para seleção de fornecedores são rigorosos. Os mercados são: consumidor, industrial, revendedor, governamental e internacional. O mercado de consumo ou mercado consumidor é composto pelas pessoas que adquirem um produto e/ou serviço para seu próprio consumo ou para o uso de seu bem. Cita‑se a compra de gasolina, que é consumida pelo carro, mas ela é considerada um produto destinado ao consumidor final porque é utilizada para uso próprio e não para geração de outro negócio. O mercado industrial é composto por empresas que adquirem produtos para transformá‑los em outros, e assim gerar novos negócios, como as fabricantes de extrato de tomate, que compram os tomates para transformá‑los em outros produtos, ou seja, em molho. 20 Unidade I O mercado revendedor é composto por empresas que têm a finalidade de intermediar a venda de produtos, ou seja, revender produtos prontos. Um exemplo cotidiano é o supermercado, que compra diversos produtos do fabricante para revender ao consumidor final. O mercado governamental é composto por prestadores de serviços públicos, ou seja, pelo estado que precisa adquirir produtos para garantir o bem‑estar da população e a manutenção da máquina pública (o poder político). E, por fim, o mercado internacional é composto pela demanda de mercados estrangeiros que importam os produtos de um determinado país. Lembrete O que define um tipo de mercado não é o produto e sim o destino que é dado a ele. Exemplo: uma laranja pode atender a todos os mercados apresentados nesse livro, o que irá diferenciar o seu mercado é a sua finalidade, pois ela pode ser vendida para um consumidor final ou para uma indústria transformá‑la em suco. É preciso entender também que os clientes fazem parte do microambiente porque são forças controláveis, ou seja, eu não posso controlar a decisão de compra de um cliente, mas posso persuadi‑lo a escolher um determinado produto em detrimento de outros. Basta que eu o conheça e que eu crie soluções que tenham valor agregado e que isso seja percebido por ele. Não é preciso apenas satisfazê‑lo, ele também deve se encantar. É nesse momento que deve agir o profissional orientado por marketing, criando estratégias de aproximação com o cliente e produtos e/ou serviços inovadores. Destacam‑se, ainda, os: Concorrentes – basta olharmos em volta para perceber que as empresas não estão sós, ou melhor, que estão rodeadas de empresas que oferecem produtos e/ou serviços muito semelhantes. Essas empresas são concorrentes entre si e muitas vezes dividem exatamente a mesma fatia do mercado. Por essa razão, é possível afirmar que os concorrentes exercem forte influência na lucratividade, na participação de mercado (market share) e até mesmo no posicionamento da empresa (COBRA, 2003, p.118). O monitoramento da concorrência precede e serve de base para a criação de estratégias competitivas de marketing. De caráter prospectivo, consiste em prever o índice de crescimento de cada um dos concorrentes mais importantes nos próximos anos, assim como a possibilidade de novos concorrentes e o papel desempenhado pelos produtos substitutos. Em suma, controlar essa força é acompanhar o desempenho da concorrência para antever suas estratégias, preparar‑se para possíveis ameaças, aprimorar as ações da empresa, e, acima de tudo, crescer mantendo a ética profissional. 21 MARKETING Algumas entidades privadas e públicas, como: ONGs, o CONAR – Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, o PROCON – Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor, entre outras, alertam a opinião pública para várias questões, como a utilização de mão de obra infantil nas atividades organizacionais, propaganda enganosa, segurança no trabalho, direito dos consumidores, proteção ambiental etc. Nesse sentido, é preciso entender que os clientes estão cada vez mais exigentes e amparados para reivindicar seus direitos. E considerar a existência das entidades formadoras de opinião auxilia a empresa a manter uma imagem institucional positiva perante a sociedade. O autor também cita os: Fornecedores – os gestores orientados pelo marketing devem se interessar, especificamente, por essa força, pois ela possui um poder de interferência na proposta de valor que a organização pretende desenvolver para os seus clientes, seja do ponto de vista técnico, de produção e logística, seja nas atividades de custeio e na precificação de produtos, considerando diferentes níveis de serviços (COBRA, 2003, p.119). O marketing incentiva os fornecedores a oferecer soluções diferenciadas que agreguem valor ao produto, dificultando a migração de clientes para a concorrência. Diminuindo os custos com mudanças, a organização torna‑se mais lucrativa. Os fornecedores influenciam diretamente no negócio