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Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Etiologia É uma doença crônica infectocontagiosa causada pelo bacilo Mycobacterium leprae, que apresenta no ser humano seu principal reservatório, uma vez que é um organismo intracelular obrigatório. Observa-se tropismo da bactéria pela pele e por nervos periféricos, desviando-se de “áreas quentes” (centrais) do corpo. A transmissão ocorre por contato interpessoal prolongado (secreções respiratórias ou lesões de pacientes bacilíferos), havendo longo período de incubação. O M. leprae apresenta alta infectividade e baixa patogenicidade (poucas pessoas desenvolvem a doença). Fisiopatologia A apresentação da doença é produto da resposta imune do hospedeiro em relação à infecção pelo bacilo, podendo ser de caráter celular (Th1), criando o polo tuberculoide, com maior controle da replicação bacteriana, ou humoral (Th2), desencadeando a forma virchowiana, com bacteremia intensa. A maioria dos infectados acaba por evoluir para cura espontânea sem desenvolver a doença. A hanseníase pode ser estratificada em uma série de classificações, sendo as de Madri e Ridley & Jopling associadas às nomenclaturas “virchowiana”, “indeterminada”, “dimorfa” e “tuberculoide”, de relevância clínica, e da OMS, voltada para otimização terapêutica, dividida apenas em pauci (< 5 lesões OU 1 nervo acometido) e multibacilar.(> 5 lesões OU > 1 tronco neural). Quadro Clínico Forma indeterminada: fase inicial da doença, com presença de manchas hipocrômicas hipoestésicas com bordas irregulares e sem localização preferencial, porém sem comprometimento direto de troncos nervosos; Forma tuberculoide: cursa com lesões papulotuberosas de centro claro e bordas bem delimitadas, associadas a perda precoce de sensibilidade (térmica – dolorosa – tátil) e anidrose. O sinal da raquete pode ser observado na presença de espessamento de ramo neural único; Forma dimorfa: é um “estado indeterminado” com lesões vermelho-amarronzadas infiltradas (especialmente nas orelhas), de aspecto anular (bordas internas nítidas e externas apagada) e progressão assimétrica; Forma virchowiana: presença de lesões infiltradas com eritema, marcada por coloração eritematoacastanhada-amarelada e ampla capacidade de transmissão do bacilo. A anestesia é tardia, desenvolvida com polineurite simétrica. Se disseminam de modo simétrico por todo o corpo. Na face, provoca madarose e fáscies leonina. A forma virchowiana ainda se divide em histoide (nódulos avermelhados bem delimitados associados à falha terapêutica) e em fenômeno de Lúcio (infiltrados difusos na pele que podem causar dano tecidual profundo, perda de sensibilidade e telangiectasias). Ao longo do avanço clínico da doença (antes, durante ou depois do tratamento), podem surgir estados reacionais hansênicos, decorrentes de mudanças no padrão de resposta imunológica inicial: Reação reversa (tipo 1): é ligada a um aumento brusco na imunidade celular, que induz exacerbação das lesões de pele e nervos; Eritema nodoso hansênico (tipo 2): é mais comum na hanseníase virchowiana, por alterações da imunidade humoral. Surgem nódulos eritematovioláceos dolorosos em áreas de pele sã, distribuindo-se por todo o corpo. Diagnóstico É essencialmente clínico, baseado em achados epidemiológicos e resultados do exame neurodermatológico. Os exames complementares que podem auxiliar a confirmar o diagnóstico são a baciloscopia (positiva na HV e negativa na HT/HI), exame histopatológico (biópsia com infiltrado infamatório com ou sem células de Virchow), testes da histamina/pilocarpina (avaliam vasodilatação reflexa e indução de sudorese em lesões suspeitas, respectivamente), e o teste de Mitsuda (determina a presença de resposta de hipersensibilidade tardia ao bacilo, sendo positiva na HT, com pápulas > 5 mm). Tratamento Realizado com poliquimioterapia única (PQT-U), por 6 meses (paucibacilar) ou 12 meses (multibacilar): Doses mensais supervisionadas: 600 mg (2 comp. 300 mg) de rifampicina, 300 mg de clofazimina e 100 mg de dapsona. Doses diárias autoadministradas: 50 mg de clofazimina e 100 mg de dapsona. As reações hansênicas são manejadas com prednisona 1 mg/kg/dia (tipo 1) e talidomida 100-400 mg/dia (tipo 2 – NÃO USAR EM GRÁVIDA) Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Vitiligo Etiopatogenia Dermatose adquirida marcada por reações autoimunes aos melanócitos, culminando na formação de manchas acrômicas. Pode surgir em qualquer faixa etária, porém tem pico principal na 2ª década de vida. Sua etiologia é multifatorial, podendo ser explicada por teorias neurogênica (indução de toxicidade a melanócitos por acetilcolina ou neuropeptídeo Y), autoimune (mais relevante, associada a síntese de autoanticorpos), de autodestruição (ataque por substâncias envolvidas na síntese de melanina), ou de estresse oxidativo (acúmulo de EROS leva à expressão de mediadores inflamatórios). Quadro Clínico Apresenta-se como manchas acrômicas (coloração branco-leitosa) simétricas de bordas nítidas (podem ser circundadas por pele normal., SEM OCORRÊNCIA DE PRURIDO. As margens podem se apresentar eritematosas ou hipercrômicas, estabelecendo o “vitiligo tricrômico”. Esses pacientes podem ainda apresentar poliose, descoloração de pelos no local das manchas. O crescimento das lesões se dá de dentro para fora, o que faz com que as manchas estáveis assumam formato ovalado. As localizações preferenciais são a face, dorso dos dedos, genitália, proeminências ósseas e áreas periorificiais. Pacientes com vitiligo podem cursar com fenômeno de Koebner, desenvolvendo áreas de despigmentação após trauma local. Ainda é possível identificar diversas formas clínicas de vitiligo: Segmentar propriamente dito: de progressão rápida para estabilidade, afeta apenas um hemisfério do corpo; Focal: é limitado a um segmento cutâneo, podendo tanto se estabilizar quanto evoluir para outras apresentações; Mucoso: despigmentação restrita a membranas mucosas; Vulgar: formação de lesões múltiplas, simétricas e difusas pelo corpo; Acrofacial: afeta apenas a face e as extremidades dos dedos; Universal: despigmentação de quase toda a pele. Diagnóstico Normalmente é feito sem dificuldades com base em achados clínicos, sendo complementado pela observação sob luz de Wood, que dá tom branco-azulado às lesões do vitiligo. A avaliação histopatológica aponta redução/ausência de melanócitos associada a infiltração de leucócitos na epiderme e espessamento da membrana basal. Tratamento Seus maiores objetivos são a estabilização e