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TOXICOLOGIA BRENDA RODRIGUES 6° SEMESTRE Toxicocinética Conceito de Toxicocinética • Estudo da relação entre quantidade de um agente tóxico atuando sob o organismo e a sua concentração no plasma, relacionado aos processos de absorção, distribuição e eliminação do agente, em função do tempo o Também permite avaliar matematicamente os movimentos dos agentes tóxicos no organismo • O efeito tóxico é diretamente proporcional a concentração do agente no sítio de ação [tecido-alvo] o O conhecimento da concentração do toxicante no sítio de ação permite a avaliação do dano causado; para isso, mede-se a concentração no sangue por ser um tecido acessível e em constante comunicação com os tecidos-alvo Mecanismos de transporte através de membranas • As membranas possuem uma espessura variável de 7 – 9nm e são constituídas de uma dupla camada de fosfolipídios com grupos polares [fosfatidilcolina, fosfatidiletanolamina] no meio externo, e ácidos graxos enfileirados perpendicularmente para o meio interno; o Entre os espaços, há moléculas de proteína inseridas na bicamada, as quais são flexíveis e permitem a formação de espaços preenchidos por água, formando poros ▪ A hidratação do tecido é um fator determinante na absorção • Os xenobióticos atravessam a membrana através de: o Transporte passivo: processo que compreende a filtração; é dependente do gradiente de concentração e das características físico-químicas dos agentes – passagem de moléculas polares, hidrossolúveis, pelos poros aquosos da membrana ▪ Difusão lipídica: passagem de moléculas hidrofóbicas por difusão através da membrana; geralmente são maiores – • Os eletrólitos fracos [substâncias de natureza ácida ou alcalina] possuem na sua forma ionizada pouca afinidade aos lipídeos, impossibilitando sua passagem por esse mecanismo – uma maior ou menor ionização serão determinados pelo coeficiente de dissociação [pKa] segundo equação de Henderson-Hasselbach Á𝑐𝑖𝑑𝑜𝑠: 𝑝𝐾𝑎 − 𝑝𝐻 = 𝑙𝑜𝑔 [𝑚𝑜𝑙é𝑐𝑢𝑙𝑎𝑠] [í𝑜𝑛𝑠] 𝐵𝑎𝑠𝑒: 𝑝𝐻 − 𝑝𝐾𝑎 = 𝑙𝑜𝑔 [𝑚𝑜𝑙é𝑐𝑢𝑙𝑎𝑠] [í𝑜𝑛𝑠] As substâncias de natureza ácida atravessam a membrana mais facilmente em pH ácido, enquanto os de natureza alcalina em pH alcalino o Transporte ativo: processo caracterizado por consumo de energia, movimento de substâncias contra o gradiente de concentração e a existência de proteínas carreadoras seletivas ▪ Existem uma série de proteínas agrupadas em famílias de transportadores de acordo com suas estruturas químicas expressas na membrana, as quais conferem proteção ou toxicidade a depender da localização e do agente envolvido ▪ MDR [multidrug resistant proteins ou glicoproteína P]: determina resistência a quimioterápicos – a expressão destas variam entre os indivíduos, e geneticamente podem determinar toxicidade, ou ineficácia ao tratamento o Pinocitose: passagem de partículas líquidas através das células o Fagocitose: passagem de partículas sólidas através das células [geralmente por macrófagos] o Difusão facilitada: a substância é transportada pelo carreador sem gasto de energia através de membranas e favor do gradiente de concentração; é o processo de transporte da glicose Absorção • Passagem de substâncias do local de contato para a circulação sanguínea através das vias de exposição [dérmica, oral, respiratória, intramuscular, intravenosa, subcutânea] • A absorção depende da capacidade do agente de atravessar a membrana; assim, depende do tamanho da molécula, da lipossolubilidade e da presença de transportes ativos específicos Absorção dérmica • Camada externa: epiderme o Contém o estrato córneo – barreira limitante da absorção • Camada interna: derme; tecido gorduroso, conjuntivo, irrigado por capilares e vasos onde inserem-se os folículos pilosos e as glândulas sudoríparas • É impermeável à maioria dos íons e soluções aquosas, e permeável a toxicantes sólidos, gases e líquidos lipossolúveis • Algumas substâncias podem provocar efeitos deletérios, e as suas atividades podem se limitar ao tecido de contato ou estender-se, promovendo efeitos sistêmicos, resultantes da atuação dos toxicantes sobre as células do local de acesso após a sua absorção e distribuição pelo organismo o Substâncias de elevado coeficiente de partição óleo/água são absorvidas mais facilmente por difusão lipídica através do estrato córneo passando, em menor escala, para os folículos e canais de glândulas sudoríparas Absorção pelas vias respiratórias • Via de entrada importante de substâncias tóxicas, como partículas sólidas/líquidas suspensas no ar atmosférico, gases e substâncias voláteis, que