de uma empresa. Se não entregarem uma matéria‑prima no prazo, por exemplo, a instituição corre o risco de atrasar a fabricação de um produto que em última instância pode ficar fora das prateleiras. Por último, Cobra (2003) destaca os intermediários. Ressalta que eles devem ser constantemente avaliados por parte dos profissionais orientados pelo marketing, pois têm importante papel na competitividade e lucratividade das organizações. São considerados intermediários: atacadistas, distribuidores e varejistas que representam os canais de distribuição. Para uma empresa que pretende expandir seus mercados, a utilização de intermediários é imprescindível, pois estar em diversos locais para atender a diversos mercados pode se tornar um meio muito caro. Uma solução para isso é a utilização de intermediários, ou seja, agentes que estão no caminho da saída do produto de seu produtor até as mãos do cliente final. Em muitos casos, esses agentes assumem as atividades mercadológicas da empresa detentora da marca, e para que as estratégias previamente estabelecidas pela empresa produtora sejam garantidas, é preciso um acompanhamento muito próximo. Para produtos de consumo como o açúcar, por exemplo, quem terá o contato direto com o consumidor final de uma determinada marca, na maioria dos casos, são os funcionários dos supermercados, que normalmente obedecem a administrações distintas e que nem sempre têm a mesma estratégia 22 Unidade I mercadológicaque a marca, o que não garante que o cliente terá o atendimento indicado pelo fabricante. Então, percebemos claramente a necessidade dos gestores não só em reconhecer essas forças, mas de controlá‑las com bastante precisão. Nas próximas unidades, estudaremos em pormenores os intermediários e como são organizados os canais de distribuição que os envolvem. 1.4 Segmentação de mercado/clientes Antes de entendermos o que é segmentação de mercado, vamos relembrar e complementar as definições sobre mercado: Costumava‑se definir mercado como o espaço físico onde vendedores e compradores econtravam‑se para trocar bens e serviços. Outra definição diz que mercado é um grupo de vendedores e compradores que fazem transações com qualquer coisa de valor, como dinheiro, mercadorias, habilidades, ideias. Da mesma forma, o mercado pode também ser classificado de várias maneiras. Rocha e Christensen (1999) falam em mercado existente e mercado potencial, cada qual com várias possibilidades de cobertura geográfica. O mercado existente caracteriza‑se por produtos e serviços que atendam a necessidades percebidas por clientes que dispõem de recursos para adquiri‑los. O mercado potencial caracteriza‑se pela existência de uma dessas condições: produtos e serviços ou clientes e disponibilidade de recursos (BASTA; MARCHESINI; OLIVEIRA; SÁ, 2004). Refletindo sobre essa citação, podemos observar que o mercado, apesar de ter diversas definições, representa um grupo de pessoas que têm características semelhantes e que se tornam alvo para uma empresa, ou seja, é para esse grupo que a instituição pretende ofertar seus produtos e/ou serviços. Mas será que é possível encontrar um grupo tão homogêneo? Será que é possível atender a todos num mercado com apenas um tipo de produto, uma forma de comunicação, um preço, enfim, com um único composto mercadológico? Para responder essas perguntas, faremos discussões sobre segmentação. Segundo Kotler (2006), o início de qualquer debate sobre segmentação é o marketing de massa. Nele, a empresa se empenha na produção, distribuição e comunicação em massa de um produto para todos os seus clientes. Assim, a instituição pretende atender a todos os seus clientes sem distinção, ou melhor, com um único composto mercadológico. Uma empresa que utilizava essa abordagem é a Coca‑Cola, pois em determinado momento vendia apenas os refrigerantes de 200 ml. As empresas que usam essa abordagem argumentam que o marketing de massa cria um mercado potencial maior e com menor custo. Entretanto, é preciso observar que o mercado está se fragmentando cada vez mais em função dos diferentes canais de comunicação e de distribuição. 