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MÓDULO Disúria, Edema e Proteinúria XIII INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO Lorena Lima, M7 A infecção do trato urinário (ITU) compreende a colonização bacteriana da urina e a infecção de várias estruturas que formam o aparelho urinário, desde a uretra até o parênquima renal. EPIDEMIOLOGIA Nos jovens, 20 a 30x mais frequente na mulher do que no homem, para eles o padrão é ser mais prevalente nos extremos da vida, para as mulheres aumenta com a idade. As infecções complicadas se associam a uma grande variedade de doenças, são responsável por 5 a cada 100 internações hospitalares e na grande maioria das vezes relacionadas a sondagem vesical de demora podendo ocorrer em qualquer gênero e idade. As ITUS são sempre mais frequentes em mulheres, independente da faixa etária, aumenta após a menarca, após início da vida sexual. Durante a gestação a Pielonefrite Aguda pode ser prevenida durante o 3º trimestre pelo tratamento da bacteriúria assintomática. CONCEITOS A infecção urinária pode ser definida pela localização e multiplicação de bactérias no trato urinário, obtidas em cultura de urina, a contagem de bactérias por mL (UFC= unidade formadoras de colônias) varias, sendo na maior parte das vezes maior ou igual a 10⁵ UFC/mL, mas pelos achados divergentes desde 1982 a ITU em mulheres jovens sintomática com leucocitúria é definida pela contagem de maior ou igual 10² UFC/ml de urina. A Infectious Diseases Society of America (IDSA) define ainda 10³ UFC/mL para cistite e 10⁵ UFC/mℓ para a pielonefrite. Situações que ITU podem ter contagem + baixas: > uso de antimicrobicidas na época da urocultura > presença de Gram+ de crescimento lento > hiper-hidratação do paciente > coleta próxima de micção recente > contaminação da urina durante a coleta A ITU pode ser aguda ou recorrente quando se tem o um caso sintomático atual ou de episódios repetidos (+ de 3 episódios por ano) e com diagnóstico confirmado. Nas mulheres com ITU recorrente é necessário garantir esse diagnóstico para evitar a falhas de tratamento não diagnosticada ou episódios imediatos de reinfecção ou recidiva. A recidiva define-se pela ocorrência do mesmo patógeno nas 3 semanas após o tratamento durante o qual a urina era estéril. Já a reinfecção é após cura aparente e com cepas diferentes, caso seja o mesmo patógeno é impossível distinguir recidiva de reinfecção. A PNA, Pielonefrite Aguda, refere-se à infecção alta, ou seja, dos rins e da pelve, e a cistite, quando localizada na bexiga. A cura é indicada pela urocultura negativa e/ou normalização dos dados da urinálise, durante ou imediatamente após o término do tratamento. Existe ainda a necessidade de estabelecer a distinção clínica entre ITU complicada e não complicada. Elas sem distinguem pela ausência ou presença de fatores de riscos que podem dificultar o tratamento ou provocar lesão renal com mais facilidade (diabetes melito, imunossupressão, história prévia de litíase etc.). A realização de rotina de USG com dado clínicos do paciente com ITU grave, história clínica e exame físico podem definir essa distinção. PATOGENIA Diversos fatores relacionados com as bactérias predispõem ao desenvolvimento e à recorrência da ITU, incluindo colonização periuretral e virulência da bactéria. As bactérias uropatogênicas derivadas da microbiota fecal apresentam características que possibilitam a aderência, o crescimento e a resistência às defesas do hospedeiro, sendo a Escherichia coli a mais prevalente. A ITU pode ocorrer de 3 formas: - Colonização ascendente - Disseminação hematogênica - Via linfática (controversa) A via ascendente é a forma mais comum, em que as enterobactérias originárias da flora fecal colonizam a região perineal, vaginal, periuretral, e uretral distal. Fatores Bacterianos A maioria das bactérias uropatogênicas tem sua aderência à uromucóide facilitada pela presença de fimbrias ou pilli, que são filamentos protéicos da superfícies de gram negativas, vencendo assim o wash-out e garantindo a invasão. INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO Lorena Lima, M7 Além disso, as enterobactérias possuem outros fatores que favorecem a infecção, como flagelos para motilidade, cápsula (antígeno K) para evitar a fagocitose e lipopolissacarídeos (antígeno O) que são endotoxinas responsáveis pela antigenicidade. São capazes ainda de quebrar hemácias pela enzima hemolisina e quelar o ferro que é essencial à elas pela aerobactina, contribuindo para a virulência. Ainda, a recorrência e a resistência ao sistema imune pode ser explicado pela formação de biofilme em reservatórios intracelulares do urotélio da bexiga. Cistite: Pielonefrite: Quanto ao grupo sanguíneo P1, mulheres e crianças portadores tem risco aumentado de pielonefrite, já que as células uroepiteliais dessas pacientes exibem aumento da aderência das ECUP em relação às não secretoras, com reações inflamatórias e imunológicas. Fatores biológicos Substâncias antibacterianos da urina e da mucosa vesical contribuem para maior proteção contra bactérias uropatogênicas (IgA, pH ácido, [uréia], osmalalidade). Já alterações metabólicas e hormonais favores infecções, tais como diabetes mellito, gravidez e diminuição de estrógenos em pacientes idosas. QUADRO CLÍNICO Disúria, polaciúria, urgência miccional, dor em região suprapúbica e hematúria. Geralmente não é acompanhada por sinais sistêmicos, em adultos com exceção de idosos que podem apresentar febre ou hipotermia, alteração do nível de consciência e/ou do comportamento.² > Diagnósticos diferenciais: uretrites e vaginites (mulheres) e prostatites (homens).² A pielonefrite aguda não complicada é caracterizada por lombalgia, náuseas ou vômitos, febre (maior que 38°C) e sinal de Giordano positivo (dor a punho percussão em região de loja renal), com ou sem associação de sintomas de cistite. Já em crianças o principal sintoma é dor abdominal, neonatos apresentam icterícia fisiológica prolongada, hipertermia, diarréia, vômitos e cianose. Lactentes costumam apresentam alterações dos hábitos intestinais, febre persistente de causa desconhecida, déficit ponderal-estrutural.² DIAGNÓTISCO O diagnóstico definitivo requer urocultura positiva em coleta com assepsia rigorosa.¹ O diagnóstico das ITU é feito com base nos sinais e nos sintomas clínicos apresentados pelo paciente e na análise da amostra de urina, confirmando a presença de leucocitúria significativa e bactérias.² Fatores do hospedeiro Dos fatores comportamentais, há grande influência em mulheres o início e maior atividade sexual e à utilização de espermicidas. Também o passado de uso de antibióticos que alteram a flora vaginal normal, retirando os lactobacilos e estafilococos, facilitando a colonização pela E. coli. A disfunção miccional, promovendo esvaziamento vesical incompleto, e a constipação intestinal, comprimindo e alterando o funcionamento normal da bexiga, favorecem a recorrência da ITU, bem como mal formações congênitas ou adquiridas que promovam estase da urina. Fatores genéticos A proteina TammHorsfall é capaz de impedir a aderência de E.coli tipo fimbriada. Além disso, pacientes tipo O negativo, não secretores de antígenos, tem prevalência de cistite. INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO Lorena Lima, M7 No paciente sintomático, a urina coletada em qualquer período do dia é satisfatória para a realização da urinálise e da cultura. Para pacientes assintomáticos, a primeira urina da manhã é preferencial.¹ Com a urinálise, utilizam-se as tiras reativas para a detecção dos vários parâmetros presentes na ITU, como esterase leucocitária, nitrito, proteinúria e hematúria. Sendo o nitrito positivo em urina recentemente coletada capaz de confirmas o diagnóstico de ITU. Lembrar que várias patologias cursam com leucocitúria e devem ser consideradas no diagnótico diferencial, assim, a bacteriúria é o marcador de ITU e não a leucocitúria isoladamente.