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Informativo XXX-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
 
Informativo comentado: 
 Informativo 1000-STF 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
PUBLICIDADE 
▪ STF determina que Ministério da Saúde faça a divulgação integral de dados sobre Covid-19. 
 
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 
▪ É constitucional lei estadual que obriga a empresa de telefonia celular a disponibilizar na internet extrato detalhado 
das chamadas telefônicas e serviços utilizados nos planos pré-pagos. 
▪ É inconstitucional lei estadual que autoriza suspensão da cobrança de empréstimos consignados, mesmo que 
durante a pandemia da covid-19. 
 
CNJ 
▪ Compete ao STF processar e julgar originariamente ações propostas contra o CNJ e contra o CNMP no exercício de 
suas atividades-fim. 
▪ Decisões administrativas do CNJ devem ser cumpridas mesmo que exista decisão judicial em sentido contrário 
proferida por outro órgão judiciário que não seja o STF. 
 
DEFENSORIA PÚBLICA 
▪ É inconstitucional foro por prerrogativa de função para Defensores Públicos. 
 
ADVOCACIA PÚBLICA 
▪ É inconstitucional foro por prerrogativa de função para Procuradores do Estado. 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
CONCURSO PÚBLICO 
▪ É inconstitucional lei estadual que define, como critério de desempate em concurso público, a preferência pelo 
servidor público daquele Estado. 
▪ É possível que o candidato a concurso público consiga a alteração das datas e horários previstos no edital por 
motivos religiosos, desde que cumpridos alguns requisitos. 
 
SERVIDORES PÚBLICOS 
▪ É possível que o servidor público cumpra seus deveres funcionais em dias alternativos por motivos religiosos, desde 
que cumpridos alguns requisitos. 
▪ É inconstitucional lei que preveja que o subsídio dos Procuradores será equivalente a um percentual do subsídio dos 
Ministros do STF. 
▪ É inconstitucional o parágrafo único do art. 137 da Lei 8.112/90, que proíbe o retorno ao serviço público federal de 
servidor condenado pela prática de determinados fatos graves. 
 
DIREITO AMBIENTAL 
PROIBIÇÃO DO RETROCESSO AMBIENTAL 
▪ É inconstitucional a revogação de Resolução do Conama que protegia o meio ambiente sem que ela seja substituída 
ou atualizada por outra que também garanta proteção. 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 1000-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
DIREITO CIVIL 
CONDOMÍNIO EDILÍCIO 
▪ É possível a cobrança, por parte de associação, de taxas de manutenção e conservação de loteamento fechado de 
proprietário não-associado. 
 
DIREITO DO CONSUMIDOR 
CONTRATOS BANCÁRIOS 
▪ É inconstitucional norma que autoriza os bancos a cobrarem tarifa pelo simples fato de disponibilizarem o serviço 
de “cheque especial”, ainda que ele não seja utilizado 
 
DIREITO PROCESSUAL CIVIL 
COMPETÊNCIA 
▪ Compete ao STF processar e julgar originariamente ações propostas contra o CNJ e contra o CNMP no exercício de 
suas atividades-fim. 
 
DIREITO PENAL 
LEI DE LAVAGEM DE DINHEIRO 
▪ É inconstitucional a previsão legal que determina o afastamento do servidor público pelo simples fato de ele ter sido 
indiciado pela prática de crime. 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO 
▪ É inconstitucional foro por prerrogativa de função para Procuradores do Estado e Defensores Públicos. 
 
DIREITO TRIBUTÁRIO 
DIREITO FINANCEIRO 
▪ Ainda que sob o argumento da pandemia da Covid-19, não pode ser atendido pedido feito por Governador do Estado para 
que sejam afastadas as limitações da Lei de Responsabilidade Fiscal referentes a execução de gastos públicos continuados. 
 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
PUBLICIDADE 
STF determina que Ministério da Saúde faça a divulgação integral de dados sobre Covid-19 
 
Covid-19 
A redução da transparência dos dados referentes à pandemia de COVID-19 representa 
violação a preceitos fundamentais da Constituição Federal, nomeadamente o acesso à 
informação, os princípios da publicidade e transparência da Administração Pública e o direito 
à saúde. 
STF. Plenário. ADPF 690 MC-Ref/DF, ADPF 691 MC-Ref/DF e ADPF 692 MC-Ref/DF, Rel. Min. 
Alexandre de Moraes, julgado em 20/11/2020 (Info 1000). 
 
A situação concreta foi a seguinte: 
Em 08/06/2020, a Rede Sustentabilidade, o PCdoB e o PSol ajuizaram no STF Arguição de Descumprimento 
de Preceito Fundamental (ADPF) na qual contestam atos do Poder Executivo Federal que restringiram a 
publicidade dos dados relacionados à Covid-19. 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 1000-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
Na ação, os partidos pedem que o Ministério da Saúde seja obrigado a dar publicidade, diariamente, até 
às 19h30, dos dados sobre casos confirmados, óbitos, recuperados, hospitalizados e outros. 
No pedido, os partidos afirmam que, por três dias seguidos na semana anterior ao ajuizamento da ação, 
o Ministério da Saúde retardou a divulgação dos dados sobre a pandemia em sua página na internet. 
Posteriormente, sem nenhuma justificativa legítima, alterou o formato do Balanço Diário da Covid-19, 
omitindo dados como o total de casos confirmados, de casos recuperados e de óbitos, o acumulado nos 
últimos três dias, o número de mortes em investigação e o de pacientes que ainda estão em 
acompanhamento. 
Para os partidos, a retenção dessas informações inviabiliza o acompanhamento do avanço da Covid-19 no 
Brasil e atrasa a implementação de políticas públicas sanitárias de controle e prevenção da doença, além 
de representar afronta à população o fato de existir qualquer intenção de manipulação de dados. 
Os partidos alegam que as medidas violam preceitos fundamentais da Constituição Federal que tratam do 
direito à vida e à saúde, do dever de transparência da administração pública e do interesse público. 
 
Decisão monocrática 
No dia 09/06/2020, o Min. Relator Alexandre de Moraes deferiu a medida liminar para determinar ao 
Ministro da Saúde que mantenha, em sua integralidade, a divulgação diária dos dados epidemiológicos 
relativos à pandemia (Covid-19), inclusive no site. 
 
Confirmação da liminar 
No dia 20/11/2020, o Plenário do STF referendou a medida cautelar concedida para determinar que o 
Ministério da Saúde mantenha, em sua integralidade, a divulgação diária dos dados epidemiológicos 
relativos à pandemia (COVID-19), inclusive no sítio do Ministério da Saúde e com os números acumulados 
de ocorrências, exatamente conforme realizado até o último dia 04 de junho de 2020. 
 
A CF/88 consagrou expressamente o princípio da publicidade como um dos vetores imprescindíveis à 
Administração Pública, conferindo-lhe absoluta prioridade na gestão administrativa e garantindo pleno 
acesso às informações a toda a sociedade. 
À consagração constitucional de publicidade e transparência corresponde a obrigatoriedade do Estado em 
fornecer as informações necessárias à sociedade. O acesso às informações consubstancia-se em 
verdadeira garantia instrumental ao pleno exercício do princípio democrático. 
Assim, salvo situações excepcionais, a Administração Pública tem o dever de absoluta transparência na 
condução dos negócios públicos, sob pena de desrespeito aos arts. 37, caput, e 5º, XXXIII e LXXII, da CF/88, 
pois “o modelo político-jurídico, plasmado na nova ordem constitucional, rejeita o poder que oculta e o 
poder que se oculta”. 
Ademais, cumpre ressaltar que a República Federativa do Brasil é signatária de tratados e regras 
internacionais relacionados à divulgação de dados epidemiológicos, tais como o Regulamento Sanitário 
Internacional aprovado pela 58ª Assembleia Geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), em 23 de 
maio de 2005, promulgado no Brasil pelo Decreto Legislativo 395/2009. 
 
Em suma: 
A redução da transparência dos dados referentesà pandemia de COVID-19 representa violação a 
preceitos fundamentais da Constituição Federal, nomeadamente o acesso à informação, os princípios 
da publicidade e transparência da Administração Pública e o direito à saúde. 
STF. Plenário. ADPF 690 MC-Ref/DF, ADPF 691 MC-Ref/DF e ADPF 692 MC-Ref/DF, Rel. Min. Alexandre de 
Moraes, julgado em 20/11/2020 (Info 1000). 
 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 1000-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 
É constitucional lei estadual que obriga a empresa de telefonia celular a disponibilizar na 
internet extrato detalhado das chamadas telefônicas e serviços utilizados nos planos pré-pagos 
 
É constitucional norma estadual que disponha sobre a obrigação de as operadoras de telefonia 
móvel e fixa disponibilizarem, em portal da “internet”, extrato detalhado das chamadas 
telefônicas e serviços utilizados na modalidade de planos “pré-pagos”. 
Trata-se de norma sobre direito do consumidor que admite regulamentação concorrente 
pelos Estados-Membros, nos termos do art. 24, V, da Constituição Federal. 
STF. Plenário. ADI 5724/PI, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, 
julgado em 27/11/2020 (Info 1000). 
 