repigmentação das lesões, sendo que algumas áreas apresentam resposta terapêutica mais eficaz ao tratamento, como a face, pescoço, tronco e extremidades médias (lesões em lábios e membros distais costumam ser mais resistentes). As estratégias terapêuticas podem ser tópicas ou sistêmicas, a saber: Corticoides: uso de glicocorticoides tópicos de média potência (creme de betametasona) diariamente por no máximo 2 meses, com boa resposta em jovens, ainda que possam ocorrer eventos adversos como a atrofia da pele. A prednisona (1 mg/kg/dia), é indicada a adultos com lesões disseminadas, promovendo desmame gradual do medicamento; Imunomoduladores tópicos: o tacrolimo e o pimecrolimo são considerados como 2ª escolha para o tratamento; Calcipotriol: é um análogo tópico da vitamina D que promove o crescimento diferenciação de melanócitos; Psorasol: associação entre o uso sistêmico de psoralênicos e a exposição ao sol com aumento gradual; PUVA: semelhante ao tratamento acima, porém a associação medicamentosa é feita com metoxsalen, que também induz fotoenvelhecimento Despigmentação: o uso de monobenzileter de hidroquinona é recomendado a casos com despigmentação > 50% da superfície corporal, com efeitos irreversíveis; Enxertos autólogos: indicado a lesões estáveise pequenas. Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Melasma Etiopatogenia Melanodermia com acometimento facial que ocorre majoritariamente em mulheres > 25 anos após a gestação ou terapia hormonal. Sua etiologia ainda não é definida, porém observam-se fatores predisponentes como a gravidez (aumenta a melanogênese), fatores constitucionais (mais comum em negras e pardas), uso de cosméticos fotossensibilizantes e a EXPOSIÇÃO SOLAR, que apresenta maior importância. Quadro Clínico É marcado pela presença de manchas castanho-claras a escuras de intensidade variada, predominantes nas regiões malar, frontal, nasal, labial superior e mentual. Ainda que menos comum, pode haver aparecimento de lesões típicas em outras áreas expostas ao sol, como ombros e colo (decote). Diagnóstico É realizado clinicamente sem dificuldades, porém a luz de Wood pode ser empregada para determinar a profundidade da pigmentação, associada a acentuação da cor por absorção UV. Tratamento Baseia-se na fotoproteção (impede o avanço do quadro) e no uso de agentes despigmentantes sobre as áreas afetadas, dando preferência à associação entre hidroquinona 2-4%, ácido retinoico 0,01-0,05% e hidrocortisona 1%. O uso crônico dessas preparações pode causar o desenvolvimento de acromia em confete ou ocronose exógena (pigmentação fuliginosa). A realização de peelings químicos com ácido glicólico e ácido retinoico também podem ser benéficos ao tratamento, enquanto lasers apresentam resultados pouco consistentes. Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Pitiríase Alba Pitiríase Versicolor Definição Dermatose comum que predomina em crianças e adolescentes, especialmente naqueles com histórico de atopias. Destacam-se como fatores desencadeantes a exposição solar e o uso de produtos que ressecam a pele. É uma dermatose causada por fungos Malassezia (M. furfur como mais importante), com predomínio em adultos, principalmente se residentes em locais quentes e úmidos. Esse agente é considerado como saprófito, encontrado no couro cabeludo e em áreas ricas em glândulas sebáceas, sendo esse o foco inicial da lesão. Quadro Clínico Presença de manchas hipocrômicas ovaladas de tamanho variado em face, parte externa dos braços e dorso. A regressão dessas lesões pode causar descamação leve. Apresenta-se com lesões arredondadas em braços e tronco, que podem confluir, dificultando a visualização de pele saudável. O aspecto mais comum é de manchas hipocrômicas descamativas, porém a coloração pode variar para vermelho ou marrom. Essa “diversidade” resulta de processos como o aumento da multiplicação de melanossomos, inibidores da síntese de melanina ou da própria inflamação causada pelo fungo. A ocorrência de prurido é frequente, especialmente após exposição ao sol. Diagnóstico O exame com luz de Wood permite a diferenciação desse quadro com o vitiligo, uma vez que NÃO HÁ ASPECTO ACRÔMICO NACARADO. Durante a avaliação clínica, observa-se presença de escamas furfuráceas ao esticar a pele (sinal de Zireli) ou atritá-la com a unha (sinal da unha). Essa análise pode ser dificultada se o paciente estiver suado. A confirmação do diagnóstico é feita pelo exame direto (coleta por raspagem), identificando hifas curtas, curvas e largas, com agrupamento em “cacho de uva”. O exame de luz de Wood atesta coloração róseo-dourada, o que auxilia na diferenciação da pitiríase alba. Tratamento Baseia-se no uso diário de hidratantes e fotoprotetores, reservando corticoides tópicos apenas se houver sinais de dermatite atópica. Quando em formas localizadas, requer uso de propilenoglicol, Cetoconazol, sulfato de selênio ou shamppos antifúngicos por 10 a 20 dias. Pode ser feito retratamento após 2 meses, de modo a evitar recidivas, especialmente em pacientes com pele oleosa ou suor excessivo. Em apresentações extensas ou recidivantes, por sua vez, o tratamento é sistêmico, com uso de itraconazol (100 mg, 12/12h por 5-7 dias) ou Cetoconazol (200 mg/dia, por 10 a 15 dias). Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Definição Dermatose crônica não contagiosa que pode surgir em qualquer idade, ainda que seja mais comum entre os 30-40 anos de idade. Há menor ocorrência em negros e indígenas quando comparados a caucasianos. A etiologia é desconhecida, porém há predisposição genética associada ao quadro. Os principais fatores desencadeantes para o agravamento do quadro são traumas cutâneos, tensão emocional, infecções virais/bacterianas e o uso de AINES, lítio, betabloqueadores ou antimaláricos. Fisiopatologia É marcada por ciclo evolutivo acelerado em células epidérmicas, que induz paraceratose (liberação de escamas com queratinócitos nucleados), e pela ativação constante de respostas imunes Th1/Th17, responsáveis pela manutenção das placas psoriáticas. Quadro Clínico Caracterizam-se como lesões típicas as placas eritematoescamosas simétricas, com limites bem definidos, podendo ou não ser acompanhadas de halos de Woronoff (áreas mais claras na pele). Há, no entanto, múltiplas formas clínicas: Psoríase vulgar: lesões uniformes de aspecto branco-acinzentado dispersas na face extensora dos membros, dorso e couro cabeludo. O prurido varia de intensidade na presença dos fatores agravantes supracitados; Pode ser observado fenômeno de Koebner, com desenvolvimento