passam pelas fossas nasais → faringe → laringe → brônquios → traqueia → alvéolos → circulação sanguínea/sistêmicas Absorção de material particulado pela via respiratória Tamanho das partículas Retenção Destino < 1 µm Alvéolos Absorção sistêmica Absorção pela linfa Fagocitose por macrófagos alveolares Remoção com o muco através de movimentos ciliares 2 – 5 µm Traqueobronquiolar Remoção com o muco através de movimentos ciliares Fagocitose > 5 µm Nasofaríngea Eliminação por assopro, espirro ou limpeza • A absorção de gases e substâncias voláteis depende da solubilidade no sangue e ocorre principalmente nos pulmões o Hidrossolubilidade dos vapores/gases = retenção na mucosa nasal • Gases → alvéolos → difusão p/sangue → dissolução → distribuição para os tecidos → equilíbrio dinâmico [moléculas no ar inspirado x moléculas dissolvidas no sangue] o ↓ solubilidade = velocidade de estabelecimento do ED • Coeficiente de partição sangue/ar: reação de solubilidade nos dois meios; é CTE para cada gás – no estado de equilíbrio, a passagem de gás dos alvéolos para o sangue é IGUAL a quantidade de sua liberação do sangue para os alvéolos o Coeficiente = ar → sangue; é facilitada pelo aumento da frequência respiratória ▪ Fator limitante: RESPIRAÇÃO o ↓ Coeficiente = saturação = ↓ difusão p/ sangue – é facilitada pela estimulação da circulação sanguínea e pelo aumento da perfusão pulmonar ▪ Fator limitante: CIRCULAÇÃO Absorção oral • Via do trato digestivo; a ingestão pode ser acidental [através da água/alimentos contaminados] ou voluntária [ato suicida, ingestão e drogas, indivíduos dependentes...] • É a via principal de administração de medicamentos, muitos destes responsáveis pelos efeitos adversos • A absorção pode ocorrer no estômago ou no intestino; a absorção em cada compartimento depende da variação do pH, irrigação, características anatômicas e propriedades físico- químicas do agente tóxico o A presença de microvilosidades altamente irrigadas proporciona uma área de superfície que favorece a absorção • A barreira nesse processo é formada pela mucosa do trato digestivo e pelos epitélios capilares *Ciclo entero-hepático: reabsorção de uma substância já excretada, voltando – novamente – à forma absorvível [particularidade dessa via] TOXICOLOGIA BRENDA RODRIGUES 6° SEMESTRE • Elevado coeficiente de partição óleo/água + lipossolubilidade = absorção [ao contrário de substâncias altamente polares, que são pouco absorvidas] o pKa → ionização em meio básico/alcalino • As células do sistema gastrintestinal expressam carreadores responsáveis pela absorção de alguns agentes químicos, como os metais essenciais [ex: ferro] o Alguns metais interferem entre si no mecanismo de sua absorção; ex: o cádmio reduz a absorção do zinco e do cobre • A via oral é dependente da composição alimentar já que, na presença de alimentos, pode haver alteração do tempo de esvaziamento gástrico e da motilidade gastrintestinal, influenciando na velocidade e na quantidade de absorção dos xenobióticos o A ação da glicoproteína P pode reduzir a absorção de xenobióticos e fármacos, pois esta funciona como umabomba de efluxo dependente de ATP na transferência de substâncias e metabólitos endógenos para o meio externo Absorção por outras vias • Via parenteral [IM, IV, subcutânea]: utilizada na terapêutica e pelos dependentes de droga • Via intraperitoneal: permite uma rápida absorção de substâncias; utilizada, por exemplo, em testes biológicos de xenobióticos com animais Distribuição • É o processo de transporte dos xenobióticos pelo sangue e pela linfa para os tecidos o Partículas/moléculas → leito vascular → espaços extracelulares → fluído intersticial → membranas celulares → fluido intracelular • Depende do fluxo sanguíneo e linfático nos órgãos, além de sofrer interferência de fatores como ligação às proteínas plasmáticas, diferenças regionais de pH, coeficiente de partição óleo/água etc. • O equilíbrio da distribuição é atingido mais facilmente em tecidos de grande circulação [coração, cérebro, fígado...] • A intensidade e a duração do efeito tóxico dependem da concentração do agente nos sítios de ação – para alcançá-lo, a substância deve ser preferencialmente lipossolúvel e não estar ligada a proteínas plasmáticas • Inicialmente, os órgãos altamente irrigados recebem uma grande quantidade de xenobióticos, mas, posteriormente, os órgãos menos irrigados podem acumular uma maior quantidade do agente, desde que possuam maior afinidade ou poder de retenção do que os altamente irrigados – são denominados tecidos de depósito o Exemplo: chumbo; 2h após admin. → 50% da dose no fígado. 