A situação concreta foi a seguinte: 
No Piauí, foi editada a Lei estadual nº 6.886/2016, que obriga as operadoras de telefonia móvel a 
disponibilizarem na internet extrato detalhado das chamadas telefônicas e serviços utilizados nos planos 
pré-pagos. 
Confira a redação do art. 1º da Lei: 
Art. 1º As operadoras de telefonia móvel e fixa que prestam serviços no âmbito do Estado do Piauí 
fornecerão aos clientes que utilizam seus serviços na modalidade de recarga de créditos por 
pagamento antecipado, também conhecida como "plano pré-pago", extrato detalhado de conta 
das chamadas telefônicas e serviços utilizados com respectivo valor cobrado, no mesmo padrão 
dos extratos de contas de serviços prestados mediante contratos conhecidos como ‘planos pós-
pagos’. 
 
A Associação das Operadoras de Celulares (ACEL) ajuizou ADI contra essa previsão afirmando que ela seria 
inconstitucional por ter invadido competência privativa da União para legislar sobre os serviços de 
telecomunicações (art. 22, IV, da CF/88): 
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: 
(...) 
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; 
 
O STF concordou com o pedido formulado na ADI? A referida Lei é inconstitucional? 
NÃO. 
É constitucional norma estadual que disponha sobre a obrigação de as operadoras de telefonia móvel e 
fixa disponibilizarem, em portal da “internet”, extrato detalhado das chamadas telefônicas e serviços 
utilizados na modalidade de planos “pré-pagos”. 
STF. Plenário. ADI 5724/PI, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o ac. Min. Alexandre de Moraes, julgado 
em 27/11/2020 (Info 1000). 
 
O art. 21, XI, da CF/88 prevê que compete à União “explorar, diretamente ou mediante autorização, 
concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a 
organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais”. 
O art. 22, IV, por sua vez, afirma que compete privativamente à União legislar sobre “água, energia, 
informática, telecomunicações e radiodifusão”. 
Por conta disso, o STF tem julgado inconstitucionais as leis estaduais que, embora editadas com o intuito 
de proteger o consumidor, acabam interferindo, na prática, na estrutura de prestação do serviço público 
e no equilíbrio dos contratos administrativos. Exemplos: 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 1000-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
• é inconstitucional lei estadual que disponha sobre o fornecimento de informações por concessionária 
de telefonia fixa e móvel para fins de segurança pública (STF. Plenário. ADI 4.401, Min. Rel. Gilmar Mendes, 
julgado em 30/8/2019). 
• é inconstitucional lei estadual que isenta trabalhadores desempregados do pagamento do consumo de 
energia elétrica e de água pelo período de seis meses (STF. Plenário. ADI2.299, Min. Rel. Roberto Barroso, 
julgado em 23/8/2019). 
 
 (Juiz Federal TRF4 2016) Lei estadual não poderá disciplinar a respeito de validade de crédito de 
telefone celular pré-pago, projetando-o no tempo, sob pena de violação à competência exclusiva da União 
Federal para legislar sobre telecomunicações. (certo) 
 
Lei estadual só será inconstitucional se violar o núcleo do serviço de telecomunicações 
Vale ressaltar que nem toda lei estadual que trate de algum modo sobre telecomunicações será 
inconstitucional. 
Para ser inconstitucional por violação à competência privativa da União, é necessário que a lei estadual 
tenha regulado o serviço de telecomunicações. 
No caso concreto, o conteúdo da norma estadual não interfere no núcleo básico de prestação dos serviços 
de telecomunicações, cuja competência é privativa da União. 
Tampouco visou o legislador estadual interferir nos termos da relação jurídica existente entre o Poder 
concedente e a concessionária, ou entre essa e os usuários, não se podendo falar em violação ao art. 175, 
parágrafo único, incisos I e II, da CF/88: 
Art. 175 (...) 
Parágrafo único. A lei disporá sobre: 
I - o regime das empresas concessionárias e permissionárias de serviços públicos, o caráter 
especial de seu contrato e de sua prorrogação, bem como as condições de caducidade, fiscalização 
e rescisão da concessão ou permissão; 
II - os direitos dos usuários; 
(...) 
 
Direito do consumidor 
O objetivo primordial da Lei foi o de assegurar o direito dos consumidores à informação. 
A lei apenas determina que deve ser disponibilizado na internet o extrato detalhado de conta “pré-paga”, 
contendo as chamadas telefônicas e serviços utilizados com o respectivo valor, nos mesmos moldes 
delineados para os usuários do serviço “pós-pago”, dentro da perspectiva de proteção ao consumo 
conferida pelo texto constitucional. 
O direito à informação é um dos alicerces que sustentam o sistema de proteção consumerista brasileiro, 
sendo expressamente previsto em diversos dispositivos do CDC. 
Em rigor, a matéria tratada na lei é de direito consumerista, pois buscou dar uma maior proteção e 
também tornar mais efetivo o direito à informação do consumidor, permitindo um maior controle dos 
serviços contratados. Logo, o Estado-membro tinha competência para legislar sobre o tema, nos termos 
do art. 24, V, da CF/88: 
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: 
(...) 
V - produção e consumo; 
 
Chamo atenção para um julgado tratando de tema semelhante: 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 1000-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
Estado-membro possui competência para editar lei obrigando empresas de internet a apresentar na 
fatura da conta a velocidade efetivamente oferecida no mês 
É CONSTITUCIONAL lei estadual que obriga as prestadoras do serviço de Internet móvel e de banda larga 
a apresentar, na fatura mensal, gráficos informando a velocidade diária média de envio e de recebimento 
de dados entregues no mês. 
STF declarou constitucional a Lei Estadual 18.752/2016, do Paraná, que obriga as empresas de internet do 
Estado a demonstrar para o consumidor a velocidade de internet, por meio de gráficos. 
Essa não trata sobre a matéria específica de contratos de telecomunicações, tendo em vista que tal serviço 
não se enquadra em nenhuma atividade de telecomunicações definida pelas Leis 4.117/1962 e 
9.472/1997. Trata-se, portanto, de norma sobre direito do consumidorque admite regulamentação 
concorrente pelos Estados-Membros, nos termos do art. 24, V, da Constituição Federal. 
STF. Plenário. ADI 5572, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 23/08/2019. 
 
 
COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 
É inconstitucional lei estadual que autoriza suspensão da cobrança de 
empréstimos consignados, mesmo que durante a pandemia da covid-19 
 
Covid-19 
É inconstitucional norma estadual que autoriza a suspensão, pelo prazo de 120 dias, do 
cumprimento de obrigações financeiras referentes a empréstimos realizados e empréstimos 
consignados. 
Ao interferir nas relações obrigacionais firmadas entre instituições de crédito e os tomadores 
de empréstimos, a lei adentrou em matéria relacionada com direito civil e com política de 
crédito, assuntos que são de competência legislativa privativa da União, nos termos do art. 22, 
I e VII, da CF/88. 
STF. Plenário. ADI 6495/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/11/2020 (Info 1000). 
 
É inconstitucional lei estadual que determina a suspensão temporária da cobrança das 
consignações voluntárias contratadas por servidores públicos estaduais. 
STF. Plenário. ADI 6484, Rel. Roberto Barroso, julgado em 05/10/2020. 
 
A situação concreta foi a seguinte: 
No Rio de Janeiro, foi editada a Lei Estadual nº 8.842/2020, que “autoriza o Poder Executivo a suspender 
por 120 (cento e vinte) dias o desconto das mensalidades dos empréstimos celebrados e de empréstimos 
consignados”. Veja o que diz a Lei: 
Art. 1º Fica autorizado o Poder Executivo a suspender pelo prazo de 120 (cento e vinte) dias os 
descontos das mensalidades dos empréstimos celebrados e de empréstimos consignados. 
§ 1º Fica vedada a posterior incidência de juros, multa ou qualquer forma de atualização, enquanto 
perdurar o estado de calamidade pública decorrente da pandemia provocada pelo Corona Vírus 
(COVID19), estabelecido no Decreto nº 46.984, de 20 de março de 2020. 
§ 2º Nenhum contratante de empréstimo, mencionado no caput do art. 1º poderá ter o nome 
inserido nos sistemas de proteção ao crédito em função da suspensão dos pagamentos que se 
refere o caput deste artigo. 
§ 3º A presente Lei não se aplica aos descontos sindicais que sejam realizados através do sistema 
de consignação. 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 1000-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
A Confederação Nacional do Sistema Financeiro – Consif ajuizou ADI contra a lei argumentando que o 
Estado-membro teria tratado sobre assunto de competência privativa da União. 
 
O STF concordou com o pedido formulado na ADI? A Lei é inconstitucional? 
SIM. 
É inconstitucional norma estadual que autoriza a suspensão, pelo prazo de 120 dias, do cumprimento 
de obrigações financeiras referentes a empréstimos realizados e empréstimos consignados. 
STF. Plenário. ADI 6495/RJ, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 20/11/2020 (Info 1000). 
 
Ao interferir nas relações obrigacionais firmadas entre instituições de crédito (ex: bancos) e os tomadores 
de empréstimos, a lei adentrou em matéria relacionada com direito civil e com política de crédito, assuntos 
que são de competência legislativa privativa da União, nos termos do art. 22, I e VII, da CF/88: 
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: 
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e 
do trabalho; 
(...) 
VII - política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores; 
 
Em um sistema federativo equilibrado, não podem coexistir, a princípio, normas editadas em distintos 
níveis político-administrativos, que disciplinem matérias semelhantes, sob pena de gerar assimetria e 
desequilíbrio. 
Por essa razão, a jurisprudência do STF é pacífica no sentido de que são inconstitucionais normas locais 
que tratem de matérias de competência privativa da União. 
O estado do Rio de Janeiro não poderia substituir o papel da União para determinar a suspensão do 
cumprimento de obrigações financeiras, ainda que mediante lei estadual e em período tão gravoso, como 
o do atual surto do novo coronavírus, que atinge a todos indiscriminadamente. 
 
