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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/267451497 Carne mecanicamente separada de pescado (CMS) e Surimi Chapter · January 2011 CITATIONS 12 READS 11,048 2 authors: Some of the authors of this publication are also working on these related projects: Use of saline microalgae as a source of carotenoids. View project Seafood freshness evaluation using quality index method (QIM) View project Cristiane Neiva Instituto de Pesca 49 PUBLICATIONS 147 CITATIONS SEE PROFILE Alex Augusto Gonçalves Universidade Federal Rural do Semi-Árido - UFERSA 214 PUBLICATIONS 1,451 CITATIONS SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Cristiane Neiva on 15 December 2014. The user has requested enhancement of the downloaded file. https://www.researchgate.net/publication/267451497_Carne_mecanicamente_separada_de_pescado_CMS_e_Surimi?enrichId=rgreq-2cbc6c16aca9283584c32ee5229888ee-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2NzQ1MTQ5NztBUzoxNzQ3MzYxMTM5Mzg0MzJAMTQxODY3MTc0NDY5OA%3D%3D&el=1_x_2&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/publication/267451497_Carne_mecanicamente_separada_de_pescado_CMS_e_Surimi?enrichId=rgreq-2cbc6c16aca9283584c32ee5229888ee-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2NzQ1MTQ5NztBUzoxNzQ3MzYxMTM5Mzg0MzJAMTQxODY3MTc0NDY5OA%3D%3D&el=1_x_3&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Use-of-saline-microalgae-as-a-source-of-carotenoids?enrichId=rgreq-2cbc6c16aca9283584c32ee5229888ee-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2NzQ1MTQ5NztBUzoxNzQ3MzYxMTM5Mzg0MzJAMTQxODY3MTc0NDY5OA%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/project/Seafood-freshness-evaluation-using-quality-index-method-QIM?enrichId=rgreq-2cbc6c16aca9283584c32ee5229888ee-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2NzQ1MTQ5NztBUzoxNzQ3MzYxMTM5Mzg0MzJAMTQxODY3MTc0NDY5OA%3D%3D&el=1_x_9&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/?enrichId=rgreq-2cbc6c16aca9283584c32ee5229888ee-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2NzQ1MTQ5NztBUzoxNzQ3MzYxMTM5Mzg0MzJAMTQxODY3MTc0NDY5OA%3D%3D&el=1_x_1&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Cristiane-Neiva?enrichId=rgreq-2cbc6c16aca9283584c32ee5229888ee-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2NzQ1MTQ5NztBUzoxNzQ3MzYxMTM5Mzg0MzJAMTQxODY3MTc0NDY5OA%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Cristiane-Neiva?enrichId=rgreq-2cbc6c16aca9283584c32ee5229888ee-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2NzQ1MTQ5NztBUzoxNzQ3MzYxMTM5Mzg0MzJAMTQxODY3MTc0NDY5OA%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Instituto_de_Pesca?enrichId=rgreq-2cbc6c16aca9283584c32ee5229888ee-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2NzQ1MTQ5NztBUzoxNzQ3MzYxMTM5Mzg0MzJAMTQxODY3MTc0NDY5OA%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Cristiane-Neiva?enrichId=rgreq-2cbc6c16aca9283584c32ee5229888ee-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2NzQ1MTQ5NztBUzoxNzQ3MzYxMTM5Mzg0MzJAMTQxODY3MTc0NDY5OA%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Alex-Augusto-Goncalves?enrichId=rgreq-2cbc6c16aca9283584c32ee5229888ee-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2NzQ1MTQ5NztBUzoxNzQ3MzYxMTM5Mzg0MzJAMTQxODY3MTc0NDY5OA%3D%3D&el=1_x_4&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Alex-Augusto-Goncalves?enrichId=rgreq-2cbc6c16aca9283584c32ee5229888ee-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2NzQ1MTQ5NztBUzoxNzQ3MzYxMTM5Mzg0MzJAMTQxODY3MTc0NDY5OA%3D%3D&el=1_x_5&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/institution/Universidade-Federal-Rural-do-Semi-Arido-UFERSA?enrichId=rgreq-2cbc6c16aca9283584c32ee5229888ee-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2NzQ1MTQ5NztBUzoxNzQ3MzYxMTM5Mzg0MzJAMTQxODY3MTc0NDY5OA%3D%3D&el=1_x_6&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Alex-Augusto-Goncalves?enrichId=rgreq-2cbc6c16aca9283584c32ee5229888ee-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2NzQ1MTQ5NztBUzoxNzQ3MzYxMTM5Mzg0MzJAMTQxODY3MTc0NDY5OA%3D%3D&el=1_x_7&_esc=publicationCoverPdf https://www.researchgate.net/profile/Cristiane-Neiva?enrichId=rgreq-2cbc6c16aca9283584c32ee5229888ee-XXX&enrichSource=Y292ZXJQYWdlOzI2NzQ1MTQ5NztBUzoxNzQ3MzYxMTM5Mzg0MzJAMTQxODY3MTc0NDY5OA%3D%3D&el=1_x_10&_esc=publicationCoverPdf Seção II - Tecnologia do Pescado Capítulo 2.1 - Tecnologias Tradicionais Subcapítulo 2.1.8 Carne mecanicamente separada (CMS) de pescado e Surimi Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva Pesquisador Científico – Unidade Laboratorial de Referência em Tecnologia do Pescado – Instituto de Pesca – APTA – SAA/SP, Santos, SP. Alex Augusto Gonçalves Professor de Tecnologia do Pescado na Universidade federal Rural do Semi- Árido, UFERSA, Mossoró, RN Seção II - Tecnologia do Pescado Capítulo 2.1 - Tecnologias Tradicionais Subcapítulo 2.1.8 Carne mecanicamente separada (CMS) de pescado e Surimi Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva Alex Augusto Gonçalves 2.1.8.1 Carne Mecanicamente Separada (CMS) 2.1.8.2 Etapas do Processamento de CMS de pescado 2.1.8.3 Produtos a base de CMS de pescado 2.1.8.4 Qualidade da CMS e dos produtos derivados 2.1.8.5 SURIMI 2.1.8.6 Comparação entre surimi e CMS de pescado 2.1.8.7 Produção de surimi e de produtos derivados REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Seção II - Tecnologia do Pescado Capítulo 2.1 - Tecnologias Tradicionais Subcapítulo 2.1.8 Carne mecanicamente separada (CMS) de pescado e Surimi Cristiane Rodrigues Pinheiro Neiva Alex Augusto Gonçalves 2.1.8.1 Carne Mecanicamente Separada (CMS) A Carne Mecanicamente Separada - CMS de pescado, também conhecida por minced fish, polpa de pescado, cominutado ou cominuído de pescado, carne de pescado mecanicamente desossada, entre outros, é a polpa de peixe separada de pele e ossos, em máquina desossadora.