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LAURENCE L. BRUNTON BRUCE A. CHABNER ■ BJÖRN C. KNOLLMANN As Bases Farmacológicas da TERAPÊUTICA de 12ª EDIÇÃO Goodman Gilman & DVD COM BANCO DE IMAGENS Equipe de tradução Augusto Langeloh Beatriz Araújo do Rosário Carlos Henrique de Araújo Cosendey Denise Costa Rodrigues Maria Elisabete Costa Moreira Patricia Lydie Voeux Consultoria, supervisão e revisão técnica desta edição Almir Lourenço da Fonseca Diretor Científico do Dicionário de Especialidades Farmacêuticas (DEF) Diretor da Divisão de Saúde e Responsável Técnico da Policlínica José Paranhos Fontenelle, Secretaria Municipal de Saúde (RJ) B299 As bases farmacológicas da terapêutica de Goodman & Gilman [recurso eletrônico] / organizadores, Laurence L. Brunton, Bruce A. Chabner, Björn C. Knollmann ; [tradução: Augusto Langeloh ... et al. ; revisão técnica: Almir Lourenço da Fonseca]. – 12. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre : AMGH, 2012. Editado também como livro impresso em 2012. ISBN 978-85-8055-117-4 1. Farmacologia. 2. Terapêutica. I. Brunton, Laurence L. II. Chabner, Bruce A. III. Knollmann, Björn C. CDU 615 Catalogação na publicação: Fernanda B. Handke dos Santos – CRB 10/2107 962 SEÇÃO IV IN FLAM AÇÃO, IM U N OM ODU LAÇÃO E H EM ATOPOIESE FÁRMACOS ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDES Os AINEs são tradicionalmente agrupados por suas ca- racterísticas químicas. Após o desenvolvimento dos inibidores seletivos da COX-2, surgiu a classifi cação em AINEts, que inibem tanto COX-1 quanto COX-2, e AINEs seletivos para COX-2. Inicialmente, apenas agen- tes projetados especifi camente para a fi nalidade de inibi- ção seletiva de COX-2 — coloquialmente chamados de coxibes — foram atribuídos ao grupo de AINEs seletivos para COX-2. No entanto, alguns AINEs mais antigos (p. ex., diclofenaco, meloxicam, nimessulida) mostram um grau de seletividade para COX-2 semelhante ao do primeiro coxibe, celecoxibe. Assim, esses fármacos po- deriam ser mais bem classifi cados como AINEs seleti- vos para COX-2, embora este não seja, por enquanto, comum (Figura 34-1). Outras classifi cações de AINEs foram desenvolvidas com base na meia-vida, tais como aqueles com meias-vidas mais curtas (< 6 h) ou mais lon- gas (> 10 h) (Figura 34-1). A maioria dos AINEs é de inibidores ativos locais competitivos, reversíveis das enzimas COX. No entanto, o ácido acetilsalicílico acetila as isoenzimas e inibe-as de maneira irreversível; assim, o ácido acetilsalicílico frequentemente é distinguido dos AINEts. Da mesma maneira, o paracetamol, que é antipirético e analgésico, mas desprovido de atividade anti-infl amatória, também é convencionalmente segregado do grupo, apesar de com- partilhar muitas propriedades com AINEts relevantes para sua ação clínica in vivo. Química. Os AINEs são um grupo quimicamente heterogêneo de compostos que, no entanto, compartilham determinadas ações te- rapêuticas e efeitos adversos. A classe inclui os derivados do ácido salicílico (por exemplo, ácido acetilsalicílico, difl usinal), ácido pro- piônico (p. ex., naproxeno, ibuprofeno, fl urbiprofeno, cetoprofeno), ácido acético (p. ex., indometacina, etodolaco, diclofenaco, cetoro- laco), ácido fenólico (p. ex., piroxicam, fenilbutazona), ácido fenâ- mico (p. ex., ácido mefenâmico, ácido meclofenâmico), alcanonas (nabumetona) e compostos diaril-heterocíclicos (p. ex., celecoxibe, valdecoxibe, rofecoxibe, etoricoxibe) (Figura 34-1). A maioria dos compostos AINEts é de ácidos orgânicos com valores de pKa relativamente baixos (Figura 34-1). Mesmo o fár- maco precursor não ácido nabumetona é convertido em um derivado ativo do ácido acético in vivo. Assim como os ácidos orgânicos, os compostos em geral são bem absorvidos por via oral, altamente liga- dos às pro teí nas plasmáticas e excretados por fi ltração glomerular e Figura 34-1 Classifi cação dos AINEs por semelhança química (painel A), seletividade da isoforma da ciclo-oxigenase (COX) (painel B) e meia-vida plasmática (painel C). O quadro da seletividade de COX foi elaborado a partir de dados publicados em Warner e cols., 1999 e FitzGerald e Patrono, 2001. AINEts, fármacos anti-infl amatórios não esteroides tradicionais. Mais seletivo para COX-2AINEs seletivos para COX-2 Ácido acetilsalicílico Ácidos acéticos Salicilato de sódio Diflunisal Cetorolaco Indometacina Tolmetina Nabumetona Sulindaco Etodolaco Diclofenaco Ácidos fenilacéticosLumiracoxibe Flurbiprofeno Cetoprofeno Fenoprofeno Naproxeno Ibuprofeno Meclofenamato Celecoxibe Valdecoxibe Rofecoxibe Etoricoxibe Piroxicam Meloxicam Paracetamol Em preto: AINEts Em vermelho: inibidores da COX-2 Ácidos propiônicos Ácidos fenâmicos Diaril-heterocíclicos Sulfonas Sulfona- midas Ácidos enólicos Outros Ácido acetilsalicílico Cetorolaco Salicilato de sódio Diflunisal Indometacina Tolmetina Nabumetona Sulindaco Diclofenaco Etodolaco Fenoprofeno Lumiracoxibe Ibuprofeno Flurbiprofeno Cetoprofeno Naproxeno Meclofenamato Celecoxibe Valdecoxibe Rofecoxibe Etoricoxibe Piroxicam Meloxicam Paracetamol Mais seletivo para COX-1 Não seletivo Ácido acetilsalicílico Cetorolaco Salicilato de sódio Diflunisal Valdecoxibe Indometacina Tolmetina Nabumetona Etodolaco Fenoprofeno Lumiracoxibe Ibuprofeno Cetoprofeno Flurbiprofeno Naproxeno Celecoxibe Rofecoxibe Etoricoxibe Piroxicam Paracetamol Diclofenaco Meclofenamato Curta 1 hora 10 horas Longa 60 horas Sulindaco Meloxicam A Semelhança química (escala arbitrária) B Seletividade isoforma COX (escala log) C Meia-vida plasmática (escala log) Ácidos salicílicos CAPÍTU LO 34 AGEN TES AN TI-IN FLAM ATÓRIOS, AN TIPIRÉTICOS E AN ALGÉSICOS 963por secreção tubular. Eles também se acumulam em locais de infl a- mação, onde o pH é mais baixo, cofundindo potencialmente a rela- ção entre concentrações plasmáticas e duração do efeito do fármaco. A maioria dos AINEs seletivos para COX-2 é de compostos diaril- heterocíclicos com um grupo lateral relativamente volumoso, que se alinha com uma bolsa lateral grande no canal de ligação AA de COX-2, mas impede sua orientação ideal no canal de ligação menor de COX-1 (Figura 34-2) (Smith e cols., 2000). Tanto os AINEts quanto os AINEs seletivos para COX-2 geralmente são fármacos hidrofóbicos, uma característica que possibilita que eles acessem o canal de ligação hidrofóbico de aracdonato e resulta em caracterís- ticas farmacocinéticas partilhadas. Novamente, o ácido acetilsalicí- lico e o paracetamol são exceções dessa regra. Mecanismo de ação Inibição da ciclo-oxigenase. Os principais efeitos tera- pêuticos dos AINEs derivam da sua capacidade de inibir a produção de PG. A primeira enzima na via sintética das PG é COX, também conhecida como PG G/H sin- tase. Essa enzima converte o AA nos intermediários instáveis PGG2 e PGH2, além de promover a produção de prostanoides, TxA2 e de uma variedade de PG (ver Capítulo 33). Existem duas formas de COX, COX-1 e COX-2. A COX-1, expressa de maneira constitutiva na maioria das células, é a fonte dominante (mas não exclusiva) de pros- tanoides para funções de manutenção, como a citopro- teção epitelial gástrica e hemostasia. Em contrapartida, COX-2, induzida por citocinas, estresse de cisalhamento e promotores de tumor, é a fonte mais importante de for- mação de prostanoides na infl amação e talvez no câncer (ver Capítulo 33). No entanto, ambas as enzimas contri- buem para a geração de prostanoides autorreguladores e homeostáticos e ambos podem contribuir para a forma- ção de prostanoide nas síndromes de infl amação humana e dor (ver “Infl amação e Dor” no começo deste capítulo). De maneira importante, COX-1 é expresso como a iso- forma constitutiva dominante nas células epiteliais gás- tricas e é considerada a principal fonte de formação de PG citoprotetora. A inibição da COX-1 nesse local é tida como, em grande parte, a responsável pelos eventos gás- tricos adversos que complicam o tratamento com os AI- NEts, fornecendoassim a razão para o desenvolvimento de AINEs específi cos para a inibição da COX-2 (FitzGe- rald e Patrono, 2001). O ácido acetilsalicílico e os AINEs inibem as enzi- mas COX e a produção de PG; eles não inibem as vias da lipo-oxigenase (LOX) no metabolismo do AA e por isso não suprimem a formação de LT (ver Capítulo 33). Os glicocorticoides suprimem a expressão induzida de COX-2 e portanto a produção de prostaglandinas me- diada por COX-2. Eles também inibem a ação da PLA2, que libera AA a partir das membranas celulares. Tais efeitos contribuem para as ações anti-infl amatórias dos glicocorticoides (ver Capítulo 35). Em concentrações mais elevadas, os AINEs também são conhecidos por reduzir a produção de radicais superóxido, indu- zir apoptose, inibir a expressão de moléculas de adesão, diminuir a NO sintase, diminuir as citocinas pró-infl amatórias (p. ex., TNF-α, IL-1), modifi car atividade linfocítica e alterar as funções in vitro da membrana celular. No entanto, há opiniões diferentes sobre se qual- quer dessas ações pode contribuir para a atividade anti-infl amatória dos AINEs (Vane e Botting, 1998) em concentrações atingidas du- rante a dosagem clínica. A hipótese de que suas ações anti-infl a- matórias nos seres humanos derivam apenas de inibição de COX isoladamente não foi rejeitada com base em evidências atuais. Estudos observacionais sugerem que o paracetamol, um agente anti-infl amatório muito fraco na dose típica de 100 mg, está associado a incidência reduzida de efeitos adversos gastrintestinais se comparado com os AINEts. Nessa