23 MARKETING Atualmente, recebemos informações de diferentes canais em uma velocidade assustadora. O que isso muda em nossas vidas? Buscamos cada vez mais administrar nosso tempo para dar conta de tantas informações e tarefas novas, e isso muda o sentido que damos para a vida. Altera, inclusive, a forma de percepção de mundo e consequentemente a nossa visão de consumo. Dessa forma, fica difícil imaginar que um grupo tão grande de pessoas se identifique com apenas um tipo de produto, se atraia a uma mesma forma de comunicação e procure um mesmo canal de compra. Não gostaria de ser taxativa nessa reflexão, meu intuito é que você reflita comigo sobre esse assunto. Você tem preferências que podem ser caracterizadas como as preferências da massa? Procura soluções que atendam as suas necessidades e desejos específicos? Identifica‑se com todas as pessoas de seu entorno ou pertence a um grupo que tem características e expectativas distintas? Independente da sua resposta, observe a sociedade a sua volta. Hoje os clientes estão buscando atender a desejos individuais ou coletivos? Assim, podemos começar a entender a necessidade ou não de segmentar nosso mercado. “Um segmento de mercado consiste em um grande grupo de consumidores que possuem as mesmas preferências” (KOTLER, 2006, p.237). A segmentação, então, consiste na divisão do mercado em grupos de pessoas (clientes potenciais) com características, percepções de valores, comportamento de compra e expectativas semelhantes. Ao segmentar um mercado, a empresa decide atender a um grupo de clientes que constituem uma sociedade com uma determinada organização política, econômica e cultural, e que obtém experiências ao longo da vida; esses clientes têm perfil, personalidades, percepções e motivações diferentes. Mas todas as pessoas buscam sempre satisfazer suas necessidades e desejos. Vamos entender a seguir como o marketing atua com uma abordagem de segmentação de mercado. 1.4.1 Marketing de segmento Os gestores orientados pelo marketing devem identificar e decidir em quais segmentos vão se concentrar para então planejar, definir preços, divulgar e fornecer o produto ou serviço para melhor satisfazer o mercado‑alvo, que é o segmento específico de mercado que uma organização seleciona para servir. Ressalta‑se que não devemos confundir segmento de mercado com um setor de mercado. Vamos entender melhor com a citação a seguir: Uma empresa automobilística pode dizer que focará compradores jovens de classe média. O problema é que esses compradores diferem em suas preferências sobre carros. Alguns querem um modelo barato; outros, modelos caros. Compradores jovens de classe média são um setor e não um segmento (KOTLER, 2006, p.238). 24 Unidade I Enquanto o segmento pode ser entendido como uma fatia do mercado resultante do processo de segmentação, um setor é uma subcategoria dentro de um segmento. As instituições não criam segmentos, elas apenas os identificam para adaptar seu negócio e atender às expectativas desse grupo de clientes. Nesse processo, serão investigadas quais são as preferências em relação às características de um determinado produto para verificar se as inclinações entre os clientes são as mesmas ou não. Seria como perguntar aos consumidores de sorvete se eles valorizam mais a doçura ou a cremosidade. Os segmentos de mercado podem ser identificados de diversas maneiras: Preferências homogêneas: demonstram um mercado em que os clientes têm praticamente as mesmas preferências. Preferências difusas: são dispersas, o que indica que os clientes têm preferências variadas e as marcas que pretendem atuar nesse grupo precisam se adaptar ao maior grupo possível, mas não será de forma homogênea. Preferências conglomeradas: o mercado pode revelar um banco de preferências distintas chamadas pelo autor por segmento de mercados naturais. No exemplo do sorvete, podemos encontrar um grupo que prefere a doçura, outro grupo que prefere a cremosidade e um terceiro grupo que não valoriza nenhum desses itens. Para atuar nesse mercado, a empresa poderia criar três tipos distintos de sorvetes ou ainda se especializar em apenas um e deixar os outros grupos para a concorrência (KOTLER, 2006, p.240). Observação Para a empresa que pretende atuar com a abordagem de marketing de segmento, o indicado é conhecer o mercado, dividi‑lo em grupos formados por clientes com necessidades, desejos e atitudes semelhantes e adaptar seu composto mercadológico para atender a essas especificidades. 1.4.2 Marketing de nicho Para compreendermos essa abordagem, é preciso saber claramente o que é um nicho para o marketing: “um nicho é um grupo definido mais estritamente que procura por um mix de benefícios distintos” (KOTLER, 2006, p.238). 