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1 Khilver Doanne Sousa Soares Hanseníase e Leishmaniose Tegumentar Hanseníase A hanseníase, ou mal de Hansen (MH), doença infecciosa causada pelo Mycobacterium leprae, compromete a pele e os nervos periféricos e tem evolução crônica interrompida por surtos reacionais. Obs.: embora haja relatos de infecção natural em tatus, macacos e chimpanzés na Costa do Marfim e na Noruega o Mycobacterium leprae seja encontrado em musgos, admite-se ser o homem o reservatório natural do bacilo. O contágio ocorre de indivíduo para indivíduo, sendo as vias de entrada e de eliminação dos bacilos áreas lesadas da pele ou de mucosas e as vias respiratórias superiores. A análise de bacilos de Hansen à microscopia eletrônica mostra parede celular formada por membrana dupla, sendo a mais externa composta de proteoglicanos e a interna de lipopolissacarídeos. A externa, mais espessa, contém um trissacarídeo imunogênico espécie- específico, ligado ao fenoldimicocerosil-ftiocerol e a ácidos micólicos, o glicolipideofenólico-1 (PGL- 1). Os bacilos apresentam atividade dopa-oxidase por terem no citoplasma a enzima O- difeniloxidase, capaz de oxidar a dihidroxifenilalanina (DOPA). A parede do Mycobacterium leprae é rica em complexos lipídicos que se associam a produtos excretados pelo bacilo e são responsáveis pela penetração e pela sobrevivência da bactéria no interior de macrófagos. É na parede que se encontra a lipoarabinomanana (LAM), um complexo de 85 kD, e glicolipideofenólico-1 (PGL-1), que distingue este bacilo de outras micobactérias. Existe também um único trissacarídeo, que parece ser o alvo de anticorpos IgM, como determinante espécie - específico, principalmente em doentes virchowianos polares. Esse antígeno, que se encontra livre nos tecidos infectados, é supressor da resposta de células T e da produção de IFN- γ, além de modular a produção de TNF-α por monócitos in vitro, estando, portanto, envolvido na patogênese da doença. O genoma do bacilo tem grande número de genes inativos, o que aponta processo de atenuação da bactéria. De qualquer modo, sua virulência se mantém em células nervosas e em outras de indivíduos suscetíveis. Obs.: apesar de ser microrganismo de alta infectividade, o bacilo tem baixas virulência e patogenicidade. Obs.: A maioria das pessoas é resistente à infecção pelo M. leprae. Fonte: site anatpat Unicamp. Hanseníase virchowiana da pele, na coloração de Ziehl-Neelsen. Acessado em 06/12/2020. http://anatpat.unicamp.br/laminfl20.html O período de incubação do Bacilo de Hansen (BH) após invadir o organismo é de dois a cinco anos. Reação Imunológica Detalhada. Após fagocitose do M. leprae por macrófagos, os antígenos são apresentados pelo complexo MHC classes I e II, definindo a reação do hospedeiro: (1) estimulação de linfócitos T CD4+ e resposta imunocelular efetiva, com formação de granulomas e lise bacilar via estímulo de citocinas IFN-γ, TNF-α, IL-12 (padrão Th1); (2) estímulo de linfócitos T CD8+, que leva à produção de citocinas IL-4 e IL-10, supressoras da ativação http://anatpat.unicamp.br/laminfl20.html 2 Khilver Doanne Sousa Soares macrofágica, o que permite multiplicação intracelular dos bacilos (padrão Th2). Há dúvidas se esse caminho ocorre por defeito no processamento lisossômico macrofágico (permitindo o parasitismo), na apresentação inadequada de antígenos a linfócitos T ou por mecanismos de escape do próprio bacilo. LAM e PGL-1 facilitam o escape bacilar aos mecanismos oxidativos de macrófagos (espécies reativas de oxigênio e de nitrogênio), sendo intensificada a supressão por atuação de TGF-β e proliferação de linfócitos B. A resposta imunitária é geneticamente controlada pelo sistema HLA (HLA-DR3, associada à forma tuberculóide, e HLADQ1, à forma virchowiana), e por polimorfismos gênicos. Há controvérsias se polimorfismos de nucleotídeos únicos (SNP) podem associar-se diretamente à doença ou facilitar sua ocorrência. Entre outros, esses estudos tentam ampliar os conhecimentos sobre a correlação de polimorfismos de TNF-α e teste de Mitsuda. As manifestações neurais da doença antecedem as cutâneas. As primeiras alterações são sensoriais e apresentam-se como distúrbio da sensibilidade térmica e parcialmente dolorosa, que progressivamente é perdida; finalmente, perde-se a sensibilidade tátil. Do ponto