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Leishmaniose Amanda Reis Viol FILO RHIZOPODA: refere-se aos protozoários rizópodos, ou seja, que se locomovem por pseudópodes. Ex: Entamoeba sp FILO APLICOMPLEXA: refere-se aos protozoários esporozoários, ou seja, que não possuem meios de locomoção. Ex: Toxoplasma gondii, Plasmodium sp. FILO ZOOMASTIGOPHORA: engloba os protozoários que apresentam flagelos como estrutura de locomoção. Ex: Trypanosoma sp (Filo Kinetoplastida), Leishmania sp (Filo Kinetoplastida), Trichomonas vaginalis (Filo Parabasilida), Giardia duodenalis (Filo Diplomonadida). FILO CILIOPHORA: engloba os protozoários ciliados, ou seja, que possuem cílios como meio de locomoção. Ex: Balantidium coli. PROTOZOÁRIOS SERES VIVOS REINO PLANTAE REINO MONERA REINO PROTOCTISTA REINO FUNGI REINO ANIMALIA ALGAS • O gênero Leishmania pertence a ordem Kinetoplastida, à família Trypanossomatidae e agrupa espécies de protozoários unicelulares e digenéticos (heteroxenos). • Formas: promastígota, flageladas livres ou aderidas ao trato digestivo dos hospedeiros invertebrados, e amastigota, sem flagelo livre, parasito intracelular do hospedeiro vertebrado. • Reprodução: divisão binária simples em ambos os hospedeiros • Hospedeiros vertebrados: roedores, canídeos, edentados, marsupiais, homem. Hospedeiros invertebrados: fêmeas de inseto hematófagos conhecidos como flebotomíneos (gênero Lutzomyia). • Transmissão: picada do inseto infectado no momento da hematofagia Hospedeiro vertebrado Os hospedeiros vertebrados são infectados quando formas promastIgotas metacíclicas são inoculadas pelas fêmeas dos insetos vetores, durante o repasto sanguíneo. Estes insetos possuem o aparelho bucal muito curto e adaptado para dilacerar o tecido do hospedeiro, formando condições para obter o sangue durante a alimentação. A saliva do inseto é inoculada neste ambiente e exerce papel importante como anticoagulante, vasodilatadora e antiagregação de plaquetas, favorecendo o fluxo de sangue e a linfa intersticial para o alimento. Além destes efeitos, sabe-se que fatores presentes na saliva de flebotomíneos têm ação quimiotática para monócitos e imunorregulador, com capacidade de interagir com os macrófagos, aumentando sua proliferação e impedindo a ação efetora destas células na destruição dos parasitos. A saliva de Lutzomyia longipalpis contém o mais potente vasodilatador conhecido, o maxidilan, que além desta ação parece ser responsável pela maioria dos efeitos imunomodulatórios da saliva deste Introdução Ciclo Biológico A leishmaniose é transmitida pela picada de flebotomíneas infectadas. Ao se alimentarem de sangue, as flebotomíneas injetam promastigotas metacíclicos (o estágio infeccioso) de sua probóscide Os promastigotas são fagocitados pelos macrófagos e outras células mononucleares fagocíticas. Nessas células, os promastigotas se transformam em amastigotas (o estágio tecidual) Os amastigotas se multiplicam por divisão simples e infectam outras células fagocíticas mononucleares Flebotomíneas se alimentam do sangue de um hospedeiro infectado. Flebotomíneas são infectadas pela ingestão de macrófagos infectados por amastigotas. No intestino médio das flebotomíneas, os amastigotas se transformam em promastigotas Aí, se multipl icam, se desenvolvem e migram para a probóscide. Estágio infeccioso Estágio de diagnóstico MOSQUITO HUMANO inseto sobre a célula hospedeira, durante a transmissão de Leishmania. As formas promastígotas metacíclicas são resistentes a lise pelo complemento, pelas modificações estruturais no LPG. Durante o processo de endocitose do parasito, por causas fisiológicas, a célula hospedeira aumenta intensamente a sua atividade respiratória. Os produtos liberados deste processo, com a formação de óxido nítrico, dos radicais l ivres óxidos, hidroxilas, hidróxidos e superóxidos ,são