No mesmo sentido: 
É inconstitucional lei estadual que determina a suspensão temporária da cobrança das consignações 
voluntárias contratadas por servidores públicos estaduais 
Há vício de inconstitucionalidade formal por violação ao art. 22, I e VII, CF, que estabelecem competência 
privativa da União para legislar a respeito de direito civil e de política de crédito. 
Os Estados-membros não estão autorizados a editar normas acerca de relações contratuais, nem a 
respeito da regulação da consignação de crédito por servidores públicos. A relevância das atividades 
desempenhadas pelas instituições financeiras demanda a existência de coordenação centralizada das 
políticas de crédito. 
Há vício de inconstitucionalidade material por violação ao princípio da segurança jurídica, tendo em vista 
que a lei estadual promove intervenção desproporcional em relações privadas validamente constituídas. 
STF. Plenário. ADI 6484, Rel. Roberto Barroso, julgado em 05/10/2020. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 1000-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
CNJ 
Compete ao STF processar e julgar originariamente ações propostas 
contra o CNJ e contra o CNMP no exercício de suas atividades-fim 
 
Importante!!! 
Posição mais atual sobre o tema! 
Nos termos do art. 102, I, “r”, da Constituição Federal, é competência exclusiva do STF 
processar e julgar, originariamente, todas as ações ajuizadas contra decisões do Conselho CNJ 
e do CNMP proferidas no exercício de suas competências constitucionais, respectivamente, 
previstas nos arts. 103-B, § 4º, e 130-A, § 2º, da CF/88. 
STF. Plenário. Pet 4770 AgR/DF, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 18/11/2020 (Info 1000). 
STF. Plenário. Rcl 33459 AgR/PE, red. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000). 
STF. Plenário. ADI 4412/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000). 
 
Veja comentários em Direito Processual Civil. 
. 
 
CNJ 
Decisões administrativas do CNJ devem ser cumpridas mesmo que exista decisão judicial em 
sentido contrário proferida por outro órgão judiciário que não seja o STF 
 
Importante!!! 
O art. 106 do Regimento Interno do CNJ prevê o seguinte: 
Art. 106. O CNJ determinará à autoridade recalcitrante, sob as cominações do disposto no 
artigo anterior, o imediato cumprimento de decisão ou ato seu, quando impugnado perante 
outro juízo que não o Supremo Tribunal Federal. 
O STF afirmou que essa previsão é constitucional e decorre do exercício legítimo de poder 
normativo atribuído constitucionalmente ao CNJ, que é o órgão formulador da política 
judiciária nacional. 
Assim, o CNJ pode determinar à autoridade recalcitrante o cumprimento imediato de suas 
decisões, ainda que impugnadas perante a Justiça Federal de primeira instância, quando se 
tratar de hipótese de competência originária do STF. 
STF. Plenário. ADI 4412/DF, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 18/11/2020 (Info 1000). 
 
Veja comentários em Direito Processual Civil. 
. 
 
DEFENSORIA PÚBLICA 
É inconstitucional foro por prerrogativa de função para Defensores Públicos 
 
É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de 
função para Defensores Públicos e Procuradores do Estado. 
Constituição estadual não pode atribuir foro por prerrogativa de função a autoridades 
diversas daquelas arroladas na Constituição Federal. 
STF. Plenário. ADI 6501 Ref-MC/PA, ADI 6508 Ref-MC/RO, ADI 6515 Ref-MC/AM e ADI 6516 Ref-
MC/AL, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 20/11/2020 (Info 1000). 
 
Veja comentários emDireito Processual Penal. 
. 
 Informativo 
comentado 
 
 
 
Informativo 1000-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
 
ADVOCACIA PÚBLICA 
É inconstitucional foro por prerrogativa de função para Procuradores do Estado 
 
Importante!!! 
É inconstitucional dispositivo de Constituição Estadual que confere foro por prerrogativa de 
função para Defensores Públicos e Procuradores do Estado. 
Constituição estadual não pode atribuir foro por prerrogativa de função a autoridades 
diversas daquelas arroladas na Constituição Federal. 
STF. Plenário. ADI 6501 Ref-MC/PA, ADI 6508 Ref-MC/RO, ADI 6515 Ref-MC/AM e ADI 6516 Ref-
MC/AL, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 20/11/2020 (Info 1000). 
 
Veja comentários em Direito Processual Penal. 
 
 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
CONCURSO PÚBLICO 
É inconstitucional lei estadual que define, como critério de desempate em concurso público, 
a preferência pelo servidor público daquele Estado 
 
Importante!!! 
É inconstitucional a fixação de critério de desempate em concursos públicos que favoreça 
candidatos que pertencem ao serviço público de um determinado ente federativo. 
Caso concreto: lei do Estado do Pará previa que, em caso de empate de candidatos no concurso 
público, teria preferência para a ordem de classificação o candidato que já pertencesse ao 
serviço público do Estado do Pará e, persistindo a igualdade, aquele que contasse com maior 
tempo de serviço público ao Estado do Pará. 
Essa previsão viola o art. 19, III, da CF/88, que veda a criação de distinções entre brasileiros 
ou preferências entre si. 
STF. Plenário. ADI 5358/PA, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/11/2020 (Info 1000). 
 
A situação concreta foi a seguinte: 
No Pará, foi editada a Lei estadual nº 5.810/94, que estabeleceu uma preferência, na ordem de 
classificação de concursos públicos, em favor de candidato já pertencente ao serviço público estadual 
paraense. Confira o § 1º do art. 10: 
Art. 10. A aprovação em concurso público gera o direito à nomeação, respeitada a ordem de 
classificação dos candidatos habilitados. 
§1º Terá preferência para a ordem de classificação o candidato já pertencente ao serviço público 
estadual e, persistindo a igualdade, aquele que contar com maior tempo de serviço público ao 
Estado. 
§2º Se ocorrer empate de candidatos não pertencentes ao serviço público do Estado, decidir-se-á 
em favor do mais idoso. 
 
 
 
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O Procurador-Geral da República ajuizou ADI contra essa previsão alegando que ela violaria os princípios 
republicano (art. 1º, CF/88), da igualdade (art. 5º, CF/88), da razoabilidade (art. 5º, LIV, CF/88), da 
moralidade e da impessoalidade (art. 37, CF/88). 
 
O STF concordou com o pedido formulado na ADI? Esse dispositivo é inconstitucional? 
SIM. 
É inconstitucional a fixação de critério de desempate em concursos públicos que favoreça candidatos 
que pertencem ao serviço público de um determinado ente federativo. 
STF. Plenário. ADI 5358/PA, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 27/11/2020 (Info 1000). 
 
É incompatível com a Constituição Federal estabelecer preferência, na ordem de classificação de 
concursos públicos, em favor de candidato já pertencente ao serviço público. 
A CF/88 prevê, expressamente, no art. 19, III, que: 
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: 
(...) 
III - criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si. 
 
A lei estadual vai de encontro a essa previsão porque possui o nítido propósito de conferir tratamento 
mais favorável aos candidatos que já são servidores da unidade federativa. 
Desse modo, a norma não assegura a seleção de candidatos mais experientes. Ao contrário, possibilita 
que um candidato mais experiente, proveniente da administração pública federal, municipal ou, ainda, da 
iniciativa privada, seja preterido em prol de um servidor estadual com pouco tempo de serviço, desde que 
pertença aos quadros da unidade federativa. 
A medida, portanto, é inadequada para a seleção do candidato mais experiente, viola a igualdade e a 
impessoalidade e não atende ao interesse público, favorecendo injustificada e desproporcionalmente os 
servidores estaduais. 
O art. 37, I e II, da CF/88 assegura ampla acessibilidade aos cargos e empregos públicos a todos os 
brasileiros que preencham os requisitos legais, por meio de aprovação prévia em concurso público de 
provas ou de provas e títulos, realizado de acordo com a natureza e complexidade do cargo ou emprego, 
ressalvada a hipótese de nomeação para cargo em comissão de livre nomeação e exoneração. 
A regra de acessibilidade a cargos e empregos públicos prevista no dispositivo visa conferir efetividade aos 
princípios constitucionais da isonomia e da impessoalidade, de modo que a imposição legal de critérios de 
distinção entre os candidatos é admitida tão somente quando acompanhada da devida justificativa em razões 
de interesse público e/ou em decorrência da natureza e das atribuições do cargo ou emprego a ser preenchido. 
O STF possui o entendimento de que é inconstitucional o ato normativo que estabelece critérios de 
discriminação entre os candidatos de forma arbitrária ou desproporcional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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CONCURSO PÚBLICO 
É possível que o candidato a concurso público consiga a alteração das datas e horários previstos 
no edital por motivos religiosos, desde que cumpridos alguns requisitos 
SERVIDOR PÚBLICO 
É possível que o servidor público cumpra seus deveres funcionais em dias alternativos por 
motivos religiosos, desde que cumpridos alguns requisitos 
 
Importante!!! 
É possível que o candidato a concurso público consiga a alteração das datas e horários previstos 
no edital por motivos religiosos, desde que cumpridos alguns requisitos 
Nos termos do art. 5º, VIII, da Constituição Federal, é possível a realização de etapas de concurso 
público em datas e horários distintos dos previstos em edital, por candidato que invoca escusa de 
consciência por motivo de crença religiosa, desde que presentes a razoabilidade da alteração, a 
preservação da igualdade entre todos os candidatos e que não acarrete ônus desproporcional à 
Administração Pública, que deverá decidir de maneira fundamentada. 
STF. Plenário. RE 611874/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 
19/11, 25/11 e 26/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 386) (Info 1000). 
 
