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1 Introdução Sistemas, Ciência e Estudo Uma Galeria de Aplicações 1 2 Longley_01.indd 1Longley_01.indd 1 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Longley_01.indd 2Longley_01.indd 2 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 1 Sistemas, Ciência e Estudo Este capítulo apresenta o quadro conceitual do livro abordando algumas questões fundamentais: • O que é exatamente informação geográfica e por que ela é importante? O que ela tem de especial? • O que é informação em geral e como ela se relaciona com dados, conhecimento, evidências, sabedoria e compreensão? • Que tipo de decisão faz uso de informação geográfica? • O que é um sistema de informação geográfica (SIG) e como eu o reconheceria se o visse? • O que é a ciência de informação geográfica e como ela se relaciona com o uso dos SIG para propósitos científicos? • Como os cientistas usam SIG e por que eles o acham útil? • Como as empresas fazem dinheiro com SIG? Após estudar este capítulo, você: • Conhecerá definições de termos usados ao longo do livro, incluindo o próprio SIG. • Estará familiarizado com uma breve história dos SIG. • Reconhecerá os papéis muitas vezes invisíveis dos SIG no dia a dia e no mundo dos negócios. • Compreenderá o significado da ciência da informação geográfica e como ela se relaciona com os sistemas de informação geográfica. • Compreenderá os vários impactos que os SIG estão tendo sobre a sociedade e a necessidade de estudar esses impactos. Longley_01.indd 3Longley_01.indd 3 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Parte 1: Introdução4 Introdução: Por que os SIG são importantes? Quase tudo que acontece, acontece em algum lugar. Nós humanos restringimos nossas atividades geralmente à superfície ou às proximidades da superfície da Terra. Viajamos sobre ela, bem como nas camadas inferiores da atmosfera, e andamos em túneis escavados logo abai- xo da superfície. Cavamos valas e enterramos dutos e cabos, construímos minas para chegar às jazidas mine- rais e perfuramos poços para acessar petróleo e gás. Ter controle de toda essa atividade é importante e conhecer onde ela ocorre pode ser a base mais conveniente para seu controle. Saber o local onde algo acontece pode ser criticamente importante, caso se queira ir ou enviar al- guém até lá, ou para encontrar outra informação sobre o mesmo lugar, ou mesmo para informar algo à popu- lação que mora nas proximidades. Adicionalmente, as decisões têm consequências geográficas. Por exemplo, adotar uma fórmula especial de financiamento cria ven- cedores e perdedores geográficos, o que é mais claro quando o resultado é igual a zero. Por isso, a localização geográfica é um importante atributo de atividades, po- líticas, estratégias e planos. Os sistemas de informação geográfica (SIG) são uma classe especial de sistemas de informação que controlam não apenas eventos, ativida- des e coisas, mas também onde esses eventos, atividades e coisas acontecem ou existem. Quase tudo que acontece, acontece em algum lugar. Saber o local onde algo acontece pode ser fundamental. Como a localização é tão importante, ela é uma das várias questões a serem resolvidas pela sociedade. Al- guns desses problemas são tão rotineiros que nos passam quase despercebidos – a questão diária do caminho a to- mar para ir e voltar do trabalho, por exemplo. Outras são ocorrências extraordinárias e requerem respostas rápi- das, organizadas e coordenadas de um amplo conjunto de indivíduos e órgãos – tal como os eventos de 29 de agosto de 2005 em New Orleans (Quadro 1.1). Problemas que envolvem um aspecto de localização, seja na informação usada para resolvê-lo ou na solução propriamente dita, são denominados problemas geográficos. Aqui estão al- guns exemplos adicionais: • Gestores de saúde solucionam problemas geográficos (e talvez criem outros) quando decidem onde locali- zar novas clínicas ou hospitais. • Empresas de entregas expressas solucionam pro- blemas geográficos diariamente ao decidirem as rotas e os horários de seus veículos. • Autoridades de transporte resolvem problemas geo- gráficos quando selecionam rodovias para se transfor- marem em autoestradas. • Consultores geodemográficos resolvem problemas quando avaliam a performance de pontos de venda e recomendam onde expandir ou racionalizar a rede de lojas. • Companhias de silvicultura resolvem problemas geo- gráficos quando determinam como melhor gerenciar as florestas, onde cortar, onde locar estradas e onde plantar novas árvores. • Gestores de parques nacionais resolvem problemas geográficos quando estabelecem um cronograma de manutenção e melhoria de trilhas (Figura 1.1). • Órgãos governamentais resolvem problemas geográfi- cos quando decidem como destinar fundos para cons- trução de proteção marítima. • Viajantes e turistas resolvem seus problemas geográ- ficos quando fornecem e recebem instruções de di- reção, selecionam hotéis em cidades não familiares e encontram seu próprio caminho nos parques temáti- cos (Figura 1.2). 1.1 Figura 1.1 Manutenção e melhoramento de trilhas em parques nacionais é um problema geográfico. Longley_01.indd 4Longley_01.indd 4 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Capítulo 1 Sistemas, Ciência e Estudo 5 • Produtores rurais resolvem problemas geográficos quando empregam nova tecnologia da informação para tomar decisões melhores sobre a quantidade de fertilizantes e pesticidas a aplicar em diferentes par- tes de sua propriedade. Se tantos problemas são geográficos, o que distingue uns dos outros? Aqui estão as bases para a classificação dos problemas geográficos. Primeiro, há uma questão de esca- la ou nível de detalhamento geográfico. O desenho arqui- tetônico de um prédio pode apresentar problemas, como no caso da gestão de desastres (Quadro 1.1), mas apenas em uma escala muito detalhada ou local. A informação ne- cessária para prover serviços públicos ao edifício também é local – o tamanho e forma do lote, a altura e a profun- didade do edifício, a declividade do terreno e sua acessi- bilidade usando infraestrutura normal e de emergência. No outro extremo da escala, a difusão global da epidemia de síndrome respiratória aguda grave (SARS) de 2003 e da gripe aviária de 2004 foram problemas de escala muito mais ampla e grosseira, envolvendo informação sobre toda a população de um país e padrões de transporte globais. A escala ou o nível de detalhamento geográfico é propriedade essencial de qualquer projeto de SIG. Figura 1.2 Navegação em destinos turísticos é um problema geográfico. Quadro de aplicações 1.1 Furacão Katrina, 29 de agosto de 2005 Desastres causados por furacões ocorrem de diferentes formas: surgimento do furacão, ventos fortes, torna- dos, inundações. É importante para famílias e comuni- dades terem planos de ação de segurança para anteci- par esses riscos. O furacão Katrina (Figura 1.3) atingiu a cidade de New Orleans, Louisiana (EUA) em 29 de agosto de 2005, com toda a força de uma tempesta- de de categoria 5, tendo cortado uma faixa através do Figura 1.3 (A) O furação Katrina em 28 de agosto de 2005. (Cortesia NOAA/NESDIS: www.nnvl.noaa.gov) Figura 1.3 (B) Suas consequências em Nova Orleans em 29 de agosto de 2005, mostrando a inundação da autoestrada interestadual I-10, causada diretamente pelo rompimento dos diques do canal da 17th Street (Rua 17). (Imagem da Wikipedia: http://en.wikipedia. org/wiki/Image:KatrinaNewOrleansFlooded_edit2.jpg) Longley_01.indd 5Longley_01.indd 5 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Parte 1: Introdução6 extremo sul dos EUA, da Flórida ao Mississipi. Mete- orologistas tiveram muito sucesso na previsão de sua trajetória e força, e muito da área afetada pôde ser evacuada antes da chegada da tempestade. New Orle- ans foi declarada área de emergência federal em 24 de agosto. O dano físico causado por essa passagem e o consequente rompimento dos diques de proteção con- tra cheias em mais de 50 lugares inundaram 80% dacidade de New Orleans (Figura 1.4). O furacão Katrina causou um dano estimado de US$ 81 bilhões (cotação do dólar de 2005), além das 1836 vidas perdidas. Lidar com as consequências dessa emergência teve uma série de problemas geográficos. Muitos dos mapas de SIG usados para lidar com a situação foram produzi- dos por voluntários e por agências oficiais. A demanda inicial por mapas de SIG foi de socorristas e equipes de emergência em terra, que necessitavam de mapas de ruas específicos para busca e salvamento. Isso incluía mapas de ruas mostrando a densidade populacional, as principais referências urbanas citadas nas chamadas de emergência, as coordenadas de latitude e longitu- de necessárias ao resgate por helicóptero ou as últimas coordenadas conhecidas de pessoas desaparecidas. Ou- tros mapas de “sensibilidade situacional” foram requisi- tados para uso dos comandantes do incidente e outros tomadores de decisão, trabalhando desde a escala local até o nível federal. Estes sítios identificados foram fun- damentais para a queda de energia ou a restauração, a disponibilidade de mudança de largura de banda de telefone celular na medida em que as torres voltavam a funcionar, as áreas que provavelmente haviam tido inundações (ou que viriam a ter) inundações, fechamen- to de estradas e restrições de acesso, disponibilidade de abrigos e cozinhas, pontos de distribuição água e gelo e à localização dos sítios ambientalmente perigosos. Nessas aplicações operacionais e táticas, o emprego dos SIG assegurou que os dias antes e imediatamente após o impacto da tempestade fossem usados de modo produtivo. No entanto, o socorro do governo e o atra- so em responder à inundação de New Orleans foram alvos de críticas. Numa visão mais estratégica, também se aponta que o furacão Katrina foi responsável por uma catástrofe que poderia ter sido evitada, causada pelo corte de verbas e pela falta de conhecimento da resistência das barragens. A intervenção estratégica falhou, mas os SIG foram, apesar disso, de extrema im- portância no gerenciamento de catástrofes em curto prazo e de operações de limpeza de médio prazo. Figura 1.4 Previsão dos efeitos de uma tempestade de 32 pés (~9,75m) com a ação das ondas de 20 pés (~6,10m), modelada utilizando um SIG. Os limites da cidade são mostrados em verde e o limite da tempestade, em vermelho. (Fonte: ArcNews) Longley_01.indd 6Longley_01.indd 6 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Capítulo 1 Sistemas, Ciência e Estudo 7 Segundo, problemas geográficos podem ser distin- guidos com base na intenção ou no propósito. Alguns problemas são de natureza bem prática – eles devem ser resolvidos tão rápido quanto possível e/ou com custo mí- nimo, de modo a atingir objetivos práticos como economi- zar dinheiro, evitar multas de órgãos reguladores ou lidar com uma situação de emergência. Outros são melhor ca- racterizadas como fruto da curiosidade humana. Quando dados geográficos são usados para verificar a teoria da deriva dos continentes, para mapear a distribuição dos depósitos glaciais ou ainda para analisar os movimentos históricos da população em pesquisas arqueológicas e an- tropológicas (Quadro 1.2 e Figura 1.5), não há sensação de um problema imediato a ser resolvido. Ao contrário, a intenção é o avanço da compreensão humana sobre o mundo, o que frequentemente reconhecemos como sen- do a intenção da ciência. Embora se possa pensar que a ciência e a solução de problemas práticos sejam atividades humanas distintas, frequentemente argumenta-se que não há mais distinção entre os seus métodos. As ferramentas e os métodos usa- dos por um cientista em um órgão governamental para assegurar a proteção de uma espécie ameaçada são essen- cialmente os mesmos usados por um ecólogo pesquisador para avançar nosso conhecimento científico dos sistemas biológicos. Ambos usam os equipamentos de medição mais precisos, empregam termos cujo significado têm sido amplamente compartilhados e são de consenso, insistem que seus resultados sejam replicáveis por outros e geral- mente seguem todos os princípios da ciência que evoluí- ram ao longo dos últimos séculos. O uso de SIG de ambas as formas reforça a ideia de que a ciência e a solução de problemas práticos não se distinguem pelo método, confirmando o fato de os SIG serem amplamente utilizados em todos os tipos de organi- zação, da academia aos órgãos governamentais e às corpo- rações. O uso de ferramentas e métodos similares típicos da ciência na resolução de problemas é parte de uma mu- dança do exercício da curiosidade das disciplinas acadêmi- Figura 1.5 Princípios de localização de uma loja são muito importantes no desenvolvimento de mercados ao redor do mundo, como os investimentos da Tesco em Beijing, China. (© Lou-Foto/Alamy Limited) Quadro de aplicações 1.2 De onde vieram seus ancestrais? Muitos de nós estão interessados em saber de onde viemos – não apenas geograficamente, mas também em termos de posição social ou de herança genética. Algumas pistas vêm dos nossos sobrenomes de família; e nomes de família ocidentais têm diferentes tipos de origem, muitas das quais são explícita ou implicitamen- te geográficas (essas pistas são menos importantes em algumas sociedades orientais, cujas histórias familia- res são melhor documentadas). Pesquisadores do Uni- versity College de Londres estão usando SIG, além de censos e registros históricos, para investigar mudanças na geografia local e regional de sobrenomes no Reino Unido desde o final do século XIX (Figura 1.6). Agre- gar nomes em grupos culturais, étnicos ou linguísticos pode nos dizer bastante sobre a migração, sobre mu- danças na economia local e regional e mesmo sobre medidas relativas à saúde e à vitalidade da economia local. Análises similares em SIG podem ser usadas para generalizações sobre as características intergeracio- nais de emigrantes internacionais (por exemplo, para a América do Norte, Austrália e Nova Zelândia – Figura 1.7), ou sobre o padrão de denominação regional de imigrantes para os Estados Unidos desde a Índia ou da China. Isso nos ajuda a entender nosso lugar no mun- do. Fundamentalmente, é uma pesquisa impulsionada pela curiosidade: é interessante para nós como indi- víduos entender mais sobre nossas origens, e é inte- ressante para os preocupados com o planejamento ou com as políticas para um determinado lugar entender a mistura social e cultural das pessoas que ali vivem. Ainda assim, isso não é crucial para resolver problemas específicos num prazo definido. Longley_01.indd 7Longley_01.indd 7 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Parte 1: Introdução8 0 100 200 300 40050 Quilômetros Índice de sobrenome 0–100 101–150 151–200 201–250 251–500 501–1000 1001–1500 1501–2000 Fonte (A): Censo Demográfico de 1881 Longley Goodchild Maguire Rhind (A) Figura 1.6 A geografia dos Longleys, dos Goodchilds, dos Maguires e dos Rhind no Reino Unido em (A) 1881 e (B) 1998. (Reproduzido com permissão de Daryl Lloyd) Longley_01.indd 8Longley_01.indd 8 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Capítulo 1 Sistemas, Ciência e Estudo 9 0 200 300 40050 100 Quilômetros Índice de sobrenome 0–100 101–150 151–200 201–250 251–500 501–1000 1001–1500 1501–2000 Fonte (B): Registro Eleitoral de 1998 