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CIRURGIA VASCULAR Aneurismas . CONCEITOS GERAIS . ● ANEURISMA, vem do grego ANEURYSMO, e significa dilatação. ● Aneurisma pode ser definido como a dilatação segmentar acima de 50% do diâmetro normal do vaso. ● Ectasia de um vaso se refere a uma dilatação segmentar com menos de 50% de aumento do diâmetro normal do vaso. ● Arteriomegalia é uma dilatação difusa (pega todo o vaso) com mais de 50% de aumento do diâmetro normal. ● Todo aneurisma tende a se romper. ● Os aneurismas advém de danos na camada média da parede do vaso, comumente da artéria aorta, resultando em redução da resistência, o que provoca alargamento e tortuosidade do vaso, com dilatação de sua luz. ● O aumento do diâmetro vascular causa maior tensão na parede, que junto com a dilatação do vaso, provoca danos maiores à parede vascular, reiniciando o processo. ● Portanto, é um PROCESSO PROGRESSIVO, TENDENDO À RUPTURA DO VASO. ● Sua patogênese é associada a um processo multifatorial e apresenta relações com genética, envelhecimento, infecções, etc. ● Sua etiologia pode incluir causas traumáticas, autoimunes, infecciosas (aneurismas micóticos) ou degenerativas (sendo a principal). ● Seu alargamento pode estar intimamente relacionado a fatores que promovem enfraquecimento da parede arterial, bem como o aumento local das forças hemodinâmicas. SÍNDROME DE MARFAN: ● Doença do tecido conjuntivo, genética, autossômica dominante. ● Apresenta envolvimento multissistêmico, afetando principalmente o aparelho cardiovascular, musculoesquelético e ocular. ● A dilatação da aorta, dissecção e rotura são as principais causas de morbimortalidade. DOENÇA VASCULAR DE EHLERS-DANLOS: ● Grupo de 10 diferentes doenças hereditárias, sendo que todas envolvem um defeito genético na síntese e estrutura do colágeno e tecido conectivo. ● A EDS afeta a pele, articulações e vasos sanguíneos. ● Provoca flexibilidade incomum das articulações, pele muito elástica e tecidos frágeis. ● Tal fragilidade predispõe a uma série de doenças vasculares, como dissecções, aneurismas e pseudoaneurismas. . CLASSIFICAÇÃO . ● Os aneurismas podem ser classificados de acordo com a sua anatomia. ● Os aneurismas chamados de verdadeiros são aqueles cuja dilatação envolve as três camadas histológicas do vaso. ● Os falsos aneurismas ou pseudoaneurismas são aqueles nos quais há um defeito arterial focal, com uma coleção de sangue contida pela camada adventícia ou pelo tecido periarterial. ● Os aneurismas saculares se apresentam como uma dilatação focalizada da parede arterial e que, justamente por isso, apresentam maior risco de ruptura. ● Os aneurismas fusiformes exibem uma dilatação circunferencial e delgada, de modo que toda a circunferência da aorta se encontra acometida e dilatada. . FATORES DE RISCO . PARA TER ANEURISMA: ● Idade avançada ● Sexo masculino ● Tabagismo ● Doença aterosclerótica e hipercolesterolemia ● Hipertensão arterial sistêmica ● História familiar de AAA (aneurisma de aorta abdominal) ● História de outros aneurismas arteriais (ilíaco, femoral ou poplíteo). PARA EXPANSÃO DO ANEURISMA: ● Idade avançada ● Tabagismo ● Doença cardíaca grave ● Transplante renal e cardíaco ● AVC prévio ● HAS PARA RUPTURA DO ANEURISMA: ● Diâmetro do aneurisma ● Velocidade de expansão do aneurisma ● Tabagismo ● HAS ● Sexo feminino ● Fração de ejeção ventricular esquerda reduzida ● Morfologia sacular . FREQUÊNCIA . ● O aneurisma mais comum é o aneurisma cerebral. ● Aneurismas aortoilíacos: abdominais (65%), torácica (19%), aortoilíacos (13%), toracoabdominal (2%) e ilíacos (1%). ● Aneurismas periféricos: poplíteos (70%). ● Viscerais e renais: baixa frequência . AAA . ● O aneurisma de aorta abdominal é extremamente frequente, ocorrendo em uma incidência de aproximadamente 3 a 10%. ● A história natural é a de expansão contínua até a sua ruptura. ● É possível