25 MARKETING Em geral, esse grupo é representado por pessoas que têm preferências específicas e que são identificadas quando as empresas fazem a segmentação de um segmento, encontrando, então, um subsegmento. Para Kotler (2006), um nicho atraente tem algumas características: os clientes possuem diversas necessidades, e estas devem se diferenciar de todo o resto do segmento. Para entender melhor isso, veja o exemplo: a empresa de perfume Butterflies lançou uma linha com frangâncias de rosas e teve uma boa aceitação de seu público, mas em umapesquisa identificou que um grupo significativo de clientes gostou muito da fragância, mas iria gostar ainda mais se o perfume não fosse tão forte. Nesse caso, encontramos um nicho de mercado dentro do segmento já atendido. O autor destaca que os consumidores se predispõem a pagar um preço mais alto para adquirir um produto que atenda melhor às suas necessidades, mas é preciso pesquisar, pois a empresa pode ter um ônus se isso não ocorrer. Kotler também diz que os nichos não costumam atrair outros concorrentes, pois se tratam de algo específico e não é viável lutar por um pequeno mercado. Kotler (2006) menciona que o nicho gera retorno financeiro para empresa por meio da especialização, pois não será possível atender a um nicho se a empresa não adaptar o seu produto, havendo, portanto, um aperfeiçoamento para encantar o cliente, e isso acarretará aumento das vendas. Por fim, o autor diz que o nicho tem potencial para crescer e gerar lucros maiores. Um nicho, apesar de representar um grupo menor de compradores se comparado a um segmento, normalmente com o tempo atrai novos clientes que procuram soluções para suas necessidades e desejos específicos. As empresas que praticam marketing de nicho buscam constantemente entender profundamente as necessidades e desejos de seus clientes, o que possibilita sua plena satisfação por meio da criação de produtos e/ou serviços direcionados. Observação O marketing de nicho pode ser utilizado nas empresas independente de seu porte, é preciso apenas haver dedicação e conhecimento das reações e expectativas dos clientes e estar disposto a adaptar seus produtos e/ou serviços para satisfazê‑los. Cita‑se um exemplo de utilização de marketing de nicho: Apesar de líder no segmento de refrigerantes e de refrigerantes de cola no Brasil, a Coca‑Cola também vende outros, entre eles a Fanta Uva, feita para um público altamente específico. Esse mercado‑alvo de clientes que procuram refrigerantes de uva possui características específicas que compõem um nicho de mercado. 26 Unidade I 1.4.3 Marketing individual Os clientes estão cada vez mais exigentes e bem informados em relação aos produtos e a atuação da empresa; acessam internet, conversam com outras pessoas que já tiveram alguma experiência com determinado produto, e essas pessoas não necessariamente fazem parte de seu convívio social, eles apenas se encontram em fóruns, blogs e redes sociais para compartilhar opiniões. Essa nova realidade dá sinais aos fabricantes sobre as novas tendências de compra que consequentemente influenciam no surgimento de outras formas de venda e produção por encomenda. Parece até um retrocesso, mas antigamente prevalecia o trabalho manual e personalizado, as pessoas iam a uma costureira encomendar uma roupa única, a um carpinteiro encomendar um móvel, os clientes eram tratados pelos nomes nos ambientes comerciais e até trocavam experiências como grandes conhecidos. Na verdade, isso não é um retrocesso e sim uma evolução, pois, a partir do aprendizado, observa‑se que o ambiente mudou, mas os valores e costumes ainda são preservados. Por essa razão, as empresas estão refletindo sobre a importância de ouvir o cliente e saber o que ele realmente quer para poder atendê‑lo de forma individual. Essa tendência leva a uma abordagem reconhecida como marketing individual ou marketing customizado. No passado, esse tipo de marketing era difícil de ser praticado, mas com o avanço da tecnologia ele começou a se tornar uma estratégia viável. Computadores, banco de dados, produção robotizada e e‑mails permitem ao gestor orientado pelo marketing reunir e recuperar informações sobre os desejos, as necessidades individuais e as compras de muitos clientes potenciais ou passados. Embora essa abordagem nem sempre seja útil, as constantes inovações tecnológicas estão tornando‑as cada vez mais atraentes. O marketing continuará a influenciar no processo, mas de novas maneiras. Mas como nem tudo é feito só de vantagens, a empresa precisa avaliar seu negócio e o perfil de seu mercado‑alvo para decidir se é mais compensador criar ofertas para segmentos ou para clientes individuais. As instituições favoráveis à segmentação percebem como um processo mais eficiente requer menos informações do cliente e possibilita maior padronização das ofertas de mercado. Já as empresas seguidoras do marketing individual acreditam que os segmentos não são precisos e por isso não são tão confiáveis, pois são formados por pessoas diferentes entre si, e que as empresas podem atingir a precisão e a eficiência atendendo às necessidades individuais. 