dose, o paracetamol inibe ambas as COX em aproximadamente 50%. A capacidade do para- cetamol de inibir a enzima é condicionada pelo tom de peróxido do Figura 34-2 Base estrutural para inibição seletiva de ciclo-oxigenase-2. Os centros ativos de COX-1 e COX-2 são mostrados cristalizados com o inibidor não seletivo fl urbiprofeno (COX-1) (Picot e cols., 1994) e o inibidor experimental de COX-2 SC-558 (Kurumbail e cols., 1996). O centro ativo de COX-2 é caracterizado por uma bolsa lateral maior, que pode acomodar moléculas com cadeias laterais mais volumosas que COX-1. (Cortesia de Dr. Vineet Sangar.) COX-1 COX-2 Ile-434 Ile-523 His-513 Ser-530 Arg-120 Tir-385 Val-434 Val-523 Arg-513 Ser-530 Arg-120 Tir-385 Paulo Alex Sticky Note 964 SEÇÃO IV IN FLAM AÇÃO, IM U N OM ODU LAÇÃO E H EM ATOPOIESE ambiente imediato (Boutud e cols., 2002). Isso pode explicar em parte a atividade anti-infl amatória precária do paracetamol, porque os locais de infl amação em geral contêm concentrações aumenta- das de peróxidos gerados por leucócitos. Inibição irreversível de ciclo-oxigenase pelo ácido ace- tilsalicílico. O ácido acetilsalicílico modifi ca de maneira covalente a COX-1 e a COX-2, inibindo de modo irre- versível sua atividade COX-. Isto é uma importante dis- tinção com relação a todos os outros AINEs, porque a duração dos efeitos do ácido acetilsalicílico relaciona-se com a taxa de rotatividade das COXs em diferentes tecidos alvo. A duração dos efeitos dos outros AINEs que não o ácido acetilsalicílico, que inibem de modo competitivo os locais ativos das enzimas COX, relaciona-se com o curso temporal da eliminação do fármaco. A importância da rotatividade da enzima na recuperação de uma ação do ácido acetilsalicílico é mais notável nas plaquetas que, não sendo nucleadas, têm uma capacidade notavelmente limitada de síntese proteica. Assim, as consequências da inibição da COX-1 nas plaquetas (a COX-2 é expressa em megacariócitos e talvez em formas plaquetárias ima- turas) persistem por toda a vida da plaqueta. A inibição da formação de TXA2 dependente de COX-1 nas plaque- tas é, portanto, cumulativa com doses repetidas de ácido acetilsalicílico (tão baixas quanto 30 mg/dia) e levam 8-12 dias — o tempo de rotatividade das plaquetas — para desaparecer completamente após o tratamento ser interrompido. De maneira importante, mesmo um acú- mulo de plaquetas parcialmente recuperado — apenas alguns dias após a última dose de ácido acetilsalicílico — pode possibilitar recuperação de integridade hemos- tática sufi ciente para alguns tipos de cirurgia eletiva que deva ser realizada. No entanto, uma função plaquetária parcial como essa também pode predispor pacientes que não aderem ao tratamento a eventos trombóticos. As COXs confi guram-se de tal modo que o local ativo é al- cançado pelo substrato AA através de um canal hidrofóbico. O ácido acetilsalicílico acetila a serina 529 da COX-1, localizada em situa- ção alta no canal hidrofóbico. A interposição de um volumoso resí- duo acetilado impede a ligação do AA com o local ativo da enzima, impedindo assim que ela elabore as prostaglandinas. O ácido ace- tilsalicílico acetila uma serina homóloga na posição 516 da COX-2. Embora a modifi cação covalente da COX-2 pelo ácido acetilsalicí- lico também bloqueie a atividade COX dessa isoforma, uma inte- ressante propriedade, não compartilhada pela COX-1, é a de que a COX-2 acetilada sintetiza o ácido 15(R)-hidroxieicosatetraenoico [15(R)-HETE], que pode ser metabolizado, pelo menos in vitro, pela 5-LOX para dar origem à 15-epilipoxina A4, que tem potentes propriedades anti-infl amatórias (ver Capítulo 33). Doses repetidas de ácido acetilsalicílico, que de forma aguda não inibiriam comple- tamente o TXA2 derivado da COX-1 nas plaquetas, podem exercer um efeito cumulativo que resulta no bloqueio completo. Isso foi demonstrado em ensaios randomizados com doses tão baixas como de 30 mg/dia. Entretanto, a maioria dos ensaios clínicos demons- trando cardioproteção pelo ácido acetilsalicílico em doses baixas usou doses na faixa de 75-81 mg/dia. A sensibilidade especial das plaquetas à inibição por essas doses baixas de ácido acetilsalicílico relaciona-se com a inibição das plaquetas em situa ção pré-sistêmica, na circulação portal, antes que o ácido acetilsalicílico seja desacetilado em salicilato na pri- meira passagem através do fígado (Pederson e FitzGerald, 1984). Ao contrário do ácido acetilsalicílico, o ácido salicílico não tem a capacidade de acetilar, sendo um inibidor competitivo reversível e fraco da COX. Os derivados do ácido salicílico, mas não o pró- prio ácido, estão disponíveis para uso clínico. A ausência de ace- tilação frequentemente é usada como justifi cativa para preferir o trisalicilato ou salsalato em detrimento do ácido acetilsalicílico em pacientes pré-cirúrgicos. Altas doses de salicilato inibem a ativa- ção do NFκB in vitro, mas a relevância dessa propriedade nas con- centrações obtidas in vivo não é clara (Yin e cols., 1998). O ácido salicílico também pode inibir a expressão de COX-2 ao interferir na ligação do fator de transcrição da proteína β intensifi cadora de ligação/CCAAT ao promotor de COX-2 (Cieslik e cols., 2002). Isso foi observado in vitro em concentrações de ácido salicílico que são atingidas em seres humanos. Inibição seletiva de ciclo-oxigenase. O uso terapêutico de AINEts é limitado pela sua tolerabilidade GI precária. Os usuários crônicos são propensos a sofrer irritação GI em ≤ 20% dos casos. Após a descoberta da COX-2, foi proposto que COX-1 constitutivamente expressa era a fonte predominante de PG citoprotetoras formadas pelo epitélio GI. Pelo fato de sua expressão ser regulada por citocinas e mitógenos, acreditava-se que a COX-2 era a fonte dominante de formação de PG em infl amação e câncer. Assim, os inibidores seletivos de COX-2 foram desenvolvidos com base na hipótese de que eles iriam promover efi cácia semelhante aos AINEts com melhor tolerabilidade GI (FitzGerald e Patrono, 2001). Seis ini- bidores da COX-2 especifi camente projetados para esse propósito, os coxibes, foram inicialmente aprovados para uso nos EUA ou UE: celecoxibe, rofecoxibe, valdeco- xibe e seu pró-fármaco parecoxibe, etoricoxibe e lumira- coxibe. A maioria dos coxibes foi gravemente restringida em seu uso ou retirada do mercado, tendo em vista seu perfi lde efeitos adversos. O celecoxibe é atual mente o único inibidor da COX-2 licenciado para uso nos EUA. O grau relativo de seletividade para inibição da COX-2 é lumiracoxibe = etoricoxibe > valdecoxibe = rofecoxibe >> cele- coxibe (Figura 34-1). Embora houvesse diferenças em hierarquias relativas, dependendo se os exames fossem realizados utilizando enzimas recombinantemente expressas, células ou ensaios sanguí- neos de sangue total, a maioria dos AINEts expressa seletividade similar para inibição das duas enzimas. Alguns compostos, con- vencionalmente considerados AINEts — diclofenaco, meloxicam e nimessulida (não disponível nos EUA) — exibem uma seletivi- dade para a COX-2 que se aproxima à do celecoxibe in vitro (Fi- gura 34-1) (Warner e cols., 1999; FitzGerald e Patrono, 2001). Na verdade, o meloxicam obteve aprovação em alguns paí ses como um inibidor seletivo da COX-2. Assim, a seletividade para COX-2 não deve ser vista como uma categoria absoluta; a seletividade da iso- forma para COX-2 (exatamente como a seletividade para recep- tores adrenérgicos β1) é uma va riá vel contínua e discreta, como ilustrado na Figura 34-1. Paulo Alex Sticky Note CAPÍTU LO 34 AGEN TES AN TI-IN FLAM ATÓRIOS, AN TIPIRÉTICOS E AN ALGÉSICOS 965Absorção, distribuição e eliminação Absorção. A maioria dos AINEs é rapidamente absorvida após in- gestão oral e as concentrações plasmáticas de pico geralmente são atingidas em 2-3 h. Todos os AINEs seletivos para COX-2 são bem absorvidos, mas as concentrações de pico são obtidas com lumira- coxibe e etoricoxibe em aproximadamente 1 hora, em comparação a 2-4 h com outros agentes. A baixa solubilidade aquosa da maioria dos AINEs frequentemente é refl etida por um aumento inferior ao proporcional da área sob a curva (AUC) das curvas de concentração plasmática-tempo, devido à dissolução incompleta, quando a dose é aumentada. A ingestão de alimentos pode retardar a absorção e às vezes diminuir a disponibilidade sistêmica (ou seja, fenoprofeno, sulindaco). Antiácidos, comumente prescritos para pacientes em terapia com AINEs, variavelmente atrasam, mas raramente redu- zem a absorção. A maioria dos estudos de interação realizados com inibidores da bomba de prótons sugere que alterações relevantes na cinética dos AINEs são improváveis. Há pouca informação sobre a biodisponibilidade oral absoluta de muitos AINEs, como soluções adequadas para a administração intravenosa, frequentemente não estão disponíveis. Alguns compostos (p. ex., diclofenaco, nabume- tona) sofrem primeira passagem ou a eliminação pré-sistémica. O paracetamol é metabolizado em pequena escala durante a absorção. O ácido acetilsalicílico começa a acetilar plaquetas a poucos minu- tos de entrar na circulação pré-sistêmica. Distribuição. A maioria dos AINEs está extensamente ligada às pro- teí nas plasmáticas (95-99%), geralmente a albumina. A ligação às pro teí nas plasmáticas com fre quên cia é dependente da concentração (ou seja, naproxeno, ibuprofeno) e saturável em altas concentrações. As condições que alteram a concentração da proteína plasmática podem resultar em uma fração livre do fármaco com potenciais efei- tos tóxicos. Os