[1,2,3] A terminologia CMS refere-se, tradicionalmente, à carne de aves e bovinos, mas vem sendo adotada também em textos científicos, equivalente a tradução do termo em inglês minced fish ou fish mince. O Codex Alimentarius define a CMS ou minced fish como um produto obtido a partir de uma única espécie, ou mistura de espécies de peixes com características sensoriais semelhantes, através de processo mecanizado da parte comestível, gerando partículas de músculo esquelético isentas de vísceras, escamas, ossos e pele. [4] A CMS é obtida pela passagem do pescado eviscerado e descabeçado ou de seus resíduos por uma máquina separadora de carne e ossos podendo ser lavado com água ou não, drenado, ajustado a umidade, acondicionado em bloco e congelado em congelador rápido. [5] A CMS de pescado representa a primeira etapa do isolamento ou fracionamento da proteína do pescado para uso como food ingredient, podendo ser codimentada, submetida à cocção, enformada, fatiada e congelada. Salsichas, fishburguers e corned fish são formulações preparadas a partir de do minced [6]. A CMS serve como matéria prima do surimi e não deve ser confundida com pescado triturado, trata-se de uma tecnologia que não se restringe apenas a trituração da carne [7, 8]. A tecnologia de CMS surge no Japão, no final da década de 1940, refletindo a necessidade da indústria de aproveitar o descarte de carne e a crescente demanda por produtos a base de pescado, viabilizando as espécies de pequeno porte subutilizadas e a fauna acompanhante encontrada em grande quantidade na pesca de baixo valor comercial [5,9]. Espécies de pescado que apresentam complicado processamento e pouca aceitabilidade, assim como as aparas resultantes da filetagem industrial do pescado e os espinhaços, normalmente apresentados como resíduos descartados poderiam ser aproveitados como alimento a partir desta tecnologia [8,10]. A CMS é uma tecnologia que permite maior recuperação de carne em comparação aos métodos de processamento convencionais, gerando matéria prima básica e versátil para o desenvolvimento de novos produtos. A utilização dessa tecnologia pode resgatar uma parcelado pescado normalmente destinada à produção de farinha para ração animal, agregando valor a uma parte depreciada das capturas [10]. Os produtos a base de CMS pertencem de certa forma à geração anterior ao fenômeno surimi, tendo um processo de produção relativamente simples e barato, razão pela qual é amplamente utilizado em algumas partes do mundo. A tecnologia para obter surimi requer altos investimentos em equipamentos, preços competitivos de mercado, além de exigir um elevado consumo de água e de tempo nos vários procedimentos de lavagem, com conseqüentemente perda em sólidos no efluente líquido [11]. Os problemas ambientais e a crise de recursos demonstram a premente necessidade de pesquisas que enfoquem o desenvolvimento e/ou introdução de novas tecnologias para a produção de alimentos, considerando-se a segurança alimentar, tanto em relação a um melhor aproveitamento das diferentes matérias-primas, como em relação à inocuidade do alimento [12]. 2.1.8.2 Etapas do Processamento de CMS de pescado A seguir estão descritos os princípios básicos para a elaboração de CMS a partir de peixes inteiros: A) Matéria prima para obtenção de CMS - A escolha de uma espécie de peixe para industrialização, visando à colocação de produtos com valor agregado no mercado, considera principalmente o fato de a espécie ser abundante e disponível a maior parte do ano. Atenção deve ser dada as espécies de peixe disponíveis, sobretudo em relação à constituição lipídica, pela influência na obtenção de CMS de pescado de boa qualidade. Dessa forma espécies de carne branca, e consequentemente de menor teor de lipídios, são geralmente consideradas melhores que os pescado gordo, provavelmente devido a coloração indesejável e a problemas em relação a remoção de lipídios de forma a conferir ao produto final aparência desejável quanto a cor clara da carne, além de odor e sabor suaves. [11,13] Um exemplo da priorização de peixes de carne magra e branca é a clássica utilização da espécie Alaska pollock (Theragra charcogramma) para a produção de surimi. Também o Alaska pollock, pescada, catfish e tilápia são bastante mencionados na literatura como fonte normalmente utilizada de CMS. Além destas outra espécie bastante utilizada é o salmão, principalmente as aparas provenientes da operação pós filetagem. È possível utilizar uma mistura de espécies de peixes para o processamento da CMS, mas recomenda-se a escolha de espécies com características similares quanto à textura e sabor, para se evitar que espécies que apresentem menor estabilidade possam comprometer todo um lote. Espécies como a sardinha (Sardinella brasiliensis), uma das mais abundantes em águas brasileiras, que possui carne escura e alto teor de lipídios, pode ser utilizada como matéria prima pra CMS, sendo sugerida a lavagem com água e a adição de antioxidantes, visando melhorar sua estabilidade durante congelamento [7]. A utilização de espécies com baixa expressão econômica vem sendo tema de pesquisa em certas regiões do Brasil. No entanto, na Amazônia, peixes de valor comercial, têm sido utilizados como matéria prima na produção de CMS, possibilitando novas opções tecnológicas e agregação de valor [14]. A matéria prima para obtenção de CMS pode ser os resíduos