de vista de lesões, ocorre inflamação de ramos neurais distais do sistema nervoso periférico. Com a progressão em sentido proximal dos ramos secundários aos troncos neurais periféricos, estes se tornam edemaciados e dolorosos à palpação. Como resultado, surgem alterações sensoriais e motoras, levando a amiotrofia, retração de tendões e fixação de articulações. Entre os nervos mais acometidos, encontram-se o facial, trigêmeo, ulnar, mediano, radial, fibular e tibial. As lesões neurais são mais precoces, assimétricas e agressivas em hansenianos tuberculóides, havendo às vezes necrose caseosa nos nervos lesados; em virchowianos, são mais tardias, tendem à simetria e são menos intensas. No início da doença, aparecem máculas que, em pequeno número e localizadas, indicam resistência e o tipo paucibacilar (tuberculóide). Quando múltiplas, difusas e de limites imprecisos, mostram baixa ou nenhuma resistência, sendo esperada evolução para o tipo multibacilar (virchowiano). Os doentes que mostram lesões com ambas as características se encontram no grupo dimorfo ou borderline. Hanseníase Indeterminada. surge em geral em indivíduos que convivem diretamente com pacientes bacilíferos, com as formas dimorfa avançada ou virchowiana. Clinicamente, manifesta-se por: Máculas hipocrômicas, acrômicas, eritematosas ou eritemato- hipocrômicas, de limites imprecisos, com alterações da sensibilidade (em alguns pacientes, aparecem apenas distúrbios da sensibilidade em áreas aparentemente sadias); Nas lesões, existem hiperestesia ou anestesia, anidrose e alopecia; Distúrbios motores e sensoriais estão ausentes pela inexistência de comprometimento de troncos nervosos; As lesões cutâneas são ovalares ou circulares, isoladas ou confluentes, de localização e número variáveis; A baciloscopia é negativa, e a reação de Mitsuda é positiva ou negativa, indicando tendência evolutiva para os tipos tuberculóide ou virchowiano, respectivamente. A evolução ocorre em período médio de dois a cinco anos, sendo mais precoce para o tipo tuberculóide. 3 Khilver Doanne Sousa Soares Fonte: site FMT. Hanseníase indeterminada. Acessado em 06/12/2020. http://www.fmt.am.gov.br/gabinete/uploads/PALESTRA%2 0HANSENIASE%20sintese.pdf Hanseníase Tuberculóide. Resulta de evolução lenta ou rápida da forma indeterminada e manifesta-se por lesões de transição ou máculo-anestésicas, com expansão das bordas, ficando o limite externo nítido e o interno, impreciso. A periferia é eritematopardacenta ou castanho-violácea, e a superfície é irregular pela presença de pequenas pápulas. A placa apresenta anestesia térmica, dolorosa e tátil. São bem características as lesões “em raquete”, ou seja, uma placa infiltrada da qual emerge filete nervoso superficial espessado, e o “abscesso do nervo”, devido à necrose caseosa do nervo; clinicamente, essas lesões correspondem a tumorações. O material necrótico das lesões pode migrar pela bainha do nervo ou fistulizar-se, formando úlceras cutâneas. Acometimento intenso dos troncos nervosos pode levar a incapacidade permanente. Os nervos periféricos, em particular o ulnar, tornam-se espessados e facilmente palpáveis. As alterações neurológicas são representadas por distúrbios sensoriais (paresias, paralisias, amiotrofias, mão em garra, pé caído), tróficos (mal perfurante, reabsorções ósseas, mutilações) e vasomotores (acrocianose). Fonte: site Sociedade Brasileira de Dermatologia. Hanseníase tuberculóide. Acessado em 06/12/2020. https://www.sbd.org.br/dermatologia/pele/doencas-e-problemas/hanseniase/9/ Fonte: site SAVK. Hanseníase tuberculóide. Acessado em 06/12/2020. http://www.savk.org.br/fique_hanseniase.htm Hanseníase Virchowiana. Ao contrário do tipo tuberculóide, em que os macrófagos se diferenciam em células epitelióides que formam granulomas com capacidade de lisar a bactéria, a hanseníase virchowiana (HV) revela macrófagos incapazes de destruir os bacilos, permitindo sua multiplicação intracitoplasmática. Os pacientes inicialmente indeterminados têm, quase sempre, grande número de lesões que, ao se confluírem, conferem aspecto hipocrômico difuso. Seguem- se eritema difuso e pigmentação ferruginosa de quase todo o tegumento. Posteriormente, há infiltração difusa ou localizada, com formação de placas e lesões nodulares: os hansenomas. O número de lesões aumenta lentamente, e reação semelhante