Longley Goodchild Maguire Rhind (B) Longley_01.indd 9Longley_01.indd 9 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Parte 1: Introdução10 cas tradicionais para enfoque na resolução de problemas de uma equipe interdisciplinar. Neste livro, fazemos distinção entre usos de SIG com foco em projetos, também denominados usos normativos, e usos que avançam a ciência, também denominados usos positivos (um significado um tanto confuso desse termo, infelizmente, mas comumente usado pelos filósofos da ciência – seu uso implica que a ciência confirma a teoria por encontrar evidências positivas que as apóiam, e rejei- ta teorias quando é encontrada uma evidência negativa). Encontrar novos locais paralojas de varejo é um exemplo de aplicação normativa de SIG, com foco em projetos. Mas para prever como os consumidores irão responder a esses novos locais, é necessário que os varejistas analisem e modelem seu padrão atual de comportamento. Por isso, os modelos que eles usam estarão fundamentados em observações de uma realidade confusa, testados de um modo positivo. Com uma simples coleção de ferramentas, os SIG são capazes de estabelecer uma ligação en- tre a ciência movida pela curiosidade e a resolu- ção de problemas práticos. Terceiro, problemas geográficos podem ser dife- renciados com base na sua escala temporal. Algumas decisões são operacionais e necessárias ao bom funciona- mento de uma organização, tal como controlar a entrada de eletricidade em redes que apresentam picos e quedas no consumo (Seção 10.9). Outras são táticas e voltadas a decisões de médio prazo, como o corte de árvores no plano de corte florestal do próximo ano. Outras decisões, ainda, são estratégicas e necessárias para dar diretrizes de longo prazo a uma organização, como quando um va- rejista decide expandir ou racionalizar sua rede de lojas (Figura 1.5). Esses prazos são explorados no contexto de aplicações de logística dos SIG na Subseção Logís- tica e Transportes, Seção 2.3. O mundo real é de fato um pouco mais complexo que isso, e essa distinção pode confundir – uma enchente que teoricamente e estatisti- camente ocorre a cada 1.000 anos influencia as conside- rações estratégicas e táticas, embora ela possa ocorrer um ano depois do outro! Outros problemas que interessam a geofísicos, geólogos ou biólogos evolucionistas podem ocorrer em escalas de tempo muito maiores do que a vida de um ser humano, mas mesmo assim são de na- tureza geográfica, tal como as predições sobre o futuro Índice alto baixo Milhas 0 500 Figura 1.7 O sobrenome Singleton deriva de um lugar no noroeste da Inglaterra e é compreensível que a maior concentração dele continue sendo neste local ainda hoje. Mas qual a razão desse sobrenome estar desproporcionalmente concentrado no sul e no oeste dos Estados Unidos? A análise geográfica do padrão global dos sobrenomes pode nos ajudar a construir uma hipótese sobre as migrações históricas de famílias, comunidades e grupos culturais. Longley_01.indd 10Longley_01.indd 10 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Capítulo 1 Sistemas, Ciência e Estudo 11 ambiente físico do Japão ou sobre as populações animais da África. Bancos de dados geográficos frequentemente são transacionais (Subseção Transações, Seção 10.9), o que quer dizer que eles são constantemente atualizados à medida que uma nova informação chega, diferente dos mapas em papel, que uma vez impressos permanecem da mesma forma. O Capítulo 2 traz uma discussão mais detalhada da gama e do alcance das aplicações de SIG e fornece uma visão de como os SIG permeiam muitos dos aspectos da nossa vida diária. Outras aplicações são discutidas para ilustrar princípios específicos, técnicas, métodos analíticos e práticas de gerenciamento à medida que elas surgem ao longo do livro. O espacial é especial O adjetivo geográfico refere-se à superfície da Terra e ao que está próximo da superfície, e define o objetivo desse livro, embora outros termos tenham significado similar. Espacial refere-se a qualquer espaço, não apenas ao es- paço da superfície da Terra; esse termo é usado frequen- temente no livro, quase sempre com o mesmo significado de geográfico. Contudo, muitos dos métodos usados em SIG também são aplicáveis a outros espaços não geográ- ficos, incluindo a superfície de outros planetas, o espaço do cosmos e o espaço do corpo humano capturado por imagens médicas. Técnicas de SIG têm sido aplicadas à análise de sequências de genomas no DNA. Assim, a discussão de análise nesse livro é de análise espacial (Ca- pítulos 14 e 15), não de análise geográfica, para enfatizar sua versatilidade. Outro termo que tem tido uso crescente nos últimos anos é geoespacial – como um subconjunto de espacial aplicado especificamente à superfície da Terra e a suas proximidades. A antiga Agência Nacional de Inteligência e Mapeamento foi renomeada pelo presidente George W. Bush, no final de 2003, como Agência de Inteligência Geo- espacial, e o portal de dados governamentais é denomi- nado Geospatial One-Stop. Neste livro, procuramos evitar esse termo, preferindo o termo geográfico e usando o ter- mo espacial onde necessitamos enfatizar um caráter geral. Pessoas que se defrontam com SIG pela primeira vez são levadas a se perguntar por que a geografia é tão im- portante; por que o espacial é especial? Acima de tudo, há, por exemplo, uma abundância de informação sobre geriatria e, em princípio, alguém poderia criar um siste- ma de informação geriátrica. Então, por que a informação geográfica gerou toda uma indústria se a informação geri- átrica não fez nada parecido? Por que não existem cursos específicos nas universidades sobre sistemas de informa- ção geriátrica? Parte da resposta deveria estar clara nessa altura: praticamente todas as atividades e decisões huma- nas envolvem um componente geográfico, e o componen- te geográfico é importante. Outra razão ficará evidente no Capítulo 3, onde veremos que trabalhar com sistemas de informação geográfica envolve escolhas complexas e difí- ceis, e em grande parte, únicas. Outras razões mais técni- cas ficarão claras em capítulos posteriores e estão breve- mente sintetizadas no Quadro 1.3. Dados, informação, conhecimento, evidência e sabedoria Os sistemas de informação nos ajudam a gerenciar o que conhecemos tornando simples a tarefa de organizar e ar- 1.2 Quadro técnico 1.3 Algumas razões pelas quais a informação geográfica é especial • A informação geográfica é multidimensional, pois são necessárias duas coordenadas para definir um local, sejam elas x e y ou latitude e longitude. • Ela é volumosa, pois um banco de dados geográfico pode alcançar o tamanho de um terabyte facilmen- te (Tabela 1.1). • Ela pode ser representada em diferentes níveis de resolução espacial, por exemplo, usando a repre- sentação equivalente a um mapa na escala 1:1 mi- lhão e um mapa na escala 1:24.000 (Seção 3.7). • Ela pode ser representada de diferentes formas no computador (Capítulo 3), e a maneira como isso é feito influencia muito na facilidade das análises e nos resultados finais. • Ela frequentemente é projetada sobre uma superfí- cie plana, por razões identificadas na Seção 5.8. • Ela requer muitos métodos especiais para sua análi- se (Capítulos 14 e 15). • Sua análise pode ser demorada. • Embora muita informação geográfica seja estática, o processo de atualização é complexo e caro. • A visualização de informação geográfica na forma de mapa requer a recuperação de grande volume de dados. Longley_01.indd 11Longley_01.indd 11 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Parte 1: Introdução12 mazenar, acessar e recuperar, manusear e sintetizar, além de aplicar o conhecimento na resolução de problemas. Usamos uma variedade de termos para descrever o que conhecemos, incluindo os cinco que dão título a essa seção e são mostrados na Tabela 1.2. Não existe consenso univer- sal na definição desses termos, dos quais os dois primeiros são frequentemente utilizados no âmbito dos SIG. Entre- tanto, vale a pena entender os seus vários sentidos, pois a diferença entre eles pode muitas vezes ser significativa. O que segue baseia-se em várias fontes e fornece assim uma base para o uso desses termos ao longo do livro. Dados refere-se claramente ao tipo mais comum de informação; sabedoria, ao mais importante. Dados consistem em nú- meros, texto, símbolos que são de algum modo neutros e quase sem contexto. Fatos geográficos brutos (Subseção Propriedade e usufruto de IG, na Seção 18.5), tal como a temperatura num dado momento e local, são exemplo de dados. Quando os dados são transmitidos, eles são tratados como uma sequência de bits; um requisito crucialé a pre- servação da integridade do conjunto de dados. O signifi- cado interno do dado é irrelevante em tais considerações. Dados são reunidos em um banco de dados (Capítulo 10), e os volumes de dados necessários a uma aplicação típica são mostrados na Tabela 1.1. O termo informação pode ser usado de forma restrita ou ampla. No sentido restrito, informação pode ser trata- da com desprovida de sentido e por isso como um sinôni- mo de dado, tal como definido no parágrafo anterior. Ou- tros definem informação como qualquer coisa que possa ser digitada, isto é, representada na forma digital (Capí- tulo 3), mas também argumentam que informação dife- rencia-se de dado porque implica seleção, organização e preparação para fins específicos – informação são dados servindo a um propósito, ou dados aos quais foi agregada interpretação. A informação muitas vezes é cara para ser produzida, mas uma vez digitada, é de fácil reprodução e distribuição. Conjuntos de dados geográficos, por exem- plo, podem ser muito caros para serem coletados e reuni- dos, mas muito fáceis de serem copiados e disseminados. Outra característica da informação é a facilidade com que se agrega valor a ela através de processamento e da fusão com outra informação. Os SIG são um exemplo excelente desse último, em função das ferramentas que eles ofe- recem para combinar informação oriunda de diferentes fontes (Seção 18.5). Os SIG fazem um trabalho melhor de compar- tilhamento de dados e informação do que de conhecimento, o qual é mais difícil de separar da pessoa. O conhecimento não surge simplesmente pelo aces- so a um grande volume de informação. Ele pode ser Tabela 1.1 Volume potencial de bancos de dados de SIG para algumas aplicações clássicas (volume estimado para a ordem de magnitude mais próxima). Estritamente, bytes são contados na potência ao quadrado – 1 quilobyte são 1.024, não 1.000 bytes 1 megabyte 1 000 000 Conjunto de dados único em um banco de dados de pequeno porte 1 gigabyte 1 000 000 000 Rede viária de uma grande cidade ou de um país pequeno 1 terabyte 1 000 000 000 000 Altitudes de toda a superfície da Terra registradas a cada 30 m 1 petabyte 1 000 000 000 000 000 Imagem de satélite de toda a Terra com resolução espacial de 1 m 1 exabyte 1 000 000 000 000 000 000 Uma representação 3D futura de toda a Terra com resolução espacial de 10 m? Tabela 1.2 Um ordenamento da infraestrutura de apoio à tomada de decisão Infraestrutura de apoio à tomada de decisão Facilidade de compartilhar com os outros Exemplos com SIG Sabedoria ↑ Impossível Políticas desenvolvidas e aceitas pelos interessados Conhecimento ↑ Difícil, especialmente conhecimento implícito Conhecimento pessoal sobre os lugares e seus problemas Evidência ↑ Raramente fácil Resultado de análises de SIG de vários conjuntos de dados e cenários Informação ↑ Fácil Conteúdo de um banco de dados construído a partir de dados brutos Dados Fácil Dados geográficos brutos Longley_01.indd 12Longley_01.indd 12 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Capítulo 1 Sistemas, Ciência e Estudo 13 considerado como informação à qual foi agregado valor por uma interpretação com base em um contexto par- ticular, experiência e propósito. De forma simples, a informação disponível em um livro ou na Internet ou em um mapa torna-se conhecimento apenas quando a informação foi lida e compreendida. A forma como ela é interpretada e usada será diferente para leitores diferen- tes, dependendo da experiência, expertise e necessidade de cada um. É importante distinguir dois tipos de co- nhecimento: codificado e tácito. O conhecimento pode ser codificado caso ele possa ser escrito e transferido a outros com relativa facilidade. Conhecimento tácito é frequentemente lento para ser adquirido e muito mais difícil para ser transferido. Exemplos incluem o conhe- cimento construído durante o aprendizado, a compreen- são de como funcionam os mercados ou a familiaridade no uso de determinada tecnologia ou linguagem. Essa diferença na transferência significa que o conhecimento tácito e o codificado precisam ser gerenciados e recom- pensados de modo distinto. Pela sua natureza, o conhe- cimento tácito é frequentemente uma fonte da vanta- gem competitiva. Alguns têm argumentado que o conhecimento e a in- formação são fundamentalmente diferentes em pelo me- nos três aspectos importantes: 1. Conhecimento implica o conhecedor. A informação existe independentemente, mas o conhecimento está intimamente ligado a pessoas. 2. Conhecimento é mais difícil de destacar do conhe- cedor do que a informação; transportá-lo, recebê-lo, transferi-lo entre pessoas ou quantificá-lo é muito mais difícil do que para a informação. 3. Conhecimento requer muito mais assimilação – di- gerimos o conhecimento melhor do que o retemos. Guardamos informação conflitante, mas raramente guardamos conhecimento conflitante. A evidência é considerada um meio-caminho entre informação e conhecimento. Parece melhor considerá- -la como uma multiplicidade de informação oriunda de diferentes fontes, relacionadas a problemas específicos e com uma consistência validada. Muitas tentativas foram feitas pela medicina para extrair evidência confrontando um conjunto por vezes contraditório de informações cole- tadas por fontes de diversas partes do mundo, o que é co- nhecido como meta-análise, ou para a análise comparativa dos resultados com muitos estudos anteriores. A definição de sabedoria é ainda mais sutil do que a dos outros termos. Normalmente, o termo é usado no contexto da tomada de decisões ou de um conselho dado de forma desinteressada, baseado em todas as evidências e conhecimento disponíveis, mas com alguma compreen- são das possíveis consequências. Quase que invariavel- mente, ela é altamente individual e não é fácil de ser cria- da ou compartilhada com um grupo. A sabedoria está no topo de uma espécie de hierarquia da infraestrutura da tomada de decisão. Sistemas e ciência Sistemas de informação geográfica são sistemas computa- cionais feitos para armazenar e processar informação geo- gráfica. Eles são ferramentas que melhoram a eficiência e efetividade do tratamento da informação de aspectos e eventos geográficos. Eles podem ser usados para muitas outras tarefas úteis, como armazenar grandes quantida- des de informação geográfica em bancos de dados, reali- zar operações analíticas numa fração do tempo necessária para fazê-lo manualmente e automatizar o processo de confecção de mapas úteis. Sistemas de informação geo- gráfica também processam informação, mas há limites ao tipo de procedimento e prática que podem ser automati- zados na transformação de dados em informação. Além disso, está mais no domínio da evidência, do conhecimen- to e da sabedoria avaliar se a seletividade e a preparação a um dado propósito agregam algum valor, ou se os resul- tados agregam discernimento à interpretação das aplica- ções geográficas. Esses temas constituem o domínio da ciência da in- formação geográfica. Esse campo de rápido desenvolvi- mento preocupa-se com o contexto científico e com as bases dos sistemas de informação geográfica. Ele fornece um quadro no qual novas evidências, conhecimento e, fi- nalmente, sabedoria sobre a Terra podem ser criadas de modo eficiente, efetivo e para uso seguro. A ciência da resolução de problemas Como em todas as ciências, um requisito essencial da ciência da informação geográfica é o método para desco- brir novo conhecimento. O método científico da IG deve garantir: • Transparência de premissas e métodos para que ou- tros cientistas da IG possam determinar como o co- nhecimento prévio foi descoberto e como eles podem contribuir com o conhecimento já existente. • Objetividade através de uma perspectiva individual e independente, que evita ou acomoda tendenciosidade (intencional ou não). • A capacidade de qualquer outro cientista qualificado reproduzir os resultados da análise. • Métodos de validação usando osresultados da análise (validação interna) ou outra fonte de informação (va- lidação externa). 