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Módulo Controle da Incidência Tributária ALUNO: LEANDRO TAKEO ALVES WATANABE TURMA: 2022.02-CIT-BSB SEMINÁRIO II - CONTROLE PROCESSUAL DA INCIDÊNCIA: DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE Questões 1. A respeito do controle de constitucionalidade no sistema processual brasileiro, pergunta-se: (a) Quais as espécies de controle de constitucionalidade existentes no ordenamento jurídico brasileiro? Inicialmente cabe destacar o que é o controle de constitucionalidade, o qual na visão de Mantovanni Colares Cavalcante1 é um instrumento de natureza processual, já que se tem em tal ferramenta um exercício de competência no âmbito da jurisdição. Todavia, não significa que as outras áreas doutrinárias do direito não possam se curvar concorrentemente sobre tal instrumento, isso porque essa ferramenta é dotada de aspectos relacionados ao direito constitucional e à teoria do Estado. O controle de constitucionalidade é uma ferramenta de análise sobre a compatibilidade das leis a atos normativos infraconstitucionais em relação à Constituição Federal. Adiante, quanto as espécies de controle de constitucionalidade, estas podem ser classificadas quanto ao (i) momento do controle; (ii) quanto ao órgão controlador e; (iii) quanto ao modo de exercício do controle jurisdicional. Dito isso, pode-se dizer que o controle de constitucionalidade pode ser exercido de forma preventiva ou repressiva. O primeiro ocorre pelo Poder legislativo, como por exemplo o realizado pela Comissão de Constituição e 1 CAVALCANTE, Mantovanni Colares. A declaração de inconstitucionalidade da inclusão do ICMS na base de cálculo da COFINS e do PIS e a necessidade da reavaliação procedimental da modulação. In: CARVALHO, Paulo de Barros. (Org.). Racionalização do Sistema Tributário. 1ª ed. São Paulo: Noeses, 2017, p. 849-850. Módulo Controle da Incidência Tributária Justiça e, pelo Poder Executivo, como por exemplo através do veto, o qual pode ter como fundamento a afronta a algum preceito constitucional. Já a forma repressiva ocorre no Judiciário, o qual obtém-se resultado mais radical a exclusão de determinado enunciado do ordenamento jurídico. Entretanto, bem ensina Rafael Pandolfo2, que é preciso explicar que o controle preventivo não pode ser considerado controle de norma jurídicas, ao ponto que o texto analisado, tanto pelo Legislativo como pelo Executivo, ainda não entrou no ordenamento jurídico. Aqui, merece destaque o controle repressivo, subdividindo-se em controle concentrado/abstrato e controle difuso/concreto. No primeiro, somente pode ser efetuado pelo STF, com a finalidade da ação como meio para o controle de verificação da constitucionalidade do ato normativo, se dando em tese tal verificação, independentemente da existência de um caso concreto. Já no segundo, tem o objetivo de avaliar o ato infraconstitucional, o qual tem a constitucionalidade questionada, considerando as condições específicas de um caso concreto em particular, podendo ser exercido por qualquer juiz ou tribunal. (b) Explique as diferentes técnicas de interpretação adotadas pelo STF no controle de constitucionalidade (parcial com redução de texto, sem redução de texto, interpretação conforme à Constituição). De acordo com o STF, existem consideram-se três modalidades: (i) parcial com redução de texto, onde somente os dispositivos contrários à Constituição são declarados nulos e não a norma em sua totalidade; (ii) sem redução de texto, a qual não há modificação do texto legal, considerando inconstitucional apenas uma hipótese de aplicação de lei e; (iii) interpretação conforme à Constituição, modalidade essa que em caso de entendimento diverso de um único texto legal, deve-se optar pela interpretação mais compatível com a Constituição. 2 PANDOLFO, Rafael. Jurisdição constitucional tributária – Reflexos nos processos administrativo e judicial. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Noeses, 2019, p. 165. Módulo Controle da Incidência Tributária Todavia, Robson Maia Lins3 explica que existem duas técnicas, a de interpretação conforme a Constituição e a da declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade (do texto). Para o autor, apesar das semelhanças entre as técnicas, somente na segunda, em rigor, há declaração de inconstitucionalidade das acepções incompatíveis com a Constituição. Pois, na primeira, não há declaração de inconstitucionalidade das outras acepções levantadas a partir do texto normativo, mas declaração de constitucionalidade de uma acepção, a qual também é norma jurídica. 