de lesões psoriáticas após traumas em pele sã (TAMBÉM EXISTE O FENÔMENO REVERSO!) Psoríase gutata: mais comum em crianças, é marcada ela presença de pápulas eritematodescamativas difusas pelo tronco e membros proximais, com resolução autolimitada em 2-3 meses; Psoríase pustulosa: quadro secundário à interrupção de corticoides em portadores de psoríase vulgar, com lesões eritematoescamosas e pustulosas, além de queda do estado geral; Psoríase ungueal: presença de depressões puntiformes, estriações ou hiperqueratose do leito ungueal; Artropatia psoriática: afeta 10-15% dos pacientes com lesões disseminadas, caracterizada por mono/oligoartrite assimétrica em articulações interfalangianas. Diagnóstico O diagnóstico é clínico, sendo necessária a avaliação das placas com curetagem metódica de Broqc, que revela presença de sinal da vela (destacamento de escamas com a raspagem local) e sinal de Auspitz (“orvalho sangrante” após o procedimento anterior). Não são necessários exames laboratoriais! A avaliação histopatológica revela infiltrado perivascular que invade a epiderme, e paraceratose. Nas áreas lesionadas, há alongamento das cristas epiteliais, desaparecimento da camada granulosa, micorabcessos de Munro (repleto de neutrófilos) e pústulas espongiformes de Kogoj, definidoras do diagnóstico. Tratamento É baseado na gravidade do quadro, estabelecida a partir de escalas como a PASI (extensão das placas e acometimento por eritema, descamação e infiltração), BSA (superfície corporal afetada) e DLQI (impacto na qualidade de vida). O “ponto de corte” para manifestações moderadas a graves é a regra dos 10 (pontuação > 10 em qualquer dos escores). Medicamentos tópicos (quadros localizados e de menor gravidade): são usados corticoides, calcipotriol (análogo de vit. D3) e tcrolimo/pimecrolimo (imunomoduladores com uso seguro em face e áreas intertriginosas); Fototerapia (apresentações moderadas a graves): PUVA (associação entre o psoralênico – fotossensibilizante, e a irradiação UVA) ou UVB de banda estreita (isolado ou no método de Goeckman, junto a coaltar); O uso de PUVA a longo prazo causa aumento do risco de catarata, fotoenvelhecimento e câncer de pele. Medicamentos sistêmicos (formas graves refratárias ou na impossibilidade de fototerapia): metotrexato (eficaz em todas as apresentações, mas deve ser associado a ácido fólico), ciclosporina (bloqueio de resgate) e imunobiológicos.A exposição solar moderada (5 min, 3x/semana) é recomendada a portadores de psoríase vulgar. Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Dermatite Etiologia Dermatose frequente, de caráter crônico e não contagioso, predominando em áreas ricas em glândulas sebáceas e, ocasionalmente, em dobras cutâneas. Há relação com história familiar positiva, com predomínio discreto no sexo masculino. São considerados fatores agravantes a tensão emocional e infecções fúngicas (ex.: Candida). Quadro Clínico Dermatite seborreica do lactente: surge nos primeiros dias de vida, com presença de escamas gordurosas e aderentes em base eritematosa no couro cabeludo (conhecida como “crosta láctea”), associada a manchas eritematoescamosas em região de face, tronco, dobras e áreas intertriginosas, com prurido discreto e sintomas gerais. A regressão espontânea é comum; Dermatite seborreica do adulto: há presença de lesões eritematoescamosas em face, axilas, região pubiana e retroauricular Há períodos de acalmia e recidiva, estes precipitados pelo calor, uso excessivo de álcool ou estresse. Diagnósticos Diferenciais A diagnose da dermatite seborreica é clínica e de simples suspeição, porém é necessário excluir outras condições, como psoríase (placas circunscritas com acometimento de joelhos e cotovelos), dermatite atópica (início tardio, acompanhada por outras atopias) e pitiríase rósea (erupções ovaladas de dispersão não associada a locais com mais sebo) Tratamento Em lactentes, é feito com a remoção de escamas com óleo mineral aquecido, seguido por limpeza dos locais atingidos com água boricada ou permanganato de potássio. Cremes corticoides podem ser aplicados na área das fraldas. Para adultos, são indicados sabonetes com enxofre ou ácido salicílico, além de shampoos antifúngicos e preparados tópicos com glicocorticoides. Casos resistentes podem se beneficiar da fototerapia + calcipotriol (análogo de vitamina D3). Na presença de infecção secundária por bactérias/fungos, torna-se necessário o uso de prednisona sistêmica (1 mg/kg/dia) oi tetraciclina (500 mg/2x por dia por 10 dias, e 500mg em dose única por mais 20 dias). SEBORREICA Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Micoses Tínea pedis Conhecida como “pé de atleta”, é uma dermatofitose superficial comum causada Trichophyton rubrum e Epidermophyton flocosum, predominantemente em adultos de 20 a 50 anos residentes em locais quentes/úmidos ou que façam uso constante de calçados fechados. A evolução é crônica e, normalmente, assintomática, sendo referido apenas prurido ocasional e manifestações associadas a infecções bacterianas secundárias. As lesões têm descamação esbranquiçada seca com maceração da pele entre os dedos e possível presença de eritema com pápulas periféricas. A hiperqueratose é um achado comum em calcanhares, plantas e laterais do pé. O diagnóstico é feito por meio da microscopia direta (identificação de hifas), e da cultura fúngica. O manejo é feito com imidazólicos tópicos por 2 a 3 semanas, além da aplicação de compressas de permanganato de potássio. Antibióticos (tetraciclina ou macrolídeos) podem ser indicados em caso de infecção bacteriana associada. Onicomicose (Tínea ungueal) Causada por infecções por Trichophyton rubrum e Epidermophyton flocosum, tem como característica principal a perda da função protetora das unhas, que assumem aspecto grosso e opaco (“marfim velho”), além de se tornarem frágeis e irregulares. A incidência aumenta com a idade, observando-se predomínio em homens, e maior susceptibilidade em diabéticos, portadores de psoríase e imunocomprometidos. O principal fator desencadeante é o uso de calçados fechados (acometimento preferencialmente nos pés), sendo a transmissão mediada por contato direto ou por fômites. Existem múltiplas formas cínicas baseadas no local de início da lesão (subungueal distal/lateral, branca superficial, subungueal proximal), porém o aspecto comum é a formação de placa branca espessada. A confirmação diagnóstica é mediada pelo exame direto em preparado de KOH, capaz de identificar a presença de hifas à microscopia. O tratamento é feito com antifúngicos