1.3 Longley_01.indd 13Longley_01.indd 13 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Parte 1: Introdução14 Como, então, existem problemas solucionados usan- do o método científico e problemas geográficos solucio- nados de modo diferente de outros tipos de problemas? Nós humanos acumulamos um imenso depósito sobre o mundo, incluindo informação tanto de como ele parece, ou sua forma, quanto de como ele funciona, ou seus pro- cessos dinâmicos. Alguns desses processos são naturais e estão incorporados à concepção do planeta, tal como os processos de movimentos tectônicos que levam aos ter- remotos e os processos de circulação atmosférica que le- vam aos furacões. Outros são de origem humana, reflexo da influência que temos sobre nosso ambiente natural, através da queima de combustíveis fósseis, da derrubada de florestas e da agricultura (Figura 1.8). Outros são im- postos por nós, na forma de leis, diretrizes e práticas. Por exemplo, as diretrizes de zoneamento afetam a forma de uso da terra. O conhecimento de como o mundo funciona é mais útil do que o conhecimento de como ele se parece, porque pode ser usado para fazer previsões. Esses dois tipos de informação diferem de forma marcante quanto à generalidade. A forma varia geogra- ficamente, e a superfície da Terra é muito distinta em di- ferentes lugares; compare a paisagem povoada do norte da Inglaterra com os desertos do sudoeste dos Estados Unidos (Figura 1.9). Ainda assim, os processos podem ser bem gerais. O modo como a combustão de combus- tível fóssil afeta a atmosfera é essencialmente o mesmo na China ou na Europa, embora as duas paisagens sejam distintas. A ciência sempre valoriza mais o conhecimento geral do que o específico e, portanto, tem valorizado mais o conhecimento dos processos do que o conhecimento das formas. Os geógrafos, em particular, têm testemu- nhado um debate que já dura séculos sobre a geografia ideográfica, focada na descrição das formas e enfática na peculiaridade dos lugares, e a geografia nomotética, que busca descobrir processos gerais. Ambas são essenciais, obviamente, pois o conhecimento geral dos processos é útil para resolver problemas específicos apenas se ele for capaz de ser efetivamente combinado com o conhe- cimento da forma. Por exemplo, apenas podemos avaliar o risco de desmoronamento junto a rodovias na Nova Ga- les do Sul, Reino Unido, se conhecermos tanto a forma com que a estabilidade de uma encosta é impactada por fatores como características subsuperficiais rasas e poro- sidade, quanto o local onde se encontram as encostas em risco (Figura 1.10). Um dos méritos mais importantes dos SIG como ferramenta de resolução de problemas está na sua ca- pacidade de combinar o geral com o específico, como nesse exemplo das encostas da Nova Gales do Sul. Um SIG concebido para solucionar esse problema conteria conhecimento sobre as encostas da Nova Gales do Sul, na forma de mapas digitais, e os programas executados pelo SIG refletiriam o conhecimento geral de como en- costas influenciam a probabilidade de movimentos de massa sob condições de tempo extremas. O software de Figura 1.8 Processos sociais, tais como as emissões de dióxido de carbono, modificam o ambiente terrestre. (Digital Vision) Figura 1.9 A forma da superfície da Terra mostra enorme variabilidade, por exemplo, entre os desertos do sudoeste dos Estados Unidos e a paisagem povoada do norte da Inglaterra. (A: Cortesia ImageState) Longley_01.indd 14Longley_01.indd 14 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Capítulo 1 Sistemas, Ciência e Estudo 15 um SIG captura e implementa conhecimento geral, en- quanto o banco de dados de um SIG representa a infor- mação específica. Neste sentido, um SIG resolve o an- tigo debate entre os campos nomotéticos e ideográficos acomodando ambos. Os SIG resolvem o antigo problema de combi- nar conhecimento geral com informação especí- fica dando valor prático a ambos. O conhecimento geral aparece de diversas formas. A classificação é talvez a forma mais simples e rudimentar e é amplamente utilizada na resolução de problemas geo- gráficos. Em muitas partes dos Estados Unidos e outros países, vem-se buscando limitar o crescimento de áreas úmidas (banhados, pântanos), no intuito de protegê-las como hábitats naturais e evitar o impacto excessivo sobre os recursos hídricos. Para sustentar esses esforços, recur- sos têm sido investidos no mapeamento de áreas úmidas, principalmente em fotografias aéreas e imagens de satéli- te. Esses mapas simplesmente classificam a terra usando regras estabelecidas que definem o que é e o que não é área úmida (Figura 1.11). Formas mais sofisticadas de conhecimento incluem conjuntos de regras – por exemplo, regras que determi- nam que uso pode ser feito das áreas úmidas, ou que áreas de uma floresta podem ser legalmente cortadas. O Serviço Florestal do Estados Unidos tem regras para definir o es- tado de conservação de uma área e para impor regulamen- tos relativos ao uso dessas áreas, incluindo a proibição de desmatamento ou a construção de estradas. Muito do conhecimento obtido pelas atividades dos cientistas sugerem o termo lei. O trabalho de Sir Isaac Newton estabeleceu as Leis do Movimento, segundo as quais toda matéria se comporta de modo perfeitamente previsível. A partir das leis de Newton podemos prever os movimentos dos planetas quase à perfeição, embora Einstein mais tarde tenha mostrado que certos desvios observados a partir das previsões das leis podiam ser ex- plicados pela sua Teoria da Relatividade. Leis com tal ca- pacidade de previsão são poucas e distantes entre si no mundo geográfico da superfície da Terra. O mundo real é o único laboratório de escala geográfica disponível para a maioria das aplicações de SIG, e incertezas consideráveis são geradas quando somos incapazes de controlar todas as condições. Esses problemas são agravados na esfera socio- econômica, na qual o papel do ser humano torna prati- camente inevitável que qualquer tentativa de desenvolver leis rígidas seja frustrada por exceções isoladas. Assim, en- quanto pesquisadores de mercado usam modelos de inte- ração espacial, com auxílio de SIG, para predizer quantas pessoas irão comprar em cada shopping center em uma cidade, erros substanciais irão ocorrer nessas predições. Entretanto, os resultados são de grande valor no desen- volvimento de estratégias locacionais de distribuição. A Figura 1.10 Prever deslizamentos requer conhecimento geral dos processos e conhecimentos específicos da área – ambos estão disponíveis em um SIG. (© Chris Selby/AlamyLimited) Figura 1.11 Um mapa de áreas úmidas de parte da Amazônia brasileira. O mapa foi feito por classificação de imagem Landsat com resolução de 30 metros. (Cortesia Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, Brasil) Longley_01.indd 15Longley_01.indd 15 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Parte 1: Introdução16 Equação Universal de Perda de Solos, usada por pedólo- gos com auxílio de SIG para predizer a erosão do solo, é similar no seu baixo poder de predição, mas, novamente, os resultados são suficientemente acurados e muito úteis nas circunstâncias apropriadas. A resolução de problemas envolve muitos compo- nentes e fases distintas. Primeiro, deve existir um objeti- vo ou uma meta que se deseja alcançar. Frequentemente deseja-se maximizar ou minimizar – encontrar a solução de menor custo, ou de menor distância, ou menor tem- po, ou maior lucro; ou de fazer a mais acurada predição possível. Esses objetivos são todos expressos de forma tangível; isto é, eles podem ser mensurados com base numa escala bem definida. Outros são tidos como in- tangíveis e envolvem objetivos de difícil mensuração ou mesmo impossíveis de serem mensurados. Eles incluem maximizar a qualidade de vida e satisfação e minimizar o impacto ambiental. Muitas vezes, a única maneira de trabalharcom esses objetivos intangíveis é envolver o se r humano como sujeito, através de levantamentos ou grupos dirigidos, pedindo que expressem suas preferên- cias entre as alternativas oferecidas. Muito conhecimen- to tem sido adquirido na pesquisa sobre o ser humano enquanto sujeito, e muito desse conhecimento tem sido empregado em SIG. Para discussões sobre o uso desses objetivos mistos, veja a Seção 16.4. Esse tópico é retoma- do no Capítulo 17 no contexto da estimativa de retorno do investimento dos SIG. Muitas vezes o problema terá objetivos múltiplos. Por exemplo, uma companhia que oferece tele-entrega de lan- ches em obras de construção civil quer maximizar o núme- ro de locais que podem ser visitados ao longo de um dia e quer maximizar também a expectativa de lucro visitando os locais mais lucrativos. As agências encarregadas de lo- calizar um corredor para uma nova linha de transmissão de energia podem decidir minimizar o custo, enquanto ao mesmo tempo buscam minimizar o impacto ambien- tal. Tais problemas empregam métodos conhecidos como tomada de decisão multicritério (Multi Criteria Decision Making – MCDM). Muitos problemas geográficos envolvem metas e objetivos múltiplos, que muitas vezes não po- dem ser expressos de forma compatível. A tecnologia da resolução de problemas A seção anterior apresentou os SIG como tecnologia de suporte tanto à ciência quanto à resolução de problemas, usando o conhecimento geral e o específico da realidade geográfica. Os SIG já andam por aí há tanto tempo que, de certa maneira, são uma tecnologia de base, tal como um processador de texto. Em outros aspectos impor- tantes, ainda, os SIG são mais do que uma tecnologia e continuam chamando a atenção de revistas científicas e conferências. Muitas definições de SIG têm sido sugeridas ao longo dos anos e nenhuma delas é inteiramente satisfa- tória. Atualmente, o rótulo SIG está ligado a muitas coi- sas, incluindo uma coleção de ferramentas de software para realizar certas funções bem definidas (software de SIG); a representação digital de vários aspectos do mun- do geográfico na forma de bancos de dados (dados de SIG); uma comunidade de pessoas que usam e talvez defendam o uso dessas ferramentas para vários propó- sitos (comunidade de SIG); e a atividade de uso do SIG para solucionar problemas ou avançar na ciência (fazer SIG). O simples rótulo funciona em todos esses modos e seu significado certamente depende do contexto no qual é usado. Certas definições de SIG (e o público para o qual ele pode ser útil) são sintetizadas na Tabela 1.3. Como descrevemos no Capítulo 3, os SIG são muito mais do que um repositório de mapas em meio digital. A descri- ção pode ser enganosa, mas pode ainda assim ser útil para se dar a alguém que busca uma explicação simples – um convidado numa festa, um parente ou um vizinho de poltrona em um voo. Todos nós conhecemos e apre- Tabela 1.3 Diferentes definições de SIG e os grupos para os quais cada uma é mais apropriada Um repositório de mapas em meio digital O público em geral Uma ferramenta computadorizada para resolver problemas geográficos Tomadores de decisão, grupos sociais, planejadores Um sistema de apoio à decisão espacial Administradores, pesquisadores em gestão operacional Um inventário mecanizado da distribuição geográfica de feições e infraestrutura Gestores de serviços públicos, técnicos de transportes, gestores de recursos Uma ferramenta para mostrar o que, de outra forma, é invisível na informação geográfica Cientistas, pesquisadores Uma ferramenta para realizar operações sobre dados geográficos muito trabalhosas, caras ou sujeitas a erros se feitas manualmente Gestores de recursos, planejadores Longley_01.indd 16Longley_01.indd 16 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Capítulo 1 Sistemas, Ciência e Estudo 17 ciamos o valor de mapas, e a noção de que eles pode- riam ser processados por um computador é diretamente análoga ao uso de processadores de texto ou planilhas de cálculo para lidar com outros tipos de informação. Um SIG é também uma ferramenta computadorizada para resolver problemas geográficos. Essa definição fala dos propósitos dos SIG mais do que de suas funções ou sua forma física – uma ideia que é expressa em outra definição, um sistema de apoio à decisão espacial. Um SIG é um inventário mecanizado de feições e serviços geograficamente distribuídos. Essa definição explica o valor dos SIG para os servi- ços de infraestrutura, em que eles são usados para con- trolar tubulações subterrâneas, transformadores, linhas de transmissão, postes e contas de clientes. Um SIG é uma ferramenta para revelar o que de outra forma é invisível na informação geográfica. Essa definição interessante en- fatiza o poder de um SIG como um mecanismo de análi- se para examinar dados e revelar seus padrões, relações e anomalias – coisas que podem não ser aparentes para alguém que olha um mapa. Um SIG é uma ferramenta para realizar operações sobre dados geográficos, que são muito tediosas, onerosas ou imprecisas se feitas manual- mente. Essa definição fala do problema associado à análise manual de mapas, particularmente à extração de medidas simples, de área, por exemplo. Cada um de nós tem uma definição favorita de SIG, e há muitas para escolher. Uma breve história dos SIG Como seria de esperar, alguma controvérsia ronda a his- tória dos SIG, pois houve desenvolvimento paralelo na América do Norte, na Europa e na Austrália (no mínimo). Muito da história publicada foca nas contribuições dos Estados Unidos. Por isso, ainda não temos uma história bem arredondada do nosso assunto. O que está claro, en- tretanto, é que a extração de medidas geográficas simples dirigiu o desenvolvimento do primeiro SIG verdadeiro, o Sistema de Informação Geográfica do Canadá (Canada Geographic Information System – CGIS), em meados dos anos 1960 (Seção 17.3). O Inventário de Terras do Canadá foi um esforço de peso do governo federal