2. A respeito da modulação de efeitos prescrita no (i) art. 27 da Lei n. 9.868/99 e no (ii) § 3º do art. 927 do CPC/15, responda: (a) há distinção entre a espécie de controle de constitucionalidade em que a modulação dos efeitos pode ser consagrada, considerando o teor de cada um dos dispositivos em análise? No art. 27 da Lei 9.868/99 dispõe da aplicação da modulação dos efeitos quanto às decisões proferidas em sede de ADI ou ADC, ações essas que detém o controle de constitucionalidade direto. Noutro lado, o art. 927, § 3º do CPC/15 não expressa restrição quanto à determinadas ações judiciais, o dispositivo dispõe sobre hipótese de alteração de jurisprudência dominante do STF e dos tribunais superiores, permitindo assim, sua aplicação tanto no controle de constitucionalidade efetuado de forma direta/abstrato ou incidental/concreto. Sendo assim, revela-se distinção entre a espécie de constitucionalidade em que a modulação dos efeitos pode ser consagrada. Ressalta ainda, em regra, no controle concentrado/abstrato as decisões são erga omnes e ex tunc. Já no controle difuso/concreto tem-se o efeito inter partes e ex nunc. (b) há identidade entre os fundamentos apontados em cada um dos dispositivos para que seja convocada a modulação dos efeitos da decisão proferida em 3 LINS, Robson Maia. Controle de constitucionalidade da norma tributária. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 146-147. Módulo Controle da Incidência Tributária controle de constitucionalidade? Identifique-os. A respeito da modulação dos efeitos, além dos dispositivos do enunciado da questão, outro também merece destaque, o art. 11 da Lei 9.882/99. As Leis 9.868/99 em seu art. 27 e 9.882/99 em seu art. 11, ao normatizarem, respectivamente, as Ações Diretas de Inconstitucionalidades (ADI), Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) e Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), fizeram nascer com que uma excepcionalidade de decisão referente à constitucionalidade de uma norma possa ter seus efeitos limitados por questões de segurança jurídica ou interesse social relevante. Por sua vez, o art. 27, § 3º do CPC/15, dispõe, quanto aos fundamentos, no mesmo sentido das leis supracitadas, porém, o referido dispositivo faz referência da modulação dos efeitos referente a questão de alteração jurisprudencial dominante do STF e dos tribunais superiores ou daquela oriunda de julgamento de casos repetitivos, ao passo que as Leis 9.868/99 e 9.882/99 fazem menção a declaração de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo por meios das Ações mencionadas anteriormente. Veja-se, em que pese os dispositivos tratarem quanto a matéria que de fato pode ser diferente, no que tange a modulação dos efeitos a identidade dos fundamentos é a mesma, ou seja, devendo ser observados nos casos, os princípios da segurança jurídica e do interesse social. 3. Os conceitos de controle concreto e abstrato de constitucionalidade podem ser equiparados aos conceitos de controle difuso e concentrado, respectivamente? Que espécie de controle de constitucionalidade o STF exerce ao analisar pretensão deduzida em reclamação (art. 102, I, “l”, da CF)? Concreto ou abstrato, difuso ou concentrado? Os conceitos, em sentido estrito, de controle concreto/abstrato e difuso/concentrado, não merecemequiparação, ao menos nem sempre, pois podem apresentar aspectos diferentes em suas classificações. Quando se fala em controle concreto ou abstrato, leva-se em referência Módulo Controle da Incidência Tributária a existência ou não de um caso concreto, discutindo-se a norma em debate de modo que quando se discuta a própria (in)constitucionalidade do ato em face do sistema normativo, isto é, estar-se falando de controle concreto quando debater-se a incidência de alguma norma sobre determinado caso concreto, ao passo que estar-se falando de controle abstrato quando a discussão ocorre em tese. Por outro lado, quando se fala em controle difuso/concentrado, revela- se ao fato quanto a pluralidade de órgãos jurisdicionais competentes para fazer valer a (in)constitucionalidade. Notando-se que o controle será difuso quando estiverem autorizados diversos órgãos jurisdicionais a declarar a (in)constitucionalidade. Já o controle concentrado restringe-se a um único tribunal, o STF. Entretanto, o que acontece habitualmente é que relacionam o controle concreto com o difuso e o