conhecidos por serem altamente lesivos para membranas celulares. Os parasitos necessitam da utilização de mecanismos de escape a este ataque. Novamente o LPG aparece como uma molécula protetora contra a ação destes radicais. O parasito é então internalizado pelas células de Langerhans da derme, embora não se reproduzam aí. A rápida transformação em amastigotas é outra forma de evadir ao ataque do hospedeiro. A amastigota inicia o processo de sucessivas multiplicações. Na ausência do controle parasitário pela célula hospedeira, esta se rompe e as amastigotas liberadas serão, por mecanismo semelhante, internalizadas por outros macrófagos. Hospedeiro invertebrado A infecção para o hospedeiro invertebrado ocorre na ingestão, no momento do repasto sanguíneo em indivíduo ou animal infectado, das formas amastigotas que acompanham o sangue e/ou a linfa intersticial. O alimento, no intestino médio do inseto, é rapidamente envolvido por uma membrana quitinosa, secretada pelas células epiteliais do intestino, a matriz peritrófica. No interior desta matriz, após cerca de 18-24 horas, as amastigotas se transformam em flagelados pequenos, o v ó i d e s , p o u c o m ó v e i s . A p ó s aproximadamente 3 e 4 dias de multiplicação intensa, ocorre a transformação em formas promastigotas. Para fixar… • A forma que causa a doença é a amastigota; • A forma de transmissão é a promastigota; • Pode haver infecção por amastigota em transplante de órgãos ou transfusão de sangue; • O diagnóstico é feito através da visualização de amastigota; • O medicamento age na amastigota, que é a forma presente no homem; • A forma promastigota só está presente no homem no momento da transmissão. Classificação taxonômica Subgênero Leishmania Subgênero Viannia L. (L.) donovani*** L. (L.) infantum*** L. (L.) chagasi*** L. (L.) archibaldi L. (L.) tropica** L. (L.) aethiopica ** L. (L.) major** L. (L.) gerbilli L. (L.) mexicana L. (L.) amazonensis* L. (L.) venezuelensis L. (L.) enriettii L. (L.) aristidesi L. (L.) pifanoi L. (L.) hertigi L. (L.) deanei L. (V.) braziliensis* L. (V.) guyanensis* L. (V.) panamensis L. (V.) peruviana L. (V.) lainsoni* L. (V.) naiffi* L. (V.) shawi* L. (V.) colombiensis L. (V.) lindenberg * determinantes da Leishmaniose Tegumentar Americana no Brasil ** determinantes da Leishmaniose Tegumentar do Velho Mundo *** determinantes da Leishmaniose Visceral Principais espécies do gênero Leishmania Introdução A leishmaniose tegumentar americana (LTA) é uma doença de caráter zoonótico que acomete o homem e diversas espécies de animais silvestres e domésticos, podendo se manifestar através de diferentes formas clínicas. É considerada uma enfermidade polimórfica e espectral da pele e das mucosas. As principais manifestações observadas nos pacientes com LTA podem ser classificadas de acordo com seus a s p e c t o s c l í n i c o s , p a t o l ó g i c o s e imunológicos. A forma cutânea localizada é caracterizada por lesões ulcerosas, indolores, únicas ou múltiplas; a forma cutaneomucosa é caracter izada por lesões mucosas a g re s s i v a s q u e a f e t a m a s r e g i õ e s nasofar íngeas; a forma disseminada apresenta múltiplas úlceras cutâneas por disseminação hematogênica ou linfática e, finalmente, a forma difusa com lesões nodulares não-ulceradas. Atualmente são conhecidas várias espécies de Leishmania que causam a leishmaniose tegumentar: 1. L. (V.) braziliensis; (no Brasil) 2. L. (V.) guyanensis; 3. L. (V.) lainsoni; 4. L. (V.) shawi; 5. L. (V.) naiffi; 6. L. (L.) amazonensis Aspectos imunológicos Na modulação da resposta imune, o macrófago apresenta os antígenos aos l i n fóc i t os T CD4+ , que podem se r s u b d i v i d i d o s e m p e l o m e n o s d u a s subpopulações: Th1 e Th2. A resistência do hospedeiro está associada a ativação seletiva e diferenciação de células efetoras T helper CD4+ (Th1), as quais secretam um padrão de citocinas específicas, IL-2, INF-y, IL-12 e TNF-alfa, conhecidos como citocinas pré-inflamatórias,que destroem as amastigotas e acarretam na cura clínica da doença. Por outro lado, a suscetibilidade a infecção está relacionada com a resposta de células CD4+ (Th2), que secretam citocinas específicas do tipo IL-4, IL-5, IL-6, IL-10, TGF-beta, dentre outras, que inibem a ativação clássica do macrófago e acarreta a disseminação da infecção e cronificação da doença. Os mecanismos que levam a infecção preferencial e/ou expressão das diferentes classes de células CD4+ ainda não estão completamente esclarecidos. Na forma cutânea localizada observa-se uma correção com a resposta do tipo Th1, histologicamente caracterizada como um processo granulomatoso tipo tuberculóide, com proliferação linfocitária e plasmocitária marcada por ausência ou escassez de parasitos. A imunidade celular é facilmente detectada, mas, ao contrário do que ocorre nas formas auto-resolutivas, a doença progride, podendo evoluir para a forma cutaneomucosa, a qual apresenta expressão simultânea de citocinas Th1 e Th2, ou seja, um padrão Th0. A leishmaniose cutâneo-difusa está correlacionada com a resposta do tipo Th2, na qual existe uma infiltração dérmica de macrófagos, habitualmente vacuolizados, repletos de amastigotas e com escassez de linfócitos, caracterizando um padrão de suscetibilidade em humanos. Formas clínicas Um amplo espectro de formas pode ser visto na leishmaniose tegumentar americana, variando de uma lesão auto-resolutiva a lesões desfigurantes. Esta variação está intimamente ligada ao estado imunológico do paciente e as espécies de Leishmania. As formas clínica são agrupadas em três tipos básicos: leishmaniose cutânea (LC), leishmaniose cutaneomucosa (LCM) e leishmaniose cutânea difusa (LCD). Leishmaniose Tegument! Americana A u lce ração é c rôn ica , i ndo lo r, normalmente de contorno irregular e com bordas salientes (protozoário sempre na borda). PROFILAXIA O controle de leishmaniose tegumentar americana é difícil nas vastas áreas florestais do Brasil e, no presente momento, é insolúvel. Recomenda-se: • Utilização de repelentes e mosquiteiros; • Construção de casa com distância mínio de 500 m da mata Diagnóstico Clínico O diagnóstico clínico da LTA pode ser feito com base na característica da lesão que o paciente apresenta, associado a anarnnese, na qual os dados epidemiológicos são de grande importância. Deve ser feito o diagnóstico diferencial de outras dermatoses granulomatosas que apresentam lesões semelhantes à LTA e que podem ser confundidas, como tuberculose cutânea, hanseníase, infecções por fungos (blas- tomicose e esporotricose), úlcera tropical e neoplasmas. Laboratorial Pesquisa do parasito: exame direto de esfregaço corado* (raspagem da borda da lesão ou biópsia; punção da borda da lesão), exame histopatológico, cultura, inóculo em animais. Pesquisa do DNA do parasito: PCR Imunológicos: teste de Montenegro, reação de imunofluorescência indireta (RIFI) [pode dar reação cruzada dentro do gênero e com T. cruzi, PCR (sensível e identifica o gênero) Teste de Montenegro: é o teste imunológico mais utilizado no Brasil. Ele avalia a reação de CUTÂNEA CUTÂNEOMUCOSA CUTÂNEA DIFUSA hipersensibilidade retardada do paciente. Vários antígenos podem ser empregados para o teste de Montenegro, sendo que um antígeno que usa formas promastígotas: mortas foi padronizado. O teste consiste no inóculo de 0,1ml de antígeno intra-dermicamente na face interna do braço. No caso de rações positivas, verifica-se o estabelecimento de uma reação inflamatória local formando um nódulo ou pápula que atinge o auge em 48-72 horas, regredindo então. A intensidade da reação varia bastante e até o momento não foi padronizada uma medida limite em que se possa dizer que o teste seja positivo