e dos governos provinciais para identificar os recursos naturais da nação e seus usos potenciais. Os resultados mais úteis de tal in- ventário foram medidas de área, embora a área seja mui- to difícil de ser quantificada de forma precisa a partir de um mapa (Subseção Medição de área, na Seção 15.1). O CGIS foi planejado e desenvolvido como uma ferramenta de mensuração, um produtor de informação tabular, não como uma ferramenta de fazer mapas. O primeiro SIG foi o Sistema de Informação Geográfica do Canadá, concebido em meados da década de 1960 como um sistema computa- dorizado de mensuração de mapas. Uma segunda explosão de inovação ocorreu no final dos anos 1960 no órgão de recenseamento dos Estados Unidos (Bureau of Census), no planejamento das ferra- mentas necessárias para realizar o Censo Demográfico de 1970. O programa DIME – Dual Independent Map Co- ding (Codificação Dual Independente de Mapas) criou registros digitais de todas as ruas dos Estados Unidos para dar suporte de referência e agregação automática aos registros do censo. A similaridade dessa tecnologia com aquela do CGIS foi imediatamente reconhecida e levou a um importante programa do Laboratório de Computação Gráfica e Análise Espacial da Universidade de Harvard para o desenvolvimento de um SIG multifuncional que pudesse atender às necessidades de ambas as aplicações. Esse projeto levou ao software de SIG ODYSSEY no final dos anos 1970. Desde cedo, os desenvolvedores de SIG reco- nheceram que as mesmas necessidades básicas estavam presentes em diferentes áreas de apli- cação, da gestão de recursos ao censo. Em um desenvolvimento muito diferente durante o final dos anos 1960, cartógrafos e agências de mapea- mento começaram a se perguntar se os computadores poderiam ser adaptados às suas necessidades, reduzin- do possivelmente os custos e o tempo para criação de mapas. A Unidade de Cartografia Experimental (Ex- perimental Cartography Unit – ECU) do Reino Uni- do foi pioneirano mapeamento computacional de alta qualidade em 1968; ela publicou o primeiro mapa feito por computador do mundo em uma série regular, em 1973, com o Serviço Geológico Britânico (Figura 1.12). A ECU também foi pioneira no ensino de SIG, no uso de códigos postais e códigos ZIP como referências geo- gráficas, na percepção visual de mapas e muito mais. As agências de mapeamento nacionais como o Ordnance Survey, do Reino Unido, o Instituto Geográfico Nacio- nal, da França, e o Serviço Geológico e a Agência de Mapeamento da Defesa (agora Agência Nacional de In- teligência Geoespacial), dos Estados Unidos, iniciaram a investigação do uso de computadores na edição de ma- pas que pudessem evitar o caro e demorado processo de correção e redesenho manual. O primeiro desenvol- vimento de cartografia automatizada ocorreu nos anos 1960, e no final dos anos 1970 a maioria das mais impor- tantes agências cartográficas tinham sido informatizadas em algum grau. No entanto, a magnitude da tarefa fez com que apenas em 1995 o primeiro país (Reino Unido) 1.4 Longley_01.indd 17Longley_01.indd 17 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Parte 1: Introdução18 conseguisse colocar a cobertura cartográfica digital com- pleta em um banco de dados. O sensoriamento remoto também teve parte no de- senvolvimento dos SIG, como uma fonte de tecnologia e de dados. O primeiro satélite militar dos anos 1950 foi desenvolvido e mantido em grande segredo para ganhar em inteligência, mas a liberação de muitos desses mate- riais nos últimos anos ofereceu visões interessantes so- bre o papel dos militares e da comunidade de inteligên- cia no desenvolvimento dos SIG. Embora os primeiros satélites espiões usassem câmeras fotográficas conven- cionais para registrar imagens, o sensoriamento remoto digital passou a substituí-las nos anos 1960, e no início dos anos 1970 os sistemas civis de sensoriamento remoto como o Landsat começaram a oferecer grandes volumes de novos dados sobre a aparência da superfície do pla- neta a partir do espaço, bem como a explorar as tecno- logias de classificação de imagens e de reconhecimento de padrões que tinham sido previamente desenvolvidas para aplicações militares. Os militares também foram responsáveis pelo desenvolvimento, nos anos 1950, do primeiro sistema uniforme do mundo para calcular loca- lização, guiados pela necessidade de localizar alvos balís- ticos dos mísseis intercontinentais. Esse desenvolvimen- to levou diretamente aos métodos de controle posicional utilizadas hoje. As necessidades militares também foram responsáveis pelo desenvolvimento inicial do Sistema de Posicionamento Global (Global Positioning System – GPS; Seção 5.9). Muito do desenvolvimento técnico dos SIG teve origem durante a Guerra Fria. Os SIG começaram de fato a decolar no início dos anos 1980, quando o preço dos computadores caiu a um nível que poderia sustentar a significativa indústria de software e aplicações com bom custo-benefício. Entre os primeiros clientes estavam companhias florestais e agên- cias de recursos naturais, levadas pela necessidade de controlar um vasto recurso florestal e de regular seu uso efetivo. Naquele tempo, um sistema computacional mo- desto – muito mais modesto que um computador pessoal de hoje – poderia ser obtido por cerca de US$ 250.000,00, e o software associado, por cerca de US$ 100.000,00. Mes- mo com esses preços, os benefícios da gestão consistente usando SIG e as decisões que podiam ser tomadas com essas novas ferramentas excederam substancialmente os custos. O mercado de software de SIG continuou a cres- cer, os computadores continuaram a cair de preço e au- mentar em potência e a indústria de software de SIG vem crescendo desde então. A história moderna dos SIG data do início dos anos 1980, quando o preço de computadores su- ficientemente potentes caiu abaixo de um nível crítico. Como indicado previamente, a história dos SIG é complexa, muito mais complexa do que pode ser descrita nessa breve história, mas a Tabela 1.4 resume alguns dos maiores eventos. Figura 1.12 Seção de um mapa geológico na escala 1:63.360 de Abingdon – o primeiro exemplo conhecido de um mapa produzido por meios automáticos, publicado em uma série de mapas para estabelecer padrões cartográficos. (Reproduzido com permissão do British Geological Survey and Odnance Survey © NERC. Todos direitos reservados. IPR/59-13C) Longley_01.indd 18Longley_01.indd 18 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Capítulo 1 Sistemas, Ciência e Estudo 19 Tabela 1.4 Principais eventos que formaram os SIG Data Tipo Evento Observações A Era da Inovação 1957 Acadêmico Produção do primeiro mapeamento automático conhecido Meteorologistas suecos e biólogos britânicos 1963 Tecnológico Início do desenvolvimento do CGIS Sistema de Informação Geográfica do Canadá é desenvolvido por Roger Tomlinson e colegas para o Inventário territorial do Canadá. Esse projeto foi pioneiro em muita tecnologia e introduziu o termo SIG. 1963 Geral Estabelecimento da URISA A Associação de Sistemas de Informação Urbanos e Regionais é fundada nos EUA. Logo se tornou ponto de intercâmbio para inovadores dos SIG. 1964 Acadêmico Estabelecimento do Harvard Lab O Laboratório Harvard de Computação Gráfica e Análise Espacial é estabelecido sob direção de Howard Fisher na Universidade de Harvard. Em 1966, SYMAP, o primeiro SIG matricial, é criado por pesquisadores de Harvard. 1967 Tecnológico Desenvolvimento do DIME O Bureau of Census dos EUA desenvolve o DIME/GBF (Dual Independent Map Encoding/Geographic Base File), uma estrutura de dados e um banco de dados de endereços de rua para o Censo de 1970. 1967 Acadêmico e geral Formação da Unidade de Cartografia Experimental (ECU) do Reino Unido Organização pioneira em uma gama de áreas da cartografia computadorizada e dos SIG. 1969 Comercial Formação da ESRI Inc. Jack Dangermond, um estudante do Harvard Lab, e sua mulher Laura formam a ESRI, comprometida com projetos de SIG. 1969 Comercial Formação da Intergraph Corp. Jim Meadlock e quatro outros que trabalhavam em sistemas de orientação para os foguetes Saturn formam a M&S Computing, mais tarde renomeada como Intergraph. 1969 Acadêmico Publicação de Design with Nature O livro de Ian McHarg é o primeiro a descrever muitos dos conceitos modernos da análise em SIG, inclusive o processo de sobreposição de mapas (Subseção Sobreposição de polígonos, Seção 14.2). 1969 Acadêmico Primeiro livro-texto técnico sobre SIG O livro de Nordbeck e Rystedt detalha algoritmos e software desenvolvidos para análise espacial. 1972 Tecnológico Lançamento do Landsat 1 Originalmente denominado ERTS (Earth Resources Technology Satellite), ele é o primeiro de muitos dos principais satélites de sensoriamento remoto. 1973 Geral Primeira linha de produção de vetorização Estabelecimento do Odnance Survey, a agência nacional de mapeamento britânica. 1974 Acadêmico 1ª Conferência AutoCarto Realizada em Reston, Virginia, EUA, essa é a primeira de uma série de conferências importantes que colocaram os SIG na agenda de pesquisa. 1976 Acadêmico GIMMS agora com uso mundial Escrito por Tom Waugh (pesquisador escocês), esse sistema de mapeamento vetorial e de análise é utilizado em 300 locais ao redor do mundo. 1977 Acadêmico Estruturas de dados topológicos O Harvard Lab organiza uma grande conferência e desenvolve o SIG ODYSSEY. A Era da Comercialização 1981 Comercial Lançamento do ArcInfo ArcInfo é o primeiro grande sistema de software de SIG comercial. Concebido para microcomputadores e baseado num modelo vetorial e de banco de dados relacional, ele definiu um novo padrão para a indústria. (Continua) Longley_01.indd 19Longley_01.indd 19 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Parte 1: Introdução20 Tabela 1.4 (Continuação) Data Tipo Evento Observações 1984 Acadêmico Publicação do livro Basic Readings in Geographic Information Systems (Leituras básicas em SIG) Essa coleçãode artigos publicados na forma de livro por Duane Marble, Hugh Calkins e Donna Peuquet é a primeira fonte acessível de informação sobre SIG. 1985 Tecnológico GPS operacional O sistema de posicionamento global (GPS) gradualmente passa a ser uma importante fonte de dados para navegação, levantamento e mapeamento. 1986 Acadêmico Publicação do livro Principles of Geographical Information Systems for Land Resources Assessment (Princípios dos SIG para avaliação de recursos da terra) O livro de Peter Burrough é o primeiro especificamente com princípios de SIG. Ele torna-se rapidamente um texto de referência para estudantes de SIG. 1986 Comercial Formação da MapInfo Corp. O software MapInfo transforma-se no primeiro grande produto de SIG desktop, complementando sistemas de software precedentes. 1987 Acadêmico Lançamento de International Journal of Geographica; Information Systems Terry Coppock e outros publicaram a primeira revista científica sobre SIG. O primeiro número contém artigos dos EUA, Canadá, Alemanha e Reino Unido. 1987 Geral Relatório Chorley ‘Manuseando Informação Geográfica’ é um influente relatório do governo do Reino Unido que realça o valor dos SIG. 1988 Geral Início da revista GISWorld GISWorld, agora GeoWorld, a primeira revista internacional dedicada aos SIG, é publicada nos EUA. 1988 Tecnológico Anúncio do TIGER TIGER (Topologically Integrated Geograpic Encoding and Referencing), uma continuação do DIME, é descrito pelo Bureau of Census dos EUA. Dados TIGER de baixo custo estimularam o rápido crescimento dos negócios com SIG nos EUA. 1988 Acadêmico Anúncio de centros de pesquisa nos EUA e no Reino Unido Duas iniciativas separadas, o NCGIA (Nacional Center for Geographic Information and Analysis), dos EUA, e o RRL (Regional Research Laboratory), do Reino Unido. A iniciativa mostra o rápido crescimento do interesse em SIG pela academia. 1991 Acadêmico Publicação do Big Book 1 (Grande Livro) Geographical Information Systems: principles and applications, um compêndio de dois volumes editado por David Maguire, Mike Goodchild e David Rhind, documenta os avanços até a data. 1992 Técnico Lançamento do DCW A carta digital do mundo, de 1,7 GB, patrocinada pela Agência de Mapeamento da Defesa dos EUA (agora NGA), é o primeiros banco de dados na escala 1:1.000.000 integrado a oferecer cobertura global. 1994 Geral Assinatura de Ordem executiva pelo presidente Clinton (EUA) A Executive Order 12906 levou à criação da Infraestrutura Nacional de Dados Espaciais (NSDI) dos EUA, das clearinghouses e do Comitê Federal de Dados Geográficos (FGDC). 1994 Geral Nascimento do OpenGIS Consortium® (agora Open Geospatial Consortium®) O consórcio OpenGIS© de vendedores de SIG, agências governamentais e usuários é formado para melhorar a interoperabilidade. 1995 Geral Primeira cobertura completa do mapeamento nacional O Ordnance Survey da Grã-Bretanha finaliza a criação do seu banco de dados inicial – todos os 230.000 mapas cobrindo o país na maior escala (1:1.250, 1:2.500 e 1:10.000) codificados. 1996 Tecnológico Introdução de produtos de SIG na Internet Várias companhias, notadamente Autodesk, ESRI, Intergraph e MapInfo, lançam praticamente ao mesmo tempo uma nova geração de sistemas baseados na Internet. (Continua) Longley_01.indd 20Longley_01.indd 20 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Capítulo 1 Sistemas, Ciência e Estudo 21 Visões de SIG Como a discussão anterior mostra, os SIG são um mons- tro complexo, com várias aparências. Para alguns, eles são um meio de automatizar a produção de mapas; para outros, essa aplicação parece muito comum comparada às complexidades associadas à resolução de problemas geográficos e ao apoio à decisão espacial e ao potencial de um SIG como um mecanismo para analisar dados e revelar novas perspectivas. Outros veem um SIG como uma ferramenta para manter inventários complexos que adiciona perspectivas geográficas a sistemas de informa- ção existentes e permite controlar e gerenciar os recursos geograficamente distribuídos de uma companhia flores- tal ou de serviços públicos. A soma de todas essas pers- pectivas é claramente demasiada para que um único soft- ware consiga lidar. Como resultado, os SIG têm crescido, a partir do seu início comercial, de simples pacotes sob encomenda para um complexo de software, hardware, instituições, redes e atividades, o que pode ser muito confuso para os novatos. Assim, por exemplo, a ESRI, Inc. (Redlands, Califórnia, EUA), maior vendedor de software nos dias atuais, vende uma família de produtos sob a marca ArcGIS de modo a atender a necessidades 1.5 Tabela 1.4 (Continuação) Data Tipo Evento Observações 1996 Comercial MapQuest Lançado o serviço de mapeamento pela Internet, produzindo mais de 130 milhões de mapas em 1999. Posteriormente, foi adquirido pela AOL por US$ 1,1 bilhão. 1999 Geral GIS Day O primeiro GIS Day atrai mais de 1,2 milhão de participantes globais que compartilham interesse pelos SIG. A Era da Exploração 1999 Comercial IKONOS Uma nova geração de sensores de satélite de muito alta resolução: IKONOS anuncia resolução espacial de 90 cm; Quickbird (lançado em 2001) anuncia 62 cm de resolução. 