AINEs altamente ligados à proteína têm o potencial de deslocar outros fármacos, se eles competirem pelos mesmos lo- cais de ligação. A maioria dos AINEs é amplamente distribuída por todo o corpo e penetra imediatamente nas articulações artríticas, produzindo concentrações no líquido sinovial no intervalo de me- tade da concentração plasmática (ou seja, ibuprofeno, naproxeno, piroxicam). Algumas substâncias produzem concentrações seme- lhantes do fármaco na sinóvia (ou seja, indometacina), ou mesmo concentrações plasmáticas superiores (ou seja, tolmetina). A maio- ria dos AINEs atinge concentrações sufi cientes no SNC para ter um efeito analgésico central. O celecoxibe é par ticular mente lipofílico, por isso se acumula na gordura e é facilmente transportado para o SNC. O lumiracoxibe é mais ácido do que outros AINEs seletivos para COX-2, o que pode favorecer seu acúmulo em locais de in- fl amação. Vários AINEs são comercializados em formulações para aplicação tópica nas articulações infl amadas ou lesionadas. No en- tanto, o transporte direto de AINEs de aplicação tópica nos tecidos e articulações infl amados parece ser mínimo, e as concentrações detectáveis no líquido sinovial de alguns agentes (ou seja, o diclo- fenaco) após uso tópico é primariamente atingida via absorção dér- mica e circulação sistêmica. Eliminação. A meia-vida plasmática varia consideravelmente entre os AINEs. Por exemplo, ibuprofeno, diclofenaco e paracetamol têm eliminação relativamente rápida (meia-vida de 1-4 h), en- quanto o piroxicam tem uma meia-vida de aproximadamente 50 h em estado estacionário, que pode aumentar para até 75 h em ido- sos. Estimativas publicadas da meia-vida dos AINEs seletivos para COX-2 variam (2-6 h para o lumiracoxibe, 6-12 h para o celecoxibe e 20-26 h para etoricoxibe). No entanto, as concentrações plasmá- ticas de pico de lumiracoxibe em doses comercializadas excedem consideravelmente aquelas necessárias para inibir a COX-2, su- gerindo uma ampliação da meia-vida farmacodinâmica. A bio- transformação hepática e a excreção renal são as principais vias de eliminação da maioria dos AINEs. Alguns têm metabólitos ativos (p. ex., fembufeno, nabumetona, ácido meclofenâmico, sulindaco). As vias de eliminação frequentemente envolvem a oxidação ou hi- droxilação (Tabe la 34-1). O paracetamol, em doses terapêuticas, é oxidado em pequena fração formando traços do metabólito alta- mente reativo, N-acetil-p-benzoquinona imina (NAPQI). Quando ocorre uma overdose (geralmente > 10 g de paracetamol), no en- tanto, as principais vias metabólicas são saturadas e as concentra- ções de NAPQI hepatotóxicas podem ser formadas (ver Capítulos 4 e 6). Raramente, outros AINEs também podem ser complicados pela hepatotoxicidade (p. ex., diclofenaco, lumiracoxibe). Vários AINEs ou seus metabólitos são glicuronidados ou conjugados de outro modo. Em alguns casos, tais como os derivados do ácido propiônico naproxeno e cetoprofeno, os metabólitos glicuronídeos podem hidrolisar de volta formando o fármaco precursor ativo quando o metabólito não é removido efi cientemente, devido à in- sufi ciência renal ou competição pela excreção renal com outros fármacos. Isso pode prolongar a eliminação dos AINEs de maneira signifi cativa. Os AINEs geralmente não são removidos por hemo- diálise, devido à sua extensa ligação às pro teí nas plasmáticas; o ácido salicílico é uma exceção a esta regra. Em geral, os AINEs não são recomendados em caso de doen ça renal ou hepática avançada, devido a seus efeitos farmacodinâmicos adversos. Usos terapêuticos Todos os AINEs, incluindo os inibidores seletivos da COX-2, são antipiréticos, analgésicos e anti-infl ama- tórios, com exceção do paracetamol, que é antipirético e analgésico mas praticamente não tem atividade anti- infl amatória. Infl amação. Os AINEs têm sua principal aplicação clí- nica como agentes anti-inflamatórios no tratamento de distúrbios músculos esqueléticos, como artrite reu- matoide e osteoartrose. Em geral, os AINEs fornecem principalmente alívio sintomático da dor e infl amação associada à doen ça e não são considerados FARMD. Uma série de AINEs está aprovada para o tratamento de espondilite anquilosante e gota. O uso de AINEs para ar- tropatias leves, em conjunto com repouso e fi sioterapia, geralmente é efi caz. Quando os sintomas estão limitados à difi culdade de dormir por causa da dor ou rigidez mati- nal signifi cativa, uma dose única de AINE administrada à noite pode ser sufi ciente. Os pacientes com doen ça mais incapacitante podem não responder de maneira adequada às doses terapêuticas completas de AINEs e podem exi- gir tratamentos agressivos com agentes de segunda linha. Diferenças substanciais inter e intraindividuais na res- posta clínica foram observadas. Dor. Quandoempregados como analgésicos, esses fár- macos costumam ser efi cazes apenas contra dores de baixa a moderada intensidade, como a dor de dentes. Embora sua efi cácia máxima seja geralmente muito Paulo Alex Sticky Note Paulo Alex Sticky Note 966 SEÇÃO IV IN FLAM AÇÃO, IM U N OM ODU LAÇÃO E H EM ATOPOIESE Qu ad ro 3 4- 1 Cl as si fi c aç ão e c om pa ra çã o do s an al gé si co s nã o es te ro id es CL AS SE /F ÁR M AC O (S U BS TI TU IÇ ÃO ) FA RM AC OC IN ÉT IC A DO SE Sd CO M EN TÁ RI OS CO M PA RA ÇÃ O CO M O ÁC ID O AC ET IL SA LI CÍ LI CO Sa lic ila to s Á ci do a ce til sa lic íli co (é st er a ce til ) C p d e pi co a Li ga çã o pr ot ei ca M et ab ól ito sb M ei a- vi da c , te ra pê ut ic a M ei a- vi da , d os e tó xi ca 1 ho ra 80 -9 0% Á ci do s al ic ilú ric o 2- 3 h 15 -3 0 h A nt ip la qu et ár io D or /fe br e Fe br e re um át ic a C ria nç as 40 -8 0 m g/ di a 32 5- 65 0 m g a ca da 4- 6 h 1 g a ca da 4 -6 h 10 m g/ kg a c ad a 4- 6 h In ib iç ão p er m an en te d a C O X -1 p la qu et ár ia (a ce til aç ão ) Pr in ci pa is e fe ito s co la te ra is : G I, au m en to d o te m po d e sa ng ra m en to , r ea çã o de hi pe rs en si bi lid ad e Ev ita r e m c ria nç as c om do en ça fe br il ag ud a D ifl un is al (d ef lu or of en il) C p d e pi co Li ga çã o pr ot ei ca M et ab ól ito s M ei a- vi da 2- 3 h 99 % G lic ur on at o 8- 12 h 25 0- 50 0 m g a ca da 8 -1 2 h N ão m et ab ol iz ad o em á ci do sa lic íli co In ib id or c om pe tit iv o da s C O X Ex cr et ad o no le ite m at er no Ef ei to s an al gé si co s e an ti- in fla m at ór io s 4- 5 ve ze s m ai s po te nt es Ef ei to a nt ip iré tic o m ai s fr ac o M en os e fe ito s co la te ra is so br e as p la qu et as e o tra to G I De ri va do d o pa ra m in of en ol Pa ra ce ta m ol C p d e pi co Li ga çã o pr ot ei ca M et ab ól ito sb M ei a- vi da 30 -6 0 m in 20 -5 0% C on ju ga çã o a gl ic ur on at os (6 0% ); co nj ug aç ão a o ác id o su lfú ric o (3 5% ) 2 h 10 -1 5 m g/ kg a c ad a 4 h (m áx im o de 5 d os es /2 4 h) In ib id or in es pe cí fic o fr ac o em d os es c om un s A p ot ên ci a po de s er m od ul ad a po r p er óx id os A o ve rd os e ac ar re ta a pr od uç ão d e m et ab ól ito s tó xi co s e n ec ro se h ep át ic a Ef ei to s an al gé si co s e an tip iré tic os eq ui va le nt es M en os e fe ito s an ti- in fla m at ór io s, so br e as p la qu et as e tr at o G I qu e 1. 00 0 m g/ di a de ác id o ac et ils al ic íli co De ri va do s do á ci do a cé ti co In do m et ac in a (in do l m et ila do ) C p d e pi co Li ga çã o pr ot ei ca M et ab ól ito sb M ei a- vi da 1- 2 h 90 % O -d es m et ila çã o (5 0% ); in al te ra da (2 0% ) 2 h e m ei a 25 m g 2- 3 ve ze s/ di a; 7 5- 10 0 m g à no ite Ef ei to s co la te ra is (3 -5 0% do s pa ci en te s) : c ef al ei a fr on ta l, ne ut ro pe ni a, tro m bo ci to pe ni a; 2 0% in te rr om pe m o tr at am en to 10 -4 0 ve ze s m ai s po te nt e; a in to le râ nc ia lim ita a d os e CAPÍTU LO 34 AGEN TES AN TI-IN FLAM ATÓRIOS, AN TIPIRÉTICOS E AN ALGÉSICOS 967 Su lin da co (p ró -f ár m ac o su lfó xi do ) C p d e pi co M et ab ól ito s M ei a- vi da 1- 2 h/ 8 h pa ra o m et ab ól ito s ul fe to ; in te ns a ci rc ul aç ão en te ro ep át ic a Su lfo na s e co nj ug ad os (3 0% ); su lin da co e co nj ug ad os (2 5% ) 7 h; 1 8 h pa ra o s m et ab ól ito s 15 0- 20 0 m g 2 ve ze s/ di a 20 % s of re m e fe ito s co la te ra is G I, 10 % tê m ef ei to s co la te ra is s ob re o SN C Ef ic ác ia c om pa rá ve l Et od ol ac o (á ci do pi ra no ca rb ox íli co ) C p d e pi co Li ga çã o pr ot ei ca M et ab ól ito sb M ei a- vi da 1 ho ra 99 % M et ab ól ito s he pá tic os 7 h 20 0- 40 0 m g 3- 4 ve ze s/ di a A lg um a se le tiv id ad e pa ra C O X -2 in v itr o 10 0 m g de e to do la co tê m ef ic ác ia s em el ha nt e a 65 0 m g de á ci do ac et ils al ic íli co , m as po de m s er m ai s be m to le ra do s To lm et in a (d er iv ad o he te ro ar ila ce ta to ) C p d e pi co Li ga çã o pr ot ei ca M et ab ól ito sb M ei a- vi da 20 -6 0 99 % O xi da do e m á ci do ca rb ox íli co /o ut ro s de riv ad os , d ep oi s co nj ug ad o 5 h 40 0- 60 0 m g 3 ve ze s/ di a pa ra cr ia nç as (a nt i- in fla m at ór io ) 20 m g/ kg /d ia em 3 -4 d os es di vi di da s A lim en to s re ta rd am e di m in ue m p ic o de ab so rç ão Po de p er sis tir m ai s t em po n o líq ui do si no vi al , r es ul ta nd o em e fic ác ia b io ló gi ca m ai s pe rs ist en te q ue su a m ei a- vi da n o pl as m a Ef ic ác ia s em el ha nt e; 25 -4 0% d es en vo lv em ef ei to s co la te ra is ; 5- 10 % in te rr om pe m o us o C et or ol ac o (c ar bo xi la to de p irr ol iz in a) C p d e pi co Li ga çã o pr ot ei ca M et ab ól ito sb M ei