sistêmicos (terbinafina 205 mg/dia, itraconazol 200 mg/dia ou em pulsos) e esmalte de amorolfina 5% (1x/semana), se estendendo por 3 a 4 meses. Preparações em creme são COMPLETAMENTE INEFICAZES, pois não conseguem penetrar a unha. SUPERFICIAIS Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Leishmaniose Etiologia Doença cutaneomucosa crônica não contagiosa causada por protozoários do gênero Leishmania (L. braziliensis, L. guyanensis e L. amazonenses) e transmitida pela picada de mosquitos flebotomíneos (Lutzomya sp.). Os cachorros são considerados importantes reservatórios da doença, assim como mamíferos silvestres e marsupiais. É mais prevalente em adultos do sexo masculino, com dispersão geográfica inicialmente em áreas rurais, mas que tem se expandido rumo a núcleos urbanos. Fisiopatologia O ser humano se infecta com o parasita em sua forma promastigota (com flagelo), que são internalizadas por macrófagos cutâneos, transformando-se em amastigotas (imóveis). O período de incubação dessa doença é inversamente proporcional à exposição ao parasita, variando entre 1 e 3 meses. A apresentação clínica da leishmaniose é dependente da resposta imunológica deflagrada pelo hospedeiro, com a forma cutânea acometendo indivíduos com “imunidade normal”, a cutaneomucosa em quadros de reação exagerada e, por fim, a apresentação difusa sendo identificada em casos de replicação descontrolada do parasita. Quadro Clínico As lesões iniciais costumam ser restritas às áreas expostas da pele, se apresentando como pápula eritematosa que pode evoluir para crostas, vesículas ou pústulas. Leishmaniose cutânea: presença de lesões arredondadas com bordas elevadas bem definidas (“moldura de quadro”) e centro granuloso e avermelhado, podendo ou não ter secreção serosa. Na forma cutânea disseminada, há lesões similares à acne por todo o corpo, associada a sintomas gerais, como febre e mal- estar. Leishmaniose cutânea difusa: marcada por infiltrados de evolução lenta (geralmente repletos de parasitas) que não formam úlceras; Leishmaniose cutaneomucosa: é normalmente secundário à disseminação hematogênica, tendo como principal alvo o nariz, formando lesões ulcerovegetantes que se disseminam para áreas periféricas. Culmina na destruição completa da cartilagem (“nariz de anta”) – PODE SER ABORDADA COM CIRURGIA REPARADORA. Diagnóstico Requer confirmação laboratorial, que pode ser realizada por diversos métodos: Exame direto: realizada a partir da raspagem da lesão permite a visualização de amastigotas no interior de macrófagos; Histopatológico: permite a detecção de granulomas linfo-histocitários que podem ou não conter parasitas de acordo com o tempo de evolução; Cultura: é positiva em apenas 40% dos casos, e demora para apresentar resultados; Sorologia: realizada por ELISA ou imunofluorescência indireta, pode ter reação cruzada com a leishmaniose visceral ou a Doença de Chagas; Reação intradérmica de Montenegro: feita com a inoculação de promastigotas mortos na pele do paciente, buscando por reações de hipersensibilidade tardia (pápulas > 5 mm), que pode se manter positiva mesmo após a cura da doença. Tratamento A droga de escolha é o antimonial pentavalente Glucantime (N-metil-glucamina), em dose que varia entre 15 (forma cutânea) a 20 mg/kg/dia (forma cutaneomucosa) por via intravenosa ou intralesional, ao longo de 10 a 30 dias. Os efeitos adversos associados a esse medicamento são distúrbios de repolarização cardíaca, artralgia, náusea, prurido e anorexia. Esse tratamento é contraindicado a gestantes, pessoas > 50 anos e cardiopatas/emuso de fármacos que alarguem o intervalo QT. Para esses grupos (e coinfecção LT-HIV), recomenda-se a anfotericina B (lipossomal ou desoxicolato) em infusão lenta de 1 mg/kg/dia, com duração dependente da tolerância medicamentosa. Como efeitos adversos, destacam-se hipomagnesemia, alterações de comportamento, diminuição da função renal (não usar em nefropatas) e flebite. A pentamidina é uma medicação eficaz para o manejo da leishmaniose, porém é pouco disponível no Brasil. TEGUMENTAR AMERICANA Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Úlcera Venosa Úlcera Arterial Úlcera Neuropática Localização Preferencialmente em área maleolar ou supramaleolar MEDIAL e panturrilhas. Geralmente afeta maléolo LATERAL, articulações dos dedos dos pés, calcanhares e áreas de pressão. Encontrada na superfície plantar, especialmente no calcanhar e em pontos de pressão. Aparência Bordas irregulares com leito avermelhado ou rosa, coberto por exsudato e tecido fibroso. Aspecto em saca-bocado (arredondado), com base seca e pálida, com possíveis focos necróticos. Inicialmente superficial, tem aparência em saca-bocado, com leito avermelhado. Temperatura dos Pés Quente Fria (com o avançar do quadro) Quente Dor Leve Moderada-Intensa Ausente Pulso Arterial Presente Ausente Variável Sensibilidade Presente Variável Ausência de resposta tátil, térmica, dolorosa ou de pressão Deformidade nos Pés Ausente Ausente Comum Pele Circundante Normalmente afetada por eritema ou dermatite ocre (hiperpigmentação amarronzada). Presença de varizes e edema. Pele brilhante e tensa, com perda de pelos no local acometido. Pele seca e brilhante, com perda de pelos e edema variável. Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Carcinoma Basocelular (CBC) Carcinoma Espinocelular (CEC) Etiopatogenia Resulta da malignidade de células da camada basal da epiderme, sendo mais comum em homens e indivíduos com mais de 40 anos. As áreas mais afetadas são os 2/3 superiores da face (pálpebras, orelhas e nariz). Metástases são incomuns, pois o crescimento ocorre no plano HORIZONTAL. Há maior risco de disseminação quando a infiltração ocorre no couro cabeludo. É derivado de queratinócitos suprabasais (estrato espinhoso) da epiderme, incidindo predominantemente em homens > 55 anos. Esse quadro está associado ao tabagismo, assim como à infecção por HPV 16 e 18 e a condições gerais de imunossupressão. Há preferência por locais como o lábio inferior, a hélice da orelha, tronco, antebraços, mãos e, nas mulheres, as pernas. A chance de ocorrência de metástases é de 6%, porém aumenta consideravelmente quando se desenvolve sobre tecido cicatricial. Quadro Clínico O CBC nodular é a forma clássica da doença, caracterizada por evolução lenta, e lesões com pápulas/nódulos perláceos de limites bem definidos, associados a telangiectasias, podendo ou não haver ulcerações. OUTRAS APRESENTAÇÕES: CBC superficial multicêntrico: afeta tronco, cabeça e pescoço, com aspecto plano e eritematodescamativo, de