30 dias após admin → 90% ligado ao tecido ósseo, liberado à medida que a concentração plasmática diminui o Agentes lipofílicos [anestésicos, pesticidas...] acumulam-se no tecido adiposo e, em caso de mobilização de gordura rápida, aumentam a concentração e podem determinar uma toxicidade Volume de distribuição • Parâmetro toxicocinético que indica a extensão da distribuição de uma substância; indica o volume teórico dos compartimentos onde o xenobiótico estaria uniformemente distribuído • ↓ Vd = fração do xenobiótico no plasma [geralmente resultante de ligação às proteínas plasmáticas] • A toxicidade depende do Vd, mas nem sempre o local de maior distribuição é o órgão mais lesado o O acúmulo do xenobiótico no tecido de depósito pode conferir toxicidade Ligação de agentes tóxicos às proteínas • A porção do xenobiótico complexada com a proteína é temporariamente inativa e incapaz de atravessar as membranas • Qualquer fator que aumente o grau de ligação proteica afeta a distribuição, mantendo-os na circulação sistêmica sem se distribuir para outros compartimentos • A albumina é a proteína mais importante e abundante, e a que possui mais ‘’afinidade’’ a grande n° de substâncias o Os fármacos de caráter ácido [ex: fenobarbital, fenilbutazona...] ligam-se quase que exclusivamente à albumina, enquanto os de caráter básico ligam-se preferencialmente à alfa-1-glicoproteína ácida o Assim como a alfa-1-glicoproteína ácida, as lipoproteínas [complexos macromoleculares de elevado peso molecular] transportam lipídios insolúveis no plasma e substâncias de caráter básico [ex: anestésicos locais] o As beta-globulinas possuem função transportadora de esteroides androgênicos e estrogênicos; • As ligações ocorrem por meio de ligações fracas, como as ligações hidrofóbicas [forças dipolo-dipolo, van der Waals] • A competição entre dois xenobióticos frente a um sítio de ligação comum tendem a impedir mutuamente a fixação, aumentando as suas porções livres – este mecanismo pode aumentar o efeito terapêutico e tóxico ou tornar a terapia ineficaz • Os xenobióticos livres são transportados aos tecidos, onde podem se fixar aos componentes teciduais; o A concentração alcançada no tecido depende do fluxo sanguíneo e da afinidade dos xenobióticos aos componentes teciduais Barreiras biológicas • Presentes em cada membrana, são barreiras na passagem de substâncias dissolvidas no sangue para os tecidos; as principais são: o Barreira hematoencefálica: separam o compartimento sanguíneo e do SNC o Barreira placentária: separa o compartimento sanguíneo e do feto ▪ Formada por tecidos fetais e maternos provenientes do endométrio; parte fetal: formada pelo cório [constituído pelo trofoblasto [lâmina epitelial] que recobre o mesênquima [tec. conjuntivo vascularizado]] que se apresenta sob a forma de vilosidades coriônicas nas câmaras vilosas [espaço onde o sangue da mãe é conduzido pelas artérias espiraladas do endométrio] ▪ A placenta permite a passagem de nutrientes da mãe para o feto, a troca gasosa, a remoção de material excretado pelo feto e o controle hormonal do feto, além da capacidade de biotransformar substâncias devido aos sistemas enzimáticos o Ambas apresentam estruturas anatômicas e funcionais que permite uma capacidade seletiva maior de substâncias através de transportes ativos de absorção e efluxo Biotransformação • É toda alteração que ocorre na estrutura química da substância no organismo o A catalisação dos xenobióticos ocorre por enzimas inespecíficas, mas algumas substâncias sofrem degradação não enzimática, reagindo com outras substâncias do organismo • Essas reações ocorrem amplamente pelo organismo, mas o tecido de maior concentração é o hepático; o O fígado, ao receber o sangue que perfunde a área esplâncnica, entra em contato com os nutrientes e substâncias exógenas, absorvidos no intestino antes de serem distribuídos – esse mecanismo denomina-se efeito de primeira passagem, na qual a concentração do fármaco é reduzida e inativada pelo fígado antes de atingir a circulação sistêmica Reações de biotransformação Reações de fase I • São as reações de oxidação, redução e hidrólise, as quais conferem polaridade aos xenobióticos por expor/inserir grupamentos sulfidrila, hidroxila, amina ou carboxila, resultando em aumento na hidrofilicidade • Estes metabólitos podem conferir maior toxicidade do que o composto original devido ao caráter eletrofílico, nucleofilico ou radicalar que adquirem, processo denominado bioativação • Geralmente, essas reações tornam o composto mais