1.4.4 Marketing local Essa abordagem busca uma adaptação em seu composto mercadológico para atender às necessidades e desejos de uma determinada região. O marketing direcionado está levando programas de marketing idealizados de acordo com os desejos e as necessidades de grupos de clientes locais (áreas comerciais, bairros e até mesmo lojas). Segundo as características 27 MARKETING demográficas do bairro, o Citibank fornece diferentes opções de mix de serviços bancários em suas agências. A Kraft ajuda as cadeias de supermercados a identificar os tipos de queijos e a posição nas prateleiras que otimizarão as vendas em pequenas, médias e grandes lojas de diferentes bairros (KOTLER, 2006, p.245). Se observarmos em pormenores, há regiões que detêm um mercado com um público que possui necessidades específicas. Essas ações de marketing buscam o máximo possível de relevância e proximidade com cada cliente. Pode‑se considerar um exemplo de atividade de marketing local o patrocínio de times escolares locais. Grande parte do marketing local constitui‑se do marketing experimental, que promove um produto e/ou serviço não só comunicando seus atributos, como também o relacionando com experiências específicas e interessantes. Kotler (2006, p.248) define o marketing experimental assim: “a ideia não é vender algo, mas demonstrar como a marca pode enriquecer a vida do cliente”. Para os seguidores do marketing local, a propaganda em âmbito nacional é um desperdício por ser muito genérica e não atender às necessidades locais. Já aqueles que não acreditam nessa tática, justificam que ela eleva os custos nos processos de produção e marketing, diminuindo as economias de escalas. De fato, os problemas de logística aumentam. E a imagem da marca como um todo pode se enfraquecer se os produtos e as mensagens forem diferentes a cada localidade. Observação É importante entender que para segmentar de forma mais precisa o mercado, o passo principal é o reconhecimento das características de seu público‑alvo e, para isso, é preciso se apropriar das teorias de comportamento do consumidor. 1.5 Segmentações de mercados organizacionais Segundo Palmer (2006), o processo de segmentação de mercados organizacionais é muito semelhante e que, em princípio, é aplicado aos mercados de consumo. Alguns quesitos, como a frequência de compra e os benefícios procurados, aplicam‑se igualmente às compras de consumidores individuais e às compras corporativas. Em contrapartida, os critérios de demografia e psicografia têm pouco a contribuir para a segmentação de compradores organizacionais, em especial o de empresas de grande porte. Agora vamos observar, conforme descreve o autor, algumas bases de segmentação adicionais muito utilizadas em mercados B2B (business to business), ou seja, entre empresas. Tamanho de empresa – de acordo com o tamanho da empresa, é possível compor um segmento, pois as encomendas irão variar de acordo com seu porte. Uma grande rede de varejo, por exemplo, comprará diretamente do 28 Unidade I fabricante, enquanto os pequenos varejistas dependem de atacadistas, em alguns casos em função do seu volume de pedido de compra ou de seu porte. Formalidade dos processos de compra – é possível usar o critério do processo de compra porque as empresas tendem a formalizá‑los de acordo com o seu crescimento. Em grandes organizaçõesestatais, por exemplo, os procedimentos de encomendas são lentos e complicados, ao passo que em algumas organizações privadas de tamanho semelhante é possível encontrar maneiras de delegar as compras aos escritórios locais, aumentando a velocidade do processo. E a complexidade do processo de compra de uma empresa leva‑a a impor maior complexidade a seus fornecedores. Setor de atividade – um setor específico pode usar um volume maior de um determinado produto. Nesse setor, pode haver nichos com necessidades ainda mais específicas. Por isso, diversos fornecedores de bens e serviços determinam como público‑alvo alguns setores e subsetores. Perceba o exemplo de equipamentos de tecnologia da informação (TI). A Fujitsu ICL delimitou como alvo as necessidades específicas do segmento varejista, enquanto a NCR buscou atender ao segmento bancário (PALMER, 2006, p.142). 1.6 Segmentações dos mercados consumidores Para segmentar mercados consumidores, é preciso conhecer critérios que façam a distinção das pessoas para uni‑las em grupos que possuam expectativas comuns. Alguns pesquisadores tentam formar segmentos observando as características geográficas, demográficas, psicográficas e comportamentais. Vejamos: [...] segmentação geográfica: requer a divisão do mercado em diferentes unidades geográficas, como nações, estados, regiões, cidades, bairros, clima e densidade. Uma empresa pode atuar em uma, em algumas ou em todas as unidades geográficas, desde que atenda às variações locais (KOTLER, 2006, p.251). Podemos nos perguntar o porquê de se fazer uma divisão de mercado a partir do clima. A resposta é simples: em alguns casos, o clima interfere diretamente