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Apostila CIVIL 4 - 2020 2 - DEPÓSITO até AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO

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PUC GOIÁS 
Profª Évelyn Cintra 
Araújo 
DIREITO CIVIL 4 
 
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CONTEÚDO PROGRAMÁTICO 
 
PARTE 1 – DOS CONTRATOS EM ESPÉCIE 
1 DEPÓSITO 
2 MANDATO 
3 COMISSÃO 
4 AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO 
5 TRANSPORTE 
6 SEGURO 
7 CONSTITUIÇÃO DE RENDAS 
8 JOGO E APOSTA 
9 FIANÇA 
10 TRANSAÇÃO 
11 COMPROMISSO 
12 ATOS UNILATERAIS 
 
PARTE 2 – RESPONSABILIDADE CIVIL 
 
 
 
 
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PARTE 1 – DOS CONTRATOS EM ESPÉCIE 
 
1 DEPÓSITO 
 
1.1 CONCEITO, OBJETO E CARACTERÍSTICAS 
 
O contrato de depósito, que está previsto nos arts. 627 a 652 do atual Código Civil, trata-
se de um negócio jurídico por meio do qual uma pessoa transfere à outra a guarda de um objeto 
móvel, a fim de que seja conservado, e, futuramente, devolvido (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 
2014, p. 240). 
Aquele quem transfere o bem móvel, de que é proprietário, é chamado de depositante; e 
aquele quem a recebe para a guarda, conservação e posterior restituição, é o depositário. 
O art. 627 do CC não deixa dúvida a respeito do seu objeto: apenas bens móveis (o que 
difere do direito português e argentino, que admitem o depósito imobiliário). O bem poderá ser 
fungível e consumível. Neste caso, o depósito será considerado irregular (ex: depósito bancário de 
dinheiro) e muito se assemelha ao mútuo, razão pela qual se lhes aplicam as mesmas regras (art. 
645). A diferença principal é que, no depósito, a coisa custodiada não poderá ser usada (o depósito é 
feito no interesse do depositante; e o mútuo, no do mutuário). 
O contrato de depósito caracteriza-se por ser: 
- unilateral => via de regra, pois impõe obrigação apenas para uma das partes, o depositário. Todavia, 
é possível o depósito ser bilateral em razão da atividade ou profissão do depositário ou até por força 
de convenção entre as partes (Ex: guarda de veículos em estacionamentos de shoppings centers, 
modalidade contratual atípica, mas que se assemelha ao contrato de depósito). 
Há quem defenda a existência de o depósito ser bilateral imperfeito, ou seja, o contrato nasce 
unilateral, convertendo-se em bilateral durante a sua execução (art. 644 – depositário exerce direito 
de retenção até o depositante indenizar-lhe pelas despesas de conservação da coisa). 
 
- gratuito => por ser unilateral, consequentemente o contrato de depósito é também, em regra, 
gratuito, já que só há ônus ao depositário, dele se beneficiando sempre o depositante. Ex: armários 
disponibilizados para a guarda de pertences pessoais em clubes, academias ou outros 
estabelecimentos; animais deixados no curral ou aprisco do fazendeiro vizinho. 
Entretanto, quando bilateral, ou seja, quando pactuada remuneração ao depositário, será 
considerado oneroso ou sinalagmático, pois ambas as partes sujeitarão a uma obrigação. Bons 
exemplos são o depósito em instituições bancárias; em estacionamento pago (mediante a emissão e 
pagamento de ticket). Vale salientar que, nestes casos, tais contratos são considerados de consumo, 
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incidindo-lhes o CDC (TJSP, Apelação 7132284-2, Rel. Des. Richard Paulo Pae Kim, DJESP 
02.06.2008). 
Como a modalidade onerosa tem se tornado mais comum na atualidade, o legislador admitiu 
a sua existência no art. 628 do CC. 
 
- real => pois, enquanto não efetuada a entrega do bem ao depositário, o contrato de depósito não se 
torna perfeito (aperfeiçoa com a tradição, a exemplo do comodato e do mútuo). Isso não significa 
que o depósito tenha efeitos reais, pois a propriedade não é transferida ao depositário, que se 
comportará como mero detentor. 
 
- personalíssimo (intuito personae) => é um contrato baseado na confiança (boa fé objetiva) que o 
depositante coloca no depositário. Todavia, grande parte da doutrina entende que a noção de 
pessoalidade do contrato de depósito se perdeu no tempo, uma vez ser normal se confiar a guarda 
do bem a depositário desconhecido, principalmente se tratar de uma empresa que exercer atividade 
negocial de depositário (DINIZ apud GAGLINO, PAMPLONA FILHO, 2014, p. 243). 
 
- informal ou não solene => de acordo com o art. 646 do CC, “o depósito voluntário provar-se-á por escrito”. 
Pela dicção legal, fica claro que a forma escrita é exigida apenas no depósito voluntário, e não no 
necessário, que poderá ser celebrado de maneira não solene. Ademais, no primeiro caso, a doutrina 
entende que a forma escrita é apenas para fins de prova do contrato (ad probationem, e não ad 
substantiam), não sendo determinante para a sua existência e validade. 
 
- temporário => pode ser fixado por prazo determinado ou indeterminado. 
 
1.2 CLASSIFICAÇÃO (ESPÉCIES) 
 
a) Quanto ao objeto: 
- regular => quando o objeto se tratar de um bem móvel infungível. 
- irregular => se a coisa for fungível, como já dito anteriormente. 
 
b) Quanto à manifestação de vontade: 
- voluntário (ou contratual) => resulta da vontade das partes. 
- necessário (ou obrigatório) => de acordo com o art. 647, subdivide-se, por sua vez, em: legal 
(resulta da lei – art. 345; 641; 1.233 etc) e miserável (em caso de calamidade pública, como 
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incêndio, inundação, naufrágio, saque etc – rol exemplificativo). Aplica-se ao depósito necessário 
as regras da modalidade voluntária (art. 648). 
 
1.3 DEPÓSITO VOLUNTÁRIO – regras aplicáveis (arts. 627 e seguintes) 
 
1ª) Dever de guarda, conservação e restituição (art. 629) 
Apesar de o contrato de depósito poder ser bilateral frente à possibilidade de se remunerar 
o depositário, a obrigação principal deste contrato é imposta ao depositário, que deverá guardar e 
conservar a coisa com o dever e zelo como se lhe pertencesse, bem como restituí-la com todos os 
frutos e acrescidos, quando o depositante exigir. 
Lembrando que, em contratos de consumo, como no depósito de joias e pedras preciosas, o 
ônus de provar o conteúdo depositado no momento da restituição é da instituição depositária (art. 
6º, VIII, CDC). 
 
2ª) Devolução no mesmo status sigiloso (art. 630) 
Se o objeto for entregue “fechado, colado, selado ou lacrado”, neste mesmo estado deverá 
ser mantido (salvo casos excepcionais – ex: evitar uma tragédia), sob pena de o depositário agir em 
violação ao princípio da boa fé objetiva e responder civilmente pelos danos causados ao depositante 
(art. 630). 
 
3ª) Lugar da restituição (art. 631) 
A restituição da coisa deve ser feita, salvo disposição em contrário, no lugar em que tiver de 
ser guardada, correndo as despesas por conta do depositante. 
A regra não é cogente, mas dispositiva, o que significa que as partes podem estabelecer 
outro local de entrega, o que é comum na prática. Outra observação importante é que, ao 
estabelecer o dever ao depositante quanto às despesas da restituição, a lei excetua mais uma vez o 
caráter unilateral ao contrato de depósito, admitindo a sua bilateralidade. 
 