reativo para subsequente inativação e excreção • A maioria das reações de fase I são catalisadas pelas enzimas microssômicas [fragmentos de retículo endoplasmático], denominadas sintetases Oxidação • As enzimas que compõe o sistema citocromo P450 [CYP], junto ao NADHPH citocromo P450 redutase e o citocromo b5 redutase constituem o sistema citocromo P450 [sistema oxidase de função mista], encontrando-se fixas aos fosfolipídios da membrana do retículo endoplasmático TOXICOLOGIA BRENDA RODRIGUES 6° SEMESTRE o Citocromo P450: é uma hemoproteína tida como a enzima terminal com afinidade aos substratos; existem múltiplas formas que variam entre si quanto a especificidade de ação e a estrutura de cadeias polipeptídicas ▪ As isoenzimas do CP450 são representadas pela sigla CYP, seguida de um algorismo [família], uma letra [subfamília] e outro algarismo [gene]; exemplo: CYP3A2 – é uma isoenzima 2 da família 3 e subfamília A o NADPH citocromo P450 redutase: enzima intermediária responsável pela transferência de elétrons provenientes do NADPH para o citocromo P450 o Citocromo b5: junto ao CP450 funciona como alternativa na transferência de elétrons da fonte ao citocromo P450 Mecanismo de oxidação e redução de substratos pelo citocromo P450 • O substrato complexa-se com a forma oxidada do citocromo P450 → recebe um elétron do NADPH via NADHPH citocromo P450 redutase → o elétron reduz o Fe1+ da fração heme do citocromo P450 para Fe2+ → ligação do complexo à molécula de O2 → captação de mais 1 elétron do NADH → transporte pelo citocromo b5 → ambos os elétrons são transferidos à molécula de O2 e se tornam átomos de O2 altamente reativos e instáveis → 1 dos átomos liga-se aosubstrato → substrato oxidado desmembra-se do complexo enzimático + produção de água pelo outro elétron → oxidação da enzima → reinicia o ciclo Redução • Ocorrem em condições de baixa concentração de O2; exemplos destas reações são a azoredução, nitro-redução e desalogenação redutiva • O citocromo P450 transfere o elétron diretamente ao substrato, reduzindo-o, em vez de utilizá-lo na ativação do O2 o Alguns xenobióticos com grupamentos aldeído, cetona, dissulfeto, sulfóxido, quinonas, N-óxidos, alquenos, azo e nitro e alguns metais sofrem redução in vivo; essas reações podem bioativar o composto, deixando-o mais tóxico que o original ou inativá-lo, facilitando sua excreção ▪ Exemplo: nitro-redução pelas enzimas da microflora-intestinal; compostos nitro-aromáticos reduzidos na flora intestinal → reabsorção na forma de nitro-álcool → fígado; re-metabolização → gera íons radicalares → ligação a grupamentos nucleofilico [proteínas, DNA hepático...] – PODE SER DETERMINANTE NA CARCINOGENICIDADE HEPÁTICA! Hidrólise • Quebra de uma molécula em moléculas menores na presença de água; ocorre em xenobióticos compostos por grupamentos éster, ácido carboxílico, amidas, tio-ésteres, ésteres de ácido fosfórico, e a catalisação é feita por carboxilesterases pseudocolinesterases e paroxonases o Essas enzimas são de ampla distribuição tecidual e plasmática Reações de fase II • São as reações de glicuronidação, sulfatação, acetilação, metilação, conjugação com a glutationa e com aminoácidos; essas reações compreendem duas etapas: I. Síntese do composto endógeno que será ligado ao xenobiótico II. Transferência do composto endógeno para o xenobiótico • São caracterizadas pela incorporação de cofatores endógenos às moléculas provenientes da fase I o Existem substâncias, como a morfina e a heroína, que sofrem conjugação diretamente com ácido glicurônico • A maioria das reações de fase II são catalisadas pelas enzimas citosólicas [enzimas solúveis], denominadas transferases Glicuronidação • Consiste na conjugação da molécula do xenobiótico com o ácido glicurônico na forma de ácido uridinodifosfato glicurônico [AUDPG], doador do grupo glicuronila; essa reação ocorre no retículo endoplasmático dos tecidos o Esta reação é catalisada pela glicuroniltransferase, formando glicuronatos [moléculas polares excretadas pelos rins e fígado] • Os substratos mais envolvidos são os álcoois aromáticos e alifáticos, ácidos carboxílicos, aminas primárias e secundárias e grupos sulfídricos livres, formando os glicuronil conjugados [O, N e S-glicuronatos], substratos da beta-glicuronidase [enzima catalisadora da degradação do complexo], encontrada na microfibra intestinal; assim, os conjugados excretados pela bile podem sofrer ação dessa enzima, liberando agliconas que podem ser reabsorvidos e contribuir para a recirculação entero-hepática o Os N-glicuronatos são mais resistentes à