controle abstrato com o controle concentrado. Tais controles andam quase sempre juntos, inclusive os relaciono, conforme exposto na alínea “a” da questão 1 do presente seminário, porém, para dividi- los como espécies, no entanto, quanto aos conceitos, em si, são diferentes. Nesse sentido, destaca-se que a reclamação para o STF, disposta no art. 102, I, “l” da CF/88, permite a ação de reclamação pelo controle concreto, pois tal ação advém de um caso concreto, e pela via principal, de forma que é proposta diretamente no Supremo. Dessa forma, entendo que a reclamação constitucional em comento se dá por meio de controle concentrado, tendo em vista que é de competência primordial do STF, porém, reflete controle difuso, haja visto que a reclamação é debatida em face de um caso concreto. Por isso, entende-se que poderá haver exceções, casos que nem sempre o controle concentrado será também abstrato. 4. Que significa afirmar que as sentenças produzidas em ADI e ADC possuem “efeito dúplice”? As decisões proferidas em ADI e ADC sempre vinculam os demais órgãos do Poder Executivo e Judiciário? E os órgãos do Poder Módulo Controle da Incidência Tributária Legislativo? O efeito vinculante da súmula referida no art. 103-A, da CF/88, introduzido pela EC n. 45/04, é o mesmo da ADI? Justifique sua resposta. Em relação ao “efeito dúplice” quanto as sentenças produzidas em ADI e ADC, cabe destacar o art. 24 da Lei 9.868/99: Art. 24. Proclamada a constitucionalidade, julgar-se-á improcedente a ação direta ou procedente eventual ação declaratória; e, proclamada a inconstitucionalidade, julgar-se-á procedente a ação direta ou improcedente eventual ação declaratória. Nesse sentido, vale dizer que as sentenças terão equivalência, em relação as consequências do pronunciamento, quando produzidas em sede de ADI e ADC. Resumindo, eventual improcedência da ADI restará em declaração de constitucionalidade da norma, no mesmo modo que a procedência da ADC irá gerar improcedência da ação direta de inconstitucionalidade. Rafael Pandolfo4 explica que tal efeito significa que ambas as ações têm aptidão para firmar, quando julgadas no seu mérito, juízo de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade do preceito normativo que configura seu objeto. Nos termos do art. 102, § 2º da CF/88, com a redação conferida pela EC 45/04, as decisões definitivas de mérito, proferidas pelo STF, em sede de ADI e ADC, produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, em relação aos demais órgãos do Judiciário e da administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal. Isso quer dizer que tais decisões, referidas a fiscalização normativa abstrata, detém poder erga omnes, ou seja, contra todos. Ainda, vinculam as decisões e atos praticados pelos juízes, Tribunal e a administração pública federal, estadual, distrital e municipal, devendo esses órgãos à necessária observância e adequação de seus posicionamentos em relação ao que foi definido pelo STF. Entretanto, entende-se que não vinculam o Poder Legislativo 4 PANDOLFO, Rafael. Jurisdição constitucional tributária – Reflexos nos processos administrativo e judicial. 2. ed. rev. e atual. São Paulo: Noeses, 2019, p. 194. Módulo Controle da Incidência Tributária exclusivamente quanto a sua função de legislar, tendo em vista o expresso no parágrafo único, art. 28 da Lei 9.868/99, o qual dispõe que o efeito vinculante abarcará todos os órgãos do Judiciário, da administração pública federal, estadual e municipal. Ainda assim, quanto ao Poder Legislativo, merece exposição o art. 52, X da CF/88, o qual expressa que compete privativamente ao Senado Federal “suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal”. Nesse sentido, leciona Daniel Sarmento e Cláudio Souza Neto5, que as decisões não serão vinculantes Poder Legislativo, podendo tal Poder editar nova lei de matéria similar, em que sua validade se presumirá porquanto sobrevenha eventual decisão de inconstitucionalidade com efeitos vinculantes. Quanto a parte final da questão, os efeitos das súmulas, nos termos do art. 103-A da CF/88, guardam grandes semelhanças aos que são adotados em controle por ADI, dentre elas destacando-se a abrangência dos órgãos que são alcançados, porém, vale ressaltar que tratam-se de instrumentos diferentes, pois a ADI, em sede de controle abstrato, é necessário que a Suprema Corte seja provocada e assim profira decisão com efeito vinculante e erga omnes, ao passo que as súmulas poderá sofrer alteração ou cancelamento