¹ CISTITE NÃO COMPLICADA NA MULHER JOVEM Principal diagnóstico diferencial são uretrites porChlamydia trachomatis e Neisseria gonorrhoeae, vaginites por Candida sp e Trichomonas vaginalis. Sendo que no exame físico essa diferenciação se estabelece principalmente pela presença de secreções vaginal ou uretral. Infecções virais não causam leucocitúria. As fluoroquinolonas devem ser deixadas como última alternativa em qualquer infecção grave- pois tem efeitos colaterais cumulativos e persistentes. A medicação empírica a ser considerada inclui: - nitrofurantoína, (Dose diária 50 a 100 mg/ Intervalo 4 a 6 h) - cefalexina, (Dose diária 500 mg/ Intervalo 6 h) - fosfomicina - amoxicilina-clavulanato (Dose diária 500 mg/ Intervalo 6 h) - sulfametoxazol-trimetoprima (Dose diária 160 a 800 mg/ intervalo 12 h) ++ Ciprofloxacino (Dose diária 100 a 250mg/ Intervalo 12h)¹ CISTITE AGUDA RECORRENTE EM MULHERES Optando-se pelo tratamento profilático, é preferível mantê-lo inicialmente por 3 a 6 meses para estabelecer o tempo necessário da profilaxia, cuidando com o prolongamento pois este favorece a candidíase oral e vaginal. Para crianças recomenda-se nitrofurantoína e para adulto a cefalexina. As ITU recorrentes são tratadas da mesma maneira que os episódios isolados, com as medidas comportamentais de manejo já comentadas. Nessa situação, a decisão de iniciar ou não profilaxia com antibióticos em longo prazo deve ser tomada pelo paciente com seu médico.¹ PIELONEFRITE AGUDA Ñ COMPLICADA EM MULHER Na suspeita clínica de PNA não complicada, deve-se realizar a ultrassonografia, já que a TC, não pode ser realizada de imediato, além da necessidade de contraste, que deve ser evitado em quadros infecciosos renais agudos. ¹ A ultrassonografia mostrará aumento de tamanho do rim afetado, áreas de aumento da ecogenicidade, configurando nefronia lobar, que, se presente, confirma o diagnóstico de PNA não complicada. ¹ A condição clínica do paciente indicará a necessidade ou não de internação e a via de administração da medicação. A maioria dos autores mantém o tratamento por 7 a 14 dias, com tendência atual para 7 dias, na dependência da evolução clínica.¹ TC contrastada demonstra áreas de hipodensidade e edema causados pela infecção (setas). No ambulatório, uma fluoroquinolona oral deve ser utilizada para o tratamento empírico de infecção causada por bacilos Gram-negativos. TMP-SMX ou outros agentes podem ser utilizados se a cepa infectante é sabidamente suscetível. ³ Nitrofurantoína e fosfomicina não são aprovadas ou recomendadas para o tratamento da pielonefrite.³ O tratamento da pielonefrite aguda não complicada pode ser limitado a sete dias para pacientes discreta a moderadamente acometidas que apresentem resposta rápida, com resolução da febre e sintomas logo após o início de tratamento- exceto beta-lactâmicos que devem ser mantido por 14 dias. INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO Lorena Lima, M7 CISTITE AGUDA COM POSSÍVEL ENVOLVIMENTO RENAL OU PROSTÁTICO A cistite aguda em outros pacientes que não mulheres jovens saudáveis é relacionada com mais frequência à doença renal oculta ou infecção prostática, podendo ter uma resposta ruim a terapia curta. As ferramentas clínicas não invasivas dificilmente irão localizar infecções renais ou prostáticas, assim a avaliação clínica é imprecisa, mas diabéticos e gestantes merecem atenção especial. Os sinais e sintomas, exames laboratoriais e tratamento empírico é similar a cistite aguda não complicada em mulheres, embora o tratamento para homens é prudente ser que seja mais duradouro. A nitrofurantoína e a fosfomicina devem ser evitadas, exceto nos casos de cistite durante a gravidez, em que a duração do tratamento é de cinco dias ou de dose única, respectivamente. Entre homens, a recidiva precoce da ITU pela mesma espécie sugere uma fonte prostática de infecção e exige um esquema de tratamento por quatro a seis semanas com fluoroquinolona (preferível) ou TMP-SMX, a depender da resistência.² INFECÇÕES COMPLICADAS Pacientes com ITU complicada podem apresentar sinais clássicos de cistite e pielonefrite, mas também podem se queixar de sintomas vagos ou inespecíficos, como fadiga, irritabilidade, náuseas, cefaleia e dor abdominal ou lombar.³ A definição de consenso IDSA de ITU complicada é de 10⁵ UFC/mL ou mais, em mulheres, e 10 à quarta UFC/mL ou mais, em homens, contudo, quando obtido de cateter urinário esse parâmetro é menor, podendo ser razoável utilizar 10³ UFC/ml.³ As fluoroquinolonas apresentam o mais amplo espectro de atividade antimicrobiana, cobrem os uropatógenos mais comuns e alcançam concentrações terapêuticas adequadas na urina e no parênquima do trato urinário. O S. aureus é mais frequente nas ITUs complicadas sendo resistente à meticilina (MRSA), podendo a vancomicina deve ser incluída no tratamento empírico. Esquema de sete a 10 dias é razoável para a maioria dos pacientes com infecção urinária complicada. Pelo menos 10 a 14 dias de terapia são recomendados em pacientes com resposta mais tardia. PROSTATITE A prostatite ocorre em até 25% dos homens durante o seu tempo de vida, mas apenas em uma minoria dos casos é causada por infecção bacteriana aguda ou crônica.³ O diagnóstico de infecção prostática aguda apresenta sintomas como febre, polaciúria, disúria, dor perineal ou testicular, tremores, dificuldade para urinar e uma próstata aumentada e dolorosa.¹ A massagem prostática, como um teste diagnóstico, é contraindicada em homens com suspeita de prostatite aguda, devido ao risco de se precipitar bacteremia.³ Os micro-organismos mais comuns são bacilos Gram-negativos, como E. coli, Proteus spp., Klebsiella spp., P. aeruginosa e, menos frequentemente, enterococos e S. aureus.³ A patogênese da prostatite parece estar relacionada com o refluxo de urina infectada da uretra aos ductos prostáticos. Cálculos prostáticos, comumente encontrados em homens adultos, podem fornecer um nicho para as bactérias e protegê-las dos agentes antibacterianos.³ Os pacientes gravemente enfermos requerem hospitalização e antibióticos por via parenteral, mas muitos outros podem ser tratados em regime ambulatorial com fluoroquinolonas orais. A duração recomendada de tratamento é de 14 a 30 dias.³ INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO Lorena Lima, M7 PIELONEFRITE ENFISEMATOSA Variante da PNA, rara e fulminante, com alta mortalidade, caracteriza-se pela presença de tecido renal necrótico contendo gás, quase sempre ocorrendo em pacientes diabéticos. É causada por bactérias formadoras de gás, como E. coli, K. pneumoniae, P. aeruginosa e P. mirabilis. ¹ O início pode ser insidioso, mas com frequência se mostra abrupto, com febre, tremores e dor em flanco, com fácies séptico, se o paciente estiver debilitado.¹ A radiografia de abdome e a ultrassonografia mostram bolsas de gás no rim, muitas vezes se estendendo para a fáscia de Gerota, podendo produzir o sinal do crescente.¹ O tratamento conservador é associado à mortalidade de 60% a 80%. Essas taxas podem ser reduzidas a 20% ou menos com intervenção cirúrgica (p. ex., nefrectomia ou drenagem percutânea).³ Radiografia simples de abdome em paciente diabético febril demonstra formação difusa de gás em ambos os rins (contornados por setas) e gás dissecando o espaço retroperitoneal esquerdo (cabeças de seta). GLOMERULONEFRITES PRIMÁRIAS Lorena Lima, M7 SÍNDROME NEFRÍTICA As glomerulonefrites são as terceira causa de DRC no mundo, atrás somente da nefropatia diabética e das lesões renais associadas a hipertensão. As glomerulopatias podem ser classificadas quanto a presença ou não de doença sistêmica associada, pela apresentação clínica e quanto ao seu modo de instalação e progressão. Quando aparecem isoladamente são chamadas primárias, e quando associadas a doença sistêmica (lúpus eritematoso sistêmico) são secundárias. Os portadores de glomerulopatias podem apresentar diversos sinais em sintomas, sendo os mais apresentados: edema, hipertensão, urina escura e uremia. Pode haver sobreposição de um sintoma a outro, dando origemas: síndromes nefríticas, síndromes nefróticas e síndromes mistas (nefríticonefrótica). Uma mesma glomerulonefrite pode ter diversas apresentações clínicas na população, e um mesmo indivíduo pode apresentar, durante a sua evolução, vários quadros clínicos diferentes. Além disso, a evolução leva mais que meses ou semanas para chegar em uma insuficiência renal terminal, quando