ação dessa enzima • Os glicuronatos são degradados também pela hidrólise na presença de ácidos e bases • *Nos RN’s, a glicuroniltransferase está quase ausente, razão pela qual os neonatos mostram dificuldade de metabolização da bilirrubina, apresentando alta incidência de intoxicação por hiperbilirrubinemia Sulfotransferase • Consiste na conjugação com o ácido sulfúrico, catalisada por sulfotransferases [enzimas encontradas no fígado, rins, intestino, pulmões e outros tecidos] o O doador do grupo sulfato é o 3-fosfoadenosina-5- fosfossulfato [PAPS], sintetizado a partir do ATP e sulfato inorgânico; os substratos irão apresentar hidroxilas [como os fenóis e álcoois alifáticos] e os produtos serão sulfatos orgânicos ionizados, excretados com a urina • No processo de desintoxicação, participam as sulfotransferases: o Arilsulfotransferase: conjuga fenóis, catecolaminas, hidroxiaminas orgânicas o Hidroxiesteróide sulfotransferase: conjuga hidroxiesteróides, álcoois primários e secundários o Estrona sulfotransferases: conjugam grupos fenólicos e anel aromático de esteroides o Transferases de sais biliares: catalisam a sulfatação de ácidos biliares conjugados e não conjugados Metilação • Reação responsável pelo metabolismo de vários compostos endógenos, catalisada por metiltransferases • Os substratos envolvidos nessa reação são aminas aromáticas e alifáticas, N-heterocíclicos, fenóis mono e poliídricos e compostos contendo grupo sulfídrico o O doador do grupo metila é a S-adenosil-metionina, sintetizada na presença de enzimas de fração solúvel do fígado o As enzimas envolvidas são a N-metiltransferase, O- metiltransferase e S-metiltransferase, conforme a transferência do grupo metila para o nitrogênio, oxigênio ou enxofre da molécula da substância Acetilação • A acetilação de aminas constitui uma via de biotransformação de arilaminas; • Os substratos envolvidos nessa reação são as aminas primárias aromáticas, hidrazinas, hidrazinas, sulfonamidas e algumas aminas alifáticas primárias o As enzimas atuantes são as N-acetiltransferases, localizadas no citosol, e o cofator é a acetil-CoA Conjugação com a glutationa • Consiste na conjugação com a glutationa [formada pela glicina, ácido glutâmico e cisteína], catalisada inicialmente pela glutationa S- transferase no citoplasma e no retículo endoplasmático do fígado, intestino, rins e glândulas adrenais o Essas enzimas catalisam a reação de sulfidril endógeno nucleófilo da glutationa com compostos contendo átomos de carbono eletrofilicos, sendo estes hidrofóbicos e não reagentes [enzimaticamente] com a glutationa, impedindo a sua inativação, prevenindo a reação com constituintes neutrofílicos teciduais [DNA, lipídeos, proteínas] ▪ Substâncias do tipo bromobenzeno e clorofórmio são biotransformadas pelo sistema do citocromo P450, gerando metabólitos altamente reativos que, se não forem conjugados com a glutationa, se acumulam e reagem com constituintes endógenos, causando toxicidade TOXICOLOGIA BRENDA RODRIGUES 6° SEMESTRE o Os produtos conjugados sofrem hidrólise, gerando derivados cisteínicos, principalmente nos rins, onde são acetilados, formando a N-acetilcisteína [ácido mercaptúrico] Reações extra-hepáticas • Os tecidos pulmonares, renal, intestinal, além de pele e mucosas, também participam do processo de biotransformação • O intestino contém microrganismos, principalmente bactérias, que transformam substratos em metabólitos menos hidrossolúveis e, sob condições anaeróbicas do intestino, promovem reações de redução • A presença da beta-glicuronidase no intestino também promove modificações estruturais de substratos excretados com a bile, levando à reabsorção de substâncias e ao ciclo entero-hepático Fatores que modificam a biotransformação • Fatores internos: relacionados ao próprio sistema biológico • Fatores externos: dependem das próprias substâncias, vias de exposição e do meio ambiente Fatores internos Espécie e raça • Determinam variações qualitativas e quantitativas, a depender da presença ou ausência de enzimas e da concentração de cada uma delas o Qualitativa [exemplo]: biotransformação do inseticida N-2- fluorenilacetamida [FAA], que sofre reação de N-hidroxilação, mas não em cobaias; assim, as espécies que realizam essa reação são mais susceptíveis ao desenvolvimento de tumores, uma vez que o composto hidroxilado gerado é mais tóxico que o inicial o Quantitativa [exemplo]: toxicidade do O-diisopropilbenziltiofosfato em ratos e camundongos; o valor de DL50 varia entre essas espécies, sendo o camundongo mais susceptível devido à menor capacidade