bordas papulosas ou peroladas. O crescimento é horizontal e infiltrativo. CBC esclerodermiforme: marcado por placa hipocrômica de coloração marfim, descrevendo a forma mais agressiva de CBC. CBC pigmentado: lesão semelhante ao CBC nodular, porém com hipercromia (DIFERENCIAR DO MELANOMA) O CEC clássico se apresenta com surgimento de infiltrados ou nódulos queratinizados que crescem gradualmente, formando úlceras crostosas superficiais ou vegetantes. Destaca-se que essa neoplasia pode surgir de lesões pré-cancerosas, como queratose actínica, radiodermites crônicas, cicatrizes de queimaduras e até mesmo lesões sifilíticas ou lúpicas. OUTRAS MANIFESTAÇÕES: CEC verrucoso: tem baixo grau de malignidade, sendo observadas formações semelhantes ao condiloma acuminado nas plantas dos pés, genitais ou cavidade oral. Leucoplasia: cursa como uma placa esbranquiçada em mucosas (DIFERENCIAR DE CANDIDÍASE). Diagnóstico Deve ser confirmado por biópsia com análise histopatológica, avaliando o aspecto celular típico Tratamento Quando em lesões com baixo risco de recidiva, recomenda-se a exérese cirúrgica. Em manifestações com risco elevado de recorrência ou possível prejuízo estético, a técnica de escolha é a cirurgia micrográfica de Mohs (remoção por camadas associada a análise microscópica em tempo real). Em casos de CBC com contraindicação à cirurgia, são alternativas o tratamento tópico com imiquimode e a radioterapia. No CEC, a radioterapia é reservada a quadros metastáticos ou crônicos. NÃO MELANOMA Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Melanoma Etiopatogenia É a neoplasia cutânea mais rara e mais agressiva, com elevado potencial de letalidade, se originando em melanócitos da epiderme. A incidência é maior em adultos de 20 a 50 anos, sendo que a prevalência por sexo muda com o avançar da idade (inicialmente mulheres, depois homens). Os fatores de risco associados a essa doença são fototipos claros, albinismo, queimaduras intermitentes por exposição UV, histórico pessoal ou familiar de melanoma, imunossupressão e a presença de lesões predisponentes (ex.: síndrome do nevo displásico) Quadro Clínico Melanoma extensivo superficial: forma mais frequente, se desenvolve no tronco (homens) e membros inferiores (mulheres), especialmente sobre lesões pré-cancerosas. Tem como características a presença de bordas irregulares e elevadas, formato arciforme e diâmetro > 6 mm, A coloração pode variar entre marrom e preto, com pontos cinzentos, brancos ou rosas. Cresce no sentido horizontal, com evolução lenta; Melanoma nodular: acomete principalmente o tronco, pescoço e a cabeça (regiões de pele normal), havendo pico de incidência na 4ª década de vida. As lesões se apresentam como nódulos elevados de 1 a 2 cm e coloração negro-azulada. Há crescimento vertical agressivo; Melanoma lentiginoso acral: mais comum em negros e asiáticos, em especial aqueles com 55 a 65 anos. Situa-se predominantemente na região palmoplantar, falanges distais dos dedos ou no leito ungueal. As lesões são maculares (2-3 cm), com bordas irregulares e cor enegrecida. O risco de metástase é acentuado, pois apresenta fases de crescimento horizontal e vertical; Lentigo maligno melanoma: descreve a evolução neoplásica do lentigo maligno (observada em idosos > 70 anos), lesão dermoepidérmica que evolui de manchas acastanhadas para nódulos pigmentados, geralmente em áreas repetidamente expostas ao sol. Diagnóstico A avaliação clínica requer inspeção cuidadosa das lesões, que devem ser abordadas pela “regra ABCDE” de indicação de transformação maligna (assimetria, bordas irregulares, coloração heterogênea, diâmetro > 6 mm e evolução). Pacientes maiores de 50 anos ou portadores de nevos congênitos gigantes devem ser reavaliados com frequência para acompanhar a evolução das lesões. Para confirmar o diagnóstico é necessário exame anatomopatológico por biópsia excisional (incisional apenas em face ou na presença de tumorações extensas), fornecendo informações úteis para o estadiamento do paciente (utilização dos níveis de Clark e da classificação de Breslow, associadas à profundidade e espessura do melanoma). A classificação TNM também deve ser estabelecida, e, na presença de achados de alto risco (mitoses acentuadas, úlceras ou regressão lesional), recomenda-se a pesquisa de cadeias linfonodais adjacentes. Tratamento Baseia-se na remoção cirúrgica do tumor até atingir o tecido subcutâneo, deixando margens proporcionais ao tamanho da lesão (normalmente 1 cm para quadros pouco infiltrativos, e 2 cm para apresentações mais profundas). A exérese de linfonodos será indicadaapenas na presença de sinais de metástase em trânsito ou de alterações suspeitas na pesquisa inicial.. A quimioterapia sistêmica (assim como a radioterapia, em acometimento ósseo ou do SNC) se insere como estratégia adjuvante no melanoma avançado. Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Pênfigo Vulgar Pênfigo Foliáceo Endêmico Etiologia É a apresentação mais grave dos pênfigos, acometendo principalmente adultos de 40-60 anos, com predominância em judeus Ashkenazi. Neonatos nascidos de mães com a dermatose podem apresentar uma forma transitória, que regride espontaneamente em 3 meses. Conhecida como fogo selvagem, afeta principalmente crianças e jovens residentes em áreas rurais, com importante histórico familiar. Não há transmissão transplacentária de anticorpos (sem forma neonatal) Quadro Clínico Marcado por lesões ulceradas em mucosas, predominantemente em região oral, que dificultam a alimentação. Pode evoluir para comprometimento cutâneo, com bolhas flácidas sobre pele normal no couro cabeludo, virilha, axilas e face. Com a ruptura das lesões, a pele adquire erosões úmidas e dolorosas com aspecto de “bife sangrante” A resolução das feridas não causa cicatriz, mas há discromia local. Presença de bolhas flácidas superficiais que se rompem facilmente, criando erosões recobertas por crosta em padrão de “salpicos de lama”. As mucosas NÃO SÃO AFETADAS! O acometimento predomina em face, pescoço e área superior do tronco, podendo se manter concentradas ou se disseminar simetricamente em sentido craniocaudal. Há presença de ardor e maior sensibilidade ao frio nas áreas lesadas. Diagnóstico Há presença de sinais de Nikolsky (descolamento da epiderme) e Asboe Hansen (líquido da bolha corre sobre a pele) positivos ao exame clínico. A confirmação requer o exame histopatológico (acantólise BAIXA suprabasal) e a imunofluorescência indireta (depósitos de ANTICORPOS IgG CONTRA DESMOGLEÍNAS 1 E 3) Há presença de sinais de