a- vi da 30 -6 0 99 % C on ju ga çã o a gl ic ur on at os (9 0% ) 4- 6 h < 65 a no s: 2 0 m g (p or v ia o ra l), e nt ão 10 m g a ca da 4 -6 h (s em e xc ed er 40 m g/ 24 h ); > 65 a no s: 1 0 m g a ca da 4- 6 h (s em e xc ed er 4 0 m g/ 24 h ) C om um en te a dm in is tra do po r v ia p ar en te ra l ( 60 m g IM s eg ui do s po r 3 0 m g a ca da 6 h o u 30 m g IV a ca da 6 h ) Ta m bé m d is po ní ve l c om o pr ep ar aç ão o cu la r a 0, 25 % , 1 g ot a a ca da 6 h A na lg és ic o po te nt e, a nt i- in fla m at ór io fr ac o D ic lo fe na co (d er iv ad os d o fe ni la ce ta to ) C p d e pi co Li ga çã o pr ot ei ca M et ab ól ito sb M ei a- vi da 2- 3 h 99 % G lic ur on at o e su lfe to (r en al 66 % , b ile 3 5% ) 1- 2 h 50 m g 3 ve ze s/ di a ou 7 5 m g 2 ve ze s/ di a Ta m bé m d is po ní ve l c om o ge l t óp ic o, s ol uç ão of tá lm ic a e co m pr im id os or ai s co m bi na do s co m m is op ro st ol Ef ei to d e pr im ei ra pa ss ag em ; bi od is po ni bi lid ad e or al , 5 0% M ai s po te nt e; 2 0% de se nv ol ve m e fe ito s co la te ra is , 2 % in te rr om pe m o u so , 15 % d es en vo lv em el ev aç ão d as e nz im as he pá tic as (c on tin ua ) 968 SEÇÃO IV IN FLAM AÇÃO, IM U N OM ODU LAÇÃO E H EM ATOPOIESE Qu ad ro 3 4- 1 Cl as si fi c aç ão e c om pa ra çã o do s an al gé si co s nã o es te ro id es ( Co nt in ua çã o) CL AS SE /F ÁR M AC O (S U BS TI TU IÇ ÃO ) FA RM AC OC IN ÉT IC A DO SE Sd CO M EN TÁ RI OS CO M PA RA ÇÃ O CO M O ÁC ID O AC ET IL SA LI CÍ LI CO Fe na m at os ( N -f en ila nt ra ni la to s) Á ci do m ef en âm ic o C p d e pi co Li ga çã o pr ot ei ca M et ab ól ito sb M ei a- vi da2- 4 h A lta M et ab ól ito s co nj ug ad os de 3 -h id ro xi e 3- ca rb ox ila (2 0% sã o re cu pe ra do s na s fe ze s) 3- 4 h 50 0 m g do se d e at aq ue , d ep oi s 25 0 m g a ca da 6 h C as os is ol ad os d e an em ia he m ol íti ca Po de a pr es en ta r a lg um a aç ão c en tra l Ef ic ác ia s em el ha nt e; ef ei to s co la te ra is G I (2 5% ) M ec lo fe na m at o C p d e pi co Li ga çã o pr ot ei ca M et ab ól ito sb M ei a- vi da 0, 5- 2 h 99 % M et ab ol is m o he pá tic o; ex cr eç ão fe ca l e re na l 2- 3 h 50 m g a 10 0 m g 4- 6/ di a (m áx im o de 40 0 m g/ di a) Ef ic ác ia s em el ha nt e; ef ei to s co la te ra is G I (2 5% ) Á ci do fl uf en âm ic o N ão d is po ní ve l n os E U A De ri va do s do á ci do pr op iô ni co A in to le râ nc ia a u m d os de ri va do s do p ro pr io na to nã o im pe de o u so d e ou tr os Em g er al m ai s be m to le ra do Ib up ro fe no C p d e pi co Li ga çã o pr ot ei ca M et ab ól ito sb M ei a- vi da 15 -3 0 m in 99 % M et ab ól ito s co nj ug ad os d e hi dr ox ila e c ar bo xi la 2- 4 h A na lg es ia A nt i-i nf la m at ór io 20 0- 40 0 m g a ca da 4- 6 h 30 0 m g/ 6- 8 h ou 40 0- 80 0 m g 3- 4 ve ze s/ di a 10 -1 5% in te rr om pe m o us o em d ec or rê nc ia d e ef ei to s ad ve rs os D os es p ar a cr ia nç as A nt ip iré tic o: 5 -1 0 m g/ kg a ca da 6 h (m áx im o 40 m g/ kg /d ia ) A nt i-i nf la m at ór io : 20 -4 0 m g/ kg /d ia fr ac io na do s em 3- 4 do se s Eq ui po te nt e CAPÍTU LO 34 AGEN TES AN TI-IN FLAM ATÓRIOS, AN TIPIRÉTICOS E AN ALGÉSICOS 969 N ap ro xe no C p d e pi co Li ga çã o pr ot ei ca M et ab ól ito sb M ei a- vi da 1 ho ra 99 % (m en os no s id os os ) 6- de m et il e ou tro s m et ab ól ito s 14 h 25 0 m g 4 ve ze s/ di a ou 5 00 m g 2 ve ze s/ di a C ria nç as : a nt i- in fla m at ór io 5 m g/ kg 2 ve ze s/ di a Ef ei to s an ti- in fla m at ór io s m áx im os p od em ta rd ar po r a té 2 -4 s em an as d e us o M en or li ga çã o pr ot ei ca e de m or a na e xc re çã o au m en ta m o ri sc o de to xi ci da de e m id os os M ai s po te nt e in v itr o; em g er al m ai s be m to le ra do ; a d ur aç ão va riá ve l d a m ei a- -v id a p od e pr op ic ia r ca rd io pr ot eç ão e m al gu ns in di ví du os Fe no pr of en o C p d e pi co Li ga çã o pr ot ei ca M et ab ól ito sb M ei a- vi da 2 h 99 % M et ab ól ito s gl ic ur on íd eo s, 4- O H 2 h 20 0 m g 4- 6 ve ze s/ di a; 3 00 -6 00 m g 3- 4 ve ze s/ di a 15 % a pr es en ta m e fe ito s co la te ra is ; p ou co s in te rr om pe m o u so C et op ro fe no C p d e pi co Li ga çã o pr ot ei ca M et ab ól ito sb M ei a- vi da 1- 2 h 98 % C on ju ga do s gl ic ur on íd eo s 2 h A na lg es ia A nt i-i nf la m at ór io 25 m g 3- 4 ve ze s/ di a 50 -7 5 m g 3- 4 ve ze s/ di a 30 % d es en vo lv em ef ei to s co la te ra is (e m g er al G I e le ve s) Fl ur bi pr of en o C p d e pi co Li ga çã o pr ot ei ca M et ab ól ito sb M ei a- vi da 1- 2 h 99 % H id ro xi la do s e co nj ug ad os 6 h 20 0- 30 0 m g/ di a fr ac io na do s em 2- 4 do se s D is po ní ve l c om o so lu çã o of tá lm ic a a 0, 03 % O xa pr oz in a C p d e pi co Li ga çã o pr ot ei ca Pr in ci pa is m et ab ól ito s M ei a- vi da 3- 4 h 99 % O xi da to s e co nj ug ad os gl ic ur on at os 40 -6 0 h 60 0- 1. 80 0 m g/ di a A lo ng a m ei a- vi da p os sib ili ta a ad m in ist ra çã o di ár ia ; o in íc io d a aç ão é le nt o; n ão é ad eq ua do p ar a fe br e/ an al ge sia a gu da De ri va do s do á ci do e nó lic o Pi ro xi ca m C p d e pi co Li ga çã o pr ot ei ca M et ab ól ito sb M ei a- vi da 3- 5 h 99 % H id ro xi la to s qu e sã o de po is c on ju ga do s 45 -5 0 h 20 m g/ di a Po de in ib ir a at iv aç ão d os ne ut ró fil os , a a tiv id ad e da p ro te og lic an as e, co la ge na se s Eq ui po te nt e; ta lv ez m ai s be m to le ra do 20 % d es en vo lv em ef ei to s co la te ra is ; 5% in te rr om pe m o fá rm ac o (c on tin ua ) 970 SEÇÃO IV IN FLAM AÇÃO, IM U N OM ODU LAÇÃO E H EM ATOPOIESE Qu ad ro 3 4- 1 Cl as si fi c aç ão e c om pa ra çã o do s an al gé si co s nã o es te ro id es ( Co nt in ua çã o) CL AS SE /F ÁR M AC O (S U BS TI TU IÇ ÃO ) FA RM AC OC IN ÉT IC A DO SE Sd CO M EN TÁ RI OS CO M PA RA ÇÃ O CO M O ÁC ID O AC ET IL SA LI CÍ LI CO M el ox ic am C p d e pi co Li ga çã o pr ot ei ca M et ab ól ito sb M ei a- vi da 5- 10 h 99 % H id ro xi la çã o 15 -2 0 h 7, 5- 15 m g/ di a A lg um a se le tiv id ad e pa ra C O X -2 , es pe ci al m en te e m do se s m ai s ba ix as N ab um et on a (n af til al ca no na ) C p d e pi co Li ga çã o pr ot ei ca Pr in ci pa is m et ab ól ito s M ei a- vi da 3- 6 h 99 % O -d es m et ila çã o e de po is c on ju ga çã o 24 h 50 0- 1. 00 0 m g 1- 2 ve ze s/ di a U m p ró -f ár m ac o, ra pi da m en te m et ab ol iz ad o a ác id o 6- m et ox i-2 -n af til ac ét ic o; a fa rm ac oc in ét ic a di z re sp ei to a o co m po st o at iv o A pr es en ta a lg um a se le tiv id ad e pa ra a C O X -2 (q ue o m et ab ól ito a tiv o nã o te m ) M en os e fe ito s co la te ra is G I d o qu e m ui to s A IN Es AI NE s di ar il- he te ro cí cl ic os (s el et iv os p ar a CO X- 2) Ev id ên ci as d e ev en to s ca rd io va sc ul ar es a dv er so s Re du çã o no tá ve l d os ef ei to s co la te ra is ga st ri nt es ti na is e pl aq ue tá rio s C el ec ox ib e [p ira zo na d ia ril su bs tit uí da ; (u m d er iv ad o su lfo na m íd ic o) ] C p d e pi co Li ga çã o pr ot ei ca M et ab ól ito sb M ei a- vi da 2- 4 h 97 % Á ci do c ar bo xí lic o e co nj ug ad os gl ic ur on íd eo s 6- 12 h 10 0 m g 1- 2 ve ze s/ di a Su bs tra to d a C Y P2 C 9; in ib id or d a C Y P2 D 6 C oa dm in is tra çã o co m in ib id or es d o C Y P2 C 9 ou s ub st ra to s do C Y P2 D 6 de ve s er fe ita co m c au te la Ve r n o te xt o um a vi sã o ge ra l d os in ib id or es da C O X -2 Pa re co xi be Et or ic ox ib e U so n ão a pr ov ad o no s E U A Lu m ira co xi be a T em po p ar a a co nc en tra çã o pl as m át ic a de p ic o (C p) a pó s um a ún ic a do se . E m g er al , o s al im en to s re ta rd am a a bs or çã o m as n ão re du ze m a c on ce nt ra çã o de p ic o. b A m ai or ia d os A IN Es s of re m et ab ol is m o he pá tic o e os m et ab ól ito s s ão e xc re ta do s n a ur in a. O s p rin ci pa is m et ab ól ito s e a s v ia s d e el im in aç ão e st ão li st ad os . c A m ei a- vi da tí pi ca éli st ad a pa ra a s d os es te ra pê ut ic as ; q ua nd o é m ui to d ife re nt e co m a d os e tó xi ca , t am bé m é fo rn ec id a. d U m a in fo rm aç ão so br e do se li m ita da é fo rn ec id a. P ar a ou tra s i nf or m aç õe s, co ns ul te o te xt o e a lit er at ur a in fo rm at iv a so br e o pr od ut o. O ut ra s r ef er ên ci as p od em se r e nc on tra da s e m e di çõ es a nt er io re s d es te liv ro . S N C , s is te m a ne rv os o ce nt ra l; C O X , c ic lo -o xi ge na se ; G I, ga st rin te st in al ; I M , i nt ra m us cu la r; IV , i nt ra ve no so . CAPÍTU LO 34 AGEN TES AN TI-IN FLAM ATÓRIOS, AN TIPIRÉTICOS E AN ALGÉSICOS 971menor do que a dos opioides, os AINEs não têm os efei- tos adversos indesejáveis dos opiáceos sobre o SNC, incluindo depressão respiratória e potencial desenvol- vimento de dependência física. A coadministração de AINEs pode reduzir a dose de opioide necessária para controle sufi ciente da dor e reduzir a probabilidade de efeitos opioides adversos. Os AINEs não alteram a per- cepção de outras modalidades sensoriais que não a dor. Eles são par ticular mente efi cazes quando a infl amação causa sensibilização periférica e/ou central de percep- ção da dor. Assim, a dor pós-operatória crônica ou a que surge da infl amação, como a dor artrítica, é bem con- trolada pelos AINEs, ao passo que a que surge de uma víscera oca em geral não é aliviada. Uma exceção a isso é a dor menstrual. A liberação de prostaglandinas pelo endométrio durante a menstruação pode causar cólicas graves