Nos termos do art. 5º, VIII, da Constituição Federal, é possível à Administração Pública, inclusive 
durante o estágio probatório, estabelecer critérios alternativos para o regular exercício dos 
deveres funcionais inerentes aos cargos públicos, em face de servidores que invocam escusa de 
consciência por motivos de crença religiosa, desde que presentes a razoabilidade da alteração, 
não se caracterize o desvirtuamento do exercício de suas funções e não acarrete ônus 
desproporcional à Administração Pública, que deverá decidir de maneira fundamentada. 
STF. Plenário. RE 611874/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 
19/11, 25/11 e 26/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 386) (Info 1000). 
 
NOÇÕES GERAIS SOBRE ESCUSA DE CONSCIÊNCIA 
Escusa de consciência 
Escusa de consciência é o direito que a pessoa possui de se recusar a cumprir determinada obrigação ou 
a praticar certo ato por ser ele contrário às suas crenças religiosas ou à sua convicção filosófica oupolítica. 
Trata-se de um direito fundamental assegurado pelo art. 5º, VIII, da CF/88. 
Vale ressaltar, no entanto, que a CF determina que, se o indivíduo se recusar a cumprir a obrigação legal 
imposta, ele deverá, em contrapartida, realizar uma prestação alternativa fixada em lei. 
Caso se recuse a cumprir a obrigação originária e também a alternativa, o indivíduo poderá ter seus 
direitos políticos suspensos, nos termos do art. 15, IV, da CF/88: 
Veja a redação do texto constitucional: 
Art. 5º (...) 
VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou 
política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a 
cumprir prestação alternativa, fixada em lei; 
 
Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: 
(...) 
IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; 
 
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A escusa de consciência é também chamada de “objeção de consciência” ou “alegação de imperativo de 
consciência”. 
 
Exemplo típico: participar de guerra 
O exemplo mais comum de alegação de imperativo de consciência é o alistamento militar. 
Imagine que determinado indivíduo, por convicções filosóficas, mostre-se contrário ao serviço militar. 
Neste caso, a CF/88 prevê que ele fica dispensado de praticar atividades essencialmente militares (ex: 
treino de tiro, simulação de batalhas etc.), mas terá que cumprir o serviço alternativo. Trata-se da redação 
do art. 143, § 1º da CF/88: 
Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei. 
§ 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo 
de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente 
de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter 
essencialmente militar. 
(...) 
 
No caso do serviço militar obrigatório, o serviço alternativo é disciplinado pela Lei nº 8.239/91: 
Art. 3º (...) 
§ 1º Ao Estado-Maior das Forças Armadas compete, na forma da lei e em coordenação com os 
Ministérios Militares, atribuir Serviço Alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, 
alegarem imperativo de consciência decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou 
política, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar. 
§ 2º Entende-se por Serviço Alternativo o exercício de atividades de caráter administrativo, 
assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, em substituição às atividades de caráter 
essencialmente militar. 
(...) 
 
Outro exemplo: participação como jurado 
Em regra, a participação como jurado, no Tribunal do Júri, é obrigatória (art. 436 do CPP). 
É possível, no entanto, que a pessoa sorteada alegue que a função de jurado contraria sua convicção 
religiosa, filosófica ou política. Em outras palavras, ela invoca a escusa de consciência. Neste caso, ela 
poderá ser dispensada do serviço do júri, mas terá o dever de prestar um serviço alternativo. É o que 
determina o art. 438 do CPP: 
Art. 438. A recusa ao serviço do júri fundada em convicção religiosa, filosófica ou política importará 
no dever de prestar serviço alternativo, sob pena de suspensão dos direitos políticos, enquanto 
não prestar o serviço imposto. 
§ 1º Entende-se por serviço alternativo o exercício de atividades de caráter administrativo, 
assistencial, filantrópico ou mesmo produtivo, no Poder Judiciário, na Defensoria Pública, no 
Ministério Público ou em entidade conveniada para esses fins. 
§ 2º O juiz fixará o serviço alternativo atendendo aos princípios da proporcionalidade e da 
razoabilidade. 
 
Terceiro exemplo: atividades escolares em dia de guarda religiosa 
A Lei nº 13.796/2019 acrescentou na Lei nº 9.394/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) o 
art. 7º-A prevendo a possibilidade de alteração das datas de provas e de aulas caso estejam marcadas em 
“dias de guarda religiosa”. 
Em linhas gerais, o que estabelece esse art. 7º-A da LDB: 
- O aluno de instituição de ensino pública ou privada, 
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- de qualquer nível (ou seja, mesmo ensino superior), 
- possui o direito de 
- se ausentar de aula ou mesmo de prova 
- caso essa aula ou prova esteja marcada em um dia no qual, 
- segundo os preceitos da religião desse aluno, 
- ele não puder exercer tais atividades, 
- ou seja, se a atividade estiver designada para um “dia de guarda religiosa”. 
 
ESCUSA DE CONSCIÊNCIA POR MOTIVO DE CRENÇA RELIGIOSA E FIXAÇÃO DE HORÁRIO ALTERNATIVO PARA REALIZAÇÃO DE 
CONCURSO PÚBLICO 
Feita a breve revisão acima, imagine a seguinte situação hipotética: 
João se inscreveu no concurso de agente de segurança de um órgão público. 
Após ser aprovado na prova objetiva, ele foi convocado para o teste físico. 
Como eram muitos candidatos, os testes físicos foram marcados para dois dias: sábado e domingo. 
João foi sorteado para fazer a prova no sábado. Ocorre que ele é membro da Igreja Adventista do Sétimo 
Dia. Segundo a crença religiosa propugnada por esta congregação, o sábado é “dia de guarda religiosa”, 
de forma que não é recomendável que os membros da Igreja estudem ou trabalhem aos sábados. O 
sábado é dedicado a orações e outras atividades não seculares (não mundanas). 
Diante disso, João pediu para realizar a prova no domingo, o que foi indeferido pela Administração Pública. 
O candidato impetrou, então, mandado de segurança pedindo para que o seu teste físico fosse realizado 
no domingo em razão da sua crença religiosa. 
 
O pedido de João pode ser acolhido? O que o STF entende a respeito do tema? 
SIM. O pedido pode ser acolhido. 
O STF, apreciando o tema, fixou a seguinte tese: 
Nos termos do art. 5º, VIII, da Constituição Federal é possível a realização de etapas de concurso público 
em datas e horários distintos dos previstos em edital, por candidato que invoca escusa de consciência 
por motivo de crença religiosa, desde que presentes a razoabilidade da alteração, a preservação da 
igualdade entre todos os candidatos e que não acarrete ônus desproporcional à Administração Pública, 
que deverá decidir de maneira fundamentada. 
STF. Plenário. RE 611874/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 19/11, 
25/11 e 26/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 386) (Info 1000). 
 
É possível a fixação de obrigações alternativas a candidatos em concursos públicos, que se escusem de 
cumprir as obrigações legais originalmente fixadas por motivos de crença religiosa, desde que presentes 
a razoabilidade da alteração, a preservação da igualdade entre todos os candidatos e que não acarrete 
ônus desproporcional à Administração Pública, que deverá decidir de maneira fundamentada. 
A fixação de obrigações alternativas para a realização de certame público ou para aprovação em estágio 
probatório em razão de convicções religiosas não significa privilégio, mas sim permissão ao exercício da 
liberdade de crença sem indevida interferência estatal nos cultos e nos ritos, nos termos do art. 5º, VI, da CF/88. 
 
Mas o Estado é laico. A administração pública não poderia indeferir o pedido alegando esse argumento? 
NÃO. O Estado brasileiro é laico (secular ou não-confessional), ou seja, aquele no qual não se tem uma 
religião oficial. Isso está consagrado no art. 19, I, da CF/88: 
Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios: 
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamentoou 
manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma 
da lei, a colaboração de interesse público; 
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Assim, por força deste princípio, o Estado não pode estar associado a nenhuma religião, nem sob a forma 
de proteção, nem de perseguição. Há, portanto, uma separação formal entre Igreja e Estado. 
No entanto, ao mesmo tempo, a CF/88 também assegura a liberdade religiosa, nos seguintes termos: 
Art. 5º (...) 
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos 
cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; 
 
O fato de o Estado ser laico (art. 19, I, da CF/88), não lhe impõe uma conduta negativa diante da proteção 
religiosa. 
A separação entre o Estado brasileiro e a religião não é absoluta. 
O Estado deve proteger a diversidade em sua mais ampla dimensão, dentre as quais se inclua a liberdade 
religiosa e o direito de culto. 
Nesse sentido, o papel da autoridade estatal não é o de remover a tensão por meio da exclusão ou 
limitação do pluralismo, mas sim assegurar que os grupos se tolerem mutuamente, principalmente 
quando em jogo interesses individuais ou coletivos de um grupo minoritário. 
A separação entre religião e Estado, portanto, não pode implicar o isolamento daqueles que guardam uma 
religião à sua esfera privada. O princípio da laicidade não se confunde com laicismo. O princípio da 
laicidade, em verdade, veda que o Estado assuma como válida apenas uma crença religiosa. 
Nessa medida, ninguém deve ser privado de seus direitos em razão de sua crença ou descrença religiosa, 
salvo se a invocar para se eximir de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação 
alternativa (art. 5º, VIII, da CF/88). 
 