por pessoas legitimas, previsão essa que não há em ADI, lembrando-se também que as súmulas também poderão ser provocadas de ofício pelo STF. 5. O STF tem a prerrogativa de rever seus posicionamentos ou também está inexoravelmente vinculado às decisões por ele produzidas em controle abstrato de constitucionalidade? Se determinada lei tributária, num dado momento histórico, é declarada constitucional em ADC, poderá, futuramente, após mudança substancial dos membros desse tribunal, ser declarada 5 SARMENTO, Daniel; SOUZA NETO, Cláudio Pereira de. Direito Constitucional. Teoria, história e métodos de trabalho. Belo Horizonte: Fórum, 2012, pp. 402-405. Módulo Controle da Incidência Tributária inconstitucional em ADI? É cabível a modulação de efeitos neste caso? Analisar a questão levando-se em conta os princípios da segurança jurídica, coisa julgada e as disposições do art. 927, § 3o, do CPC/15. Entende-se pela possibilidade de que o STF pode rever as decisões proferidas pela própria Corte, mesmo que seja aquelas proferidas em sede de controle abstrato de constitucionalidade. Porém, tal revisão dever ser feita com cautela, resguardando os princípios da segurança jurídica e do interesse social. Essa possibilidade é viável em decorrência das alterações fáticas e sociais. É valida a reanálise de posicionamentos anteriores que detenham fundamentos como as alterações normativas advindas dos processos sociais, como por exemplo, o fenômeno da mutação constitucional, o que é possível mesmo que o texto legal continue sem mudança, de modo que texto e norma não se confundem. Importante salientar, que o art. 102, § 2º da CF/88 vincula as decisões definitivas do Supremo somente em relação aos demais órgãos do Judiciário e à administração pública federal, estadual e municipal, porém, percebe-se, que não vincula tais decisões ao próprio STF. Todavia, entende-se que não seria possível a revisão em hipótese de exposição dos mesmos argumentos em relação à mesma norma. O art. 103-A da CF/88 vincula as decisões definitivas do STF aos demais órgãos do Judiciário e à administração pública, mas não à própria Corte,não necessitando assim, de alteração significativa dos membros para possibilitar alteração de posicionamento. Vale lembrar que a ADC não origina nova norma que invada a validade, vigência ou eficácia da norma discutida, porém, somente ratifica a validade de tal norma. Todavia, em momento futuro, podem insurgir novos fatos, circunstâncias, entendimentos, até mesmo novas normas que poderão forçar a uma mudança do antigo posicionamento do Supremo. Fato é, que é inviável um órgão julgador expressar-se a respeito de todas as possíveis interpretações que se pode tirar a partir de uma norma, dessa forma, sempre poderá haver a possibilidade daquela norma ser reanalisada. Módulo Controle da Incidência Tributária O mérito dos posicionamentos constitucionais instaurados em sede de controle abstrato não é a compreensão dos membros em si do órgão julgador, mas sim as normas jurídicas, as quais a subsistência independe daquele a verifica. Dito isso, não compactua com a segurança jurídica a fundamentação de alteração de entendimento, o fato de mudanças dos membros do tribunal. Nesse diapasão, claro é que, caso reexaminado posicionamento anterior, importante é a modulação dos efeitos, tendo em vista que, indiscutivelmente, pela sua força vinculante, a sentença prolatada em controle direto se põe à noção de jurisprudência dominante disposta no art. 927, § 3º do CPC, acima da natural referência aos princípios da segurança jurídica e coisa julgada. Para finalizar, Ednaldo Ferreira Júnior6, a respeito da modulação dos efeitos no caso em estudo, ainda destaca importante dispositivo, o art. 24 da LINDB, visto que a alteração de entendimento poderá acarretar à revisão de atos administrativos vinculados à constituição e execução do crédito tributário. 6. O art. 535, §5º, do CPC/15 prevê a possibilidade de desconstituição, por meio de impugnação ao cumprimento de sentença, de título executivo fundado em lei ou ato normativo declarados inconstitucionais pelo STF ou em aplicação ou interpretação tidas por incompatíveis com a Constituição Federal em controle concentrado ou difuso. Pergunta-se: (a) É necessário que a declaração de inconstitucionalidade seja anterior à formação do título executivo? Inicialmente, importante ressaltar que o art. 525, § 12º do CPC dispõe no mesmo sentido do § 5º do mesmo artigo. Robson Maia Lins explica7 que nem todos os atos podem ser retirados pelo Supremo na decisão de inconstitucionalidade, tampouco por outras 6 FERREIRA JÚNIOR, Ednaldo S. A Lei nº 13.655/2018 e a Fazenda Pública em Juízo: relações entre as normas processuais e as novas disposições da LINDB. Revista Brasileira de Direito Processual – RBDPRO, ano 28, nº 211. p. 99-102. 