4º) Bem depositado de terceiro (art. 632) 
Se a coisa depositada for de terceiro e isso é da ciência do depositário, não poderá este 
exonerar-se, restituindo a coisa ao depositante, sem consentimento do terceiro, sob pena deste ser 
indenizado.O objetivo é resguardar o direito do terceiro, legítimo proprietário da coisa depositada. 
 
5ª) Restituição sempre que exigida pelo depositante, ainda que seja por prazo determinado, salvo exceções (arts. 
633 e 634): 
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a) Se tiver direito de retenção pelas despesas e prejuízos do depósito (art. 644); 
b) Se o objeto for judicialmente embargado; 
c) Se sobre ele pender execução, notificada ao depositário; 
d) Se houver motivo razoável de suspeitar que a coisa foi dolosamente obtida (requerer o seu 
recolhimento ao Depósito Público). 
 
Fora tais exceções dos arts. 633 e 634, o depositário deverá devolver a coisa sempre, não 
podendo alegar que a coisa não pertence ao depositante, tampouco alegar compensação (art. 638), a 
não ser que a referida compensação se referir a outro depósito estabelecido entre as partes (ou seja, 
se coisa do depositário também estiver em depósito com a parte contrária- depositante). 
Por fim, quando se tratar de vários depositantes e a coisa sendo divisível, o depositário 
restituirá a cada um a respectiva parte, salvo se houver solidariedade entre eles (art. 639) ou se a 
coisa for indivisível, situações em que a coisa será devolvida a apenas um deles. 
 
6ª) Conversão em depósito judicial (art. 635) 
Faculta-se ao depositário converter o depósito convencional ou voluntário em depósito 
judicial quando, por motivo plausível, não puder guardar a coisa e o depositante não quiser recebe-
la. Aplica-se, nesse caso, as regras da consignação em pagamento previstas no CC (arts. 334 a 345) e 
no CPC (539 a 549). 
 
7ª) Devolução da coisa perdida e substituída por outra por motivo de caso fortuito ou força maior (art. 636) 
Por fim, se o depositário, por caso fortuito (evento imprevisível) ou força maior (evento 
previsível, mas inevitável), perder a coisa depositada e receber outra em seu lugar, é obrigado a 
entregar a segunda ao depositante (Ex: deposita-se uma obra de arte, que tem seguro; se perdida por 
fortuito, o depositário deverá devolver o valor da indenização do seguro ao depositante). 
Além disso, cabe ao depositante as ações que eventualmente o depositário tiver contra o 
terceiro responsável pela restituição da coisa perdida. 
 
8ª) Herdeiro do depositário aliena de boa fé o bem depositado (art. 637) 
O contrato de depósito, como já dito, é personalíssimo. Portanto, com a morte do 
depositário, o contrato se extingue e a coisa deverá ser devolvida pelos herdeiros. Todavia, se o 
herdeiro do depositário desconhece o depósito e, de boa fé (não a objetiva – lealdade; mas a subjetiva 
– boa fé crença), vende a coisa a terceiros, deverá assistir o depositante na sua reivindicação, e 
restituir o terceiro-comprador do preço recebido. 
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Atenção: o dispositivo refere-se a uma assistência processual, prevista nos arts. 119 a 124, 
CPC. 
 
9ª) Proibição de usar e dispor da coisa depositada (art. 640) 
Por se tratar de mero contrato de guarda, o depósito, ao contrário do comodato e do 
mútuo, não permite o uso da coisa; em outras palavras, o depositário não poderá servir-se da coisa 
depositada, salvo por expressa autorização do depositante, tampouco de dá-la em depósito ou 
aliená-la a outrem, sob pena de rescisão do contrato sem prejuízo de perdas e danos. 
Por outro lado, se o depositante autorizar, o depositário será responsável juntamente com 
o terceiro por qualquer ato danoso que este venha cometer, se houver agido com culpa na sua 
escolha (culpa in elegendo). 
 
10ª) Depositário com incapacidade superveniente (art. 641) 
Caso o depositário venha a se tornar incapaz supervenientemente, o administrador de seus 
bens, ou seja, o curador, deverá imediatamente providenciar a restituição da coisa depositada, com a 
consequente rescisão do contrato por inexecução involuntária (resolução sem perdas e danos). 
Caso o depositante não queira ou não possa receber a coisa restituída, deverá ser feito a seu 
recolhimento ao Depósito Público, ou ser nomeado outro depositário. 
 
11ª) Depositário não responde por caso fortuito ou força maior (art. 642) 
Obviamente que a responsabilidade do depositário é excluída quando da ocorrência de 
caso fortuito ou de força maior; todavia, deverá ele prová-los. Por outro lado, é possível haver no 
contrato a cláusula de assunção convencional, ocasião em que a parte responderá por tais situações, 
salvo em contratos de consumo e de adesão, onde tal cláusula é nula pela presunção de boa fé do 
consumidor ou do aderente decorrente de sua situação de vulnerabilidade. 
 
12ª) Despesas e prejuízos são do depositante (art. 643) 
Mesmo sendo gratuito o contrato de depósito, via de regra o depositante é obrigado a 
efetuar as despesas feitas com a coisa e a arcar com os prejuízos que decorrerem do depósito. Não 
havendo tal pagamento, o depositário poderá exercer o direito de retenção (arts. 643 e 644). 
 
1.4 DEPÓSITO NECESSÁRIO – arts. 647 a 652 
 
Como já vimos no item 1.2, o depósito necessário é aquele que independe da vontade das 
partes, podendo resultar da lei (depósito legal) ou por ocasião de calamidades (depósito miserável). 
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No entanto, equipara-se a depósito necessário o chamado depósito do hospedeiro, 
previsto no art. 649, CC, e se refere ao depósito das bagagens dos viajantes ou hóspedes nas 
hospedarias onde eles estiverem. 
Trata-se de um depósito oneroso, uma vez que o preço está incluído na hospedagem (art. 
651); e de consumo, sendo assim regido também pelo CDC, já que os hospedeiros são considerados 
em geral fornecedores de produtos e serviços. 
Por ser depositário, o hospedeiro responderá por eventuais prejuízos causados aos 
hóspedes, assim como pelos furtos e roubos que perpetrarem as pessoas empregadas ou admitidas 
nos seus estabelecimentos (art. 649, parágrafo único). Algumas observações aqui merecem ser 
feitas: 
- a referência aos crimes não é exaustiva, podendo compreender outros como apropriação indébita, 
estelionato etc, pois a lógica da regra é responsabilizar pelos danos ao patrimônio dos viajantes ou 
dos hóspedes; 
- a responsabilidade do hospedeiro pelos atos de seus empregados decorre de sua condição de 
empregador e há dispositivo expresso no CC nesse sentido (art. 932, III); 
- quanto às pessoas admitidas, incluem todas aquelas que tenham acesso autorizado nas 
dependências do estabelecimento (desde outros hóspedes até prestadores de serviço, ou um terceiro 
ali de passagem). 
- tal responsabilidade é objetiva (independe de culpa), conforme art. 933 do CC, a ser ainda 
estudado na Parte 2 deste material. Isso significa que basta a demonstração do prejuízo e do nexo 
causal que o hospedeiro será responsabilizado, salvo se provar que “os fatos prejudiciais não podiam 
ter sido evitados” – caso fortuito ou força maior, ou culpa exclusiva da vítima (art. 650). 
 