na decisão de compra do produto, como na instalação de uma loja especializada em casacos de lã no meio do nordeste brasileiro, que tem como característica um clima mais tropical e tem altas temperaturas. Você acredita que essa região é a mais adequada para a instalação dessa empresa? Kotler (2006) também destaca a segmentação demográfica. Diz que entre os diversos fatores estudados por essa ciência estão: a densidade populacional, a sua distribuição por sexo, renda, grau de instrução etc. 29 MARKETING Essa divisão é importante para que as empresas reconheçam as pessoas que se encaixam no perfil de seu público‑alvo. Segmentação psicográfica: a psicografia é a ciência que utiliza a psicologia e a demografia para entender melhor os consumidores (KOTLER, 2006). A segmentação psicográfica faz a divisão do mercado a partir de critérios de personalidade, estilo de vida e valores das pessoas para conseguir entender com mais detalhes os anseios dos clientes. É possível entender a importância dessa segmentação quando observamos os compradores de carro, que, mesmo encontrando um grupo com o perfil demográfico similar, eles podem se diferenciar quando verificamos seu estilo de vida, e consequentemente encontramos pessoas que optam por carros com o modelo esportivo e também outros que preferem modelos mais clássicos, isso porque as formas de viver a vida distinguem‑se dentro de um mesmo grupo. Segmentação comportamental: segundo Cobra (2003), nessa segmentação os compradores são divididos em grupos conforme seus conhecimentos, atitudes, usos e respostas a um produto, ou seja, são observadas variáveis de ocasiões de uso do produto. Também há a divisão para especificar o que o cliente busca no produto, se ele é fiel a uma marca específica, o índice de utilização, entre outros. Segundo Kotler (2006), nessa segmentação é preciso obervarmos criteriosamente alguns fatores, como: papéis de decisão, variáveis comportamentais e modelo de conversão. Vejamos: Conforme define o autor, há cinco papéis de decisão que podem ser assumidos: Iniciador – quem percebe um estado de privação ou limitação, ou seja, quem identifica a necessidade e/ou desejo. Influenciador – é aquele considerado formador de opinião, é quem influencia a decisão de compra de outro indivíduo. Exemplo: suponha que eu esteja com o casamento marcado e precise montar a minha casa. Muito provavelmente, irei buscar sugestões de pessoas em que eu confie, que tenham experiência no assunto e que irão influenciar a minha decisão de compra, meus pais, por exemplo. Decisor – aquele que tem o poder de decisão sobre a compra, é quem realmente define se a compra será feita e qual será o produto comprado. Comprador – quem realmente coloca a “mão na massa”, aquele que busca o produto e/ou serviço, faz orçamento e realiza a operação da compra propriamente dita, e não necessariamente é quem decidiu pela compra. Usuário – é quem realmente irá utilizar o produto e/ou serviço adquirido (KOTLER, 2006, p.253). 30 Unidade I Vamos entender melhor esses papéis observando o exemplo de compra a seguir: Um casal sai para fazer compras em um supermercado com sua filha de 5 anos. Em determinado momento, a criança vê um pacote de bolacha recheado com uma embalagem bem colorida e pede a sua mãe para comprá‑lo. Ela diz que não irá comprar porque a criança já havia escolhido outros produtos e é preciso ter limites. Nesse momento, o pai não emite qualquer opinião, e a criança emburrada coloca a bolacha no carrinho de compras sem que seus pais vejam. Após algumas horas dentro do estabelecimento, os pais se dirigem ao caixa. A mãe, que já estava muito cansada após um dia inteiro de trabalho, confere se todos os itens da lista estavam no carrinho e decide esperar no carro, enquanto o pai realmente efetuava a compra. Nesse momento, a mãe percebeu a presença da bolacha no carrinho, e muito brava perguntou quem a deixara ali, uma vez que ela não havia permitido a compra do produto. A criança começa a chorar e insistir que a mãe deixe o pai comprar o produto e, após muita insistência, a criança os venceu pelo cansaço, quando sua mãe disse ao pai que poderia comprar a bolacha enquanto as duas esperariam no carro. Pense rápido, quem assumiu o papel nessa compra? A mãe foi quem realmente decidiu a compra, por essa razão, ela é a decisora. O pai foi quem fez a compra, pois empacotou o produto e o pagou. A criança assumiu dois papéis: ela influenciou a decisão de compra e será a usuária do produto, ou seja, ela é quem irá consumir a bolacha. É importante que o gestor reconheça esses papeis para criar ações que afetem a cada um deles, com o intuito de estimular a compra. Estudando ainda a segmentação comportamental, vamos conhecer o segundo fator: variáveis