não, são classificadas em glomerulonefrites rapidamente progressivas, independente do tipo histológico. Descreve-se a síndrome nefrítica como aparecimento súbito de edema, hipertensão arterial e hematúria, micro ou macroscópica. A glomerulopatia classicamente caracterizada por síndrome nefrítica é a glomerulonefrite difusa aguda pós-estreptocócica. Outras glomerulopatias também podem manifestar-se desse modo, como a nefropatia por IgA, a nefrite lúpica e a glomerulonefrite membranoproliferativa (GNMP). Proteinúria Pela fisiologia glomerular, proteínas de baixo peso podem até passar na filtração glomerular, mas logo serão reabsorvidas pelos túbulos proximais e não serão identificadas na urina. Contundo, quando há lesão da barreira de filtração, pode haver perda de proteína na urina. O endotélio é uma barreira bastante permeável; já a membrana basal glomerular (MBG) é uma rede de cargas negativas com grande quantidade de poros pequenos chamados poros discriminantes, e pouca quantidade de poros grandes chamados poros não discriminantes. Isso permite a passagem de água e pequenas moléculas (glicose, ureia, creatinina) mas deixa impermeável a macromoléculas. Outra parte da barreira que se lesionada pode causar grandes proteinúrias são os podócitos, células com pedicelos unidos por um diafragma que recobre a MBG e são bastantes seletivos à passagem de proteínas. Tem sido demonstrada que nas glomerulopatias, há o aumento dos poros não discriminantes além da perda de ânions, o que consequentemente leva ao aumento da passagem de proteínas. Por exemplo, na glomerulonefrite por lesões mínimas, há apenas lesão podocitária e perda de ânions, assim, as proteínas encontradas são de baixo peso molecular e que seriam repelidas pela carga, como a albumina e transferrina. Já quando ocorre aumento dos poros não discriminantes da MBG como na NM, GNMP, GESF, além de albumina e transferrina passam imunoglobulinas, que possuem um maior peso molecular, constituindo uma proteinúria não seletiva. A maioria das glomerulonefrites são mediadas pelo sistema imune, seja pela deposição de imunocomplexos circulantes, seja pela reação de antígeno-anticorpo in situ. Essas reações podem ativar o sistema complemente e levar ao aumento da permeabilidade da MGB, resultando em proteinúria. Outra fator é o aumento da pressão hidrostática dentro do capilar glomerular, importante na gênese da proteinúria. Fisiopatologia dos sinais e sintomas GLOMERULONEFRITES PRIMÁRIAS Lorena Lima, M7 Hematúria Pouco se tem estudado sobre o mecanismo de hematúria, o conceito mais importante fala que no curso da agressão renal ocorrem interrupções da MBG as quais, associadas ou não a reação inflamatória local com vasodilatação, possibilitam a passagem de hemácias para o espaço de Bowman. Essa passagem é feito por diapedese provocando intensa modificação na forma dos eritrócitos, sendo encontrados na urina com diferentes dimorfismos. Codócitos e acantócitos são dimorfismos relacionados a lesões glomerulares e os cilíndros hemáticos a grande lesões glomerulares. Lesões com ruptura da MBG já podem apresentar hematúria não dismórfica e cilíndros hemáticos. cilindros hemáticos Morfologia das hemácias na urina em contraste de fase Retenção de sódio, hipertensão e edema A retenção de sódio é uma alteração muito frequente nas glomerulopatias, causando edema e hipertensão. O edema presente nos pacientes portadores de nefropatia tem sido explicado por dois mecanismos diferentes – underfill e overflow. Nos pacientes portadores de nefropatia sem hipoalbuminemia importante, o edema se dá por mecanismo de overflow (transbordamento), ou seja, o edema tem sido imputado à retenção primária de sódio pelo rim lesado, como no caso das síndromes nefríticas. O segmento tubular do rim doente que absorve mais sódio é o distal, com uma hiperatividade das fosfodiesterases e menor quantidade de GMPc. A retenção de sódio leva aumento da retenção de água, aumento da volemia e da pressão ... hidrostática intravascular resultando no extravasamento para o interstício = edema. Nesses casos, os pacientes podem apresentar hipertensão, edema, hipervolemia e sinais de insuficiência cardíaca congestiva tratamento do edema: No edema nefrítico, a lesão glomerular compromete o coeficiente de ultrafiltração (Kf), causando redução da TFG, que leva à redução na excreção de sódio. Se houver balanço positivo pela ingesta normal de sódio, ocorre expansão do volume extracelular, o que em um cenário livre de lesão glomerular resultaria em alterações da reabsorção tubular para aumentar a excreção do íon e restaurar o balanço, contundo nas glomerulonefrites agudas essas adaptações não ocorrem, por motivos desconhecidos. A insuficiência cardíaca que pode ocorrer na glomerulonefrite aguda, tanto pela elevação da pré-carga (volume) quanto da pós-carga (hipertensão arterial), acaba sendo mais um mecanismo que determina retenção de sódio. O edema na glomerunefrite causado pela expansão do volume extracelular e elevação da pressão intracapilar sistêmica, altera as forças de Starling nos capilares periféricos, com isso, há saída de água e sal, evidenciado clinicamente o edema. - tratamento da doença de base; - adequar a ingesta de água e sódio; - mobilização do edema; (repouso) -indução do balanço negativo de sódio; (diuréticos) Sendo que a restrição de sódio é efetiva para a prevenção do aumento do edema e não causa um balanço negativo do íon. GLOMERULONEFRITES PRIMÁRIAS Lorena Lima, M7 Queda da filtração glomerular A filtração glomerular depende de vários fatores, entre os quais a pressão intraglomerular, a área disponível para filtração e o coeficiente de permeabilidade da MBG. Sabe-se existem aumento da pressão hidrostática e queda do coeficiente de ultrafiltração. Vários fatores podem ocluir as fenestrações do endotélio e diminuir a área filtrante da MBG, dentre elas: a retração dos podócitos, a infiltração de neutrófilos, os depósitos de imunocomplexos e as proliferações endocapilares. As alterações lentas e progressivas da filtração glomerular podem se responsabilizar pelo desenvolvimento de insuficiência renal crônica terminal e estão geralmente mais relacionadas com o grau de lesão tubulointersticial do que com as lesões glomerulares. Alterações metabólicas Já na síndrome nefrótica, ocorre uma intensa hipoalbuminemia, pela intensidade e duração da perda urinária de proteina e a capacidade da síntese hepática. Ocorre ainda intenso catabolismo proteico, quando ocorre aumento a filtração, mais albumina é reabsorvida nos túbulos ela é também catabolizada. As alterações lipídicas da síndrome nefrótica ocorrem por 2 motivos, sendo o primeiro pelo aumento da produção de albumina e de outras proteínas no fígado, como as lipoproteínas, tanto as de baixa densidade como as de muito baixa densidade, levando a hipercolesterolemia e a hipertrigliceridemia, respectivamente. O segundo motivo é a inibição ou perda urinária da lipase lipoproteica inibindo a lipólise. Outra alteração metabólica é a hipercalcemia no paciente com glomerulopatia, pela perda do cálcio plasmático ligado a albumina e o cálcio iônico ligado as 1,25(OH)2 colecalciferol e 24,25(OH)2 colecalciferol (vitamina D). Por fim, outra complicação é a perda de fatores antitrombóticos e de imunoglobulinas, os quais podem favorecer quadros infecciosos e trombose nos pacientes com síndrome nefrótica. Abordagem inicial ao paciente Paciente com EDEMA, HIPERTENSÃO, HEMATÚRIA, acompanhadas ou não de alteração da função renal, devem ser investigado quanto a presença de glomerulopatias.Proteinúria, hematúria e cilindrúria favorecem o diagnóstico de glomerulopatia. Sendo a hematúria dismórfica uma boa indicação de lesão glomerular. Importante excluir pielonefrite aguda (disúria e polaciúria na clínica) e se sinal de Giordano duvidoso, pode ser Glomerulonefrite Difusa Aguda Pós- Estreptocócica pela distensão, inflamação renal e glomerular. O diagnóstico histológico/ morfológico é importante para tomada de decisões terapêuticas nas glomerulopatias, exceto: SÍNDROME NEFRÓTICA PURA EM CRIANÇAS E SINDROME NEFRÍTICA PÓS- ESTREPTOCÓCICA. Importante investigar as principais doenças sistêmicas que evoluem com dano