1.5 PRISÃO DO DEPOSITÁRIO INFIEL 
 
De acordo com o art. 652 do CC, “o depositário que não o restituir quando exigido será compelido a 
fazê-lo mediante prisão não excedente a um ano, e ressarcir os prejuízos”. 
O objetivo do normativo civil é claramente impor uma medida de coerção ao depositário 
infiel no sentido de compeli-lo a cumprir a obrigação de restituir a coisa ao depositante sempre que 
este o exigir. Portanto, não é um castigo ou pena; tem natureza civil. 
No final das contas, trata-se de mera regulamentação daquilo que já estava previsto na 
nossa CF de 88, em seu art. 5º, inciso LXVII,o qual proíbe a prisão civil, salvo nos casos de dívida 
alimentar e do depositário infiel. 
Todavia, em 1992, por meio do Decreto Executivo n. 678, o Brasil ratificou a Convenção 
Americana de Direitos Humanos, mais conhecida como Pacto de San José da Costa Rica, razão qual, 
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na época, a mesma ingressou no nosso ordenamento jurídico com status de lei federal ordinária. Tal 
diploma internacional veio na contramão da CF e do CC brasileiro ao proibir expressamente a 
prisão civil em qualquer hipótese. Diante da antinomia das normas, o STF, a princípio, entendeu 
que as exceções constitucionais se mantinham uma vez que o Pacto de San José, como lei ordinária 
que era, não estaria recepcionada pela Lei Maior, e tampouco se sobrepunha à lei civil, que é 
posterior (de 2002). 
Ocorre que, em 2004, foi inserido o §3º ao art. 5º da CF pela EC nº 45 (também conhecida 
como Emenda da Reforma do Judiciário), concedendo status de norma constitucional aos tratados 
internacionais que versam sobre direitos humanos, desde que ratificados pelo Congresso Nacional 
com um quórum qualificado de 3/5 de seus membros (em 2 turnos, em cada Casa). 
Isso trouxe uma grande celeuma a respeito dos tratados assim ratificados ANTES da edição 
da referida emenda: seriam eles também considerados normas constitucionais, sendo alcançados 
pela mudança empreendida pela Emenda da Reforma do Judiciário, OU continuariam tendo o 
tratamento tradicional de leis federais ordinárias? O Pacto de San José se enquadraria nessa 
tormentosa situação! 
Diante disso, essa questão sofreu uma grande reviravolta no âmbito da nossa mais Alta 
Corte, que passou a adotar a teoria da supralegalidade dos tratados internacionais que versam 
sobre direitos humanos. Isso significa que os tratados anteriores a EC 45 e que foram aprovados 
como quórum de emenda constitucional deixariam de ser considerados leis federais ordinárias, mas 
também não poderiam ser enquadrados como norma constitucional, ocupando agora um novo posto 
ou categoria na hierarquia das leis: o status de norma SUPRALEGAL (abaixo da Constituição, e 
acima das leis infraconstitucionais). 
O efeito dessa nova exegese é que, agora, o Pacto de San José da Costa Rica, por exemplo, 
figura em patamar SUPERIOR ao Código Civil e a todas as demais leis infraconstitucionais (inclui o 
Decreto n. 911 – que prevê os contratos de alienação fiduciária), porém INFERIOR à CF. 
CONCLUSÃO: a permissividade constitucional e excepcional de haver prisão civil do 
depositário infiel continua em vigor, porém, não há mais leis infraconstitucionais regulamentando o 
assunto, já que, as que havia, não podem se sobrepor ao Pacto de San José. Em outras palavras, 
trata-se de uma questão de ilicitude, e não de inconstitucionalidade. 
Desta feita, tal questão foi definitivamente pacificada em 2009, tendo o STF editado a 
Súmula Vinculante 25 nos seguintes termos: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja 
modalidade do depósito”. No mesmo sentido, o STJ editou a Súmula 419 (“Descabe a prisão civil do 
depositário judicial infiel”). 
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2 MANDATO 
 
2.1 CONCEITO 
 
Previsto nos arts. 653 a 692 do CC, trata-se de “negócio jurídico pelo qual uma pessoa, 
chamada mandatário, recebe poderes de outra, chamada mandante, para, em nome desta última, 
praticar atos ou administrar interesses”. 
Em outras palavras, é um contrato em que o mandante dá ao mandatário poderes para que 
ele pratique atos jurídicos em seu nome ou administre interesses. Esses poderes se dividem, 
portanto, em: poderes de agir (administração de interesses) e poderes de representar (praticar 
atos jurídicos em nome do mandante). 
O instrumento do mandato é a procuração. Portanto, enquanto o mandato é o contrato, o 
vínculo jurídico que une mandatário e mandante, e estabelece obrigações e regula interesses dos 
contratantes, podendo ser verbal ou por escrito; já a procuração é o documento ou o título, público 
ou particular, por meio do qual o mandato se formaliza, se instrumentaliza. 
Insta salientar também que mandato não deve ser confundido com mandado: este é ordem 
judicial decorrente de um processo, nada tendo a ver com celebração de negócio jurídico. 
Não há que se confundir também com o contrato de comissão, o qual será estudado na 
próxima seção, pois o comissário age em nome próprio e responde pessoalmente pelos atos 
realizados em face de terceiros; e o mandatário não, já que age em nome do mandante, nos limites do 
pactuado, não havendo responsabilização pessoal do mesmo. 
Por fim, apesar da semelhança, também difere do contrato de prestação de serviço, uma vez 
que neste independe de procuração e o que se contrata é a realização de uma conduta determinada 
do devedor. 
Destaca-se, por oportuno, a atividade profissional do advogado, onde as duas figuras 
contratuais coexistem: para ajuizar a demanda, em nome do cliente, este lhe outorga poderes por 
procuração, fruto de uma relação contratual de mandato (escrito ou verbal); mas antes, para que tal 
serviço seja prestado, cliente e causídico tem que firmar o contrato de prestação de serviço. 
 
2.2 PARTES 
 
Como já sabemos, no contrato de mandato há o mandante, aquele que outorga poderes para 
que outrem, em seu nome, pratique atos ou administre interesses; e o mandatário, que é o indivíduo 
assume tal obrigação. 
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De acordo com o art. 654 do CC, “as pessoas capazes são aptas para dar procuração 
mediante instrumento particular, que valerá desde que tenha a assinatura do outorgante”. Todavia, 
o relativamente incapaz também poderá ser mandatário, sendo o risco todo do mandante por tal 
contratação. É o que dita o art. 666, CC. Ex: pai que outorga poderes ao filho de 17 anos para, em seu 
lugar, compareça à reunião de condomínio. Se o menor não cumprir bem a tarefa, o prejuízo recairá 
única e exclusivamente sobre o mandante. Outra hipótese que merece destaque é a prevista no art. 
334, §10, NCPC – poderes especiais para representar a parte na audiência de conciliação ou 
mediação. 
O mais importante é verificar se o mandante tem capacidade para conferir o mandato. 
Por fim, calha registrar que é possível outorgar poderes em favor de duas ou mais pessoas, 
nos termos do art. 672 do CC. No entanto, o mesmo dispositivo legal distingue o mandato solidário 
do mandato conjunto. No primeiro, qualquer um dos mandatários pode praticar todos os atos 
designados, independentemente da participação dos demais; no segundo, a atuação dos dois 
mandatários é concomitante, de modo que a ausência de um importa em ineficácia do ato, salvo se o 
mandante ratificar depois. 
Esmiuçando mais o referido dispositivo legal, no mandato conjunto, os mandatários podem 
ser designados para atos diferentes ou para atos sucessivos. No primeiro caso, chamamos de 
mandato fragmentário ou fracionário, e, no segundo, de mandato sucessivo. 
De outro giro, se houver pluralidade de mandantes, estabelece o art. 680 do CC que ambos 
ficarão solidariamente responsáveis ao mandatário por todos os compromissos e efeitos do 
mandato, ressalvado o direito de regresso contra os outros mandantes. 
 
