Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Khilver Doanne Sousa Soares Anti-inflamatórios não Esteroidais *AINES Introdução A inflamação é uma resposta normal de proteção às lesões teciduais causadas por trauma físico, agentes químicos ou microbiológicos nocivos. É a tentativa do organismo de inativar ou destruir os organismos invasores, remover os irritantes e preparar o cenário para o reparo tecidual. Quando a recuperação está completa, normalmente o processo inflamatório cessa. Entretanto, a inflamação também pode advir da ativação imprópria do sistema imune, resultando em doenças imunomediadas, como a artrite reumatoide (AR). Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada. 6ed. Resumo dos anti-inflamatórios. Prostaglandinas Todos os AINEs atuam inibindo a síntese das PGs. Assim, para entender os AINEs, é preciso compreender a biossíntese e as ações de histaminas, cininas e prostaglandinas (PGs) derivadas de ácidos graxos insaturados que contêm 20 carbonos e incluem uma estrutura cíclica anelar. O ácido araquidônico é o principal precursor das PGs e dos compostos relacionados. Ele é componente dos fosfolipídeos das membranas celulares. O ácido araquidônico livre é liberado dos fosfolipídeos teciduais pela ação da fosfolipase A2 por um processo controlado por hormônios e outros estímulos. Existem duas vias principais para a síntese de eicosanoides a partir do ácido araquidônico: a via da cicloxigenase e a da lipoxigenase. Via da Cicloxigenase Todos os eicosanoides com estrutura anelar (PGs, tromboxanos e prostaciclinas) são sintetizados pela via da cicloxigenase. Foram descritas duas isoformas relacionadas das enzimas cicloxigenases: a cicloxigenase-1 (COX-1) é responsável pela produção fisiológica de prostanoides, e a COX-2 provoca o aumento da produção de prostanoides em locais de doença e inflamação crônicas. A COX-1 é uma “enzima constitutiva” que regula os processos celulares normais, como a citoproteção gástrica, a homeostase vascular, a agregação plaquetária e as funções reprodutiva e renal. A COX-2 é expressa de maneira constitutiva em tecidos, como cérebro, rins e ossos. Sua expressão em outros locais aumenta durante os estados inflamatórios crônicos. Diferenças na 2 Khilver Doanne Sousa Soares forma dos locais de ligação permitiram o desenvolvimento de inibidores COX-2 seletivos. Via da Lipoxigenase Alternativamente, várias lipoxigenases podem atuar no ácido araquidônico formando leucotrienos. Fármacos antileucotrienos como zileutona, zafirlucaste e montelucaste são opções de tratamento da asma Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada. 6ed. Síntese de PGs e leucotrienos. COX, cicloxigenase. Várias das ações das PGs são mediadas por sua ligação a uma ampla variedade de distintos receptores de membrana celular que operam via proteínas G acopladas. As PGs e seus metabólitos, produzidos endogenamente nos tecidos, atuam como sinalizadores locais que fazem o ajuste fino da resposta de um tipo celular específico. Suas funções variam amplamente, dependendo do tecido e das enzimas específicas daquela via e que estão disponíveis naquele local específico. Obs.: as PGs têm seu papel principal na modulação da dor, da inflamação e da febre. Elas também controlam funções fisiológicas como a secreção ácida e a produção de muco no trato gastrintestinal (TGI), a contração uterina e o fluxo de sangue nos rins. Alprostadil O alprostadil é uma PGE1 produzida naturalmente em tecidos como as vesículas seminais e o tecido cavernoso, a placenta e o ducto arterioso do feto. Terapeuticamente, o alprostadil pode ser usado no tratamento das disfunções eréteis ou para manter o ducto arterioso aberto em neonatos com condições cardíacas congênitas até que seja possível a cirurgia. A PGE1 mantém a patência do ducto arterioso durante a gestação. A infusão do fármaco mantém o ducto aberto, como ocorre naturalmente durante a gestação, até que seja possível a correção cirúrgica. Lubiprostona A lubiprostona é um derivado da PGE1 indicado para o tratamento da constipação idiopática crônica, da