à tuberculóide pode ocorrer de modo http://www.fmt.am.gov.br/gabinete/uploads/PALESTRA%20HANSENIASE%20sintese.pdf http://www.fmt.am.gov.br/gabinete/uploads/PALESTRA%20HANSENIASE%20sintese.pdf https://www.sbd.org.br/dermatologia/pele/doencas-e-problemas/hanseniase/9/ https://www.sbd.org.br/dermatologia/pele/doencas-e-problemas/hanseniase/9/ http://www.savk.org.br/fique_hanseniase.htm 4 Khilver Doanne Sousa Soares mais discreto, levando ao surgimento de novos hansenomas e tornando os preexistentes congestos. Assim, nos pacientes virchowianos avançados observam-se hansenomas em vários estágios evolutivos. Devido à infiltração, podem surgir áreas de alopecia. Como não há resistência à disseminação bacilar, as lesões cutâneas mostram limites imprecisos, e os bacilos invadem não só a pele como órgãos internos. Infiltração da mucosa nasal pode ocasionar dificuldade respiratória e até perfuração do septo. Rouquidão e dispneia surgem em consequência de lesão da laringe. Inicialmente discretas, as lesões neurais manifestam-se nos mesmos nervos acometidos no tipo tuberculóide (ulnar, mediano, ciático, poplíteo externo, tibial posterior). No surto reacional do tipo eritema nodoso, pode haver neurite aguda com maior compressão e destruição de fibras nervosas. Esses pacientes são altamente bacilíferos e contagiantes, apresentando reação de Mitsuda negativa. Intensa multiplicação bacilar e comprometimento vascular favorecem disseminações hematogênica e linfática do agente para diversos setores do organismo Fonte: site Research Gate. Hanseníase virchowiana. Acessado em 06/12/2020. https://www.researchgate.net/figure/Figura-11- Paciente-portador-de-hanseniase-virchowiana-papulas- e-infiltracao-na-helix-e_fig3_332655943 Fonte: site anatpat. Lâminas de hanseníase virchowiana. Acessado em 06/12/2020. http://anatpat.unicamp.br/laminfl19.html Fonte: site Repositório UFSC. Hanseníase virchowiana. Acessado em 06/12/2020. https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/17 5017/webpalestraDiagn%C3%B3sticoDiferencialHansen %C3%ADase.pdf?sequence=1&isAllowed=y HV Aspectos Histológicos. Histologicamente, na HV a epiderme torna-se atrófica e retificada, tendo faixa de derme subjacente desprovida de infiltrado inflamatório (faixa de Unna). Na derme, encontram-se grandes agrupamentos de macrófagos com citoplasma abundante e vacuolado (células de Virchow – Figuras 32.34 D e 4.37). https://www.researchgate.net/figure/Figura-11-Paciente-portador-de-hanseniase-virchowiana-papulas-e-infiltracao-na-helix-e_fig3_332655943 https://www.researchgate.net/figure/Figura-11-Paciente-portador-de-hanseniase-virchowiana-papulas-e-infiltracao-na-helix-e_fig3_332655943 https://www.researchgate.net/figure/Figura-11-Paciente-portador-de-hanseniase-virchowiana-papulas-e-infiltracao-na-helix-e_fig3_332655943 http://anatpat.unicamp.br/laminfl19.html https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/175017/webpalestraDiagn%C3%B3sticoDiferencialHansen%C3%ADase.pdf?sequence=1&isAllowed=y https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/175017/webpalestraDiagn%C3%B3sticoDiferencialHansen%C3%ADase.pdf?sequence=1&isAllowed=y https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/175017/webpalestraDiagn%C3%B3sticoDiferencialHansen%C3%ADase.pdf?sequence=1&isAllowed=y 5 Khilver Doanne Sousa Soares Linfócitos são raros, e os filetes nervosos são poupados ou penetrados pelo infiltrado. A parede dos vasos pode estar intensamente infiltrada. O infiltrado destrói os anexos cutâneos. Há grande número de bacilos íntegros, isolados ou em globias, no interior de macrófagos, filetes nervosos, vasos, músculos eretores de pelos e bainha de pelos. A coloração para gordura (Sudão III) é positiva. A regressão do infiltrado na pele e em outros órgãos se faz de modo semelhante: os macrófagos apresentam vacuolização acentuada, os núcleos tornam- se picnóticos, os bacilos mostram-se granulosos e há grande acúmulo de lipídeos no citoplasma; mais tarde, há proliferação de fibroblastos, fibrose e atrofia. Nos testículos, a fibrose leva a atrofia do parênquima e esterilidade; surgem ainda ginecomastia e outros caracteres sexuais femininos secundários. Na laringe, a fibrose causa modificações na voz e na respiração. +++ O fenômeno de Lúcio caracteriza-se por vasculite acentuada, com proliferação endotelial, obstrução da