comportamentais: Muitos profissionais de marketing acreditam que as variáveis comportamentais – ocasiões, benefícios, status do usuário, índice de utilização, estágio de prontidão, status de fidelidade e atitudes em relação ao produto – são os melhores pontos de partida para definir segmentos de mercado (KOTLER, 2006, p.255). Nesse sentido, entendemos que hora, dia, semana, mês, ano, entre outros aspectos temporais, influenciam na decisão de compra. É por essa variável que percebemos se o cliente compra sucos de laranja para tomar café da manhã ou para consumi‑lo em qualquer outro horário do dia para se refrescar. Ou, ainda, identificamos se há um período no ano que há um aumento de vendas, como o dia das mães ou a páscoa. Enfim, essa variável vai auxiliar o gestor a entender como expandir seus negócios associando essas variáveis a ocasiões especiais, ou até mesmo estimulando a valorização de outras datas especiais, como usar o dia do beijo para vender mais batons. 31 MARKETING Analisando ainda as variáveis comportamentais, observamos o item Benefícios: nesse caso, as empresas podem classificar seus clientes de acordo com os benefícios que eles procuram, como o preço. O status dos usuários permitem à empresa reconhecer seus clientes como ex‑usuários, usuários potenciais, não‑usuários, usuários iniciais ou usuários regulares. Assim, é possível criar uma estratégia de marketing específica para atender a cada um desses clientes. O índice de utilização é considerado uma variável comportamental porquevai apontar o percentual de utilização de um produto, que consequentemente trará subsídios para o gestor identificar a melhor estratégia de acordo com a segmentação encontrada. Ao estudar um estágio de prontidão, percebemos que “um mercado é formado por pessoas com diferentes níveis de interesse de compra. Alguns desconhecem, outros conhecem ou estão informados a respeito, alguns estão interessados, alguns desejam o produto.” (KOTLER, 2006, p.253). Esse estudo se justifica pelo número que pode representar um determinado grupo, e isso influenciará diretamente no planejamento de marketing. Quando uma empresa lança um produto, o planejamento de marketing será realizado com o intuito de informar as pessoas de sua existência, isso porque não se compra o que não se conhece. Após a conscientização do público, o programa de marketing será moldado novamente de acordo com o estágio de prontidão. Se já houver uma difusão do produto, o objetivo será conquistar sua preferência. As variáveis comportamentais contemplam o estudo do status de fidelidade dos clientes para averiguar se eles são fiéis a uma só marca, se dividem a preferência com outras pessoas, se trocam constantemente de marcas ou se não são fiéis a qualquer marca. Assim, é possível entender os pontos fortes e fracos do produto, reconhecer seu concorrente direto e o porquê do cliente não se “fidelizar” apenas a sua marca. Por fim, em relação às variáveis comportamentais, é preciso entender a atitude do cliente frente ao produto, se há uma predisposição em adquiri‑lo etc. Kotler (2006) diz que há cinco grupos de atitudes podem ser encontrados em um mercado: entusiasta, positiva, indiferente, negativa e hostil. Outro fator a ser estudado com relação à segmentação comportamental é o modelo de conversão, que foi desenvolvido para analisar o nível do compromisso psicológico dos clientes com as marcas e sua disposição para mudanças. Assim, é possível determinar a facilidade com que um cliente migra de marca, porque esse modelo avalia o compromisso segundo fatores, como a atitude em relação às opções atuais de marcas e sua satisfação com elas. Para que o processo de segmentação de um mercado seja justificável, o segmento identificado deve ter algumas características, a saber: Ser acessível: é preciso ter certeza que a empresa tem condições de atender o segmento encontrado. Por exemplo: se uma empresa encontra um segmento interessado em produtos com tamanhos menores, é preciso saber se é possível atender a essas expectativas. 32 Unidade I Ser diferenciável: o segmento deve reagir de maneira diferente de acordo com as estratégias de marketing da empresa. Homens divorciados podem responder de forma similar a homens casados sobre uma propaganda de camisa, por exemplo. Nesse caso, esses públicos não compõem segmentos distintos. Ser mensurável: o segmento deve ser mensurado, ou seja, deve‑se medir o tamanho, o poder de compra e as características do segmento. Por exemplo: é possível mensurar o número de mulheres com renda mensal acima de R$ 1.000,00 da cidade de Vargem Grande Paulista (SP). Ser substancial: o segmento deve ter um tamanho que justifique os investimentos da empresa para atendê‑lo. Por exemplo: uma empresa encontrou um