2.3 CARACTERÍSTICAS 
 
- típico e nominado 
 
- unilateral => gera obrigações somente ao mandatário. O mandante não tem obrigações no contrato, 
mas tão somente o dever de cumprimento do quanto pactuado pelo mandatário, o que se dá em fase 
posterior à avença contratual.Mas, a exemplo do depósito, o mandato pode ser bilateral imperfeito, 
se, durante a sua execução, gerar efeitos à parte contrária, por fato superveniente. 
 
- gratuito (regra geral) => não obstante, possa ser avençado na forma onerosa (Ex: advogados e 
despachantes). É o que estabelece o art. 658, CC (“o mandato presume-se gratuito quando não 
houver sido estipulada retribuição, exceto se o seu objeto corresponder ao daqueles que o 
mandatário trata por ofício ou profissão lucrativa”). 
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- paritário ou por adesão 
 
- não solene => pode ser expresso ou tácito; e, sendo expresso, pode ser verbal ou por escrito (art. 
656). 
No mandato verbal, o grande problema é a prova da manifestação da vontade, a qual 
poderá ser por qualquer meio admissível em direito, inclusive por prova testemunhal. 
Em sendo escrito, reza o §1º do art. 654 que “o instrumento particular deve conter a indicação do 
lugar onde foi passado, a qualificação do outorgante e do outorgado, a data e o objetivo da outorga com a designaç ão 
e a extensão dos poderes conferidos”. Obs: A validade do mandato não exige reconhecimento de firma. O 
terceiro com quem o mandatário tratar é que poderá exigir que a procuração traga a firma 
reconhecida (art. 654, §2º). 
Já o mandato tácito decorre da prática de atos pelo mandatário em benefício do mandante, 
como se de forma expressa tivesse sido celebrado. Resulta do começo da execução, nos termos do 
art. 659 do CC. Exemplos de mandato tácito: art. 1.324 (condômino que administrar sem oposição) 
e art. 1.652 (cônjuge na posse de bens particulares do outro). 
Importante dizer que, apesar da liberdade de forma no contrato de mandato, a depender do 
ato a ser praticado, a forma deverá ser a exigida por lei (art. 657). Exemplo: no casamento por 
procuração exige-se instrumento público, com poderes especiais; portanto, não é possível mandato 
verbal. Para o ato da compra e venda de imóvel também se exige a procuração pública, porque tal 
negócio se dará, posteriormente, por escritura pública. 
 
- individual e personalíssimo => celebrado intuitu personae. 
Todavia, é possível o mandatário original transferir os poderes que lhe foram outorgados 
pelo mandante para terceira pessoa. É o chamado substabelecimento. Este pode ser feito com ou sem 
reservas de poderes, ou seja, quando se quer resguardar ou não os poderes inicialmente estabelecidos. 
Pode ser também separadamente ou em conjunto, a fim de que o substabelecido tenha 
autonomia ou não para atuar individualmente. 
A prerrogativa de substabelecer o mandato é do mandatário, salvo por previsão legal 
específica ou cláusula contratual impeditiva expressa. No entanto, de acordo com o art. 667 do CC, 
a responsabilidade pelos danos eventualmente causados pelo substabelecido é do mandatário caso a 
substituição foi sem autorização do mandante. Do contrário, só responderá se tiver agido com culpa 
na escolha ou nas instruções dadas ao substabelecido. 
A forma do substabelecimento é a mesma do ato que será praticado, em aplicação da regra 
de que o acessório segue o principal. Logo, para atos que exigem instrumento público, o 
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substabelecimento obrigatoriamente seguirá a mesma forma. Mas, quando tal instrumento não for 
da essência do ato, ainda que o mandato original seguiu tal forma, o substabelecimento poderá ser 
feito por instrumento particular. Esta é a interpretação dada ao art. 655, CC, pelo Enunciado n. 182 
da III Jornada de Direito Civil da Justiça Federal. 
 
- casual => vinculado à causa que o determinou, podendo ser invalidado esta for considerada 
inexistente, ilícita ou imoral. 
 
- contrato de duração => seja determinada ou indeterminada, a depender se há ou não previsão 
expressa de termo final, ou de condição resolutiva. 
 
- acessório => tem finalidade preparatória, ou seja, serve para a realização de determinados atos ou 
administração de interesses. 
 
2.4 OBJETO DO MANDATO 
 
Praticamente todos os atos da vida civil podem ser objeto do contrato de mandato, exceto 
atos personalíssimos que exijam a intervenção pessoal do mandante, como, por exemplo, o 
testamento. 
Por outro lado, em pese o requisito seja que o ato ou negócio seja lícito e de acordo com os 
bons costumes e a moral, o objeto do mandato não se limita a atos patrimoniais, como na adoção, no 
reconhecimento de filho natural, no casamento, na confissão etc. 
O mandato pode ter por objeto a prática de um ou mais negócios jurídicos específicos, ou 
se referir à administração geral dos interesses do mandante (art. 660), ou seja, o mandato pode ser 
especial ou geral. Todavia, não confunda tal classificação quanto ao número de negócios objeto do 
mandato, com mandatos em termos gerais e mandatos com poderes especiais, pois esta última 
classificação é quanto aos limites dos poderes outorgados no mandato. 
Falando nisso, de acordo com o art. 661, o mandato em termos gerais é aquele que confere 
poderes de administração; e o mandato com poderes especiais é aquele que confere os poderes de alienar, 
hipotecar, transigir, ou praticar outros quaisquer atos que exorbitem da administração ordinária”. Neste último 
caso, necessário se faz que na procuração estejam expressos. 
Nada obsta que se estabeleça uma procuração com poderes gerais cumulada com poderes 
gerais. 
 
2.5 ESPÉCIES 
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- quanto à forma: tácito ou expresso (neste último, verbal ou escrito). O mandato escrito pode ser 
outorgado pela lavratura de um documento diretamente entre as partes (procuração particular ou 
pública), ou mesmo pelo registro da outorga de poderes em uma ata (apud acta – extrajudicialmente, 
como na ata de uma assembleia ou reunião, ou judicialmente, em ata da audiência). 
 
- quanto à onerosidade: gratuito ou remunerado. Já comentamos no item 2.3, retro. 
- quanto às pessoas a quem é outorgado: conjunto (todos os mandatários têm que atuar 
simultaneamente); fragmentários ou fracionários (os mandatários atuam em atos diferentes); sucessivos 
(atuam em atos distintos que se sucedem no tempo); ou solidários (qualquer um pode praticar todos 
os atos, independentemente do outro). 
 
- quanto ao número de negócios objeto do mandato: mandato geral (prática de um ou mais negócios 
jurídicos específicos) ou mandato especial (administração geral dos interesses do mandante). Já 
comentário em tópico anterior, 2.4. 
 
