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Direito Penal - Crimes em Espécie Prof. Manoel Rufino David de Oliveira Apostila 2: Crimes contra a vida Participação do suicídio Infanticídio •Conduta: quando o agente induz ou instiga alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça. •Pena: reclusão, de 6 meses a 2 anos. •Induzir (participação moral): agente faz nascer na vítima a ideia e a vontade de suicídio. Nesse caso, a vítima sequer cogitava de eliminar a própria vida, sendo convencido pela ação do agente. •Instigar (participação moral): agente já tinha a vontade prévia de suicídio e o agente reforça a vontade de suicídio. Nesse caso, a vítima já cogitava eliminar a própria vida, sendo motivado pela ação do agente. •Prestar auxílio (participação material): agente efetiva assistência material, facilitando a execução do suicídio, fornecendo ou colocando a disposição do ofendido os instrumentos necessários para tirar sua própria vida. •Importante: o auxílio sempre deve ser acessório, ou seja, o auxiliador apoiou o ato de suicídio, mas não executou diretamente o ato de tirar a vida da vítima. Se o auxiliador praticou o ato de tirar a vida da vítima que desejava se suicidar, então o auxiliador responderá por homicídio. •Importante: a vítima precisa ser capaz de entender as suas ações e precisa ter vontade motivada de praticar o suicídio. Nesse caso, haverá o crime de homicídio caso a incapacidade da vítima seja usada por alguém que a convence a tirar a própria vida sem ter consciência dos seus atos. Ato do agente Ato da vítima Resultado Pena correspondente Agente induz, instiga ou presta auxílio material Vítima pratica o ato de suicídio Morte da vítima Reclusão, de 2 a 6 anos (art. 122, § 2º, CP) Agente induz, instiga ou presta auxílio material Vítima pratica o ato de suicídio Vítima sobrevive, mas com lesão grave ou gravíssima Reclusão, de 1 a 3 anos (art. 122, § 1º, CP) Agente induz, instiga ou presta auxílio material Vítima pratica o ato de suicídio Vítima sobrevive, mas com lesão leve ou sem lesão Reclusão, de 6 meses a 2 anos (art. 122, caput, CP) Agente induz, instiga ou presta auxílio material Vítima não pratica o ato de suicídio Atípico Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou a praticar automutilação ou prestar-lhe auxílio material para que o faça: Pena - reclusão, de 6 meses a 2 anos. § 1º Se da automutilação ou da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, nos termos dos §§ 1º e 2º do art. 129 deste Código: Pena - reclusão, de 1 a 3 anos. § 2º Se o suicídio se consuma ou se da automutilação resulta morte: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos. § 3º A pena é duplicada: I - se o crime é praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil II - se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência. § 4º A pena é aumentada até o dobro se a conduta é realizada por meio da rede de computadores, de rede social ou transmitida em tempo real. § 5º Aumenta-se a pena em metade se o agente é líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual. § 6º Se o crime de que trata o § 1º deste artigo resulta em lesão corporal de natureza gravíssima e é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime descrito no § 2º do art. 129 deste Código. § 7º Se o crime de que trata o § 2º deste artigo é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra quem não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência, responde o agente pelo crime de homicídio, nos termos do art. 121 deste Código. § 6o A pena é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio. § 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o crime for praticado: I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto II - contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos, com deficiência ou com doenças degenerativas que acarretem condição limitante ou de vulnerabilidade física ou mental III - na presença física ou virtual de descendente ou de ascendente da vítima IV - em descumprimento das medidas protetivas de urgência Infanticídio Infanticídio •Conduta: quando o agente mata, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após •Pena: detenção, de dois a seis anos. •“Estado puerperal": aquela fase que se estende do início do parto até um determinado momento após o parto, podendo causar profundas alterações psíquicas e físicas na mãe, deixando-a sem plenas condições de entender o que está fazendo. Não há certeza médica do momento de início e fim do estado puerperal, devendo ser objeto de perícia médica. •“Logo após”: intervalo de tempo compreende todo o período do estado puerperal, circunstância que será analisada pelos peritos médicos no caso concreto. •“Mãe”: crime próprio, no qual somente a mãe parturiente, sob influência do estado puerperal, pode ser o sujeito ativo. Se quem mata o filho é a enfermeira ou médico, eles respondem por homicídio. •“Próprio filho”: a vítima precisa ser o recém-nascido, filho da executora do infantiçidio, sendo indiferente sua capacidade de vida autônoma. Caso a executora mate o filho de outrem, será crime de homicídio. Art. 123 - Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após: Pena - detenção, de dois a seis anos. Aborto legal Aborto legal •Aborto legal: casos de aborto que são permitidos por lei, não sendo punidos criminalmente. Sào