2000 Comercial Os SIG ultrapassam a barreira dos US$7 bilhões A Daratech analista industrial relata que hardware, software e a indústria de serviços de SIG têm um faturamento de US$ 6,9 bilhões, crescendo a mais de 10% ao ano. 2000 Geral SIG tem um milhão de usuários Os SIG têm mais de 1 milhão de usuários frequentes e talvez outros cerca de 5 milhões de usuários eventuais de IG. 2002 Geral Lançamento do Atlas Nacional dos Estados Unidos virtual Base virtual de informação geográfica nacional dos EUA com possibilidade de elaboração de mapas (www.nationalatlas. gov) 2003 Geral Lançamento das estatísticas nacionais do Reino Unido virtuais Exemplo de novos sites governamentais do Reino Unido descrevendo economia, demografia e sociedade nas escalas regional e local (www.statistics.gov.uk) 2003 Geral Lançamento do Geospatial One-Stop Uma iniciativa de governo federal virtual (e-governo) dos EUA provendo acesso a dados e informações geoespaciais (www. geodata.gov/gos) 2004 Geral Formação da Agência Nacional de Inteligência Geoespacial (NGA) Maior usuário de SIG do mundo, a NIMA (National Imagery and Mapping Agency – Agência Nacional de Imageamento e Mapeamento) dos EUA, renomeada para NGA (National Geospatial-Intelligence Agency) para reforçar a ênfase na geo-inteligência 2006 Tecnológico Lançamento do Google Earth Primeiro grande Globo Virtual – uma aplicação de SIG 3D disponível na Web. 150 milhões de downloads nos primeiros 12 meses. 2007 Comercial Pitney Bowes, Inc. adquire a MapInfo Fabricante de máquinas de triagem de correspondência adquire a empresa MapInfo Corp. por US$ 408 milhões. 2007 Comercial Navtec adquirida pela Nokia Companhias de telefonia móvel adquirem provedores de dados baseados em endereço de rua por US$ 8,1 bilhões. 2008 Comercial TeleAtlas adquirida pela TomTom Companhia relativamente nova no uso de SIG adquire provedor de dados de arruamento por US$ 2,9 bilhões. Longley_01.indd 21Longley_01.indd 21 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Parte 1: Introdução22 distintas de sua base de usuários: ArcInfo é um sistema desktop completo para usuário final; ArcView é um sis- tema mais simples concebido para visualização, análise e mapeamento de dados; ArcGIS Engine é um conjunto de componentes de software que desenvolvedores po- dem imbutir nas suas aplicações; ArcGIS Mobile é um sistemas de software leve que pode ser implantado em aparelhos portáteis ou móveis; ArcGIS Server pode dar suporte sofisticado ao gerenciamento de dados e a sites orientados para os SIG; ArcExplorer é um browser de uso gratuito; e ArcGIS Online é um recursos de hospe- dagem de dados e de recursos de aplicação que pode ser acessado pela Web. Outros vendedores se especializaram em nichos de mercado,tal como a indústria de serviços públicos ou aplicações militares e de inteligência. Os SIG são um campo dinâmico que encontra-se em constante evolução e seu futuro é promissor, embora especulações sobre para onde ele poderá evoluir estejam reservadas para o capítulo final. Hoje um único vendedor de SIG oferece diferen- tes produtos para uma variedade de aplicações. A anatomia de um SIG A rede Apesar da complexidade observada na seção anterior, os SIG têm seus componentes bem definidos. Atualmente, é provável que o mais fundamental deles seja a rede, sem a qual nenhuma comunicação rápida ou compartilhamen- to de informação digital poderia ocorrer, exceto entre um pequeno grupo de pessoas amontoadas em torno de um monitor de computador. Os SIG de hoje baseiam-se for- temente na Internet e em seus primos de acesso limita- do, as intranets de corporações, agências públicas e ope- rações militares. A Internet foi concebida originalmente como uma rede para conectar computadores, mas cresceu para se tornar um mecanismo social de intercâmbio de informações, manuseando tudo, de mensagens pessoais à transferência maciça de dados, e aumentando o número de transações comerciais. Não é segredo que a Internet em suas várias formas teve um profundo efeito sobre a tecnologia. Quem po- deria prever em 1990 o impacto que a Web, o comércio virtual, o governo digital, os sistemas móveis e as tecno- logias de informação e comunicação teriam sobre o nosso dia a dia (Capítulo 18)? Essas tecnologias mudaram ra- dicalmente e para sempre o modo como conduzimos os negócios, como nos comunicamos com colegas e amigos, a natureza da educação, e o valor e a natureza transitória da informação. A Internet iniciou sua vida como um projeto de co- municação denominado ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network – Rede de Agências para Pro- jetos de Pesquisa Avançada) do Departamento de Defesa dos EUA em 1972. Em 1980, Tim Berners-Lee, um pes- quisador do CERN, a organização europeia de pesquisa nuclear, desenvolveu os hipertextos que estão por trás da World Wide Web – uma aplicação chave que introduziu a Internet no âmbito das aplicações cotidianas. A captura e o uso da tecnologia da Web têm sido muito rápidos, e a difusão tem sido considerada a de crescimento mais rápi- do que qualquer outra inovação (por exemplo, o rádio, o telefone e a televisão). Em 2008, 1,4 bilhão de pessoas em todo o mundo usavam a Internet e as taxas mais rápidas de crescimento estavam no Oriente Médio, na África e na América Latina (www.internetworldstats.com). Entre- tanto, a penetração global permaneceu desigual; em 2009, 74% dos norte-americanos usavam a Internet, mas apenas 5% dos africanos (Figure 1.13). Uso da Internet % 0 - 6 7 - 17 18 - 34 35 - 51 52 - 78 Figura 1.13 A geografia mundial do uso da Internet com base em abril de 2008. (Imagem cortesia de Kwintessential Ltd.) Longley_01.indd 22Longley_01.indd 22 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Capítulo 1 Sistemas, Ciência e Estudo 23 O uso da WWW para acessar mapas ocorre des- de 1993. Nos primeiros anos da Internet, os SIG se tornaram uma aplicação atraente que levou muita gente a tirar pro- veito da Web. Ao mesmo tempo, os SIG muito se benefi- ciaram com a adoção do paradigma da Internet e do im- pulso que a Web gerou. Ainda hoje, muitas das primeiras aplicações de SIG na Internet continuam em uso, atualiza- das. Elas variam desde o uso de SIG na Internet para disse- minar informação, um tipo eletrônico de páginas amarelas (p.ex., www.yell.com), para vender bens e serviços (p.ex., www.nestoria.com; Figura 1.14), para gerar receita com serviços de assinatura (www.mapquest.com/solutions/), para ajudar membros do público a participar de debates locais, regionais e nacionais importantes. Por inúmeras razões, a Internet tornou-se muito popular como um ve- ículo de entrega de aplicações de SIG. Ela oferece uma plataforma conhecida, amplamente utilizada e com padrão aceito para interagir com informação de vários tipos. Tam- bém oferece uma boa relação custo-benefício para reunir usuários dispersos (por exemplo, trabalhadores em viagem e trabalhadores de escritório, clientes e fornecedores, es- tudantes e professores). Desde os primeiros dias, o caráter interativo e exploratório da navegação ligada à informação tornou-se um sucesso entre os usuários. No início dos anos 2000, a tecnologia da Internet pas- sou a tornar-se cada vez mais portátil (Subseção Questões em SIG portátil, na Seção 11.3). Isso significa não apenas que aparelhos portáteis com SIG podiam ser usados jun- tamente com redes sem fio disponíveis, mas também que tais dispositivos podiam ser conectados através de banda larga para gerar representações baseadas em SIG móvel. Essa tecnologia foi explorada de forma crescente no setor de serviços de SIG (no inglês, mais um significado para o acrônimo GIS – GIService) que oferece a usuários dis- persos acesso a capacidades de SIG centralizadas. Hoje, muitos serviços de SIG são disponibilizados para uso pes- soal através de aplicações móveis ou portáteis, como ser- viços baseados na localização (Capítulo 11). Dispositivos pessoais, como pagers, telefones celulares e assistentes digitais pessoais (PDA), enchem as caixas de correspon- dência e adornam a roupa das pessoas. Esses dispositivos são capazes de oferecer em tempo real serviços geográfi- cos, como mapeamento, roteamento e páginas amarelas geográficas. Esses serviços são frequentemente financia- dos por anunciantes, ou podem ser comprados ou pagos em função do uso ou por assinatura; eles têm mudado o modelo SIG de negócios para muitos tipos de aplicação. Os últimos 10 anos também viram o desenvolvimen- tos de redes geográficas temáticas, tal como a Geospatial Figura 1.14 Propaganda de imobiliárias residenciais no Reino Unido. (Fonte: www.nestoria.co.uk) Longley_01.indd 23Longley_01.indd 23 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Parte 1: Introdução24 One-Stop dos EUA (www.geo-one-stop.gov; Subseção Geobibliotecas e geoportais na Seç ão 11.2), uma das 24 iniciativas do governo federal virtual (e-federal gover- nment) dos Estados Unidos para melhorar a coordena- ção do governo nos níveis local, estadual e federal. Seu geoportal (www.geodata.gov/gos) identifica uma cole- ção integrada de provedores de informação geográfica e usuários que interagem pela Internet. Conteúdo on-line pode ser localizado usando o recurso de busca interativa do portal e, em seguida, o conteúdo pode ser usado direta- mente pela Internet. Essa forma de aplicação na Internet é explorada mais tarde no Capítulo 11. A Internet é fundamental para a maioria dos aspectos do uso dos SIG, e os sistemas de SIG autônomos (standalone) estão praticamente superados. Em todas essas aplicações, a Internet oferece um fluxo unidirecional de dados e informações a um grande número de usuários de um número crescente de sites que fazem a World Wide Web. Ao longo do tempo, este siste- ma evoluiu para o que foi denominado Web 2.0, que hoje facilita a colaboração bidirecional entre usuários e sites, cujo resultado são informações coletadas e disponibiliza- das a terceiros. A incorporação geográfica dessas ideias, a GeoWeb, tem inclusive sido denominada de GeoWeb 2.0 (ver Capítulo 11). Duas tecnologias principais que estimu- laram o paradigma da Web 2.0 são AJAX (Asynchronous Javascript And XML) e API (Applications Programming Interface – Interface de Programação de Aplicativos). O AJAX permite o desenvolvimento de sites da Web que se parecem com aplicações de computadores de mesa. Eles facilitaram de modo significativo o mapeamento na Web por permitir o manuseio direto dos dados cartográficos onde interações dos usuários (como “clicar e arrastar”) são visualizadas instantaneamente. A Web 2.0 permite colaboração de duas vias en- tre usuários e sites. Sites habilitados com AJAX se comparam favoravel- mente à primeira geração de aplicações de SIG na Web, na qual os usuáriosnormalmente clicam um controle de pan ou zoom e então esperam a página ser recarregada antes de visualizar o resultado. As API estão disponí- veis em uma variedade de sites, tanto espaciais (Google Maps, Yahoo! Maps, Microsoft Live Maps) como não es- paciais (Flickr, Facebook), e oferecem uma série de fun- ções para aplicações de terceiros. Por exemplo, as API do Google Maps oferecem operações básicas de SIG, tais como a possibilidade de desenhar formas, localizar pon- tos, geocodificar endereços e mostrar tudo isso sobre ma- pas-base de alta resolução ou dados de satélite. A Figura 1.15 ilustra o site www.londonprofiler, que usa API do Google Maps para mostrar uma variedade de dados sociodemográficos de alta resolução de Londres sobre mapas-base e dados de satélite do Google. A construção de tais sites usando API ainda requer domínio técnico de alto nível, mas é muito mais simples do que aprender a instalar, gerenciar e configurar plataformas mais tradicio- nais de SIG na Web. Figura 1.15 Uma implementação de SIG na Web 2.0: o site Londonprofiler, mostrando uma distribuição de dados de exclusão social sobre um fundo de imagens de satélite. (Imagem cortesia de Maurizio Gibin) Longley_01.indd 24Longley_01.indd 24 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Capítulo 1 Sistemas, Ciência e Estudo 25 Os outros cinco componentes de um SIG A segunda peça da anatomia do SIG (Figura 1.16) é o hardware do usuário, o dispositivo com o qual o usuário interage diretamente na realização de operações de SIG, digitando, apontando, clicando ou falando, e que retor- na informação através de visualização em tela ou gerando sons com algum significado. Tradicionalmente, esse dis- positivo ficava sobre a mesa de um escritório, mas o usuá- rio de hoje tem muito mais liberdade porque as funções de SIG podem ser realizadas através de laptops, PDA, dispositivos no veículo e mesmo telefones celulares. A Seção 11.3 discute as tecnologias atualmente disponíveis com mais detalhes. Na linguagem da rede, o dispositivo do usuário é o cliente, conectado por meio da rede a um servidor que provavelmente trabalha com muitos clientes simultaneamente. O cliente pode ser pesado, caso ele faça a maior parte do trabalho localmente, ou leve, caso ele faça pouco mais do que conectar o usuário ao servidor. Um PC ou Macintosh com boa configuração são instân- cias de clientes pesados com capacidade local potente, enquanto dispositivos ligados à TV que oferecem pouco mais que acesso a navegador de Internet são instâncias de clientes leves. A terceira peça da anatomia dos SIG é o software que roda localmente na máquina do usuário. Ele pode ser tão simples quanto um navegador padrão de Internet (p.ex., Microsoft Explorer ou Safari) se todo o trabalho é feito remotamente usando serviços digitais diversos ofe- recidos em grandes servidores. Mais provavelmente ele é um pacote (uma licença) comprado de um dos vendedo- res de SIG, como Autodesk nc. (San Rafael, Califórnia, EUA; www.autodesk.com), Environmental Systems Research Institute, Inc. (ESRI; Redlands, Califórnia, EUA; www.esri.com), Intergraph Corp. (Hunstsvil- le, Alabama, EUA; www.ingr.com), ou MapInfo Corp. (Troy, New York; www.mapinfo.com). Cada vendedor oferece uma gama de produtos concebidos para diferen- tes níveis de sofisticação, diferentes volumes de dados e diferentes nichos de aplicações. Idrisi (Clark University, Worcester, Massachusetts, EUA; www.clarklabs.org) é um exemplo de um SIG produzido e comercializado por uma instituição acadêmica ao invés de um vendedor co- mercial. Os pacotes de SIG têm ficado mais sofisticados nos últimos anos e podem lidar com todos os requisitos de projetos de SIG padrão. Da mesma forma, entretan- to, buscas na Internet oferecem meios para identificar rotinas de software reutilizáveis ou fontes não SIG que facilitam operações espaciais, embora a origem e a apli- cabilidade de utilitários menos conhecidos nem sempre seja imediatamente óbvia. Softwares comerciais raramente são de código aberto – em que o usuário pode modificar o código que foi usado para criá-lo – por uma série de razões, incluindo proteção de copyright e manutenção de suporte ao usuário. Mes- mo sofwares de domínio público (tal como a suíte de SIG GRASS ou mais especializados como SWARM ou Repast) frequentemente não são de código aberto, por razões si- milares. Isso torna muitas vezes difícil ao usuário decidir quão adequado será o software de SIG para aplicações específicas. Assim, embora a Internet possibilite reunir informação sobre software, as buscas na Internet não ne- cessariamente permitem a comparação objetiva de fun- ções de software. Michael de Smith, juntamente com dois dos autores