- quanto aos limites dos poderes: mandatos em termos gerais (outorgam poderes genéricos de 
administração ordinária) ou mandatos com poderes especiais (outorgam poderes especiais, como de 
transigir, hipotecar, alienar, firmar compromisso ou praticar outros quaisquer atos que exorbitem 
da administração ordinária). 
 
- quanto ao campo de atuação do mandatário: extrajudicial ou judicial. O mandato extrajudicial, 
tradicionalmente conhecido como ad negocia, é a mais comum, sendo-lhe aplicada todas as regras até 
então estudadas. Já o mandato judicial, também chamado de ad judicia, é totalmente regido pelo 
NCPC, por remissão do art. 692 do CC. 
 A procuração ad judicia está disciplinada nos arts. 103 a 107 do NCPC. Da leitura dos 
referidos artigos, depreende-se que o advogado não poderá postular em juízo sem procuração, salvo 
para evitar preclusão, decadência, prescrição, ou para pratica ato urgente, ocasião em que deverá 
exibir a procuração no prazo de 15 dias, podendo ser prorrogado por mais 15 dias pelo juiz. 
 Verifica-setambém que a procuração judicial poderá ser outorgada para a prática de atos do 
foro em geral, ou com poderes especiais, os quais são de maior relevância e deveriam ser feitos 
praticados pessoalmente pela parte, tais como: receber citação, confessar, reconhecer o pedido, transigir, 
desistir, renunciar a direito, receber ou dar quitação, firmar compromisso e assinar declaração de hipossuficiência 
econômica. 
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A procuração é eficaz para todas as fases do processo (cognitiva e cumprimento de 
sentença), e pode ser extinta de dois modos: pela revogação (iniciativa da parte – mandante / art. 
111, NCPC), ou pela renúncia (iniciativa do advogado – mandatário / art. 112, NCPC). 
 
2.6 CONTEÚDO 
 
O conteúdo do mandato, ou seja, a atuação do mandatário é limitada pela autonomia da 
vontade das partes, de modo que somente obrigam o mandante os atos praticados dentro dos estritos 
limites do mandato, salvo se este os ratificar expressamente (art. 662). 
Dessa forma, a inexistência de mandato, ou mandato com poderes insuficientes, leva à 
ineficácia do negócio jurídico celebrado em ralação ao mandante (art. 662). 
Outra consequência é que se o mandatário exceder os poderes do mandato, ou proceder 
contra eles, será considerado mero gestor de negócios, enquanto o mandante não lhe ratificar os 
atos (art. 665). 
Por fim, insta registrar que o STJ, em adoção à teoria da aparência, tem considerado válido 
ato do mandatário, ainda que praticado com excesso de poderes, se este não era ou não devia ser do 
conhecimento de quem com ele tratou. Trata-se de aplicação sistemática dos arts. 662 e 119 do CC 
(anulabilidade de negócio jurídico feito pelo representante em conflito de interesses com o 
representado se tal fato era ou devia ser de conhecimento do terceiro). 
 
2.7 DIREITOS E OBRIGAÇÕES DAS PARTES 
 
2.7.1 Obrigações do mandatário 
 
a) Diligência => o mandatário é obrigado a aplicar toda sua diligência habitual na execução do 
mandato, ainda que este seja gratuito (art. 667). 
 
b) Indenização pelos prejuízos => corolário do dever de diligência é o dever do mandatário de 
indenizar qualquer prejuízo que, por culpa sua, causar ao mandante (art. 667). Exemplo clássico é a 
responsabilidade da imobiliária pelo pagamento dos aluguéis ao dono do imóvel, que lhe outorgou 
poderes de representação, em caso de inadimplemento de locatário do qual não exigiu as garantias 
de praxe. 
 
c) Prestação de contas => o mandatário tem o dever de dar contas de sua gerência ao mandante, 
transferindo-lhes as vantagens provenientes do mandato, por qualquer título que seja (art. 668). Tal 
dever não se transfere aos herdeiros do mandatário, conforme entendimento do STJ; o mesmo não se 
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podendo dizer em relação aos herdeiros do mandante que tem o direito de exigir as contas do 
mandatário. 
 
d) Entregar os ganhos ao mandante => de acordo com o art. 669, é obrigação do mandatário realizar 
o mandato de forma benéfica ao mandante, de modo que não poderá compensar os prejuízos, 
eventualmente causados, com os proveitos granjeados no exercício do mandato, devendo aqueles 
ser sempre indenizados ao mandante. 
Do contrário, estar-se-á diante de um abuso de direito no desempenho do mandato, 
previsto genericamente no art. 187 do CC, e especificado nos arts. 670 e 671 do mesmo diploma legal. 
De acordo com o art. 670, se o mandatário recebeu valores para entregar ao mandante ou 
para as despesas do cumprimento do mandato e os emprega em proveito próprio, praticou ato 
ilícito que deve ser reparado mediante pagamento de juros desde o momento do abuso cometido. 
Já o art. 671 reza que “se o mandatário, tendo frutos ou crédito do mandante, comprar, em nome próprio, 
algo que deverá comprar para o mandante, por ter sido expressamente designado no mandato, terá este ação para 
obriga-lo à entrega da coisa comprada”. 
 
e) Concluir o negócio começado => ainda que se trate de uma avença personalíssima, a qual extingue 
com a morte de qualquer das partes (art. 682, II), deve o mandatário concluir o negócio já 
começado, se houver perigo na demora (art. 674). 
Justifica-se tal regra pelo fato de que a manifestação de vontade do mandante, antes de tal 
fato, era no sentido de concretizar o negócio. Portanto, a impossibilidade de sua conclusão em razão 
da demora imputável ao mandatário gera potencial risco aos interesses subjetivos do mandante ou 
de seus herdeiros. 
Todavia, há que se considerar que tal obrigação diz respeito aos poderes decorrentes da 
administração ordinária, pois, para poderes especiais, há necessidade de menção expressa. 
 
2.7.2 Obrigações do mandante 
 
Em que pese o contrato de mandato seja considerado, num primeiro momento, de natureza 
unilateral, o que geraria obrigações somente ao mandatário, certo é que é possível, durante a sua 
execução, surgir obrigação ao mandante, tornando-o um contrato bilateral imperfeito, como já 
mencionado em item anterior. Nesse contexto, os arts. 675 a 681 do CC falam em “obrigações do 
mandante”. 
 
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a) Obrigação para com o terceiro => em relação ao negócio jurídico contraído em seu nome, ainda 
que o mandatário, sem exceder os limites do mandato, contrarie suas instruções (art. 679). 
Ex: o mandante confere poderes ao mandatário alienar 3 bens de sua propriedade, X, Y e Z; 
no curso do mandato, o mandante o orienta a deixar de vendar um desses bens (Z); 
contrariando suas ordens, o mandatário mesmo assim o aliena, vinculando o mandante ao 
negócio. 
 
b) Pagamento de remuneração => o mandante é obrigado a pagar ao mandatário a remuneração 
ajustada e as despesas da execução do mandato, ainda que o negócio não surta o efeito esperado, 
salvo se o mandatário tiver culpa. É aqui que a natureza do mandato se revela como de contrato 
bilateral, pois será: 
- unilateral => se gratuito, sem que o mandatário tenha tido despesas no seu desempenho; 
- bilalteral => se oneroso, pelo pagamento de retribuição estipulada; 
- bilateral imperfeito => se gratuito, tendo o mandatário despesas durante o desempenho 
(execução); é imperfeito porque não decorre da vontade, mas da própria lei. 
 
c) Ressarcimento das perdas do mandatário => com a execução do mandato, sempre que não 
resultem de culpa sua ou de excesso de poderes. 
 
d) Direito de retenção em favor do mandatário => o mandatário tem sobre a coisa, que esteja sobre 
sua posse em razão do mandato, direito de retenção até ser reembolsado do que no desempenho do 
encargo despendeu. 
 