e aparas da filetagem industrial e espécies subutilizadas, de baixo valor comercial, o que se mostra interessante tanto pela questão econômica como ambiental. Alguns trabalhos avançaram na caracterização das várias espécies relacionadas à fauna acompanhante da pesca do camarão, demonstrando a viabilidade de utilização desta categoria denominada mistura composta por várias espécies de peixe com baixo valor comercial ou que apresentam tamanho menor que o valorizado no mercado [15,16]. Muito do desperdício da biomassa, relativo às espécies de peixe ainda hoje rejeitadas, como é o caso da fauna acompanhante de certas pescarias, poderia ser evitado, sendo oportuno buscar o desenvolvimento de produtos utilizando tecnologias que viabilizem o aproveitamento dessa carne, como é o caso da CMS. No entanto não é problema que deva ser tratado pela tecnologia do pescado, pois encontrar aproveitamento para essa biomassa descartada seria um estímulo ao incremento da captura de espécies muitas vezes de tamanho reduzido, o que se constituiria em um problema ambiental de maior vulto. A captura de fauna acompanhante precisa ser reduzida ou eliminada, seja por modificações nos aparelhos de captura, seja por medidas de administração pesqueira. B) Recepção do pescado na Planta de Processamento – deve ser conduzido com rapidez, evitando a exposição do pescado e contaminação, devendo o peixe preferencialmente encontrar-se em estado de pré-rigor; C) Descamação e lavagem – o peixe é colocado em cilindro descamador e em seguida é lavado com água, de preferência clorada (5ppm). Esta etapa eliminará o muco superficial, juntamente com as escamas e demais sujidades; D) Descabeçamento – esta operação pode se efetuar manualmente ou por meio de equipamento de serra fita, mediante corte por detrás das nadadeiras peitorais, evitando o corte na altura das guelras e conseqüente contaminação da carne; E) Evisceração – de forma manual, o pescado descabeçado é cortado longitudinalmente e em seguida com auxílio de faca é eliminado todas as vísceras, sem deixar resíduos, incluindo a remoção da membrana peritonial, que pode afetar a aparência da carne; F) Lavagem do peixe eviscerado – nesta etapa são removidos o sangue, escamas, resíduos pequenos de vísceras, por meio de lavagem com água fria (até 10ºC) pelo método manual de imersão em tanque ou lavador rotatório. Este último não tão eficiente quanto o manual. A água de lavagem deve ser fluente e com renovação contínua. O peixe eviscerado deve ser mantido resfriado com gelo (2 a 5ºC) até o momento da separação mecânica; G) Separação Mecânica - antes de passar o pescado pelo equipamento é importante a realização de uma rigorosa inspeção de amostras parasitadas. Independentes do tipo de equipamento, a operação de separação da carne consiste em pressionar o pescado eviscerado sobre perfurações, sendo a pele, o espinhaço, espinhas, tendões e demais membranas mantidas na parte externa do equipamento; H) Tipos de equipamentos utilizados - A obtenção da CMS é um processo mecanizado, no qual se separa a carne da maior parte da pele e espinhas, o procedimento consiste em descabeçar, eviscerar, limpar ainda fresco e separar o músculo comestível da pele e espinha do animal por meio de equipamentos denominados desossadores, separadores de carne e ossos ou “deboning machines”. Existem basicamente três tipos de separador para carne de pescado: H1) Tipo “stamp type”, foi desenvolvido para processamento de grandes quantidades de peixe, conforme Fig. 1, consiste de uma placa em formato de disco com pequenos furos da ordem de milímetros, onde o peixe é colocado e um raspador preso por uma haste, movendo-se em círculos faz com que a matéria prima seja pressionada para o outro lado, onde sairá já como CMS, sobrando na parte superior apenas pele, escamas e ossos [17]. Fig.1 – Equipamento do tipo “stamp type“ (JICA[17]) H2) tipo “belt-and-drum” ou tambor rotatório, sistema operacional mais usado mundialmente, consiste de uma cinta ou correia tensora de borracha giratória e de um tambor perfurado [8, 10]. Os peixes ou suas aparas passam entre o cinto de borracha e o tambor rotativo de aço inoxidável perfurado, conforme Fig. 2, essas perfurações variam geralmente de 3 a 5 mm de diâmetro, no entanto existem tambores com perfurações menores ou maiores que por sua vez produzem polpas com texturas diferentes. [1] A pele, ossos e espinhas são retidos na parte externa do cilindro e são removidos continuamente por meio de um raspador.Fig. 2 – Equipamento do tipo “belt-and-drum” ou tambor rotatório [18]. H3) tipo “rosca-sem-fim”, conforme Fig. 3, utiliza uma rosca que encaminha o material a ser despolpado contra um cilindro perfurado com orifícios de aproximadamente 1mm [19]. A área perfurada é composta por uma série de anéis contendo reentrâncias que podem ser ajustadas, aumentando ou diminuindo os orifícios. A CMS oriunda deste tipo de equipamento apresenta uma consistência mais pastosa e é necessário o controle da temperatura da CMS, que tende a elevar-se no interior do cilindro, devido à trituração e acumulo de ossos. Fig.3 - Esquema simplificado do separador tipo “rosca-sem-fim” [10]. O melhor aproveitamento do equipamento tipo “belt-and-drum”, se dá através do tamanho das perfurações e também do nível de pressão da cinta de borracha sobre o peixe, que consegue retirar a carne aderida à pele por meio de dilaceração e compressão. Quando o peixe é grande, a coluna vertebral também deve ser retirada, pois podem danificar o cinto de borracha do equipamento, já os espinhaços e as aparas podem ser colocados diretamente no maquinário. [1,2,9] No caso do tipo “rosca-sem-fim“ o grau de rendimento é obtido mediante o grau de fragmentação da CMS e o montante dos ossos, pedaços de pele e escamas, após a passagem pela desossadora a polpa do pescado sai em forma de emulsão e o restante triturado, desta forma é muito comum a re- passagem do material residual que já passou pelo equipamento separador, por mais de uma vez, de forma a se buscar um melhor rendimento. [1] O Regulamento da Comunidade Européia[20] considera que a CMS produzida com técnicas que não alteram a estrutura dos ossos utilizados no processo, deve ser tratada diferente da CMS com técnicas que alteram a estrutura dos ossos. Esta condição está ligada, em particular, ao teor de cálcio da CMS, que deve ser especificado na legislação. Ademais a CMS, destinada ao consumo, somente pode ser autorizada em preparados a base de carne se submetida primeiro a tratamento térmico. De forma genérica o rendimento após a obtenção da CMS de pescado varia entre 52 e 72%, em relação ao peixe decapitado e eviscerado [8], não especificando o tipo de equipamento, ou espécie utilizada no processo. A tecnologia de CMS possui maior viabilidade econômica, quando comparada com a filetagem, por apresentar recuperação adicional de carne entre 10 a 20%. É preciso levar em consideração, que a quantidade de recuperação da carne depende da espécie e de seu tamanho, tipo de equipamento utilizado, entre outros fatores [18]. I) Recepção da CMS - a CMS cai por gravidade em um tanque receptor. O resíduo do processo, como espinhaço e pele, é repassado para uma canaleta ou caixa plástica e é transportado para a área de tratamento de resíduos sólidos; J) Lavagem da CMS – A CMS pode ser bombeada, por meio de bomba de vácuo, para um tanque lavador, no qual água fria (5-8ºC) em uma proporção de 3:1 de água e CMS. A agitação pode ocorrer para otimizar a retirada de resíduos e sangue da CMS, sendo em seguida deixada repousar até que a carne sedimente no fundo to tanque e de imediato a água superior pode ser removida e conduzida para área de tratamento de efluentes líquidos. A etapa de lavagem pode ser repetida até 3 vezes, até a obtenção de uma carne mais clara ou branca, sendo na última lavagem adicionada 0,2 a 0,3% de sal, a fim de facilitar a remoção posterior da água; A lavagem da CMS pela imersão em água gelada pode trazer melhorias ao produto, pois este procedimento remove muitos dos compostos de baixo peso molecular e lipídios, que podem prejudicar a aceitabilidade, evitando problemas de sabor e cor, devidos ao início da decomposição causada pela ação de enzimas, de microrganismos e da oxidação lipídica[21]. Visando minimizar esses e outros problemas, vários métodos usados para promover a estabilidade de surimi têm sido aplicados à tecnologia de CMS, sendo a etapa de lavagem um deles. No entanto, a literatura científica tem considerado que na obtenção da CMS não caberia necessariamente a etapa de lavagem da carne recém desossada [5,11,30]. A etapa de lavagem com água remove as proteínas hidrossolúveis ou sarcoplasmáticas, lipídios e outros materiais indesejáveis, como sangue e pigmentos, resultando em um concentrado de proteínas miofibrilares mesmo para a CMS. Desta forma o processo de lavagem é uma maneira efetiva de remover o sangue para deixar a CMS mais branca, mas remove também uma grande quantidade de aroma que é característico de cada espécie e é uma parte essencial do sabor que é único do peixe, no entanto uma grande parcela dos consumidores opina por produtos que apresentem sabor e odor mais suaves de peixe. Ademais a etapa de lavagem melhora a estabilidade dos produtos a base de CMS, minimizando as alterações de cor e sabor que ocorrem naturalmente durante a estocagem sob congelamento [5, 22, 23, 24, 25]. A relação água:CMS, o tempo de contato entre ambos e o número de ciclos de lavagem, a serem usados, dependerão do tipo e preparo da matéria prima e do nível de remoção necessário apara atender aos requisitos da qualidade do produto final. Em geral, recomenda-se o normalmente utilizado para o surimi, ou seja, uma relação de 3:1 ou 4:1 e até três ciclos de lavagem, de no máximo 10 minutos cada, sendo a temperatura da água, usualmente controlada entre 5 e 10°C para evitar a desnaturação protéica [11]. Após o processo de lavagem o excesso de água é retirado por meio de prensagem ou centrifugação, até que o produto tenha teor de umidade em torno de 80-84%. A umidade após o processo de desidratação e a qualidade do produto final dependem de alguns fatores associados à características da água utilizada na lavagem, como: temperatura, pH e força iônica, além da relação CMS:água [19]. A posterior remoção do excesso de água pode ser realizada por meio de prensas manuais ou hidráulicas ou mesmo por centrífugas. Sendo sugerida a utilização de solução salina na última lavagem, proporcionando uma melhor remoção de água do produto. K) Deságue da CMS – após a última lavagem, a água superior é retirada e em seguida a CMS com a água restante é transferida para uma bolsa ou saco de nylon ou ráfia, ou para uma centrífuga. No caso da retirada de água por meio da bolsa de nylon, esta é colocada em uma prensa manual ou hidráulica com a base inclinada para melhorar o escorrimento; L) Homogeneização com aditivos – nesta etapa pode ser adicionado: antioxidantes (BHT, BHA, entre outros) e estabilizantes (polifosfatos) no misturador de pás ou um cutter, este último equipamento atua refinando a CMS; M) Congelamento – deve ocorrer em equipamentos de congelamento rápido, no caso do congelador de placas pode ser colocada em formas ou bandejas que formarão blocos de até 20 kg. Antes do congelamento