glomerular: A abordagem inicial ao paciente com suspeita de glomerulopatia é para confirma a lesão glomerular, excluir possíveis diagnósticos diferencias e investigar se há uma doença sistêmica contribuindo. O exame de urina I acompanhado de creatina sérica é suficiente inicialmente. A presença de hematúria, especialmente macroscópica, obriga a investigação de diagnósticos diferenciais, principalmente neoplasias do trato urinário e litíase renal. Na síndrome nefrótica pura em crianças a primeira hipótese é a doença por lesões mínimas, com complemento sérico normal, ausência de hematúria e hipertensão e boa resposta a corticoesteróides. Já a pós-estreptocócia espera-se complemento sérico consumido inicialmente e sorologia de infecção prévia por estreptococos. Sendo que a melhora clínica é em duas semanas, assim, a evolução da história natural da doença dispensa análise histológica. GLOMERULONEFRITES PRIMÁRIAS Lorena Lima, M7 Biopsia Renal Muitas vezes, essa abordagem é difícil e a busca ativa do médico se limita a um completo interrogatório de diversos aparelhos durante a anamnese, complementado por: - Lúpus eritematoso sistêmico, - hepatites B e C, HIV, -endocardite, infecções em shunts, sífilis, hanseníase, - doenças autoimunes não lúpus, - neoplasias ginecológicas, do trato gastrintestinal e hematológicas. - sorologias para hepatites B e C, HIV, - fator antinúcleo, - dosagem sérica de complemento - eletroforese de proteínas séricas e urinárias. Síndrome nefrótica em adultos Síndrome nefrítica, com exceção das associadas a infecções Proteinúria assintomática, com ou sem alteração de função renal Glomerulonefrite rapidamente progressiva Disfunção renal com proteinúria em paciente não diabético Proteinúria nefrótica em paciente diabético sem retinopatia diabética Proteinúria significativa em paciente lúpico Hematúria dismórfica associada a proteinúria, hipertensão ou disfunção renal Insuficiência renal aguda sem causa definida com duração maior que 30 dias ou evidência de doença sistêmica associada Indicações: Os principais riscos associados são sangramentos locais e regionais, sendo importante suspender qualquer medicação que interfira na homeostasia. Até então, antes do diagnóstico morfológico, não se indica iniciar imunossupressão, priorizando o tratamento inespecífico. Algumas exceções seriam síndrome nefrótica na criança e casos de glomerulonefrite rapidamente progressiva em centros onde não se realiza o procedimento. Tratamento inespecífico Proteinúria e pressão intraglomerular: São fundamentais os controles pressórico estrito, da pressão intraglomerular, do edema, da retenção de sódio, da hiperlipidemia e das demais alterações metabólicas consequentes à lesão glomerular. O controle deve ser feito com a redução da ingestão de sal, medicamentos anti-hipertensivos e modificações de estilo de vida. Nos glomérulos, a angiotensina II induz vasoconstrição da arteríola eferente e das células mesangiais, levando ao aumento da pressão intraglomerular. Por esse motivo, os inibidores da enzima de conversão da angiotensina II (IECA) e os antagonistas do receptor da angiotensina II (ARA-II) têm sido utilizados como medicamentos antiproteinúricos. A introdução desses medicamentos deve ser gradual, já que podem induzir queda de filtração glomerular, reversível com a sua retirada e atenção especial deve ser prestada ao risco de desenvolvimento de hiperpotassemia, hipotensão sintomática e insuficiência renal aguda. A retenção de sal e o edema contribuem para o aumento da pressão arterial. O edema deve ser tratado preferencialmente com diuréticos de alça, lentamente atingindo perdas diárias máximas de 1 mg/kg. Em paralelo ao uso de diuréticos de alça, é importante associar diuréticos que atuam em outros locais do néfron, potencializando o efeito do primeiro. Para que essa medida seja efetiva, é fundamental que o paciente reduza a ingestão de sódio e, muitas vezes, de líquidos também. As associações mais usadas são: diuréticos de alça com tiazídicos (furosemida com hidroclortiazida), diuréticos de alça com inibidores da aldosterona (furosemida com espironolactona) ou mesmo a associação dos três diuréticos com mecanismos de ação diferentes. Os diurético na síndrome nefrótica tem uma ação reduzida, ja que a hipoalbunemia reduz os diuréticos ligam-se a albumina, assim há diminuição da sua concentração plasmática. Outro fator é que os diuréticos podem se ligar a albumina no lúmen tubular renal e assim serem inibidos. GLOMERULONEFRITES PRIMÁRIAS Lorena Lima, M7 Dessa forma, é preferível que seja administrado em alta dose uma única vez ao dia, comparado com pequenas doses várias vezes no dia. Os diuréticos osmóticos (manitol) podem ser usados isoladamente ou em associação aos diuréticos de alça para aumentar a pressão oncótica plasmática e melhorar a reabsorção de líquido do interstício (edema), aumentando a filtração e a natriurese. Expansores de volume tipo albumina, plasma humano ou dextrana podem potencializar o efeito dos diuréticos de alça em pacientes nefróticos, principalmente os com hipovolemia, mas deve ser bem indicado já que também pode piorar a hipervolemia, são exclusivos a pacientes refratários às terapias diuréticas isoladas ou associadas. GNDA PÓS-ESTREPTOCÓCICA Laboratório - Marcadores de infecção pregressa por estreptococos (antiestreptolisina O, anti- hialuronidase, antiestreptoquinase) podem ser encontrados em 2/3 dos acometidos; - EAS: hematúria com hemácias dismórficas, cilíndros hemáticos, leucocitúria e cilindros leucocitários. - Proteina em 24hrs menor que 3,0g - Consumo de complemento CH50 e C3, redução transitória que melhora em 4 a 12 semanas. Dislipidemia: Insuficiência renal: O balanço negativo pode ser medido pelo peso diário, evitando perdas superiores a 0,5 kg/dia. Pode ser adotado a posição supina. As estatinas e os fibratos representam opções terapêuticas eficientes, devendo-se avaliar com periodicidade enzimas hepáticas e musculares, com o intuito de diagnosticar precocemente lesão por rabdomiólise. O desenvolvimento de insuficiência renal aguda em pacientes com dano glomerular representa uma urgência médica. A piora progressiva da creatinina associada a proteinúria e hematúria sugere glomerulonefrite rapidamente progressiva, o que indica biopsia renal e tratamento de urgência. Quadro clínico - Precedido por infecção estreptocócica de 7 a 21 dias; - Apresentação variável, mas em geral: síndrome nefrítica aguda, síndrome nefrítica rapidamente progressiva e glomerulonefrite assintomática subclínica; - Quadro assintomáticos são mais comuns, até 9x; - Edema, hematúria mascroscópica e hipertensão de início súbito, eventualmente há dor lombar; - O edema vai de leve a moderada intensidade, pré-tibial e/ou bipalpebral; - Se houver hematúria intensa pode ter disúria; - Em geral, a função renal é normal ou discretamente alterada; - Casos podem evoluir com: IRA, hipovolemia, edema agudo de pulmão, encefalopatia hipertensiva com convulsões. Epidemiologia - Sexo masculino; - Crianças 6 a 10 anos; - 50 a 90% dos casos de síndrome nefrítica em crianças; - 21% das crianças hospitalizadas por IRA tem a GNDA como causa; História natural e prognóstico - Remissão em geral de 2 a 3 semanas após início do quadro; - Tem bom prognóstico,porém pacientes que apresentaram GNDP no passado tem maiores índices de hipertensão, DRC e alterações urinárias do que a população em geral. - Fatores de mau prognóstico: idade avançada; presença de síndrome nefrótica; insuficiência renal, comorbidades, apresentação de crescentes em mais de 33% dos glomérulos. Diagnóstico diferencial - Glomerulonefrite do C3; nefropatia por IgA; GNMP com crescentes; glomerulonefrite crescêntica GLOMERULONEFRITES PRIMÁRIAS Lorena Lima, M7 GNDA PÓS-ESTREPTOCÓCICA Anatomia patológica - lesão glomerular difusa (todos os glomerulos); - glomérulos grandes e hipercelulares, com diminuição do lúmen; - proliferação mesangioendotelial e infiltração por células mononucleares; - Na microscopia de imunofluorescência com depósitos de IgG e/ou C3 com padrão granular em alças capilares e mesângio. (padrão de “céu estrelado”) Etiopatogenia - Apenas algumas cepas dos estreptococos são nefritogênicas