ou negativo. Na interpretação dos resultados, dever sem observados os seguintes aspectos: • na forma cutânea simples, a reação inflamatória pode variar de acordo com a evolução da doença, sendo maior nas úlceras crônicas; • na forma mucosa, a reação inflamatória pode ser tão intensa a ponto de provocar flictemas e necrose, devido ao estado hiper- reativo do paciente; • na forma difusa, a resposta é usualmente negativa devido ao estado anérgico em que se encontra o paciente; • em pacientes tratados, instala-se uma i m u n i d a d e c e l u l a r d u r a d o u r a , permanecendo teste positivo durante mu i tos anos e , em a lguns casos , indefinidamente. TRATAMENTO O tratamento faz-se com o uso do antimonial tártaro emético. Atualmente utiliza-se um antimonial pentavalente, o Glucantime. O esquema terapêutico varia muito no Brasil, mas usualmente os resultados são excelentes u t i l i z a n d o - s e o s e g u i n t e e s q u e m a : 17mgSb5+/kg peso/dia, durante 10 dias. Faz- se um intervalo de 10 dias e novamente inicia- se outra série de tratamento durante 10 dias. A dose máxima por injeção deve ser de 10 ml, independente do peso do paciente. O número de séries necessárias varia de acordo com o processo de cura da lesão. Recomenda-se a continuação do tratamento até completa cicatrização da úlcera. A via de administração é geralmente intramuscular, mas também pode ser feito endovenoso ou local. A droga não deve ser utilizada em pacientes cardíacos e nem em mulheres grávidas, pois o antimônio pode provocar alterações eletro-cardiográficas e também é abortivo. No entanto, o Ministério da Saúde preconiza o uso de 20mgSb5+/kg peso/dia, durante 20 dias, para a leishmaniose cutânea e 30 dias para leishmaniose cutaneomucosa. Este antimonial é indicado para o tratamento de todas as formas de leishmaniose tegumentar, embora as formas mucosas exijam maior cuidado, podendo apresentar respostas mais lentas e maior possibilidade de recidivas. As lesões ulceradas podem sofrer contaminação secundária, razão pela qual devem ser prescritos cuidados locais como limpeza com água e sabão e se p o s s í v e l c o m p r e s s a s c o m K M n O 4 (permaganato de potássio) na diluição de 1/5.000ml de água. Em casos de resistência ao tratamento, pode ser utilizado o isotianato de pentamidina ou a anfotericina B. Atualmente está sendo testado, com promissores resultados, um tratamento local utilizado um unguento de paramomicina a 15% e cloridrato de metilbenzotônio a 12%. Introdução A doença é crônica, grave, de alta letalidade se não tratada, e apresenta aspectos clínicos e epidemiológicos diversos e característicos, para cada região onde ocorre. Os fatores de risco para o desenvolvimento da doença incluem a desnutrição, o uso de drogas imunossupressoras e a co-infecção com HIV. A leishmaniose visceral é causada, em todo o mundo, por parasitos do complexo L. donovani que inclui três espécies de Leishmania: • Leishmania (Leishmania) donovani; • Leishmania (Leishmania) infantum; • Leishmania (Leishmania) chagasi. Nas Américas, Leishmania (Leishmania) chagasi é a espécie responsável pelas formas clínicas da leishmaniose visceral. Quadro clínico É uma doença infecciosa sistêmica, de evolução crônica, caracterizada por febre irregular de intensidade média e de longa duração, palidez de mucosas, esplenomegalia assoc iada ou não a hepatomegal ia , acompanhada dos sinais biológicos de anemia, leucopenia, trombocitopenia, hipergamaglobulinemia e hipoalbuminemia. A linfoadenopatia periférica é comum em alguns focos da doença. O emagrecimento, o edema e o estado de debilidade progressiva contribuem para a caquexia e o óbito, se o paciente não for submetido ao tratamento específico. Entretanto, há evidências de que muitas pessoas que contraem a infecção n u n c a d e s e n v o l v e m a d o e n ç a , s e recuperando