luz e trombose de vasos de médio calibre da derme e da hipoderme. O infiltrado mononuclear é discreto, com grande número de bacilos na parede e no endotélio dos vasos. Oclusão vascular causa necrose isquêmica, infartos hemorrágicos e ulcerações. No eritema nodoso hansênico, ocorre vasculite leucocitoclásica, com neutrófilos e eosinófilos. Em torno dos vasos, há raros bacilos fragmentados e agregados de células espumosas. Hanseníase Dimorfa ou Borderline. maioria dos pacientes com hanseníase encontram-se na hanseníase dimorfa (HD), com estado imunitário instável. O teste de Mitsuda pode ser positivo (paucibacilar – TTs (tuberculóide subpolar) ou DT (dimorfo tuberculose) ou negativo (multibacilar – DD (dimorfo-dimorfo), DV (dimorfo virchowiano) e VVs (virchowiano subpolar). O teste de Mitsuda é negativo nos casos que se aproximam do polo virchowiano (dimorfo virchowiano - DV), os quais têm baciloscopia positiva e predomínio de lesões infiltrativas de bordas difusas. Já os dimorfos mais próximos do polo tuberculóide (DT) representam um terço dos casos e mostram reação de Mitsuda fracamente positiva ou duvidosa; a baciloscopia é positiva, porém quantitativamente inferior aos DV. Predominam lesões cutâneas bem delimitadas sobre áreas de infiltração difusa. A HD tem comportamento instável do ponto de vista imunitário, com participação variável dos componentes tuberculóide e virchowiano. A maioria dos diagnósticos se faz com duas biópsias de lesões cutâneas distintas, em que uma revela estrutura tuberculóide, e a outra, virchowiana. Os dimorfos crônicos apresentam lesões com aspecto tuberculóide ou virchowiano. As lesões características são placas com pele normal no centro, borda interna de limite nítido e borda externa imprecisa. Em casos avançados, ainda com imunidade celular, pode haver surtos reacionais. Fonte: site Dermatopatologia. Hanseníase dimorfa. Acessado em 06/12/2020. https://dermatopatologia.com/doenca/hanseniase- dimorfa/ https://dermatopatologia.com/doenca/hanseniase-dimorfa/ https://dermatopatologia.com/doenca/hanseniase-dimorfa/ 6 Khilver Doanne Sousa Soares Fonte: site Slide Share. Hanseníase dimorfa. Acessado em 06/12/2020. https://www.slideshare.net/SMEdeItabaianinha/ps e-hanseniase/13 Fonte: site UFCAT. As classificações de Hanseníase. Acessado em 06/12/2020. https://catalao.ufg.br/n/121926- hanseniase-e-tema-de-participacao-de-docente-da-rc- em-programa-de-radio-local Introdução. O doente deve ser classificado em Paucibacilar ou Multibacilar pelos seguintes critérios: • Paucibacilar (PB) – Hanseníase Tuberculóide ou Indeterminada (doença localizada em uma região anatômica e/ou um tronco nervoso comprometido). • Multibacilar(MB) – Hanseníase Dimorfa ou Virchowiana (doença disseminada em várias regiões anatômicas e/ou mais de um tronco nervoso comprometido). O tratamento da hanseníase é realizado através da associação de medicamentos (poliquimioterapia – PQT) conhecidos como Rifampicina, Dapsona e Clofazimina. Deve-se iniciar o tratamento já na primeira consulta, após a definição do diagnóstico, se não houver contraindicações formais (alergia à sulfa ou à rifampicina). O paciente paucibacilar (PB) receberá uma dose mensal supervisionada de 600 mg de Rifampicina, e tomará 100 mg de Dapsona diariamente (em casa). O tempo de tratamento é de 6 meses (6 cartelas). Caso a Dapsona precise ser suspensa, deverá ser substituída pela Clofazimina 50 mg por dia, e o paciente a tomará também 300 mg uma vez por mês na dose supervisionada. O paciente multibacilar (MB) receberá uma dose mensal supervisionada de 600 mg de Rifampicina, 100 mg de Dapsona e de 300 mg de Clofazimina. Em casa, o paciente tomará 100 mg de Dapsona e 50 mg de Clofazimina diariamente. O tempo de tratamento é de 12 meses (12 cartelas). Caso a Dapsona precise ser suspensa, deverá ser substituída pela Ofloxacina 400 mg (na dose supervisionada e diariamente) ou pela Minociclina 100 mg (na dose supervisionada e diariamente). Caso haja náuseas, administre metoclopramida uma hora antes de tomar o medicamento. Para o tratamento de crianças com hanseníase, deve-se considerar o peso corporal como fator mais importante do que a idade, seguindo as seguintes orientações: para crianças com peso superior a 50 kg deve-se utilizar o mesmo tratamento prescrito para adultos; para crianças com peso entre 30 e 50 kg