e nem todos os indivíduos infectados por essas cepas desenvolvem a doença; - Reação imune cruzada: de anticorpos do estreptococos com a MBG, os componentes laminina e colágeno, especialmente. - Autoimunidade: após a formação de IgG antiestreptococos, essa molécula sofre alterações que a faz ser reconhecida como antígeno. Esse imunocomplexo pode se depositar no rim e dar início à lesão glomerular. - Antígenos nefritogênicos dos estreptococos: Estruturas da bactéria lesivas ao glomérulo (proteína M, NAPlr) ou proteínas produzidas por ela (estreptoquinase e SpeB). Qualquer um desses mecanismo envolvem: ativação do complemento, quimiotaxia para leucócitos e reação inflamatória local completam a reação tecidual glomerular. NEFROPATIA POR IGA Epidemiologia - Incidência variável, mas comum na Ásia e Europa. - Idade média de diagnóstico 20 a 30 anos, incomum em menores de 10 e maiores de 50. - Homens (3:1) - Incomum em pessoas de pele negra Quadro clínico - Surtos de hematúria macroscópica associada a infecções de vias respiratórias superiores ou ao exercício físico. - Quadro generalizado de mal estar, dores musculares discretas, acompanhados ou não de disúria. - Episódios de hematúria podem durar horas ou dias, ocorre repetição da hematúria após infecções ou até sem fator desencadeante. - Podem apresentar (30 a 40% das vezes) hematúria microscópica e proteinúria assintomática. -A síndrome nefrótica é rara (5% dos casos) - Hipertensão arterial, variável (10 a 25% dos casos). Laboratório - Proteína de 24h: baixa, de 1 a 2g; - Hematúria com dismorfismos (cilíndros hemáticos são raros); - Elevação da IgA plasmática (20 a 50%) - Biopsia de pele do antebraço revela deposição de IgA, C3 e fibrina nos capilares da derme (até 50%). -C3 e C4 normais História natural e prognóstico - Nefropatia de evolução lenta, comprometimento da função renal é variável. - Bom prognóstico na maioria dos casos; - Existem progressão para DRC em progressões de 20 anos (30 a 50%) -Mau prognóstico: homens; idade superior a 35 anos ao diagnóstico da doença; pacientes com síndrome nefrótica persistente; presença de glomérulos esclerosados e hematúria microscópica e proteinúria assintomáticas. - Geralmente é primária, as secundárias são a: cirrose alcoólica, doença celíaca, doença de Crohn, psoríase, HIV, hanseníase.. Etiopatogenia - A maior parte da IgA sérica é da subclasse 1 (IgA1– 90%), e o restante, da subclasse 2 (IgA2 ). Na nefropatia por IgA, existe IgA1 polimérica com um defeito na glicosilação, o qual resulta em uma molécula com menos galactose e com potencial antigênico que estimula a formação de IgG anti- IgA. - As IgG anti-IgA tem maior facilidade de se depositar no mesângio e formar imunocomplexos, sendo que pode haver deposição desses imunocomplexos circulantes. - Outra opção é que as IgA defeituosas uma reação inflamatória, ativam o sistema de coagulação causando nefropatia ao se aderirem ao mesângio. NEFROPATIA POR IGA Epidemiologia - Acomete indivíduos jovens (70% < que 30 anos) - Predominância discreta em mulheres - Causa comum de GN: África e América do sul GLOMERULONEFRITE MEMBRANOPROLIFERATIVA História natural e prognóstico - Remissão completa da síndrome nefrótica se dá em 2 a 10% dos casos, e remissão parcial e transitória, em torno de um terço dos pacientes. - Maioria irá ter perda progressiva da função renal; uma das principais GN que evolui para DRC; - Crianças apresentam melhor prognóstico - Pior prognóstico quando tem: insuficiência renal; hipertensão arterial; síndrome nefrótica; presença de crescentes; e lesão tubulointersticial GLOMERULONEFRITES PRIMÁRIAS Lorena Lima, M7 Diagnóstico diferencial - glomerulonefrites secundárias às infecções; - doença da membrana basal; - doença de Alport; - púrpura de Henoch-Schönlein Tratamento - Pct com + de 1g/dia de proteinúria: IECAS e/ou ARA-II; Atingir nível pressória de 130/80 mmHb para proteinúria menor que 1g e de 125/75 mmHb para mais de 1g. - Se tratamento não reduzir a proteinúria a níveis menores que 1g/dia após 3 a 6 meses, iniciar tratamento imunossupressor. - Prednisona por 6 meses para pacientes com TFG superior a 50 ml/min/1,73m². Não associar a outros imunossupressores a não ser que haja alteração progressiva da função renal (ciclofosfamida) Laboratório - Redução do complemento C3 e CH50 (complemento hemolítico total); - Proteinúria nefrótica - Hematúria microscópica e mascroscópica - Alterações da função renal Quadro clínico - Hipertensão em até 80% dos casos; - Micro-hematúria e proteinúria não nefrótica em 35%; - Síndrome nefrótica com mínima redunção da função renal 35%; - GN crônicamente progressiva (20%); - Geralmente idiopática de 8 a 14 anos. - Em adultos geralmente se associa a Crioglobulenemia e a infecção por VHC (hepatite C; - tríade: fraqueza, artralgias e púrpura No diagnóstico de GNMP, deve-se pesquisar as doenças que, frequentemente, se associam a essa patologia: hepatites B ou C; HIV; malária; esquistossomose; endocardite; LES; crioglobulinemia mista; síndrome de Sjögren; leucemias; e linfomas. Anatopatológico - GNMP tipo I: presença de hipercelularidade com expansão da matriz mesangial e espessamento das alças capilares, com duplicação da MBG. - Lesão difusa; - Acentuação dos lóbulos glomerulares; - Duplicação da MBG por depósitos imunes subendoteliais. - A imunofluorescência mostra depósitos granulares difusos de C3 e de IgG e IgM nas alças capilares e no mesângio GLOMERULONEFRITE MEMBRANOPROLIFERATIVA Etiopatogenia - Mediada pelo sistema imune, com deposição renal de imunocomplexos circulantes. - Uma vez depositados, eles normalmente ativam o complemento através da via clássica, levando a geração de fatores quimiotáticos (C5a), opsoninas (C3b) e do complexo de ataque à membrana (C5b-9), com a diminuição correspondente dos níveis séricos de C3 e C4 circulantes Tratamento - Iniciar tratamento inespecífico com IECA's e ARA II para obter proteinúria menor que 1g/dia com meta pressórica de 130x80 mmHg. -Para pacientes com GNMP, a busca por causas secundárias deve ser insistente, pois apenas casos considerados idiopáticos podem ser avaliados. - Sem alteração da TFG e proteinúria não nefrótica, só medidas nefroprotetoras e acompanhamento clínico. - TFG normal ou próxima do normal com proteinúria nefrótica, se criança iniciar corticoesteróides , adultos continuar nefroproteção* - Função renal alterada e proteinúria nefrótica tratar com corticoesteróides na criança, no adulto se tiver comportamento de glomerulonefrite rapidamente progressiva tratar com imunussupressores (micofenolato mofetila, ciclofosfamida ou azatioprina). GLOMERULONEFRITES PRIMÁRIAS Lorena Lima, M7 Diagnóstico diferencial Edema na Síndrome Nefrótica A síndrome nefrótica foi definida como proteinúria maciça, com tendência a edema, hipoalbuminemia e hipercolesterolemia. A glomerulopatiaprimária que representa melhor essa síndrome é a doença por lesões mínimas (DLM), mas a glomeruloesclerose segmentar e focal (GESF) e a nefropatia membranosa (NM) também se encaixam bem nesse grupo. O mecanismo de underfill é característico da síndrome nefrótica, nesse caso, há perda de proteínas pela urina, com consequente hipoalbuminemia, e diminuição da pressão oncótica do plasma. Essa diminuição leva ao extravasamento de líquido do intravascular para o interstício, com formação de edema. A retração do intravascular, com hipovolemia relativa, ativa diferentes sistemas de retenção de sódio (SRRA) agravando o edema e formando um círculo vicioso. Logo, parece não haver um único mecanismo para explicar a retenção renal de sal na síndrome nefrótica. Por essa ativação do eixo e o aumento da resistência vascular periférica e renal, esperaria-se uma diminuição da TFG e do fluxo renal, contudo, a TFG pode estar aumentada em alguns casos. Isso se dá pela hipoalbuminemia que está diminuindo a pressão oncótica do capilar glomerular e assim aumentando a TFG. Assim, na síndrome nefrótica, a TFG pode estar diminuída, normal e elevada. O paciente com edema desse mecanismo usualmente vai ter palidez cutânea e hipotensão postural (por conta da hipovolemia), além da hipoalbuminemia inferior a 2,5 g/dL. GLOMERULONEFRITES PRIMÁRIAS Lorena Lima, M7 SÍNDROME