espontaneamente, ou mantendo equilíbrio da infecção e se apresentando sempre como assintomáticas. Forma assintomática: febre baixa recorrente, tosse seca, diarréia, sudorese, prostração e apresentar cura espontâneaou manter o parasito, sem nenhuma evolução clínica por toda a vida. Forma aguda: febre alta, palidez de mucosas e hepatoesplenomegalia discretas. A evolução em geral e não ultrapassa dois meses. Muitas vezes o paciente apresenta tosse e diarréia. Clinicamente, é confundida com febre tifóide, malária, esquistossomose, doença de Chagas aguda, toxoplasmose aguda, histoplasmose, entre outras doenças febris agudas que apresentam hepatoesplenomegalia. Os pacientes apresentam altos títulos de IgG anti-Leishmania. Fo rma c r ôn i c a : forma de evolução prolongada, também chamada período de estado, caracterizada por febre irregular e associada ao contínuo agravamento dos sintomas. O emagrecimento é progressivo e conduz o paciente para desnutrição protéico- calórica, caquexia acentuada, mesmo com apetite preservado. A hepatoesplenomegalia associada à ascite determinam o aumento do abdome. É comum edema generalizado, dispnéia, cefaléia, dores musculares, perturbações digestivas, epistaxes e retardo da puberdade. Ciclo biológico No hospedeiro vertebrado, as formas amastígotas de L. chagasi são encontradas parasitando células do sistema mononuclear fagocitário (SMF), principalmente macrófagos. No homem, localizam-se em órgãos linfóides, como medula óssea, baço, f ígado e linfonodos, que podem ser encontrados densamente parasitados. O parasitismo pode envolver outros órgãos e tecidos, como os rins, placas de Peyer no intestino, pulmões e a pele. Raramente, as amastigotas podem ser Leishmaniose Visceral Americana encontradas no sangue, no interior de leucócitos, íris, placenta e timo. No hospedeiro invertebrado, Lutzomyia longipalpis, são encontradas no intestino médio e anterior nas formas paramastígota, promastigota e promastígota metacíclica. Transmissão O principal mecanismo de transmissão nas condições naturais e de importância epidemiológica universal ocorre normal através da picada da fêmea de L. longipaalpis. Outros mecanismos: - Uso de drogas injetáveis: compartilhamento de seringas e agulhas contaminadas; - Transfusão sanguínea: requer que o parasito esteja presente no sangue periférico do doador e sobreviva ao processo de estocagem no banco de dados; - Transmissão congênita e acidente de laboratório Aspectos imunológicos A leishmaniose visceral é caracterizada pela incapacidade do macrófago em destruir as amastigotas . Nos doentes, tem sido observada a produção de níveis elevados de IL-10. O aumento de IL-10 em sinergismo com IL-4 parece ser fundamental na progressão da doença, desde que ambas são capazes de inibir: a ativação de macrófagos pelo INF-y produzido pelas células TCD4+; a transcrição do TNF-alfa; e a produção de H2O2. A produção de anticorpos, principalmente IgG, é muito elevada. Entretanto, como a ativação de LB é policlonal, a maioria das imunoglobulinas são inespecíficas. A presença de anticorpos específicos contra Leishmania é importante, principalmente para o diagnóstico. Esses eventos perpetuam a infecção, t o r n a n d o a d o e n ç a p r o g r e s s i v a e eventualmente letal, se não controlada. O curso da infecção é dependente, ainda, da capacidade do hospedeiro em estabelecer uma resposta imune mediada por células. Ind iv íduos ass intomát icos ou pós- tratamento apresentam resposta celular do tipo hipersensibilidade tardia, positiva para antígenos do parasito, o teste de Montenegro. Após a terapêutica específica, os níveis de anticorpos caem drasticamente. Patogenia A pele é a porta de entrada para a infecção. A inoculação das formas infectantes é acompanhada da saliva do inseto vetor, que é r i ca em subs tânc ias com a t i v idade inflamatór ia . Esta at iv idade é muito importante para o aumento de células fagocitárias neste local e crucial para a instalação da infecção. Alguns indivíduos podem desenvolver uma lesão nodular local (leishmanioma), sendo transitória. O processo pode evoluir para a cura espontânea ou, a partir da pele, ocorrer a migração dos parasitos, principalmente para os linfonodos, seguida da migração para as vísceras. Nas vísceras, os parasitos induzem uma infiltração focal ou difusa de macrófagos não- parasitados, além de infiltrado de linfócitos e cé lu las p lasmát icas , com focos de plasmacitogênese. As alterações mais particulares são descritas nos tecidos esplênico, hepático, sanguíneo, pulmonar e renal. A via de disseminação de Leishmania pode ser hematogênica e/ou linfática. Leishmania chagasi raramente tem sido encontrada no sangue periférico humano de indivíduos considerados imunocompetentes; no entanto, em cães ou raposas este achado é frequente. A patogenia da doença é determinada por mú l t i p los f a to res que envo l vem os hospedeiros, como fatores genéticos determinantes da susceptibilidade para a infecção e para a cura, o estado imunológico e nutricional do indivíduo. Baço Esplenomegalia é o achado mais importante e freqüente no calazar. Na fase inicial da doença, a esplenomegalia pode não ocorrer ou ser pouco acentuada, mas na doença estabelecida e crônica toma-se uma característica invariável. Ao corte, o órgão apresenta superfície vermelha amarronzada e o tecido friável e congesto. Podem ser identificadas áreas de infarto. A cápsula é espessa e mostra áreas de inflamação. Ocorre hiperplasia e hipertrofia das células do SMF, os macrófagos e as células plasmáticas podem ser observados densamente parasitados, na polpa branca e vermelha. Na polpa branca, no entanto, o parasitismo é menos frequente e há diminuição da p o p u l a ç ã o d e c é l u l a s e m á r e a s T dependentes. Fígado O órgão mantém consistência firme e ocasionalmente mostra congestão passiva. Ocorre hiperplasia e hipertrofia das células de Kupffer, em geral densamente parasitadas. É frequente a presença de infiltrado difuso de c é l u l a s , p l a s m á t i c a s e l i n f ó c i t o s , intraparenquimal. Podem ser observadas fibrose septal e portal, leve ou moderada, ao longo do infiltrado inflamatório. A deposição de material hialino, PAS positivo, no espaço de Disse é um achado comum e associado a espessamento reticular e áreas de fibrose intralobular (fibrose de Rogers). Hiperplasia regenerativa nodular difusa tem sido relatada em casos de associação HIV/Leishmania. Estas alterações contribuem possivelmente para a grave desproteinemia que ocorre em pacientes com calazar. Os baixos níveis de albumina associados a fatores vasculares locais podem levar a formação de edema dos membros inferiores. Medula Óssea A medula óssea é em geral encontrada com hiperplasia e densamente parasitada. A eritropoese e granulopoese são normais no início do processo infeccioso. Durante as fases mais adiantadas da infecção, ocorre desregulação da hamatopoese, caracterizada pela diminuição da produção celular, com reflexo no quadro hematológico em períodos sucess ivos : a ) h iperp las ia no se to r histiocitário; b) hipoplasia no setor formador de sangue e, por fim, c) aplasia. A anemia é o achado mais frequente nos indivíduos doentes, sendo em geral, normocítica e normocrômica. Entre os mecanismos envolvidos na anemia está a destruição dos eritrbcitos no baço, a fagocitose e a hemólise. Na contagem diferencial de leucócitos é frequente a ausência de eosinófilos e basófilos e, marcadamente reduzida, a presença de neutrófilos, caracterizando a leucopenia. A contagem ab-soluta de linfócitos e monócitos é usualmente baixa, porém, em termos percentuais, na contagem total é alta. As plaquetas também estão diminuídas nos quadros graves