deve-se utilizar as cartelas infantis (marrom/azul); para crianças menores que 30 kg deve-se fazer os ajustes de dose conforme Quadro 4 a seguir: O número de casos notificados, no entanto, não representa a totalidade dos casos realmente existentes. Estudos de prevalência oculta estimam que aproximadamente 10 mil casos permanecem sem diagnóstico e que esse fato decorre de diversos fatores – alguns relacionados https://www.slideshare.net/SMEdeItabaianinha/pse-hanseniase/13 https://www.slideshare.net/SMEdeItabaianinha/pse-hanseniase/13 https://catalao.ufg.br/n/121926-hanseniase-e-tema-de-participacao-de-docente-da-rc-em-programa-de-radio-local https://catalao.ufg.br/n/121926-hanseniase-e-tema-de-participacao-de-docente-da-rc-em-programa-de-radio-local https://catalao.ufg.br/n/121926-hanseniase-e-tema-de-participacao-de-docente-da-rc-em-programa-de-radio-local 7 Khilver Doanne Sousa Soares a deficiências da rede de saúde pública, sendo o mais importante a insuficiência de profissionais capacitados para o reconhecimento e o diagnóstico, e outros relacionados ao desconhecimento, pela falta de informação da população acerca da doença, acrescida do estigma a ela relacionado. Em 2016, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 143 países reportaram 214.783 casos novos de hanseníase, o que representa uma taxa de detecção de 2,9 casos por 100 mil habitantes. No Brasil, no mesmo ano, foram notificados 25.218 casos novos, perfazendo uma taxa de detecção de 12,2/100 mil hab. No período entre 2001 e 2007 houve maior ocorrência de casos nas regiões Norte e Centro- Oeste, seguidas pela região Nordeste. Durante os anos mencionados, a região Norte apresentou um coeficiente médio de 69,40/100 mil habitantes, com valores situados entre 54,25/100 mil, (registrado em 2007) e 78,01/100 mil (registrado em 2003). Na região Centro-Oeste, o coeficiente apresentou um valor médio de 60,77/100 mil habitantes, variando entre 40,65/100 mil (2007) e 68,69/100 mil (2003). Durante o mesmo período, a média do coeficiente referente à região Nordeste foi de 35,48/100 mil habitantes, oscilando entre 31,53/100 mil (2007) e 38,75/100 mil (2004). Já na região Sudeste, o coeficiente subiu, entre 2001 e 2002, de 14,06/100 mil habitantes para 15,32/100 mil, vindo a apresentar uma queda em 2007, chegando a 9,75/100 mil. Na região Sul, onde foram registrados os valores mais baixos do país, o coeficiente passou de 7,44/100 mil, em 2001, para 8,50/100 mil, em 2002, caindo para 6,45/100 mil habitantes em 2007. Neste período, de 2001 a 2007, o valor médio do indicador para o Brasil foi de 26,26/100 mil habitantes. Houve uma ascensão de 26,61/100 mil, em 2001, para 29,34/100 mil, em 2003, seguida de uma queda até 21,08/100 mil, em 2007. Em 2007, o coeficiente de detecção de novos casos alcançou o valor de 21,08/100 mil habitantes e o coeficiente de prevalência, 21,94/100 mil habitantes no Brasil. A hanseníase é considerada uma doença influenciada pela trajetória histórica carregada de estigmas, crenças e valores atribuídos aos “leprosos”. As reações emocionais estão presentes no portador de hanseníase, que contribui no agravo da doença e são tão importantes quanto os sintomas físicos. O impacto da doença pode ser representado com muita emoção pelo indivíduo, despertando sofrimentos e incertezas com relação ao tratamento e ao padrão de vida. A hanseníase é considerada uma doença infectocontagiosa conhecida desde os tempos bíblicos como lepra (DAMASCO, 2005) e representa um grave problema de saúde pública. Além dos agravantes de origem socioeconômicos inerentes, surgem ainda, os agravantes psicológicos provocados pelas sequelas físicas que a doença induz. Esses fatores contribuem para a redução da autoestima, autoimagem e outras características emocionais e comportamentais do paciente. Os primeiros indícios do estigma em torno da hanseníase surgiram dos relatos bíblicos no qual doença era considerada um castigo ou punição. Leishmaniose A leishmaniose é causada por protozoários parasitas do gênero Leishmania que são transmitidos entre hospedeiros mamíferos de mosquitos flebotomíneos do sexo feminino. A doença tem uma série de manifestações clínicas que variam em gravidade até a cura espontânea são exemplos dessas manifestações as lesões cutâneas limitadas a disseminadas e a, doença visceral potencialmente fatal. O