segmento que busca por produtos personalizados, mas para atender a essas expectativas terá que mudar sua linha de produção, estratégia de venda e distribuição. Entretanto, antes de qualquer atitude, é preciso verificar se esse investimento será compensado pelos ganhos que terá com este segmento. Ser acionável: deve ser possível criar propostas de valor com poder de persuasão para atrair e atender aos segmentos. Por exemplo: uma empresa reconhece que um segmento deseja um produto com desempenho superior, mas se ela não conseguir fazer que esse segmento reconheça isso, ela não terá sucesso no seu esforço para atendê‑lo (Ibidem, p. 255). Vamos relembrar os conceitos estudados sobre segmentação visualizando a figura a seguir: Segmentação de mercado Modelo de abordagem Critérios para segmentação de mercado de consumo Segmentação efetiva Figura 3 A segmentação é fundamental para as empresas. Vamos observar o que alguns autores dizem sobre o assunto: É importante compreender o comportamento de compra do consumidor para poder identificar e agrupar compradores com perfis semelhantes e, dessa maneira, realizar uma segmentação de mercado. O processo de segmentação de mercado possibilita formular ações estratégicas e táticas, visando atender de forma mais ampla e dirigida as expectativas, necessidades e desejos de consumo de cada segmento de mercado (COBRA, 2003 p.132). 33 MARKETING [...] A segmentação de mercado é o meio utilizado pelo marketing para dividir o mercado em diferentes grupos formados por clientes com necessidades, desejos e atitudes similares. Assim, o mercado total é segmentado em grupos relativamente homogêneos, porém bastante distintos entre si. (BASTA et al., 2004, p.96). [...] Segmentação de mercado é a identificação de subgrupos de compradores com necessidades e processos de compra similares, com o objetivo de oferecer produtos que atendam a demandas específicas, distintas das do consumidor médio. A técnica da segmentação não é exclusiva do marketing. Outras áreas da atividade humana empregam esse mesmo princípio ao decompor um problema maior em unidades maiores para facilitar a solução. Há muitas analogias entre essas dificuldades e os problemas relativos a tomadas de decisão. Um engenheiro que projeta uma ponte devide‑se em partes quando especifica os materiais a serem usados. Os graus de resistência do material mudam de acordo com as diferentes partes da estrutura da ponte. Assim, como o profissional de marketing não utiliza um único produto para satisfazer às necessidades do mercado, o engenheiro não usa uma só qualidade de material para toda a obra (PALMER, 2006, p.155). Em suma, o processo de segmentação é crucial para as empresas orientadas pelo marketing, pois vai permitir a identificação do seu mercado‑alvo, o reconhecimento das características e expectativas de seu cliente, para depois criar seu programa de marketing, estabelecendo, inclusive, o posicionamento de sua marca. 1.7 Posicionamento de mercado A partir do momento que o mercado‑alvo for identificado, a empresa deve decidir como irá se posicionar nesse segmento, pois isso é fundamental no delineamento das ações táticas de marketing. As decisões referentes à criação e gerenciamento do produto, a definição de preço e as estratégias de comunicação e distribuição dependem diretamente do posicionamento que a empresa deseja ter no mercado. “Posicionamento é o ato de desenvolver a oferta e a imagem da empresa, de maneira a obter uma posição competitiva distinta e significativa na mente do consumidor‑alvo” (COBRA, 2003 apud KOTLER, 1998, p.173). De uma forma geral, é preciso observar que a técnica utilizada pelos profissionais de marketing para construir uma imagem na mente do consumidor ocorre não pelas ações que são realizadas no produto, mas sim nas ações direcionadas à mente do consumidor, ou seja, como você posiciona o produto na mente do consumidor. Para Ries e Trout, não se trata de criar algo novo ou diferente, mas trabalhar com o que já está na mente do consumidor, realinhando as conexões já existentes. E qual é a importância disso? Ora, se “a beleza está nos olhos de quem vê”, como 34 Unidade I diz o ditado popular, então a única realidade do mercado – a que conta – é aquela que já está na mente do consumidor. Como na peça Assim é se lhe parece (1917), de Luigi Pirandello, escritor e prêmio Nobel de Literatura em 1934, cada ser humano acredita na realidade segundo suas percepções. Tudo se passa na mente do consumidor (BASTA et al. apud RIES e TROUT, 1995). Vamos refletir um pouco sobre esse assunto. Hoje nossos consumidores recebem constantemente um “turbilhão” de informações, e o que realmente eles retêm em suas mentes? É difícil
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