NEFRÓTICA Epidemiologia -Também denominada glomerulopatia de lesões mínimas, doença dos processos podálicos, DLM é a principal causa de síndrome nefrótica em crianças. e nos adultos chega a 25% das nefropatia primárias com síndrome nefrótica. - Faixa etária de 1 a 6 anos +++ - 70% em crianças do sexo masculino - Maioria primária ou idiopática - Pct com + de 50 anos com síndrome nefrótica decorrente de DLM deve ser investigado quanto à neoplasia. DOENÇA DE LESÕES MÍNIMAS Quadro clínico - Sindrome nefrótica sem HAS e Hematúria; - Função renal preservada; - Pode ser precedida de infecções de vias aéreas superiores; - Edema de instalação rápida levando a anasarca (generalizado); - Pode ter ascite e derrame pleural; - Hipovolemia -Linhas de Muehrcke (decorrente de hipoalbuminemia prolongada são linhas opacas/brancas em relevo nas unhas); - HAS é 21% mais presentes em crianças; GLOMERULONEFRITES PRIMÁRIAS Lorena Lima, M7 Laboratório - Proteinúria nefrótica (>3,5 g/24hrs adultos e 50 mg/kg/dia para crianças); - Hiperlipidemia; - Hematúria microscópica rara (20%), e a macro praticamente exclui o diagnóstico de DLM; - Cilindro gordurosos no sedimento urinário; - Complementos em níveis séricos normais; - Pode haver elevação discreta de creatinina; DOENÇA DE LESÕES MÍNIMAS Anatopatologia - MO: Observa-se glomérulos normais, com discreta hiperproliferação mesangial e hipertrofia dos podócitos. - MO: Gotículas de lipídios e grânulos hialinos nas células dos túbulos proximais são achados frequentes. - ME: retração dos prolongamentos dos podócitos sem depósitos eletrodensos; - IF: não há complemento nem imunoglobulinas História natural e prognóstico - Raro o surto de LRA; - Reincidiva em 30% por infecção viral; - Evolução para DRC é rara, a não ser que progrida para GESF; Etiopatogenia - Na lesão mínima, a maior parte da proteinúria é seletiva, ou seja, constituída por proteínas com raio menor que 4,5 nm, sugerindo que a lesão responsável por essa patologia tenha relação com a carga negativa da barreira de filtração glomerular (MBG + membrana dos podócitos); - A melhora com corticoterapia e piora após quadros virais infecciosos sugere um mecanismo decorrente de alterações da imunidade celular; - As citocinas de carga positiva dos linfócitos se ligariam às cargas negativas da MBG, neutralizando-as e permitindo a passagem de proteínas. -Resposta imunológica deficiente, levando a lesão podocitária e aumento da permeabilidade glomerular e proteinúria. - Proteína transmembrana de APC e células B (CD80 ou B7-1) que tem função de coestimular os linfócitos T, se expressam nos podócitos promovendo lesão na barreira de filtração e perda dos pedicelos. A principal alteração na GLM é a perda dos processos podálicos dos podócitos. - Angiopoetina-4: promove a redução da carga negativa da barreira glomerular Tratamento - Instituir tratamento inespecífico mais breve possível; - No início da síndrome nefrótica não é indicado IECAS's e BRA's em paciente normotensos; - Criança: Prednisolona 60 mg/m²/dia (máx 80 mg/dia) até remissão ou, mínimo de 4 semanas. Se corticorresistência = biópsia; - Adultos: Biópsia é mandatória para tratamento específico. Prednisolona 1mg/kg (máx 80mg) na dose diária ou 2 mg/kg em dias alternados (120mg) por 4 a 16 semanas. Quando houver melhora da proteinúria, a dose deve ser reduzida gradualmente até a suspensão, em um período de 6 meses. GLOMERULOSCLEROSE SEGMENTAR E FOCAL GLOMERULONEFRITES PRIMÁRIAS Lorena Lima, M7 Epidemiologia O termo “glomeruloesclerose segmentar e focal” refere- se a característica morfológica de um grupo de doenças que definem uma síndrome com: proteinúria nefrótica (em geral), retração podocitária e lesões escleróticas acometendo segmento de parte dos glomérulos. Pode ser primária, genética e secundária (HIV, parvovírus, HAS, obesidade, Anemia falciforme) - 7 a 15% das síndromes nefrótica em crianças - Mais recorrente em crianças abaixo de 5 anos e adultos abaixo de 40 anos - Homens de pele negra Anatopatologia -Focal porque apenas alguns glomerulos são atingindos; Segmentar porque a lesão é localizada; - aumento da matriz mesangial, hipercelularidade, colapso de alça capilar, depósitos de proteínas e aderências à cápsula de Bowman de forma segmentar no glomerulo; - Classificação histopatológica da GESF: Quadro clínico - Proteinúria nefrótica; - Hipertensão; - Hematúria; - Alteração da função renal; Etiopatogenia - Insulto ao podócito (manifestação clínica proporcional ao nº de podócitos lesionados) - Fatores circulantes: cardiotrophin-like cytokine-1 (CLC-1); receptor solúvel de uroquinase (suPAR); - células epiteliais parietais da cápsula de Bowman podem migrar para substituir podócitos lesados , com isso, a detecção de células epiteliais parietais ativadas na cápsula ou tufo glomerular poderia auxiliar no diagnóstico precoce. Tratamento - excluir causas secundárias pois tratamento imunossupressor só para causas primárias; - mesmo tratamento de DLM. NEFROPATIA MEMBRANOSA Epidemiologia - 20 a 40% dos casos de síndrome nefrótica em adultos; - mais prevalente em homens de pele branca; - idade média 40 a 50 anos; Apresentação clínica - Proteinúria de 5 a 10g/24hrs; proteína assintomática é possível, menos provável; - Hematúria microscópica 30% em adultos, 100% em crianças; - Hipertensão em 50 a 70% -Alto índice de remissão espontânea, até 60% - Função estável na maioria, até 30% podem evoluir para DRC após décadas. Anatopatológico - Lesão da MBG, sem hipercelularidade mesangial -Deposito de IgG e C3 Etiopatogenia - formação in situ de imunocomplexo -receptor de fosfolipase (PLA2R) na membrana dos podócitos tem o IgG4 reagindo contra ele e ativando o sistema complemento Tratamento - elegíveis: proteinúria persistente acima de 4 a g/24hrs; síndrome nefrótica refratária; piora progressiva da função renal; aumento do anticorpo antiPLA2R. LESÃO RENAL AGUDA Lorena Lima, M7 PRÉ-RENAL: RENAL INTRÍSECA: PÓS-RENAL: A LRA caracteriza-se por redução abrupta (em horas a dias) da taxa de filtração glomerular, resultando no acúmulo de escórias nitrogenadas (ureia e creatinina). Uma definição proposta para IRA, por exemplo, é um declínio da função renal em 48 horas demonstrado por aumento na creatinina sérica de mais que 0,3 mg/dL, um aumento na creatinina sérica de mais de 50% ou desenvolvimentode oligúria. A LRA pode ser de origem pré-renal, renal (ou intrínseca) ou pós-renal, a depender do nível de acometimento: Resulta da redução da perfusão renal, isto é, de eventos que culminam em diminuição do volume circulante (hipovolemia e diminuição do volume arterial efetivo). A LRA pré-renal é facilmente reversível, desde que os fatores precipitantes sejam rapidamente corrigidos. EX: diarreia, vômitos, febre, sangramentos, uso de diuréticos e insuficiência cardíaca. Causas intrínsecas de IRA devem ser consideradas de acordo com os componentes anatômicos do rim (glomérulo; túbulos; interstício; e vasos). Sua etiologia mais comum é a lesão tubular, principalmente de origem isquêmica ou tóxica. Depois das isquêmicas, as causas nefrotóxicas são as mais frequentes na LRA renal, sendo os agentes nefrotóxicos mais comuns: antibióticos aminoglicosídios, contrastes radiológicos e quimioterápicos, além de pigmentos (p. ex., mioglobina) e venenos ofídicos. Ocorre na vigência de obstrução das vias urinárias, que pode ser observada em qualquer nível do trato urinário, porém, no acometimento de ureteres. EX: hiperplasia prostática benigna, neoplasia de próstata ou bexiga, distúrbios retroperitoneais, bexiga neurogênica, cálculos renais bilaterais, fibrose retroperitoneal. No ambiente hospitalar, uremia pré-renal e necrose tubular aguda (NTA) são a maioria dos casos de IRA. O termo necrose tubular aguda é muito utilizado na prática clínica, mas deve ser reservado para casos de IRA em que há biopsia renal com alterações características de injúria tubular e pacientes com achados de células epiteliais tubulares no sedimento urinário. A, Túbulos renais corticais normais. B e C, NTA. Note o epitélio achatado, membranas basais desnudas e debris celulares intraluminais. D, NTA em recuperação mostrando uma figura de mitose (seta) em célula epitelial