 
2.8 EXTINÇÃO DO MANDATO 
 
O mandato poderá ser extinto por iniciativa de qualquer das partes (resilição unilateral), 
seja pelo mandante (revogação) ou pelo mandatário (renúncia). 
A revogação pode ser expressa ou tácita. Dar-se-á de forma tácita quando for comunicada 
ao mandatário a nomeação de outro, presumindo o mandato anterior revogado (art. 687). Já a 
renúncia tem que ser comunicada pelo mandatário ao mandante (art. 688). 
O mandato se extingue também pela morte ou interdição de uma das partes. 
Em que pese ser possível o relativamente incapaz assumir a condição de mandatário, 
consoante o que dispõe o art. 666, certo é que a perda superveniente da capacidade por qualquer das 
partes, reconhecida por sentença de interdição, culminará na extinção do mandato já que cessou a 
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capacidade para a prática dos atos da vida civil. Exceção: o mandato judicial conferido pelo 
interditado ao advogado – só cessará após o trânsito em julgado da sentença de interdição, pois 
ainda é necessário para a prática dos atos de defesa. 
Também será considerado extinto o mandato em razão da mudança de estado que inabilite o 
mandante a conferir os poderes, ou o mandatário para os exercer. Ex: alteração de estado civil – 
pessoa solteira que, tendo conferido mandato para alienação de bens imóveis, contrai casamento, 
dependendo, a partir daí, da autorização conjugal para a venda. 
Da mesma forma, pode-se dizer que cessa os mandatos em curso outorgados por pessoa 
jurídica que sofra mudança de estado, como no caso de declaração de sua falência. 
Por fim, o art. 682 elenca ainda o término do prazo ou a conclusão do negócio como causa 
extintiva do mandato. 
 
2.9 IRREVOGABILIDADE DO MANDATO 
 
Vimos que o mandato poderá ser extinto nas situações descritas no art. 682. Todavia, ele 
poderá ser considerado irrevogável quando houver: 
 
a) Cláusula de irrevogabilidade (art. 683) => se o mandato contiver cláusula que prevê a sua 
irrevogabilidade, caso o mandante o revogue, pagará perdas e danos (irrevogabilidade relativa / 
mitigada pela autonomia privada). 
 
b) Condição para negócio jurídico bilateral (art. 684) => se o mandato for condição para a 
consecução de um negócio jurídico, diz-se que a avença se deu no exclusivo interesse do 
mandatário. Dessa forma, se não houver a morte de qualquer das partes, o mandato é irrevogável, já 
que é requisito de eficácia para o negócio realizado. 
Ex: estipulação de poderes de gerência sobre estabelecimento de ensino do mandante em 
favor do mandatário, inclusive para que este aufira as vantagens econômicas do negócio. 
 
c) Mandato em causa própria (in rem suam) (art. 685) => ocorre nos casos de outorga de procuração 
para que o procurador transfira bens do mandante para o seu próprio nome ou para quem lhes 
aprouver. Muito comum em compra e venda de imóveis em que as partes evitam o dispêndio de 
gastos com escritura pública ou tributação da transferência, ou até mesmo o adquirente não tem 
intenção de ficar com o imóvel e sim de revendê-lo. 
No caso de mandato em causa própria, a sua revogação não terá eficácia, nem se extinguirá 
pela morte de qualquer das partes, ficando o mandatário dispensado de prestar contas, e podendo 
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transferir para si os bens móveis ou imóveis objeto do mandato. Trata-se de irrevogabilidade absoluta 
pura. 
 
d) Mandato com poderes de cumprimento ou confirmação de negócios (art. 686, parágrafo único) => 
é aquele em o mandante confia ao mandatário poder apenas para cumprir ou confirmar negócio que 
ele (mandante) já tenha celebrado. Não poderá ser revogado (irrevogabilidade absoluta pura tbm) pois 
interessa também à parte credora da obrigação contraída. 
Ex: contrato preliminar – contrato definitivo (nomeia um mandatário para cumprir a 
obrigação contraída por ocasião do pré-contrato). 
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3 COMISSÃO 
 
3.1 CONCEITO 
 
O termo “comissão” deriva do latim committere, com vários significados: unir, confiar, 
entregar algo a alguém. Dentro do contexto contratual, significa cometer, encomendar, atribuir uma 
tarefa a alguém; encargou ou incumbência. 
Previsto nos arts. 693 a 709 do CC, o contrato de comissão é um negócio jurídico bilateral 
pelo qual uma das partes (comissário) assume, em seu próprio nome e à conta do comitente, a 
obrigação de adquirir ou vender bens móveis. Em outras palavras, esta espécie contratual autoriza 
aquele que não é o dono a vender coisa que lhe foi confiada pelo proprietário. 
Em razão da formalidade exigida para a transferência dos bens imóveis (transcrição), só é 
possível ser objeto de comissão os bens móveis. 
Como bem ensinam Gagliano e Pamplona (2014, p. 2840, “De um lado, pois, temos o 
comitente, pessoa por cujo interesse bens móveis são vendidos ou adquiridos, e o comissário, pessoa 
que, atuando em seu próprio nome, mas por conta do primeiro, realiza os atos negociais perante 
terceiros, fazendo jus a uma retribuição ajustada ou arbitrada segundo os costumes do lugar, 
denominada comissão”. Ex: agências de viagens. 
Assemelha-se muito ao mandato, pois ambos têm por objetivo constituir alguém que 
celebre negócios em seu favor (representação). Contudo, existem duas principais diferenças entre 
os dois contratos, pois: 
(i) no mandato, o mandatário pode celebrar qualquer tipo de negócio, enquanto na 
comissão, o comissário se limita a comprar ou vender bens; e 
(ii) no mandato, o mandatário celebra contratos em nome do mandante, assinando apenas 
como seu representante, enquanto na comissão, o comissário age em nome próprio, mantendo 
segredo sobre a identidade do comitente. Logo, o comissário é responsável pelos atos realizados em 
face de terceiros, sem que estes tenham ação contra o comitente (art. 694). 
Ocorre, portanto, o que se chama de representação imperfeita. 
Todavia, por haver traços em comum, o art. 709 do CC determina a aplicação subsidiária à 
comissão das regras do contrato de mandato. 
 
