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FACULDADE BAIANA DE DIREITO DISCIPLINA: DIREITO DOS CONTRATOS TURMA 5A PROF. VICENTE PASSOS NOME: ISIELE BATISTA DE SOUZA II PROVA 2021-2 INSTRUÇÕES DA PROVA 1 – A Locare Bahia Imobiliária Ltda., pessoa jurídica estabelecida em Salvador, empresa tradicional no ramo, no cenário estadual, operando há 30 anos exclusivamente com locação e venda de imóveis que são disponibilizados por clientes, foi procurada por um cliente estrangeiro que pretende adquirir terrenos na região do litoral sul da Bahia, contudo, não quer aparecer na negociação com receio de os vendedores elevarem os preços dos imóveis, pelo fato dele ser estrangeiro. A imobiliária, após buscas, localiza um terreno com área de 200 mil m2, que está sendo vendido por três milhões de reais e que agradou o cliente. Visando à realização do negócio, o preposto da Imobiliária se dirigiu ao Cartório de Imóveis competente, e notou que a documentação do imóvel se encontrava defasada, pois faltavam vários dados que inviabilizavam a venda imediata do imóvel e que dificultaria a prévia eescritura. Tendo sido a Imobiliária contratada pelo cliente estrangeiro para atuar na operação de aquisição do imóvel, mas estando ela insegura acerca da seriedade da proposta do investidor estrangeiro, e pretendendo se resguardar de eventuais danos, contrata seus serviços advocatícios, para que você emita um parecer fundamentado dizendo a melhor opção jurídica para realização do negócio pretendido pelo investidor, levando em consideração, obviamente, a proteção do seu cliente, o ramo de atividade que ela desenvolve, o tipo de contrato a ser efetuado, a forma escolhida para resguardar a imobiliária de responsabilidade, como ficará a questão do pagamento do sinal e a assinatura da escritura e quais os fundamentos da sua escolha. R: A priori, se faz necessário uma análise acerca da capacidade postulatória do Cliente estrangeiro. Se, este apresentar os requisitos necessários para o prosseguimento do feito, o próximo passo será a busca por vedações ou regimes especiais existentes no ordenamento brasileiro acerca da compra de imóveis por estrangeiros. Em regra, qualquer pessoa física estrangeira, mesmo que não possua visto permanente, é obrigatório para que participe de qualquer operação imobiliária, ainda que não residente no Brasil, seja inscrita no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF). No caso de imóvel urbano, a única restrição existente para o estrangeiro, estabelecida no Decreto-Lei 9.760/46, é aquela contida no seu art. 205, que veda a aquisição de imóvel ou terreno situado na faixa de 100 metros ao longo da costa marítima, salvo se autorizado o ato de aquisição pelo presidente da República ou pelo ministro da Fazenda. Essa restrição, todavia, não se aplica, no caso de aquisição de unidade autônoma em condomínio, como em prédio de apartamentos situado em terreno de marinha, regulado pelo regime da Lei 4.591/64. No caso de imóvel rural, as limitações para aquisição por estrangeiro são bem mais específicas e relevantes. Todavia, o estrangeiro ao procurar a Locare Bahia Imobiliária Ltda visa a preservação de sua identidade, com receio que haja especulações do bem, assim a imobiliária mediaria as relações entre o Estrangeiro e o Vendedor assumindo o papel de promitente comprador. O que é possível, tendo em vista o contrato com pessoa a declarar disposto nos art 467 a 471 do Código Civil vigente. Em suma, o contrato com pessoa a declarar é um negócio jurídico acessório que faculta a um dos contratantes a indicação da pessoa que adquirirá os direitos e assumirá as obrigações decorrentes do contrato. Como forma de resguardar a imobiliária dos possíveis transtornos que esta representação trará é recomendável o estabelecimento de um contrato preliminar de compra e venda, no qual trata-se de um o documento por meio do qual as partes definem os contornos principais de uma relação jurídica que, mais tarde, será consolidada em um contrato posterior. “Trata-se, portanto, de um negócio jurídico