hipóteses de eexc ludente de i l i c i tude espec íficas prev i s tas especiailmente para o crime de aborto. •Aborto necessário (previsto pela Código Penal) •Aborto sentimental (previsto pela Código Penal) •Aborto de anencéfalo (previsto pelo STF) •Aborto no primeiro trimestre (previsto pelo STF) Aborto necessário •Aborto necessário: quando não há outro meio de salvar a vida da gestante, uma vez que ela se encontra em gravidez de risco para sua própria vida. •Gravidez deve gerar perigo de vida da gestante: não basta o perigo para a saúde, deve haver fundado risco de morte para a grávida. Não precisa que a situação de risco seja atual, basta a comprovação por exames de que a gestação causará risco futuro. É o caso da gravidez tubária, ovárica ou intersticial, por exemplo. •Ausência de outro meio para salvar a vida da gestante: não pode o médico escolher o meio mais cômodo, pois se houver outra maneira, que não a interrupção da gravidez, para salvar a vida da gestante, o agente responderá pelo crime. •Aborto deve ser realizado por médico: não é necessário que o médico seja especialista na área da ginecologia-obstétrica. Não há necessidade de autorização judicial ou consentimento da gestante para a realização do aborto necessário pelo médico, bastando que ele entenda ser indispensável realizar o abortamento para salvar a vida da gestante. •Importante: se terceiro sem habilitação legal praticar abortamento na gestante para salvar a sua vida, não haverá o crime de aborto, pois haverá exclusão da ilicitude por estado de necessidade. Se a gestante realizar abortamento em si mesma para salvar a sua vida, também não responderá por crime, por haveria estado de necessidade. Aborto sentimental •Aborto sentimental: quando a gravidez decorre de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou quando incapaz, de seu representante legal. •Gravidez deve resultar de estupro: por ter sido provocada por ato sexual forçado, a gravidez se torna indesejada e odiosa para a gestante, pois sempre relembraria o caso de violência sofrido. •Prévio consentimento da gestante, ou de seurepresentante legal, se ela for incapaz: de preferência, exige-se que esse consentimento seja o mais formal possível, inclusive com testemunhas. Não é necessária a sentença condenatória do crime sexual ou autorização judicial. •Aborto deve ser realizado por médico: não é necessário que o médico seja especialista na área da ginecologia-obstétrica. Não há necessidade de autorização judicial ou consentimento da gestante para a realização do aborto necessário pelo médico, bastando que ele seja médico. •Importante: se terceiro sem habilitação legal praticar abortamento na gestante, haverá o crime de aborto, não havendo exclusão da ilicitude. Se a gestante realizar abortamento em si mesma, responderá por autoaborto, não havendo exclusão da ilicitude. Aborto de anencéfalo •Aborto de anencéfalo: em 2012, o Plenário do Supremo Tribunal Federal julgou precedente a ADPF n° 54, ajuizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde (CNTS), a fim de declarar a constitucionalidade da interrupção da gravidez nos casos de gestação de feto anencéfalo. O STF considerou a conduta atípica e o aborto de anencéfalo passou a poder ser realizado sem necessidade de autorização judicial. Posteriormente ao julgamento pelo STF, o Conselho Federal de Medicina, em 14 de maio de 2012, publicou a Resolução nº 1.989/2012, regulamentando o procedimento em casos de anencefalia. •Exame de ultrassonografia: a Resolução nº 1.989/2012 prevê que os exames de ultrassonografia precisam ser feitos a partir da 12 semana de gravidez, período no qual já se pode detectar anomalia. •Diagnóstico de anencefalia: malformação do tubo neural do feto, a caracterizar-se pela ausência dos hemisférios cerebrais, encéfalo, cerebelo e do crânio, resultante de defeito no fechamento do tubo neural durante o desenvolvimento embrionário. Essa malformação é, segundo a medicina, uma doença congênita letal, pois não há possibilidade de desenvolvimento de massa encefálica em momento posterior. No caso de diagnóstico de anencefalia, o laudo terá que ser assinado obrigatoriamente por 2 médicos. •Prévio consentimento da gestante: a gestante será informada do resultado e poderá optar livremente por antecipar o parte e realizar o abortamento ou manter a gravidez e, inda, se gostaria de ouvir a opinião de uma junta médica ou de outro profissional. •Aborto seja realizado por médico: nessa modalidade não existe situação de emergência, então é preciso que seja feito por médico. O abortamento poderá ser realizado em hospital público ou privado e em clínicas particulares, desde que haja estrutura adequada. Aborto no primeiro trimestre •Aborto no primeiro trimestre: em 2016, a Primeira Turma do STF, conferiu interpretação conforme à Constituição aos arts. 124 a 126 do Código Penal para excluir do seu âmbito de incidência a interrupção voluntária da gestação efetivada no primeiro trimestre. Os Ministros entenderam que a criminalização, nessa hipótese, viola diversos direitos fundamentais da mulher, bem como o princípio da proporcionalidade, nos temos do voto do Ministro Barroso (HC 124.306) •Enfim, podemos dizer que aborto no primeiro trimestre deixou de ser considerado crime no Brasil? •Não, pois estamos diante de questão incidental