tubular. Fisiopatologia e Etiologia da Injúria Renal Aguda Pré-Renal Patologia e Etiologia da Injúria Renal Aguda Pós-Renal Uma redução acentuada da perfusão renal pode superar a autorregulação da TFG e levar a queda aguda dela. Nesse contexto, a IRA pode ser precipitada por agentes que prejudicam a vasodilatação arteriolar aferente (agentes anti- inflamatórios não esteroidais [AINES]) ou a vasoconstrição eferente (inibidores de enzima de conversão da angiotensina [ECA] e bloqueadores do receptor de angiotensina [BRA]) Por exemplo, a perfusão renal pode estar reduzida por débito cardíaco reduzido (insuficiência cardíaca) ou por vasodilatação sistêmica arterial com redistribuição do débito cardíaco para leitos vasculares extrarrenais (p. ex., sepse, cirrose). A presença de IRA no contexto de insuficiência renal severa foi denominada síndrome cardiorrenal e é frequentemente exacerbada pelo uso de inibidores de ECA e diuréticos. IRA pré-renal pode ser corrigida se os fatores causadores extrarrenais, que causam hipoperfusão renal, forem rapidamente revertidos Qualquer paciente com LRA as obstruções renais devem ser imediatamente excluídas pois com intervenção apropriada há possibilidade de recuperação plena. Tipos de IRA pós-renal são divididos em intratubular e extrarrenal. Precipitação de cristais insolúveis ou proteína podem aumentar a pressão LESÃO RENAL AGUDA Lorena Lima, M7 Fisiopatologia da Necrose Tubular Aguda (INTRÍNSECA) intratubular. Se suficientemente alta, irá opor-se à pressão de filtração glomerular e pode diminuir a TFG. De modo similar, a obstrução do sistema coletor renal em qualquer local (pelve renal, ureteres, bexiga ou uretra) pode levar à IRA pós- renal. NTA é responsável pela maior parte dos casos de IRA adquirida no hospital e, na maioria das vezes, é o resultado de injúria isquêmica ou nefrotóxica. Na unidade de cuidados intensivos, dois terços dos casos de IRA são o resultado da combinação de perfusão renal prejudicada, sepse e agentes nefrotóxicos. Em estudos experimentais em ratos, somente a hipotensão severa não foi capaz de causar NTA, assim, entende-se que mecanismos combinados são necessários para causa-la, sendo que a febre pode exarceba-la por aumentar a taxa metabólica tubular (consumo de ATP). Na histologia da biópsia de NTA observa-se perda das borda em escova das células tubulares proximais, a descamação dessa celulas que podem levar a obstrução por cilíndros. Há leve infiltrado de leucócitos, apesar do nome o achado de células necrótica é só de 10% a 15% nos túbulos o que significa que outros danos como, vasoconstrição ou obstrução tubular, são importante na perda da TFG. O dano tubular é usualmente causado por uma combinação de injúria isquêmica, resultando na depleção celular de ATP e dano direto no epitélio tubular por nefrotoxinas. Sendo o segmento S3 dos túbulos proximais e a parte medular da alça ascendente de Henle (mAE) os mais vulneráveis à injúria por hipóxia. Uma das razões dessa maior vulnerabilidade é que o fluxo de O2 para os rins não é uniforme, tendo maior concentração no córtex (até 100mmHg) mas a medula vive em uma iminência de hipóxia. Além disso, o segmento S3 e a mAE tem alta atividade metabólica por conta da reabsorção de sódio ligada a bomba de Na+K+ATPase, por isso, com diuréticos de alça bloqueando a reabsorção de sódio na mAE há aumento do PO2 tissular e na verdade a baixa da TFG na LRA é nefroprotetora por diminuir a filtração de sódio e, por consequência, a reabsorção. Há evidências que a autorregulação renal está prejudicada na NTA isquêmica, a qual consegue manter a TFG e a pressão glomerular normal se a PA estiver entre 80 a 150mmHg. Mas em perfusão muito baixa, com o fluxo sanguíneo renal (FSR) diminuído de 30 a 50% essa autorregulação é ainda mais afetada. Contribui também para a NTA um cenário de vasoconstrição, justificadas pelo aumento de Ca+² no citosol das arteríolas aferentes por conta da isquemia e rupturas do citoesqueleto de actina na camada muscular lisa, ambos prejudicando essa autorregulação. Ocorre também uma lesão endotelial caracterizada por edema celular, aumento da formação de moléculas de adesão (leucócitos) e diminuição da síntese de vasodilatadores como NO e prostaglandinas; Voltando a injúria epitelial tubular, ela tem como mediadores os EROS, influxo intracelular de Ca+², NO, citotoxicidade mediada por celulas e outros. Os EROS e o Ca+ intracelular podem causar lesão mitocondrial, assim, a lesão celular é exacerbada pela liberação de substâncias apoptóticas e a diminuição do metabolismo energético. Existem também fatores inflamatórios contribuindo para a injúria renal que podem causar efeitos sistêmicos. Após a isquemia, as células lesionadas são capazes de ativar o sistema imune inato e adaptativo, causando a liberação de citocinas inflamatórias como fator de necrose tumoral, IL-6, IL-18. Estudos sugerem também que a deficiência de linfócito poderia melhorar o quadro de isquemia. Essas mesmas citocinas liberadas podem mediar lesão em órgãos distantes, em especial o pulmão, pela sobrecarga de volume, a permeabilidade vascular aumentada e o ambiente pró-inflamatório LESÃO RENAL AGUDA Lorena Lima, M7 A fase de recuperação requer a reposição do número de células tubulares e a cobertura da membrana basal, na histologia pode ser percebida uma marcante proliferação celular tubular através das figuras de mitose na MO. Podem ser células mesenquimais localizadas na área que se transformam em células tubulares e outra possiblidade é a transdiferenciação e proliferação de células tubulares sobreviventes. Agentes nefrotóxicos e mecanismo de toxicidade AINES - Pode ocorrer pela redução hemodinamicamente mediada da TFG em situações clínicas particulares, como doença cardiovascular aterosclerótica em pacientes idosos, DRC preexistente, estados de hipoperfusão renal (como depleção de sódio, uso de diurético, hipotensão) e estados de avidez por sódio, como cirrose, síndrome nefrótica e insuficiência cardíaca congestiva. Há pouca evidência que AINES prejudiquem a função renal em indivíduos saudáveis.ECAs e BRAs - Podem induzir LRA em um cenário de hipoperfusão renal resultando na vasoconstrição prejudicada da arteríola eferente, mas podem provocar também diretamente a perfusão renal pelos seus efeitos anti- hipertensivos. Aminoglicosídeos- Por serem eliminados na filtração glomerular, pode ocorrer toxicidade se a dose não for ajustada para a alteração da função renal. Eles podem se acumular nas células tubulares proximais, nos lisossomos, e atingir concentrações 100 a 1000x maiores que a sérica. Assim, o antibiótico interfere no metabolismo energético da célula induzindo o estresse oxidativo. A IRA não oligúrica quase sempre ocorre com cinco a 10 dias de tratamento com gentamicina. Envolvimento dos segmentos tubulares distais pode produzir poliúria e perda renal de potássio e magnésio. Gentamicina, tobramicina e netilmicina aparentam ter semelhantes efeitos nefrotóxicos DOENÇA RENAL CRÔNICA Lorena Lima, M7 A doença renal crônica (DRC) é definida como lesão renal ou uma taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) abaixo de 60 mL/min/1,73 m2 persistente por 3 meses ou mais, independentemente da causa. Define-se ainda por perda progressiva irreversível da função renal ou alterações estruturais renais em que há alterações hidroeletrolíticas, endócrinas e volêmicas com impacto sistêmico por no mínimo 3 meses. Classificação da DRC A atual classificação de DRC é baseada na TFG estimada. A equação do estudo Modification of Diet in Renal Disease (MDRD) e a equação Chronic Kidney Disease Epidemiology Collaboration (CKD- EPI), desenvolvida mais recentemente, são equações comumente usadas para se calcular a TFGe: Cockroft-Gault: TFG = (140 idade) × peso (em kg)× 0,85 (se mulher) / 0,72 × SCr. MDRD: TFG = 175 × SCr-1,154 × idade-0,03 × 0,742(se mulher) × 1,212 (se negro). A CKD-EPI é a melhor fórmula atua, usar site da SBN. Fatores de risco: principal causa de DRC e não é levada em consideração no KDIGO, a hipertensão. A KDIGO não determina se a DRC é progressiva ou não, o que é relevante no paciente hipertenso. DRC progressiva sugerido pelo KDIGO é perda progressiva e