que tem por objeto a obrigação de fazer um contrato definitivo” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO. 2019, p. 196). Como existe o impedimento temporário (Documentação defasada e irregular) para que ocorra a assinatura imediata do contrato definitivo, o contrato preliminar acaba sendo utilizado para garantir a realização de negócio imobiliário. Ao tratar de opção Sílvio Venosa elucida que a: "opção é negócio jurídico que parte de premissa distinta do contrato preliminar, embora deva ser tratada dentro do campo da formação gradual do contrato. Muitos a consideram uma espécie de contrato preliminar. Por esse negócio, uma pessoa oferece a outra um contrato e compromete-se a manter em vigor essa oferta, assim considerada. Nesse período, o oferente não pode retirar a oferta. A outra parte pode aceitá-la no período fixado ou não. Se aceitá-la, o contrato conclui-se, sem necessidade de nova" manifestação de vontade do oferente (VENOSA, 2017, p.63) Quanto, a melhor opção jurídica para realização do negócio pretendido pelo investidor cabe analisar os institutos da Promessa e do Compromisso de compra e venda que apesar de parecer semelhantes possuem sentidos distintos. A promessa unilateral de contratar, que é uma modalidade de contrato preliminar prevista no artigo 466 do Código Civil, é um negócio bilateral (não um contrato bilateral) que figuram duas partes: o promitente e o promissário. O promitente obriga-se a celebrar o contrato definitivo nos termos da promessa e se mantém obrigado enquanto o prazo estipulado estiver pendente. O promissário é titular do direito potestativo de exigir do promitente a celebração do contrato, que deverá ser exercido na forma e no prazo estipulados no instrumento de opção. Se não houver prazo estipulado, o promitente intimará o promissário para exercer a opção dentro de prazo razoável. Se a opção não for exercida no prazo, o direito do promissário perece e o contrato se extingue. Por ser um contrato preliminar, uma vez exercida a opção, se o promitente inadimplir, o promissário poderá, ou pedir ao juiz que supra a vontade do promitente, conferindo caráter definitivo à promessa (artigo 464 CC) ou considerar o contrato desfeito e reclamar perdas e danos (artigo 465 CC). Uma vez a promessa adquirindo foros de contrato definitivo, estará o promissário legitimado para reclamar as prestações pertinentes, o que pode ser feito mediante cumulação sucessiva com o pedido de suprimento judicial. A promessa de compra e venda tem a cláusula de arrependimento, podendo, a qualquer tempo, as partes desistirem do negócio. Tal desistência deve ser exercida com razoabilidade, sob pena de estar cometendo um ato ilícito, conforme dispõe o artigo 187 do Código Civil. Assim como a promessa de compra e venda, o compromisso é um contrato preliminar que depende do contrato definitivo. Ocorre que, no compromisso de compra e venda existe a cláusula de irretratabilidade e irrevogabilidade. Ressalta-se que, os contratos que envolvem os loteamentos (Lei nº 6.766/79) devem obrigatoriamente serem celebrados por meio de compromisso de compra e venda, е portanto, é vedada a celebração de tais contratos com cláusula de arrependimento. O Código Civil que regula o contrato preliminar e a promessa de compra e venda também estipula que o direito de arrependimento é exceção. Assim, compreende-se que a melhor opção é o compromisso de compra e venda por quanto preza compromisso irretratável uma vez acordado o contrato, obrigando ambas as partes a cumprirem sua promessa e em especial o cliente enstrangeiro que ao desistir do feito terá que indenizar a imobiliária por perdas e danos, pelo prejuízo desta com a organização dos documentos faltantes para a realização da compra do terreno. Quanto à forma, no contrato preliminar nada impõe que se obedeça às mesmas formalidades do contrato principal, salvo se assim já estiver previsto na lei. Assim, dispõe o art. 462 do Código Civil: “O contrato preliminar, exceto quanto à forma,deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado". Apesar