ESCUSA DE CONSCIÊNCIA POR MOTIVO DE CRENÇA RELIGIOSA E FIXAÇÃO DE HORÁRIO ALTERNATIVO PARA O EXERCÍCIO DE 
DEVERES FUNCIONAIS INERENTES AO CARGO PÚBLICO 
Imagine outra situação hipotética: 
Regina é professora concursada da rede pública de ensino. 
No planejamento para o ano letivo, a coordenadora pedagógica apresentou o cronograma das aulas e 
Regina percebeu que teria que dar aulas segundas, quartas e sextas no período de 18h às 20h. 
Ocorre que Regina é membro ativo da Igreja Adventista do Sétimo Dia e, conforme sua crença religiosa, 
ela se sente impossibilitada de realizar atividades profissionais ou acadêmicas no período entre o por do 
Sol de sexta-feira ao por do Sol de sábado. 
Diante disso, apresentou pedido à administração pública para que a sua carga horária semanal não 
abrangesse aulas noturnas às sextas-feiras. 
 
O pedido de Regina pode ser atendido? 
SIM. Aplicam-se os mesmos argumentos já expostos acima para o caso do concurso público. 
A tese fixada pelo STF é, inclusive, semelhante: 
Nos termos do art. 5º, VIII, da Constituição Federal, é possível à Administração Pública, inclusive durante 
o estágio probatório, estabelecer critérios alternativos para o regular exercício dos deveres funcionais 
inerentes aos cargos públicos, em face de servidores que invocam escusa de consciência por motivos de 
crença religiosa, desde que presentes a razoabilidade da alteração, não se caracterize o desvirtuamento 
do exercício de suas funções e não acarrete ônus desproporcional à Administração Pública, que deverá 
decidir de maneira fundamentada. 
STF. Plenário. RE 611874/DF, rel. orig. Min. Dias Toffoli, red. p/ o ac. Min. Edson Fachin, julgado em 19/11, 
25/11 e 26/11/2020 (Repercussão Geral – Tema 386) (Info 1000). 
 
 
 
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SERVIDORES PÚBLICOS 
É inconstitucional lei que preveja que o subsídio dos Procuradores 
será equivalente a um percentual do subsídio dos Ministros do STF 
 
É inconstitucional lei que equipara, vincula ou referencia espécies remuneratórias devidas a 
cargos e carreiras distintos, especialmente quando pretendida a vinculação ou a equiparação 
entre servidores de Poderes e níveis federativos diferentes. 
STF. Plenário. ADI 6436/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 27/11/2020 (Info 1000). 
 
A situação concreta foi a seguinte: 
Em Mato Grosso, foi editada a Lei estadual 10.276/2015, que tratou sobre a remuneração dos 
Procuradores Legislativos da Assembleia Legislativa do Estado. 
O art. 1º, § 1º da Lei previu que o subsídio da carreira de Procurador Legislativo seria um percentual do 
subsídio dos Ministros do STF. Veja: 
Art. 1º (...) 
§ 1º O subsídio do grau máximo da carreira de Procurador Legislativo da Assembleia Legislativa 
corresponderá a 90,25% (noventa inteiros e vinte e cinco centésimos por cento) da remuneração 
dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, (...) escalonados conforme as respectivas classes, 
sendo a diferença entre uma e outra de 5% (cinco por cento) 
 
O Procurador-Geral da República ajuizou ADI contra essa lei afirmando que, ao atrelar o subsídio dos 
Procuradores da Assembleia Legislativa ao subsídio dos Ministros do STF, a norma teria violado o disposto 
no art. 37, XIII, da Constituição Federal, que veda a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies 
remuneratórias para o efeito de remuneração de pessoal do serviço público. 
Ao assim agir, o legislador estadual teria estabelecido uma indevida equiparação entre integrantes de 
carreiras com atribuições distintas. 
 
O pedido formulado na ADI foi acolhido? A referida Lei é inconstitucional? 
SIM. 
É inconstitucional lei que equipara, vincula ou referencia espécies remuneratórias devidas a cargos e 
carreiras distintos, especialmente quando pretendida a vinculação ou a equiparação entre servidores 
de Poderes e níveis federativos diferentes. 
STF. Plenário. ADI 6436/DF, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 27/11/2020 (Info 1000). 
 
A norma impugnada previu que o subsídio da carreira de Procurador Legislativo da Assembleia Legislativa 
do Estado estaria atrelado, por um mecanismo de vinculação automática, ao subsídio dos Ministros do 
STF. Logo, há evidente inconstitucionalidade, por ofensa ao art. 37, X e XIII, da CF/88: 
Art. 37 (...) 
X - a remuneração dos servidores públicos e o subsídio de que trata o § 4º do art. 39 somente 
poderão ser fixados ou alterados por lei específica, observada a iniciativa privativa em cada caso, 
assegurada revisão geral anual, sempre na mesma data e sem distinção de índices; 
(...) 
XIII - é vedada a vinculação ou equiparação de quaisquer espécies remuneratórias para o efeito 
de remuneração de pessoal do serviço público; 
 
Perceba que a CF/88 estipulou uma vedação cabal à vinculação e à equiparação de vencimentos. Essa 
proibição alcança quaisquer espécies remuneratórias, ou seja, também se aplica para os subsídios. 
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Salienta-se que, em recente julgado, o STF rechaçou a hipótese de reajuste automático pela vinculação de 
remuneração entre carreiras distintas: 
(...) Ação direta conhecida e julgada procedente em parte para declarar inconstitucional a primeira parte 
do § 5º do art. 153 da Constituição do Amapá, com alteração da Emenda Constitucional n. 47/2012, pela 
qual vinculado o subsídio da última classe dos Procuradores do Amapá a noventa inteiros e vinte e cinco 
centésimos por cento do subsídio mensal fixado para os Ministros do Supremo Tribunal Federal. 
STF. Plenário. ADI 4898, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgado em 04/10/2019. 
 
Alémdisso, a vinculação de vencimentos de agentes públicos das esferas federal e estadual caracteriza 
afronta à autonomia federativa do estado-membro, que detém a iniciativa de lei para dispor sobre a 
concessão de eventual reajuste dos subsídios dos aludidos procuradores. Em outras palavras, o Estado-
membro ficaria refém dos reajustes que ocorreriam de forma automática. 
 
 
SERVIDORES PÚBLICOS 
É inconstitucional o parágrafo único do art. 137 da Lei 8.112/90, que proíbe o retorno ao serviço 
público federal de servidor condenado pela prática de determinados fatos graves 
 
O parágrafo único do art. 137 da Lei nº 8.112/90 proíbe, para sempre, o retorno ao serviço 
público federal de servidor que for demitido ou destituído por prática de crime contra a 
Administração Pública, improbidade administrativa, aplicação irregular de dinheiro público, 
lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional e corrupção. 
Essa previsão viola o art. 5º, XLVII, “b”, da CF/88, que afirma que não haverá penas de caráter 
perpétuo. 
STF. Plenário. ADI 2975, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 04/12/2020. 
 
A situação concreta foi a seguinte: 
A Lei nº 8.112/90 é o Estatuto do Servidores Públicos Federais. 
O art. 137 da Lei nº 8.112/90 preconiza: 
Art. 137. A demissão ou a destituição de cargo em comissão, por infringência do art. 117, incisos 
IX e XI, incompatibiliza o ex-servidor para nova investidura em cargo público federal, pelo prazo 
de 5 (cinco) anos. 
Parágrafo único. Não poderá retornar ao serviço público federal o servidor que for demitido ou 
destituído do cargo em comissão por infringência do art. 132, incisos I, IV, VIII, X e XI. 
 
O caput do art. 137 diz o seguinte: 
Se o servidor público for demitido ou destituído de cargo em comissão por ter violado o art. 117, IX e XI, 
ele poderá, depois de 5 anos, voltar a ser investido em novo cargo público federal. Ex: pode ser aprovado 
em novo concurso e assumir um cargo público federal. Veja o que dizem os incisos IX e XI do art. 117: 
Art. 117. Ao servidor é proibido: 
(...) 
IX - valer-se do cargo para lograr proveito pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade da 
função pública; 
(...) 
XI - atuar, como procurador ou intermediário, junto a repartições públicas, salvo quando se tratar 
de benefícios previdenciários ou assistenciais de parentes até o segundo grau, e de cônjuge ou 
companheiro; 
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O caput do art. 137 da Lei nº 8.112/90 é válido, sendo compatível com a Constituição Federal. 
 