3.2 CARACTERÍSTICAS 
 
O contrato de comissão se caracteriza por ser: 
 
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a) Bilateral => impõe direitos e obrigações para ambas as partes: o comissário tem a obrigação de 
adquirir ou vender bens móveis no interesse do comitente; e este tem o dever de pagar-lhe a 
comissão1 (o nome do contrato e da remuneração coincide). 
 
b) Consensual e não solene => justamente por decorrer da vontade das partes, estas são livres para 
estabelecer a forma, inclusive a verbal. Todavia, se o contrato de comissão for de valor superior a 10 
vezes o salário mínimo, a forma escrita poderá ser exigida para efeito de prova em juízo. 
 
c) Oneroso => a regra do contrato de comissão, ao contrário do mandato, é a onerosidade, pois 
ambas as partes experimentam um benefício recebido correspondente a um sacrifício patrimonial. 
 
d) Comutativo => as obrigações estabelecidas no contrato de comissão se equivalem, conhecendo as 
suas respectivas prestações. 
 
e) Paritário ou de adesão => a depender se for pactuado entre as partes em igualdade de condições de 
negociação, estabelecendo livremente as cláusulas contratuais, ou se apenas um dos pactuantes 
predetermina, impõe as cláusulas do negócio. 
 
f) Fiduciário e personalíssimo => trata-se de negócio jurídico essencialmente baseado na confiança 
recíproca, nos deveres da lealdade decorrentes da boa-fé objetiva. 
Dessa forma, o art. 696 obriga o comissário a atuar com cuidado e diligência no 
desempenho do contrato; e o art. 707 estabelece que o comissário, em razão da firme expectativa 
que depositou no comitente de que receberia a comissão devida, tem o direito, em caso de 
inadimplência, habilitar o seu crédito com privilégio geral, quando se tratar de falência ou 
insolvência do comitente. 
 
g) Contrato de duração => também chamado de contrato de trato sucessivo, de execução continuada 
ou débito permanente, uma vez que é cumprido por meio de atos reiterados. Pode ser de duração 
determinada ou indeterminada, a depender se há ou não termo final ou condição resolutiva. 
 
h) Casual => ou seja, vinculado à causa que os determinou, sob pena de ser declarado inválido se a 
causa for considerada inexistente, ilícita ou imoral.1 O termo “comissão” é utilizado, tanto no contrato civil de comissão quanto no contrato de emprego, para designar a 
remuneração a que tem direito a pessoa que exerce a atividade objeto do contrato. No entanto, não podem ser 
confundidas por alguns motivos: I – autonomia outorgada às partes (o comissário é um empresário que administra seus 
negócios com autonomia, isto é, em nome próprio e sob sua direta responsabilidade); II – liberdade do comitente para 
alterar as instruções dadas ao comissário (art. 704), inclusive quanto ao cálculo da retribuição. 
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i) Principal e definitivo => tem existência autônoma, independentemente de outro, pois ainda que a 
compra e venda não seja realizada, o contrato de comissão é válido. 
 
3.3 DIREITOS E OBRIGAÇÕES DAS PARTES 
 
A principal obrigação no contrato de comissão é a do comissário, qual seja, o de adquirir ou 
vender bens em seu próprio nome e no interesse do comitente. E ele deve fazê-lo fielmente às 
instruções dadas pelo comitente (na sua falta, observará os usos e costumes do local) e com 
diligência e cuidado, evitando qualquer prejuízo ao comitente e visando proporcionar-lhe razoável 
lucro que se poderia esperar do negócio (art. 695 e 696, CC). 
Tais deveres decorrem da cláusula geral de boa-fé objetiva. 
Por se tratar de um negócio bilateral e sinalagmático, há também o dever do comitente de 
remunerar o comissário, pagando-lhe a comissão, que geralmente é calculada com base num 
percentual sobre o valor do contrato, ou, não sendo estipulada, será arbitrada segundo os usos 
correntes do lugar (art. 701). Como já dito, tal remuneração afigura-se como crédito privilegiado em 
juízo falimentar ou em caso de insolvência do comitente (art. 707). 
Outra observação importante sobre a remuneração é que esta será devida 
proporcionalmente ao trabalho realizado pelo comissário no caso de morte deste ou se o contrato 
não pôde ser cumprido por motivo de força maior (art. 702). 
O comissário poderá exercer direito de retenção pelo reembolso das despesas devidas ou da 
remuneração que não lhe foi paga (art. 708). Trata-se de um direito potestativo do comissário que 
poderá, inclusive, opor ao comitente, como defesa indireta contra o mérito, em eventual ação 
reivindicatória ou ação possessória por este movida. 
Por fim, registra-se o dever mútuo de pagar juros (compensatórios e moratórios) previsto 
no art. 706. 
 
3.4 ESPÉCIES DE COMISSÃO 
 
A comissão pode ser: 
 
a) Imperativa ou facultativa => a comissão imperativa é um verdadeiro contrato de adesão vez que 
estabelecida unilateralmente pelo comitente; já, na facultativa, há uma maior liberdade ao 
comissário quanto ao ato a ser por ele praticado. 
 
b) Simples ou complexa => a depender se a comissão é única ou se reúne duas ou mais comissões. 
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c) Conexa ou alternativa => na conexa, reúne-se várias comissões coligadas, unidas entre si, 
inseparáveis; na alternativa, há duas ou mais ordens, facultando ao comissário a escolha. 
 
3.5 CLÁUSULA “DEL CREDERE” 
 
Em regra, o comissário não responde pela insolvência das pessoas com quem tratar, salvo 
em duas situações: se agiu com culpa; ou se houver sido estipulada cláusula del credere (de confiança; 
de garantia). 
O objetivo de tal cláusula foi dar maior garantia ao comitente quando do recebimento do 
seu crédito, já que o comissário tornar-se-á um devedor solidário, podendo o comitente demandar a 
ele ou ao terceiro diretamente, ou a ambos em litisconsórcio passivo facultativo. 
Em contrapartida à onerosidade assumida, o comissário fará jus a uma remuneração maior 
(art. 697). 
 
3.6 EXTINÇÃO DO CONTRATO 
 
A extinção do contrato de comissão extingue-se com: 
- consumação do objeto; 
- consumação do prazo (se foi pactuada em prazo determinado) 
- resilição bilateral (distrato) 
- resilição unilateral (arts. 703 e 705) 
- resolução (por inadimplemento) 
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4 AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO 
 
4.1 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS 
 
Apesar de aparentarem institutos idênticos, o Código Civil, em seu art. 710, diferencia 
agência e distribuição, nos seguintes termos: “Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter não 
eventual e sem vínculos de dependência, a obrigação de promover, à conta de outra, mediante retribuição, a realização 
de certos negócios, em zona determinada, caracterizando-se a distribuição quando o agente tiver à sua disp osiç ão a 
coisa a ser negociada”. 
Portanto, como bem ensinam Gagliano e Pamplona (2014, p. 301), 
 
No contrato de agência, o agente, sem vínculo de subordinação, e sem deter a coisa que 
comercializa, realiza negócios, em área determinada, fazendo jus a uma remuneração fixa ou 
percentual; diferentemente, no contrato de distribuição, posto deva também empreender 
negócios à conta e no interesses de terceiro, o distribuidor já tem à sua disposição a coisa 
negociada. 
 
A grande distinção entre as duas figuras contratuais, sem sombra de dúvidas, é ter ou não 
consigo a coisa a ser comercializada. Se o agente tiver à sua disposição a coisa a ser negociada, o 
contrato não será mais o de agência, mas de distribuição. 
“No contrato de agência, o agente promove a celebração do negócio entre o 
proponente/agenciado e o adquirente (em geral consumidor), ao passo que, na distribuição, é o 
próprio distribuidor que vende o produto (que já se encontrava em sua posse)” (GAGLIANO e 
PAMPLONA, 2014, p. 301). 
Dessa forma, na distribuição, a coisa é vendida pelo proponente ao distribuidor, que, por 
sua vez, a revende ao consumidor. 
Em pese tradicionalmente a agência, como modalidade de contrato mercantil, ter por 
objeto a venda de mercadorias, há quem defenda a sua aplicação em relações civis, como no caso de 
agenciamento de artistas, jogadores de futebol ou outras atividades. 
Os contratos de agência e distribuição caracterizam-se por serem bilaterais e onerosos 
(produzem direitos e obrigações a ambas as partes); comutativos (pela equivalência das prestações); 
consensuais e não solenes (a depender do valor, a forma escrita é exigida para fins de prova); fiduciários ou 
intuitu personae (pois são baseados na confiança/art. 711); paritários ou por adesão; contrato de duração ou de 
trato sucessivo, ou execução continuada (determinada ou indeterminada); causal (vinculados a uma 
atividade mediante a qual se conseguirá uma utilidade econômica); principal e definitivo (pois não é 
preparatório para qualquer negócio jurídico). 
 