desse livro, produziu um guia virtual (www. spatialanalysisonline.com) e um livro cuja intenção é chamar a atenção para a gama de opções de software dis- poníveis e a qualidade dos resultados produzidos. A quarta peça da anatomia é o banco de dados, que consiste em uma representação digital de aspectos se- lecionados de alguma área específica da superfície ou próxima da superfície da Terra, construído para servir na resolução de problemas ou para fins científicos. Um ban- co de dados pode ser elaborado para um grande projeto, como a localização de um novo corredor de transmissão de energia de alta-tensão, ou pode ser mantido continua- mente, alimentado pelas transações diárias que ocorrem em uma grande companhia de serviços públicos (insta- lação de dutos subterrâneos, criação de contas de novos clientes, serviço diário de atividades da tripulação). Ele pode ser tão pequeno quanto alguns poucos megabytes (uns poucos milhões de bytes, facilmente armazenados em um DVD) ou tão grande como muitos terabytes (um terabyte é, arredondando, um trilhão de bytes, armaze- nados em um grande disco rígido ou em muitos DVDs). A Tabela 1.1 dá uma ideia do potencial dos volumes de bancos de dados de SIG. Seis partes de um SIG Software Hardware Pessoas Rede Dados Procedimentos Figura 1.16 Os seis componentes de um SIG. Longley_01.indd 25Longley_01.indd 25 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Parte 1: Introdução26 Bancos de dados de SIG podem oscilar em tama- nho entre um megabyte e um petabyte ou mais. Adicionalmente a esses quatro componentes – rede, hardware, software e banco de dados – um SIG também requer gerenciamento. Uma organização deve estabelecer procedimentos, linhas de comunicação, pontos de contro- le e outros mecanismos para assegurar que as atividades de SIG atinjam suas necessidades, mantenham-se no orça- mento, mantenham alta qualidade e, no geral, atinjam as necessidades da organização. Esses temas são explorados nos Capítulos 17, 18 e 19. Finalmente, um SIG é inútil sem uma pessoa que o conceba, programe e mantenha, o alimente com dados e interprete seus resultados. As pessoas que trabalham com SIG têm várias habilidades, dependendo do papel de cada uma. Quase todas terão conhecimentos básicos necessá- rios ao trabalho com dados geográficos – conhecimento de tópicos como fontes de dados, escala e acurácia e produtos de software – e terão também uma rede de contatos na comunidade de SIG. Mais importante de tudo, elas terão a capacidade de pensar o espacial de forma crítica, o que as permitirá filtrar a mensagem do dado espacial através de um meio de SIG. A próxima seção descreve alguns dos papéis vividos por pessoas que trabalham com SIG e pelas indústrias nas quais elas trabalham. Os SIG como negócio Muitas pessoas desempenham muitas funções em SIG, do desenvolvimento de software à venda de software e do ensino sobre SIG ao uso de seu potencial nas atividades cotidianas. Muitas dessas pessoas são capazes de oferecer software livre ou dados que podem ser usados ou adap- tados gratuitamente, uma vez que os custos de produção são obtidos por atividade voluntária ou subsidiados por instituições de pesquisa como universidades. Tal atividade tem crescido rapidamente com o uso cada vezmaior da Internet para divulgar dados e software, bem como com a inovação e o uso de ferramentas de busca, blogs e redes sociais para espalhar notícias sobre o que está disponível. Isso é uma enorme contribuição, ainda que em grande medida não quantificável, à atividade econômica. No en- tanto, mesmo em termos mais restritos e claramente deli- mitados, a atividade de SIG continua sendo um grande ne- gócio. Esta seção examina os diversos papéis de pessoas no negócio dos SIG e está organizada pelas principais áreas da atividade humana associada a eles. A indústria de software Talvez o setor empresarial mais visível, embora não seja o maior em termos econômicos ou humanos, seja a indús- tria de software de SIG. Existe um conjunto diversificado de desenvolvedores de software com uma ampla gama de embasamentos: Autodesk e Intergraph de CAD, ESRI de SIG, GE Smallworld de eletricidade e Pitney Bowes Ma- pInfo de negócios. Isso conduziu a uma gama interessante de produtos. Medida em termos econômicos, a indústria de software de SIG contabiliza atualmente muito mais de US$ 1 bilhão anuais em vendas, embora as estimati- vas variem, em parte devido à dificuldade de definir SIG precisamente. A indústria de software emprega milhares de programadores, projetistas de software, analistas de sistemas, especialistas em aplicativos e pessoal de vendas, com bases que incluem ciência da computação, geografia e muitas outras disciplinas. A indústria de software de SIG contabiliza mais de US$ 1 bilhão em vendas anuais. A indústria de dados A aquisição, criação, manutenção, disseminação e venda de dados de SIG também representam um enorme vo- lume de atividade econômica. Tradicionalmente, grande parte dos dados de SIG tem sido produzida de forma cen- tralizada por agências nacionais de mapeamento, como o Ordnance Survey, da Grã-Bretanha. Na maioria dos paí- ses, os fundos necessários para financiar o mapeamento nacional vêm da venda de produtos aos consumidores. Até as mudanças ocorridas em 2010 (ver Seção 18.5), as ven- das representavam praticamente todo o orçamento anual do Ordnance Survey, de US$ 200 milhões. Entretanto, políticas do governo federal norte-americano determinam que não se cobre mais do que o custo de reprodução do dado; as vendas são, portanto, uma pequena parte do orça- mento do Serviço Geológico dos EUA, a primeira agência nacional civil de mapeamento. A inovação de serviços de mapeamento de visualização livre, como o Google Maps (maps.google.com) e os mapas e o Globo Virtual do Bing da Microsoft, com seu modelo de negócio baseado no re- torno da publicidade, está tendo implicações profundas na provisão de dados cartográficos (Seção 19). Aborda- gens colaborativas de código aberto para a cartografia em tempo real, tal como o OpenStreetMap (www.openst- reetmap.org), também estão revolucionando a cartogra- fia com uma estratégia inovadora de produção de mapas. Em valores de vendas anuais, a indústria de da- dos de SIG é muito mais significativa do que a da indústria de software. Nos útimos anos, o melhoramento dos SIG e das tecnologias a eles relacionadas, além da redução de pre- ços juntamente com os vários tipos de incentivos gover- namentais, levaram a um rápido crescimento da indús- tria privada de dados, como a de provedores de dados 1.6 Longley_01.indd 26Longley_01.indd 26 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Capítulo 1 Sistemas, Ciência e Estudo 27 e prestadores de serviço de SIG (Subseção Comércio e planejamento de serviços, na Seção 2.3). Dados também podem ser integrados com softwares de modo a oferecer um pacote de soluções, tal como os produtos e serviços do ESRI Business Analyst. Empresas privadas estão licencia- das para coletar dados de alta resolução usando satélites e comercializá-los aos consumidores – como, por exemplo, dados dos satélites GeoEye (www.geoeye.com) e IKO- NOS (Tabela 1.4). Outras empresas coletam dados simi- lares com aviões. Outras, ainda, especializam-se na pro- dução de dados de alta qualidade sobre redes viárias, um requerimento básico de muitas empresas de distribuição. TeleAtlas (www.teleatlas.com) é um exemplo desse tipo de indústria, empregando mais de 1.800 pessoas na pro- dução, manutenção e comercialização de redes viárias ao redor do mundo. Com a evolução da economia da informação tendo um novo impulso, muitas organizações têm se concentra- do em fornecer soluções integradas de negócios, em vez de dados brutos ou com valor agregado. A Internet torna possível aos usuários de SIG acessar rotineiramente dados coletados em sítios que podem estar distantes daqueles onde análise mais especializada e funções de interpretação são realizadas. Nessas circunstâncias, a empresa não pos- sui a incumbência de gerenciar seus próprios dados nem os que ela compra de um revendedor de dados agregados. Por exemplo, a ESRI oferece serviços de gerenciamento de dados, nos quais os dados do cliente são gerenciados e mantidos para uma gama de clientes que têm a liberda- de de analisá-los em locais distantes entre si. Isso pode levar, com o tempo, a uma grande integração vertical da indústria de dados e de software – por exemplo, a ESRI, Inc. desenvolveu uma divisão de e-bis (negócio virtual) e adquiriu seu próprio sistema geodemográfico (denomi- nado Tapestry) para servir a uma gama de necessidades empresariais. O manuseio de dados baseados em SIG vem se tornando comum, de forma que os SIG vêm tendo aplicações crescentes em novas áreas de provimento de serviços do setor público, particularmente nas quais gran- des quantidades de dinheiro público são distribuídas em nível local – como em segurança, educação e saúde públi- ca. Muitas empresas de dados e novas organizações estão começando a desenvolver infraestruturas de dados para o setor público, particularmente para áreas em que ocorrem grandes investimentos em serviços públicos. A GeoWeb (Capítulo 11) está criando um ambiente fértil no qual uma ampla gama de fontes de dados dos setores público e pri- vado pode ser combinada, analisada e visualizada. A indústria de serviços de IG Alguns sistemas de SIG são descritos como tendo um es- copo empresarial, isto é, eles servem a vários usuários, com várias aplicações, em diferentes locais. Planejar, ad- quirir, implementar, administrar e aprender como usar tais sistemas requer conhecimento especializado, e muitos provedores de serviços especializados têm oferecido tal conhecimento e expertise. Os tipos de serviço oferecidos incluem consultoria (tanto de natureza estratégica quanto operacional: ver Subseção Comércio e planejamento de serviços, na Seção 2.3), coleção de dados, personalização do sistema, venda e assistência técnica especializada de hardware e software (p.ex. suprimento de scanners, plot- ters e receptores de GPS), treinamento e aplicações de valor agregado. Os provedores de serviços de SIG variam desde pequenos negócios a gigantes como Accenture, IBM e Oracle. É difícil precisar o tamanho do mercado, mas se os serviços de SIG forem destacados das empresas multifuncionais, é provável que ele seja inclusive maior do que o mercado de software de SIG. A indústria dos serviços de GeoWeb A Internet também permite aos usuários de SIG acessar funções específicas que são oferecidas por sites remotos. Por exemplo, o MapQuest, nos EUA (www.mapquest. com), o Yellow Pages (Páginas Amarelas), no Reino Uni- do (www.yell.com), e o site internacional Google Maps (maps.google.com) oferecem serviços de mapeamento, geocodificação e roteamento que são utilizados todos os dias por milhões de pessoas para encontrar a melhor rota entre dois pontos. Digitando-se dois endereços de rua, o usuário instrui uma análise de roteamento (Subseção Pro- blemas de roteamento, Seção 15.4) e recebe o resultado na forma de um mapa e um texto escrito com as direções de deslocamento com carro ou a pé (Figura 1.17). Isso tem várias vantagens sobre a realização de uma análise no próprio computador pessoal:não há necessidade de com- prar o software para realizar a análise, nem de comprar os dados necessários, pois eles são rotineiramente atualiza- dos pelo provedor de serviços de SIG e os cálculos são in- clusive ajustados com base na variabilidade das condições de tráfego do dia a dia. Há sinergias de interesse claras entre provedores de serviços de SIG e empresas prove- doras de serviços baseados na localização (Capítulo 11), e muitos sites que oferecem acesso a dados brutos de SIG também oferecem Serviços de SIG. Serviços de SIG são uma forma de comércio ele- trônico em rápido crescimento. Serviços de SIG continuam a se desenvolver rapida- mente. Atualmente, uma das commodities mais importan- tes é a atenção: a fração de um segundo de atenção dada a um outdoor, a um link patrocinado numa página da In- ternet, ou o nível de audiência que uma emissora de TV vende para seus anunciantes. O valor da atenção também depende do grau de afinidade entre a mensagem e quem a recebe – um anunciante pagará mais pela atenção de Longley_01.indd 27Longley_01.indd 27 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Parte 1: Introdução28 Quadro técnico 1.4 Revistas e sites que fornecem notícias e serviços relacionados aos SIG Revistas ArcNews e ArcUser (publicadas pela ESRI); ver www.esri.com Revista Directions (publicada semanalmente por direc- tionsmag.com), disponível em www.directionsmag.com Revista GEO:connexion, do Reino Unido, publicação bimestral de GEO:connexion Ltd., com site www.geo- connecxion.com GEOInformatics publicada oito vezes ao ano por Cmedia Productions BV, com site www.geoinformatics.com GeoSpatial Solutions (revista publicada mensalmen- te por Advanstar Communications), com site www. geospatial-online.com. A companhia (GEOTEC media) também publica GPSWorld e GEOWorld, em www.geo- place.com GIS@development (publicado mensalmente para o pú- blico asiático por GIS Developmente, Índia), com site www.GISDevelopment.net Spatial Business Online (publicado bimensalmente em meio impresso e eletrônico pela South Pacific Science Press), disponível em www.gisuser.com.au Alguns sites que oferecem recursos para a comunidade de SIG: www.gisdevelopment.net www.geoconnexion.com www.gis.com www.giscafe.com gis.about.com www.geocomm.com www.spatialnews.com www.directionsmag.com www.opengis.org/press Figura 1.17 Instruções de roteamento. (Fonte: Google Maps) Longley_01.indd 28Longley_01.indd 28 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Capítulo 1 Sistemas, Ciência e Estudo 29 um pequeno número de pessoas se ele souber que elas incluem uma grande proporção de seus clientes típicos. Anúncios direcionados individualmente, com base em um perfil individual, são ainda mais atrativos ao anunciante. Empresas de mala direta têm explorado o potencial da localização geográfica para atingir públicos específicos por muitos anos, baseando suas estratégias em perfis de vizinhança construídos com base nos registros de censo demográfico (ver Subseção Comércio e planejamento de serviços, Seção 2.3). Contudo, novas tecnologias podem levar isso muito mais adiante. Já existe tecnologia para identificar os hábitos de um cliente que pára num posto de gasolina e usa um cartão de crédito, bem como para fazer publicidade direcionada através de uma tela de TV no posto. Assim como a propaganda em tempo real passa a representar uma parcela crescente na maioria dos or- çamentos de publicidade das empresas, os mercados dos mapas de nichos geográficos para as comunidades de re- des sociais (como Facebook) serão um foco cada vez mais importante para as iniciativas de marketing. A indústria editorial Muito menor, mas nem por isso menos influente no mun- do dos SIG, é a indústria editorial, com revistas, livros e periódicos científicos. Muitos portais virtuais e revistas impressas são direcionados à comunidade de SIG (Qua- dro 1.4). Vários periódicos científicos servem à comu- nidade de SIG, publicando novos avanços nas pesquisas desta área. O periódico científico mais antigo especifica- mente direcionado