decidida pela 1.a Turma do STF como fundamento para a concessão de habeas corpus de ofício para o afastamento de prisão preventiva e, portanto, sem caráter vinculante (não tendo havido, inclusive, a determinação de trancamento da ação penal por atipicidade). •O afastamento da caracterização do crime nas hipóteses definidas em referido julgado (primeiro trimestre da gestação) depende de apreciação em ADPF pelo Pleno do STF ou a partir de alteração normativa pelo Congresso Nacional a introduzir, se for o caso e houver vontade política, mais uma hipótese de aborto legal (pendente). Aborto criminoso Aborto criminoso •Aborto criminoso: casos de aborto que não são permitidos por lei, sendo punidos criminalmente. •Aborto sem consentimento da gestante (artigo 125, CP) •Pena: reclusão, de 3 a 10 anos (terceiro). •Aborto provocado pela própria gestante (artigo 124, primeira parte, CP) •Pena: detenção, de 1 a 3 anos (gestante). •Aborto provocado com o consentimento da gestante (artigo 124, segunda parte, e artigo 126, CP) •Pena: detenção, de 1 a 3 anos (gestante) e reclusão, de 1 a 4 anos (terceiro). Aborto sem consentimento da gestante •Aborto sem consentimento da gestante: quando o agente provoca aborto, sem o consentimento da gestante •Pena: reclusão, de 3 a 10 anos •Sujeito ativo: terceiro, que tem intenção de fazer com que a gestante perca o bebê. •Sujeito passivo: gestante e o seu feto, embrião ou óvulo •Consumação: crime material que apenas se consuma com a efetiva morte do feto. Se o feto foi expulso com vida, mas morreu em seguida, o aborto é consumado se demonstrado que a morte decorreu do abortamento. Se o feto foi expulso com vida e não morreu, então se trata da tentativa de aborto. • "sem consentimento da gestante”: significa a ausência de autorização da gestante para realização da manobra abortiva, ou quando e houve consentimento, mas essa autorização não tem valor (consentimento dado por fraude, violência ou grave ameaça, ou de gestante menor de 14 anos ou com deficiência mental). •Se o agente provocar dolosamente a morte de uma mulher grávida, ciente da gravidez, responde pelos crimes de aborto sem o consentimento da gestante em concurso com o crime de homicídio. •Se o agente provocar dolosamente a morte de uma mulher grávida, mas sem estar ciente da gravidez, o crime de aborto sem consentimento da gestante é afastado e o agente responde apenas pelo crime de homicídio. Aborto provocado pela própria gestante •Aborto provocado pela própria gestante: quando a agente provoca aborto em si mesma •Pena: detenção, de 1 a 3 anos •Sujeito ativo: própria gestante, que tem intenção de perder o bebê e realiza a manobra abortiva. •Sujeito passivo: feto, embrião ou óvulo •Consumação: crime material que apenas se consuma com a efetiva morte do feto. Se o feto foi expulso com vida, mas morreu em seguida, o aborto é consumado se demonstrado que a morte decorreu do abortamento. Se o feto foi expulso com vida e não morreu, então se trata da tentativa de aborto. •Incorrem como partícipes do crime de aborto provocado pela própria gestante aqueles que incentivam moralmente a gestante a praticar ato abortivo, que fornecem instrumentos para ela realizar aborto sabendo da vontade da gestante de praticar a manobra abortiva •Se terceiro for além da mera atividade de auxílio moral e material e realizar diretamente a manobra abortiva na gestante, responderá como autor do crime de aborto com consentimento da gestante Aborto com consentimento da gestante •Aborto com consentimento da gestante: quando a gestante consentir que outrem lho provoque aborto (art 124, CP), assim como aquele que provoca aborto com o consentimento da gestante (artigo 126, CP) •Pena: detenção, de 1 a 3 anos (gestante) e reclusão, de 1 a 4 anos (terceiro). •Sujeito ativo: própria gestante, que tem intenção de perder o bebê e realiza a manobra abortiva, e o terceiro que realiza a manobra abortiva. •Sujeito passivo: feto, embrião ou óvulo •Consumação: crime material que apenas se consuma com a efetiva morte do feto. Se o feto foi expulso com vida, mas morreu em seguida, o aborto é consumado se demonstrado que a morte decorreu do abortamento. Se o feto foi expulso com vida e não morreu, então se trata da tentativa de aborto. •A pessoa que realiza a manobra abortiva na gestante responde como autora do crime de aborto com consentimento da gestante. A pessoa que auxilia o terceiro a realizar a manobra abortiva responde como partícipe, como no caso da enfermeira (partícipe) que fornece instrumentos ao médico (autor). •A gestante que consente com realização da manobra abortiva na gestante responde como autora do crime de aborto com consentimento da gestante.A pessoa que incentiva moralmente a gestante a praticar ato abortivo ou ainda auxilia materialmente ela (dando dinheiro, levando na clínica) responde como partícipe, como no caso do namorado (partícipe) que fornece dinheiro para a namorada (autora). Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena - detenção, de um a três anos Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos. Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante Pena - reclusão, de um a quatro anos. Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte. Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal
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