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4.2 CONTRATOS DE AGÊNCIA E DE DISTRIBUIÇÃO x OUTRAS FIGURAS CONTRATUAIS 
 
Embora boa parte da doutrina equipare o contrato de agência ao contrato de representação 
comercial, fato é a representação é bem mais ampla, pois o representante comercial pode participar 
da conclusão do negócio, representando a parte que lhe outorgou poderes, além de submeter a 
registro no Conselho Regional de Representantes Comerciais, vinculado ao Conselho Federal (Lei 
n. 4.886/65), o que não se exige dos agentes ou distribuidores. 
Todavia, caso assim o façam (se registrem no órgão competente), passam a exercer 
atividade típica de representante comercial. Por outro lado, nada impede que o representante 
comercial possa agenciar ou distribuir, pois quem pode o mais, pode o menos. Justamentepor isso que na 
prática é tão difícil fazer tal distinção. 
Também não se pode dizer que o contrato estabelecido com vendedores viajantes (ou 
pracistas) seja de agência. Apesar de terem a finalidade comum de angariar clientela para a empresa, 
o agente é um trabalhador autônomo, não tem vínculo de dependência, de subordinação, podendo, 
inclusive, ser pessoa jurídica e contratar empregados ou prestadores de serviço para exercerem 
parte das atribuições, o que não ocorre no primeiro caso que é tipicamente um contrato de emprego. 
Não confundir também com o contrato de mandato, embora este possa coexistir com a 
agência ou a distribuição. Isso porque a agência não pressupõe representação, mas a promoção de 
negócios jurídicos de interesse do proponente. Em outras palavras, o agente não fecha o negócio, 
apenas o promove, embora possa receber poderes via mandato nesse sentido. Além disso, a agência é 
um contrato continuativo, não eventual, e o mandato é para realizar negócios específicos e 
determinados. 
Por fim, os contratos de agência e distribuição distinguem do contrato de comissão, uma 
vez que o comissário pratica atos em seu próprio nome. Desse modo, “perante os destinatários dos 
bens, o vendedor é o comissário, e não o comitente. Já no contrato de agência, o vendedor é sempre o 
preponente, ainda que se possa conferir poderes ao agente para concluir e executar a venda.” 
 
4.3 DIREITOS E OBRIGAÇÕES DAS PARTES 
 
No contrato de agência ou de distribuição, a principal obrigação é do agente ou distribuidor, o 
qual se obriga a atuar como promotor de negócios, em favor do proponente, devendo agir com toda 
diligência, atendendo às instruções recebidas e arcando com todas as despesas decorrentes do 
contrato (arts. 712 e 713). Em outras palavras, aplica-se aqui, em toda a sua amplitude, o princípio da 
boa fé objetiva. 
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Não há, outrossim, relação de dependência entre agente/distribuidor e proponente, o que 
diferencia claramente do contrato de emprego. 
No entanto, o agente ou distribuidor tem direito a uma remuneração, fixa ou percentual, 
pelos negócios que promover, correspondente àqueles concluídos dentro de sua zona, ainda que 
sem a sua interferência2 (art. 714). Tal remuneração será devida ainda quando o negócio deixe de ser 
realizado por fato imputável ao proponente (art. 716), salvo se a entrega do produto ao agente haja 
se tornado impossível por fato inevitável (caso fortuito ou força maior). Ex: incêndio acidental nas 
instalações fabris. 
Por outro lado, se o descumprimento fortuito da obrigação se der em face do agente, o art. 
719 dispõe que este terá direito à remuneração correspondente aos serviços realizados, cabendo esse 
direito aos herdeiros no caso de morte. Evita-se, assim, o enriquecimento sem causa do proponente. 
Por fim, calha lembrar que, de acordo com o art. 715, o agente ou distribuidor tem direito à 
indenização se o proponente, sem justa causa, cessar o atendimento das propostas ou reduzi-lo 
tanto que se torne antieconômica a continuação do contrato. 
O problema é que a expressão “cessar o atendimento ou reduzir as propostas sem justa causa” é um 
conceito jurídico indeterminado/aberto, cabendo ao juiz, no caso concreto, definir. De todo modo, 
certo é que apenas fatos realmente inevitáveis poderiam justificar tal atuação do proponente, 
devendo responder perante o agente sempre que agir culposamente, por ter atingido o equilíbrio 
contratual e onerado excessiva e injustificadamente o agente. 
 
4.4 EXTINÇÃO DO CONTRATO 
 
O contrato de agência ou de distribuição pode ser extinto como qualquer contrato, ou seja, 
de 3 formas: 
• Resolução => desfazimento do contrato por inadimplemento, seja pela recusa justificada 
ou não do devedor, seja por fatos alheios à sua vontade. 
Insere-se, neste contexto, a possibilidade de pôr fim ao contrato em razão do cometimento 
de falta grave por parte do agente (art. 717), ou sem sua culpa (art. 718), à exemplo do que ocorre nos 
contratos trabalhistas, onde ocorre a dispensa com ou sem justa causa. 
Nada impede, de outro giro, que o próprio agente exerça o direito de resolução do contrato, 
quando o proponente ou agenciado realizar atos incompatíveis com o objeto do contrato ou com a 
boa-fé objetiva. 
 
2 Nota-se que o legislador quis evitar nitidamente a fraude à cláusula de exclusividade, impedindo que terceiro 
intermedeie o negócio, afeto à determinado agente. 
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Em razão da semelhança com o contrato de representação comercial, aplica-se 
subsidiariamente as hipóteses justificadores do desfazimento contratual previstas nos arts 35 e 36 
da Lei n. 4.886/65. 
 
• Rescisão => desfazimento do contrato em razão de nulidade (lesão ou estado de perigo). 
 
• Resilição => desfazimento do contrato por simples manifestação de vontade, 
independentemente do seu cumprimento, traduzindo-se num direito potestativo. Pode ser bilateral, 
o denominado distrato, ou unilateral, que se dá quando uma das partes, após comunicar a outra 
(aviso prévio), denuncia o contrato, desfazendo-o. Esta última (resilição unilateral) só admitida 
com autorização legal expressa ou implícita (pela natureza da avença), e sempre com a prévia 
comunicação da outra parte (art. 473), sob pena de indenização. 
Todavia, se o contrato de agência ou de distribuição for por tempo indeterminado, 
qualquer das partes poderá dissolvê-la, mediante aviso prévio de 90 dias, desde que transcorrido 
prazo compatível com a natureza e o vulto do investimento exigido do agente (art. 720). Reza o 
parágrafo único do art. 720 que, havendo divergência entre as partes, o juiz decidirá da 
razoabilidade do prazo e do valor devido. 
Logo, a resilição não será possível se não transcorreu prazo razoável (conceito aberto), 
compatível com a natureza e o vulto do investimento realizado pelo agente, para a consecução dos 
negócios agenciados.

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