e outros sintomas de dismenorreia primária; o uso dos AINEs para o tratamento dessa condição obteve considerável sucesso (Marjoribanks e cols., 2003). Não é surpreendente que os inibidores seletivos da COX-2, como o rofecoxibe e o etoricoxibe, também sejam efi ca- zes nessa condição. Os AINEs são comumente utiliza- dos como terapia de primeira linha para tratar ataques de enxaqueca e podem ser combinados com fármacos de segunda linha, como os triptanos (p. ex., uma com- binação de dose fi xa de naproxeno e sumatriptano), ou com antieméticos para auxiliar no alívio das náuseas associadas. Os AINEs não possuem efi cácia na dor neu- ropática. Febre. O tratamento antipirético é reservado aos pacien- tes nos quais a febre em si pode ser prejudicial e para aqueles que apresentam alívio considerável quando a febre é reduzida. Pouco se sabe sobre a relação entre a febre e a aceleração de processos infl amatórios ou imu- nes; pode às vezes ser um mecanismo fi siológico prote- tor. O curso da doen ça do paciente pode ser obscurecido pelo alívio dos sintomas e a redução da febre pelo uso de fármacos antipiréticos. Os AINEs reduzem a febre na maioria das situações, mas não a variação circadiana da temperatura ou o aumento da resposta ao exercício ou aumento da temperatura ambiente. A análise compara- tiva do impacto dos AINEts ou dos inibidores seletivos da COX-2 sugere que a última é a fonte predominante de prostaglandinas que medeiam o aumento da tempera- tura evocado pela administração de lipopolissacarídeo (LPS) bacteriano (McAdam e cols., 1999), fato consis- tente com a efi cácia clínica antipirética de ambas as sub- classes de AINEs. Parece lógico selecionar um AINE com início rápido para o tratamento da febre associada a doen ça menor em adultos. Sistema circulatório fetal. As PG não foram implicadas na manutenção da desobstrução do canal arterial e a in- dometacina, ibuprofeno e outros AINEs foram utilizados em neonatos para fechar o canal impropriamente patente. Em contrapartida, a infusão de PGE2 mantém a patência do ducto após o nascimento. Tanto a COX-1 quanto a COX-2 parecem participar da manutenção da patência do canal arterial em fetos ovinos (Clyman e cols., 1999), ao passo que em camundongos a COX-2 parece desem- penhar o papel predominante (Loftin e cols., 2002). Não se sabe qual isoforma ou quais isoformas estão envolvi- das na manutenção da patência do canal arterial fetal in utero em seres humanos. Em camundongos, as PGE2 mantêm um baixo tônus da célula do músculo liso ductal através do receptor acoplado a Gs EP4 que aumenta o AMP cíclico intracelular. No fi nal do perío do gestacio- nal, a expressão pulmonar de uma enzima que elimina PG2 da cor- rente sanguínea, PG 15-OH-desidrogenase (PGDH), é rapidamente suprarregulada (Coggins e cols., 2002). Ao nascimento, as concen- trações sanguíneas de PGE2 são drasticamente reduzidas por PGDH pulmonar e por exposição adicional de PGE2 circulante a essa en- zima com aumento do fl uxo sanguíneo pulmonar. Devido à redu- zida sinalização de EP4, as concentrações intracelulares de AMP cíclico na queda do canal arterial, e efeitos vasodilatadores são su- perados pelos sinais vasoconstritores, que iniciam a remodelação. No entanto, surpreendentemente, existe pouca informação sobre a fi siologia humana ductal e um papel para PGDH ainda precisa ser estabelecido em seres humanos. Cardioproteção. A ingestão de ácido acetilsalicílico prolonga o tempo de sangramento. Por exemplo, uma dose única de 325 mg de ácido acetilsalicílico quase duplica o tempo de sangramento médio de pessoas nor- mais para 4-7 dias. Esse efeito é causado por acetilação irreversível da COX plaquetária e consequente inibi- ção da função plaquetária até que números sufi cientes de novas plaquetas não modifi cadas sejam liberados de megacariócitos. É a supressão permanente e completa da formação de plaquetas TxA2 que é considerada a base do efeito cardioprotetor do ácido acetilsalicílico. O ácido acetilsalicílico reduz o risco de eventos vas- culares graves em pacientes de alto risco (p. ex., aque- les com infarto do miocárdio anterior) em 20-25%. A baixa dose (< 100 mg/dia) de ácido acetilsalicílico é relativamente (mas não exclusivamente) seletiva para a COX-1, é tão efi caz quanto doses mais elevadas (p. ex., 325 mg/dia), mas está associado a menor risco de even- tos GI adversos. No entanto, a dose baixa de ácido acetilsalicílico não é isenta de riscos. Experimentos controlados por placebo mostram que o ácido acetilsalicílico aumenta a incidência de hemorragias gastrintestinais graves, refl e- tindo a supressão não apenas de tromboxano plaquetá- rio, mas também a redução de PGE2 e PGI2. Ela também aumenta a incidência de hemorragias intracranianas. Embora o benefício do ácido acetilsalicílico supere esses riscos no caso da prevenção secundária de doen ça cardiovascular, a questão é muito mais diversifi cada em pacientes que nunca tiveram um evento aterotrombótico grave (prevenção primária); aqui, a prevenção do infarto do miocárdio pelo ácido acetilsalicílico é numericamente Paulo Alex Sticky Note Paulo Alex Sticky Note 972 SEÇÃO IV IN FLAM AÇÃO, IM U N OM ODU LAÇÃO E H EM ATOPOIESE equilibrada pelos sangramentos GI graves que ele preci- pita (Patrono e cols., 2005). Dada a sua meia-vida relativamente curta e inibição rever- sível da COX, a maioria dos outros AINEts não é considerada cardioprotetora, uma visão apoiada pela maioria das análises epi- demiológicas (García Rodríguez e cols., 2004). Os dados sugerem que a cardioproteção é perdida quando se combina baixa dose de ácido acetilsalicílico com ibuprofeno. Uma exceção em alguns in di- ví duos pode ser o naproxeno. Embora haja considerável variação de pessoa para pessoa, um pequeno estudo sugere que se pode prever a inibição de plaquetas em todo o intervalo entre as doses em algumas pessoas sob tratamento com naproxeno, mas não em todas (Capone e cols., 2005). As evidências epidemiológicas de cardioproteção são menos impressionantes; sugerem uma redução de aproximada- mente 10% no infarto do miocárdio, em comparação com 20-25% com dose baixa de ácido acetilsalicílico (Antithrombotic Trialists’ Colaboration, 2002). Isso se ajusta à heterogeneidade de resposta ao naproxeno.A confi ança em bases de dados de prescrição pode ter limitado a capacidade desse método de abordar a questão com precisão. No experimento Alzheimer’s Disease Anti-infl ammatory Prevention Trial (ADAPT Research Group, 2008), o naproxeno foi associado a uma maior taxa de eventos car día cos do que o celeco- xibe. Assim, o naproxeno não deve ser utilizado como substituto do ácido acetilsalicílico para cardioproteção. Os AINEs seletivos para COX-2 são desprovidos de atividade antiplaquetária, pois as plaquetas maduras não expressam COX-2. Outros usos clínicos Mastocitose sistêmica. A mastocitose sistêmica é uma condição em que há mastócitos em excesso na medula óssea, nos sistemas re- ticuloendotelial e gastrintestinal, nos ossos e na pele. Verifi cou-se que a PGD2, liberada dos mastócitos em grandes quantidades, é o principal mediador dos graves episódios de rubor, vasodilatação e hipotensão que ocorrem em pacientes com mastocitose sistêmica; esse efeito da PGD2 é resistente aos anti-histamínicos. O acréscimo de ácido acetilsalicílico ou de cetoprofeno traz alívio (Worobec, 2000). Entretanto, o ácido acetilsalicílico e os AINEts podem causar desgranulação dos mastócitos, de modo que o bloqueio com antago- nistas dos receptores H1 e H2 de histamina deve ser feito antes que a administração dos AINEs seja iniciada. Tolerabilidade à niacina. Grandes doses de niacina (ácido nicotínico) reduzem de maneira efi caz os níveis séricos de colesterol, reduzem a lipoproteína de baixa densidade e elevam a lipoproteína de alta densidade (ver Capítulo 31). No entanto, a niacina é mal tolerada pois induz rubor facial intenso. Esse rubor é amplamente mediado pela liberação de PGD2 da pele, que pode ser inibido pelo trata- mento com ácido acetilsalicílico (Jungnickel e cols., 1997), e seria suscetível à inibição da síntese de PGD, ou ao antagonismo de seu receptor DP1. Síndrome de Bartter. A síndrome de Bartter inclui uma série de dis- túrbios raros (fre quên cia ≤ 1/100.000 pessoas) que se caracterizam por alcalose metabólica hipopotassêmica e hipoclorêmica com pressão arterial normal e hiperplasia do aparelho justaglomerular. Fadiga, fraqueza muscular, diarreia e desidratação são os princi- pais sintomas. Variantes distintas são causadas por mutações em um cotransportador de Na+- K+-2Cl–, um canal apical de K+ regu- lado por ATP, um canal basolateral de Cl–, uma proteína (bartina) envolvida no trânsito de cotransportadores e um receptor extrace- lular sensível ao cálcio. Há indução da COX-2 renal e a biossín- tese de PGE2 está aumentada. O tratamento com indometacina, combinado com a reposição de potássio e espironolactona, asso- cia-se à melhora dos distúrbios bioquímicos e dos sintomas. Os inibidores seletivos da COX-2 também já foram usados (Guay- Woodford, 1998). Quimioprevenção do câncer. A quimioprevenção do câncer é uma área em que o possível uso de ácido acetilsalicílico e/ou AINEs está sob investigação ativa. Estudos epidemiológicos sugerem que o uso frequente de ácido acetilsalicílico associa-se a um decréscimo de 50% no risco de câncer de cólon (Kune e cols., 2007). Observações semelhantes foram feitas com relação a outros cânceres (Harris e cols., 2005). Os AINEs já foram usados em pacientes com polipose