Nikolsky (descolamento da epiderme) e Asboe Hansen (líquido da bolha corre sobre a pele) positivos ao exame clínico. A confirmação requer o exame histopatológico (acantólise ALTA em estrato subcórneo/granulosol) e a imunofluorescência indireta (depósitos de ANTICORPOS IgG CONTRA DESMOGLEÍNA 1) Tratamento Uso de prednisona (1-2 mg/kg/dia) até a resolução das lesões (3 a 4 semanas), seguida por desmame lento da medicação. Na ausência de resposta, pode ser associada a azatioprina (2 mg/kg/dia), pulsoterapia de corticoides ou rituximabe. Todos os pacientes devem realizar profilaxia para estrongiloidíase com ivermectina. A prednisona (1 mg/kg/dia) por 7 a 10 dias é o tratamento de escolha, podendo ser substituída por triamcinolona. Também deve haver desmame gradual depois do controle das lesões. Os imunossupressores não são muito eficazes, porem sulfonas e cloroquina podem ser usadas em caso de resistência. Todos os pacientes devem realizar profilaxia para estrongiloidíase com ivermectina Diagnósticos Diferenciais Penfigoide bolhoso: observada em indivíduos > 60 anos, marcada por bolhas tensas na face interna das coxas, virilha, axilas e parte inferior do abdome, sendo o acometimento mucoso limitado à mucosa oral. NÃO HÁ ACANTÓLISE (lesão subepidérmica), mas sim infiltrado inflamatório e autoanticorpos contra ZMB locais e circulantes (IFD e IFI positivas). O tratamento é feito com prednisona sistêmica (1 mg/kg/dia) até a resolução das lesões Dermatite herpetiforme: é fortemente associada à doença celíaca, sendo mais comum entre os 30 e 40 anos de idade. Cursa com pápulas pruriginosas que evoluem para bolhas tensas e simétricas na face externa dos cotovelos e joelhos, fronte, linha de implantação dos cabelos, escápula e nádegas. A IFD confirma o diagnóstico pela presença de anticorpos IgA na epiderme profunda. O tratamento é feito com a restrição de glúten na dieta, associada ao uso de sulfona (100 mg/dia) – ESSE QUADRO ESTÁ ASSOCIADO AO DESENVOLVIMENTO DE LINFOMAS! Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Herpes Etiologia Descreve a reativação do vírus varicela zóster, comum em idosos e imunossuprimidos previamente infectados, sendo resultante da capacidade de latência viral em gânglios nervosos após disseminação hematológica na primoinfecção. Fisiopatologia Os processos de reativação são causados por um desequilíbrio intraneuronal entre proteínas Oct-1, que estimulam a TRANSCRIÇÃO do genoma viral, e proteínas Oct-2, com ação SUPRESSORA sobre esse processo, havendo menor concentração dessa última em indivíduos afetados, promovendo assim a liberação de fator de crescimento neuronal. Quadro Clínico Inicia-se com período prodrômico marcado por dor neuropática e sintomas semelhantes a gripe (febre baixa, fadiga, mal-estar), sucedido pelo aparecimento de vesículas transparentes sobre base eritematosa de modo unilateral, respeitando o trajeto de um dermátomo (ainda que possa afetar estruturas contíguas). Os sintomas se instalam em 2 a 4 dias, porém a resolução de lesões crostosas pode levar até 4 semanas, deixando cicatrizes ou manchas pigmentares. As áreas mais atingidas são o tronco, face (nervo trigeminal, em especial seu ramo oftálmico) e as regiões lombossacra e cervical. Quando o acometimento se dá nos nervos facial e/ou auditivo, há desenvolvimento de síndromes específicas (paralisia de Bell e síndrome de Ramsey-Hunt). Diagnóstico É clínico, mas pode se valer da detecção de células multinucleadas no exame citodiagnóstico de Zanck (achado comum a várias infecções por herpesvírus). A sorologia normalmente não é utilizada para detectar reativação viral, uma vez que NÃO HÁ MUDANÇA NO PERFIL DE ANTICORPOS. Tratamento A primeira escolha é o aciclovir sistêmico (800 mg, 5x/dia por 7 dias), devendo ser iniciado precocemente para prevenir a neuralgia pós- herpética. Esse medicamento pode ser substituído por outros antivirais, como o fanciclovir e valaciclovir. Analgésicos devem ser ofertados para o controle da dor. A limpeza das lesões é importante para evitar infecções secundárias, sendo realizada com aplicação de água boricada. ATENÇÃO: grupos de risco para a reativação do HZV podem receber vacinas para a profilaxia desse quadro! Neuralgia Pós-Herpética Representa a principal complicação da herpes zóster, com persistência da dor no segmento acometido por mais de 1 mês após a resolução das lesões cutâneas. Resulta de processos de degradação de fibras Aδ e C, o que modifica a percepção de estímulos sensoriais. Os sintomas mais relatados são alodinia (resposta dolorosa a estímulos inofensivos), hiperalgesia e hiperestesia, com dor em queimação geralmente intensa. O tratamento pode se valer de múltiplas estratégias: Farmacológicas: uso de antidepressivos tricíclicos (amitriptilina), anticonvulsivantes (pregabalina, gabapentina), lidocaína tópica, cremes de capsaicina, e procedimentos intervencionistas (bloqueio simpático, estímulo medular) Não-farmacológicas: acupuntura, psicoterapia (TCC, mindfulness e outras abordagens), TENS. ZÓSTER Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Farmacodermias Exantema induzido por fármacos Causada principalmente por ATB e anticonvulsivantes, surge de 2 semanas após o início do uso do fármaco até 2 semanas depois de sua suspensão. As lesões são máculas morbiliformes ou escarlatiniformes pruriginosas que desaparecem com digitopressão. O acometimento é maior no tronco, ocorrendo de modo simétrico. O rash costuma regredir espontaneamente em 1-2 semanas depois da interrupção da droga (único tratamento necessária na maior parte dos casos), mas o uso de anti-histamínicos e corticoides pode ajudar no controle dos sintomas Urticária/Angioedema Presença de placas eritematoedematosas com centro pálido e bordaselevadas e irregulares acompanhadas por prurido intenso. Se desenvolvem de modo imediato (30-60min) após a exposição a AINES, anestésicos e anticonvulsivantes. Há predominando no tronco e extremidades proximais; A fisiopatologia dessa condição está ligada a reações de hipersensibilidade tipo I, com liberação de histamina H1 e IgE. Quando há acometimento de partes moles, ocorre angioedema, que pode levar a complicações respiratórias com edema de glote. A presença de sintomas sistêmicos (hipotensão, esforço respiratório, náuseas, etc.) indica a ocorrência de anafilaxia. O manejo é feito com a retirada da droga e o uso de anti-histamínicos (sedativos ou não), reservando corticoides sistêmicos para formas graves. Na presença de quadro anafilático, administrar 0,5 mL de adrenalina IM Eritema Pigmentar Fixo