classificar os AAA de acordo com a sua relação com as artérias renais. ● Os do tipo suprarrenal são aqueles que se desenvolvem acima e abaixo, simultaneamente, dos vasos renais. ● Os do tipo pararrenal são aqueles que desenvolvem englobando a emergência das artérias renais; ● Os justarrenais, que se desenvolvem abaixo da emergência dessas artérias. ● O infrarrenal, que consiste no tipo mais comum, o qual se desenvolve em um pequeno segmento isolado abaixo da eminência das artérias renais, sendo por sorte, os mais fáceis de tratar por via endovascular. TROMBOSE: ● Trombose de veia cava ⇒ decorrente da compressão extrínseca do vaso pelo aneurisma, alterando o fluxo venoso correto, gerando turbilhonamento que pode culminar com a formação de um trombo. . MANIFESTAÇÕES . ● É, inicialmente, um quadro silencioso, não apresentando nenhum tipo de sintoma. ● O diagnóstico, por muitas vezes, acaba sendo acidental, por meio de exames de imagem rotineiros ou por uma causa não relacionada à doença aneurismática em si. ● Os sintomas, em geral, estão relacionados às complicações ⇒ ruptura, trombose ou embolia distal. ● Quando apresenta sintomas não relacionados a complicações, tem-se a tríade: dor abdominal vaga ou lombar aguda e saciedade precoce (30%). ● Em pacientes mais magros, é possível identificar uma massa pulsátil no abdome durante a palpação, em região supraumbilical e na região mediana, podendo variar de acordo com a tortuosidade do vaso. ● Vômitos, sintomas urinários e trombose de veia cava (decorrente da compressão extrínseca do vaso e do turbilhonamento do fluxo venoso) também podem ocorrer. SINTOMAS DA RUPTURA (tríade): ● DOR: presença de dor súbita dorsal e abdominal, que decorre do estímulo doloroso gerado pela ruptura arterial e pelo sangue em contato com a cavidade peritoneal, podendo ser irradiada para a região inguinal. ● HIPOTENSÃO: decorrente do extravasamento do sangue para o peritônio, diminuindo a quantidade desTe no espaço intravascular, de modo a gerar um débito cardíaco menor, podendo culminar no choque cardiogênico, ● MASSA PULSÁTIL: identificação de uma massa pulsátil, muitas vezes apenas na inspeção do abdome do paciente, que pode cursar com alterações dos pulsos em membros inferiores, dado o acometimento da rede arterial que irriga tais regiões. IMPORTANTE A rotura de aneurisma, quando ocorre, representa apenas 2 caminhos possíveis: 1) Ou ele tem uma hemorragia contida, conferindo uma janela temporal a mais para que ele possa ser tratado; 2) Ou ele não tem a sua hemorragia maciça bloqueada no retroperitônio e o paciente morrerá em poucos minutos. Portanto, um paciente com aneurisma roto pode chegar ao hospital tanto hemodinamicamente estável como instável, a depender do grau de contenção hemorrágica gerado pelo corpo. . DIAGNÓSTICO . ● Diagnóstico muito direcionado pelo quadro clínico (anamnese e exame físico), associado ao uso de exames de imagem. EXAMES DE IMAGEM: ● RAIO X DE ABDOME: ● O Rx simples de abdômen em perfil pode mostrar a calcificação da parede aneurismática, delineando o aneurisma em seus limites. ● ULTRASSONOGRAFIA: ● Apresenta boa sensibilidade e especificidade para a sua detecção e caracterização. ● Útil para identificar a presença e o diâmetro do aneurisma, e para buscar existência de trombos em sua parede. ● Não é mais considerado adequado para planejamento cirúrgico e nem para casos de rotura, por não ser possível enxergar toda a parede aórtica (sobretudo posteriormente) e por ser influenciada pelo estado pós-prandial do paciente, sendo um excelente método de triagem (importante para evitar as complicações dos exames invasivos). ● ANGIOTOMOGRAFIA: ● Proporciona riqueza de detalhes e possui o melhor custo-benefício-tempo, sendo o exame de escolha diante da necessidade de intervenção cirúrgica. ● Indica o diâmetro do vaso aneurismáticocom exatidão, identifica presença