adenomatosa familiar (PAF), distúrbio que se caracteriza por múl- tiplos pólipos adenomatosos de cólon que se desenvolvem durante a adolescência e pela inevitável ocorrência de câncer de cólon por volta dos 60 anos de idade. Estudos realizados com um pequeno número de pacientes durante curtos perío dos de acompanhamento mostraram um de- créscimo na carga de pólipos com o uso de sulindaco, celecoxibe ou rofecoxibe (Steinbach e cols., Cruz-Correa e cols., 2002; Hallak e cols., 2003). O celecoxibe é aprovado na PAF como um adjuvante à vigilância endoscópica e à cirurgia, com base na superioridade demonstrada na prevenção/regressão dos pólipos em um ensaio de curto prazo controlado com placebo. Entretanto, mais recente- mente, o Adenoma Prevention with Celecoxile (APC) revelou uma redução signifi cativa da incidência de pólipos adenomatosos em pacientes com história de adenomas colorretais com altas doses de celecoxibe (200 mg 2 vezes/dia e 400 mg 2 vezes/dia versus placebo) (Bertagnolli e cols., 2009). O experimento foi prematu- ramente interrompido devido a um aumento de 2,5 vezes no risco cardiovascular em pacientes que tomaram 200 mg de celecoxibe 2 vezes/dia e um aumento de 3,4 vezes nesse risco nos pacien- tes que tomaram 400 mg 2 vezes/dia (Solomon e cols., 2005). De maneira semelhante, o experimento Prevention of Colorectal Spo- radic Adenomatous Polyps (PreSAP) encontrou uma redução de pólipos em uma única dose diária de 400 mg de celecoxibe (Arber e cols., 2006), que foi compensada por um aumento do risco car- diovascular (Solomon e cols., 2006). Finalmente, o experimento APPROVe de 25 mg de rofecoxibe apresentou uma redução na incidência de pólipos adenomatosos (Baron e cols., 2006) e um aumento de eventos adversos cardiovasculares (Bresalier e cols., 2005; Baron e cols., 2008) que levou à interrupção do experimento e a retirada do rofexocibe do mercado. Não há evidências contro- ladas que determinem se os inibidores seletivos de COX-2 diferem dos AINEts não seletivos para COX-2 ou do ácido acetilsalicílico na magnitude da redução dos pólipos colorretais adenomatosos em pacientes com PAF. Do mesmo modo, ignora-se até mesmo se essa redução traz algum benefício clínico. O aumento da expres- são da COX-2 já foi descrito em múltiplos tumores epiteliais e em alguns casos o grau da expressão relaciona-se com o prognóstico. A supressão ou a inibição da COX-2 inibe espetacularmente a for- mação de pólipos em modelos genéticos de polipose do cólon em camundongos. Embora os fenótipos desses modelos não reprodu- zam completamente a doen ça humana, a supressão da COX-1 tem um efeito similar. As especulações sobre como as duas COX po- deriam interagir na tumorigênese incluem a possibilidade de que os produtos da COX-1 pudessem induzir a expressão de COX-2. Entretanto, a natureza dessa interação é pouco compreendida, tal como suas possíveis consequências na terapêutica. Doen ça de Alzheimer. Estudos observacionais sugeriram que o uso de AINEs, em particular o ibuprofeno, está associado a um risco mais baixo de desenvolvimento de doen ça de Alzheimer. Entretanto, CAPÍTU LO 34 AGEN TES AN TI-IN FLAM ATÓRIOS, AN TIPIRÉTICOS E AN ALGÉSICOS 973estudos prospectivos mais recentes, incluindo um experimento clí- nico controlado, randomizado, que compara celecoxibe, naproxeno e placebo (ADAPT Research Group, 2008), não encontrou redução signifi cativa de demência de Alzheimer com o uso de AINEs. Efeitos adversos do tratamento com AINEs Os eventos adversos que comumente complicam o tra- tamento com ácido acetilsalicílico e AINEs estão des- critos no Quadro 34-2. A idade em geral se correlaciona a uma probabilidade maior de desenvolver reações ad- versas sérias aos AINEs, e em pacientes idosos é neces- sário o cuidado de instituir uma menor dose inicial. Os AINEs são rotulados com uma tarja preta de adverência (“black for warning”) relacionada aos riscos cardiovas- culares e são especifi camente contraindicados após ci- rurgia de revascularização da artéria coronária. Gastrintestinais. Os sintomas mais comuns associados a esses fármacos são gastrintestinais, incluindo anorexia, náuseas, dispepsia, dor abdominal e diarreia, podendo estar relacionados com a indução de úlceras gástricas ou intestinais, que, segundo estimativas, ocorrem em 15-30% dos usuários regulares. As ulcerações podem va- riar desde pequenas erosões superfi ciais até perfurações de toda a espessura da muscular da mucosa. As úlceras podem ser únicas ou múltiplas e as ulcerações podem ser complicadas ou não por sangramento, perfuração ou obs- trução. A perda de sangue pode ser gradual, ocasionando anemia com o tempo, ou aguda e fatal. O risco é aindamaior nos infectados por Helicobacter pylori, quando há consumo excessivo de álcool ou na presença de ou- tros fatores de risco para lesão de mucosa, incluindo o uso concomitante de glicocorticoides. Embora exista a percepção de que os AINEts variam consideravelmente em sua tendência para causar tais erosões e úlceras, tal percepção tem como base análises globais de vários estu- dos heterogêneos e pequenos, frequentemente realizadas com doses únicas de um único AINEt. Ainda não foram feitos estudos comparativos em larga es- cala com AINEts e não há informações confi áveis com as quais se possa comparar a probabilidade de ulceração GI com doses anti-in- fl amatórias de ácido acetilsalicílico versus AINEts. Assim, a maior parte da informação decorre do uso de marcadores substitutos ou de conjuntos de dados epidemiológicos e sugere que o risco rela- tivo de eventos gastrintestinais adversos sérios é cerca de três vezes maior em usuários de AINEts, em comparação com os não usuá- rios. Estudos epidemiológicos sugerem que a combinação de ácido acetilsalicílico em doses baixas (para cardioproteção) com outros AINEs aumenta de forma sinérgica a probabilidade de eventos gas- trintestinais adversos (ver “Interações medicamentosas”). De ma- neira semelhante, descobriu-se que a combinação de vários AINEts e alta dose de um único AINE (incluindo dose inadequadamente alta em idosos) eleva o risco de complicações por úlceras em 7 e 9 vezes, respectivamente. A idade superior a 70 anos, isoladamente, aumenta a probabilidade de complicações em quase 6 vezes. O risco de complicações por úlcera é aumentado em pacientes com úlceras Quadro 34-2 Efeitos colaterais comuns frequentes dos AINEs SISTEMA MANIFESTAÇÕES GI Dor abdominal Náuseas Diarreia Anorexia Erosão/úlceras gástricasa Anemiaa Hemorragia GIa Perfuração/obstruçãoa Plaquetas Inibição da ativação plaquetáriaa Propensão a equimosesa Maior risco de hemorragiasa Renal Retenção de sal e água Cardiovascular Edema, piora da função renal em pacientes renais/car día cos ou cirróticos Menor eficácia dos medicamentos anti-hipertensivos Menor eficácia dos diuréticos Redução da excreção de uratos (especialmente com ácido acetilsalicílico) Hiperpotassemia Fechamento do canal arterial Infarto do miocárdiob AVCb Tromboseb SNC Cefaleia Vertigem Tonturas Confusão Hiperventilação (salicilatos) Útero Prolongamento da gestação Inibição da parturição Hipersensibilidade Rinite vasomotora Edema angioneurótico Asma Urticária Rubor Hipotensão Choque aEfeitos colaterais foram reduzidos com AINEs seletivos para COX-2. bCom exceção de baixa dose de ácido acetilsalicílico. anteriores não complicadas (6 vezes) ou complicadas (13 vezes) ou tratamento medicamentoso concomitante incluindo varfarina (12 vezes), glicocorticoides (4 vezes) ou inibidores seletivos de re- captação da serotonina (ISRS; 3 vezes) (Gabriel e cols., 1991; Dal- ton e cols., 2003; García Rodriguez e Barreales Tolosa, 2007). Os AINEs seletivos para COX-2 foram originalmente conce- bidos para uma indicação de nicho, para melhorar a segurança do tratamento para pacientes que apresentam alto risco de complicações 974 SEÇÃO IV IN FLAM AÇÃO, IM U N OM ODU LAÇÃO E H EM ATOPOIESE GI e requerem tratamento crônico com AINEts — uma população de menos de 5% de usuários de AINEts (Dai e cols., 2005). Con- tudo, o comportamento relativo à prescrição mudou ao longo do tempo, e mais de 33% dos pacientes considerados de risco mais baixo para eventos GI receberam um inibidor de COX-2 em 2002. Paradoxalmente, a incidência de eventos adversos GI vinha caindo drasticamente na população antes da introdução dos coxibes — que foram desenvolvidos para reduzir o risco de complicações GI gra- ves, talvez refl etindo o abandono do uso de altas doses de ácido acetilsalicílico como uma estratégia medicamentosa anti-infl amató- ria. Todos os inibidores seletivos da COX-2 são menos propensos a induzir úlceras gástricas endoscopicamente vi sualizadas do que as doses igualmente efi cazes de AINEts (Deeks e cols., 2002). Uma discussão mais detalhada sobre este tema pode ser encontrada na edição anterior deste livro. A lesão gástrica por AINEs pode ser evocada por pelo menos dois mecanismos distintos (ver Capítulo 33). A inibição da COX-1 nas células epiteliais gástricas reduz as prostaglandinas cito- protetoras da mucosa, especialmente a PGI2 e a PGE2, eicosanoides que inibem a secreção de ácido pelo estômago, intensifi cam o fl uxo sanguíneo da mucosa e promovem a secreção de muco citoprotetor no intestino. A inibição da síntese de PGI2 e PGE2 pode tornar o es- tômago mais suscetível a lesão e ocorrer com a administração oral, parenteral ou transdérmica de ácido acetilsalicílico ou AINEs. Há alguma evidência de que a COX-2 também contribui para a forma- ção constitutiva dessas prostaglandinas no epitélio