Apresenta uma ou mais lesões bem definidas, inicialmente eritematosas, mas que se tornam acastanhadas com a evolução do quadro. O prurido é pouco frequente, havendo queixa de queimação no local. O acometimento é mais comum em face, tronco, extremidades e genitália, ocorrendo de modo assimétrico. Caso ocorra exposição recorrente a AINES, laxantes, antibióticos, barbitúricos ou antiparasitários, há reaparecimento das lesões nos mesmos locais. A retirada do agente causador costuma ser suficiente para o tratamento do quadro. Eritema Multiforme Cursa com lesões anulares (apresentação típica) simétricas e de início súbito, raramente pruriginosas. É causado tanto por fármacos (AINES, ATB e analgésicos), quanto pela infecção por herpes simples. O acometimento é predominante em face, pés e mãos, podendo ocorrer disseminação para o tronco e comprometimento da mucosa oral (70% dos casos). Esse quadro apresenta regressão espontânea após 3 semanas, de forma que apenas a suspensão do medicamento causador já é suficiente (corticoides tópicos podem ajudar no manejo dos sintomas). Síndrome de Stevens- Johnson e Necrólise Epidérmica Tóxica São um espectro de manifestações clínicas marcadas pelo descolamento epidérmico após 4 a 8 semanas (reduz com novos contatos) do uso de anticonvulsivantes, ATB, AINES e alopurinol, ou pela infecção por Mycoplasma pneumoniae. A fisiopatologia está associada à ativação de linfócitos T e ao desencadeamento da apoptose de queratinócitos O quadro clínico se inicia com pródromo gripal por 15 dias, seguido por erupções maculopapulares eritematosas e dolorosas em região de face e tronco, posteriormente causando desprendimento cutâneo. A lesão de mucosas é OBRIGATÓRIA, e sintomas sistêmicos podem ser vistos na NET. A diferença entre os quadros é o grau de acometimento cutâneo (SSJ < 10%, overlap 10-30%, NET > 30%). O sinal de Nikolsky é positivo no exame físico, porém não é patognomônico de SSJ/NET. O tratamento requer suspensão imediata do medicamento, com internamento em unidade capacitada para acompanhamento, com monitoração, suporte nutricional, hidratação e controle da dor. Alguns materiais apresentam imunoglobulinas como alternativas viáveis para o controle dessas lesões. O escore SCORTEN (idade, FC, ureia, % cutânea afetada, glicemia e bicarbonato) é usado para avaliação prognóstica do quadro, sendo que a principal causa de morte nesses pacientes é a septicemia. Mesmo assim, a antibioticoprofilaxia deve ser evitada, assim como o uso de sulfadiazina de prata (causam + farmacodermias). Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Síndrome DRESS Se desenvolve após 1 mês de exposição ao fármaco (anticonvulsivantes, alopurinol, ATB) ou por reativação de vírus latentes, associada à hipersensibilidade tipo IV com participação de resposta Th2 e eosinófilos. Há aparecimento de exantema morbiliforme (podendo evoluir para forma eritrodérmica esfoliativa – MAIS GRAVE), acompanhado por edema de face, mal-estar e linfadenopatia dolorosa generalizada. Comprometimento de órgãos sistêmicos é encontrado na maioria dos casos. O diagnóstico requer exames laboratoriais (avaliação hepática/renal e hemograma, apresentando eosinofilia, e linfocitose atípica), pois os achados histopatológicos não são precisos. O tratamento requer retirada imediata da droga e o uso de prednisona (1 mg/kg/dia) por período extenso, sucedido por desmame gradual em 2 meses. Os imunossupressores (ciclosporina) podem ser usados em quadros de maior gravidade Todos os pacientes devem ser submetidos a profilaxia para estrongiloidíase (ivermectina) Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Acne Etiologia É uma dermatose inflamatória crônica que afeta a unidade pilossebácea, apresentando pico de incidência durante a adolescência, ainda que alguns casos possam persistir na vida adulta. Homens tendem a apresentar formas mais graves de acne, quando comparados às mulheres. Seu desenvolvimento pode ser estimulado por fatores genéticos, estresse emocional, desequilíbrio androgênico, uso de medicações e período menstrual. Há O acometimento é maior em áreas seborreicas, como face, tronco e dorso. Fisiopatologia É marcada pela hiperqueratinização do folículo piloso, causando a obstrução de seu orifício e a consequente formação de comedos, que podem ser fechados (brancos) ou abertos (pretos). A patologia progride com hiper-replicação de C. acnes, bactéria saprófita (encontrada na pele), que encontra condições ideais no folículo, onde há hipersecreção de sebo para sua nutrição. Com a hidrólise de gorduras, ocorre liberação de ácidos graxos irritantes, induzindo reações inflamatórias e ruptura folicular, despejando marcadores bacterianos e imunológicos na derme adjacente (criação de pústulas, nódulos e abcessos). Quadro Clínico Acne grau I (comedônica/não-inflamatória): apresentação mais comum, marcada por comedões abertos/fechados, sem sinais de inflamação, principalmente na face; Acne grau II (papulopustulosa): há pápulas e pústulas com acúmulo local de sebo; Acne grau III (nódulo-cística): sinais semelhantes ao grau II, associados a secreção purulenta e nódulos furunculoides, disseminando- se para o tronco e a parte proximal dos braços; Acne grau IV (congoblata): predomínio de nódulos confluentes e com conteúdo purulento, podendo criar abcessos e fístulas. Mais frequente em homens, é um quadro grave, afetando face, pescoço, tronco e nádegas; Acne grau V (fulminante): rara, tem início súbito com achados de grau IV associados a poliartralgia, febre e leucocitose. Pode ocorrer ulceração hemorrágica ou necrose das lesões. Diagnóstico É clínico, baseado no aspecto característico das lesões e na faixa etária comprometida. O principal diagnóstico diferencial em adultos (especialmente mulheres de 30-40 anos) é a rosácea, quadro de inflamação vascular que leva ao desenvolvimento de surtos de flush cutâneo em face (ruborização acentuada) Tratamento Objetiva evitar a formação de cicatrizes/pigmentação residual, empregando medicações que atuem na correção da queratinização folicular, no controle da produção de sebo e na redução de inflamação/proliferação de bactérias, variando conforme o quadro individual: Grau I: tem bons resultados em 4 semanas com o uso de retinoides, aplicados a noite, e com a limpeza da pele com sabões com ácido salicílico ou à base de enxofre, sendo preciso evitar a exposição ao sol (quando impossível, empregar o ácido azelaico gel, com 1-2 aplicações/dia). Grau II: o tratamento tópico anterior também é efetivo após 3 meses, devendo ser associado à