parasita existe como uma forma extracelular flagelada, o promastigota, no intestino flebotomíneo e como uma forma intracelular, o amastigota, que sobrevive e multiplica-se em um compartimento 8 Khilver Doanne Sousa Soares fagolisossomal de macrófagos no hospedeiro mamífero. Como a leishmaniose é uma doença complexa, aspectos clínicos são considerados em seções separadas para leishmaniose visceral (LV) e leishmaniose cutânea (LC). Fonte: site ibapcursos. A forma amastigota é intracelular e é encontrada no homem e a forma promastigota é a /que vive no intestino do mosquito. Acessado em 07/12/2020. https://ibapcursos.com.br/leishmaniase- leishmaniose-cutanea-tegumentar-visceral-calazar-e- tudo-mais-sobre-leishmania/ A infecção é inicialmente estabelecida na pele após a inoculação de promastigotas metacíclicos infectantes pelos flebótomos. Os peptídeos na saliva de flebotomíneos causam vasodilatação e eritema e ajudam a estabelecer a infecção na camada dérmica da pele. As respostas iniciais à infecção envolvem a infiltração de neutrófilos e invasão de macrófagos residentes. O progresso da doença depende das espécies de parasitas e respostas do hospedeiro (a progressão da doença depende da manutenção de um estado imunossupressor específico do parasita). Macrófagos de células hospedeiras ficam em um estado desativado, mas a cura segue quando os macrófagos são ativados e matam os parasitas, que são sensíveis ao óxido nítrico e radicais de oxigênio no compartimento fagolisossomal. A resolução da doença após a ativação de macrófagos é mediada pela resposta da célula T-helper T1 após a interação entre as células apresentadoras de antígenos (ex. células dendríticas) com células T CD4+ e CD8+ e secreção subsequente de citocinas pró-inflamatórias [ex. a interleucina-1 (IL-12), o interferon-γ, fator-α de necrose tumoral].Em formas clínicas, tais como LV ativa ou LC difusa, uma resposta da célula T2 2 predomina e a redução da atividade de macrófagos acompanha a produção de citocinas, tais como IL- 4, IL-10, IL-13, e fator-β de crescimento transformador. O aparecimento de LV, muitas vezes referida como calazar quando causada por L donovani, ocorre de semanas a meses após a infecção inicial. Os sinais clínicos e sintomas não distinguem LV da esplenomegalia malarial hiper- reativa ou outras doenças infecciosas ou hematológicas. Anemia, leucopenia, trombocitopenia, inflamação sistêmica, ou hipergamaglobulinemia policlonal, isolados ou combinados, sugere, mas não confirma o diagnóstico. Testes parasitológicos são, portanto, indispensáveis antes de tomar uma decisão terapêutica. Fonte: site cczniteroirj. Leishmaniose visceral, período inicial. Acessado em 06/12/2020. http://cczniteroirj.blogspot.com/2015/09/leishmaniose- visceral.html Diagnóstico 1. Parasitologia. Visualização microscópica de amastigotas em amostras dos gânglios linfáticos, medula óssea, fígado, baço, ou de outros órgãos é normalmente o primeiro passo. A reação em cadeia da polimerase (PCR) é mais sensível que o exame microscópico e tornou-se o teste de primeira linha em vários hospitais de referência e centros de pesquisa. PCR quantitativo com limiares validados permite o diagnóstico preciso com amostras de sangue venoso, evitando assim a aspiração da medula óssea; https://ibapcursos.com.br/leishmaniase-leishmaniose-cutanea-tegumentar-visceral-calazar-e-tudo-mais-sobre-leishmania/ https://ibapcursos.com.br/leishmaniase-leishmaniose-cutanea-tegumentar-visceral-calazar-e-tudo-mais-sobre-leishmania/ https://ibapcursos.com.br/leishmaniase-leishmaniose-cutanea-tegumentar-visceral-calazar-e-tudo-mais-sobre-leishmania/ http://cczniteroirj.blogspot.com/2015/09/leishmaniose-visceral.html http://cczniteroirj.blogspot.com/2015/09/leishmaniose-visceral.html 9 Khilver Doanne Sousa Soares 2. Sorologia. Testes sorológicos com base em imunofluorescência indireta (IFI), ensaio imunossorvente ligado a enzima (ELISA), ou o alto desempenho de exibição de Western blot, requer equipamento que está mal adaptado à realidade de campo. O teste de aglutinação direta amigo do campo (DAT) e imunocromatografia usando o antígeno rK39 têm alta precisão e podem ser usados em centros de saúde periféricos. Obs.: seja qual for o teste sorológico utilizado, anticorpos específicos permanecem detectáveis por vários anos após a cura ou infecção assintomática. Neste