filmes plásticos de polietileno podem proteger contra a queimadura do frio e evitar o ressecamento da superfície do bloco. Para se ter uma idéia, o tempo de congelamento de blocos de 60 mm de espessura, em um congelador de placas, é de aproximadamente 3 horas a uma temperatura de -35ºC, até se atingir uma temperatura de -20ºC no centro do bloco; N) Embalagem - a embalagem ideal para estocagem sob congelamento seria a embalagem á vácuo, mas normalmente tais blocos são embalados com filmes plásticos e colocados dentro de caixas cartonadas; O) Armazenamento – a temperatura de estocagem pode variar de -30 ºC ou -20ºC durante 3 a 6 meses, sem apresentar perda de qualidade para CMS elaborada com espécies magras; P) Descongelamento - a CMS de pescado requer descongelamento adequado para sua utilização na preparação de produtos, devendo esta ser programada e controlada, a fim de evitar-se aumento repentino de temperatura no produto. O descongelamentopode ser conduzido de forma rápida ou lenta. Na forma rápida, o bloco é cortado em lâminas por meio de um cortador mecânico, sendo estes cortes finos colocados em um misturador para o descongelamento ser agilizado. No descongelamento lento, os blocos são colocados em câmara de espera a temperatura de 5-10ºC por até 24 horas e em seguida são cortados e colocados em misturador para terminar o descongelamento. 2.1.8.3 Produtos a base de CMS de pescado Tal como o surimi, a produção de CMS é ainda hoje incipiente no Brasil, restrita a algumas localidades e de distribuição limitada. Tanto a CMS como o surimi são produtos que despontam como matéria prima para a produção de inúmeros alimentos análogos de pescado e com excelente qualidade nutricional, embora estudos complementares e orientação aos fabricantes sejam necessários para o estabelecimento de um padrão de identidade e qualidade do surimi produzido no Brasil. Dos vários produtos industrializados a partir da CMS de pescado, podemos citar o fish burguer, as tirinhas empanadas, os nuggets, embutidos como salsicha e lingüiça e recheios para massas (maiores detalhes serão abordados no capítulo “Formatados e reestruturados”). Mas é importante exaltar a versatilidade da CMS enquanto ingrediente de preparações domésticas como uma carne moída, exemplo de receitas: quibe, almôndegas, sopa, recheio de tortas e bolinhos, refogado com legumes, entre várias outras receitas. A CMS pode ser utilizada em uma ampla gama de produtos, que visam atendimento inclusive do consumidor institucional, como escolas, creches, asilos, restaurantes, hospitais, penitenciarias, entre outros. Esta versatilidade deve-se principalmente às suas características de produto triturado, sabor suave e que não apresenta problemas com relação à presença de espinhas. O atendimento ao mercado institucional traduz-se em oportunidade para estimular o desenvolvimento local, a partir do aproveitamento e conseqüente estímulo à produção dos recursos das várias regiões, buscando integrar ao processo a população e a economia locais. Além disso, o mercado institucional atendido regionalmente passa a ser um instrumento educativo e ecológico, valorizando a cultura regional ao incluir no cardápio elementos da diversidade alimentar regional. 2.1.8.4 Qualidade da CMS e dos produtos derivados A deterioração da CMS é mais rápida do que de filé obtidos da mesma matéria prima, principalmente devido à destruição de estrutura do músculo durante o processo de separação mecânica, além do contato da CMS com sangue, fragmentos de ossos e da dispersão da flora bacteriana presente na superfície do peixe.[10] Portanto o cuidado com o controle da temperatura durante o processamento, transporte e estocagem dos produtos à base de CMS é extremamente necessário para o controle da proliferação microbiana e a conseqüente extensão da vida útil. A utilização de pescado fresco e recém capturado é estritamente recomendada devido a menor presença de resíduos de sangue e vísceras nos tecidos, diminuindo assim a intensidade da autólise das proteínas do músculo, conferindo menos cor e sabores estranhos a CMS. A sazonalidade também é um fator bastante importante, sobretudo em relação ao conteúdo de gordura, principalmente da fração insaturada que pode propiciar produtos finais rançosos. [9,11] Resultados de estudos que analisaram a condição microbiológica da CMS de várias espécies, relataram que a mesma é diretamente relacionada com a qualidade da matéria prima, e condições de higiênica durante o processamento. Sendo o mais adequado a sua estocagem sob condições estritas de congelamento. Durante a estocagem sob congelamento alguns problemas são mencionados relativos à estabilidade da CMS: perda de qualidade pela oxidação lipídica ou rancidez e pela desnaturação protéica, levando a redução da propriedade de ligação com a água em processamentos subseqüentes, cujos produtos finais apresentam-se ressequidos, com perda de suculência e textura.[11] Os peixes magros e com músculo claro, como algumas espécies da família Sciaenidae (pescada) de carne branca, são mais indicados para a produção de CMS e surimi, tendo em vista a maior tendência à oxidação lipídica apresentada por peixes gordos, como a sardinha e a cavalinha [13,21]. Os peixes pelágicos, como sardinha, cavalinha e anchoveta, em geral apresentam maior concentração de gordura abaixo da pele e na carne vermelha, o alto teor de lipídios faz com que o produto sofra oxidação lipídica inclusive durante o congelamento. [8] Trabalhos com CMS de tilápias (Oreochromis niloticus e Oreochromis spp.) de diferentes de classes de tamanho e peso, obtiveram níveis bastante positivos de aproveitamento cárneo, tanto na carne lavada como na não lavada, alcançando a estabilidade química e microbiologicamente, sob congelamento por 180 dias. [19,26] Mediante uma separação mecânica a polpa do pescado, apresenta riscos de contaminação, sendo eles de origem microbiológica, por patógenos e biotoxinas, além de contaminações físicas por metais, espinhos, adesões na cinta de borracha do separador, entre outros.