do registro em cartório de imóveis não ser obrigatório nos contratos preliminares, para reforçar a seguridade dos contratos preliminares, o legislador, no parágrafo único do art. 463, do Código Civil brasileiro, determinou o registro dos mesmos ao cartório competente, como condição de sua eficácia perante terceiros. Nesse sentido elucida VENOSA: "Quanto à forma, embora haja vacilação nos julgados, nada está a obrigar que se obedeça às mesmas formalidades do contrato principal, salvo se assim já estiver previsto na lei. Na realidade, o promitente compromete-se a uma obrigação de fazer. Se o contrato preliminar não contiver todos os requisitos do contrato principal para gozar da execução específica, nem por nem por isso deixam de existir efeitos a essa obrigação de fazer, que se resumirá, em última análise, emperdas e danos"(VENOSA. 2017, p. 64) O Ramo imobiliário envolve muitos riscos e a prestação de serviços dos corretores e imobiliárias são regulados pelo CDC como está disposto no art. 722 do C.C. para evitar possíveis responsabilidades estes profissionais devem observar deveres dispostos nos artigos 422 (Boa fé objetiva) e no 723 do Código Civil (determina que: "o corretor é obrigado a executar a mediação com diligência e prudência, e a prestar ao cliente, espontaneamente, todas as informações sobre o andamento do negócio". Parágrafo único: "Sob pena de responder por perdas e danos, o corretor prestará ao cliente todos os esclarecimentos acerca da segurança ou do risco do negócio, das alterações de valores e de outros fatores que possam influir nos resultados da incumbência"). Assim a imobiliária deverá agir de forma proba quanto à disponibilização de informações que discorrem sobre os riscos do negócio. O dever de informar acerca de documentos inconsistentes deve ocorrer de forma espontânea. Da mesma forma, buscar atestar a validade e a veracidade de todas as informações, que devem, posteriormente, ser repassadas ao comprador. No ato da assinatura de um contrato preliminar de compra e venda, o contratante que adquirirá o objeto efetua um pagamento assecuratório, a título de sinal e princípio de pagamento, denominado pelo Direito Civil Brasileiro como “arras confirmatórias”. se adotadas em sua modalidade confirmatória, tem como função conferir segurança ao negócio jurídico firmado (ou que virá a ser firmado), como garantia. E, exatamente por sua natureza de arras confirmatórias, geram a obrigação de indenização, no caso de superveniente inadimplemento de quaisquer das partes. Sendo a arras confirmatória o meio de pagamento de sinal para a execução do contrato devendo a imobiliária e o cliente estrangeiro estipular o valor desse sinal. A promessa e o compromisso não precisam ser necessariamente feitas por meio de escritura. Este contrato pode ser feito de forma particular ou por escritura, cabendo à parte escolher por qual irá fazer, conforme dispõe o artigo 462 do Código Civil. No entanto, no contrato definitivo outorga-se a escritura pública de compra e venda do imóvel para o(s) comprador(es) indicado(s). Com efeito, o investidor (originário promitente comprador que no caso é o estrangeiro) é substituído pelo efetivo comprador do imóvel. Assim, na Escritura Pública de Compra e Venda constará o proprietário do imóvel como vendedor e o substituto do investidor (imobiliária) como comprador. Outorgada a escritura pública de compra e venda do imóvel, o próximo passo é registrá-la na matrícula para efetivar a transferência da propriedade. 2 – Efetue a análise do REsp 910.537-GO, 3a Turma, de Relatoria da Ministra Nancy Andrighi, julg. 25/5/2010 e esclareça: a) Se o caso se trata de contrato incompleto? Se sua resposta for negativa, dizer que tipo de contrato se trata e suas características. Se sua resposta for afirmativa, explicar a razão de identificação desse tipo contratual no julgado e suas características. R: Para a identificação do contrato incompleto no julgado, faz-se necessário analisar alguns pontos referentes às características desse contrato. Observa-se que essa modalidade contrato é pactuada pelas partes deixando lacunas para posteriores preenchimentos “pois a execução e cumprimento dos ajustes estão sempre na dependência de fatores externos, normalmente imprevisíveis no momento da contratação.”