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MATERIAL DO DESCOMPLICA MEMORIA

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MATERIAL DO DESCOMPLICA
Memória: Conceitos e Memória Declarativa
História e Introdução à Memória
A memória pode ser vista sob diversas formas: a memória de um computador, imune, de elefante, entre outros significados. Contudo, no que diz respeito à memória no aspecto neurocientífico, esta corresponde à capacidade que os seres vivos têm de modificar seu comportamento a partir de suas experiências.
No que tange à história da memória, ela se faz na busca pelo “engrama”, ou seja, a busca pela representação física do fenômeno no Sistema Nervoso. Uma das primeiras pessoas a buscar, ainda que de forma errônea, foi Francis Joseph Gall (1758-1828). Através da Frenologia, propôs que o desenvolvimento das faculdades mentais poderia ser identificado pelas formas particulares do crânio, como saliências, protrusões ou depressões. Assim, o tamanho da parte externa do crânio é diretamente proporcional ao desenvolvimento da faculdade correspondente (raiva, humor, inteligência...).
A seguir temos outro estudioso que foi o Paul Broca. Além de descobrir uma das áreas dedicadas à linguagem, notou em 1878 que os mamíferos possuem, na superfície medial do cérebro, um grupo de áreas corticais que são bastante distintas do córtex circundante: o lobo límbico, dedicado às emoções e suas memórias.
O psicólogo behaviorista, Karl Lashley (1898-1956), também procurou incessantemente pelo engrama. Numa de suas pesquisas, treinava ratos de laboratório para mutilação seletiva do cérebro a fim de isolar o engrama. A gravidade dos déficits causados pelas lesões correlacionava-se pelo tamanho da lesão, sem correlacionar com a localização no córtex. Os achados levaram Lashley a especular que todas as áreas corticais contribuem igualmente para o aprendizado e memória. Ele estava certo a respeito das memórias serem distribuídas, mas errado ao dizer que todas as áreas contribuíam igualmente.
 
Paciente HM e Sistemas de memória  
O Paciente HM foi um dos grandes protagonistas na descoberta dos sistemas de memória. Aos nove anos, sofreu uma lesão na cabeça e passou a ter graves crises epilépticas. Tais crises eram tão severas que influíam negativamente em sua qualidade de vida. Assim, em 1953, ele buscou tratamentos que pudessem amenizar a epilepsia. O método escolhido foi a Lobectomia, a retirada seletiva da porção do cérebro que continha o foco epiléptico. Neste caso, foi retirada parte do lobo temporal medial, o qual continha o Hipocampo. Ao término da cirurgia, percebeu-se em HM que as crises epilépticas haviam sumido e que a percepção, linguagem e inteligência permaneceram intactas. Contudo, parte da memória foi prejudicada, principalmente aquela consolidada a longo prazo e declarada verbalmente. Um outro fato é que a capacidade de armazenar novas habilidades implícitas não foram afetadas (como melhorar desempenho ao desenhar uma estrela).
Portanto, os estudos realizados em HM – Henry Molaison, foram cruciais para a busca do engrama em sistemas de memória, ou seja, diferentes tipos de memórias envolvem diferentes sistemas neurais.
 
Tipos de Memória 
O encéfalo possui numerosos sistemas para desempenhar funções relacionadas com as sensações, a motricidade e as emoções. Com a memória não é diferente, pois diferentes tipos de memórias envolvem diferentes sistemas neurais. Por isso, existem algumas classificações que facilitam o estudo.
Quanto à duração, a memória pode ser de curto ou longo prazo. A memória de curto prazo envolve a retenção simples de pequenas quantidades de informação, testado imediatamente ou após um pequeno intervalo. Ademais, os sistemas de memória responsáveis formam a memória operacional, que não apenas armazena temporariamente, mas manipula e permite que as pessoas executem atividades complexas, como raciocínio e a aprendizagem. Por sua vez, a memória de longo prazo possui capacidade ilimitada de armazenamento, onde as informações são registradas mediante repetição ou através de sua carga afetiva. Além disso, esta informação salva como longo prazo é importante para formação de nosso “arquivo” cerebral, e será evocada sempre que pertinente a fim de guiar o comportamento.
Uma outra forma de classificar as memórias é quanto sua natureza de longa duração, a qual pode ser declarativa ou não-declarativa. Para a memória declarativa ou explícita, a mesma deve ser declarada de forma consciente e verbal para que seja aferida a qualidade da evocação. Ela depende do lobo temporal medial para consolidação e o seu aprendizado em formas mais duradouras depende do contexto. Ainda, esta memória declarativa pode ser dividida em memória episódica e memória semântica. No que diz respeito à memória não-declarativa ou implícita, é recuperada sem que a pessoa tenha consciência e não pode ser declarada verbalmente, onde o desempenho em uma determinada tarefa é a forma de aferição. O aprendizado ocorre em muitas sessões de treino, como aprender a andar de bicicleta ou a dirigir. Enquanto estruturas encefálicas, ela depende dos núcleos da base e cerebelo. Outrossim, esta memória implícita é subdividida em memória perceptual, memória de procedimentos, memória associativa e não-associativa.
 