[2] Portanto é de suma importância o controle estrito do ambiente de processamento, de preferência climatizado e que possua separação física das demais áreas de processamento do pescado. Vários autores falam sobre os pontos mais importantes que devem ser levados em consideração para uma boa elaboração de CMS: a) remoção mecânica das porções de carne escura em algumas espécies; b) minimização da inclusão de sangue e vísceras no produto final pela eficiência da etapa de lavagem prévia do peixe eviscerado e descabeçado e posteriormente pela lavagem da própria CMS; c) buscar a estabilidade da CMS, por meio da adição de crioprotetores e aditivos antioxidantes, desta forma alterações na cor, textura e sabor são minimizadas durante a estocagem sob congelamento.[5,11,23,24] No pescado, a maioria dos lipídios, triglicerídeos e fosfolípides contém ácidos graxos altamente insaturados os quais são muito suscetíveis à oxidação ou usualmente à rancidez, formando compostos que apresentam flavors característicos. A estocagem sob congelamento não interrompe completamente todas as possíveis alterações na qualidade, sendo que reações que induzem às alterações oxidativas continuam a ocorrer mesmo em baixas temperaturas [24,27]. O nível de oxidação pode ser inibido ou prevenido pelo controle da disponibilidade de oxigênio por meios da utilização de embalagens á vácuo com menor permeabilidade ao oxigênio, apresentam melhor aceitação e durante a estocagem sob congelamento, a oxidação lipídica, transcorre em velocidade menor [28]. Alguns autores apontam dificuldades na introdução das substâncias antioxidantes no peixe inteiro, sendo seu uso e eficácia mínimos. Já, em CMS ou filés, há evidências que, individualmente ou em forma de misturas, os vários tipos de inibidores podem ser efetivos, reduzindo a oxidação lipídica [28, 29]. Uma grande quantidade de antioxidantes sintéticos que tem sido aprovados para uso alimentar, do galato de n-propil, o tercio butil hidroquinona (TBHQ), butylated hydroxyanisole ((BHA) e butylated hydroxytoluene (BHT) e uma mistura de tocoferóis, usados em conjunto com o EDTA e o ascorbato de sódio, melhoraram significativamente a qualidade inicial do CMS lavado. 2.1.8.5 SURIMI Surimi é um termo japonês que significa músculo de pescado picado (triturado), cujo processo tecnológico envolve a eliminação de espinhas, tecido conjuntivo e tudo o que pode ser considerado não funcional, para a obtenção de uma massa de actomiosina com conteúdo aquoso similar ao original do músculo de pescado.[34,35] Em outras palavras, trata-se de um extrato de proteínas miofibrilares do pescado que, por isso, tem elevada capacidade geleificante e emulsificante.[32]Park & Morrissey[38] definem surimi como sendo proteína miofibrilar estabilizada obtida de filés de peixes desossados mecanicamente, que é lavada e misturada com crioprotetores. O surimi pode ser definido como músculo de pescado moído previamente, desossado (mecanicamente separado), lavados várias vezes com água fria (5-10ºC) para remoção de todas as proteínas hidrossolúveis e outros componentes indesejáveis, seguido pela mistura de crioprotetores para evitar a deterioração durante o período de armazenamento sob congelamento.[32,34] O surimi não é um produto final, mas sim uma matéria prima, que por suas propriedades funcionais, é válida para criar e imitar texturas, e que pode servir de base para a elaboração de uma ampla gama de produtos. [32,38] O surimi é preparado a partir de espécies de pescado pouco valorizadas e de difícil comercialização, porém, pode ser elaborado a fim de melhorar o aproveitamento das capturas sazonais, e consequentemente diversificar o emprego do pescado fresco. [32,38] De acordo com a Fig. 4, o processo inicia-se com a remoção da cabeça e vísceras, e às vezes a espinha, é lavada e os filés são então separados dos espinhos em separadores de carne. O processo de lavagem requer 5-20 vezes o volume de água que o volume de pescado. Quando necessário, ajusta-se o pH entre 6,0 e 7,0 com solução de bicarbonato de sódio (1%) ou ácido clorídrico (1%). A última lavagem remove não somente as proteínas hidrossolúveis, mas também outras substâncias não ligadas e enzimas (proteases), e então é concentrada a actomiosina. O excesso de água é removido do tecido por pressão (prensagem mecânica) e o tecido é pressionado para remoção de pele preta, espinhas e escamas. Os crioprotetores são então adicionados: 4% sacarose, 4% sorbitol e 0,2% de polifosfatos (trifosfato ou polifosfato apresentam o mesmo efeito crioprotetor). Estes crioprotetores são utilizados para prevenir a desnaturação da actomiosina durante o armazenamento congelado. [32,34,38] Fig. 4 – Fluxograma do processamento de CMS e de Surimi [7]. A qualidade do produto final depende, em grande parte, do grau de frescor do pecado utilizado. O surimi com maior capacidade funcional é obtido de barcos fábrica que processam o pescado fresco. O pescado não deve ser congelado em nenhum caso, e o mesmo deverá ser mantido em gelo ou água/gelo a fim de garantir as propriedades funcionais da proteína. [32] As etapas de produção de surimi estão descritas a seguir, segundo vários autores. [32,34,37,38] 1) RECEPÇÃO DA MATÉRIA-PRIMA: na recepção, deve-se proceder o controle de qualidade da matéria-prima e, posteriormente, a pesagem. Deve-se retirar o pescado cuja qualidade esteja comprometida. É muito importante impedir que o pescado de má qualidade se misture com o de boa qualidade, uma vez que no processo de trituramento, o primeiro contaminará totalmente o segundo. 