antimicrobianos tópicos (eritromicina + peróxido de benzoíla) ou sistêmicos (tetraciclina, em quadros refratários), para o controle da C. acnes; Graus III-V: a isotretinoína (0,5-1,5 mg/kg/dia por 5 meses) deve ser iniciada precocemente, pois atua diretamente nas gândulas sebáceas. Deve ser combinada aos antimicrobianos sistêmicos supracitados e, no GRAU V à prednisona (20 mg/dia), evitando episódios deexacerbação; A isotretnoína é contraindicada em gestantes (efeito teratogênico) e em hepatopatas (se usada, realizar monitoramento constante de enzimas hepáticas). Seus efeitos adversos mais comuns são secura dos lábios, quelite angular, prurido, mialgia, hepatite (evitar consumo de álcool durante o tratamento) e hipercolesterolemia/hipertrigliceridemia. VULGAR Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Dermatite Etiologia É uma dermatose crônica, inflamatória e pruriginosa amplamente relacionada a atopias (FAZ PARTE DA MARCHA ATÓPICA EM CRIANÇAS) e outras doenças com aumento de níveis séricos de imunoglobulinas. Fisiopatologia Pacientes com DA apresentam AMPc intracelular diminuído em linfócitos e células fagocitárias, o que, associado à menor função de linfócitos T reguladores, leva a secreção aumentada de IgE. A ativação imune se dá em duas etapas, com liberação aguda de IL-4 e Il-12, e mediação crônica por concentração de IL-5, Il-12 e INF-γ. Histologicamente há acantose (espessamento da pele) em graus variado, acompanhada por infiltrado dérmico de linfócitos e espongiose (edema intracelular), além da presença de vesículas, visíveis clinicamente ou não. Quadro Clínico Cursa com xerose cutânea e prurido intenso, com escarificação que alimenta o reaparecimento de lesões. Há variação do quadro clínico conforme a idade, a saber: Crianças < 2 anos: acometimento eritematoescamoso com crostas e prurido, iniciadas na face e disseminando-se para o tronco, couro cabeludo e face extensora dos membros. Menos da metade dos casos evolui para resolução espontânea do quadro; > 2 anos a adolescentes: as lesões tornam-se papulodescamativas com liquenificação da pele, especialmente em área perioral, dobras dos cotovelos/joelhos e punhos; Adultos: comprometimento localizado com focos de liquenificação, ainda que lesões exsudativas crônicas possam ser observadas nas mãos. Diagnóstico A suspeita clínica se baseia em achados da anamnese e exame físico, porém a confirmação do quadro requer concordância com critérios do Grupo de Estudos do Reino Unido sobre Dermatite Atópica: Critério obrigatório: evidência/relato de prurido cutâneo; Três ou mais dos seguintes: presença de pregas na pele(fossas poplítea/antecubital, pescoço, região periorbitária e parte anterior dos tornozelos), histórico de asma ou outra atopia, pele seca generalizada no último ano, dermatite visível em áreas flexoras (ou face, em crianças pequenas). A detecção de ácaros ou ovos à dermatoscopia ou raspado de pele também fecham o diagnóstico. Tratamento Algumas recomendações diárias devem ser seguidas por pacientes atópicos, mesmo na fase inativa da dermatite: Manter a pele hidratada, evitando preparações com ureia; Evitar banhos quentes e longos; Evirar contato com alérgenos cutâneos comuns. No período de exacerbação, é necessário uso de corticoides tópicos (podem ser substituídos por coaltar, pimecrolimo ou tacrolimo), associados a azatioprina e fototerapia em casos de maior gravidade. NÃO DEVEM SER USADOS CORTICOIDES SISTÊMICOS! Em caso de infecções bacterianas secundárias, devem ser administrados antibióticos contra S. aureus (aminopenicilinas e cefalosporinas de 1ª geração). ATÓPICA Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS Dermatite Dermatite de Contato por Irritante Primário (DCI) Dermatite de Contato Alérgica Etiopatogenia É a apresentação mais comum das dermatites de contato, não sendo necessária exposição prévia ao agente desencadeante, que induz a ativação imune inata. Os principais causadores desse quadro são sabões, ácidos, plantas e fluidos corporais (ex.: saliva) A intensidade das lesões depende de propriedades do irritante, da duração e frequência da exposição e de aspectos ambientais Surge em indivíduos predispostos após exposições repetidas a um agente, sendo classificada como reação de hipersensibilidade tipo IV, com ativação da imunidade humoral: Indução/Sensibilização: ocorre com a penetração inicial do alérgeno, que é fagocitado por células de Langerhans, estimulando a formação de linfócitos de memória; Elicitação: desencadeada em exposições sucessivas, marcada pela migração de linfócitos T e recrutamento de mediadores inflamatórios para o local afetado – NOVOS CONTATOS CAUSAM SINTOMAS MAIS RÁPIDO E COM MAIS GRAVIDADE; Resolução: cursa com a secreção de Il-10 por células T helper, cessando a inflamação. Os alérgenos mais comuns são o níquel, a borracha (calçados), látex e formaldeído (presente em esmaltes de unha – ACOMETIMENTO CLÁSSICO EM DEDOS E PÁLPEBRAS). Quadro Clínico A irritação cutânea (eritema formando vesículas e erosões descamativas, criação de fissuras crônicas) é limitada ao local de contato, sendo associada a ardor e dor local (prurido POUCO frequente). O quadro pode ter evolução variada: DCI aguda: se inicia imediatamente após interação com irritantes fortes; DCI aguda tardia: também desencadeada com agentes potentes, porém aparece de 12 a 24h depois da exposição; DCI cumulativa: causada pelo contato repetido com irritantes fracos (ex.: dermatite das fraldas). As lesões têm características variáveis (normalmente pápulas que evoluem para vesículas e erosões crostosas, com placas descamativas na fase crônica) com a fase do eczema, podendo ocorrer em locais distantes do foco de contato. O prurido é MUITO frequente, assim como ardência. Diagnóstico É clínico, baseado em dados da anamnese e exame das lesões. O prick test é NEGATIVO, resultado da ausência de ativação da imunidade humoral. Necessita da realização de prick test positivo de forma a estabelecer a etiologia da reação. Tratamento Consiste no afastamento do agente causal, o que pode requerer uma série de mudanças comportamentais. O reestabelecimento da barreira cutânea deve ser priorizado, com uso de compressas úmidas, corticoides tópicos/sistêmicos, tacrolimo ou anti-histamínicos (se houver prurido). Além da evitação do alérgeno, o tratamento pode se valer do uso de corticoides tópicos/sistêmicos, emolientes, anti-histamínicos e tacrolimo DE CONTATO Júlia Figueirêdo – APARECIMENTO E MANIFESTAÇÕES EXTERNAS DAS DOENÇAS E IATROGENIAS
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