e letais, principalmente nas fases mais adiantadas da doença, o que facilita a gênese de hemorragias. Rim A principal alteração que ocorre nos rins está r e l a c i o n a d a c o m a p r e s e n ç a d e imunocomplexos circulantes. Em muitos casos ocorre glomerolonefrite proliferativa e nefrite intersticial. Em decorrênciadas lesões renais, ocorrem distúrbios de sua função. As formas amastigotas de Leishmania são raramente visualizadas. Linfonodos Os linfonodos encontram-se frequentemente aumentados. Pulmões Nos pulmões ocorre, com relativa frequência, pneumonite intersticial com o espessamento dos septos pulmonares, devido a tumefação endotelial e proliferação das células septais, as vezes com fibrose septal, e de linfócitos e células plasmáticas. As amastigotas são raras ou ausentes no pulmão. Como resultado do envolvimento pulmonar, pacientes apresentam como principal sintoma a tosse seca. Em consequênc ia desse quadro de pneumonia intersticial associada a infecções secundárias, o paciente pode desenvolver broncopneumonia, que é uma importante causa de óbito na doença. Diagnóstico Clínico Baseia-se nos sinais e sintomas apresentados pelos pacientes associados a história de residência em área endêmica. Entretanto, é preciso especial atenção para outras doenças que apresentam sintomatologia semelhante, como malária, toxoplasmose, brucelose, t u b e r c u l o s e e e s q u i s t o s s o m o s e , principalmente em áreas onde ocorre a superposição na distribuição das doenças. Nos pacientes com AIDS, portadores do vírus HIV, de doenças malignas, como linfomas e lúpus eritematoso sistêmico, e naqueles submetidos a transplantes de órgãos, em uso de drogas contra a rejeição, os sinais e sintomas do calazar podem ser influenciados e m o d i fi c a d o s , d e f o r m a q u e a s manifestações clínicas não mantenham as suas características. Laboratorial Pesquisa do parasito: punção de medula, f ígado, baço (amstigotas dentro dos macrófagos); sangue (amastigotas no creme leucocitário) Imunológicos: ELISA (98% sensibilidade, pode dar falso positivo com doença de chagas); RIFI (formas promastigotas em lâmina, sensibilidade e especificidade 90%, reações cruzadas fraca com doença de chagas, malária, esquistossomose, sífilis, h a n s e n í a s e ) ; I n t r a d e r m o r re a ç ã o d e Montenegro (sempre negativo durante o período da doença; torna-se positivo após a cura clínica). Tratamento O arsenal terapêutico contra a leishmaniose v i sce ra l é l im i tado . Os an t imon ia i s pentavalentes (SbS+) antimoniato de N- m e t i l g l u c a m i n a ( G l u c a n t i m e B ) e o estibogliconato sódico (PentostamB) são, na maioria dos países, a primeira opção terapêutica. No Brasil, a droga de escolha é o Glucantime, que é de distribuição gratuita na rede de saúde pública. A segunda opção é o Alopurinol. O Ministério da Saúde recomenda a dose de 20mg de Sb5+kg/dia, por via endovenosa ou intramuscular, durante 20 dias e, no máximo, por 40 dias. Em caso de recidiva é recomendado um segundo tratamento, em tempo mais prolongado (40 dias no máximo) antes de utilizar esquemas terapêuticos alternativos.. Neste caso, o desoxicolato de sódio de a n f o t e r i c i n a B e s u a s f o r m u l a ç õ e s l i possoma is , as pen tamid inas e os imunomoduladores são as drogas indicadas, com a recomendação de uso sob regime hospitalar. Os critérios de cura são clínicos e devem ser observados os seguintes aspectos: curva t é r m i c a n o r m a l , r e d u ç ã o d a hepatoesplenomegalia e melhora nos parâmetros hematológicos. O retomo a normalidade nas alterações protéicas séricas e a redução dos títulos de anticorpos são gradativos e lentos. O estado geral melhora progressivamente com o retomo do apetite. A cura é completa com a negativação do parasitismo.
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