2) LAVAGEM: após a recepção da matéria-prima, deve-se lavar de maneira a retirar o limo superficial ou qualquer outra sujeira aderida a pela. A função principal é diminuir a concentração microbiana, para tanto, recomenda-se também que a água esteja dosada com cloro em teores recomendado per lei. 3) EVISCERAÇÃO E DESCABEÇAMENTO: o pescado é eviscerado e descabeçado, e devido a exigência do processo posterior, recomenda-se retirar também parte do esqueleto, permitindo que os filés fiquem aderidos pelo dorso. 4) LAVAGEM: esta Segunda lavagem tem por objetivo retirar todos os resíduos que ficarem após a evisceração, bem como manchas de sangue. A lavagem inadequada nesta etapa permitirá uma aceleração dos processos deteriorativos. 5) SEPARAÇÃO DA CARNE, PELE E ESPINHAS: A obtenção da carne triturada se realiza mecanicamente e seu funcionamento baseia-se na ação de uma correia de borracha em movimento que pressiona os filés contra um cilindro rotatório perfurado (orifícios de 3-4mm de diâmetro) que gira em sentido oposto. Assim, o peixe em contato com a correia faz com que a carne seja pressionada através dos orifícios do cilindro, passando para seu interior e ficando na superfície externa as espinhas e a pele, as quais são retiradas através de uma faca colocada na superfície externa do equipamento. O rendimento desta operação dependerá da pressão aplicada sobre a matéria prima, tipo de espécie e qualidade, além do tamanho das perfurações do cilindro. 6) LAVAGEM E PRENSAGEM: os ciclos de lavagem são realizados com dois objetivos: 1) separação mecânica de impurezas; 2) eliminação de substancias solúveis em água. A carne triturada é lavada sucessivamente com água fria (10ºC) a fim de remover sangue, pigmentos da carne, muco e gordura. Em geral, bastam três ciclos de lavagem, com gasto de água inferior a 25 vezes o peso do surimi processado. Na primeira lavagem é adicionado 0,4-0,5% de bicarbonato de sódio para aumentar o poder gel e dar uma aparência límpida à carne. O pH deve ser mantido aproximadamente entre 6,5-7,0 para dar maior capacidade de retenção de água. A lavagem também retira as proteínas sarcoplasmáticas, que prejudicam a textura, evitando posteriormente a sua gelatinização. A quantidade de água, com relação à carne triturada, pode ser de duas maneiras: uma relação 5:1 (agitação constante e a extração da água por centrifugação, prensagem intermitente ou contínua num sistema de parafuso sem fim) e outra de 10:1 (agitação deve ser só no início, deixando que a carne triturada decante de maneira a retirar posteriormente o líquido sobrenadante). Se no final da operação ainda restar uma quantidade de água superior a 80%, esta deve ser retirada por prensagem. Na última lavagem é adicionado solução salina fraca de NaCl 0,2M de forma a agilizar a extração de proteínas solúveis e água. Cada lavagem é seguida de um clareamento e da eliminação de água em um tambor giratório colocado em plano inclinado e dotados de filtros de nylon, de aço inoxidável ou de cerâmica. Os principais fatores que determinam a eficácia da água de lavagem são sua dureza (influi na capacidade de retenção de água do músculo e consequentemente, nas características dos géis elaborados com o surimi produzido), o pH da água (efeito na capacidade de retenção de água: 6,5≥pH≤7), e a temperatura (para reduzir a desnaturação protéica e o crescimento microbiano, deve-se manter a temperatura da água entre 3-10°C). 7) SEPARAÇÃO DE PEQUENAS ESPINHAS E PRENSAGEM: a carne triturada é lavada e submetida a uma operação se separação de pequenas espinhas, restos de pele e tecido conjuntivo, e outras partículas indesejáveis, através do equipamento conhecido como “meat strainer”, seguido de prensagem para eliminação do excesso de água absorvida pela massa da carne durante a lavagem (conteúdo final 75-80%). Atribui-se a qualidade máxima ao surimi que passa pelos orifícios da refinadora, enquanto a porção retida sofre um novo refino para recuperar a maior quantidade possível de carne. 8) HOMOGENEIZAÇÃO E ESTABILIZAÇÃO COM CRIOPROTETORES: a carne triturada finalmente moída é levada para um misturador, onde é realizada a estabilização da mesma. Sacarose e sorbitol, só ou em mistura (9% p/p) na carne com baixo teor de umidade (prensada) servem como os primeiros crioprotetores na produção de surimi. Além deles, uma mistura de polifosfatos (Tripolifosfato de sódio e pirofosfato tetrassódico na proporção 1:1, e a 0,2- 0,3%) é também utilizada como agentes sinérgicos ao efeito crioprotetor dos carboidratos adicionados. A adição desses crioprotetores é importante nessa fase para assegurar a máxima funcionalidade do surimi congelado, de maneira a reduzir a desnaturação das proteínas na fase posterior deestocagem. Na indústria do surimi, os crioprotetores mais utilizados são os açúcares, em quantidades que não ultrapassam 8% no produto final (sacarose ou mistura com 4% de sorbitol) que tem como principal função evitar alteração das proteínas pelo frio.[32,33,34] 9) MOLDEAMENTO: a carne triturada, lavada e estabilizada é colocada em formas de alumínio de aproximadamente 2kg de capacidade, coberta por polietileno, para o posterior congelamento. É importante as dimensões destas formas, principalmente quando os produtos a serem elaborados são obtidos a base de corte através de serra de fita circular. 