Vejamos agora o que diz o parágrafo único do art. 137: 
Se o servidor público for demitido ou destituído de cargo em comissão por ter violado o art. 132, I, IV, VIII, 
X e XI, ele nunca mais poderá ser investido em novo cargo público federal. 
Art. 132. A demissão será aplicada nos seguintes casos: 
I - crime contra a administração pública; 
(...) 
IV - improbidade administrativa; 
(...) 
VIII - aplicação irregular de dinheiros públicos; 
(...) 
X - lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional; 
XI - corrupção; 
 
Assim, a norma proíbe, para sempre, o retorno ao serviço público de servidor que for demitido ou 
destituído por prática de crime contra a Administração Pública, improbidade administrativa, aplicação 
irregular de dinheiro público, lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional e corrupção. 
 
Essa previsão do parágrafo único do art. 137 da Lei nº 8.112/90 é constitucional? 
NÃO. 
A Constituição Federal afirma que não haverá penas de caráter perpétuo: 
Art. 5º (...) 
XLVII - não haverá penas: 
(...) 
b) de caráter perpétuo; 
 
Esse art. 5º, XLVII, da CF/88 é uma garantia relacionada com sanções penais. Apesar disso, a doutrina 
destaca que é possível estendê-la para as sanções administrativas, considerando que existe um vínculo 
entre as duas esferas. Tanto a sanção penal como a sanção administrativa são esferas do poder 
sancionatório estatal. 
Conforme explicou o Min. Gilmar Mendes, o direito espanhol foi o pioneiro em estabelecer essa 
relação/comunicação entre as garantias penais e administrativas. 
No âmbito jurisprudencial, essa relação já foi reconhecida pelo STJ: 
Consoante precisas lições de eminentes doutrinadores e processualistas modernos, à atividade 
sancionatória ou disciplinar da Administração Pública se aplicam os princípios, garantias e normas que 
regem o Processo Penal comum, em respeito aos valores de proteção e defesa das liberdades individuais 
e da dignidade da pessoa humana, que se plasmaram no campo daquela disciplina. 
STJ. 5ª Turma. RMS 24.559/PR, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 03/12/2009. 
 
É certo que essa transposição dos princípios e garantias penais para o direito administrativo sancionador 
exige adaptações, já que a extensão, à seara administrativa, de todo o rigoroso regime de procedimento 
e punição que envolve a restrição à liberdade de locomoção não se demonstra factível tampouco exigível. 
Um critério razoável para a delimitação constitucional da atividade punitiva está na impossibilidade da 
imposição de sanções administrativas mais graves que as penas aplicadas pela prática de crimes, já que o 
ilícito administrativo é um minus (algo menor) em relação às infrações penais. 
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É nesse sentido que se conclui que a norma constante do art. 5º, XLVII, “b”, da CF/88 se aplica às sanções 
administrativas para impedir a imposição de pena administrativa perpétua. 
 
Da possibilidade de regulamentação da questão pelo Congresso Nacional 
O STF fez uma observação: o fato de ter sido declarada a inconstitucionalidade do parágrafo único do art. 
137 da Lei nº 8.112/90 não significa que seja proibido estipular um prazo mínimo para que a pessoa 
condenada possa voltar a ocupar um cargo público. Assim, o Congresso Nacional pode editar lei fixando 
prazo, como o do caput do art. 137, para que o indivíduo condenado por fatos graves possa ter o direito 
de novamente ocupar um cargo público federal. O que não pode é essa proibição ser indefinida (perpétua) 
ou desproporcional. 
Desse modo, o STF declarou a inconstitucionalidade da norma, com a comunicação ao Congresso Nacional 
para que eventualmente delibere sobre o prazo de proibição de retorno ao serviço público a ser aplicado 
nas hipóteses do art. 132, I, IV, VIII, X e XI, da Lei nº 8.112/90. 
 
Em suma: 
O parágrafo único do art. 137 da Lei nº 8.112/90 proíbe, para sempre, o retorno ao serviço público 
federal de servidor que for demitido ou destituído por prática de crime contra a Administração Pública, 
improbidade administrativa, aplicação irregular de dinheiro público, lesão aos cofres públicos e 
dilapidação do patrimônio nacional e corrupção. 
Essa previsão viola o art. 5º, XLVII, “b”, da CF/88, que afirma que não haverá penas de caráter perpétuo. 
STF. Plenário. ADI 2975, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 04/12/2020. 
 
 
 
DIREITO AMBIENTAL 
 
PROIBIÇÃO DO RETROCESSO AMBIENTAL 
É inconstitucional a revogação de Resolução do Conama que protegia o meio ambiente 
sem que ela seja substituída ou atualizada por outra que também garanta proteção 
 
O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado se configura como direito 
fundamental da pessoa humana. 
A mera revogação de normas operacionais fixadoras de parâmetros mensuráveis necessários 
ao cumprimento da legislação ambiental, sem sua substituição ou atualização, aparenta 
comprometer a observância da Constituição Federal, da legislação vigente e de compromissos 
internacionais. 
STF. Plenário. ADPF 747 MC-Ref/DF, ADPF 748 MC-Ref/DF e ADPF 749 MC-Ref/DF,Rel. Min. Rosa 
Weber, julgados em 27/11/2020 (Info 1000). 
 
A situação concreta foi a seguinte: 
A Resolução 284/2001, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), dispõe sobre o licenciamento 
de empreendimentos de irrigação. 
A Resolução 302/2002 fixa parâmetros, definições e limites de Áreas de Preservação Permanente (APPs) 
de reservatórios artificiais e o regime de uso do entorno. 
A Resolução 303/2002, por sua vez, prevê parâmetros e limites às APPs e considera que as áreas de dunas, 
manguezais e restingas têm função fundamental na dinâmica ecológica da zona costeira. 
Não é necessário que você conheça essas resoluções. O que eu gostaria que você entendesse apenas é 
que essas três Resoluções preveem mecanismos de proteção do meio ambiente. 
Em 2020, o Conama editou a Resolução 500, que revogou as três Resoluções acima mencionadas. 
 Informativo 
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Informativo 1000-STF – Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
 
ADPF 
O Partido dos Trabalhadores (PT) ajuizou ADPF contra a Resolução 500/2020. 
Para o autor, essas três Resoluções revogadas configuravam uma evolução no desenvolvimento nacional 
sustentável e na manutenção das zonas naturais preservadas, visando conter o “avanço desmedido e 
irresponsável” de empreendimentos que utilizam recursos hídricos, potencial de exploração turística e 
ecológica para a obtenção de lucros. 
O partido argumentou que a revogação das resoluções, sem outras regras que garantam o mesmo 
patamar de proteção, viola o art. 225 da Constituição Federal, que assegura o direito ao meio ambiente 
ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida e impõe 
ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e as futuras 
gerações. 
O pedido formulado na ação foi, portanto, para que fosse reconhecida a inconstitucionalidade da 
Resolução 500/2020, do Conama, na parte em que revogou as Resoluções Conama 284/2001, 302/2002 e 
303/2002. 
A Relatora, Min. Rosa Weber, monocraticamente, deferiu a medida liminar para suspender os efeitos da 
Resolução 500/2020 e o Plenário do STF se reuniu para decidir se referendava, ou não, a decisão. 
 
O STF concordou com a liminar deferida? 
SIM. O Plenário referendou as medidas cautelares concedidas em arguições de descumprimento de 
preceito fundamental, para suspender, até o julgamento de mérito da ação, os efeitos da Resolução 
Conama 500/2020, com a imediata restauração da vigência e eficácia das Resoluções Conama 284/2001, 
302/2002 e 303/2002. 
As três resoluções editadas pelo Conama cumprem o comando constitucional de proteção do meio 
ambiente (art. 225 da CF/88). 
A revogação da Resolução Conama 284/2001 sinaliza dispensa de licenciamento para os 
empreendimentos de irrigação, mesmo que potencialmente causadores de modificações ambientais 
significativas. Essa situação configura efetivo descumprimento, pelo Poder Público, do seu dever de atuar 
no sentido de preservar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico dos ecossistemas. 
Também sugere estado de anomia regulatória, a evidenciar graves e imediatos riscos para a preservação 
dos recursos hídricos, em prejuízo da qualidade de vida das presentes e futuras gerações (art. 225, caput 
e § 1º, I). 
Apesar de ter sido apontada a necessidade de ajustes na norma, a simples revogação da Resolução 
Conama 302/2002 parece conduzir à intolerável situação de incompatibilidade com a ordem 
constitucional em matéria de proteção do meio ambiente. A revogação dela, assim como a da Resolução 
303/2002, distancia-se dos objetivos definidos no art. 225 da CF, tais como explicitados na Política 
Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938/1981), baliza material da atividade normativa do Conama. 
Em juízo de delibação, há aparente estado de anomia e de descontrole regulatório, a configurar material 
retrocesso no tocante à satisfação do dever de proteger e preservar o equilíbrio do meio ambiente, 
incompatível com a ordem constitucional e o princípio da precaução. Portanto, demonstrado o fumus boni 
juris. 
Noutro passo, o periculum in mora é evidenciado pelo elevado risco de degradação de ecossistemas 
essenciais à preservação da vida sadia, comprometimento da integridade de processos ecológicos 
essenciais e perda de biodiversidade, caso o ato normativo impugnado produza efeitos. 
 