de biotransformar o composto Fatores genéticos • A capacidade metabolizadora de agentes químicos varia entre os indivíduos conforme as suas condições fisiológicas ou de doenças associadas, sendo os fatores genéticos contribuintes com essas variaçõeso Exemplo: variação da concentração plasmática e da acetilação da isoniazida entre os indivíduos; alguns conseguem acetilar rapidamente e outros lentamente, formando 2 subpopulações [2 fenótipos distintos] Gênero • Influi na variação da intensidade de biotransformação entre o sexo masculino e feminino; o Exemplo: a capacidade do rato macho de metabolizar o hexobarbital é maior do que nas fêmeas, consequentemente, os machos exibem menor efeito farmacológico, devido ao teor do citocromo P450 ser até 40% maior do que nas fêmeas, além deles possuírem maior capacidade de biotransformar substâncias lipofílicas por meio de enzimas microssômicas, reduzindo a meia-vida biológica dessas substâncias em relação às fêmeas ▪ Com relação às substâncias cujos metabólitos são mais ativos do que a substância que a originou, os efeitos são mais acentuados nos machos; e em casos de substâncias ativas que geram metabólitos inativos, os efeitos serão mais acentuados nas fêmeas – explica a maior toxicidade hepática em machos o Ratas tratadas com testosterona adquirem maior capacidade de biotransformar substâncias; inversamente proporcional, a castração de machos reduz sua capacidade de biotransformação – a ação anabólica dos hormônios sexuais masculinos é tida como a responsável pela diferença entre os gêneros o Em humanos, a diferença na capacidade de biotransformar não é tão acentuada, porém, em mulheres que fazem uso de anticoncepcional, há uma influência deste na biotransformação Idade • Fetos e RN’s são desprovidos da capacidade bioquímica de biotransformar xenobióticos; assim, os RN’s são mais susceptíveis a ação tóxica o Certas proteínas no soro fetal parecem reprimir a formação de enzimas do citocromo P450 o Em ratos, aos 30 dias de vida, a atividade do CP450 atinge intensidade máxima e, em seguida, declina lentamente com a idade, chegando a 50% do máximo aos 600 dias [período de senilidade] • Em pessoas idosas, a maior toxicidade a xenobióticos pode ser explicada pela queda na intensidade de biotransformação, além da sua baixa capacidade de excreção renal Estado nutricional • A redução da atividade enzimática é devida à diminuição das proteínas, decorrentes da desnutrição • Alguns elementos como o ferro e o cobre participam da composição e manutenção da integridade so sistema oxidase de função mista; assim, dietas pobres aumentam a toxicidade de substâncias ativas, e reduzem a de substâncias que necessitam de uma biotransformação prévia para se tornarem ativas • O jejum de 24h reduz a concentração de glutationa hepática, havendo potencialização da hepatotoxicidade de compostos desintoxicados pela glutationa Estado patológico • Sob diversas condições de doenças, a biotransformação de xenobióticos pode ser alterada, em particular às doenças hepáticas, as quais acarretam reduções das atividades enzimáticas do fígado, acompanhadas de queda na taxa de biotransformação de agentes químicos o Comprometimentos cardiovasculares resultam na diminuição do fluxo sanguíneo hepático, modificando a biotransformação e a depuração de xenobióticos Fatores externos Indução enzimática • Substâncias do tipo hormônios esteroidais, inseticidas clorados, barbitúricos, hidrocarbonetos aromáticos policíclicos etc., estimulam a atividade enzimática do sistema oxidase de função mista, responsável pela maioria das reações oxidativas dos xenobióticos [CP450] o Esse mecanismo acelera a biotransformação de xenobióticos e do próprio sistema devido ao aumento da síntese proteica, resultando em tolerância metabólica/cinética • O fenobarbital e o 3,4-benzopireno representam as classes de indutores enzimáticos potentes; enquanto a do fenobarbital é demorada, a do 3,4-benzopireno é rápida, mas, em compensação, a duração de sua indução é mais longa do que a do fenobarbital o A indução por fenobarbital caracteriza um aumento do volume do fígado, proliferação do reticulo endoplasmático, da síntese proteica e do teor do CP450; a indução por 3,4- benzopireno é menos acentuada o Interação rifampicina [anti-inflamatório] VS varfarina [anticoagulante]: a rifampicina age como indutor e reduz a concentração plasmática da varfarina; assim, uma dose maior da varfarina é requerida devido à sua rápida metabolização, porém, quando se interrompe a ação da rifampicina [indutor], a velocidade de biotransformação do