grupo, os médicos podem pedir investigações para LV, mesmo na ausência de sinais clássicos (p. ex., a falta de esplenomegalia). Uma parte substancial de pacientes LV-HIV coinfectados pode ter outras infecções oportunistas que dificultam o diagnóstico clínico. A carga parasitária é geralmente mais elevada e parasitas podem ser encontrados em locais incomuns, especialmente em pacientes gravemente imunocomprometidos. Portanto, a sensibilidade do exame microscópico, cultura, PCR de sangue (sangue normal ou crosta inflamatória) ou aspirados de medula óssea é maior do que em pacientes LV imunocompetentes. Embora os sinais e sintomas da LC variem consideravelmente (desde lesões nodulares puras para o desenvolvimento de úlceras por lesões crostosas, secas e placas escamosas), existem algumas características bastante constantes. Primeiro, a infiltração firme é quase constante (com exceção da mácula inicial de leishmaniose dérmica pós-calazar). Em segundo lugar, a evolução é subaguda, que é um critério útil na prática. Uma lesão que atinge seu tamanho máximo em menos de uma semana é mais provável que não se deva a LC. Exceto em pacientes com papulopústulas satélite muito numerosas, a lesão ou lesões são bem definidas. A colonização da ulceração da LC com as bactérias pode dar uma aparência da lesão purulenta, enquanto a superinfecção patente adiciona um anel eritematoso distintamente transbordando a margem infiltrada da ulceração, enquanto uma lesão geralmente fria e indolor torna-se quente e dolorosa. Obs.: várias condições dermatológicas (úlcera por micobactérias, hanseníase, infecção fúngica, câncer, etc.) tem lesões muito similares à LC e LM e como o tratamento é muito oneroso, a confirmação do diagnóstico é necessária. +++ Manifestações Complexas de Leishmaniose Cutânea Leishmaniose Mucosa. Sua proporção é de cerca de 1% a 10% no Brasil e Peru (causada por Leishmania braziliensis ou L. guyanensis). progridem para uma infecção metastática da mucosa da cavidade oral/nasal ou laringe, frequentemente 1 a 5 anos após a cura da lesão cutânea inicial simples. A imunopatologia resulta em extensa destruição de tecido local. Rinite alérgica, ou outras micoses profundas, cancrum oris, hanseníase e sarcoidose podem mimetizar as lesões da LM. A sorologia positiva (p. ex. IFI, ELISA) ou LST indicam possível LM. PCR provou ser a abordagem mais sensível para confirmar LM; Leishmaniose Cutânea Difusa. Os portadores têm uma resposta anérgica para antígenos de Leishmania e nódulos não ulcerativos, carregados com parasitas, se disseminam a partir do local inicial da infecção para múltiplos locais no corpo do paciente. Não existe cura espontânea e o tratamento é difícil. Esta forma da doença é encontrada na América do Sul e na África Oriental, muitas vezes associada à infecção por Leishmania amazonensis e Leishmania aethiopica; Leishmaniose Cutânea Recidivante. é caracterizada pelo desenvolvimento de lesões contendo tecido granulomatoso. Muitas vezes as lesões levam muitos anos para cicatrizar e podem surgir anos após a cura de uma lesão simples 10 Khilver Doanne Sousa Soares localizada. Novas úlceras e pápulas podem se formar ao longo da borda da antiga cicatriz. As infecções normalmente estão associadas a infecção por L. tropica e são difíceis de tratar. Fonte: site Vetsmart. Leishmaniose tegumentar (cutânea). Acessado em 06/12/2020. https://www.vetsmart.com.br/cg/estudo/13097/enfermida des-transmitidas-por-vetores-leishmaniose-visceral- canina-no-brasil Fonte: site Scielo. Lesões ulceradas e papulares de pacientes com leishmaniose cutânea em Manaus, Amazonas, BR. Cepas identificadas por eletroforese enzimática como Leishmania. Acessado em 06/12/2020. https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0 044-59672017000100047 Fonte: site esquerda diário. Leishmaniose cutânea. Acessado em 06/12/2020. https://esquerdadiario.com.br/Perigosa-doenca-que-pode- ser-letal-avanca-sobre-Sao-Paulo Diagnóstico 1. Parasitologia. A raspagem, aspiração por agulha fina ou biópsia das lesões fornece amostras adequadas em que amastigotas podem ser identificadas. A raspagem deve ser realizada no centro e bordas da lesão com uma lâmina curva de bisturi. A anestesia local reduz consideravelmente o desconforto dos pacientes e aumenta a sensibilidade. Usando adrenalina contendo anestésico local (contraindicado