sustentada da TFG em mais de 5ml/min/1,73m²/anos ou quedra de 25% da TFG basal. Mecanismo da Lesão Renal É caracterizada por fibrose em todo componente renal, glomerulos e túbulos. A teoria dos néfrons intactos dizia que haveria uma compensação por hiperfiltração dos glomérulos não atingidos por essa fibrose, sabe-se que mesmo os glomérulos parcialmente esclerosados aumentam sua TFG para compensar, mas o que na verdade leva a progressão da fibrose até perda completa da funcionalidade desse glomérulo que tenta compensar. Considerando as duas principais causas de DRC a HAS e a DM, as duas apresentam lesões características à microscopia ótica: Microalbuminúria: é um processo fisiológico do envelhecimento que não é considerado na classificação KDIGO, pode ainda estar associado a um grande nº de doenças crônicas, agudas e inflamatórias. Declínio da TFG na senescência: a maior prevalência da DRC está em indivíduos acima de 60 anos, o que já reflete em partes a baixa da função renal na velhice. Em estudos, percebeu-se que, sem albuminúria isolada, a DRC em idosos dificilmente evolui para doença terminal. Existem alguns fatores que levam a subestimação da TFG, dificultando a classificação precisa da DRC: Alterações da DRC Volemia: Pacientes com DRC tem dificuldade de concentrar e diluir a urina, há menor capacidade de excreção de sódio e água, com tendência à hipervolemia. Pode haver noctúria como um dos primeiros sintomas da DRC. Desnutrição: sintoma clássico da uremia, a anorexia é causada pelo acúmulo de escória nitrogenadas, levando a perda ponderal e desnutrição proteica-calórica. DOENÇA RENAL CRÔNICA Lorena Lima, M7 Anemia: A principal causa é a deficiência relativa de eritropoetina por conta da perda de massa renal, a EPO é produzida pelos fibroblastos peritubulares. Contribui também o quadro de inflamção sistêmico da DRC, levando a anemia por doença crônica, já que citocinas inflamatórias inibem a ação da EPO na medula óssea e estimulam a produção de hepcidina no fígado, sendo que a hepcidina impede a absorção de Fe no intestino. Pacientes em hemodiálise tem perda de hemácias durante o tratamento, o ferro também é perdido nas enterorragias comuns da DRC, por fim o paciente com DRC tem uma vida média das hemácias de apenas 90 dias (hiperesplenismo?). Deficiência de B12 e ácido fólico também ocorrem por conta da restrição alimentar na DRC. O hiperparatireodismo na DRC também contribuie com a anemia por causar fibrose na MO e assim uma menor produção de glóbulos vermelhos. A anemia aparece geralmente no G3 e é universal nos últimos estágios. Imunodeficiência: pela redução da imunidade celular e humoral. Doença mineral óssea: Ocorre o aumento da produção do Paratormônio (PTH): diminuição da excreção de fósforo, deficiência de vitamina D e diminuição do cálcio sérico. A baixa da TFG na DRC leva ao acúmulo de fosfato, que irá estimular a produção do PTH e o crescimento das paratireoides, ocorre também a produção de um fator de crescimento fibroblástico (FGF-23), o qual irá tentar aumentar a excreção de fosfato pelos rins. O FGF-23 também inibe a enzima que acrescenta a hidroxila na vitamina D (1-alfa hidroxilase). A deficiência de vitamina D3 ativa leva a menor absorção de cálcio e a hipocalcemia. A doença manifesta é a osteite fibrose cística, com dor e fragilidade ósseas, tumores marrons, síndromes compressivas e resistência à eritropoietina. O alto PTH é considerado uma toxina urêmica. Distúrbios hidroeletrolíticos: Acidose metabólica e hipercalemia. Na DRC há um esgotamento na produção de amônia que seria fundamental para tamponar o ácido presente, na DRC recomenda-se manter o bicarbonato sérico acima de 22mEq/L. O declínio da TFG não acompanha uma excreção correspondente de K+, que é predominante no nefron distal e dependente da aldosterona. Sendo a principal complicação da hiperpotassemiam as arritmias cardíacas. Importante lembrar dos fármacos que inibem a excreção de K+ : IECAs, BRAs e poupadores de K+. A hiperpotassemia também inibem mais ainda a formação de amônia, o que nos estágios iniciais da DRC pode levar a uma hiperpotassemia com acidose metabólica sem ânion gap (normal) hiperclorêmica. Já com maior deteriorização da função renal, a excreção renal de ácido fica limitada e a acidose metabólica é com ânion gap aumentado. Prevenção da progressão da DRC Diminuição da proteinúria: restrição proteica para < 0,8 g/kg dia; IECAs ou BRAs; Controle da PA: <140/90mmHg quando não tem microalbuminúria; Se albuminúria maior que 30mg em 24hrs, PA deve ser < 130/80mmHg. IECA's, BRAs, diurético e bloqueadores de canal de cálcio podem ser considerados primeiros e outras classes podem ser adicionadas. Restrição de sódio: níveis inferiores de 5g/dia para reduzir a PA e controle da volemia. Controle da diabetes: Hbglicada < 7% Corrigir acidose: manter bicarbonato acima de 22 mEq/L Evitar drogas nefrotóxicas: AINES, contrastes, ATB Redução do peso e atividade física Cessar tabagismo TRATAMENTO DA DRC Controle do fósforo sérico: -restrição alimentar de fósforo 700 a 1000mg/dia; Reduzir então: carnes, ovos, leite e derivados, grão (feijão, amendoin, nozes, soja); corantes e conservantes; refrigerantes. -considerar uso de quelantes de fósforos (carbonato de cálcio ou sevelamer), inibem a absorção intestinal, então tomar antes de refeição. Reposição de vitD: - elevar a vitamina D para acima de 30ng/mL, usar ergocalciferol ou colecalciferol. Se houver parahipertiroidismo (PTH > 65pg/ml) utiliza-se o calcitriol, vitamina D ativa na reposição pois ela inibe a produção de PTH. Calcimiméticos: Ativadores alostéricos de canais de cálcio na paratireóide, aumentam a sensibilidade p/ o Ca+2 DOENÇA RENAL CRÔNICA Lorena Lima, M7 Paratireoidectomia: Indicada quando: - hiperparatireodismo secundário PTH > 800 ng/mL, associado a hipercalcemia ou hiperfosfatemiarefratária ao tratamento clínico; calcificações extraósseas; doença óssea avançada; glândula paratireoides volumosas a USG >1cm³. Hipertensão Arterial -restrição de sódio - restrição hídrica -diuréticos (alça e tiazídicos) -IECA ou BRAs Vacinação Todo o calendário básico +: -hepatite A (2 doses) -hepatite B (4 doses 0-1-2-6meses) -influenza anual -pneumocóccica 23v (2 doses, a cada 5 anos) -varicela (2 doses) -haemophilus influenzae B (dose única) QUANDO ENCAMINHAR AO NEFRO? TFG < 30ml/min/1,72m² Se TFG maior que isso: relaçao alb/creatinina > 300; hematúria não urológica; progressão rápida e indefinida de mais de 30% da TFG por 4 meses; hipertensão de difícil controle; menor de 18 anos; dificuldade no manejo de doença óssea ou anemia; hiperpotassemia maior de 5,5 mEq/L; nefrolitíase. INDICAÇÃO DE TRS Pacientes em estágio 5 (TFG <15 ml/min/1,72cm² ou albuminúria > 300mg/g) com ao menos um sintomas: -hipervolemia refratária a restrição de sódio, agua e uso de diuréticos; -anorexia ou sintomas gastrointestinais (nâuseas, vômitos) - hipercalemia/acidose refratária ao tratamento -pericardite, sangramentos ou encefalopatia da síndrome urêmica. Pacientes com DRC podem seguir o tratamento conservador mesmo com valores de depuração de creatinina tão baixos quanto 5 a 10 mL/min/1,73m², desde que permaneçam assintomáticos, sem perda ponderal e sem alterações clínico-laboratoriais relevantes. Dialítica: Hemodiálise e Diálise peritoneal (automática e manual) Transplante renal Tipos de TRS: Hemodiálise 3x na semana; por 3 a 4,5h Acesso venoso temporário (cateter) ou Definitivo (fístula) - subclávia Faz correção hidroeletrolítica Dialise Peritoneal Faz em casa; Cateter na parede abdominla Usa peritônio como membrana semiperveável; Faz correção hidroeletrolítica Transplante Se fizer doador já faz; se não fila! Pode ser feito antes de iniciar a dialise ou depois; Vivo ou de cadárver Não tira o rim, ficam 3; sem nefrectomia* Acompanhamento para vida toda com nefro e uso de imunossupressores. AVALIAÇÃO DIAGNÓTICA: História clínica e exame físico Dosagem de: - ureia - creatinina -proteinúria de 24hrs -Ac. úrico - fosforo -calcio -potassio -EAS -lipidograma -gasometria venosa -ferro sérico -ferritina -HIV -Hepatite B e C USG de rins e vias urinarias + Raio-x de tórax Biópsia renal ?*
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