anticoagulante volta ao normal e a sua dose passa a ser tóxica, podendo provocar uma hemorragia o Em animais previamente tratados com indutores enzimáticos, os efeitos farmacológicos da zoxazolamina e do hexobarbital são significamente reduzidos, enquanto o seu metabolismo é aumentado • A estabilização da enzima contra a degradação também é outro mecanismo no aumento da biotransformação; o Aumento da concentração de CYP2E1 pelo etanol, acetona e pirazol; essa concentração resulta em implicações toxicológicas, já que é uma enzima responsável pela ativação de substâncias ambientais, metabólitos tóxicos e/ou carcinogênicos ▪ As enzimas de biotransformação de fase II não são facilmente induzidas, com exceção de GSH-S-transferases Inibição enzimática • Substâncias capazes de reduzir a biotransformação de xenobióticos, inibindo a expressão e a atividade das enzimas metabolizadoras o Envolve mecanismos múltiplos, como a síntese proteica até competição com substratos nos centros ativos comuns das enzimas, como as colinesterases e as enzimas do CYP450; a inibição destas causa acúmulo de seus substratos no organismo e, consequentemente, aumento da intensidade e duração de seus efeitos biológicos o Fármacos sob efeito de inibidores tendem a apresentar efeitos terapêuticos, assim como efeitos adversos mais acentuados o Substâncias que sofrem bioativação tendem a ter o seu efeito reduzido pelos inibidores ▪ Intoxicação por metanol; pode ser amenizada ao retardar a passagem para o formaldeído [metabólito tóxico] ▪ Inibição da aldeído-desidrogenase no tratamento do alcoolismo crônico; uso do dissulfiram na ingestão de bebidas alcóolicas provoca uma série de sintomas de intoxicação, desencadeados pelo acúmulo de aldeído; mal-estar + uso do álcool → o paciente abandona o consumo TOXICOLOGIA BRENDA RODRIGUES 6° SEMESTRE ▪ Inibição da monoaminoxidase pela tramilcipromina: promove acúmulo de neurotransmissores [ex: dopamina], promovendo efeitos no tratamento utilizado em neuropsiquiatria Excreção • A excreção dos xenobióticos pode ocorrer através da urina, bile, fezes [excreta substâncias não absorvidas no trato digestivo e produtos excretados pela bile], ar expirado/via pulmonar [excreta gases e vapores], leite, suor, lágrima ou saliva sob forma inalterada ou modificada quimicamente • As substâncias lipofílicas são facilmente absorvidas, porém, não são facilmente excretadas uma vez que sofrem reabsorção em função de sua facilidade de atravessar as membranas celulares; já as substâncias hidrofílicas, por terem uma absorção mais precária, são mais facilmente excretadas, e isso ocorre principalmente pela via renal Excreção renal • Os rins são importantes na depuração do sangue, excretando substâncias polares e hidrossolúveis • Os mecanismos envolvidos na formação da urina e na excreção são a filtração glomerular, a reabsorção tubular e a secreção tubular [passagem dos agentes tóxicos do sangue diretamente para a urina, nos túbulos proximais, através de transporte ativo] o Filtração glomerular → partículas hidrossolúveis excretadas na urina; partículas lipossolúveis sofrem reabsorção tubular [túbulo proximal] → circulação sistêmica ▪ Os xenobióticos ligados às proteínas não são filtrados devido ao seu tamanho complexo, permanecendo mais tempo no organismo; ▪ Substâncias na forma molecular são mais facilmente reabsorvidas pelo túbulo proximal; ▪ A administração de bicarbonato de sódiofavorece a elevação do pH, aumentando a ionização de substâncias ácidas, facilitando sua excreção ▪ Os ânions orgânicos [ácidos] e cátions orgânicos [bases], que tem como protótipos o p-aminoipurato e a N-metilnicotinamida são excretados por secreção tubular ▪ Competição entre duas substâncias de mesma natureza na secreção tubular; retardo na excreção e aumento do tempo de ação da penicilina devido à administração com a probenecida, um ácido que compete pelo mesmo sistema de secreção; esse mecanismo pode ser prejudicial caso ocorra entre substâncias tóxicas ▪ A competição entre duas substâncias no processo de reabsorção tubular pode interferir no tempo de circulação de agentes químicos, conferindo aumento/diminuição da eficácia terapêutica ou da toxicidade o Polimorfismos nos sistemas de transportes ativos no túbulo proximal, idade, insuficiência renal/circulatória e interações medicamentosas interferem na excreção renal Excreção pelo trato digestivo • Refere-se à excreção através das fezes da parte não absorvida dos agentes químicos pela via oral o São também encontrados produtos de biotransformação de substâncias procedentes do fígado