gástrico humano; produtos da COX-2 certamente contribuem para o fechamento de úlceras em roedores (Mizuno e cols., 1997). Isso pode refl etir em parte um comprometimento da angiogênese pelos inibidores (Jones e cols., 1999). De fato, a inibição ou a supressão concomitante de COX-1 e COX-2 parece necessária para reproduzir a gastropatia induzida por AINE em camundongos e há algumas evidências de doen ça gástrica na vigência de supressão ou inibição prolongada apenas da COX-2 (Sigthorsson e cols., 2002). Outro mecanismo pelo qual os AINEs ou o ácido acetilsalicílico podem causar ulce- ração é a irritação local pelo contato entre o fármaco administrado por via oral e a mucosa gástrica. A irritação local permite a difusão retrógrada do ácido para o interior da mucosa e induz lesão tecidual. Entretanto, a incidência de eventos GI adversos não é signifi cativa- mente reduzida por formulações que reduzem o contato do fármaco com a mucosa gástrica, como o revestimento entérico ou as soluções eferentes, sugerindo que a contribuição de irritação direta ao risco global é menor. Também é possível que a maior geração de produtos da LOX (p. ex., os LT) contribua para a ulcerogênese em pacientes tratados com AINEs. A coadministração do análogo de PGE1, misoprostol, ou de inibidores da bomba de prótons (PPI), pode ser benéfi ca na preven- ção da ulceração gástrica e duodenal (Roston e cols., 2002). Vários pesquisadores adicionaram grupamentos doadores de óxido nítrico às moléculas dos AINEs e do ácido acetilsalicílico, na esperança de reduzir a incidência de efeitos adversos. O benefício pode estar em abolir a inibição da angiogênese pelos AINEts durante a cura das úl- ceras, como observado em roedores (Ma e cols., 2002). Entretanto, o benefício clínico dessa estratégia ainda não foi determinado. Simi- larmente, os LTs podem acumular-se durante a inibição da COX, ha- vendo alguma evidência em roedores de que a inibição combinada da lipo-oxigenase (LOX) e da COX pode ser uma estratégia útil. Cardiovascular. AINEs seletivos para COX-2 foram desenvolvidos para melhorar a segurança GI do trata- mento anti-infl amatório em pacientes com risco elevado de complicações GI. Entretanto, experimentos placebo- controlados com três compostos estruturalmente distin- tos — celecoxibe, valdecoxibe (fabricação suspensa) e rofecoxibe (fabricação suspensa) — revelaram um au- mento na incidência de infarto do miocárdio, acidente vascular encefálico e trombose (Bresalier e cols., 2005; Nussmeier e cols., 2005; Solomon e cols., 2006). Pa- rece que o risco também se estende àqueles AINEs mais antigos, que são bastante seletivos para COX-2, como diclofenaco, meloxicam e nimessulida (Grosser e cols., 2006). Os órgãos reguladores dos EUA, Europa e Aus- trália concluíram que os AINEs têm o potencial de au- mentar o risco de ataque car día co e de acidente vascular encefálico. O prejuízo cardiovascular é plausivelmente explicado pela depressão de prostanoides dependentes de COX-2 formada na vas- culatura e nos rins (Grosser e cols., 2006). A PGI2 vascular limita o efeito dos estímulosprotrombóticos e aterogênicos, e a PGI2 e PGE2 formadas por COX-2 contribuem para a homeostase da pres- são arterial (ver Capítulo 33). A supressão genética do receptor de PGI2, IP, em camundongos, aumenta a resposta trombótica à lesão endotelial, acelera a aterogênese experimental, aumenta a prolife- ração vascular e é adicional aos efeitos dos estímulos hipertensivos (Cheng e cols., Egan e cols., 2004; Kobayashi e cols., 2004; Cheng e cols., 2006). A supressão genética ou inibição de COX-2 acelera a resposta aos estímulos trombóticos e eleva a pressão arterial. Juntos, seria de se esperar que esses mecanismos alterassem o risco car- diovascular dos seres humanos, pois a inibição de COX-2 em seres humanos deprime a síntese de PGI2 (Catella-Lawson e cols., 1999; McAdam e cols., 1999). Na verdade, uma mutação humana de IP, que prejudica sua sinalização, está associada a aumento do risco cardiovascular (Arehart e cols., 2008). Os pacientes sob maior risco de doen ça cardiovascular ou trombose provavelmente estão par ticular mente propensos a even- tos cardiovasculares adversos enquanto estão sob tratamento com esses agentes. Isso inclui pacientes com artrite reumatoide, pois o risco relativo de infarto do miocárdio é aumentado nesses pacientes se comparado a pacientes com osteoartrite ou sem artrite. O risco parece ser condicionado por fatores que infl uenciam a exposição ao fármaco, como dose, meia-vida, grau de seletividade, potência e duração do tratamento. Assim, a menor dose possível deve ser prescrita pelo menor perío do possível. Os AINEs com seletividade para COX-2 devem ser reservados para pacientes com alto risco de complicações gastrintestinais. Pressão arterial, eventos adversos renais e renovascula- res. Os AINEts e os inibidores da COX-2 associaram-se a eventos adversos renais e renovasculares. Os AINEs têm pouco efeito sobre a função renal ou sobre a pressão arterial em seres humanos normais. Entretanto, na vigên- cia de insufi ciência car día ca congestiva, cirrose hepática, doen ça renal crônica, hipovolemia e outros estados de ativação dos sistemas simpaticoadrenal e renina-angio- tensina, a formação de prostaglandinas torna-se crucial, tanto em sistemas-modelo quanto em seres humanos. Os AINEs associam-se à abolição da inibição induzida por prostaglandinas na reabsorção de Cl– e na ação do hormônio antidiurético, ocasionando retenção de sal e de água. Paulo Alex Sticky Note CAPÍTU LO 34 AGEN TES AN TI-IN FLAM ATÓRIOS, AN TIPIRÉTICOS E AN ALGÉSICOS 975Experimentos em camundongos que atribuem a geração de prostaglandinas vasodilatadoras (PGE2 e PGI2) à COX-2 levanta- ram a possibilidade de que a incidência de complicações hipertensi- vas (seja seu aparecimento, seja a piora do seu controle) induzidas pelos AINEs em pacientes pode correlacionar-se com o grau de ini- bição da COX-2 no rim e com a seletividade com que essa inibição é obtida (Qi e cols., 2002). As supressões dos receptores de PGI2 e de PGE2 elevam a pressão arterial em camundongos, integrando mecanicamente a hipertensão com uma predisposição à trombose. Embora essa hipótese nunca tenha sido abordada diretamente, es- tudos epidemiológicos sugerem que as complicações hipertensivas ocorrem mais comumente em pacientes tratados com coxibes que nos tratados com AINEts. Os AINEs promovem a reabsorção de K+ em consequência da disponibilidade reduzida de Na+ nas porções distais dos túbulos e da supressão da secreção de renina induzida pelas prostaglandinas. O último efeito pode ser responsável em parte pela utilidade dos AINEs no tratamento da síndrome de Bartter (ver “Síndrome de Bartter”). Nefropatia por analgésicos. A nefropatia por analgésicos é um estado de insufi ciência renal lentamente progres- siva, redução da capacidade de concentração do túbulo renal e piúria estéril. Os fatores de risco são o uso crônico de altas doses de combinação de AINEs e infecções fre- quentes do trato urinário. Se a nefropatia é reconhecida precocemente, a interrupção dos AINEs permite a recu- peração da função renal. Gravidez e lactação. Nas horas que antecedem o parto, há indução da expressão de COX-2 no miométrio e os níveis de prostaglandina E2 e F2α no miométrio aumentam nota- velmente durante o trabalho de parto (Slater e cols., 2002). O prolongamento da gestação pelos AINEs foi demonstrado em sistemas-modelo e em seres humanos. Alguns AINEs, em particular a indometacina, têm sido usados fora de suas indicações formais para interromper o trabalho de parto prematuro. Entretanto, esse uso associa-se ao fechamento do canal arterial e ao comprometimento da circulação fetal in utero, par ticular mente em fetos com mais de 32 semanas de gestação. Os inibidores seletivos da COX-2 já foram usados como agentes tocolíticos; tal uso associou-se a es- tenose do canal arterial e oligoidrâmnio. Por fi m, o uso dos AINEs e de ácido acetilsalicílico no fi nal da gestação pode aumentar o risco de hemorragia pós-parto. Portanto a gestação, em especial quando próxima ao termo, é uma contraindicação relativa ao uso de todos os AINEs. Além disso, seu emprego nessa situa ção deve ser feito tendo em mente os potenciais riscos para o feto, mesmo em casos de trabalho prematuro, e especialmente nos casos de hiperten- são induzida pela gestação (Duley e cols., 2004). Hipersensibilidade. Certos in di ví duos exibem hipersen- sibilidade ao ácido acetilsalicílico e aos AINEs, manifes- tada por sintomas que variam desde rinite vasomotora, urticária generalizada e asma brônquica até edema de laringe, broncoconstrição, rubor, hipotensão e choque. A intolerância ao ácido acetilsalicílico é uma contraindi- cação ao tratamento com qualquer outro AINE porque a sensibilidade cruzada pode provocar uma reação poten- cialmente fatal, lembrando um choque anafi lático. Ape- sar da semelhança com a anafi laxia, tal reação não parece ser de natureza imunológica. Embora menos comum em crianças, essa sensibilidade cru- zada pode ocorrer em 10-25% dos pacientes com asma, pólipos nasais ou urticária crônica e em 1% dos in di ví duos aparentemente saudáveis, sendo provocada mesmo por doses baixas (< 80 mg) de ácido acetilsalicílico e aparentemente envolve a inibição da COX. A sensibilidade cruzada se estende aos outros salicilatos com estru- tura diferente daquela dos AINEs e raramente ao paracetamol (ver “Efeitos Adversos” na seção “Paracetamol”). O tratamento da hi- persensibilidade