para lesões nas extremidades) ou beliscar a lesão entre o polegar e o dedo até branqueamento parece que ajuda a obter uma raspagem sem derramamento de sangue. O material obtido por qualquer um destes métodos pode ser utilizado para exame microscópico, cultura e PCR. O exame microscópico do material por coloração de Giemsa é o método mais amplamente disponível. Cultura do parasita em meios específicos (como o soro fetal bovino, suplementado Schneider ou meio Novy-Nicolle McNeal) permite a identificação, caracterização e armazenamento da amostra isolada. A detecção de ácidos nucleicos parasitários por diagnóstico molecular (principalmente PCR) aumenta a sensibilidade e permite a identificação de espécies de Leishmania; Obs.: Tanto o diagnóstico por cultura quanto o de base molecular requerem infraestrutura laboratorial substancial e conhecimento técnico. 2. Sorologia. O diagnóstico sorológico é de uso limitado para LC por causa da baixasensibilidade e especificidade variável. O teste de Leishmania (ou Montenegro) (LST) avalia a resposta mediada por células contra Leishmania spp. O LST requer cultura e fixação de preferencialmente espécies locais de Leishmania e, portanto, falta padronização. Há três tipos de leishmaniose: cutânea, mucocutânea e visceral. (Nota: no tipo visceral https://www.vetsmart.com.br/cg/estudo/13097/enfermidades-transmitidas-por-vetores-leishmaniose-visceral-canina-no-brasil https://www.vetsmart.com.br/cg/estudo/13097/enfermidades-transmitidas-por-vetores-leishmaniose-visceral-canina-no-brasil https://www.vetsmart.com.br/cg/estudo/13097/enfermidades-transmitidas-por-vetores-leishmaniose-visceral-canina-no-brasil https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0044-59672017000100047 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0044-59672017000100047 https://esquerdadiario.com.br/Perigosa-doenca-que-pode-ser-letal-avanca-sobre-Sao-Paulo https://esquerdadiario.com.br/Perigosa-doenca-que-pode-ser-letal-avanca-sobre-Sao-Paulo 11 Khilver Doanne Sousa Soares [fígado e baço], o parasita está na corrente sanguínea e pode causar vários problemas graves). Contra a leishmaniose visceral, o tratamento parenteral pode incluir anfotericina B e antimoniais pentavalentes, como o estibogliconato de sódio, com pentamidina e paromomicina como fármacos alternativos. Miltefosina é um fármaco oral contra a leishmaniose visceral. A escolha do fármaco depende da espécie de Leishmania, de fatores do hospedeiro e do padrão de resistência notado na área geográfica onde a infecção foi adquirida. Estibogliconato de Sódio. O estibogliconato de sódio não é eficaz in vitro. Por isso, foi proposto que a redução ao composto antimonial trivalente é essencial para a atividade. O mecanismo de ação exato não foi determinado. Como não é absorvido por administração oral, o estibogliconato de sódio deve ser administrado por via parenteral e se distribui no compartimento extravascular. Os efeitos adversos incluem dor no local de injeção, pancreatite, aumento das enzimas hepáticas, artralgias, mialgias, distúrbios GI e arritmias cardíacas. As funções hepática e renal devem ser monitoradas periodicamente. Miltefosina. A miltefosina é o primeiro fármaco ativo por via oral contra a leishmaniose visceral. Ele também pode ter alguma atividade contra formas cutâneas e mucocutâneas da doença. A miltefosina parece interferir com fosfolipídeos na membrana celular do parasita, induzindo apoptose. Náuseas e êmese são efeitos adversos comuns. Este fármaco é teratogênico e deve ser evitado durante a gestação. Referências BRASIL. Ministério da Saúde. Guia prático sobre a Hanseníase. Brasília, 2017. SOUZA, Aldalea Oliveira de; MARTINS, Maria das Graças Teles. Aspectos Afetivos e Comportamentais do Portador de Hanseníase Frente ao Estigma e Preconceito. Revista de Iniciação Científica da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v.8, n.1, p.104-113, 2018. KUMAR, V., ABBAS, A.K., FAUSTO, N., ASTER, J.C. Robbins & Cotran Patologia: Bases Patológicas das Doenças. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. FINKEL, Richard; PANAVELIL, Thomas a.; WHALEN, Karen. Farmacologia Ilustrada. Porto Alegre: Artmed, 2016. Brasileiro, Geraldo Filho. Bogliolo Patologia. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________
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