7 LINS, Robson Maia. Controle de constitucionalidade da norma tributária. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 180. Módulo Controle da Incidência Tributária autoridades competentes e pelo procedimento adequado em função da declaração de inconstitucionalidade. Dessa forma, entende-se, nos termos do mesmo artigo do enunciado da questão, porém em seu § 7º, que deverá a declaração de inconstitucionalidade ser anterior à formação do título executivo. O referido dispositivo menciona que a decisão proferida pelo STF seja anterior ao trânsito em julgado da decisão exequenda. Nesse sentido, importante a colocação da autora Regina Nery Ferrari8, quando ela ensina que reconhecer, portanto, que a norma incondicional é nula, e que os efeitos desse reconhecimento devem operar ex tunc, estendendo-os ao passado de forma absoluta, anulando tudo o que se analisou sob o império da norma assim considerada, é impedir a segurança jurídica, a estabilidade do direito e sua própria finalidade. Dessa forma, conclui-se pelo mesmo entendimento de Bianor Arruda9, ou seja, as regras constantes do CPC (art. 525, § 12º e art. 535, § 5º), pelas razões expostas no presente seminário, apenas faz sentido em relação as decisões do STF proferidas antes da formação do título executivo exequendo, pois, somente assim se atende o comando do CPC de respeito aos precedentes, em busca da formação de uma jurisprudência coerente, íntegra e estável e, dessa forma, em busca da segurança jurídica, mesmo valor-chave que o direito fundamental de respeito à coisa julgada, ao ato jurídico perfeito e ao direito adquirido vista preservar. (b) E se for posterior, poderá ser alegada? Se sim, por qual meio? Há prazo para esta alegação? Caso siga o direito expresso, na letra da lei, se a decisão for proferida após o trânsito em julgado da decisão exequenda, a desconstituição do título executivo poderá ser alegada por meio de Ação Rescisória, no prazo legal de 8 LINS, Robson Maia. Controle de constitucionalidade da norma tributária. São Paulo: Quartier Latin, 2005, p. 180 (apud, REGINA NERY FERRARI, 1999, p. 126). 9 CARVALHO, Paulo de Barros; SOUZA, Priscila de. Racionalização do sistema tributário. São Paulo: Noeses, 2017, p. 151 (apud, ARRUDA, Bianor). Módulo Controle da Incidência Tributária dois anos, cujo prazo será contado do trânsito em julgado da decisão proferida pelo STF, conforme disposto no art. 535, § 8º do CPC/15. 7. Contribuinte ajuíza ação declaratória de inexistência de relação jurídico- tributária que o obrigue em relação a tributo cuja lei instituidora seria, em seu sentir, inconstitucional (porque violadora do princípio da anterioridade). Paralelamente a isso, o STF, em ADI, declara constitucional a mesma lei, fazendo-o, contudo, em relação a argumento diverso. Pergunta-se (vide anexo I): a) Como deve o juiz da ação declaratória agir: examinar (1) o mérito da ação e julgá-la procedente, ou (2) extingui-la, sem julgamento de mérito (sem análise do direito material), por força dos efeitos erga omnes da decisão em controle de constitucionalidade abstrato? Em que pese o efeito erga omnes, entende-se que o juiz deverá apreciar o mérito da ação declaratória do contribuinte. Eis que com o grande aumento de precedentes com efeito vinculante em nosso ordenamento jurídico, criou- se o instituto do distinguinshing. Trata-se de procedimento em que afasta o precedente pacificado e examina o caso concreto considerando as particularidades da lide, ou seja, não se aplica determinado precedente vinculante tendo em vista que aquela ação que está sendo julgada não se encaixa nos parâmetros de incidência daquele precedente. Dessa forma, conclui-se que na presente questão, implica na faculdade do juiz examinar o mérito da ação, ainda assim com o fim de analisar se no caso há de fato uma distinção entre a ação declaratória do contribuinte e os fundamentos centrais do precedente fixado pela ADI. b) Se o STF tivesse se pronunciado sobre o mesmo argumento veiculado na ação declaratória (violação do princípio da anterioridade), qual solução se colocaria adequada? Responda a essa pergunta, considerando o que foi respondido na questão “a)”. Nesse