via biliar, além da passagem de substâncias do sangue direto ao intestino por difusão passiva e ácidos/bases orgânicas após sofrem secreção ativa no intestino • A excreção biliar constitui um meio de prevenção a intoxicação por xenobióticos, principalmente após estes serem absorvidos alcançarem o fígado antes de cair na circulação [fígado; vesícula biliar → bile → duodeno → excreção com as fezes OU reabsorção [ciclo entero-hepático] • Conforme a relação entre as concentrações na bile vs no plasma, as substâncias são classificadas em: o Substâncias do tipo A: apresenta a relação de suas concentrações na bile e no plasma de aproximadamente 1, representadas pelo sódio, potássio, glicose, mercúrio, tálio, césio, cobalto etc. o Substâncias do tipo B: apresenta a relação > 1; inclui ácidos biliares, bilirrubina, sulfobromoftaleína, chumbo, arsênio, manganês etc. – São rapidamente excretados na bile, e a passagem destes do plasma para a bile é mediante transporte ativo o Substâncias do tipo C: apresenta relação < 1; inclui a inulina, albumina, zinco, ferro, ouro e cromo ▪ A excreção biliar de ácidos orgânicos [ex: sulfobromoftaleína, indocianina verde] são utilizados no teste de função hepática, que consiste na injeção destes corantes via IV na determinação do perfil plasmático; concentrações elevadas no plasma indicam depuração biliar reduzida em decorrência ao dano hepático, uma vez que estes são excretados pela bile ▪ Substâncias de baixo peso molecular são pouco excretados pela bile, enquanto substâncias livres ou de maior peso molecular são excretados em maiores quantidades ▪ Substâncias conjugadas com glutationa são excretados em grande quantidade na urina ▪ Substâncias conjugadas e excretadas pela bile, não reabsorvidos no intestino, podem ser hidrolisados sob ação da microflora intestinal, gerando substâncias lipossolúveis para serem reabsorvidas, alcançando o fígado → excreção pela bile o A reabsorção de agentes tóxicos é indesejada, visto que, através do ciclo entero-hepático, terão sua meia-vida aumentada o O fenobarbital favorece as reações de conjugação por indução enzimática, aumenta o fluxo biliar e contribui na excreção Excreção pulmonar • As substâncias gasosas e voláteis são excretadas pelos pulmões o O bafômetro, utilizado na determinação de concentração etanólica no plasma, é baseado no princípio de proporcionalidade entre a quantidade de etanol eliminada vs pressão de vapor • Solubilidade do gás no plasma = ↓ taxa de excreção pelos pulmões o O fator limitante de excreção das substâncias altamente solúveis no sangue é a respiração [ventilação], enquanto para as pouco solúveis é a circulação [perfusão] Excreção por outras vias • A excreção através do suor, saliva, lágrimas e leite, são dependentes de diferenças de pHs entre o plasma e as glândulas ou tecidos, do pKa das substâncias, da lipossolubilidade e da presença de transportes ativos • Excreção de agentes tóxicos pelo leite; o Materno → intoxicação da criança amamentada o De vaca → intoxicação das pessoas que ingerem leite e seus produtos • Substâncias lipossolúveis, como do tipo DDT e policloreto, são solúveis na gordura do leite, podendo ser excretados por simples difusão, além de substâncias básicas, devido ao fato do pH do leite ser inferior ao do sangue – o mesmo ocorre na saliva, considerado um material biológico importante na detecção de drogas de abuso, por ter uma coleta menos invasiva e apresentar menor probabilidade de adulteração Parâmetros biológicos indicadores da eliminação • Meia-vida [t½]: tempo requerido para que a concentração plasmática de um determinado agente seja reduzida a 50%, após sua completa absorção e distribuição • Depuração [ou clearance]: capacidade do organismo de eliminar uma substância do plasma o Os principais órgãos envolvidos são o fígado, que elimina a substância biotransformando-a em seus metabólitos e excretando-os via biliar, e os rins, que promovem a excreção e seus metabolitos junto a urina • Depuração total: é a soma das depurações individuais do agente químico por vários órgãos e tecidos do organismo • Depuração renal: quantidade de excreção dividida pela concentração média da substância no plasma o Depuração renal de creatinina: índice de função renal – a creatinina é uma substância endógena que sofre filtração glomerular completa, sujeita à mínima secreção e reabsorção o Fatores interferentes na DR: pH urinário, fluxo sanguíneo renal, fixação proteica da substância no plasma, idade do indivíduo, doença renal e cardiovascular
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