10) CONGELAMENTO: os congeladores de placas horizontais (-30°C) são os equipamentos mais adequados para congelar a carne triturada em blocos de forma e tamanho. Os blocos de carne triturada devem ser retirados do congelador quando a temperatura no centro atingir –25ºC. a velocidade de congelamento deverá ser de aproximadamente 1-1,5h por cada polegada de espessura. O produto é estocado a –25ºC. 2.1.8.6 Comparação entre surimi e CMS de pescado De acordo com a Fig. 4, observa-se que o surimi é um produto mais refinado que a CMS, devido ao maior número de lavagens em comparação a CMS e adição das etapas de refinação e homogeneização com agentes crioprotetores, durante o processamento. Na obtenção da CMS, portanto, não há remoção efetiva de proteínas sarcoplasmáticas e lipídios, componentes que conduzem à instabilidade do produto, afetando a qualidade.[36] O surimi é um produto estabilizado de proteínas miofibrilares do músculo de peixe, sendo produzido com carne desossada mecanicamente, lavada repetidamente com água, e adicionada de agentes crioprotetores para promover uma maior vida útil e estabilidade durante o congelamento. Depois da lavagem e antes da adição dos aditivos, há a etapa de refino, que remove tecido conjuntivo e fragmentos de ossos e de pele. A água ainda restante é removida por prensagem ou centrifugação. O surimi torna-se então uma matéria prima intermediária utilizada na elaboração de produtos tradicionais como o kamaboko até os mais recentemente alimentos introduzidos no mercado, como os análogos ou imitação de caranguejo (kanikama), camarão e lagosta.[11,30] O surimi tem como característica capital a formação de gel elástico, funcionalidade esta obtida após a etapa de lavagens sucessivas e adição de sal, o que o leva a assumir quaisquer formas e texturas, além da ampla vida útil quando estocada sob congelamento [2,31]. Diferentemente, na obtenção de CMS, a etapa de lavagem tem como principal vantagem a melhoria da cor e do odor, auxiliando na sua estabilidade sob congelamento. Produtos a base de CMS (Fig. 5) são tecnologicamente mais antigos e menos complexos que os a base de surimi, que por sua vez ocupam uma fatia maior do mercado, mesmo com a CMS tendo uma obtenção mais simples e sendo mais viável economicamente, além de render por volta de 50% contra aproximadamente 25% do surimi.[8] Além disso, no processamento do surimi é necessário um maior investimento em equipamentos, como lavadores e centrífugas, refinadores dispostos de forma de linha contínua. Fig. 5 - Produtos elaborados com CMS de pescado. 2.1.8.7 Produção de surimi e de produtos derivados Os produtos fabricados atualmente podem ser enquadrados em três grandes grupos: produtos tradicionais japoneses, novos produtos, e análogos de pescado e embutidos.[38] A fabricação desses produtos difere não apenas na formulação, mas também na forma de realizar o aquecimento e no procedimento aplicado para conseguir a textura final. A Fig. 6 apresenta as operações comuns envolvidas no processo de elaboração dos derivados de surimi. Os blocos de surimi são descongelados, picados ou triturados em cutter, acrescidos de NaCl (2-3%), mantendo-se em temperatura inferior a 10°C, em no máximo 5-10 minutos (depende a consistência do produto final).[32] Fig. 6 – Operações implicadas no processo de obtenção de derivados de surimi.[32] As maiores dificuldades com que se depara o tecnólogo de alimentos para a fabricação de produtos análogos ou imitações consistem em obter sabor, textura e aparência similares aos do produto que se quer imitar. O sabor tem que ser o mais natural possível, nem muito suave, nem muito forte que seja associado à utilização de aromas e saborizantes artificiais. Além disso, precisam ser estáveis durante a comercialização e cozimento posterior, e a textura deve ser firme e ligeiramente elástica durante a mastigação.[32] A comercialização costuma ser feita em estado congelado, visto que são pré-cozidos e congelados individualmente, mas no mercado podem-se encontrar produtos refrigerados e enlatados. Dentre os produtos a base de surimi (kamaboko, chikuwa, satsuma-age, hanpen – Fig. 7), o mais produzido e o mais difundido é o kanikama ou crab stick na forma de palitos (stick), lascas (flake), pedaços (chunk) e misturados (ccombo ou salad Pack) (Fig. 8). Existem ainda os produtos extrusados e os moldados, que estão sendo cada vez mais incorporado no mercado mundial (Fig. 9).[38] SURIMI CONGELADO MISTURA (Cutter) DESCONGELAMENTO REDUÇÃO DO TAMANHO NaCl (2-3%) Água Amido Albumina de ovo Outros ingredientes MODELAGEM E GELEIFICAÇÃO Fig. 6 - Kamaboko, chikuwa, hanpen e satsuma-age elaborados com surimi. Fig. 7 - Kanikama ou crab stick nos diversos formatos, cores e sabores. Fig. 8 – Imitações de camarão, cauda de lagosta, pata de caranguejo utilizando o surimi como matéria prima. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] Keay, J.N. Minced Fish. Aberdeen: Torry Research Station. 6p. 1979. (Torry Adivisory note, 79). [2] CAC – Codex Alimentarius Comission – Code of pratice for fish and fishery products. CAC/RCP 52-2003. Disponível em: http://www.codexalimentarius.net/download/standards/10273/CXP_052e.p df. (13/12/2009). [3] Whittle, K.J. & Howgate, P. Glossary of Fish Technology Terms. Fisheries Industries Division of the Food and Agriculture Organization of the United Nations, 2000. [4] FAO/WHO. Food Agriculture Organization/World Health Organization. Draft revised standard for quick frozen blocks of fish fillets, minced fish flesh and mixtures of fillets and minced fish flesh (Appendix IV). 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