(LBENY, p.54), objetivando a redução dos possíveis riscos econômicos, que seria a oscilação da álea normal. Nesse sentido, Paula Greco elucida que esses riscos serão geridos futuramente “pela atuação de uma ou ambas as partes, de terceiro ou mediante fatores externos, segundo o procedimento contratualmente previsto para a integração da lacuna” (p.149). Percebe-se o entendimento da autora na legislação vigente, nos artigos 485 CC, 596 CC (quando se tratar de contrato por prestação de serviço). Ademais, os parâmetros estabelecidos inicialmente no contrato devem ser mantidos para que haja uma certa rigidez no contrato. Desse modo, para melhor elucidação, analisa-se o julgado que ao implementar essa modalidade de contrato, estabeleceu um título de crédito ao qual o produtor agrícola informaria o valor: “a fixação do preço era variável, de modo que ele poderia ser fechado pela média de mercado em qualquer momento do dia seguinte à assinatura do contrato até a data da entrega das mercadorias.” ( p.11); na legislação Civil encontra-se no artigo 486. Considerando essas observações, avalia-se no julgado o contrato incompleto quando o preço a ser fixado deveria ser avaliado na média de mercado, no melhor período, escolhido pelo agricultor, analisa-se: “(...) 4- Inexiste abusividade na assinatura de promessa de compra e venda envolvendo safra agrícola, com fixação futura de preço. A determinação do preço em data futura não representa condição potestativa na hipótese em que é dado ao agricultor optar pela data na qual a operação será fechada. Referida modalidade de contratação representa importante instrumento à disposição do produtor rural, para planejamento de sua safra, disponibilizando-lhe mecanismos para se precaver contra oscilações excessivas de preço. ” Visto isso, leciona Cateb e Gallo (2009) que os contratos incompletos são “instrumentos cujo desempenho de seus termos contratuais deixam ganhos potenciais da transação irrealizados, face às informações disponíveis para os agentes e para as cortes de justiça no momento em que o desempenho ocorre.”. Nesse sentido, os contratos aleatórios se distinguem do incompleto se distinguem dos contratos aleatórios na medida em que nos contratos aleatórios se têm desde o início uma indeterminação da prestação ou até da existência do próprio objeto. E no contrato incompleto isso não ocorre, no julgado em questão por exemplo não existe determinação fixa para o preço da safra, então existe a determinação do objeto mas não do valor dele. No contrato aleatório eu admito como norma no contrato a não entrega da prestação e mesmo assim o adimplemento do contrato. Portanto, o contrato firmado entre o agricultor e a compradora é um contrato incompleto, visto que lança para o futuro as questões atinentes ao pagamento, buscando reduzir grandes perdas nas variações dos valores. REFERÊNCIAS: - BANDEIRA, Paula Greco. Contrato Incompleto. Tese (Doutorado). Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de Direito. - CATEB, Alexandre Bueno; GALLO, José Alberto Albeny. Breves considerações sobre a teoria dos contratos incompletos. Disponível em: <http://escholarship.org/uc/item/1bw6c8s9> - GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, volume 4 : Contratos – 2. ed. unificada. – São Paulo : Saraiva Educação, 2019, p. 196. - LBENY GALLO, José Alberto Contratos incompletos. / José Alberto Albeny Gallo – Nova Lima: Faculdade de Direito Milton Campos / FDMC, 2009 - Dissertação de Mestrado. Disponível em: http://www3.mcampos.br:84/u/201503/josealbertoalbenygallocontratosincompletos.pdf- VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: contratos – 17. ed. – São Paulo: Atlas, 2017, p. 63, 64 (Coleção Direito Civil; 3). http://escholarship.org/uc/item/1bw6c8s9
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