Memória e Sono
O sono é um estado fisiologicamente natural e que é caracterizado por ser um estado reversível, pela perda de consciência e reduzida responsividade ao estímulo externo. Ele ainda se alterna periodicamente a cada 24 horas com a fase de vigília, sendo assim denominado - o ciclo vigília-sono. Ademais, o sono é reconhecidamente um processo ativo envolvendo múltiplos e complexos mecanismos fisiológicos e comportamentais em vários sistemas e regiões do sistema nervoso central.
Os problemas do sono acontecem quando este não é adequado ou não se dorme o suficiente para o organismo se recuperar. Dessa maneira, o sono se configura como um regulador das condições de saúde.
A memória tem uma estreita relação com o sono. É nesta fase que ocorrem praticamente todos os processos relacionados à aprendizagem, consolidação e armazenamento das memórias. Uma vez armazenadas, estas memórias permitirão que o indivíduo planeje suas ações com base nas experiências vividas, além de ajudá-lo a tomar uma decisão coerente ao contexto inserido. Portanto, se há algum distúrbio no sono, este repercute nos processos cognitivos. Assim, as pessoas que sofrem de privação crônica de sono terão comprometimento em habilidades como a memória, atenção, raciocínio, vigilância psicomotora e percepção visual. Ademais, os prejuízos da perda de sono são tão difundidos sobre o funcionamento humano que é difícil encontrar funções que permaneçam intactas.
 
Memória Episódica
A memória episódica se refere à nossa capacidade de recordar experiências específicas e utilizá-las em “viagens mentais no tempo”. Depende da capacidade de codificar e evocar eventos específicos, algo que é muito auxiliado se a informação é significativa e bem organizada. Este tipo de memória está relacionada para eventos, em vista que através dela recordamos de lembranças e acontecimentos que presenciamos no cotidiano. Ademais, O termo “episódica” não significa passageira ou temporária, pois grava os lugares onde estivemos, as pessoas que conhecemos e as nossas experiências pessoais em geral.
Enquanto principal localização anatômica para memória episódica, tem-se o Hipocampo exercendo um importante papel, o qual é confirmado através de estudos de Neuroimagem, pois tais áreas são ativadas em face da evocação.
 
Memória Semântica
A memória semântica é especializada no armazenamento de conhecimentos gerais (nomes, definições, conceitos, ideias e fatos), onde os fatos são independentes da experiência pessoal. Sendo considerada “nossa enciclopédia e dicionário mental”, ela envolve a evocação consciente do passado. Este tipo de memória declarativa ainda permite que os seres humanos se comuniquem através da linguagem, pois em seus sistemas o cérebro armazena informação sobre as palavras, o que elas parecem e representam, e como elas são usadas de uma forma organizada. Um exemplo prático vem da dificuldade para uma pessoaesquecer o significado da palavra “dicionário”, ou ser incapaz de evocar uma imagem visual de um frigorífico quando a palavra é ouvida ou lida.
 
 
Atividade Extra
 
Em Busca da Memória é um documentário alemão lançado em 2009, o qual tem como principal estrela o neurocientista Eric Kandel. O documentário, não busca apenas uma memória. Mas na verdade, relata a busca das várias memórias encontradas no indivíduo.
Além disso, o documentário retrata como Eric Kandel dedicou sua carreira a entender as bases biológicas de como a mente armazena experiências e reage a elas - trabalho que, além de solucionar um mistério científico, pode ser o ponto de partida para novos tratamentos psiquiátricos. Entre reminiscências pessoais e relatos científicos, “Em busca da memória” mostra o papel de Eric Kandel na fundação da moderna ciência da mente.
A partir da sinopse acima, assista e procure entender os principais paradigmas que cercam os estudos relacionados à memória, bem como deste Neurocientista, que busca incessantemente formas de estudar as memórias.
 
Para acessar o documentário, clique ou digite no seu navegador: https://www.youtube.com/watch?v=iYKQQ0lc470
 
 
Referência Bibliográfica
 
KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSELL, T. M.; SIEGELBAUM, S. A.; HUDSPETH, A. J. Princípios de Neurociências. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.
 
LENT, R. Cem Bilhões de Neurônios: conceitos fundamentais de neurociência. 2. ed., São Paulo: Atheneu, 2010.
 
BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M.A. Neurociências: desvendando o sistema nervoso. 4. Ed., Porto Alegre: Artmed, 2017.

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