caso, se a ADI tiver os mesmos argumentos e fundamentos Módulo Controle da Incidência Tributária veiculados pela declaratória do contribuinte, a decisão do Supremo deve ser acatada e, consequentemente, o magistrado deverá julgar improcedente o mérito da ação declaratória do contribuinte. Ressalta que nesse caso ainda sim o magistrado deve analisar o mérito da ação. Perceba, que na alínea “a” da presente questão, o STF utilizou-se de argumento diverso, por isso o entendimento de possível aplicação do instituto do distinghuinsh. Todavia, nesta alínea “b”, os argumentos são idênticos da ADI e declaratória do contribuinte, por isso o entendimento de afastar tal instituto. c) Se na referida ação declaratória já tivesse ocorrido o trânsito em julgado de decisão de procedência (acolhendo o pedido do contribuinte), poder-se-ia falar em ação rescisória com base no julgamento do STF (art. 966 CPC/15)? Qual o termo inicial do prazo para ajuizamentoda ação rescisória? E se o prazo para propositura dessa ação (2 anos) houver exaurido? Haveria alguma outra medida a ser adotada pelo Fisco objetivando desconstituir a coisa julgada, diante desse último cenário (exaurimento do prazo de 2 anos da ação rescisória)? Vide art. 505, I do CPC/15. Primeiramente, importante destacar, inclusive esse é o entendimento do próprio STF, que a decisão do Supremo declarando a constitucionalidade ou a inconstitucionalidade de preceito normativo não gera a automática reforma ou rescisão das sentenças anteriores que tenham adotado posicionamento diferente. Dessa forma, para que tal reforma ou rescisão ocorra, será necessário a interposição de recurso próprio ou propositura de ação rescisória. Portanto, no caso em tela, poder-se-ia falar em ação rescisória, entretanto, desde que manejada pela parte, pois como visto a reforma ou rescisão não se dará de forma automática. Outrossim, ainda deverá ser observado o prazo decadencial, nos termos do art. 535, § 8º do CPC/15. Todavia, resguardam-se desse entendimento, no que tange a ação rescisória, o certame relacionado à execução de efeitos futuros da sentença Módulo Controle da Incidência Tributária prolatada em caso concreto a respeito das relações jurídicas de trato continuado. Dessa forma, entende-se que exaurido o prazo de 2 anos para a ação rescisória, a sentença se torna insuscetível de rescisão, salvo no caso do art. 505, I do CPC/15. O anexo I do presente trabalho expõe o entendimento de que eficácia normativa não se confunde com eficácia executiva da decisão, ou seja, a primeira significa que a sentença do STF que afirma a (in)constitucionalidade de preceito normativo gera, no plano do ordenamento jurídico, a consequência de manter ou retirar a referida norma do sistema. Já a segunda, significa dizer que da sentença surge também o efeito vinculante, consistente em atribuir ao julgado força impositiva em relação a supervenientes atos administrativos ou judiciais, porém, que para viabilizar-se, detém de instrumento próprio. Resumindo, vale dizer que a decisão do STF declarando a (in)constitucionalidade da norma não insurge a automática reforma ou rescisão das sentenças anteriores que tenham adotado posicionamento diferente. 8. Considerando os mecanismos de controle de constitucionalidade existentes é possível admitir que atualmente consagram-se duas formas (meios) de provocação do Supremo Tribunal Federal para que aquele órgão exerça o controle de constitucionalidade (concentrado e difuso), mas que a decisão por ele proferida é dotada dos mesmos efeitos independentemente do meio de sua provocação (erga omnes)? Fato é que o STF poderá exercer o controle de constitucionalidade tanto pelo meio concentrado como pelo abstrato. Todavia, entende-se que ambos os controles citados nem sempre irá gerar os mesmos efeitos. Isso porque, no controle de constitucionalidade concentrado o efeito será erga omnes, ao passo que no controle difuso o efeito será inter partes. Ou seja, no controle concentrado a decisão vinculará a todos, enquanto no controle difuso a decisão será vinculada às partes da lide. Módulo Controle da Incidência Tributária Todavia, poderá haver casos em que o controle exercido de forma difusa pelo STF tenha efeito erga omnes, qual seja nos casos em que o processo é julgado em sede de repercussão geral. Nesse sentido não é possível concluir que necessariamente a decisão proferida pelo STF nos controles concentrado e difuso terá os mesmos efeitos.
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