Em suma: 
O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado se configura como direito fundamental da 
pessoa humana. 
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A mera revogação de normas operacionais fixadoras de parâmetros mensuráveis necessários ao 
cumprimento da legislação ambiental, sem sua substituição ou atualização, compromete a observância 
da Constituição Federal, da legislação vigente e de compromissos internacionais. 
STF. Plenário. ADPF 747 MC-Ref/DF, ADPF 748 MC-Ref/DF e ADPF 749 MC-Ref/DF, Rel. Min. Rosa Weber, 
julgados em 27/11/2020 (Info 1000). 
 
Um dos principais fundamentos para deferir a medida cautelar foi o princípio da proibição de retrocesso 
ambiental. Sobre o tema, vale a pena transcrever a lição do Ministro do STJ Herman Benjamin: 
“É seguro afirmar que a proibição de retrocesso, apesar de não se encontrar, com nome e 
sobrenome, consagrada na nossa Constituição, nem em normas infraconstitucionais, e não 
obstante sua relativa imprecisão − compreensível em institutos de formulação recente e ainda em 
pleno processo de consolidação −, transformou-se em princípio geral do Direito Ambiental, a ser 
invocado na avaliação da legitimidade de iniciativas legislativas destinadas a reduzir o patamar de 
tutela legal do meio ambiente, mormente naquilo que afete em particular a) processos ecológicos 
essenciais, b) ecossistemas frágeis ou à beira de colapso, e c) espécies ameaçadas de extinção. 
(...) 
Violações ao princípio da proibição de retrocesso se manifestam de várias maneiras. A mais óbvia 
é a redução do grau de salvaguarda jurídica ou da superfície de uma área protegida (Parque 
Nacional, p. ex.); outra, menos perceptível e por isso mais insidiosa, é o esvaziamento ou 
enfraquecimento das normas de previsão de direitos e obrigações ou, por outro lado, os 
instrumentos de atuação do Direito Ambiental (Estudo Prévio de Impacto Ambiental, Áreas de 
Proteção Permanente, Reserva Legal, responsabilidade civil objetiva, p. ex.).” (BENJAMIN, Antonio 
Herman. Princípio da Proibição de Retrocesso Ambiental In Princípio da Proibição de Retrocesso 
Ambiental. Brasília: Senado Federal, 2012). 
 
Confira agora a didática explicação de Leonardo Garcia e Romeu Tomé: 
“Uma vez dotado o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado de status de direito 
fundamental, as garantias de proteção ambiental já conquistadas não podem retroagir. É 
inadmissível o recuo da salvaguarda ambiental para níveis de proteção inferiores aos já 
consagrados, a não ser que as circunstâncias de fato sejam significativamente alteradas. A 
expressão efeito cliquet é francesa e se origina da prática de alpinismo. Define um movimento que 
só permite que o alpinista siga para cima, ou seja, suba. 
O princípio da vedação do retrocesso ecológico, também conhecido por efeito cliquet ambiental, 
tem por escopo obstar medidas legislativas e executivas que implementem um efeito cliquet (na 
concepção jurídica esse termo francês assume acepção de 'não retrocesso') ou um efeito catraca, 
em relação ao direito ambiental. Não se pode, por exemplo, revogar uma lei que proteja o meio 
ambiente sem, no mínimo, substituí-la por outra que ofereça garantias com eficácia similar.” 
(GARCIA, Leonardo; TOMÉ, Romeu. Direito Ambiental. Salvador: Juspodivm, 2020, p. 69). 
 
 (PromotorMP/BA 2010) O princípio da proibição do retrocesso ecológico limita a discricionariedade do 
legislador a só legislar progressivamente, com o fito de não diminuir ou mitigar o direito fundamental ao 
Meio Ambiente. (certo) 
 
 
 
 
 
 
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DIREITO CIVIL 
 
CONDOMÍNIO EDILÍCIO 
É possível a cobrança, por parte de associação, de taxas de manutenção 
e conservação de loteamento fechado de proprietário não-associado 
 
Importante!!! 
É inconstitucional a cobrança por parte de associação de taxa de manutenção e conservação 
de loteamento imobiliário urbano de proprietário não associado até o advento da Lei nº 
13.465/2017, ou de anterior lei municipal que discipline a questão, a partir da qual se torna 
possível a cotização dos proprietários de imóveis, titulares de direitos ou moradores em 
loteamentos de acesso controlado, que: 
i) já possuindo lote, adiram ao ato constitutivo das entidades equiparadas a administradoras 
de imóveis; ou 
ii) sendo novos adquirentes de lotes, o ato constitutivo da obrigação esteja registrado no 
competente Registro de Imóveis. 
STF. Plenário. RE 695911, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 492). 
 
O tema deve ser analisado antes e depois da Lei nº 13.465/2017. 
 
ANTES DA LEI Nº 13.465/2017 
“Loteamentos fechados” (antiga nomenclatura utilizada na prática antes da Lei nº 13.465/2017) 
O custo e a lista de exigências necessárias para se constituir um condomínio edilício é muito grande, 
especialmente em se tratando de condomínio de casas, devendo ser observados os ditames da Lei nº 4.591/64. 
Em virtude dessa imensa burocracia, se formos pensar em 20 ou 30 anos atrás, iremos recordar que havia 
pouquíssimos condomínios edilícios de casas (na linguagem popular: “condomínios fechados” de casas). 
Ou a pessoa morava em um bairro residencial (aberto, sem condomínio) ou, então, em condomínios 
edilícios de prédios (chamados de condomínio edilício horizontal). 
Ocorre que a violência no país cresceu bastante, o que fez com que as incorporadoras e imobiliárias 
passassem a oferecer aos consumidores cada vez mais opções de condomínios edilícios de casas 
(condomínios “fechados” de casas), com guarita, vigilantes armados, área de lazer etc. Tais condomínios, 
no entanto, são, em geral, muito caros e inacessíveis a boa parte da população. 
A fim de se proteger da violência, os moradores de alguns bairros residenciais começaram a se reunir e a 
constituir associações de bairros, recolhendo contribuições dos habitantes daquele conjunto e, com o 
dinheiro arrecadado, fizeram cancelas nas ruas, contrataram seguranças particulares e, aquilo que era um 
bairro residencial, com acesso livre para qualquer pessoa, transformou-se em um “loteamento fechado” 
(ou condomínio de fato) de casas, com acesso restrito por meio de controle de cancela e portaria. 
A ideia parece excelente. O problema é que essa “transformação” era feita sem a observância da Lei do 
parcelamento do solo urbano (Lei nº 6.766/79), do Estatuto das Cidades (Lei nº 10.257/2001) e do plano 
diretor do Município, já que as exigências burocráticas são imensas e praticamente impossíveis de serem 
atendidas por um simples grupo de moradores. 
Além do que, no condomínio edilício de casas, o incorporador compra um terreno e as ruas ali existentes 
são privadas (particulares), enquanto que no “fechamento” de um bairro residencial, as casas são 
privadas, mas as ruas são públicas (bens de uso comum do povo), o que torna ainda mais questionável a 
regularidade desse “fechamento”. 
Tais bairros que se transformam em “loteamentos fechados”, por não atenderem a legislação, não existem 
juridicamente, sendo, por essa razão, chamados de “condomínios de fato”. 
 
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Taxa de manutenção do loteamento fechado 
Para pagar os serviços que serão feitos no loteamento fechado (exs: porteiro, cancela, vigilantes, limpeza 
etc.), é necessário que os moradores façam uma cota mensal. É como se fosse uma taxa condominial 
semelhante àquelas que são cobradas nos condomínios edilícios. Existe, contudo, uma importante 
diferença: no condomínio edilício, o pagamento dessa cota é um dever dos condôminos previsto em lei 
(art. 1.336, I, do CC); o condomínio de fato (ou loteamento fechado), por outro lado, não existia 
juridicamente e não havia lei obrigando que os moradores arcassem com essa quantia. 
 
Diante disso, surgiu o seguinte questionamento: antes da Lei nº 13.465/2017 todos os moradores do 
bairro/conjunto habitacional que foi “fechado” e “transformado” em um loteamento fechado eram 
obrigados a pagar essa taxa de manutenção? 
NÃO. O STJ apreciou o tema e afirmou o seguinte: 
Os moradores que não quiserem se associar ou que não anuíram à constituição desse condomínio de fato 
não são obrigados a pagar. 
Em nosso ordenamento jurídico, somente existem duas fontes de obrigações: a LEI ou o CONTRATO. No 
caso concreto, não há lei que obrigue o pagamento dessa taxa; de igual forma, se o morador não quis 
participar da associação de moradores nem anuiu à formação desse condomínio de fato, ele não poderá 
ser compelido a pagar. 
As taxas de manutenção criadas por associações de moradores não obrigam os não associados. 
STJ. 2ª Seção. REsp 1.280.871-SP e REsp 1.439.163-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para 
acórdão Min. Marco Buzzi, julgados em 11/3/2015 (recurso repetitivo) (Info 562) 
 
O STF também chegou a conclusão semelhante: 
É inconstitucional a cobrança por parte de associação de taxa de manutenção e conservação de 
loteamento imobiliário urbano de proprietário não associado até o advento da Lei nº 13.465/2017. 
STF. Plenário. RE 695911, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 14/12/2020 (Repercussão Geral – Tema 492). 
 