de trombos, calcificações, relações topográficas, acometimentos adjacentes de vasos vitais e doenças arteriais oclusivas concomitantes. ● Nos casos de rotura, por meio desse exame, pode-se topografar o local de ruptura, avaliando-se o mecanismo de bloqueio do extravasamento de sangue, como a presença de coágulos ao redor do ponto de ruptura. ● ANGIORRESSONÂNCIA MAGNÉTICA: ● Pode fornecer praticamente as mesmas informações que a angiotomografia (menos as calcificações da parede aórtica), com o benefício de não usar contraste iodado e não requerer radiação ionizante. ● Utiliza gadolínio, relacionado com fibrose nefrogênica sistêmica em pacientes com baixa taxa de filtração glomerular. ● Representa alto custo e requer muito tempo para a realização. ● ANGIOGRAFIA: ● Capaz de identificar ruptura, bem como a dimensão geral do aneurisma, mas não capta tantas riquezas de detalhes como os exames anteriormente citados, sendo o seu uso pouco corrente. ● Uma vez diagnosticado o aneurisma, recomendam-se intervalos adicionais para a triagem de acordo com o tamanho do aneurisma (diâmetro aórtico externo máximo) e risco de ruptura associado. . TRATAMENTO . TRATAMENTO CLÍNICO: ● Para pacientes sem indicação de realização de tratamento cirúrgico, busca-se o controle de fatores de risco: tabagismo, HAS, dislipidemia. ● Deve ser feito acompanhamento rotineiro, por meio de exames de imagem. ● Medicamentos para manejo dos fatores de risco cardiovasculares (hipertensão e dislipidemia): estatinas, betabloqueadores, anti agregantes plaquetários, AINES e doxiciclina. TRATAMENTO CIRÚRGICO: ● OAR (OPEN ANEURYSM REPAIR) x EVAR (ENDOVASCULAR): ● O tratamento cirúrgico pode ser feito pela via cirúrgica aberta (por via transperitoneal ou retroperitoneal no aneurisma abdominal), ou por via endovascular. ● O reparo endovascular apresenta menor tempo de internação, morbidade e mortalidade em 30 dias, mas não possui impacto positivo quanto à qualidade de vida após três meses e a sobrevida após dois anos. ● ENDOLEAKS: ● INDICAÇÕES: ● Recomenda-se que seja realizada a cirurgia em: ● Todos os pacientes sintomáticos (independente do diâmetro do aneurisma) e todos os aneurismas rotos. ● PARA ASSINTOMÁTICOS: ● Aneurismas abdominais com diâmetro > 5,5cm em homens, 5,0 cm em mulheres e com até 4,5cm em pacientes com síndrome de Marfan. ● Aneurismas na aorta torácica com diâmetro > 6 cm. ● Aneurismas toracoabdominal com diâmetro > 5,5 cm. ● Presença de aneurismas saculares; ● Crescimento rápido do aneurisma ⇒ mais de 0,5 cm em 6 meses ou mais de 1 cm em 1 ano; ● Pacientes que apresentem complicações (como embolização distal). COMPLICAÇÃO PÓS CIRURGIA: ● Fístula aorto duodenal. . ANEURISMA INFLAMATÓRIO . ● 5% dos aneurismas de aorta abdominal ● Etiologia desconhecida ⇒ relação familiar e com o tabagismo. ● Quadro clínico ⇒ dor abdominal em flanco e emagrecimento ● Tratamento preconizado ⇒ OAR (Aberta), preferencialmente via retroperitoneal. . ANEURISMA DA ARTÉRIA ILÍACA . ● Se apresenta, em 40% dos casos, em conjunto com AAA. ● Os aneurismas de artéria ilíaca isolados representam de 1 a 2% de todos os aneurismas abdominais. ● Na maioria dos casos os pacientes são assintomáticos, exceto se houver ruptura. ● Muitas vezes associado à aterosclerose. ● Mais comum em homens ⇒ 7:1 ● Com mais de 3 cm ou se apresentando em conjunto com AAA, é necessário tratar. ● Tratamento preconizado ⇒ tratamento endovascular. . ANEURISMA PERIFÉRICO . ● São mais raros, porém apresentam grande perigo quando ocorrem. ● São associados a graves complicações como isquemia distal. ● Os mais comumente observados são da artéria poplítea, artéria femoral, artéria braquial e carótida. ● É comum a presença de algum grau de isquemia aguda secundária a complicações tromboembólicas, sendo associadas a altas taxas de morbidade e de perda do membro. ANEURISMA DE ARTÉRIA POPLÍTEA: ● Representa 70% dos casos de aneurisma periférico e são bilaterais em 50% dos casos. ● É predominante no sexo masculino. ● Tem etiologia associada a doença aterosclerótica. ● Diferente do aneurisma da aorta, este raramente apresenta ruptura. ● O maior risco consiste no entupimento da circulação da perna, causada por sua trombose ou pelo desprendimento de coágulos do seu interior para os ramos dos vasos sanguíneos originados da artéria poplítea ⇒ risco muito elevado de perda do membro afetado (amputação). ● É necessário tratar se diâmetro maior que 2cm ou paciente sintomático. ● Evolução ⇒ embolização, oclusão, compressão, possível ruptura ● Importante pensar no diagnóstico diferencial, o chamado cisto de Baker (bolsa de líquido sinovial envolto pela sua bainha homônima e por estruturas adjacentes na região da fossa poplítea). ● O cisto de Baker não tem caráter pulsátil como a AAP ⇒ importante diferenciação. ● Diagnóstico⇒ exame físico, ecografia com doppler, tomografia e angiografia. ● Tratamento preconizado ⇒ cirurgia aberta (bypass), particularmente o mais indicado pelas características da região de articulação, ou endovascular. ● O reparo endovascular é adequado para pacientes sem boa condução venosa ou mais velhos, cujas comorbidades trazem altos riscos. ANEURISMA DE ARTÉRIA FEMORAL: ● 50% dos casos são bilaterais. ● E 92% dos casos se apresenta em conjunto com aneurismas aortoilíacos. ● Podem ocorrer aneurismas verdadeiros (associados a causas ateroscleróticas) e aneurismas falsos (após enxerto ou pós punção). ● Pode evoluir para embolia ou ruptura. ● É necessário tratar quando o diâmetro > 2cm. ANEURISMA DE ARTÉRIA SUBCLÁVIA: ● Tem risco de evoluir para embolização ou ruptura. ● Tem etiologia associada a aterosclerose, trauma, síndrome do desfiladeiro, infecção, punção (pseudoaneurismas). ● Quadro clínico ⇒ massa pulsátil supraclavicular, rouquidão, sd do dedo azul, AIT ou AVC, compressão da traqueia, síndrome de Horner (ptose, miose, anidrose), compressão do plexo braquial e hemoptise. ● É necessário tratar sempre que for diagnosticada. ● Tratamento preconizado ⇒ cirurgia aberta ou cirurgia endovascular com colocação de stent recoberto. ● SUBCLÁVIA DIREITA ABERRANTE: ● A artéria subclávia direita normalmente tem origem como primeiro vaso do tronco braquiocefálico no arco aórtico. Uma artéria subclávia direita aberrante origina-se como um vaso separado do tronco braquiocefálico e passa por trás da traquéia. ● Disfagia e dispnéia. . ANEURISMAS VISCERAIS . ● São pouco frequentes e a maioria é assintomático. ● Sintomas muito pouco expressivos. ● Processo de expansão: dor abdominal e lombar ● A rotura pode ser sua primeira manifestação ● Podem envolver as artérias esplênica, renal, hepática, mesentérica superior, entre outras. ANEURISMA DE ARTÉRIA ESPLÊNICA: ● É o aneurisma visceral mais prevalente (48%) ● Mais comum em mulheres, porém rompe mais em homens. ● Quatro situações aumentam a prevalência: ○ Gravidez (sobretudo multiparidade) ○ Displasia fibromuscular. ○ Paciente com hipertensão portal. ○ Caso de arterite localizada. ● O quadro clássico muitas vezes está associado à gravidez (multiparidade) no 3° trimestre, que representa de 25 a 40% dos casos de ruptura e tem relação comum com choque. ● Necessário tratar em casos de: ○ Diâmetro > 2cm ○ Ruptura ○ Paciente grávida ou em idade fértil ○ Sintomático. ● Tratamento preconizado ⇒ cirurgia convencional ou cirurgia endovascular ANEURISMA DE ARTÉRIAS RENAIS: ● Segundo aneurisma mais prevalente (30%). ● A maioria associada a displasia fibromuscular. ● Outras causas: aterosclerose, trauma e PAN. ● Gravidez também traz risco de ruptura ⇒ 56% de mortalidade para a mãe e 82% para o feto. ● Tratamento preconizado ⇒ tratamento conservador para homens jovens, com rim único, diâmetro < 2 cm ou doença renal difusa.
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