à comunidade é o International Jour- nal of Geographical Information Science, criado em 1987. Outros periódicos ainda mais antigos de áreas como car- tografia e análise geográfica regularmente aceitam artigos de SIG e vários têm mudado de nome e deslocado seu foco significativamente. O ensino de SIG As primeiras disciplinas de SIG foram oferecidas em uni- versidades nos primeiros anos da década de 1970, poste- riomente a disciplinas como cartografia ou sensoriamento remoto. Atualmente, milhares destas disciplinas podem ser encontradas em universidades e faculdades de todo o mundo. Cursos de treinamento são oferecidos por ven- dedores de software de SIG, e é crescente o uso da rede para várias formas de educação e treinamento em SIG a distância (Quadro 1.6). Frequentemente, é feita uma distinção entre ensino e treinamento em SIG: treinamento no uso de um soft- Quadro técnico 1.6 Sites que oferecem ensino à distância e programas de treinamento em SIG Birkbeck College (University of London) GIScOnline M.Sc. in Geographic Information Science at www.bbk.ac.uk Programa de ensino a distância em sistemas de infor- mação geográfica da Curtin University em www.cage. curtin.edu.au ESRI’S virtual campus em training.esri.com Programa de ensino a distância do Kingston Centre for GIS em www.kingston.ac.uk Programa certificado em sistemas de informação geo- gráfica da Pennsylvania State University em www. worldcampus.psu.edu UNIGIS International, Programa de SIG em www.unigis. org Programa de ensino a distância em SIG certificado da University of Southern California em www.usc.edu Quadro técnico 1.5 Periódico científico com ênfase na pesquisa em SIG International Journal of Geographical Information Science, anteriormente denominado International Journal of Geographical Information Systems Longley_01.indd 29Longley_01.indd 29 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Parte 1: Introdução30 ware específico é diferente de ensino dos princípios fun- damentais de SIG. Em muitas universidades, nas aulas são enfatizados os princípios fundamentais, e o treinamento é enfatizado nos exercícios em laboratório de informáti- ca. No nosso ponto de vista, o ensino deveria ser por toda a vida, e o conteúdo aprendido durante o ensino deveria ser aplicado durante o maior tempo possível. Os princí- pios fundamentais tendem a persistir por muito tempo após o software ter recebido novas versões, e as habilida- des aprendidas ao usar o software podem ter pouco valor quando uma nova tecnologia chega. Por outro lado, mui- to da diversão e do entusiasmo a respeito dos SIG vêm justamente disso, e os princípios fundamentais podem ser muito áridos e sem graça sem a prática. Sistemas, ciência e estudos da IG Sistemas de Informação Geográfica são ferramentas úteis, ajudando desde cientistas a cidadãos leigos a resolver pro- blemas geográficos. Mas como qualquer outro tipo de ferramenta, tal como os próprios computadores, seu uso levanta questões às vezes frustrantes e outras vezes profun- das. Por exemplo, como o usuário de SIG sabe se os resul- tados obtidos são acurados? Que princípios podem ajudar o usuário de SIG a conceber mapas melhores? Como ser- viços baseados na localização podem ser usados para auxi- liar usuários a navegar e entender ambientes antrópicos e naturais? Algumas dessas questões referem-se à concep- ção de SIG, enquanto outras são sobre dados e métodos de SIG. Resumindo, podemos pensar nelas como questões que surgem do uso dos SIG – estimuladas pela exposição aos SIG ou aos seus produtos. Muitos deles são tratados em detalhe em muitos pontos deste livro, e o título do livro enfatiza a importância de ambos, sistemas e ciência. O termo ciência da informação geográfica foi cunha- do em um artigo publicado por Michael Goodchild em 1992. Nele, o autor argumenta que essas e outras ques- tões similares são importantes e seu estudo sistemático constitui uma ciência própria.A ciência da informação estuda os temas fundamentais decorrentes da criação, manuseio, armazenamento e uso da informação. De modo similar, a ciência da IG deveria estudar os temas fundamentais decorrentes da informação geográfica, como uma classe bem definida da informação em ge- ral. Outros termos têm o mesmo significado: geomática e geoinformática, ciência da informação espacial, enge- nharia da geoinformação. Todas sugerem uma aborda- gem científica para os temas fundamentais decorrentes do uso de SIG e tecnologias relacionadas, embora cada uma tenha diferentes raízes e enfatizem diferentes mo- dos de pensar sobre problemas (especificamente geo- gráficos ou, mais genericamente, espaciais, enfatizando engenharia ou ciência, etc.). A ciência da IG evoluiu significativamente nos últi- mos anos. Ela é agora o foco principal de inúmeros e reno- mados periódicos científicos (Quadro 1.5), bem como foco do Consórcio de Universidade dos EUA para a Ciência da Informação Geográfica (www.ucgis.org), uma organiza- ção de aproximadamente 70 universidades engajadas no estabelecimento de uma agenda de pesquisa, no lobby por recursos para pesquisa e em atividades relacionadas. Uma série de conferências internacionais sobre Ciência da IG têm sido realizadas de dois em dois anos desde 2000 (www.giscience.org). O Projeto Varenius (www.ncgia. org) oferece uma maneira surpreendentemente simples de visualizar o desenvolvimento da Ciência da IG (Figure 1.18). Aqui, a Ciência da IG é vista como ancorada em três conceitos: o indivíduo, o computador e a sociedade. Eles formam os vértices de um triângulo e a Ciência da IG está no seu centro. Os vários termos que descrevem as atividades da Ciência da IG podem ser usados para preen- cher esse triângulo. Contudo, a pesquisa sobre o indivíduo é dominada pela ciência cognitiva, que se preocupa em compreender conceitos espaciais, aprender e raciocinar sobre dados geográficos e interação com o computador. É fundamental para tal pesquisa o desejo de desenvolver interfaces mais facilmente compreendidas com o interes- se de melhorar a interação homem-computador. Aliado a isso está o desejo de melhorar a geovisualização e tornar os resultados de análises espaço-temporais inteligíveis. A pesquisa sobre o computador é dominada por proble- mas como representação, adaptação de novas tecnolo- gias, computação e visualização. E, finalmente, a pesquisa sobre a sociedade tem como tema o impacto e contexto social. Outros têm desenvolvido visões de como o ensino superior deveria preparar estudantes para o sucesso nas várias profissões que se baseiam em tecnologias geoespa- ciais, como o Consórcio de Universidades para a Ciência da Informação Geográfica dos EUA (Quadro 1.7). É pos- sível imaginar como os temas apresentados no Quadro 1.7 poderiam ser usados para preencher a Figura 1.18 em re- lação aos três vértices desse triângulo. 1.7 Indivíduo Computador Sociedade Ciência da IG Figura 1.18 A Ciência da IG de acordo com o Projeto Varenius (www.ncgia.org). Longley_01.indd 30Longley_01.indd 30 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Capítulo 1 Sistemas, Ciência e Estudo 31 Quadro técnico 1.7 A agenda 2006 de Ciência e Tecnologia da Informação Geográfica para o Ensino Superior do Consórcio de Universidades para a Ciência da Informação Geográfica dos EUA (www.ucgis.org) e os capítulos correspondentes deste livro I. Métodos analíticos 1. Origens acadêmicas e analíticas (Capítulo 1) 2. Operações e linguagens de consulta (Capítulos 14, 8 e 7) 3. Medidas geométricas (Capítulo 14) 4. Operações analíticas básicas (Capítulo 14) 5. Métodos analíticos básicos (Capítulo 15) 6. Análise de superfícies (Capítulo 15) 7. Estatística espacial (Capítulo 15) 8. Geoestatística (Capítulo 16) 9. Regressão espacial e econometria (Capítulos 15 e 16) 10. Mineração de dados (Capítulos 15 e 16) 11. Análise de redes (Capítulos 14 e 15) 12. Modelagem de otimização e localização-alocação (Capítulos 14 e 15) II. Fundamentos conceituais 1. Fundamentos filosóficos (Capítulos 1, 3 e 4) 2. Fundamentos cognitivos e sociais (Capítulo 1) 3. Domínios da informação geográfica (Capítulo 3) 4. Elementos da informação geográfica (Capítulo 3) 5. Relacionamentos (Capítulos 4 e 6) 6. Imperfeições na informação geográfica (Capítulo 6) III. Cartografia e visualização 1. Histórico e tendências (Capítulo 12) 2. Considerações sobre os dados (Capítulos 5, 9 e 12) 3. Princípios da concepção de mapas (Capítulo 12) 4. Técnicas da representação de gráficos (Capítulos 11, 12, 13 e 14) 5. Produção de mapas (Capítulo 12) 6. Uso e avaliação de mapas (Capítulos 12, 6 e 3) IV. Aspectos de projeto 1. O escopo do projeto de sistema de Ciência & Tec- nologia da IG (Capítulos 7, 17 e 1) 2. Definição do projeto (Capítulos 2, 17 e 18) 3. Planejamento de recursos (Capítulos 18 e 19) 4. Concepção do banco de dados (Capítulos 8, 9 e 7) 5. Concepção das análises (Capítulo 8) 6. Concepção da aplicação (Capítulos 2, 17 e 18) 7. Implementação do sistema (Capítulos 17, 18 e 19) V. Modelagem de dados 1. Armazenamento básico e estruturas de recupera- ção (Capítulo 8) 2. Sistema de gerenciamento de banco de dados (Capítulo 8) 3. Modelos de dados hierárquicos recursivos (Capítu- los 8 e 3) 4. Modelos de dados vetoriais e de objetos (Capítu- los 3 e 8) 5. Modelagem 3D, incerteza e fenômenos temporais (Capítulos 13, 6 e 16) VI. Tratamento de dados 1. Transformações de representação (Capítulos 3, 4 e 8) 2. Generalização e agregação (Capítulos 4 e 3) 3. Gerenciamento de transações (Capítulos 8 e 7) VII. Geocomputação 1. O surgimento da geocomputação (Capítulo 16) 2. Aspectos computacionais e a neurocomputação (Capítulos 15 e 16) 3. Autômatos celulares (CA) (Capítulo 16) 4. Heurísticas (Capítulos 15 e 16) 5. Algoritmos genéticos (GA) (Capítulo 16) 6. Modelos baseados no agente (Capítulo 16) 7. Modelagem de simulação (Capítulo 16) 8. Incerteza (Capítulo 6) 9. Conjuntos fuzzy (Capítulo 16) VIII. Dados geoespaciais 1. Geometria da Terra (Capítulo 5) 2. Sistemas de fracionamento da terra (Capítulo 5) 3. Sistemas de georreferenciamento (Capítulo 5) 4. Datums (Capítulo 5) 5. Projeções cartográficas (Capítulo 5) 6. Qualidade dos dados (Capítulos 6 e 9) 7. Levantamentos topográficos e GPS (Capítulo 9) 8. Digitalização (Capítulo 9) Longley_01.indd 31Longley_01.indd 31 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Parte 1: Introdução32 Sob alguns aspectos importantes, a Ciência da IG foca o uso do ambiente do software de SIG como um ambiente no qual problemas antigos podem ser redefinidos, refor- matados e resolvidos. Muitos dos tópicos de pesquisa na Ciência da IG são, na verdade, muito anteriores ao SIG. A necessidade de métodos de análise espacial, por exem- plo, data dos primeiros mapas, e muitos métodos foram desenvolvidos muito antes do primeiro SIG ter entrado em cena, em meados dos anos 1960. Outra maneira de ver a Ciência da IG é como um corpo de conhecimento que Sistemas de IG implementam e exploram. Projeções de mapas (Capítulo 5), por exemplo, são parte da Ciência de IG usadas e transformadas nos Sistemas de IG. Outra área de grande importância para os SIG é a ciência cogni- tiva, particularmente a compreensão científica de como as pessoas pensam sobre seu entorno geográfico. Se os Siste- mas de IG devem ser fáceis de usar, devem se ajustar às ideias do homem sobre tópicos como rotas de tráfego ou como construir mapas úteis e compreensíveis. O Quadro 1.8 apresenta Peter Gould, um geógrafo quantitativo e do comportamento, cujas atividades de pesquisa contribuí- ram muito para preparar a geografia para a revolução dos SIG e o surgimento da Ciência da IG. Muitas raízes dos SIG podem ser associadas à tradição de análise espacial da geografia. Nos anos 1970, era fácil definir ou delimitar um siste- ma de informação geográfica: ele era uma única peça de software instalado em um único computador.Com o tem- po, e particularmente com o desenvolvimento da Internet, Web 2.0 e novas abordagens da engenharia de software, os velhos SIG de natureza monolítica têm sido substituídos por algo mais fluido. SIG não é mais uma atividade con- finada ao computador de mesa (Capítulo 11). Neste livro, damos ênfase a essa nova visão dos SIG, como o conjunto de partes coordenadas discutidas na Seção 1.5. Talvez a parte do sistema dos SIG não seja mais necessária. Certa- mente, o termo dados de SIG sugere alguma redundância, e várias pessoas têm sugerido tirar o “S” em favor do IG. Sistemas de IG são apenas uma parte de toda a IG, que também inclui aspectos fundamentais da Ciência da IG. Muito deste livro também aborda Estudos de IG, que po- dem ser definidos como estudos sistemáticos do uso de informações geográficas pela sociedade, incluindo suas instituições, padrões e procedimentos. Muitos dos tópicos de pesquisa do UCGIS (Quadro 1.7) sugerem esse tipo de foco, incluindo SIG&T e sociedade e organização e aspec- tos institucionais. Nos últimos anos, o papel dos SIG na sociedade – seus impactos e seu significado mais profun- do – foi tema de trabalhos acadêmicos, particularmente na geografia, e muito disso tem sido fundamental para os SIG. Exploramos esse tópico na próxima seção. A importância do contexto social é muito bem expres- so pela definição de SIG de Nick Chrisman, que pode também servir como comentário final da discussão prévia de definições: 9. Coleta de dados em campo (Capítulo 9) 10. Imageamento aéreo e aerofotogrametria (Capítu- lo 9) 11. Sensoriamento remoto por satélite e aerotrans- portado (Capítulo 9) 12. Metadados, padrões e infraestruturas (Capítulos 11 e 19) IX. Ciência & Tecnologia da IG e a sociedade 1. Aspectos legais (Capítulos 19 e 18) 2. Aspectos econômicos (Capítulos 17 e 18) 3. Uso da informação geoespacial (Capítulos 2, 18, 19 e 11) 4. Informação geoespacial como propriedade (Capí- tulos 17 e 19) 5. Disseminação da informação geoespacial (Capítu- lo 19) 6. Aspectos éticos (Capítulos 18, 19 e 1) 7. SIG crítico (Capítulos 1 e 20) X. Aspectos organizacionais e institucionais 1. Origens da Ciência & Tecnologia da IG (Capítulos 1 e 2) 2. Gerenciamento do sistema de IG: operações e in- fraestrutura (Capítulo 17) 3. Estruturas organizacionais e procedimentos (Capí- tulos 1, 17 e 2) 4. Temas da força-tarefa da C&T da IG (Capítulos 1, 18 e 17) 5. Aspectos institucionais e interinstitucionais (Capí- tulo 19) 6. Coordenação de organizações (Capítulos 17, 19 e 1) Mais detalhes desses tópicos e tópicos adicionais apre- sentados em assembleias mais recentes do UCGIS po- dem ser encontradas em www.ucgis.org/priorities/ research/2002researchagenda.htm). Longley_01.indd 32Longley_01.indd 32 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Capítulo 1 Sistemas, Ciência e Estudo 33 “A atividade organizada pela qual as pessoas: 1) medem aspectos de fenômenos geográficos e processos; 2) representam essas medidas, ge- ralmente na forma de um banco de dados em computador, para enfatizar temas espaciais, en- tidades e relacionamentos; 3) atuam sobre essas representações para produzir mais medidas e para descobrir novos relacionamentos pela in- tegração de fontes diferentes e 4) transformam essas representações em conformidade com outros conjuntos de entidade-relacionamento. Essas atividades refletem o contexto amplo (instituições e culturas) no qual essas pessoas realizam seu