ao ácido acetilsalicílico é semelhante ao de outras reações graves de hipersensibilidade, com suporte da função dos órgãos vitais e administração de epinefrina. A hipersensibilidade ao ácido acetilsalicílico associa-se a um aumento da biossíntese de LT, talvez refl etindo o desvio de AA para o metabolismo da LOX. De fato, resultados obtidos em um pequeno número de pacientes sugerem que o bloqueio da 5-LOX com o fármaco zileutona ou o uso fora das indicações da bula de antagonistas dos receptores de leucotrienos podem melhorar os sintomas e os sinais de intolerância ao ácido acetilsalicílico, ainda que incompletamente. Resistência ao ácido acetilsalicílico. Todas as formas de insucesso terapêutico com o ácido acetilsalicílico foram coletivamente denominadas resistência ao ácido acetil- salicílico. Embora tenha atraído muita atenção, há pouca informação a respeito de uma resistência específi ca e es- tável ao ácido acetilsalicílico, ou dos mecanismos exa- tos que poderiam ocasionar essa “resistência”. Já foram descritas variantes genéticas da COX-1 que se cossegre- gam com a resistência, mas sua relação com a evolução clínica não é clara. Síndrome de Reye. Devido à possível associação à sín- drome de Reye, o ácido acetilsalicílico e outros salici- latos são contraindicados em crianças e adultos jovens com menos de 20 anos de idade com febre associada à doen ça viral. A síndrome de Reye, uma doen ça grave e muitas vezes fatal, é caracterizada pelo início agudo de encefalopatia, disfunção hepáticae infi ltração de gordura no fígado e em outras vísceras (Glasgow e Middleton, 2001). A etiologia e fi siopatologia não estão claras, nem está claro se existe uma relação causal entre o acido ace- tilsalicílico e a síndrome de Reye (Schror, 2007). No en- tanto, a evidência epidemiológica de que uma associação entre o uso de ácido acetilsalicílico e a síndrome de Reye parecia tão sufi cientemente convincente que a rotulagem do ácido acetilsalicílico e de medicamentos que o contêm indicasse a síndrome de Reye como um risco em crianças foi exigida pela primeira vez em 1986 e estendeu-se para o subsalicilato de bismuto em 2004. Desde então, o uso de ácido acetilsalicílico em crianças diminuiu drastica- mente e a síndrome de Reye quase desapareceu. O pa- racetamol não tem sido implicado na síndrome de Reye e é o fármaco de escolha para antipirexia em crianças, adolescentes e adultos jovens. 976 SEÇÃO IV IN FLAM AÇÃO, IM U N OM ODU LAÇÃO E H EM ATOPOIESE Uso concomitante de AINEs e ácido acetilsalicílico em baixas doses. Muitos pacientes combinam os AINEts ou os inibidores da COX-2 com baixas doses “cardioprote- toras” de ácido acetilsalicílico. Estudos epidemiológicos sugerem que esse tratamento combinado aumenta signifi - cativamente a probabilidade de eventos adversos gastrin- testinais em comparação com o uso isolado de qualquer classe de AINEs. A ocupação prévia do local ativo da COX-1 plaquetária pelo comumente consumido AINEt ibuprofeno impede o acesso do ácido acetilsalicílico à seu alvo Ser 529 e impede a inibição irreversível da função plaquetária (Catella-Lawson e cols., 2001). Estudos epidemiológicos resultaram em dados confl itantes sobre o impacto adverso desse fato sobre a evolução clínica, mas esses estudos em geral fi cam prejudicados porque usam bancos de dados de prescrições para examinar uma interação entre 2 grupos de fár- macos comumente obtidos sem prescrição. Evidências a favor dessa interação foram observadas pela comparação de pacientes tratados com ibuprofeno com e sem ácido acetilsalicílico em dois estudos de evolução com coxibe (CLASS e TARGET), mas os ensaios não tinham poder estatístico para abordar de forma defi nitiva essa ques- tão. Teoricamente, não deveria ocorrer tal interação com os inibido- res seletivos da COX-2, porque as plaquetas humanas maduras não têm COX-2. Entretanto, a vantagem de segurança GI dos AINEs seletivos para COX-2 é perdida quando eles são combinados com dose baixa de ácido acetilsalicílico. Interações medicamentosas Os inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA) agem, pelo menos em parte, evitando a degra- dação das cininas que estimulam a produção de prosta- glandinas. Assim, é lógico que os AINEs possam atenuar a efi cácia dos inibidores da ECA ao bloquear a produ- ção de prostaglandinas vasodilatadoras e natriuréticas. Devido à hiperpotassemia, a combinação de AINEs e inibidores da ECA também pode provocar bradicardia notável que resulte em síncope, especialmente em idosos e pacientes com hipertensão, diabetes melito ou doen ça car día ca isquêmica. Os corticosteroides e os ISRSs podem aumentar a fre quên cia ou a gravidade das com- plicações GI quando combinados com AINEs. Os AINEs podem aumentar o risco de sangramento em pacientes que usam varfarina, porque quase todos os AINEts supri- mem a função plaquetária normal temporariamente du- rante o intervalo entre doses e porque os AINEs também aumentam os níveis de varfarina interferindo em seu me- tabolismo; assim, a administração concomitante deve ser evitada. Muitos AINEs são altamente ligados às pro teí- nas plasmáticas e assim podem deslocar outros fármacos dos seus locais de ligação. Tais interações podem ocorrer em pacientes que recebem salicilatos ou outros AINEs juntamente com varfarina, hipoglicemiantes do grupo da sulfonilureia ou metotrexato; as doses de tais agentes podem necessitar de ajuste para prevenir a toxicidade. Os pacientes sob tratamento com lítio devem ser moni- torados porque determinados AINEs (p. ex., piroxicam) podem reduzir a excreção renal desse fármaco e levar a toxicidade, enquanto outros podem reduzir os níveis de lítio (p. ex., sulindaco). Indicações e problemas pediátricos e geriátricos Usos terapêuticos em crianças. As indicações terapêu- ticas para uso de AINEs em crianças incluem febre, dor branda, dor pós-operatória e transtornos infl amatórios, como artrite juvenil e doen ça de Kawasaki. A infl amação associada a fi brose cística surgiu como indicação poten- cial para uso pediátrico de AINE (Konstan e cols., 1995); entretanto, preocupações com relação aos efeitos adver- sos GI limitaram o uso de AINEs para essa indicação. A escolha de fármacos para crianças fi ca consideravel- mente restrita; apenas os que foram largamente testados em crianças devem ser usados (paracetamol, ibuprofeno e naproxeno). Doen ça de Kawasaki. O ácido acetilsalicílico geralmente é evitado em populações pediátricas devido a sua poten- cial associação com a síndrome de Reye (ver “Síndrome de Reye”). No entanto, doses elevadas de ácido acetil- salicílico (30-100 mg/kg/dia) são usadas para tratar as crianças durante a fase aguda da doen ça de Kawasaki, seguido por terapia antiplaquetária com doses baixas na fase subaguda. Acredita-se que o ácido acetilsalicílico reduz a probabilidade de formação de aneurisma como consequência da vasculite especialmente nas artérias co- ronárias. Pequenos estudos randomizados não mostram de modo conclusivo se o ácido acetilsalicílico acres- centa benefícios além do tratamento-padrão da doen ça de Kawasaki com imunoglobulina intravenosa (Baumer e cols., 2006). Farmacocinética em crianças. Apesar do reconhecimento de que as diferenças dependentes da idade do tempo de esvaziamento gás- trico, a capacidade de ligação às pro teí nas plasmáticas e do metabo- lismo oxidativo do fígado afetam a farmacocinética dos AINEs em crianças, as recomendações de dosagem frequentemente baseiam-se na extrapolação de dados farmacocinéticos dos adultos. A maioria dos estudos farmacocinéticos realizados em crianças envolveu pa- cientes com mais de 2 anos de idade, o que muitas vezes fornece dados insufi cientes para a seleção da dose em crianças menores. Por exemplo, a farmacocinética do AINE mais comumente usado em crianças, paracetamol, difere consideravelmente entre o perío do neonatal e de crianças mais velhas ou adultos. A biodisponibilidade sistêmica das formulações retais de paracetamol em recém-nascidos e bebês prematuros é maior que em pacientes mais velhos. A depu- ração do paracetamol é reduzida em recém-nascidos prematuros, provavelmente devido a seu sistema imaturo de conjugação de gli- curonídeos (sulfatação é a principal via de biotransformação nessa idade). Portanto, os intervalos de dosagem do paracetamol precisam ser estendidos (8-12 h) ou as doses diárias reduzidas para evitar acú- mulo e toxicidade hepática. A eliminação do ácido acetilsalicílico também é retardada em recém-nascidos e lactentes jovens compara- dos aos adultos que apresentam risco de acúmulo. CAPÍTU LO 34 AGEN TES AN TI-IN FLAM ATÓRIOS, AN TIPIRÉTICOS E AN ALGÉSICOS 977A doen ça também pode afetar a disposição do AINE em crian- ças. Por exemplo, as concentrações plasmáticas de ibuprofeno são reduzidas e a depuração aumentada (aproximadamente 80%) em crianças com fi brose cística. Isso provavelmente está relacionado com patologias GI e hepáticas associadas a esta doen ça. A cinética do ácido acetilsalicílico é acen tua damente alterada durante a fase febril da febre reumática ou vasculite de Kawasaki. A redução na albumina sérica associada a essas condições provoca uma elevação da concentração de salicilato livre, que pode saturar a excreção renal e resultar em acú- mulo de salicilato até níveis tóxicos. Além da redução da dose, o moni- toramento do fármaco livre pode ser justifi cado nessas situações. Farmacocinética nos Idosos. Espera-se que as alterações fi siológicas
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