constipação induzida por opioides e da síndrome do intestino irritável com constipação. Ela estimula canais de cloro nas células luminais do epitélio intestinal, aumentando a secreção de líquidos intestinais. Misoprostol O misoprostol é um análogo da PGE1 usado para proteger a mucosa gástrica durante o tratamento crônico com AINEs. Ele interage com receptores de PGs nas células parietais gástricas, reduzindo a secreção de ácido gástrico. Além disso, o misoprostol tem efeito citoprotetor gastrintestinal (GI) por estimular a produção de muco e bicarbonato, diminuindo a incidência de úlceras gástricas causadas por AINEs. Obs.: o misoprostol também é usado extrabula para induzir o parto em gestantes, por isso, é contraindicado em gestantes pelo risco de aborto. 3 Khilver Doanne Sousa Soares Análogos da Prostaciclina O epoprostenol, a forma farmacêutica da PGI2, de ocorrência natural, e o análogo sintético da PGI2 (iloprosta e treprostinila) são potentes vasodilatadores pulmonares usados no tratamento da hipertensão arterial pulmonar. Esses fármacos mimetizam os efeitos da PGI2 nas células endoteliais, reduzindo significativamente a resistência arterial pulmonar com subsequente aumento do índice cardíaco e oferta de oxigênio. Todos esses fármacos têm meia-vida breve. O epoprostenol e a treprostinila são administrados em infusão intravenosa (IV) contínua; a treprostinila também pode ser administrada por via oral, por inalação ou infusão subcutânea (SC). A iloprosta inalada exige dosagens frequentes devido à meia-vida curta. Anti-Inflamatórios não Esteroides Os AINEs são um grupo de fármacos quimicamente heterogêneos que se diferenciam na sua atividade antipirética, analgésica e anti- inflamatória. A classe inclui derivados do ácido salicílico (ácido acetilsalicílico [AAS], diflunisal e salsalato), do ácido propiônico (ibuprofeno, fenoprofeno, flurbiprofeno, cetoprofeno, naproxeno e oxaprozina), do ácido acético (diclofenaco, etodolaco, indometacina, cetorolaco, nabumetona, sulindaco e tolmetina), do ácido enólico (meloxicam e piroxicam), de fenamatos (ácido mefenâmico e meclofenamato) e do inibidor COX-2 seletivo (celecoxibe). Eles atuam, principalmente, inibindo as enzimas cicloxigenase que catalisam o primeiro estágio da biossíntese de prostanoides. Isso leva à redução da síntese de PGs, com efeitos desejados e indesejados. Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada. 6ed. Resumo dos Anti-inflamatórios não esteroides. *Como grupo, com exceção do AAS, esses fármacos podem aumentar infartos e ataques do miocárdio. TGI, trato gastrintestinal; SNC, sistema nervoso central; COX-2, cicloxigenase-2. Ácido Acetilsalicílico (AAS) e outros AINES O AAS pode ser considerado um AINE tradicional, mas ele apresenta efeito anti- inflamatório apenas em dosagens relativamente altas, raramente usadas. Ele é mais usado em dosagens baixas para a prevenção de eventos cardiovasculares, como o acidente vascular 4 Khilver Doanne Sousa Soares encefálico (AVE) e o infarto do miocárdio (IM). O AAS é diferenciado dos outros AINEs, frequentemente, por ser um inibidor irreversível da atividade da cicloxigenase. O AAS é um ácido orgânico fraco que acetila irreversivelmente e, assim, inativa a cicloxigenase. Todos os outros AINEs são inibidores reversíveis da cicloxigenase. Os AINEs, inclusive o AAS, realizam três ações terapêuticas principais: reduzem a inflamação (afeito anti- inflamatório), a dor (efeito analgésico) e a febre (efeito antipirético). Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada. 6ed. Biotransformação do ácido acetilsalicílico e acetilação da cicloxigenase pelo ácido acetilsalicílico. Após administração oral, o AAS é rapidamente desacetilado pelas esterases do organismo, produzindo salicilato.Os salicilatos não ionizados são absorvidos passivamente, a maior parte no intestino delgado anterior (a dissolução dos comprimidos é favorecida devido ao pH mais elevado do intestino). Os salicilatos (exceto o diflunisal) atravessam a barreira hematencefálica e a placentária e são absorvidos pela pele intacta (especialmente o salicilato de metila). O salicilato é convertido pelo fígado em conjugados hidrossolúveis que são rapidamente eliminados pelos rins, resultando em eliminação de primeira ordem e meia-vida sérica de 3,5 horas. Em dosagens anti-inflamatórias (mais de 4 g/dia), a via metabólica hepática se torna saturada, sendo observada cinética de ordem zero, resultando em meia-vida de 15 horas ou mais. A inibição da cicloxigenase diminui a formação de PGs e, assim, modula os aspectos da inflamação nos quais as PGs atuam como mediadoras. Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada. 6ed. Atividades dos anti-inflamatórios não esteroides e do paracetamol. Acredita-se que a PGE2 sensibiliza as terminações nervosas à ação da bradicinina, da histamina e de outros mediadores químicos liberados localmente pelo processo inflamatório. Assim, diminuindo a síntese de PGE2, a sensação de dor pode diminuir. Como a COX-2 é expressa durante inflamações e lesões, parece que a inibição dessa enzima é responsável pelo efeito analgésico dos AINEs. Obs.: Os AINEs são usados, principalmente, para combater dores de leves a moderadas originadas de distúrbios musculosqueléticos. 5 Khilver Doanne Sousa Soares Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada. 6ed. Efeitos dose-dependentes do salicilato. A febre ocorre quando o “ponto de referência” do centro termorregulador hipotalâmico anterior é aumentado. Isso pode ser causado pela síntese da PGE2, que é estimulada quando agentes endógenos causadores de febre (pirógenos), como as citocinas, são liberados pelos leucócitos ativados por infecção, hipersensibilidade, câncer ou inflamação. Os AINEs diminuem a temperatura corporal em pacientes febris, impedindo a síntese e a liberação da PGE2. Esses fármacos, essencialmente, recolocam o “termostato” no normal. Isso rapidamente baixa a temperatura corporal de pacientes febris, aumentando a dissipação do calor como resultado da vasodilatação periférica e da sudoração. O AAS é usado para inibir a aglutinação plaquetária. Doses baixas de AAS inibem a produção de TXA2 mediada por COX-1, reduzindo, assim, a vasoconstrição e a aglutinação de plaquetas mediada por TXA2 e o subsequente risco de eventos cardiovasculares. Doses baixas de AAS (menores do que 325 mg; muitos consideram doses de 75 a 162 mg, comumente 81 mg) são usadas profilaticamente para 1) reduzir o risco de eventos cardiovasculares recorrentes e/ou morte em pacientes com IM prévio ou angina de peito instável; 2) reduzir o risco de ataques isquêmicos transitórios (AITs) recorrentes ou AVEs; e 3) reduzir o risco de eventos cardiovasculares ou morte em pacientes de alto risco, como aqueles com angina estável crônica ou diabetes. Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada. 6ed. Ácido acetilsalicílico inibe a COX-1 das plaquetas. Como o AAS inibe irreversivelmente a COX- 1, o efeito antiplaquetário persiste por toda a vida da plaqueta. 6 Khilver Doanne Sousa Soares Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada. 6ed. Efeito renal da inibição da síntese de PGs pelos AINEs. AINEs, anti-inflamatórios não esteroides. Celecoxibe O celecoxibe é um inibidor seletivo da COX- 2, significativamente mais seletivo para inibir a COX-2 do que a COX-1. Ao contrário da inibição da COX-1 pelo AAS (que é rápida e irreversível), a inibição da COX-2 é reversível. O celecoxibe é aprovado para o tratamento de AR, osteoartrite e dor de leve a moderada. No tratamento da dor, a eficácia do celecoxibe é similar à dos AINEs. O celecoxibe é facilmente absorvido após a administração oral. Ele é extensamente biotransformado no fígado pelo sistema CYP450 (CYP2C9), sendo excretado nas fezes e na urina. Sua meia-vida é de cerca de 11 horas, e ele pode ser dosificado uma ou duas vezes ao dia. Paracetamol O paracetamol (N-acetil-p-aminofenol, ou APAF) inibe a síntese das PGs no SNC. Isso explica suas propriedades antipiréticas e analgésicas. O paracetamol exerce menor efeito sobre as cicloxigenases nos tecidos periféricos devido à inativação periférica, o que contribui para a sua fraca atividade anti-inflamatória. Esse fármaco não afeta a função plaquetária nem aumenta o tempo de sangramento. O paracetamol não é considerado um AINE. O paracetamol é rapidamente absorvido no TGI. Nas células luminais dos intestinos e nos hepatócitos, ocorre significativa biotransformação de primeira passagem. Em circunstâncias normais, o paracetamol é conjugado no fígado, formando metabólitos glicuronizados ou sulfatados inativos. Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada. 6ed. Biotransformação do paracetamol. 7 Khilver Doanne Sousa Soares Uma parte do paracetamol é hidroxilada, gerando N-acetil-p-benzoquinoneimina (NAPQI), um metabólito altamente reativo que pode reagir com grupos sulfidrila e causar lesão hepática. Em dosagens normais de paracetamol, a NAPQI reage com o grupo sulfidrila da glutationa, que é produzida no fígado, formando uma substância não tóxica. O paracetamol é um substituto adequado para os efeitos analgésicos e antipiréticos dos AINEs em pacientes com problemas ou riscos gástricos, nos quais o prolongamento do tempo de sangramento não é desejável, e naqueles que não necessitam da ação anti-inflamatória dos AINEs. Em dosagens terapêuticas normais, o paracetamol é praticamente livre de efeitos adversos significativos. Em dosagens altas, a glutationa disponível no fígado se esgota, e a NAPQI reage com o grupo sulfidrila das proteínas hepáticas, formando ligações covalentes. Os pacientes com doença hepática, hepatite viral ou história de alcoolismo correm mais riscos de hepatotoxicidade induzida pelo paracetamol. Fonte: WHALEN; FINKEL; PANAVELIL. Farmacologia Ilustrada. 6ed. Seletividade relativa de alguns AINEs comumente usados. Os dados são mostrados como logaritmo das relações de IC80 (concentração do fármaco que inibe em 80% a atividade da cicloxigenase). *O ácido acetilsalicílico lançado pelo seu valor de IC50 por exibir ação significativamente maior em COX-1 em doses menores. Lançado com concentrações maiores, não reflete com precisão o uso ou a seletividade do ácido acetilsalicílico. Hepatotoxicidade. Em adultos, pode ocorrer hepatotoxicidade após a ingestão de uma única dose de 10-15 g (150-250 mg/kg) de paracetamol; doses de 20-25 g ou mais são potencialmente fatais. Condições em que há indução do CYP ou depleção dos GSH aumentam a suscetibilidade à lesão hepática, que já foi documentada, embora incomumente, com doses situadas na faixa terapêutica. Os sintomas refletem agressão gástrica e as transaminases plasmáticas se elevam, às vezes de forma bastante notável, aproximadamente 12-36 h após a ingestão. O paracetamol é bem tolerado nas doses terapêuticas recomendadas. Ocorrem ocasionalmente exantema e outras reações alérgicas. Doses terapêuticas únicas ou repetidas de paracetamol não tem efeito nos sistemas cardiovascular e respiratório, nas plaquetas ou na coagulação. Alterações de ácido=base e efeitos uricosúricos não ocorrem. Estudos epidemiológicos sugerem que os efeitos GI adversos são menos comuns do que com doses terapêuticas de AINEs. O exantema é habitualmente eritematoso ou urticariforme, mas às vezes pode ser mais sério e acompanhado de febre por medicamento e lesões mucosas. Os pacientes que apresentam reações de hipersensibilidade aos salicilatos apenas raramente exigem sensibilidade ao paracetamol. Seu uso já se associou, em relatos isolados, a neutropenia, trombocitopenia, pancitopenia,anemia hemolítica e metemoglobinemia. Relatou- se lesão renal e a lesão hepática [e uma característica proeminente da overdose. 8 Khilver Doanne Sousa Soares Fonte: BRUNTON, Laurence L.; CHABNER, Bruce A.; KNOLLMANN, Bjorn C. As Bases Farmacológicas da Terapêutica de Goodman & Gilman. 12. ed. São Paulo: AMGH, 2012. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ FINKEL, Richard; PANAVELIL, Thomas a.; WHALEN, Karen. Farmacologia Ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. BRUNTON, Laurence L.; CHABNER, Bruce A.; KNOLLMANN, Bjorn C. As Bases Farmacológicas da Terapêutica de Goodman & Gilman. 12. ed. São Paulo: AMGH, 2012
Compartilhar