trabalho. Reflexivamente, os SIG podem influenciar essas estruturas” (Chrisman 2003, p.13). As estruturas sociais de Chrisman claramente fazem parte dos SIG como um todo e, como estudantes de SIG, deveríamos estar cientes das questões éticas levantadas pela tecnologia que estudamos. Estruturas sociais são o centro dos Estudos de IG. Quadro biográfico 1.8 Peter Gould, geógrafo Peter R. Gould (1932-2000) (Figura 1.19A), após ter con- cluído doutorado na Northwestern University, lecionou durante 35 anos no Departamento de Geografia da Pennsylvania State University antes de se aposentar em 1998. Ele foi autor de vários livros influentes, incluindo dois com foco no tema de sua paixão: The Geographer at Work (Routledge, 1985) e Becoming a Geographer (Syracuse University Press, 1999). Dentre muitos ou- tros tópicos, ele rompeu fronteiras ao usar métodos estatísticos com dados espaciais; ao estudar a nature- za dos mapas cognitivos que as pessoas constroem em suas mentes; os impactos do desastre de Chernobyl; e os mecanismos de dispersão da epidemia da AIDS (ele publicou no passado uma coluna sobre esse assunto na revista Playboy). No final dos anos 1980, Gould e o Prof. Waldo To- bler da Universidade da Califórnia, Santa Bárbara, conduziram um pequeno experimento concebido para demonstrar o poder dos modos alternativos de geor- referenciamento (Capítulo 5). Usando nada mais do que a latitude e a longitude da casa de Tobler, Gould e vários co-conspiradores enviaram pelo correio uma sé- rie de cartas e cartões postais de várias partes do mun- do. Um cartão postal enviado de Cape Gatteras, na Carolina do Norte, um de muitos que eventualmente encontraram o caminho até Tobler através do serviço postal, está reproduzido na Figura 1.19B. Numa era na qual muitos cientistas sociais se preocupam com a “sociedade da vigilância” e o uso de tecnologias de informação geográfica para aplicá-la, talvez seja sau- dável refletir que os diferentes sistemas de informação georreferenciada, que podem tão rapidamente ser adaptados para a vigilância, têm suas raízes em épocas anteriores. Figura 1.19 (A) Peter Gould, Geógrafo. (James Collins, Fotógrafo, Penn State University) Figura 1.19 (B) Um cartão postal de Peter ao geógrafo Waldo Tobler, indentificando o endereço de Tobler com coordenadas precisas de latitude e longitude. Longley_01.indd 33Longley_01.indd 33 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Parte 1: Introdução34 Os SIG e a geografia Os SIG sempre tiveram uma relação especial com a geo- grafia, como têm com outras disciplinas que lidam com a superfície da Terra, incluindo geodésia, arquitetura da paisagem, planejamento e geomensura. Esta seção explo- ra essa relação especial e suas características muitas vezes tensas, bem como algumas das respostas do campo dos SIG às críticas. Nos anos 1980, a tecnologia dos SIG começou a ofe- recer soluções para os problemas de computação inade- quada e limitação no tratamento de dados. Entretanto, as prioridades dos vendedores nessa época podem ser descritas como resolver os problemas de 80% dos consu- midores 80% do tempo, enquanto a integração de técni- cas baseadas em conceitos de ordem mais elevada tinha baixa prioridade. Os vendedores de SIG de hoje podem provavelmente ter o crédito de resolver os problemas de pelo menos 90% de seus consumidores 90% do tempo, enquanto a oportunidade para usuários obterem solu- ções de software usando a Web diminui a dependência de soluções empresariais, tanto para aplicações especia- lizadas quanto para aplicações genéricas. O objetivo da ciência de IG continua sendo difundir conhecimento científico aperfeiçoado e motivado pela curiosidade na base do conhecimento de aplicações bem-sucedidas. No entanto, o desenvolvimento de aplicações melhoradas também tem crescido pelo advento do GPS e outras ini- ciativas de infraestruturas de dados digitais no final dos anos 1990. Novas tecnologias de tratamento de dados e novas fontes ricas de dados digitais abriram perspecti- vas para mudar o foco e revigorar o interesse acadêmico na ciência aplicada da resolução de problemas. Embora repetidas compras de tecnologias GIS deixem o campo com um futuro incerto nas correntes principais da TI, existe um desconforto permanente em alguns setores acadêmicos a respeito das aplicações de SIG e suas im- plicações sociais. Muito desse desconforto tem sido ex- presso na forma de críticas, notadamente de geógrafos, e o volume editado por John Pickles em 1993 Ground Truth:The social implications of Geographic Informa- tion Systems (Verdade de campo: as implicações sociais dos sistemas de informação geográfica) ainda representa a consolidação dessas preocupações. Muitos tipos de ar- gumentos vieram à tona: • Os caminhos pelos quais os SIG representam a su- perfície da Terra, e particularmente a sociedade hu- mana, favorecem certas pessoas, fenômenos e pers- pectivas às custas de outros. Por exemplo, bancos de dados de SIG tendem a homogeneizar, parcialmen- te em função do espaço limitado disponível na tela do computador, parcialmente devido aos custos de uma coleção mais acurada (ver Capítulos 3, 4 e 8). A visão da minoria e as visões de indivíduos podem submergir em tais processos, como também a infor- mação que difere da visão oficial ou a de consenso. Por exemplo, um mapa de solos representa a varia- ção geográfica dos solos ao descrever áreas de clas- ses homogêneas delimitadas por um limite nítido. Isso é, de fato, uma aproximação, e no Capítulo 6 exploraremos o papel da incerteza nos SIG. Os SIG frequentemente forçam o conhecimento em formas que provavelmente refletem a visão da maioria ou a visão oficial do governo e, como resultado, margi- nalizam a opinião das minorias ou dos menos pode- rosos. Visto dessa perspectiva, mesmo mapeamen- tos e funções de análise amplamente disponíveis no Google Maps (maps.google.com) ou em Glo- bos Virtuais (www.microsoft.com /virtualearth; earth.google.com) oferecem uma visão privilegia- da do mundo. • Embora em princípio seja possível usar os SIG para qualquer propósito, na prática eles são fequente- mente usados para propósitos que podem ser etica- mente questionáveis ou podem invadir a privacidade individual, tal como vigilância, e para a inteligência militar e industrial. A tecnologia pode parecer neu- tra, mas é sempre utilizada em um contexto social. Tal como nos debates sobre a bomba atômica nos anos 1940 e 1950, os cientistas que desenvolveram e promoveram o uso dos SIG certamente têm alguma responsabilidade sobre como eles eventualmente são utilizados. A ideia de que uma ferramenta pode ser inerentemente neutra, e seus criadores, em decor- rência, imunes de qualquer debate ético é fortemen- te questionada nessa literatura. • O grande sucesso dos SIG causa preocupação. Exis- tem dúvidas sobre uma área que é conduzida pela tecnologia e pelo mercado, ao invés da necessidade humana. O medo é de que os SIG sejam muito bem- -sucedidos em modelar distribuições socioeconômi- cas e que, em consequência, tornem-se uma ferra- menta da “sociedade da vigilância”. Contrariando esta perspectiva está a visão de que um maior acesso à informação, especialmente por meio da Web, tem fomentado o debate e vem sendo um meio conside- rável de se nivelar o terreno em termos de acesso a dados. • Há preocupação de que os SIG continuem sendo uma ferramenta nas mãos dos já poderosos – não obstante a difusão de tecnologia que tem acompa- nhado a queda no custo de computadores e a ampla adoção da Internet. Como tal, eles são vistos como 1.8 Longley_01.indd 34Longley_01.indd 34 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Capítulo 1 Sistemas, Ciência e Estudo 35 um recurso que mantém o status quo em termos das estruturas de poder. Em decorrência, qualquer visão dos SIG para toda a sociedade é vista como intan- gível. A queda no preço dos SIG e o maior nível de sensibilidade estão permitindo a uma proporção bem maior da população o acesso direto ou indireto aos SIG através de outros canais de mídia. Atualmente, a GeoWeb está dando a mais e mais indivíduos e gru- pos o poder de apresentar suas perspectivas a uma vasta audiência. • Parece haver uma sub-representação de aplicações de SIG na pesquisa crítica. Essa perspectiva acadêmica está centrada nas conexões entre o homem e estrutu- ras e contextos sociais particulares. Alguns dos seus protagonistas sustentam que tais conexões não são passíveis de representação digital no todo ou em par- te. Alguns estudos investigando, por exemplo, a com- patibilidade entre SIG e epistemologias feministas e política começam a ser relatados. • Alguns veem a associação dos SIG com o projeto cien- tífico e técnico como fundamentalmente falha. De modo mais restrito, há uma visão de que as aplicações de SIG (como a análise espacial antes deles) estão li- gadas de modo indissociável à filosofia e aos pressu- postos da abordagem da ciência do positivismo lógico (ver também a referência a “positivo” na Seção 1.1). Como tal, os SIG nunca poderão ser mais que uma ferramenta positivista e um instrumento normativo e não poderão enriquecer outras perspectivas mais crí- ticas na geografia. Essa não é uma crítica apenas aos SIG, mas também à aplicação do método científico à análise de sistemas sociais. Muitos geógrafos continuam desconfiando do uso dos SIG na geografia. Nos últimos anos, tem se popularizado o termo neo- geografia para descrever o desenvolvimento da tecnolo- gia de mapeamento na Web e de infraestruturas de dados espaciais que têm reforçado muito nossas habilidades em construir, compartilhar e interagir com a informação geográfica em tempo real. Aliada a isso está a crescen- te expansão das comunidades de informação geográfica colaborativa (Volunteered Geographic Information – VGI). A neogeografia está alicerçada nas interações de mão dupla, de muitas para muitas, entre usuários e sites que surgiram a partir da Web 2.0, como as incorpora- das a projetos como Wikimapia (www.wikimapia.org) e OpenStreetMap (www.openstreetmap.org). Atual- Figura 1.20 Mapa viário de origem colaborativa de parte da cidade de São Paulo, Brasil. (Fonte: OpenStreetMap.org) Longley_01.indd 35Longley_01.indd 35 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Parte 1: Introdução36 mente, o Wikimapia possui conteúdo gerado pelos usuá- rios para um maior número de locais do que em qualquer lista oficial de nomes de lugares, enquanto o OpenSt- reetMap está encaminhando bem a criação de um banco de dados cartográficos global de uso livre através da assi- milação de imagens de satélite digitalizadas com rotas de GPS fornecidas por usuários (ver Figura 1.20). Isso tem agregado vários novos usuários aos benefícios de criar, compartilhar e usar informação geográfica, muitas vezes através de grupos ad hoc e de interesse. Como tal, a Web 2.0 simultaneamente facilita a coleta de VGI ao mesmo tempo em que, de forma crescente, torna acessíveis fun- ções básicas de SIG a uma comunidade cada vez maior de usuários. A criação, manutenção e distribuição de bancos de dados não é nada mais do que a “wikificação dos SIG”. A neogeografia fornece tanto uma resposta parcial aos críticos sociais dos SIG do passado, na medi- da em que traz às massas os SIG e algum uso das infraes- truturas de dados espaciais, quanto as reforça, na medida em que muitas aplicações da Web 2.0 apresentam novos desafios à privacidade e à confidencialidade do cidadão. A capacitação de muitos usuários não especialistas em SIG também traz consigo os novos desafios de assegurar que ferramentas sejam usadas de modo eficiente, eficaz e seguro, e reforça que a Web 2.0 nunca será mais do que uma solução tecnológica parcial ao emprego efetivo dos SIG. Gostaríamos de saber para onde essa discussão nos le- vará. Escolhemos um título para esse livro que inclui tanto sistemas quanto ciência, e certamente grande parte dele aborda mais o conceito amplo de informação geográfica do que exclusivamente sistemas de software isolados e monolíticos. Acreditamos firmemente que usuários efi- cientes de SIG necessitam algum conhecimento sobre todos os aspectos da informação geográfica, desde os prin- cípios básicos e técnicas até conceitos de gestão e familia- ridade com aplicações. Esperamos que esse livro ofereça esse tipo de conhecimento. Por outro lado, optamos por não incluir estudos de IG no título. Embora o último capí- tulo deste livro enfoque muitos aspectos do contexto social dos SIG, incluindo tópicosde privacidade, o contexto dos estudos de IG é baseado na teoria social. Estudos de IG necessitam de um tipo de atenção especial que não pode- mos dar, e recomendamos que os estudantes interessados nessa área explorem os textos especializados listados nas referências. Questões para estudo 1. Examine os dados geográficos disponíveis para uma área com raio de 50 milhas (80 km) de onde você mora ou estuda. Use-os para produzir um perfil ilustrado do ambiente socioeconômico ou físico. (Veja, por exemplo, www.geodata. gov/gos; www.geographynetwork.com; eu- geoportal.jrc.it ou www.magic.gov.uk.) 2. Quais são as características que distinguem o método científico? Discuta a relevância delas para os SIG. 3. Argumentamos que a Internet provocou uma grande mudança nos SIG. Quais são os argumentos a favor e contra essa visão? 4. Localize cada um dos itens identificados no Quadro 1.7 em dois diagramas triangulares de “Ciência da IG”, tal como mostrado na Figura 1.18 – um para os temas que estão predominantemente relacionados ao desenvolvimento da ciência e outro para temas que se relacionam predominantemente ao desenvolvimento tecnológico. Justifique as suas atribuições com um breve texto. Compare a distribuição dos itens em cada um dos triângulos de modo a avaliar a importância relativa do indivíduo, do computador e da sociedade no desenvolvimento da Ciência e da Tecnologia da IG. Longley_01.indd 36Longley_01.indd 36 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Capítulo 1 Sistemas, Ciência e Estudo 37 Leitura complementar Chrisman, N.R. 2003. Exploring Geographical Information Systems (2nd ed.). Hoboken, NJ: Wiley. Curry, M.R. 1998. Digital Places: Living with Geographic Information Technologies. London: Routledge. De Smith, M., Goodchild, M.F., and Longley, P.A. 2009. Geospatial Analysis: A Comprehensive Guide to Principles, Techniques and Software Tools (3rd ed.). Leicester: Troubador and www.spatialanalysisonline.com. DiBiase, D., deMers, M., Johnson, A., Kemp, K., Taylor Luck, A., Plewe, B., and Wentz, E. (eds.). 2006. Geographic Information Science & Technology Body of Knowledge. Washington, DC: Association of American Geographers. Foresman, T.W. (ed.). 1998. The History of Geographic Information Systems: Perspectives from the Pioneers. Upper Saddle River, NJ: Prentice Hall. Goodchild, M.F. 1992. Geographical information science. International Journal of Geographical Information Systems 6: 31–45. McMaster, E.B., and Usery, E.L. 2004. A Research Agenda for Geographic Information Science. Boca Raton, FL: CRC Press. Pickles, J. 1993. Ground Truth: The Social Implications of Geographic Information Systems. New York: Guilford Press. Longley_01.indd 37Longley_01.indd 37 03/09/12 17:4403/09/12 17:44 Longley_01.indd 38Longley_01.indd 38 03/09/12 17:4403/09/12 17:44