O fato de o morador se beneficiar dos serviços não é suficiente para que ele seja obrigado a pagar? Não 
haveria um enriquecimento sem causa do morador? 
NÃO. Não se pode entender que o morador, ao gozar dos serviços organizados em condomínio de fato 
por associação de moradores, aceitou tacitamente participar de sua estrutura orgânica. 
Na ausência de uma legislação que regule especificamente a matéria em análise, deve preponderar o 
exercício da autonomia da vontade e ninguém pode ser compelido a fazer algo senão em virtude de lei. 
Não se pode falar em enriquecimento sem causa do morador. Isso porque ele é livre para se associar ou 
não e, não sendo associado, não pode ser obrigado a pagar. A liberdade de associação é um direito 
constitucional e não pode ser mitigado ou contrariado sob o fundamento do princípio do enriquecimento 
sem causa. 
 
DEPOIS DA LEI Nº 13.465/2017 
O legislador, todavia, atento à celeuma envolvendo essa espécie de organização dos lotes, editou a Lei nº 
13.465/2017, que, dentre outros diversos temas relativos à regularização fundiária, modificou o teor da 
Lei nº 6.766/79, para nela inserir modalidade de loteamento nominada “de acesso controlado” (art. 2º, 
§8º). Eis a descrição utilizada para a nova figura: 
Art. 2º (...) 
§ 8º Constitui loteamento de acesso controlado a modalidade de loteamento, definida nos termos 
do § 1º deste artigo, cujo controle de acesso será regulamentado por ato do poder público 
Municipal, sendo vedado o impedimento de acesso a pedestres ou a condutores de veículos, não 
residentes, devidamente identificados ou cadastrados. 
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Também foi inserido um artigo na Lei nº 6.766/70 tratando sobre a constituição de associações para a 
“administração” das áreas públicas de uso comum: 
Art. 36-A. As atividades desenvolvidas pelas associações de proprietários de imóveis, titulares de 
direitos ou moradores em loteamentos ou empreendimentos assemelhados, desde que não 
tenham fins lucrativos, bem como pelas entidades civis organizadas em função da solidariedade 
de interesses coletivos desse público com o objetivo de administração, conservação, manutenção, 
disciplina de utilização e convivência, visando à valorização dos imóveis que compõem o 
empreendimento, tendo em vista a sua natureza jurídica, vinculam-se, por critérios de afinidade, 
similitude e conexão, à atividade de administração de imóveis. 
Parágrafo único. A administração de imóveis na forma do caput deste artigo sujeita seus titulares 
à normatização e à disciplina constantes de seus atos constitutivos, cotizando-se na forma desses 
atos para suportar a consecução dos seus objetivos. 
 
A Lei nº 13.465/2017 previu, portanto, a obrigatoriedade de cotização, entre os beneficiários, das 
atividades desenvolvidas por associações de proprietários de imóveis, titulares de direitos ou moradores 
em loteamentos ou empreendimentos assemelhados, desde que assim previsto no ato constitutivo das 
organizações respectivas. 
 
As disposições da Lei nº 13.465/2017 regularizaram os “loteamentos fechados” que haviam sido 
constituídos antes da sua vigência? 
NÃO. As alterações promovidas pela Lei nº 13.465/2017 não se aplicam às relações jurídicas existentes 
antes de sua edição, em razão do princípio da irretroatividade das leis. Em decorrência disso, a 
mencionada lei não pode retroagir para conferir às associações (como uma das possíveis configurações de 
“administradora de imóveis”) o direito de cobrar de proprietário não-associado taxas ou encargos relativos 
ao rateio de serviços prestados em loteamentos de acesso controlado, nos termos da novel legislação. 
Nesse sentido: 
(...) 2. A jurisprudência desta Casa, firmada sob o rito dos recursos repetitivos (art. 543-C do CPC/1973), 
no julgamento dos Recursos Especiais n. 1.439.163/SP e 1.280.871/SP, realizado pela Segunda Seção, em 
11/3/2015, DJe de 22/5/2015, sendo o relator para acórdão o Ministro Marco Buzzi, pacificou que "as 
taxas de manutenção criadas por associações de moradores não obrigam os não associados ou que a elas 
não anuíram". (...) 
2.2. O art. 36-A da Lei 6.766/1979, o qual foi incluído pela Lei n. 13.465/2017, não se aplica ao caso dos 
autos, tendo em vista que a lei nova não pode retroagir para conferir à associação embargante o direito 
de cobrar as pretendidas despesas decorrentes de serviços condominiais, tampouco afasta a exigência de 
que o recorrido seja associado ou tenha aderido ao ato que instituiu o encargo. 
2.3. A existência de associação, a fim de reunir moradores com o objetivo de defesa e preservação de 
interesses comuns em área habitacional, não possui o caráter de condomínio e, portanto, não possui 
natureza de dívida propter rem. (...) 
STJ. 3ª Turma. AgInt nos EDcl no REsp 1871018/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 
14/09/2020. 
 
Qual foi, então, o impacto causado pelo advento da Lei nº 13.465/2017 nos chamados loteamentos 
fechados regulares, ora nominados loteamentos de acesso controlado? 
Houve a clara intenção do legislador federal de, por meio da Lei nº 13.465/2017, editar um parâmetro 
normativo apto a favorecer a regularização fundiária dessa configuração de lotes, seja para lhe reconhecer 
a formatação que, na prática, já vinha sendo observada (controle de acesso ao loteamento), seja para 
permitir vincular os titulares de direitos sobre os lotes à cotização (art. 36-A, caput e parágrafo único). 
A Lei nº 13.465/2017 trouxe duas importantes equiparações: 
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a) equiparou a associação (de proprietários de imóveis, titulares de direitos sobre os lotes ou moradores de 
loteamento) ou qualquer entidade civil organizada com os mesmos fins à administradora de imóveis; e 
b) equiparou os loteamentos de acesso controlado (loteamentos regulares, portanto) a condomínios 
edilícios. 
 
No tocante à equiparação dos loteamentos de acesso controlado a condomínios edilícios, traz-se o 
posicionamento de Flávio Tartuce: 
“(...) como avanço, preceitua o novo § 2º do art. 1.358-A do CC /2002 que se aplica, no que couber, 
ao condomínio de lotes, o disposto sobre condomínio edilício neste Capítulo, respeitada a 
legislação urbanística. Assim, entendo que se resolve o problema anterior a respeito da 
obrigatoriedade do pagamento das contribuições no condomínio de lotes. Com a aplicação das 
regras gerais do condomínio edilício, cada condômino do loteamento de casas estará sujeito aos 
deveres previstos no art. 1.336 do Código Civil e às penalidades ali consagradas, inclusive para os 
casos de condômino nocivo ou antissocial, tratado no comando seguinte” (TARTUCE, Flávio. A lei 
da regularização fundiária (Lei 13.465/2017): análise inicial de suas principais repercussões para o 
direito de propriedade. https://periodicos.unifor.br/rpen/article/viewFile/7800/pdf). 
 
Desse modo, por força das equivalências estabelecidas pela Lei nº 13.465/2017, abriu-se a possibilidade 
de cotização entre os beneficiários das atividades desenvolvidas pelas associações, desde que assim 
previsto no ato constitutivo das organizações. Cabe aqui recordar que, por óbvio, a lei se dirige aos 
loteamentos regularmente constituídos, ou seja, com aprovação junto ao poder público municipal e 
competente registro no cartório de imóveis. 
Assim, para que exsurja para os beneficiários o dever obrigacional de contraprestação pelas atividades 
desenvolvidas pelas associações (ou outra entidade civil organizada) em loteamentos, é necessário que a 
obrigação esteja disposta em ato constitutivo firmado após o advento da Lei nº 13.465/2017 (e que este 
esteja registrado na matrícula atinente ao loteamento no competente Registro de Imóveis, a fim de se 
assegurar a necessária publicidade ao ato). 
Uma vez atendidos os requisitos previstos no art. 36-A, parágrafo único, da Lei nº 6.766/79, com a redação 
dada pela Lei nº 13.465/2017, os atos constitutivos da administradora de imóveis vinculam tanto os já 
titulares de direitos sobre lotes que anuíram com a sua constituição quanto os novos adquirentes de 
imóveis em loteamentos como decorrência da publicidade conferida à obrigação averbada no registro do 
imóvel. 
 
Algumas leis municipais, mesmo antes da Lei nº 13.465/2017, já autorizavam que as associações de 
moradores cobrassem essas contribuições. Essas leis municipais são válidas? 
SIM. 
A edição de leis municipais dessa espécie tem por objetivo disciplinar a ocupação do solo urbano e está 
inserida na competência normativa conferida pela Constituição Federal aos Municípios e ao Distrito 
Federal. Nada impede que a matéria seja disciplinada pelo Município no próprio Plano Diretor ou em ato 
normativo separado. 
Logo, se essa cobrança tivesse sido instituída com base em lei municipal, ela também já era válida, mesmo 
antes da Lei Federal nº 13.465/2017. 
 
A tese fixada foi a seguinte: 
É inconstitucional a cobrança por parte de associação de taxa de manutenção e conservação de 
loteamento imobiliário urbano de proprietário não associado até o advento da Lei nº 13.465/2017, ou 
de anterior lei municipal que discipline a questão, a partir da qual se torna possível a cotização dos 
proprietários de imóveis, titulares de direitos ou moradores em loteamentos de acesso controlado, que: 
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